SUPLEMENTO - REVISTA ORIENTE OCIDENTE Ns. 33 e 34 II SÉRIE IIM MACAU

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Costa Gomes / Luís Filipe Barreto CriaçãoAlexandra do Centro Científico e Cultural de Macau Alexandra Costa Gomes

CCCM - Uma breve apresentação Luís Filipe Barreto

Separata da revista ORIENTEOCIDENTE Números 33/II Série – 2016 e 34/II Série – 2017


Criação do Centro Científico e Cultural de Macau*

Alexandra Costa Gomes Administradora da Fundação Jorge Álvares e ex-Presidente do Centro Científico e Cultural de Macau

I Este texto tem como objectivo destacar o que foi feito nas últimas três décadas para dar a conhecer Macau, as relações históricas que Portugal estabeleceu naquela área do Globo, particularmente com a China, procurando mencionar numerosas iniciativas, que se sucederam e se interligaram, e que contribuíram, e culminaram na criação de um Centro Científico e Cultural de Macau. Tratar do Oriente, do Centro Científico e Cultural de Macau – portanto do Oriente em Lisboa, constitui um grande desafio para quem, como eu, até ao fim da década de 80, se tinha ocupado, tão só, do Ocidente, da Europa, de Organizações Financeiras Internacionais. Para o efeito torna-se necessário refletir sobre o que foi o meu universo até então, para poder explicar como entrei no Oriente, ou como o Oriente entrou em mim! No Ocidente, numa época em que começava a perspetivar-se a abertura

Inauguração do CCCM: Engenheiro António Guterres e Prof. Mariano Gago.

Professor Pedro Lynce, Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Dr. Jorge Rangel, Engenheira Alexandra Costa Gomes.

de Portugal à Europa, trabalhava na Administração Financeira do Estado, onde fui responsável por negociações com importantes instituições internacionais, tendo chegado a integrar, em representação do nosso país, a administração de algumas, como o Banco Europeu de Investimentos e o Banco Africano de Desenvolvimento. Nessa época, participei activamente nas negociações de adesão com a Comunidade Económica Europeia e na negociação das ajudas comunitárias, tendo igualmente sido responsável pela negociação de apoios, que numerosos países amigos quiseram disponibilizar para suportar o desen-

* Artigo publicado na revista ORIENTE/OCIDENTE, N.º 34/II Série – 2017

volvimento do nosso país, no pós-25 de Abril. Foi um período extraordinário, muito estimulante, com desafios constantes, em que era indispensável articular a nossa realidade específica, com regras internacionais de grande exigência, como eram, entre outras, as do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, bem como do Banco Europeu de Investimento. Nessa fase, foi muito gratificante criar e incentivar equipas, que ainda hoje dão cartas na nossa Administração. II Estendi-me um pouco nesta descrição para mostrar como o mundo

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Vieira, lançou ao governo português, para a criação em Lisboa, de um Centro Científico e Cultural de Macau, de que falaremos mais tarde. Estava criada uma teia de situações, projectos e desafios, que se interpenetravam, e de certa forma interagiam, o que me motivou a entrar, com entusiasmo, naquele novo Mundo, e desenvolver aí as sinergias indispensáveis à concretização daquele ambicioso projecto.

General António Ramalho Eanes, Engenheira Alexandra Costa Gomes.

ocidental, em que estive profundamente mergulhada, era o meu limite. Mas a vida deu-me inúmeras oportunidades. Nessa fase, o primeiro desafio foime lançado pelo então Governador de Macau, Eng. Carlos Melancia, que me conhecia de negociações internacionais, em sectores que tinha tutelado como Ministro, no sentido de aproveitar os anos da transição de Macau, negociados com a China, para criar em Portugal uma Delegação que fosse simultaneamente um Centro de Dinamização Cultural e desse a conhecer Macau e as Culturas Orientais, bem como as relações históricas que o nosso país manteve com o Oriente durante cinco séculos. Simultaneamente, surgiu um convite do saudoso Dr. Mário Soares, então Presidente da República, para integrar, em sua representação, o Grupo de Ligação Conjunta Luso-chinês, criado no âmbito da Declaração Conjunta Luso-chinesa negociada entre os dois países, entidade que durante uma década devia equacio-

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nar as condições para a integração harmoniosa de Macau na República Popular da China. Impossível resistir a este salto para a nova “Galáxia”. Foi nesse quadro que surgiu, ainda em 1995, o terceiro e mais importante desafio, que o então Governador de Macau, General Vasco Rocha

III Nas conversações com a República Popular da China, realizadas de três em três meses, alternadamente em Portugal, Macau e China, tive o primeiro contacto com aquela fascinante civilização, tendo tido oportunidade de conhecer novas sensibilidades, personalidades e culturas, e de visitar diversas Regiões e importantes Museus da China, de que destaco o “Museu de Arte Chinesa” de Xangai, na altura acabado de inaugurar, e criado com recurso às mais modernas tecnologias existentes no mundo, como nos foi transmitido na época.

Inauguração da Exposição “Do Neolítico ao Último Imperador” no Palácio Nacional de Queluz.


Criação do Centro Científico e Cultural de Macau

Padre Manuel Teixeira e Engenheira Alexandra Costa Gomes.

Esta visita constituiu um marco, no projecto que viemos a desenvolver em Portugal, tendo sido possível enviar posteriormente a Xangai a equipa envolvida na criação do Museu do CCCM, afim de ali se inteirar das novas tecnologias utilizadas e discutir com os responsáveis aspectos relevantes da nova Instituição. A Missão de Macau em Lisboa constituiu, na oportunidade, uma plataforma de grande importância, tendo sido um polo dinamizador de todas as iniciativas que Macau desenvolveu no nosso país, na década de 90. Aí se cruzaram projectos, especialistas e equipas diversificados, com destaque para a Comissão Instaladora do CCCM, a que tive o gosto de presidir, e que integrou e mobilizou personalidades marcantes na cultura e conhecimento do Oriente, de que destaco o meu amigo Dr. Guilherme Valente, que veio a ter papel relevante no lançamento, com a Universidade de Aveiro, do 1º Mestrado em Estudos chineses, existente em Portugal. A Missão viveu um fervilhar de actividades, com múltiplas acções de formação, sendo de destacar Cursos de Mandarim, ministrados pela Profª Wang, hoje professora da Uni-

versidade Nova de Lisboa e da Universidade de Aveiro, cursos lançados em 1991 e que se mantêm até hoje no CCCM, com o apoio da Fundação Jorge Álvares. Palestras sobre História e Cultura Portuguesa, ministradas pelo Prof. Guilherme d’Oliveira Martins, mais tarde Ministro da Educação, e hoje administrador da Fundação Gulbenkian, a que todos os sábados assistiam largas dezenas de bolseiros de Macau. Conferências e Colóquios, com individualidades marcantes da nossa cultura, sucediam-se com grande frequência nas lindíssimas instalações criadas nos edifícios adquiridos por Macau, na Av. 5 de Outubro, hoje Delegação Económica e Comercial de Macau. Foram realizadas, sempre com apoio inestimável de Macau, dezenas de exposições, algumas em articulação com a Fundação Gulbenkian, que itineraram por todo o país, tendo a sua preparação envolvido, frequentemente, bolseiros de Macau, que hoje têm papel relevante à frente de Instituições daquele Território. Sem querer maçar-vos com mais deta-

lhes, permitam-me destacar a exposição de pintura de Deng Lin, filha de Deng Xiao Ping, que esteve entre nós por ocasião da inauguração da sua exposição. E permitam-me a propósito mencionar, com muita estima, o nome de Filomena Silva Pinto, responsável, desde o 1º Dia, na Missão de Macau, pelo Departamento de Acção Cultural. A Missão contou ainda com o apoio de professores e especialistas, que, de regresso de Macau a Portugal, aceitavam dar ali o seu contributo. Uma palavra de muito apreço e admiração para o Prof. Luís Filipe Barreto, hoje Presidente do CCCM, que de regresso de Macau em cuja Universidade foi Professor, aceitou dar um contributo inestimável e determinante na concepção do Centro Científico e Cultural de Macau. Seria fastidioso enumerar tudo o que foi feito naqueles 10 anos, mas cito 4 acontecimentos em que a MML esteve profundamente envolvida e que contribuíram para conceber, de forma criteriosa, o papel da nova instituição:

Inauguração do CCCM: Presidente Jorge Sampaio, Primeiro Ministro Engenheiro António Guterres e Professor Luís Filipe Barreto.

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o papel importante e fundamental assumido pela Missão, com destaque para a contribuição vinda de Macau, através da Presidente do Instituto Cultural, Dra. Gabriela Cabelo e do Dr. Enio de Souza, hoje funcionário do CCCM, que se envolveram de forma absolutamente extraordinária na organização da exposição. Gostaria também de deixar uma palavra de muito carinho para a Dra. Manuela d’Oliveira Martins, que esteve connosco desde a 1ª Hora. Inauguração do Centro Científico e Cultural de Macau – Engenheiro Carlos Melancia, Senhor Man Hin Choi, Professor Narana Coissoró, Dra. Gabriela César e Engenheira Alexandra Costa Gomes.

• LISBOA, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA (1994) Pela primeira vez, foi dada a conhecer em Portugal, a “Colecção de Arte Chinesa” do grande coleccionador de Macau e consultor da Sotheby’s, António Sapage, que aqui recordo com muita estima. Esta colecção veio a ser adquirida pelo Governo de Macau, para integrar o Museu do CCCM. • EUROPÁLIA (1991) Macau realizou importantes iniciativas em Bruxelas, com forte apoio da Missão de Macau em Lisboa. Gostaria de mencionar a notável exposição “Triunfo do Barroco”, com que Portugal participou na Europália em 1991, que incluiu diversas peças de Macau, com destaque para o fabuloso “Andor de prata da Igreja de S. Domingos”, que viajou de Macau para Bruxelas, sob escolta policial. Gostaria de referir ainda uma passagem de modelos, do artista polifacetado de Macau, António Conceição Júnior, que suscitou imenso impacto, e contou com a presença interessada da Rainha da Bélgica.

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• EXPO 98 Macau, com o envolvimento da Missão, teve uma participação activa na Expo 98, onde foi criado um espectacular Pavilhão, que recebeu um número absolutamente invulgar de visitantes. Gostaria de destacar o nome do Dr. Mário Matos dos Santos, que teve neste projecto papel determinante. • EXPOSIÇÃO INAUGURAL DO CCCM Voltarei mais tarde a esta exposição, mas gostaria de referir aqui,

IV Retomando o tema do CCCM, é importante fazer agora o enquadramento que presidiu à sua criação: Em meados da década de noventa, o Governador de Macau, com o apoio de diversas entidades privadas do Território, decidiu oferecer a Portugal as condições para a criação de um Centro Cultural, de Investigação e de Documentação, capaz de perpetuar o relacionamento impar que Portugal e a China desenvolveram durante cinco séculos, assim facultando às gerações vindouras a possibilidade de aprofundarem e desenvolverem no futuro o diálogo com aquela zona do Globo.

Inauguração da Exposição “Cerâmicas de Timor Lorosae” no Centro Científico e Cultural de Macau – Professor José Mariano Gago, Ministro da Educação e Ciência, Dr. Ximenes Belo, Engenheiro José Arez e Engenheira Alexandra Costa Gomes.


Criação do Centro Científico e Cultural de Macau

Na oportunidade, foram estabelecidas conversações com o governo português, que acolheu a ideia com grande entusiasmo, tendo decidido que a nova entidade deveria ter a forma de Instituição Pública e, tendose comprometido a disponibilizar espaços adequados para o efeito. Nas conversações realizadas, foi ainda superiormente decidido atribuir ao Centro património próprio, conceder-lhe autonomia administrativa e financeira e suportar o funcionamento da Instituição depois de 1999. Em contrapartida, o governo de Macau, com o apoio de entidades privadas do Território, comprometeuse a suportar todos os encargos com a criação da instituição, responsabilizando-se pela criação do respectivo espólio, bem como pelas despesas com a adaptação dos espaços atribuídos e ainda pelos encargos com o funcionamento da mesma durante o período de instalação e até à data da entrega de Macau à República Popular da China, no fim de 1999. Para o efeito, Macau propôs-se dotar o Centro com a conceituada colec-

ção de Arte Chinesa, referida anteriormente, e que tinha sido exposta em Queluz, por ocasião de “Lisboa Capital Europeia da Cultura”, comprometendo-se também com a constituição de um Serviço de Informação e Documentação, para onde seriam enviados microfilmes de todos os documentos valiosos existentes na Região, cobrindo o período de cinco séculos, desde os primórdios da chegada dos portugueses ao Oriente até à actualidade. O Centro Científico e Cultural de Macau foi inaugurado em Novembro de 1999, com a presença de importantes personalidades de Portugal e de Macau, tendo contado com a presença do então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, do então Primeiro-Ministro, Eng. António Guterres, e naturalmente com a presença do então Governador de Macau, General Vasco Rocha Vieira. Na inauguração foi apresentada uma notável exposição, já referida anteriormente, denominada “Os Fundamentos da Amizade, Cinco Séculos de Relações Culturais e artísticas LusoChinesas”, cujo comissário, Dr. Fer-

Professor Pedro Lynce, Ministro da Ciência e do Ensino Superior, General Vasco Rocha Vieira e Dra. Leonor Rocha Vieira.

Inauguração da Exposição “Cerâmicas de Timor Lorosae” no Centro Científico e Cultural de Macau – Presidente Xanana Gusmão e Engenheira Alexandra Costa Gomes.

nando Baptista Pereira, Director do Museu de Setúbal, realizou um trabalho de grande envergadura e rigor. A exposição reuniu mais de quatrocentas peças de grande diversidade, dos objectos arqueológicos a valiosas obras de arte, passando por manuscritos, livros impressos e cartografia de múltipla proveniência. O catálogo produzido constitui um marco importante na história das nossas relações com o Oriente, contendo contributos científicos notáveis e elucidando os mais significativos momentos constitutivos da Amizade Luso-chinesa, uma das mais antigas, senão a mais antiga e duradoura, existente entre povos do Extremo Oriente e do Ocidente Europeu. O então Ministro da Tutela, Professor José Mariano Gago, escreveu no catálogo, que o “CCCM surge como uma entidade moderna e original, simultaneamente instituição de investigação e museu, entidade geradora de acções de formação, e de divulgação, constituindo uma peça essencial na política de cooperação científica e tecnológica de

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blica Popular da China, nos campos cultural e científico. • Promover o estudo, a investigação e um melhor conhecimento sobre a relação Portugal-Extremo Oriente. VI Neste quadro, o Centro comporta três Departamentos fundamentais:

Professor Pedro Lynce, Ministro da Ciência e do Ensino Superior, e General Lopes dos Santos.

Portugal com a China, da Europa com a Ásia”. V Penso estar aqui o cerne da responsabilidade que se coloca hoje ao nosso país, no sentido de dar a esta Instituição os meios necessários para cumprir uma Missão, tão importante para o nosso futuro colectivo. De facto, as origens do Centro Científico e Cultural de Macau prendemse com a necessidade de dar sequência em Portugal, depois da criação da Região Administrativa Especial de Macau, a uma cooperação científica e cultural, que contribua para manter viva a presença entre nós de uma amizade fecunda, com raízes históricas e com potencialidades futuras. A ideia de ligar a ciência com a cultura prende-se com a necessidade de não nos limitarmos a uma visão retrospectiva, da ligação entre Portugal e Macau, mas à preocupação de articularmos, de forma viva, o passado, o presente e o futuro.

capaz de constituir um factor de diálogo e também um catalisador de iniciativas e de projectos capazes de ligar a História ao presente, atraindo novos públicos e mantendo junto dos mais jovens a presença viva de um diálogo permanente entre culturas e civilizações.

Foi esse espírito que animou a criação de uma Instituição Pública,

• Favorecer e desenvolver a amizade e cooperação com a Repú-

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Inauguração do Centro Científico e Cultural de Macau – Professor José Mariano Gago, Ministro da Educação e Ciência, Dr. Edmundo Ho e Engenheira Alexandra Costa Gomes.

1) Um núcleo museológico, com um acervo de mais de 3.000 peças, constituiu uma aposta inovadora, partindo de modernas concepções sobre a criação e o diálogo culturais, e recorrendo às mais modernas tecnologias, na área da animação multimédia, no caso desenvolvida por uma conceituada equipa canadiana, que posteriormente veio a participar na criação do recentemente inaugurado Museu Charles Chaplin, na Suíça. As tarefas ligadas à instalação do Museu contaram com forte apoio do importante Museu das Civilizações do Québec, cuja Presidente esteve entre nós nos momentos mais cruciais da instalação, depois de a equipa portuguesa, responsável pela montagem, se ter deslocado ao Canadá e aí ter tido oportunidade de se inteirar de aspectos relevantes da criação e funcionamento daquele importante Museu.

Em síntese, o CCCM nasceu, como escreveu o Professor Mariano Gago, com uma directriz inovadora, preenchendo três finalidades: • Prolongar e aprofundar os elos históricos entre Portugal e Macau. Conferência na Missão de Macau em Lisboa – Dr. Ximenes Belo, Engenheiro Roberto Carneiro e Engenheira Alexandra Costa Gomes.


Criação do Centro Científico e Cultural de Macau

A opção pela proposta museológica surgiu também como um desafio, ao tentar conciliar a modernidade, com recurso às novas tecnologias, ao longo da viagem, através da História de Macau, com a solidez da exposição permanente de “Arte Chinesa”, que como foi referido cobre cinco mil anos e cuja valia tem sido reconhecida internacionalmente.

Jantar no Clube dos Empresários por ocasião da transferência de soberania de Macau – General Vasco Rocha Vieira, Governador de Macau, Dra. Manuela d’Oliveira Martins e Engenheira Alexandra Costa Gomes.

No Museu de Macau procurou-se traduzir, de forma adequada ao espaço disponível, todo o processo histórico de Macau, com recurso a linguagens dinâmicas, didáticas e interactivas. A escolha de um modelo, à escala 1/10 da “Nau do Trato” merece destaque, constituindo um modo de enquadramento da colecção, com elevado sentido didático e com recurso às mais avançadas metodologias, no domínio da museologia. Um espectáculo de multimédia relata, de forma viva, como, na época, era feita a via-

CCCM: inauguração da Exposição Cerâmica de Timor, com o Presidente de Timor, Xanana Gusmão.

gem do mais célebre dos navios, no comércio Macau-Japão. As religiões mereceram também tratamento especial, sendo apresentado, em paralelo, um Núcleo dedicado às “formas de espiritualidade chinesas”, com peças de imagética religiosa oriental, e com um espectáculo multimédia sobre o Colégio de S. Paulo, o Cristianismo e a importância que os Jesuítas tiveram no Oriente. Procurou-se mostrar que o Cristianismo e Cultura constituiem um convite à espiritualidade cristã no universo do confucionismo. Importa aqui acentuar a relevância do Colégio de S. Paulo, o 1º Colégio universitário europeu na China, que teve a partir de 1595 cursos de 3 anos de Artes e Teologia, desenvolvendo ao mesmo tempo estudos de Língua e Civilização chinesas e japonesas. No Colégio foi criada a 1ª Biblioteca Europeia de livros chineses, e aí nasceu e foi editado, em 1620, o 1º Diccionário de português-chinês.

2) Importa acentuar que o CCCM comporta uma outra componente, particularmente importante – A Biblioteca e o Serviço de Informação e Documentação, cuja riqueza é reconhecida nos meios universitários e científicos internacionais, e que comporta o mais completo acervo existente em Portugal, e em todo o mundo lusófono, de documentação especializada espalhada pelo mundo, sobre as relações estabelecidas pelo nosso país com aquela região do Globo, bem como sobre Sinologia e História e Cultura da Ásia Oriental, encontrando-se articulada, em rede, a outras Bibliotecas e Arquivos nacionais e estrangeiros. Permitam-me destacar os fundos principais que compõem aquele acervo:

Inauguração da Exposição “Um Serão no Jardim da Primavera” no Centro Científico e Cultural de Macau – General Vasco Rocha Vieira, Governador de Macau e Dra. Leonor Rocha Vieira.

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um enquadramento naturalmente mais limitado, em termos de recursos orçamentais, sendo de destacar o apoio importante que a Fundação Jorge Álvares tem representado. Nos primeiros anos da sua existência, altura em que tive o gosto de assumir as funções de Presidente, desenvolveram-se algumas actividades que vinham na linha de continuidade do que tinha sido realizado anteriormente no quadro da Missão. Professor Pedro Lynce, Ministro da Ciência e do Ensino Superior, e Dr. Jorge Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau.

Colecção de mais de 5.000 microfilmes de documentos manuscritos e impressos, existentes no conjunto de Serviços e Instituições de Macau, bem como nos diversos países por onde passaram os portugueses, com destaque para Goa e Brasil. De referir ainda registos existentes em diversos arquivos europeus, com destaque para o Vaticano. Documentos e espólios oferecidos, por diversas personalidades e Instituições, com menção especial para o importante espólio oferecido por Monsenhor Manuel Teixeira. Aquisições de obras relevantes, que foram sendo realizadas desde 1995, mediante sugestões formuladas e o envolvimento e empenho do Professor Doutor Luís Filipe Barreto, hoje Presidente do CCCM. Toda a documentação recebida encontra-se arquivada em estrutura compacta, em condições rigorosas de temperatura e humidade, tendo sido previamente catalogada e classificada, e encontrando-se disponível, em catálogo “online”, num total de mais de 20 mil registos biblio-

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gráficos, correspondendo a mais de cem mil documentos. 3) Por fim, importa destacar a terceira e importante vertente do CCCM – a Investigação Científica, onde são evidentes as potencialidades da Instituição, bem como a importância da missão que lhe foi confiada, registando-se uma grande aposta nos últimos anos e uma estreita articulação com Universidades e outras Unidades de Investigação nacionais e estrangeiras, de que importa destacar o papel do actual Presidente. Uma vez inaugurado o CCCM, foi dado início a uma actividade com

CCCM: inauguração da Exposição Cerâmica de Timor, com D. Bazílio do Nascimento, Bispo de Baucau, Timor.

De referir os Cursos de Língua e Cultura Chinesas, iniciados na Missão de Macau em 1991, e que se mantêm até hoje com notável grau de adesão.

General Lopes dos Santos e General Garcia Leandro.

Foram realizadas diversas exposições, que não vou descrever com detalhe, desejando tão somente mencionar uma Mostra muito interessante de “Cerâmicas de Timor Lorosae”, inaugurada em Novembro de 2001, com a presença do Presidente Xanana Gusmão, que escreveu no catálogo palavras muito elogiosas e emotivas, considerando “tratar-se de uma Exposição que constitui uma prova de amor entre dois povos, e que realça de forma particularmente feliz os traços culturais daquele Território”.


Criação do Centro Científico e Cultural de Macau

O meu querido amigo, Professor Doutor Luís Filipe Barreto, Presidente do Centro Científico e Cultural de Macau, certamente poderá relatar melhor do que eu o que tem sido a evolução da Instituição nos últimos anos. Mas gostaria de assinalar, que, recentemente, certamente com o empenho do Professor Luís Filipe Barreto, o conceito da Instituição criada em 1995 viu reforçada a componente de investigação científica, com a publicação em 2012 de um Decreto-lei cujo preâmbulo diz: “O Centro alarga o âmbito da sua missão, mantendo no essencial as atribuições que já tinha, procurando orientar a actuação para a sua afirmação enquanto Centro de Investigação Científica, de formação contínua e avançada, de alta divulgação cultural e de especializada informação, bem como, para a sua consolidação como espaço de estudo e de ensino de língua, cultura e História da China e como parte de cooperação Portugal-China”. Não quero deixar de assinalar que o CCCM tem desenvolvido com a Embaixada da República Popular da China uma importante parceria, representando a Instituição portuguesa que mais actividades da Embaixada tem acolhido em Portugal, contribuindo assim decididamente para o crescimento das relações científicas e culturais entre os dois povos.

CCCM: inauguração da Exposição Cerâmica de Timor, com o Presidente de Timor, Xanana Gusmão.

Inauguração do CCCM: Presidente Jorge Sampaio, General Vasco Rocha Vieira, Engenheiro António Guterres, Prof. Mariano Gago, Dr. Standley Ho e Dr. Almeida Santos.

Inauguração do CCCM.

Em conclusão, gostaria de acentuar que, com uma história de relações ancestrais que Portugal desenvolveu com o mundo, o Centro Científico e Cultural de Macau constitui hoje a única instituição pública de que Portugal dispõe para apoiar o desenvolvimento das suas relações com o Extremo Oriente, e mais concretamente com a República Popular da China, tratando-se de uma entidade pública insubstituível, de enorme importância estratégica, no relaciona-

mento entre Portugal e a República Popular da China, tanto mais significativo, quanto é certo que essa função se projecta no mundo lusófono. Se o Governo – os governos – não falharem no apoio e consolidação deste verdadeiro “Polo de Macau”, ele constituirá no futuro a plataforma de diálogo – e de afirmação – indispensáveis para o nosso futuro colectivo, no mundo globalizado em que nos encontramos.

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CCCM - Centro Científico e Cultural de Macau Uma breve apresentação*

Luís Filipe Barreto Presidente do Centro Científico e Cultural de Macau, I.P.

I. O Centro Científico e Cultural de Macau é um instituto público do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, acerca de matérias asiática e eurasiática. É um Centro de Ciências Sociais e Humanidades com especializada investigação e cooperação, publicação, formação e divulgação. Possui para públicos específicos um singular Museu histórico-cultural sobre a emergência de Macau e acerca de arte e cultura chinesas bem como uma única e especializada Biblioteca de investigação acerca de China, Ásia Oriental, Macau e relações Eurasiáticas. Criado em 1999, viveu sob três presidências: Engª. Alexandra Costa Gomes, 1999/2002; Vice-Almirante Luis Mota e Silva, 2003/inícios de 2006; a partir de maio de 2006, Professor Doutor Luis Filipe Barreto. Uma vida com bem diferentes ciclos desde a criação e potenciação até à afirmação. II. O Centro Científico e Cultural de Macau é um centro de investigação em cooperação que articula Investigadores, Centros e Universidades da Europa, da Ásia e da América em torno de projetos comparados e integrados de história, sociologia, antropologia, geografia, economia acerca da Ásia, do Indico ao Pacífico e das relações eurasiáticas do passado ao presente. A partir de 2006-2007 esta rede de investigação, inter e multidisciplinar,

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nas áreas das Ciências Sociais e Humanidades foi crescendo contando hoje com mais de 150 investigadores associados em conexão com Portugal/CCCM articulando Universidades estrangeiras como Harvard, Munique, Lovaina, Beijing, Tóquio, Seoul, Paris/EHESS, Roma “La Sapienza”, Hong Kong, Berkeley, Pennsylvania, Texas, Temple, Brown, Boston, Nápoles “Orientale”, Barcelona, Pádua, Chieti, Viterbo, Sevilha, Barcelona, U. Nacional Australiana – Sidney, Cantão, Macau, Instituto Politécnico de Macau, etc., e centros estrangeiros como o CNRS, Instituto de História Nacional de Taiwan, Academias das Ciências Naturais e das Ciências Sociais de Beijing, Instituto Max Planck, Centro de História das Ciências China-Portugal em Beijing, Instituto de Sociologia e Centro de Estudos de Psicologia Social da Universidade de Beijing, Instituto de Arte da Sotheby’s, Museu de História da Ciência de Nagasáqui, etc. III. Esta rede de investigação em cooperação, às escalas nacional e internacional, manifesta-se de forma mais visível nos laboratórios vivos de investigação, diálogo e controvérsia que são os Colóquios. Nos últimos 12 anos o CCCM levou a cabo 20 colóquios em Portugal, Macau, Beijing com problemáticas que vão desde Macau à Globalização, da Tradução e Interpretação às cidades portuárias asiáticas ou ao pa-

trimónio chinês em Portugal, Europa, Brasil. Nestes 12 últimos anos o CCCM, a propósito de Macau, China, Ásia Oriental, relações eurasiáticas, conseguiu congregar mais de uma centena e meia de investigadores de Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Croácia, Roménia, Grécia, Estados Unidos, México, Brasil, China, Hong Kong, Macau, Taiwan, Coreia, Japão. IV. Toda esta investigação nacional e internacional levou à produção pelo CCCM, nestes últimos dez anos, de mais de 60 publicações de investigação específica, atualizada e de padrão internacional em línguas portuguesa, inglesa, chinesa, alemã, espanhola, italiana. Estudos de caso sobre Macau e China, atas de Colóquios Internacionais e Nacionais, Fontes (acerca de Macau, Ásia e das relações interculturais Portugal-China), manuais (desde os didáticos de Língua e Cultura Chinesa até aos universitários internacionais acerca da Deusa Mazu-Ama), catálogos especializados sobre arte e património chineses, etc., formam, possivelmente, um dos legados mais duradouros deste Instituto Público. V. A formação, sobretudo a de Ensino Superior de padrão internacional, é outra das missões estratégicas do CCCM. Desde 2006-2007 funciona como acelerador e potenciador aca-

* Artigo publicado na revista ORIENTE/OCIDENTE, N.º 33/II Série – 2016


CCCM - Centro Científico e Cultural de Macau: uma breve apresentação

démicos nos domínios de China, Macau, Estudos Asiáticos contribuindo para a institucionalização destas problemáticas e para a multiplicação de licenciaturas, mestrados e doutoramentos nestes domínios. A divulgação, a missão de criar uma base social mais alargada de interesse e de procura de conhecimento e de informação credibilizada acerca de Macau, Ásia, relações Eurasiáticas fez com que o CCCM, nestes últimos dez anos, criasse quatro exposições de referência (assentes em investigação de equipes nacionais e internacionais) acompanhadas de especializados catálogos em línguas portuguesa, inglesa, chinesa. Originou também uma carteira de quatro exposições itinerantes, 20 exposições conjuntas em cooperação com múltiplas instituições chinesas via Embaixada da República Popular da China em Portugal e três exposições em coorganização com o Instituto Cultural da RAEM/Macau a partir de outubro de 2016. Fez com que levasse a cabo dezenas de cursos livres e de conferências.

o centro de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o Centro de História da Universidade de Lisboa, o CHAM da Universidade Nova de Lisboa, a Federação Chinesa de Círculos Literários e Artísticos e Institutos como o Instituto Cultural da RAEM/Macau da República Popular da China os Institutos Politécnicos de Lisboa e Macau o Instituto Internacional de Macau bem como Fundações como a nacional Fundação Jorge Álvares e a Fundação Macau da RAEM/Macau da República Popular da China. O CCCM é investigação, publicação, formação, divulgação em cooperação graças a todas estas parcerias. Algumas das mais recentes publicações do CCCM.

Entre 2006 e 2018, 20 colóquios, 65 publicações científicas (e mais 37 culturais), 30 exposições, mais de meia centena de cursos, cadeiras, seminários de formação avançada são números que revelam a Missão deste Instituto Público do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal VI. A cooperação alargada com o mais diverso tipo de instituições nacionais e internacionais é uma das imagens de marca do CCCM a partir de 2006. Embaixadas em Portugal como as da República Popular da China, Japão, República da Coreia, Índia, Filipinas, México, Peru, Itália, etc., tornaram-se estratégicas para o CCCM. Não menos fundamental é a cooperação com centros como

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Ficha técnica SEPARATA da revista ORIENTEOCIDENTE – N.º 33/II Série - 2016 e N.º 34/II Série - 2017 Editor: Instituto Internacional de Macau Título: Criação do Centro Científico e Cultural de Macau / CCCM - Centro Científico e Cultural de Macau – Uma breve apresentação Autores: Alexandra Costa Gomes / Luís Filipe Barreto Design e produção gráfica: Maisimagem II Tiragem: 500 exemplares Impressão: Gráfica Central de Almeirim Depósito legal: 445505/18 ISBN: 978.989-54193-1-9 Lisboa, Setembro 2018

Apoio:


ISBN 978-989-54193-1-9

9 789895 419319


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