Arrocha 20 - Universo em Expansão

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JULHO DE 2013. ANO IV. NÚMERO 20

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

ANDRÉ NETO

Universo em expansão

A rotina e os desafios acadêmicos para a consolidação de Imperatriz como polo universitário


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ANO IV. NÚMERO 20 IMPERATRIZ, JULHO DE 2013

CHARGE

EDITORIAL - Educação qualificada

KELLY SARAIVA

O investimento em educação, bem se sabe, promove transformações culturais em uma sociedade. Quando um município do porte de Imperatriz (MA) opta pela expansão das suas ofertas no campo do ensino, pesquisa e extensão no nível superior, está manejando as peças certas para melhorar o seu futuro. Nesta edição, os acadêmicos de Jornalismo da UFMA decidiram por em foco o fenômeno das faculdades e universidades em Imperatriz, considerada, há alguns anos, um polo no setor. Com o surgimento do novo campus da UFMA e a chegada de novas instituições, além da perspectiva de instalação de cursos de suma importância, como Medicina, o assunto está em voga e debatê-lo é missão de uma publicação que pensa a cidade.

As diferenças entre as particulares, federal e estadual; as origens e marcas de crescimento das instituições; como funciona o campo de pesquisa e extensão; a formação de professores; os dilemas dos acadêmicos que dividem o dia em estudo e trabalho e os que vêm de outros locais; questões como a da cota e do estágio, o futuro...Desvendar estes e outros temas que o leitor encontra nas próximas páginas foi a grande missão dos futuros jornalistas nesta edição. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico JACKELINE TEIXEIRA

MIKAELL CARVALHO

KÁSSIA SANTOS

ANDRÉ NETO

EXPEDIENTE

Jornal Arrocha. Ano IV. Número 20. Julho de 2013 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcos Fábio Belo Matos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M. Marcelli Alves da Silva.

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Adriano Ferreira, especialista em Lingua Portuguesa e Literatura (Revisão). Reportagem: André Neto, Carlos Eduardo, Denise Correa, Deylanne Santos, Domingos De Almeida, Érica Ferreira, Fernando De Aquino, Idayane Ferreira, Jackeline Teixeira, Jhene Assis, José Moraes, Julielli Soares, Kássia Santos, Kelly Saraiva, Luanda Vieira, Mari Marcoccine, Marina Cardoso, Mikaell Carvalho, Railson Andrade, Ramisa Salles, Rebeca Viana, Saulo Rodrigues, Sheila Costa, Tuanny Figueiredo.

Diagramação: Adaylma Rocha de Sousa, Ananda Kallyne Muniz Portilho, Angra Nascimento Silva, Anne Caroline Bomfim de Souza, Barbara Fernandes de Oliveira Cavalcante, Beatriz Karine Machado Sousa, Brenda Herenio Fernandes, Diego Fernandes dos Santos, Francisca Daniela dos Santos Souza, Isabel Delice Gomes Madeco, Janaina Silva Santos, Lais Pereira Ferreira, Lawson Almeida Barros Barbosa, Paulo Victor Franco Silveira Rafael Mendonca Pestana, Raonni Veloso dos Santos, Rhaysa Novakoski Carvalho, Vanessa de Paula de Moura Sousa Silva.

Fotografia: Ádva Barros, André Neto, Carlos Eduardo, Denise Corrêa, Deylanne Santos, Domingos de Almeida, Érica Ferreira, Erisvan Bone, Fernando Aquino, Idayane Ferreira, Jackeline Teixeira, Jhene Assis, Julielle Soares, Kássia Santos, Kelly Saraiva, Luanda Vieira, Mari Marconccine, Marina Cardoso, Mikaell Carvalho, Railson Andrade, Rebeca Viana, Saulo Rodrigues, Sheila Costa, Tuanny Figueiredo. Estagiários: Antônio (diagramação)

Carlos

Freitas,

Max

Dimes

Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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HISTÓRICO Professores resgatam a história das universidades públicas de Imperatriz e relembram a chegada do ensino superior na Região Tocantina

Origem do ensino superior de Imperatriz MARI MARCONCINNE

MARI MARCONCINNE

Diretor da UEMA, Expedito Barroso, conta que quando chegou na universidade eram 35 professores e hoje são 176 MIKAELL CARVALHO

O ensino superior público na cidade começou com a Faculdade de Educação de Imperatriz (FEI), em 1973. A UEMA surge em 1981, substituindo a FEI, oferecendo início, três licenciaturas curtas de cinco períodos de formação, com os cursos de Letras, Ciências e Estudos Sociais. O prédio onde hoje se encontra a UEMA funcionava como colégio Bandeirante, que era uma rede de ensino espalhada por todo país. “Não tinha a estrutura que tem hoje. Lembro que quando cheguei aqui há 20 anos, tinham 35 professores, duas salas, dois departamentos, um de Estudos Sociais e outro de Ciências”, recorda o atual diretor do

campus, Antonio Expedito Barroso, que na época veio para lecionar. Em 1987 foram oferecidos os cursos de licenciatura plena e logo os demais. Em 1994 a universidade passou por uma reorganização estrutural, de onde ganhou também a denominação de Centro de Ensino Superior de Imperatriz (Cesi), ficando com o formato que é conhecido hoje, UEMA/Cesi. Durante o percurso foram feitas ampliações, primeiramente 15 salas, depois mais dez até chegar à estrutura encontrada atualmente. Os professores vieram de várias partes do país, como Paraíba, São Luís, Pará e Paraná sendo inicialmente, 35 e chegando atualmente a 176. “Quando começou tínhamos

Professor José Geraldo relata suas experiências de quando ocupou o cargo de primeiro diretor da UFMA de Imperatriz

que ir atrás de alunos, porque as pessoas diziam que era perda de tempo estudar”, afirma o professor da UEMA, Ronaldo Neri, que leciona há mais de 35 anos.

Federal – A UFMA campus Imperatriz foi fundada em 1982. O seu primeiro diretor de centro acadêmico foi José Geraldo da Costa. A princípio, diferente da UEMA/Cesi, que encontrou dificuldade com alunos, a Federal teve seus problemas com salas de aulas. “Não tinha nada no campus, tínhamos que usar duas salas do colégio Graça Aranha. Depois passamos para outro grupo escolar e outro e outro”, relembra José Geraldo. O senhor de barba e cabelos brancos e chapéu, caminha lento,

apoiado em uma bengala. O tempo passou para Geraldo, mas deixou muitas lembranças intactas de sua época como diretor. Sem muitas delongas, ele já começa descrevendo como era a universidade, em um passeio pelo pátio. “Esse primeiro quadrado que está ali no chão, era minha sala. Dois terços daqui para lá, eram uma sala de reunião de alunos e do outro lado lá um painel, tinha uma janela, uma porta aqui no meio e outra janela aqui, a cantina ali na ponta, bem ali”. Construída no terreno do antigo projeto Rondon, depois repassado à Fundação Nacional do Índio (Funai) e só depois para a universidade, a UFMA iniciou com dois

cursos: o de Direito e de Pedagogia. Depois vieram os de Contabilidade e os demais. As primeiras salas construídas foram as de madeira. Pouco a pouco foram feitas as ampliações e as construções do prédio novo, que abriga o curso de Jornalismo. Em 2013 estão sendo concluídas as obras de um novo campus que irá receber o curso de Medicina, entre outros já existentes. Todo o corpo docente inicial era de São Luís, mas, atualmente, existe uma variedade de professores provenientes de vários estados. “Eu também fui professor aqui, era diretor e professor, o que contei não é um terço da história dessa universidade, pois daria um livro”, conclui o professor José Geraldo.

Estrutura é diferencial decisivo para escolha de instituição superior REBECA VIANA

“De nada adianta bons professores e teorias se não tiver os aparatos para realização da prática. Aqui temos laboratórios bem equipados e sempre foi assim”. A impressão da professora e coordenadora geral dos laboratórios do curso de Ciências Biológicas da Unisulma, Vanderlene Brasil Lucena, tem uma base forte. Bióloga e especialista em gerenciamento ambiental, Vanda ingressou juntamente com 62 colegas na primeira turma do curso na mesma faculdade, em meados do ano de 2004. “A gente vira prata da casa, e não quer deixar que o brilho acabe”. Vanda acredita que independente do local de formação de cada um, pequenas oportunidades na trajetória como acadêmico podem fazer toda a diferença. Ela mesma começou como bolsista, em seguida foi estagiária auxiliar, professora substituta, até chegar ao cargo de coordenadora geral do seu setor. Para o calouro de Engenharia Civil do Ceuma, Paulo Adean, “a universidade pública sofre pela carência de recursos, depende da boa vontade

do governo, tem greve e nem sempre possui uma estrutura adequada que contribua para uma boa formação do profissional”. Por acreditar nestes princípios decidiu escolher uma faculdade privada mesmo com os pais permitindo e resolvendo bancar todas as despesas caso decidisse cursar uma pública fora de Imperatriz. Ele diz estar à procura do profissionalismo dos professores, a qualidade de ensino, cumprimento dos cronogramas e investimentos constantes para melhorias do Centro. Imperatriz possui aproximadamente 247 mil habitantes e abriga cinco instituições privadas de graduação. No entanto, muitos cursos ainda não existem, como é o caso de Arquitetura, Design, Medicina e Psicologia. As faculdades pagas pioneiras foram a Fama e a Facimp. Depois surgiram outras, tais como Fest, Unisulma e, recentemente, o Ceuma. Na maioria desses centros de ensino a escolha dos cursos partiu de pesquisas de mercado.

Relevância- Quando falou à reportagem, a diretora, uma das fundadoras e vice-presidente da mantenedora da

Unisulma, Joane de Almeida, estava preocupada com a semana de vistoria do Ministério da Educação (MEC) na instituição. Os técnicos iriam avaliar se a faculdade tem condições de abrir um novo curso que foi solicitado, o de Fisioterapia. Mas, como surge um novo curso? Joane relembra que a instituição teve um caso curioso, já que dois dos três fundadores, incluindo ela, possuem formação em Direito. Sendo assim, a ideia de fundar a instituição já surgiu junto com a certeza de que esse curso seria oferecido, sendo que outros foram escolhidos a partir de uma pesquisa de mercado. Ricardo Martins, coordenador do Ceuma Imperatriz, campus ainda em fase de conclusão, comenta que foi levada em consideração a preferência por cursos novos, que até então não existiam na cidade. Joane ressalta que é importante para Imperatriz a existência de uma rede de ensino superior privada, pois a educação é sinônimo de mudança. “Com mais opções de cursos, mais pessoas com ensino superior aparecem, o que gera um impacto direto no desenvolvimento da cidade”.

REBECA VIANA

Bons laboratórios fizeram Vanderlente Brasil (à direita) optar por uma faculdade privada


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EXTRACLASSE Em Imperatriz estão sendo desenvolvidos centenas de projetos de pesquisa e extensão nas universidades e faculdades em diversas áreas do conhecimento

Universidades compartilham conhecimento IDAYANE FERREIRA

Professora Conceição Barbosa na sala do PET/ Conexões de Saberes, em reunião com os estudantes e pesquisadores de diferentess áreas da UFMA. O Projeto estimula o comprometimento com o ensino, pesquisa e a extensão DOMINGOS DE ALMEIDA

Imperatriz se consolidou como a maior referência de Ensino Superior da região Tocantina. Nesse contexto, o processo de ensino se desenvolve e surge a necessidade de ultrapassar as paredes da academia e levar os conhecimentos adquiridos para a comunidade. Essa relação é possível por meio de ações dos projetos de pesquisa e extensão, uma exigência do Ministério da Educação para as universidades. São centenas de projetos, entre pesquisa e extensão, nas áreas de alimentos, empresariais, idiomas, mídias jornalísticas, Núcleo de Práticas Jurídicas, cultura, educação, saúde, agronomia, (bio)tecnologias, memórias, religiões e Programa de Educação Tutorial (PET). A professora Conceição Barbosa, tutora do PET da UFMA, afirma que a dedicação apenas às disciplinas não

é suficiente para um bom desenvolvimento acadêmico. “É necessário que o aluno esteja comprometido com o ensino, a pesquisa e a extensão, criando uma necessidade para o desenvolvimento do futuro profissional”. O projeto coordenado por ela é referência no ambiente de pesquisa e extensão. O PET é formado por estudantes de vários cursos da UFMA que atuam em diferentes áreas do saber.

Extensão e Pesquisa – Para as faculdades particulares a resolução do MEC sobre projetos de pesquisa e extensão não é obrigatória. Mesmo assim, Nádia Brito, docente do curso de Educação Física da Unisulma, faz questão de desenvolver o projeto de extensão “Brincando com a Comunidade”, que oferece atividades físicas para crianças de oito a 12 anos de idade, que moram no entorno da instituição de ensino.

Em quatro anos de projeto, foram atendidos mais de dois mil alunos. As atividades são realizadas por acadêmicos do 9º período de Educação Física da faculdade. A professora fala de seu trabalho com um senti-

“A bolsa é para custear eventos, cursos e para pagar apostilas, livros e os passes do busão”

fessora Nádia. Ao final da conversa ela conclui: “As universidades precisam investir bastante em projetos e valorizar isso como prática profissional dos acadêmicos”. Fazer iniciação cientifica é uma oportunidade de crescimento profissional. “Esse processo é uma troca de saberes, a gente busca as informações na comunidade e dá o retorno para ela através da extensão”. É o que diz o bolsista do PET e acadêmico de Enfermagem da UFMA, Wherveson Araújo.

Desafios– Muitas são as dificuldamento que vai além do profissionalismo. “Tem crianças que participam desde o primeiro ano, foram criadas dentro do projeto”. Na rua ela é abordada. “Ê tia, quando é que começa? Eu quero entrar no projeto”. “A gente já construiu um vínculo afetivo”, acredita a pro-

des enfrentadas por docentes que fazem ciência nas universidades, uma iniciativa que fortalece a aprendizagem, mas requer um empenho sobrenatural do professor. Para o diretor da UEMA, Expedito Barroso, o bom desempenho da extensão e pesquisa nas universidades esbarra na má estrutura das ins-

tituições. A UEMA tem mais de 100 projetos de pesquisa e extensão. O maior desafio da universidade é acomodar os pesquisadores. “Essa questão de infraestrutura é muito difícil para nós, porque não temos mais para onde crescer”. Uma oportunidade para quem faz iniciação cientifica por meio da pesquisa e da extensão é o benefício da bolsa, um auxílio financeiro que as universidades oferecem aos estudantes inseridos nos projetos. Embora sejam escassos, esses benefícios são essenciais para alguns alunos, como é o caso do “petiano” (membro do PET), Wherveson Araújo, que usa “a bolsa para custear eventos, cursos e para pagar apostilas, livros e os passes do busão”. Para a tutora Conceição Barbosa, os professores que conciliam ensino, pesquisa e extensão, com todas essas adversidades são grandes “super- heróis”.

De aluno a professor: novo perfil do corpo docente de Imperatriz JACKELINE TEIXEIRA

Professora Elayne Cristina ministra aula na Unisulma, onde também foi estudante na graduação SAULO RODRIGUES

Um polo universitário. Essa definição se aplica muito bem à cidade de Imperatriz, que recebe pessoas de várias localidades a fim de cursarem o ensino superior. Se por aqui chegam aqueles que querem aprender, boa parte dos que irão ensinar também veio de fora.

O diretor da UEMA, Centro de Estudos Superior de Imperatriz (Cesi), Expedito Barroso, relata que o campus da cidade conta atualmente com 176 docentes. Do quadro efetivo, a maioria tem formação com nível de especialização. Já entre os substitutos, grande parte são graduados. Segundo Expedito, esses professores vivem no município há algum

tempo, realidade que vem mudando. “Nos últimos concursos a maior parte dos que foram aprovados são professores de fora”. Expedito revela ainda que muitos professores fazem concurso e logo em seguida pedem transferência para outra localidade, prática comum nas várias instituições da cidade. Em uma das faculdades particulares, a situação é a mesma. “Temos um corpo docente de origens bem variadas, a maioria é de fora, porém quando a Unisulma os contratou eles já tinham se estabilizado na cidade. A Unisulma não precisou importar nenhum profissional”, afirma a assistente administrativa Laudecy Bilio. De 1974, data de inauguração da primeira faculdade de Imperatriz, até os dias atuais, vários são os cursos superiores que formam profissionais. De alunos eles se transformaram em professores, mudando o perfil do corpo docente da cidade.

Docentes de Imperatriz - Eloíza Marinho dos Santos é da terceira turma

de Pedagogia da UFMA, de 1991. O curso foi sua primeira e única opção, em uma época que o número de faculdades era pequeno e a quantidade de áreas menor ainda. Professora das séries iniciais, ao concluir sua graduação ingressou como docente na rede estadual. Sua carreira no ensino superior começou em 2004 e hoje atua como professora na universidade em que estudou. “Mais do que oferecer uma oportunidade de formação, o curso termina sendo uma chance de trabalho”. Na sala de professores da Unisulma, a nutricionista e professora Elainy Cristina Luciano, 33 anos, conta que nem sempre quis Nutrição. Sonhava em ser cirurgiã dentista, mas pelo fato do curso ser integral e por não existir na época em Imperatriz, ela acabou desistindo. Quando surgiu o curso de Nutrição, em 2004, ela resolveu tentar. E à medida que estudava, percebeu que ali era seu lugar. A docência, no entanto, ainda não era uma opção de trabalho para Elainy. “Eu sempre

tive uma afinidade maior com a nutrição clínica e por incrível que pareça, eu nunca me via na docência. Eu achava que era muito trabalho e que seria o último caso, nem pensava nisso de verdade”. Questionada sobre como iniciou sua vida de professora universitária, ela riu e apontou para suas ex-professoras que ali estavam, as quais “culpa” por indicá-la para a instituição. Ao participar de algumas bancas, Elainy foi se apaixonando pela docência. E cada vez que falava de como é bom ser professora, ela esboçava um largo sorriso. Grávida, ela revela que está dando aulas no horário de almoço, pois é o único tempo livre e do qual não abriu mão para a paixão de ensinar. Hoje, com quase quatro anos de atuação em salas de aula, ela não pensa em deixar a cidade em busca de novas oportunidades. “No momento não me vejo saindo daqui. Gosto muito da cidade, a Unisulma abriu portas pra mim, então não penso em mudar não”.


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ACERVOS Bibliotecas universitárias mostram muito sobre qualidade da formação acadêmica, mas nem sempre conseguem atender as necessidades dos estudantes

Biblioteca: o “coração” das universidades DOMINGOS DE ALMEIDA

DOMINGOS DE ALMEIDA

IDAYANE FERREIRA

Sala ampla e bem iluminada, cadeiras dispostas ao redor das mesas de tampo redondo, computadores e claro... livros! Cartazes nas paredes pedem silêncio, mas as vozes se misturam formando um burburinho. “Psiu!” O ruído dá espaço ao silêncio mas, em seguida, o burburinho recomeça. É assim de segunda a sexta nas universidades públicas e de segunda a sábado nas particulares. Durante a semana, no horário de funcionamento da maioria das bibliotecas universitárias, das 8 horas até as 22h, quando os alunos das instituições de ensino superior e da comunidade aparecem para estudar. A bibliotecária da Unisulma, Adélia Solange Soares Diniz, ressalta que a biblioteca é muito utilizada por quem quer estudar para concurso. “Procuram principalmente livros na área de Direito”. Adélia é também bibliotecária da UEMA, que está em processo de informatização. Para auxiliá-la vieram duas outras profissionais de São Luís. Uma delas, Glória Maria Nina Baima, explica que a UEMA adquiriu um software de automação para gerenciar o sistema de bibliotecas de todos os campi.

Acervos universitários – A escolha de livros para as bibliotecas é, geralmente, atribuída ao professor e está inclusa na bibliografia do plano de ensino ou no Plano Político Pedagógico de cada curso. Isso, porém, não impede que o aluno recomende livros. Na UFMA, por exemplo, há um período específico, quando alunos, professores e coordenadores podem fazer a indicação pelo sistema. Quanto à quantidade de exemplares, os maiores acervos (dentre

Acadêmicas da UEMA em meio ao acervo da biblioteca em péssimo estado de conservação

livros, revistas, jornais e periódicos) estão nas instituições particulares. A biblioteca da Unisulma tem mais de 26 mil, a da Fest, 21.876. Fato interessante é que na biblioteca da Fest (que recebeu nota 5 do MEC) há um espaço destinado especificamente para livros maranhenses, com maior enfoque para as publicações da região Tocantina, em um total de 400 exemplares.

Relação biblioteca/aluno - Com o intuito de conscientizar os alunos quanto à devolução no prazo, todas as instituições cobram o pagamento de multa e o preço varia de R$ 0,50 a R$ 2 por livro e por dia de atraso. O diretor da UEMA, Expedito Barroso, aponta um problema encontrado especificamente na biblioteca da instituição: o extravio de livros. “É um número espantoso para uma universidade”.

Como não existe detector eletrônico ou antifurto (e a biblioteca ainda está em processo de informatização) o controle sobre a quantidade de livros não é possível. O diretor relata que certa vez, encontrou com um aluno o livro que tinha sumido e o acadêmico teve que devolvê-lo, sob pena de não colar grau. Para formar, os estudantes precisam do “nada consta” da biblioteca, informando que não há pendências. “Geralmente eu falo para os alunos que a biblioteca é o coração da faculdade”, defende a auxiliar de biblioteca de uma das faculdades particulares. Segundo ela, com o avanço da informática os livros vêm perdendo espaço para os arquivos em PDF. Alguns alunos utilizam a biblioteca mais frequentemente em época de provas ou trabalhos. Entre eles o estudante do curso de Direito da Fest, Hugo Carvalho de Souza. “Sem-

Acadêmico de Direito, Hugo Carvalho, aproveita o tempo para estudar na biblioteca da Fest

pre que preciso estudar para prova recorro à biblioteca. Acho que a daqui é muito boa e vai de acordo com as necessidades dos cursos”. Entretanto, nem sempre a biblioteca da universidade atende aos interesses do aluno. “Durante esse

período em que estive no curso a biblioteca não me ofereceu suporte teórico, em questão de livros, de obras literárias, porque é sucateada”, queixa-se a estudante do 7° período de Letras, Célia Cabral, referindo-se à biblioteca da UEMA.

Universidade pública em Imperatriz investe em infraestrutura ANDRÉ NETO FERNANDO DE AQUINO

Diretor da UFMA de Imperatriz, Marcos Fábio (à direita) inspeciona as obras do campus Bom Jesus

A UFMA inaugurou no mês de junho a extensão do seu campus em Imperatriz. Os prédios estão localizados no Bairro Bom Jesus, afastados em média 17 quilômetros a unidade central, na Rua Urbano Santos, centro da cidade. As instalações receberão os cursos de Engenharia de Alimentos, Enfermagem, Ciências Naturais e Medicina. Os laboratórios estão em fase final de instalação. O diretor da UFMA Imperatriz, professor Marcos Fábio Belo Matos faz vistorias de rotina sempre que possível e, segundo ele, as obras de finalização andam em um ritmo acelerado. “O reitor da Universidade trata o assunto do Campus Bom Jesus como prioridade e as obras de finalização receberam um recurso exclusivo do fundo emergencial da UFMA”. As estruturas elétricas já estão funcionando e grande parte dos laboratórios também possui agora a base para receber os equipamentos. O trajeto ainda é o grande problema. No período

vespertino foi possível observar muita poeira em uma grande estrada sem asfalto. “O caminho ainda não está terminado, metade ainda é estrada de chão e os postes não têm iluminação no acesso ao Campus Bom Jesus”, afirma o diretor.

‘‘ As obras de finalização receberam um recurso exclusivo do fundo emergencial da UFMA”

Os prédios seguem o padrão estético da universidade de projetos arquitetônicos. A fachada, por exemplo, lembra muito a entrada da universidade em São Luís, Campus Bacanga. As salas para as aulas são grandes e os espaços para restauran-

te, centros acadêmicos, coordenações e vivência também são amplos. Para o estudante de Engenharia de Alimentos e coordenador do centro acadêmico, Silvio Fontinelle, os laboratórios, salas de aulas e estrutura vão agregar ao curso uma nova realidade. “Passamos por problemas estruturais complicados. O campus do Centro não oferece estrutura laboratorial adequada e as aulas práticas são feitas de modo improvisado”. Novos empreendimentos - Imperatriz recebeu no mês de março o Ceuma. A unidade está localizada na Rua Barão do Rio Branco, Bairro Maranhão Novo. Com aproximadamente 20 mil metros quadrados, comporta os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, Engenharia de Produção e Civil. “As instalações do Centro com diversos laboratórios são de excelentíssima qualidade para a estrutura e o desenvolvimento das atividades de sala de aula e as que são realizadas fora”, afirma o coordenador da universidade em Imperatriz, Ricardo Martins.


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ESCOLHAS Com o novo sistema de ingresso nas universidades públicas e particulares, estudantes de todo o Brasil decidem seu futuro diante da tela do computador

“Longe de casa há mais de uma semana” KELLY SARAIVA KELLY SARAIVA

Acadêmicos da UFMA/Imperatriz que deixaram o conforto de casa em busca de realização pessoal

Entre muitos rostos ela se destaca, vê-se logo que não é de Imperatriz. “Não tem como errar, ela é bem índia”, diz a colega de curso, fazendo um gesto com as mãos para descrever seus longos cabelos. Lucykele Gonçalves, estudante de Enfermagem da UFMA, vem de uma cidade onde a população é toda indígena ou descendente, origem que é facilmente percebida em seu sotaque melodioso: “Eu vim do interior do Amazonas, São Gabriel da Cachoeira”. A área da saúde sempre foi seu foco. Influenciada por narrações apaixonadas de uma amiga, escolheu a Enfermagem. Segundo a acadêmica, a concorrência para a Universidade do Amazonas (UFAM) é muito alta e, por esse motivo, preferiu sair de seu estado para estudar no Maranhão. Muitos outros estudantes de todo o Brasil decidiram seu futuro diante da tela do computador: Uni-

versidade Federal do Maranhão – Campus Imperatriz. A grande maioria nunca ouvira falar da cidade e buscaram as primeiras imagens no Google enquanto arrumavam as malas. “O objetivo - a realização de um sonho - é maior que o medo, então a gente vai”, explica Rômulo Capelli, de Goiás, hoje acadêmico do primeiro período de Jornalismo na UFMA. Ele veio a trabalho para Açailândia e “brincando de fazer Enem”, foi ficando. O Goiano, como se autointitula, diz que sua maior dificuldade é identificar os alimentos. “Eu cheguei ao Maranhão sem saber o que é macaxeira ou gerimum. De onde eu venho as coisas tem outro nome”. Os calouros ainda sentem a distância, o “vazio de não pertencer” ao lugar. Os veteranos já estão em casa e contam entre sorrisos as histórias de seus primeiros dias na cidade. “A dinâmica de relacionamentos faz com que essas pessoas cheguem à Imperatriz e aqui criem um sentimento de lar com novos

“Parece um Big Brother da vida real” JHENE ASSIS

“É um Big Brother da vida real”, compara o estudante Anderson Ferreira. Ele se refere às repúblicas estudantis, como ambientes de convivência, às vezes improvisados, onde acadêmicos compartilham espaço e muitas histórias. Ao contrário de pensões, consideradas impessoais, as repúblicas são geralmente alegres e festivas. Além disso, é uma opção econômica para quem mora em uma cidade e estuda em outra. Em Imperatriz, o aluguel de imóveis com três quartos custa, em média, R$ 500. Uma das características desses lugares de convivência é a “bagunça”. O cenário muitas vezes é caótico. Roupas, livros, comida, tudo se mistura em um indescritível amontoado de coisas. Mas, nem sempre é assim. Há repúblicas das mais variadas formas possíveis. Em muitas

delas existe uma arrumação perfeita, porém isso passa longe, mas muito longe mesmo de ser o padrão que se vê por aí. A organização doméstica, por exemplo, deve ser conversada. “Tem uma escala, as tarefas são todas divididas: um dia uma lava louça, outra cozinha, outra limpa a casa...”, comenta Leciane Xavier, que divide um apartamento com mais três amigas. Dividir uma moradia, as contas, as obrigações, conversas e diversões com os colegas são momentos ímpares e muito significativos na vida de um jovem. “O lado positivo é que a gente cria laços com essas pessoas, aprende a ser paciente, compreensivo, a se colocar no lugar do outro”, relata a futura enfermeira Aiane Ingrid.

Convivência- Viver em comunidade não é nada fácil, que o digam os inquilinos de uma república. São

costumes, atitudes e pensamentos contrários aos seus. Esses aspectos configuram os principais impasses que os estudantes enfrentam na convivência com os demais. Para a estudante Elisa Peres, o diálogo é a melhor saída. “Palavras-chave: compreensão, respeito e muita paciência! Na verdade a regra é que tudo seja conversado”. Morar em uma república de estudantes tem suas vantagens e desvantagens, conforme afirma a psicóloga Renata Bernadelli. “Estes ambientes de convivência contribuem para um amadurecimento dos residentes. Negativamente vemos a falta de liberdade em viver da forma como se deseja”. Os estudantes Anderson, Aiane e Leciane fazem algumas recomendações para quem estiver interessado na ideia: A primeira coisa é escolher muito bem onde e com quem você irá morar. Incompatibilidades de qualquer ordem nunca são bem

Universitários buscam alimentação alternativa RAILSON ANDRADE

“Quando chego no um real e não tem mais comida, a gente compra miojo e faz em casa. É a coisa mais rápida que tem pra fazer”, conta Brenda Gomes, 18 anos, estudante de Engenharia de Alimentos da UFMA. Brenda almoça todos os dias no Restaurante Popular, mantido pela prefeitura de Imperatriz. Divide as despesas da casa com dois amigos, todos de Açailândia e estudantes do mesmo curso. O restaurante que vende comida a um real recebe muitos universitários e trabalhadores que não têm tempo de ir almoçar em casa e retomar logo após os seus afazeres.

Além de perder tempo, seria cansativo cozinhar entre as aulas. A UFMA dispõe apenas de uma lanchonete em seu campus e o dinheiro que Brenda gastaria neste local em um lanche daria para se alimentar “por três dias no um real”. Em relação ao novo campus, localizado no bairro Bom Jesus, Brenda espera que funcione o restaurante universitário (RU), “que seja realmente de qualidade e caiba no bolso de todo mundo”. O diretor do campus Imperatriz da UFMA, Marcos Fábio Belo Matos, 41 anos, assinou um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento (Sedes) de Imperatriz. Sendo comprovada baixa renda, 30 alunos do campus central poderão fazer

DEYLANNE SANTOS

Estudante de Direito, Elisa Peres procura dividir sua rotina de estudos com o preparo das refeições

vindas. Detalhe: sempre escolha pessoas e ambientes que combinem com você. Outra questão essencial é que todos devem honrar mensalmente com as contas da casa, sem

LUANDA VIEIRA

Falta de um RU leva estudantes de Engenharia de Alimentos a optar pelo Restaurante Popular

suas refeições gratuitamente no Restaurante Popular. Sobre o campus Bom Jesus, o diretor abrirá em 2014 uma licitação para que empresas gerenciem o restaurante universitário (RU) e a lanchonete. As aulas no novo campus começam no segundo semestre do ano de 2013. Já preocupada com a alimentação desse semestre, que vai ficar sem RU, a futura engenheira de ali-

laços familiares, que podem até ser os amigos. E se você prestar atenção todas essas histórias se repetem como se elas tivessem um padrão de comportamento”, afirma a psicóloga Maria Luiza. A possibilidade de experiências diferentes é um atrativo, mas o sentimento de alcançar um objetivo é maior. “Eu acho que estou no lugar certo, que estou fazendo aquilo que eu deveria fazer”, garante a acadêmica Samia. As dificuldades existem: emocionais, convivência, dinheiro, tempo, moradia, saudade... Mas o sentimento de alcançar um objetivo é maior. Durante os quatro/cinco (ou mais) anos de curso são muitos os entraves, mas o estudante do último ano de Direito, Thiago Marques, do Espírito Santo, garante valer à pena. “Vou levar dessa experiência o meu diploma, algumas amizades, um nível extremamente grande de tolerância, paciência e gratidão pelas pessoas que me ajudaram. Sou um Thiago mais maduro de uma forma geral”.

mentos diz que “os estudantes vão fazer que nem trabalhadores de obra: vão levar marmita”. Enquanto isso será concedida uma permissão para que uma empresa abasteça apenas a lanchonete do campus novo. No central, a concessão atual para lanchonete já dura sete anos. Gilmar Gonçalves, 56 anos, é o responsável pela lanchonete, que no início, em 2006, ficava debaixo

atrasos. Estabelecer escalas para a organização das tarefas domésticas e sempre lavar tudo que sujar imediatamente são ações consideradas fundamentais.

de um pé de manga. “Na época da manga madura o cabra tinha que lanchar com o capacete porque quando menos esperava a manga vinha de cima”, afirma seu Gilmar, soltando uma gargalhada alta e inesperada. A lanchonete na sombra da mangueira favorecia um clima mais agradável que a atual, bastante quente. “O ambiente aqui, pra ser sincero, nem pra uma cantina não é”, confessa Gilmar. Há 20 anos Maria de Lurdes Sousa, 50, também trabalha no ramo de lanchonetes. Após ter mantido um buffet e fornecer alimentos para as escolas públicas, hoje só é responsável pela cantina da UEMA. Lurdes já tentou por um ano vender almoço, mas teve prejuízo. A maioria dos alunos mora no Centro e prefere almoçar em casa. “Sai mais barato para os pais e pra eles”, afirma. Enquanto a Fama vende o prato feito no valor de R$ 5, a Fest comercializa comida por quilo.


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DIREITOS Segundo o IBGE, com o sistema de cotas, o percentual de negros e pardos no ensino superior de Imperatriz aumentou de 56,5% para 59,2%

Cota racial ainda é assunto divergente ERISVAN BONE

Vanessa Ellen de Sousa é acadêmica de Engenharia de Alimentos e não concorda com o sistema de cotas vigente RAMISA SALLES

Adoções de cotas nas instituições de ensino superior “tornam um país mais justo e socialmente mais equilibrado”, argumenta o diretor do campus da UFMA, Marcos Fábio Matos. A nova lei, 12.711, sancionada pela presidente Dilma Rousseff desde agosto de 2012, visa beneficiar 50% das vagas para o acesso aos estudantes de escola pública, levando em conta o recorte de renda entre negros, pardos e indígenas. No primeiro semestre de 2013, no campus da UFMA, 216 vagas foram preenchidas pelo processo seletivo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), sendo metade delas destina-

das para ampla concorrência e outros 50% para as cotas. No segundo semestre de 2013 serão mais 396 vagas distribuídas entre essas categorias, conforme o edital da UFMA. Desde que o sistema de cotas foi aprovado nas instituições públicas federais ou por meio de isenção fiscal, o Programa Universidade para Todos (Prouni) indica que o percentual de negros e pardos no ensino superior de Imperatriz aumentou de 56,5% para 59,2%. É o que revela uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2000 e 2010. “Eu sou a favor das cotas para os estudantes das escolas públicas, mas contra as cotas raciais”, comen-

ERISVAN BONE

O estudante de História, Francisco Taylon é a favor das cotas raciais e a compara com outras políticas públicas

ta Fernando Gama, 21 anos, acadêmico do 7° período de Engenharia de Alimentos. Ele defende os estudantes de escolas públicas por não terem a mesma qualidade de ensino que os alunos dos estabelecimentos de ensino particulares. Entretanto, ele discorda das cotas para os negros, por achar que esses podem se sentir inferiorizados. Vanessa Ellen de Sousa, acadêmica do 8° período de Engenharia de Alimentos, 21 anos, é negra e se orgulha da sua aprovação na universidade pelo sistema universal. Ela é contra o sistema, pois “a pessoa deve passar pelo que ela sabe e não pela origem que tem”. E afirma que as cotas só reforçam a desigualdade.

A historiadora e presidente do Centro de Cultura Negra Negro Cosme de Imperatriz, Doralice Mota, recentemente realizou uma palestra no IFMA, sobre cotas raciais e afirma que “quem desconsidera as cotas, é a elite que se beneficia com a não existência”. Por mais que os críticos não aceitem essa mudança, as cotas são necessárias. “Seria ótimo se não precisássemos das cotas”, acrescenta. Francisco Taylon, acadêmico do curso de História da UEMA em Imperatriz fala sobre as políticas públicas de ações afirmativas e reconhece que os direitos essenciais foram negados aos negros no decorrer da história. “Ninguém reclama dos 30% de vagas oferecidas para as mulheres na

política, tampouco para índios nas universidades. O debate só se torna grande quando se insere o negro”, afirma em alto e bom som. Com ironia, ele lembra que existem vagas para estudantes estrangeiros que desejam estudar no Brasil . O estudante é a favor das cotas socioraciais, e faz questão de lembrar o processo histórico, como o período da escravidão e da política de “branqueamento” que existiu no país. Para ele, muitos pensam e defendem a ideia de que quem for melhor é que deve passar na universidade. “Mas, como chegar às condições de competir por uma vaga, se o ponto de partida que eles têm é diferente?”, analisa.

Estágio curricular é a porta de entrada para o mercado de trabalho FERNANDO DE AQUINO

nal dele, não podendo ser inclusa na disciplina. Conta como estágio extracurricular”.

ANDRÉ NETO

A mãe entra no consultório com os filhos e os estagiários de Enfermagem, vestidos de branco, a recebem sorridentes. A garotinha, assustada, começa a chorar. Logo a primeira estagiária pede para que a mãe sente e relate o que a criança está sentido. “Ela está com coceiras, caroços por todo o corpo, garganta doendo e crise de vômito”, diz a mãe, nervosa. Tudo é anotado, a acadêmica levanta e faz um exame mais minucioso, olhando todo o corpo. A criança é pesada e medida, a estagiária pede para que tussa e por fim chega a um diagnóstico. Pernilongos causaram as coceiras e a dor na garganta e o vômito são decorrentes de ameba. A atendente baseia-se na observação da baba expelida pela garganta da menina. Receita dois medicamentos e ensina como tomá-los e recomenda o retorno depois de sete dias após o tratamento. Tudo termina com um aperto de mãos entre mãe e estagiária, seguido de um “muito obrigado”. A professora mestra Iraciane Rodrigues de Oliveira observa todos os procedimentos adotados e só intervém caso haja necessidade. Após cada consulta a professora avalia os procedimentos adotados, faz reco-

Empresa júnior – Alguns cursos

Na UEMA, o curso de Administração montou a Empresa Junior e Consultoria (EJCON) com a função de indicar acadêmicos para as empresas

mendações e aponta os erros. Esse universo é parte da rotina da turma de estagiários do curso de Enfermagem da Facimp no posto de saúde do bairro Nova Imperatriz. A lei Nº11.788 de 25 de setembro de 2008 regulamenta o estágio. Entre as recomendações, está a de que o estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, visando o aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular.

Basicamente todas as universidades e faculdades adotam o mesmo sistema para seleção e distribuição dos seus acadêmicos nas empresas conveniadas. Após a divulgação do edital com as vagas e regras o aluno passa por uma prova ou entrevista. Ao final do estágio o acadêmico apresenta um relatório sobre a sua experiência, que serve como avaliação das atividades. No curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo

da UFMA, a coordenadora do estágio repassa as recomendações, dá dicas e esclarece todas as dúvidas. A reclamação mais frequente sobre o estágio curricular é que não é remunerado, e em alguns casos atrapalha o aluno que já está trabalhando. A diretora acadêmica da Unisulma, Raquel de Moraes, que responde atualmente pelo estágio, afirma que, “quando o estágio é remunerado, a carga horária cumprida só serve para experiência profissio-

montam pequenas empresas que prestam consultoria e até fazem serviços mais elaborados, de acordo com cada especialidade. São as chamadas “empresas júnior”, uma iniciativa dos próprios estudantes que serve como estágio curricular, desde que seja supervisionado. Na UEMA, o curso de Administração montou uma, a Empresa Junior e Consultoria (EJCON), presidida atualmente pelo acadêmico do 6º período, Marcos Paulo Brito dos Santos. “As empresas costumam nos procurar pedindo indicações de alunos. Nós selecionamos dentre os que fazem parte da EJCON. Também fazemos pesquisas de satisfação e projeto de recrutamento”, explica Santos. Na Unisulma, o Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), faz parte do curso de Direito e presta consultoria jurídica gratuita à comunidade. “O estágio é a oportunidade que o aluno tem para conhecer de perto o mercado de trabalho. É a verdadeira práxis, teoria e prática se condensando em um único campo”, acredita a diretora acadêmica Raquel de Moraes.


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ENSINO Imperatriz se prepara para a chegada de três novos cursos que prometem beneficiar o futuro de centenas de estudantes que sonham com o ensino superior

Novas graduações ampliam oportunidades MARINA CARDOSO

Com pequenas sardas no rosto, do sol de meio-dia da volta pra casa, ela acorda às 6h30 e vai todos os dias a pé do Bacuri ao Centro para as aulas do curso pré-vestibular. Letícia Holanda, 19 anos, deseja fazer Medicina. Com a chegada do curso na cidade vê mais uma oportunidade de realizar seu sonho. Quando chega em casa ajuda a mãe com os afazeres domésticos. Cuida dos irmãos mais novos, estuda para o vestibular e ainda se dedica às atividades da Igreja de Fátima, da qual já foi líder do grupo de jovens. Letícia tem cabelos castanhos claros, olhos expressivos e fala com muita convicção dos seus sonhos para o futuro. Na parede, quadros da virgem Maria e Jesus Cristo logo identificam a fé da moça. Ela costuma estudar na cozinha onde é mais ventilado, iluminado e longe do barulho da TV. Imperatriz vem se tornando polo universitário, com mais de 10 mil estudantes, segundo o Censo de 2010. E são os cursos novos como Engenharia Civil, Engenharia de Produção, oferecidos no Uniceuma e Medicina, na UFMA, que trazem mais opções para os estudantes que

não têm como se mudar para outras cidades a fim de frequentar o curso pretendido. Laryssa Lima, 17 anos, inicialmente queria fazer Medicina, mas mudou de ideia para Engenharia Civil e faz cursinho há um ano. O Uniceuma, que inaugurou esse ano, trouxe dois novos cursos de Engenharia para Imperatriz. Ambos têm duração de cinco anos e mensalidades acima de mil reais. Camila Duarte, 20 anos, faz Farmácia e concilia a faculdade com os estudos para o vestibular. Ela confessa que seu plano inicial sempre foi Medicina e que duvidava que o curso chegasse aqui. Assistir aulas de química, genética, matemática, físico-química e biologia auxilia nos estudos para a prova do Enem. Sobre o novo campus da UFMA o diretor de centro, Marcos Fábio Belo Matos sustenta que não há muitos problemas de infraestrutura. “O problema mesmo é de montar e botar pra funcionar. A estrada, por exemplo, é um complicador. A gente tem que pressionar o governo para que ele faça a contrapartida dele”. O diretor também acredita que quando o novo campus for inaugurado haverá “mais condições, inclusive, de pressionar para que esses benefícios cheguem logo”.

MARINA CARDOSO

Concentrada, Letícia Holanda se dedica seis horas diariamente para conseguir aprovação no vestibular de Medicina na Federal em Imperatriz

No campus novo da UFMA de Imperatriz ainda falta iluminação e estrada asfaltada que são responsabilidades da prefeitura. Esperase que estejam prontas no início das aulas do curso de Medicina, previstas para o primeiro semestre de 2014. Medicina vai ganhar um prédio próprio que ainda não foi construído. O campus II, situado no bairro Bom Jesus, possui restaurante universitário e 15 salas de aula, fora

os laboratórios para ensino específicos de cada curso. Maria Tereza Aquino, 20 anos, é daquelas alunas que se dedicam inteiramente ao vestibular. “Quando a gente sonha com alguma coisa não importa quanto tempo você vai passar pra chegar nela, mas o que te importa é chegar! E muitas vezes nós sacrificamos família, namoro ou até mesmo uma festa pra poder chegar na meta, sabe?”.

Maria faz cursinho há dois anos durante o dia todo. À noite reforça o conteúdo em casa. Já começou Enfermagem e Química, mas abandonou por que não conseguia conciliar a vida acadêmica com os estudos para o vestibular. Para desestressar da vida de vestibulanda ela sai com os amigos e vai para igreja, mas só nos fins de semana. Maria sabe que a concorrência é grande e vai onde sua nota do Enem lhe permitir.

Cursos à distância facilitam a vida de quem Jornada dupla: estudantes fazem duas universidades não pode estudar de forma presencial TUANNY FIGUEIREDO

JULIELLI SOARES

Jornalismo, terminarei primeiro este curso”.

Movida por uma “paixão” pela língua portuguesa, C.A.O., 21 anos, que preferiu não se identificar, se dispõe a cursar duas graduações ao mesmo tempo e ainda trabalha quatro horas por dia. Divide seu tempo entre Comunicação Social-Jornalismo na UFMA e Letras em Literatura na UEMA. Seu dia começa às 6 horas, quando acorda para estar no trabalho às 8h. É chamada de “tia” antes mesmo de se formar e leciona há cinco anos para crianças e adolescentes ainda no ensino fundamental. Pela manhã, professora. À tarde e à noite, aluna. “Não dá tempo nem de cochilar. É tomar banho, comer e me arrumar muito rápido, porque tenho que estar na UFMA às 14h e como é perto da UEMA, eu já fico direto aqui. São raríssimas as vezes que tenho que voltar para casa”. Quando questionada do porquê de fazer dois cursos ao mesmo tempo, ela diz: “Um curso complementa o outro na sua forma de lidar com a sociedade, então decidi cursar os dois ao mesmo tempo”. Com receio de que seu desempenho seja comprometido, C.A.O. confessa que a partir do momento em que seu desempenho for prejudicado por conta da rotina frenética, terá que se desfazer de um dos cursos.“Estou há um ano e meio no Jornalismo e há dois meses em Letras. Então, como estou mais adiantada no

Ensino público - Cursar uma faculdade pública é para poucos. São aproximadamente, 6,4 milhões de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por ano, para, aproximadamente, 129 mil vagas, segundo o Ministério da Educação. “Consegui entrar em dois cursos que eu queria, então resolvi tentar cursar os dois. Já que o primeiro período é sempre mais relax, resolvi tentar”, conta C.A.O., referindo-se ao curso de Letras. A lei 12.089 /2009 proíbe alunos de fazer, ao mesmo tempo, dois cursos de graduação em faculdades públicas diferentes ou de cursar dois na mesma instituição, mas não tem sido cumprida de forma efetiva. C.A.O. afirma não ter sido questionada sobre o vínculo com outra universidade. “Na federal, no ato da inscrição você é questionado para saber se tem outra matrícula ativa em uma universidade pública, mas na estadual não há esse problema”. A estudante diz conhecer várias pessoas na mesma situação. “Eu tenho muitos amigos que fazem exatamente esses mesmos cursos ao mesmo tempo e eu até perguntava como que era isso”. Ela teve o apoio da família e dos amigos para embarcar nessa aventura mesmo com sua mãe discordando. “Ela sempre dizia: ‘menina, menina... Como é que tu vai dar conta de tudo isso, menina?”

KÁSSIA SANTOS

A educação a distância é conhecida desde o século XIX. Entretanto, somente nas últimas décadas passou a fazer parte das atenções pedagógicas. No Brasil já são 70 anos de história. A professora de Matemática Financeira Aplicada, Irlana Herênio, ingressou há seis meses em um curso com este modelo. Esta opção surgiu da necessidade do preparo profissional e cultural de milhões de pessoas que, por vários motivos, não podem frequentar um estabelecimento de ensino presencial. O Brasil conta com mais de 3,5 milhões de alunos matriculados no sistema de ensino a distância. Os dados são da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Em Imperatriz, os cursos oferecidos contemplam diversas áreas da educação, como Matemática, Pedagogia, Filosofia, Administração, Ciências Contábeis e Letras. A transmissão acontece da seguinte forma: as aulas têm conteúdo programático, que são disponibilizados para os estudantes em DVD e em ambientes virtuais. Nestes ambientes, os alunos trocam e-mails com seus professores, fazem as atividades e entregam trabalhos. Os encontros presenciais acontecem a cada 15 dias, para um acompanhamento próximo sobre as dúvidas, o desenvolvimento e aprendizado do aluno. A pesquisa ainda revela que a maior parte dos alunos de ensino a distância no Brasil é formada por mulheres. Uma delas é a estudante de Serviço Social, Maria Luiza Maciel.

Modalidade de ensino a distância supre as necessidades de formação de milhões de pessoas no país

Ela escolheu esta modalidade, por ter a opção de fazer sua própria hora de estudo. E esclarece que o discente necessita se esforçar bem mais, ter muita disciplina, por conta de ser somente sua a responsabilidade de assistir às vídeo-aulas e fazer as atividades e exercícios dentro dos prazos estabelecidos pela instituição. Maria Luiza revela que antes de entrar nessa modalidade de estudo tinha certo receio, mas quando começou a estudar, viu que era diferente de como imaginava ser. Os trabalhos são geralmente entregues no fim de semana e nos encontros com os tutores as dúvidas são sanadas, tornando o acompanhamento do aprendizado de forma contínua. “Se a pessoa não instigar a busca, não compreenderá, pois nós temos três encontros para fechar uma disciplina. Então é preciso ir atrás do co-

nhecimento realmente, caso contrário não é possível compreender o assunto estudado”, destaca Maria Luiza. Quanto à aceitação deste diploma no mercado de trabalho, a professora Irlana assegura que, hoje em dia, não existe mais esse tipo de rejeição. “Quem vai mandar é o conhecimento adquirido pela pessoa”. Curiosidade - O Ensino a Distância (EAD) antecede o surgimento da internet. O Instituto Monitor, em 1943, realizou o primeiro curso nesta modalidade, o de: Técnico de Rádio por Correspondência. Com o envio do conteúdo pelo correio, os alunos esperavam, em média, três meses para terem o material didático em mãos. Com o passar dos anos as evoluções tecnológicas disponíveis em cada momento histórico trouxeram mais agilidade a esse processo.


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ENTREVISTA Professora Rita Maria fala sobre o crescimento de Imperatriz como polo universitário e a democratização do ensino superior da região tocantina

“Aumenta procura pelo ensino superior ” Especialista em Metodologia da Educação, Administração e Supervisão Escolar, a mestre em Educação

Rita Maria Gonçalves de Oliveira é professora assistente da UFMA e coordenadora do estágio supervisionado

de Gestão e Organização de Sistemas Educacionais. Em entrevista ao jornal Arrocha, a professora Rita Maria deta-

lha questões do mundo universitário: estrutura das faculdades públicas e privadas; a luta por uma educação de

qualidade; Imperatriz como polo educacional; terceira idade na universidade e estudantes que vieram de fora. SAULO RODRIGUES

CARLOS EDUARDO JACKELINE TEIXEIRA

Quais os avanços significativos que o ensino superior teve a partir dos anos 90 até os dias atuais? Trazendo para a realidade de Imperatriz, não faz muitos anos. Tínhamos apenas duas instituições públicas e atualmente temos uma expansão desse ensino superior privado. Contudo, essa expansão aconteceu também na rede pública, que vem aumentando seus cursos. Como pode ser considerada a estrutura educacional nas faculdades da cidade em nível de Brasil? A rede privada vem investindo muito, principalmente na questão de infraestrutura, diferente da realidade relacionada às instituições públicas. Mas temos um ponto que deixa muito a desejar na questão das instituições privadas que é a questão do maior investimento na formação do professor. Imperatriz estava preparada para uma expansão do ensino superior? Acredito ser uma necessidade da cidade, diante do seu tamanho e localização. O número de cidades e

polos que tem Imperatriz como expectativa para cursar o ensino superior tem ampliado cada vez mais. Estamos envolvendo apenas a população de Imperatriz, mas os estados do Tocantins e Pará também vêm à cidade com essa possibilidade de expansão do ensino superior. Imperatriz se consolidou como polo educacional de ensino superior oferecendo vários cursos das áreas de humanas e exatas e fez aquecer o mercado de imóveis, que dobrou ou triplicou depedendo da área da cidade. Qual o impacto que isso causa nos jovens que vieram de fora para ingressar na universidade? Na nossa realidade, os jovens que não residem na cidade e estão aqui com o objetivo maior de cursar um ensino superior é que geram esse impacto nas suas vidas pessoais, nos contextos sociais, econômicos e políticos da cidade. Quais os principais impactos que os estudantes de fora sofrem devido ao vai e volta todos os dias paras as suas cidades? Isso traz certo transtorno e dificuldade. Observamos que é dispendioso. Esses alunos chegam para a

aula muitas vezes com o desgaste do dia todo de trabalho. É lógico que se eles fizessem uma faculdade onde residem, com certeza teriam a facilidade bem maior. Quais são as influências diretas na sociedade com estas instituições? Essas influências atendem diferentes demandas. Por exemplo: hoje é comum chegar em uma loja e a pes-

“As pessoas não querem apenas o acesso, mas também ter a garantia do futuro de um curso superior melhor e mais estruturado”

soa falar que antes se dedicava apenas a criar uma família, e que hoje é dono de loja, devido a oportunidade de estar fazendo um curso superior. Isso é a dimensão que um curso superior altera na vida das pessoas, naquilo que elas fazem e investem, tanto no campo pessoal como no profissional.

Quais as principais melhorias que a universidade pública precisa ter? Não podemos deixar de falar da infraestrutura. Sofremos no dia a dia com essa questão, mesmo sendo uma instituição que tem um campus. Mas é uma realidade distante, pois temos uma expansão dos cursos. Porém, o prédio da instituição não condiz com a necessidade dessa expansão que houve na UFMA. Esse é um dos problemas. Também a questão da dificuldade da própria formação. Se hoje nós queremos, como docentes, buscar o mestrado e doutorado, temos que sair da nossa cidade para ter acesso fora. Isso representa um desafio e uma grande dificuldade para os professores. Como você vê o futuro educacional do ensino superior em nossa região? Sou otimista em relação a isso. A luta de alunos e professores por educação de qualidade tem de ser constante por aquilo que ainda não conseguimos. E os cursos que já foram contemplados devem ser vistos com mais atenção. Só tem que ter a preocupação de que essa expansão não atinja a qualidade das universidades. As pessoas não

querem apenas o acesso, mas também ter a garantia de um futuro de um curso superior melhor e mais estruturado. Quais os caminhos para se conquistar mais investimentos do governo para a educação superior de Imperatriz? A educação deve ser considerada prioridade. Temos um discurso que fala que a melhoria da formação e ensino é a educação. Não podemos e não sentimos ainda que essa educação, que deveria ir da básica ao ensino superior, seja prioridade para os nossos governantes. A terceira idade está cada vez mais interessada em ingressar na universidade, sem medo de enfrentar a concorrência. E os jovens, os encaram como seus concorrentes? A realidade que eu tenho vivenciado dessa relação acontece de forma muito positiva. Com essas diferentes faixas etárias, não podemos desconsiderar que para a pessoa que está há alguns anos sem estudar, pode representar certo desafio. O mesmo está acontecendo com os jovens que estão terminando o ensino médio mais cedo.


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FUTURO Cerca de 55,5% dos universitários se sentem seguros para iniciar sua carreira profissional e acreditam que vão conseguir um emprego exatamente na sua área

Momento de encarar o mercado de trabalho KÁSSIA SANTOS TUANNY FIGUEIREDO

Frustração e insegurança. São sentimentos de cerca de 28% de universitários em suas carreiras acadêmicas frente ao mercado de trabalho que os espera fora da universidade. Esses são dados da pesquisa realizada pela empresa Trabalhando.com. “A empresa muitas vezes precisa de alguém com experiência prática, por isso acaba priorizando um profissional que já está há mais tempo no mercado do que um recém formado”, diz Sabrina Borges. Ela estuda o 5º período de Administração numa universidade pública da cidade e já trabalha em sua área em uma empresa de telefonia. Começou apenas como estagiária, mas hoje é funcionária efetiva da empresa. Sabrina conta que, mesmo começando sem uma experiência logo de cara, sentiu ali no dia a dia que tudo que aprendia teoricamente em suas aulas refletia no seu trabalho. Este fato facilitava a realização das tarefas. Mas, pela falta de experiência, o universitário se vê muitas vezes desempregado ao sair da universidade. Sabrina, então, chega à conclusão de que o acadêmico recém formado acaba trabalhando em qualquer ou-

Estudante Eduardo Souza mesmo no trabalho, carrega consigo seus livros de estudo para consultar e tirar dúvidas sempre que é necessário

tra área que não seja a sua, por falta de oportunidades.

Confiança - Embora isso ocorra, cerca de 55,5% dos universitários se sentem seguros para iniciar sua carreira profissional e acreditam que

vão conseguir um emprego exatamente na sua área, confirma a pesquisa da Trabalhando.com. É o caso também de Eduardo Souza, estudante de Direito na Fest, que começou como aprendiz em uma empresa de supermercados da

cidade e conquistou uma vaga na área jurídica. Ele conta que a capacitação antes de tudo é primordial para o universitário conseguir o emprego que deseja. “É bom entrar em uma empresa e não necessariamente já começar trabalhando na

área de interesse, e sim ir crescendo aos poucos e mostrar que tem outros conhecimentos em áreas que se diferenciam”. Eduardo divide seu cotidiano entre estudos e trabalho. Quando precisa, recorre a algum livro de direito que está sempre por perto de sua mesa para tirar alguma dúvida. “É uma rotina muitas vezes cansativa, mas eu gosto do que faço e me identifico com a área”. Elisângela Matos, formada em Pedagogia, comenta que em Imperatriz o profissional é muito desvalorizado e isso desmotiva quem está se preparando para entrar no mercado. Ela ressalta também, assim como Sabrina, que a falta de experiência prejudica o acadêmico por conta da competitividade. Para a empresa Trabalhando. com, os números mostram que as instituições de ensino estão cada vez mais preocupadas em preparar seus alunos para o mercado de trabalho, mas isso ainda não é suficiente. Quando eles realizam processos seletivos para estágio ou trainee observam que muitos candidatos não têm, por exemplo, conhecimento da rotina da área que pretendem atuar após a conclusão do curso.

Monografias mantêm importância para além do mundo acadêmico DEYLANNE SANTOS

As monografias muitas vezes não se resumem somente a uma defesa ao final de um curso, mas são a continuação de um ciclo que não se restringiu apenas ao mundo acadêmico. Foi o que fez o professor Moisés Charles que, empolgado, fala da transformação de sua monografia de conclusão do curso de Educação Física pela Unisulma, em um livro sobre a história dessa disciplina em Imperatriz. “Algumas pessoas, e até mesmo meus alunos me questionavam sobre como surgiram os jogos, as aulas, então resolvi resgatá-los”. Formado também em História pela UEMA, Charles conta que sua pesquisa, chamada “Processo histórico da Educação Física em Imperatriz” começou naquela instituição e foi concluída na Unisulma. “Metade desse trabalho foi produzido no curso de História, mas entendi que ainda faltava uma parte”.

O jornalista José Luís Costa produziu um livro-reportagem sobre o assentamento Vila Conceição como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo pela UFMA, em março de 2013, intitulado “Terra de Bravura e Utopia”. Zé Luís, como é conhecido, explica, radiante, sobre o seu “filhote” como chama a obra, pois se orgulha de ser o primeiro livro-reportagem publicado do curso de Comunicação da universidade. “Considero este trabalho muito importante, porque como um professor me disse uma vez, quando você produz um material como este na universidade, uma peça prática, você já sai com um produto seu pronto”. O livro-reportagem de Zé Luís fala de utopia, dos sonhos e da vida dos moradores do Assentamento. Ele relata toda a vivência daquela comunidade. “Tive que pegar chuva e até mesmo morar lá duas semanas”. Uma monografia pode ser importantíssima para se dar sequência a uma formação acadêmica. “A pes-

quisa foi fundamental para eu seguir em frente, tanto que hoje em dia já estou no doutorado, trabalhando na mesma linha de pesquisa do meu trabalho monográfico”. É o que relata o biólogo e futuro doutor Bruno Lúcio Nascimento, de 24 anos . Formado em 2011 pela UEMA, Bruno apresentou uma monografia sobre o reaproveitamento do lodo gerado nas estações de tratamento como condicionante e adubo do solo. Ele buscou abordar o assunto por ser um problema recorrente, já que a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) “produz este lodo e joga no rio Tocantins”. Recentemente, sua pesquisa foi publicada na revista paraibana Agropecuária Científica no Semi-Árido (ACSA). “Durante o mestrado eu aperfeiçoei os resultados obtidos na monografia e me submeti ao conselho editorial. Daí acabei conseguindo a publicação nesta revista no final do ano passado”.

JHENE ASSIS

Jornalista José Luis no lançamento de seu livro-reportagem sobre o Assentamento Vila Conceição

Universitários que precisam conciliar tempo de estudo e emprego LUANDA VIEIRA

A maratona do estudante de Ciências Contábeis da Facimp, Thiago Ferreira Cortez, 23 anos, começa às 6 horas, quando acorda e se prepara para o primeiro transporte público do dia. Às 8h, chega à distribuidora Disbon, onde trabalha como auxiliar de custos. Quando o expediente termina, às 18h, segue direto para a faculdade. Cursando o último período de Contábeis, a maior dificuldade que ele diz ter é a falta de tempo para o seu trabalho de conclusão de

curso. “Já pensei em desistir, mas penso que no futuro vai valer a pena. Mesmo tendo que dormir todos os dias depois de 1h da manhã, no final sempre muitíssimo vale a pena”, afirma Thiago. “Assim é a vida de quem almeja um futuro melhor: bem corrida”, constata Frankelly Silva Santos, 22 anos, que está no 6º período de Pedagogia na UFMA. Ela trabalha desde os 10 anos de idade e começou dando aula de reforço para a irmã. Depois de algum tempo passou a lecionar para crianças da vizinhança. Por não ter boa condição financei-

ra, nunca se acomodou. Seu serviço é em uma loja que vende artigos militares, ambiente calmo e pouco frequentado. “Gosto de onde trabalho, porque durante o ano, a única época que é corrida é no início, por causa da venda de uniforme para escola militar”. Sua jornada é de 8 horas por dia e ela ainda estuda a noite. Ao chegar em casa cansada, por volta de 18h15, tem apenas 45 minutos para se arrumar e ir para a universidade onde estuda e, nesse pequeno espaço de tempo, nunca fica satisfeita com seu “look”.

“Os trabalhos faço a noite e o mais complicado é quando tenho que ler livros, porque só dá para ler aos fins de semana”, conta Frankelly sobre as atividades do curso. Mesmo com essa correria, gosta de ajudar as pessoas e cultivar as boas amizades. Frankelly divide-se entre família, amigos, trabalho, universidade e igreja. Aos fins de semana ainda arruma tempo para ser catequista. Adriano Vilar da Silva, 25 anos, cursa o quinto período de Administração na UEMA e conta que já pensou em desistir de algumas ma-

térias, mas nunca do curso. “O ensino superior é a materialização de um sonho”. Trabalha como supervisor de vendas na Motoca Motores, onde passa oito horas por dia e às vezes viaja para algumas cidades vizinhas do estado. Acorda 5h45 e tem que estar às 8h na empresa sendo que, em dias que precisa viajar levanta uma hora mais cedo. “É difícil administrar a hora quando viajo, porque sempre acontece algum imprevisto e chego atrasado às aulas”, explica Adriano, que alega ser esse o motivo de querer desistir de algumas matérias.


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POLÍTICA Com a mesma paixão dos universitários da década de 1960, os movimentos estudantis ganham as ruas e se unem às manifestações do país

Imperatriz e seu caminhar contra o vento

JULIELLE SOARES

Emerson Benton, representante estudantil da UEMA, compara as mobilizações regionais com as manifestações do Brasil e diz que o exemplo dos protestos em São Paulo foram verdadeiro o estopim do clamor d indignação imperatrizense DENISE CORREA

O movimento estudantil teve seu ápice na década de 1960, na qual milhares de estudantes foram motivados a enfrentar a repressão da ditadura em busca do regime democrático. Passados mais de 40 anos deste momento histórico, o Brasil volta às ruas para gritar o seu mais novo bordão: “o gigante acordou”. Os motivos dos protestos atuais são diferentes daqueles encontrados na década de 1960, porém, as insatisfações se concentram principalmente na esfera política. Tanto hoje, quanto no passado. “O Brasil é um dos melhores lugares para viver. O seu principal problema é a famosa corrupção”, afirma o professor do Departamento de His-

tória e Geografia da UEMA, Emanoel Lima da Silva. “Foi uma época difícil, mas que eu tenho muito orgulho de ter vivenciado”, recorda o professor. Hoje, aos 70 anos, Emanoel relembra com orgulho as lutas enfrentadas pelos jovens estudantes da Universidade Federal Rural de de Pernambuco (UFRPE), que constantemente entravam em conflito com o Departamento de Organização Política e Social (Dops). Ele se mostra otimista diante das ações promovidas pela população nos últimos meses. Emanoel conta que chegou a perder quatro amigos nos confrontos entre estudantes e policiais durante o período da ditadura. O tempo que se passou entre as grandes manifestações dos anos de 1960 e as atuais foi marcado por um certo si-

lêncio da população e dos próprios movimentos estudantis diante dos problemas políticos e sociais que afetavam o país. Mas, o que se pôde perceber foi o acúmulo de insatisfações dos brasileiros durante esses anos, segundo analisa o professor. Acontecimentos como os gastos excessivos com estádios para a Copa do Mundo; o aumento dos preços dos alimentos devido à inflação e o reajuste da tarifa do transporte público de São Paulo em R$ 0,20 centavos, ocasionaram uma onda de protestos em todo Brasil no último mês. Em Imperatriz não foi diferente. O movimento #FORAVBL já tinha ultrapassado os muros da universidade para questionar, em forma de protestos nas ruas, a má qualidade do transporte público. Este movimento

Obstáculos dificultam mobilidade JOSÉ MORAES

A acessibilidade é uma condição básica para a inclusão social das pessoas com necessidades especiais. No Censo de 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que cerca de 45,6 milhões de brasileiros sofrem de algum tipo de deficiência. A inclusão de pessoas com necessidades especiais em cursos presenciais de graduação aumentou mais de 425% nos últimos 15 anos no país. Segundo dados do último Censo da Educação Superior, divulgado pelo órgão, o Brasil alcançou, em 2008, o número de 15.412 portadores de necessidades especiais matriculados em universidades e faculdades. No entanto, eles representam somente 0,26% dos mais de 6 milhões de universitários. Muitas vezes o aluno deixa de estudar devido às barreiras que ele encontra ao longo do caminho,

como calçadas esburacadas, rampas de acesso muito íngremes e a falta de banheiros adaptados. Porém, a lei Federal nª 10.048/2000 garante a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O aumento desse público no ensino superior, segundo a opinião de alguns educadores, está relacionado com as novas políticas de inclusão e a com uma maior conscientização promovida por movimentos sociais e organizações não governamentais. Selma Uchôa, 36 anos, acadêmica do sétimo período do curso de Geografia da UEMA, disse que o motivo de ter escolhido esta universidade para cursar o ensino superior foi porque acreditava que fosse um local todo plano e ela não teria problemas de acessibilidade. “A UEMA é realmente muito plana em sua maior parte, mas ao mesmo tempo sofre o problema da acessibilidade, porque as rampas foram mal feitas”, considera Selma. Algumas das rampas que existem

hoje na faculdade foram construídas depois que a acadêmica ingressou no curso por iniciativa dos próprios alunos, que se preocuparam com a locomoção da colega. O laboratório de Geografia, por exemplo, não oferece acessibilidade, porque a rampa que deveria dar acesso foi mal construída, impedindo cadeirantes de movimentarem-se. Selma se locomove sozinha porque possui uma cadeira motorizada que a ajuda. Mesmo assim, ela ainda necessita da ajuda dos colegas para ter acesso à sala de cartografia, pois a rampa é muito inclinada e longa, além de existir um batente. A legislação a respeito, recente e ainda pouco conhecida até pelos docentes, coloca a questão nos termos mais amplos possíveis: a inclusão escolar é para todos aqueles que se encontram à margem do sistema educacional, independentemente de idade, gênero, etnia, condição econômica ou social, condição física ou mental.

ganhou fôlego e novos adeptos abraçaram a causa diante da mobilização nacional. Outros atos unificados foram organizados com a presença de vários movimentos sociais, estudantes secundaristas e representantes do poder judiciário, além de envolvimento mais que significativo da população imperatrizense. Representante estudantil da UEMA, o estudante de Biologia, Emerson Benton Araújo Garcia, 30 anos, afirma que as pessoas já tinham vontade de expressar as suas indignações com relação aos problemas políticos e sociais do Brasil. Mas não acreditavam que poderiam mudar a situação do país. “O povo só precisava de um exemplo para se sentir confiante. E esse exemplo foram as manifestações de São Paulo contra o aumento da tarifa de ônibus”, cons-

tata Emerson. Durante os protestos, ele saiu de Imperatriz e foi para Goiânia se juntar com mais de dez mil pessoas para discutir os rumos das manifestações em todo o Brasil. As mudanças não tardaram a aparecer. Com a grande pressão da população, medidas como a redução das tarifas de ônibus e a anulação da reforma constitucional que inviabiliza o poder de investigação do Ministério Público (PEC 37) foram efetivadas. Também ficaram de saldo a criação de leis que tornam a corrupção um crime hediondo e uma proposta de reforma política, além das conquistas feitas em níveis locais, como a expectativa de melhora nos serviços de transporte público em Imperatriz. Como os anos de 1960 entraram para a história, 2013 não será diferente. CARLOS EDUARDO OLIVEIRA

Selma Uchôa, cadeirante, enfrenta problemas de acessibilidade aos laboratórios da UEMA


Jornal

12

Arrocha

ANO IV. NÚMERO 20 IMPERATRIZ, JULHO DE 2013

TROTE Tradicional rito de passagem dos calouros atualmente só acontece nas universidades públicas da cidade. As particulares optam por semana de acolhimento

Brincadeiras marcam recepção aos calouros MIKAELL CARVALHO

Esdras Campos acredita que o trote é um momento especial e único na vida do acadêmico

MARI MARCOCCINE

“Surpresa! Hoje é o dia do trote! Bixoooo!” Começa assim a invasão da sala dos calouros de Jornalismo, pelos alunos veteranos. Muito barulho e alegria marcam este momento. Os novatos reagem com surpresa, mas todos entram na brincadeira. O trote com os calouros, também chamados de “bixos e bixetes” é uma tradição na UFMA. Depois de terem os olhos vendados, plaquinhas de papelão com as mais diversas frases são penduradas em seus pescoços. Eles são então colocados em fila indiana e amarrados uns aos outros. Assim saem para o pátio, onde podem ser vistos e então começa de verdade a brincadeira, com arremesso de ovos, farinha de trigo, tintas e bexigas de água. Sujo, mas feliz, o calouro Esdras Gregório Campos, 17 anos, acha importante a farra, desde que sejam brincadeiras inocentes e sem violência: “Esse momento é bem especial, importante e único. Com certeza terei o que contar pros meus filhos”. O único episódio de trote, na UFMA, que gerou certo “desconforto” aconteceu em 2012. As turmas de calouros e veteranos do

curso de Enfermagem picharam o muro da faculdade. Foram advertidos e tiveram que limpar a pichação. Este episódio resultou em uma proibição temporária do trote, por meio de memorando assinado pelo antigo diretor. O atual, professor Marcos Fábio Matos, entende que o trote é uma instituição, algo secular e que não deve ser proibido. “A nossa intenção é fazer com que o trote evolua. Que continue sendo uma brincadeira de boas vindas, sem qualquer falta de respeito ou violência ao ser humano. Ao mesmo tempo em que se faça também algo em benefício da comunidade, o trote solidário”.

Tradição - O rito de passagem causa algumas polêmicas por já ter acontecido em algumas faculdades do país, agressões físicas e psicológicas, tornando o trote um momento de tensão e de medo por parte dos calouros. Na UEMA, foram adotadas algumas regras depois de alguns excessos cometidos pelos estudantes em 2007. Durante a brincadeira do trote, um pavilhão recém-construído teve suas paredes pintadas com catchup. Todos os estudantes foram punidos realizando a limpe-

za das paredes. Antonio Carlos de Souza, formado este ano em Letras, foi um dos que não participaram do trote por temer as brincadeiras: “Achei melhor não arriscar. A gente fica sabendo de muitas brincadeiras violentas em todo o país”. Já as universidades particulares não possuem a tradição do trote como forma de recepção aos calouros sendo mais comum uma semana dedicada aos novatos. Durante a “semana de acolhimento”, os alunos passam a conhecer as dependências da instituição, os professores, os coordenadores dos cursos e demais funcionários. Mas, a falta do trote não agrada à grande maioria dos calouros. “Eu não concordo com a proibição do trote. Gostaria de ter vivido esse momento. É legal e divertido sair às ruas para demostrar o nosso ingresso na universidade”, disse a estudante do curso de Odontologia da Facimp, Rhaiza Barroso. A Unisulma chegou a realizar trotes solidários nos primeiros anos, com arrecadação de alimentos e campanhas de doação de sangue, mas como não houve a adesão esperada por parte dos alunos, o trote não teve continuidade.

Calouradas reúnem mais de Acadêmicos interagem em congressos 200 pessoas por edição

SHEILA COSTA

SHEILA COSTA

“A gente já passa tanto tempo estudando aqui dentro, pirando com todos esses textos e teorias, que é um jeito de conhecer gente de outros cursos e de interagir com o pessoal da faculdade também. Se divertir, esquecer um pouco dos milhões de trabalhos que você tem pra entregar no outro dia”. O depoimento é da estudante do curso de Jornalismo da UFMA, Kelly Saraiva, de 26 anos, que gosta de comparecer às calouradas e está sentindo falta das que acontecem na universidade que estuda. Elvis Coelho e Emerson Benton, universitários e coordenadores do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UEMA, contam sobre a Calourada geral da instituição, que aconteceu dia 27 de abril de 2013, organizada por eles e que teve um recorde de público de aproximadamente 230 pessoas. Benton destaca que as calouradas da UEMA contam com a presença de um público amplo, além do atrativo do preço da entrada, que é sempre acessível aos estudantes. “A galera que vem é sempre gente boa, que só vem pra curtir, sem arrumar confusão. O ambiente já é tradicional nas festas. E é muito aconchegante, todos se sentem em casa”, acrescenta Elvis. Kelly, que também compareceu nessa Calourada, conta que o ritmo, o tipo de música escolhida é algo que chama atenção. “A maioria das calouradas que vim aqui na UFMA tocaram sertanejo ou forró, esses ritmos que têm em

todo lugar. Na UEMA as bandas tocam o que pouca gente gosta, na verdade, o que um público seleto gosta, como o rock. Na última que aconteceu tocou reggae, e acho que esse é o grande diferencial”.

Integração - Evento anual que acontece há três anos na Fama, voltado para a responsabilidade social e ambiental, o Ecofama conta com a organização e participação de alunos e professores do primeiro e oitavo períodos do curso de Administração. Em 2013 o tema foi “Responsabilidade social, ambiental e sustentabilidade”. Para a ocasião os alunos do primeiro período criaram uma banda, que a princípio ainda não tem nome e garantiram a movimentação da cultural nos três dias do evento.“Não sou cantora profissional, mas tentei virar agora com esse evento”, conta, rindo, a estudante Tatiana Moreira Brandão, de 29 anos, uma das integrantes da banda. Tocando todos os estilos musicais, ela acredita que a banda foi o diferencial no evento deste ano. Os alunos marcam presença e, segundo Tatiana, até a saída da última pessoa a banda ainda está cantando. “É como se fosse uma calourada. Tem sempre a participação dos alunos e os professores interagem bastante”. Cursando o terceiro período de Administração, Gleiciene Albuquerque, 26 anos, conta que gostou da iniciativa dos alunos de terem criado a banda, assegurando a animação da noite e agradando todos os gostos musicais sendo essa mais uma forma de integração com o curso.

Palestra realizada no III Ecofama reúne estudantes do primeiro período de Administração visando a responsabilidade social e ambiental ÉRICA FERREIRA

Congressos e simpósios são eventos de grande valia dentro do universo acadêmico. A maioria das universidades e faculdades, sejam elas públicas ou privadas, organizam seus próprios eventos internos visando melhorar a formação dos alunos. Além, é claro, de proporcionar a prática por meio das oficinas e mini-cursos. Durante os dias 8, 9 e 10 de maio de 2013 ocorreram simultaneamente dois eventos em duas universidades diferentes. Na UEMA acontecia a “II Jornada de Geografia”, com o tema geral “Pensar e ser geografia”, esse ano analisando e discutindo a obra do geógrafo Milton Santos, “Por uma outra globalização”. Paulo Henrique Félix, acadêmico de Geografia e organizador da Jornada, frisa que o objetivo do evento é trabalhar todos os anos com uma obra e um autor diferente. A sua expectativa é de que esse projeto percorra um longo caminho já que só passou a existir depois

que ele assumiu a gestão do Centro Acadêmico. Outro evento, o III Ecofama foi uma conferência ambiental e representou a materialização da disciplina “Responsabilidade Social e Ambiental”, que faz parte da grade curricular do curso de Administração. O professor Almir Lima Torres, que ministra a disciplina e coordena o Ecofama, reforça que o evento tem como intuito integrar os alunos da faculdade. Sabrina Queiroz Teixeira, estudante do primeiro período de Administração, diz que o evento é muito importante, pois visa a responsabilidade social e ambiental. Também é voltado para o meio ambiente e para a preservação e conscientização. Durante os três dias em que acontecia o encontro foram oferecidas palestras educativas sobre vários temas diferentes, informando sobre responsabilidade e projetos ambientais. Cada universidade propõe seus próprios eventos e muitas delas também incentivam a participação dos alunos em congressos que acontecem em outros estados.

Essa é mais uma maneira de integrar o acadêmico com a sociedade e fazer com que ele adquira experiências e vivências únicas em cada evento que participa. Nesses congressos pode-se encontrar todo tipo de estudante, desde os mais aplicados até aqueles que só comparecem para se divertir. Fernando Costa, que cursa Comunicação Social na UFMA relembra os três congressos e encontros de estudantes que já participou. Ele ressalta que o que cada um absorve nos encontros depende muito de como esses alunos estão preparados. “O primeiro congresso que eu fui eu tinha duas semanas de curso, foi o Enudes em Belém, um congresso de diversidade sexual. Naquele tempo eu estava ‘meio cru’, não tinha noção do que seria um congresso, o que seria a vida acadêmica”. Alguns anos depois, mais experiente, Fernando participou de dois outros eventos, desta vez na sua área de atuação e interesse, sendo que no último chegou a apresentar um trabalho acadêmico de relevãncia.


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