Jornal
DEZEMBRO DE 2018. ANO IX. NÚMERO 36
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
Arrocha
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ
Ontem e hoje
Gerações imperatrizenses debatem diferenças Página 6
A vida movimentada da nova terceira idade
FOTO: CÁSSIA CASTRO
Página 7
Jornal
2
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
EDITORIAL - Memória e atualidade
N
esta edição do Arrocha, os repórteres convidam os leitores para um exercício de memória e reflexão sobre o passado e o presente de Imperatriz. Sempre amparado nas lembranças de pessoas comuns, de várias gerações, o desafio foi desvendar em que sentido a cidade sofreu transformações em muitos aspectos. Dos antigos festivais aos shows megaestruturados. Da diversão nas saudosas boates e cinemas aos equipamentos modernos de lazer. As modificações nos espaços urbanos como as praças e a Beira-Rio. Como era ser criança ou ser idoso ontem e hoje em Imperatriz e as visões muitas vezes conflitantes entre as gerações. A expansão dos meios de comunicação e das instituições de ensino superior. A tecnologia que se atualiza, mas que encontra ainda fãs conservadores dos modelos do passado. Em outros aspectos, uma reflexão sobre a mancha da pistolagem e sua superação no cenário da segurança. Ou as principais modificações em termos de engajamento social e ativismo. Também há espaço para refletir sobre o que mudou em termos de moda e procedimentos estéticos. E não poderia faltar uma entrevista com o cinegrafista João Bosco Brito, que mantém no YouTube um banco de memória riquíssimo, com mais de 500 vídeos sobre Imperatriz em seu passado recente.
O jornalismo não trabalha apenas com a interpretação do presente imediato. Tem também, como missão, ajudar a desvendar elementos do passado justamente a partir da memória documental ou pela oralidade. Não se trata de entrevistar apenas especialistas, aqueles que se debruçam cientificamente sobre os vários aspectos da história compartilhada em uma comunidade. Mas, sim, ouvir com paciência os relatos das pessoas que muitas vezes não encontram espaço para se expressar nos meios de comunicação tradicionais. Neste jornal, a intenção foi a de mergulhar em um passado que não é tão distante e ao mesmo tempo observar a memória do presente e, talvez, a do futuro. Em todas as edições do Arrocha a palavra compreender é o lema principal de todos os membros da equipe, estudantes e professores. Os jovens repórteres que fizeram esta edição aprenderam muito sobre uma cidade que tem por principal característica o caráter mutável e em constante ebulição e expansão de sua cultura e vida social. Trata-se de um jogo de permanências e transformações em um processo que nunca é interrompido, pois é movido pelos seres humanos. Imperatriz está sempre aberta a novas interpretações para aqueles que buscam ouvir as suas histórias com abertura e sensibilidade.
EXPEDIENTE
Jornal Arrocha. Ano IX. Número 36 Dezembro de 2018 Reitora - Prof. Dra. Nair Portela | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte | Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. Msc. Carlos Alberto Claudino Professores - Dr. Alexandre Zarate Maciel (Jornalismo Impresso); Dr. Marcus Túlio Lavarda (Programação Visual); Dr. Miguel Angel Lomillos (Fotojornalismo); e Dr. Marcos Fábio Belo Matos (Revisão)
Alunos de Linguagem e Programação Visual Ana Catharina Valle Ana Karla Sousa Angela Lima Aryane Santos Déborah Costa Francisco Mourão Gabriella Figueiredo Layana Barbosa Lucas Calixto Mariana Muniz Poliana Castro Rutielle Barrozo Silvana Bezerra
Alunos de Jornalismo Impresso e Fotojornalismo André Silva Andreia Liarte Bruna Tavares Cássia Castro Ellen Monteiro Gabriela Almeida Gislei Moura João Marcos João Paulo Camelo Rebeca Ribeiro Rennan Oliveira Viviane Reis Yanna Duarte
Monitor: Gilmar Carvalho
Núcleo de Apoio: Cássia Castro Francisco Mourão Gabriella Figueiredo Henrique Andrade Hugo Oliveira Layana Barbosa Luana Coelho Viviane Reis
Ensaio: Viviane Reis Inghrid Ketih Amanda Reis
Q
U
Z I
TEXTO: KAIO HENRIQUE DIAGRAMDOR>: JULIANA TAÍS
Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade.
Capa: Cássia Castro
CHARGE - Jhulia Ferreira e Vitória Costa
A cidade de Imperatriz, que já foi conhecida como vila da Imperatriz e polo de negócios do sul do Maranhão, já ilustrou muitas histórias, desejos, aventuras e paixões. Conhecida por ser um lugar de passagem, conecta estilos e afeições por meio de seus aspectos multiculturais. Você conhece ou já frequentou um desses locais e eventos? Faça o teste para saber que tipo de imperatrizense você é, marcando todos os locais que você já frequentou ou frequenta:
Cinema
Cine Muiraquitã Cine Marabá Cine Imperatriz Cine Blue Cinema no Teatro
Curiosidade: O Cinema no Teatro era um projeto que visava a promover a cultura do cinema, com a presença de antigos filmes consagrados e o incentivo ao debate após o término de casa sessão.
Comida
Romanos Pizzaria Sorveteria Zorzo Hambúrguer (Praça de Fátima) Açaí do Timóteo Panelada das Quatro Bocas
Curiosidade: A panelada das Quatro Bocas, ponto consagrado pela regionalidade imperatrizensse, é conhecida por funcionar madrugada adentro e ser o point ideal para o pós-festa daqueles que buscam se alimentar.
Bares
Farmácia do Ambrósio Bar do Xexéu Texana Peixe “Pôde” Bar do Gil
Curiosidade: A Farmácia do Ambrósio, hoje bar, tinha esse nome peculiar devido ao seu dono, inventor de bebidas, que inicialmente criava essas cachaças como remédios para cura de males como garganta inflamada e gripe.
De 09 a 23: “Imperatrizense avenida Dorgival”: Você é uma pessoa agitada, daquelas que não perdem por nada um rolê com a galera. Ficar em casa nos finais de semana é considerado tortura. A vida noturna te anima e, mesmo em dias inusitados, você permanece em movimento.
Eventos
Sonora Faber Imperarock Festival de Música de Imperatriz Rock na Rua
Curiosidade: O Sonora ficou conhecido como um dos últimos festivais de rock consagrados na cidade. Com o total de oito edições, trouxe de Pink Floyd a Legião Urbana, nos seus shows covers.
Casas Noturnas Fly Back Broadway VillaPub Café Del Lagoa Machu Picchu
Curiosidade: A Broadway foi uma danceteria onde o público curtia músicas consagradas do ramo eletrônico. Ocorreu também o boato de uma mulher que assustava as pessoas em determinadas noites.
Resultado De 01 a 08: “Imperatizense Rio Tocantins”: Você é calmo, já até frequentou os eventos ou saiu para conhecer a cidade, mas na maior do tempo fica na sua e consegue manter uma vida tranquila. Porém, quando possível, busca conhecer os lugares e às vezes até desaparece do convívio social.
FOTOS: JOÃO BOSCO BRITO
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
3
CULTURA REGIONAL
Imperatriz guarda uma multiplicidade de histórias contadas pelos jovens de antigamente, que relatam como era a vida na cidade, entre serestas, cinema, teatro e arte em geral
Imperatriz: um lugar da panelada cultural GABRIELA ALMEIDA
peratriz. Reunia diversos grupos teatrais, pessoas e peças. Atualmente o Teatro Ferreira Gullar é a obra deixada por quem fez esse trabalho incessante na cidade. “Hoje tem mais aceitação ao teatro, todo evento que tem aqui lota, diferente de antigamente, que dava umas cinco ou seis pessoas para assistir às peças. Porém, tem menos grupos e ficava e ainda fica mais difícil sem apoio. Antes o pessoal vinha, ensaiava aqui, faltava morar no teatro. Hoje quase não vem ninguém para fazer isso. Até a escola de samba de Imperatriz ensaiou aqui”, diz Chico. Falta incentivo e apoio público para o único teatro de Imperatriz. A maioria dos projetos fica na promessa, logo são esquecidos, como denuncia Chico do Teatro. Quem hoje movimenta o local são os colégios particulares da cidade e também o grupo Okazajo.
TEXTO: GABRIELA ALMEIDA DIAGRAMAÇÃO: ANGELA FREITAS
“O
Faber virou o Sonora”, diz em uníssono, sorrindo, o jovem casal Anne Sá e Diego Viana, de 20 anos, reunidos na mesma mesa em que escutam as histórias contadas pelo casal Rozalva, 47, e João Neto, 57. A comparação envolve o antigo festival que ocorria e o novo, que de certa forma o substituiu na cidade. Festivais e boates - O Festival Aberto Estância do Recreio, ou apenas Faber, foi uma movimentação cultural que acontecia em Imperatriz na década de 1980, às margens do rio Tocantins e do riacho Cacau. Reunia cantores regionais e nacionais, sendo o palco de grandes atrações, chegando até a ser considerado um dos maiores do Brasil. Também havia o Festival de Música Imperatrizense (FMI), que ocorre até os dias de hoje e reúne, em competição, jovens artistas da cidade. “Eu fui em shows no Faber, quando ainda participava o Zeca Tocantins, o Neném Bragança, o Chiquinho França. Também vieram cantores de fora, como Amelinha. Tinham os nacionais e também os regionais, eles colocavam essa mistura. Sempre lotava, muita gente mesmo”, conta com o olhar distante, João Neto. É quase universal que os mais velhos envolvidos em nostalgia gostam de dizer que os tempos antigos eram melhores. E quando se refere a Imperatriz, é impossível não mencionar as movimentações culturais que reuniam um grande número de adeptos, de várias
De frente, a fotografia da Beira-Rio na década de 90, retirada por João Bosco Brito. Ao fundo fazendo contraste, a avenida como é na atualidade
idades e gostos. A cidade sempre abraçou diversas culturas que por aqui transitavam. Fazendo jus ao prato típico da cidade, a panelada, resultado de uma grande mistura de diversos ingredientes e estilos. Neto conta que naquele tempo havia muitas serestas em Imperatriz e uma que fazia bastante sucesso era a Lagos Bar. Revela que foi lá que conheceu a sua esposa, a Rozalva. Nas serestas da cidade tocavam vários grupos, mas quase sempre eram nomes locais. O que também fazia sucesso eram as boates, como Fly Back e a Broadway, conforme evidencia Rozalva. “Tocava tipo as músicas
que vocês chamam de eletrônica, naquele tempo a gente chamava de house dance. Quando você ia lá você podia escolher qual estilo de música que você queria ouvir. Era dividido por espaço e não passa-
“O Faber virou o Sonora”, dizem os jovens va o som ou misturava. Você ouvia apenas a música do estilo que você estava participando. Ou tu ficavas no flashback, ou onde era
só dance, ou onde era só pagode.” Outro evento que também contava com um grande número de adeptos eram as Festas da Praça, como a Praça do Mercado, que reunia jovens para conversar, ouvir música, tocar violão, debater, conhecer gente nova ou rever as pessoas já conhecidas. Artes cênicas- O teatro também teve espaço importante na cidade, que foi palco de movimentações culturais expressivas neste sentido. Havia muito mais peças do que hoje, apesar das dificuldades da época, como confessa Chico do Teatro, 50 anos, um grande nome desta arte em Im-
Cinema- Três cinemas existiram em Imperatriz entre as décadas de 1960-1990: o Cine Marabá, Cine Fides e Cine Imperatriz. As instalações eram precárias, porém contavam com um grande número de visitantes e funcionavam aos finais de semana. Alguns dias a plateia lotava e em outros, não. Por não ter muita opção de diversão, ir ao cinema era quase uma alternativa de luxo, e as pessoas se preparavam o mês inteiro para poder assistir a um filme. “Eu ia no Cine Marabá. Assisti ‘Uma linda mulher’ nele. O outro também foi ‘Bonnie e Clyde, uma rajada de balas’. Eu achava mais difícil ir no cinema antigamente, eu mesmo não conseguia ir todo dia. Hoje, se eu quiser eu vou, fora que não era tão confortável como é hoje”, relembra Rozalva.
Artistas identificam o que permaneceu e se transformou em termos da música regional da cidade políticas públicas. Nada explica uma cidade que se enriquece de universidades e se empobrece de cultura”, desaomo o lugar era pequeno, as bafa Zeca. pessoas davam mais apoio, eram mais próximas. Se você fazia um recital, se ia cantar, o show lotava. “Nada explica uma Hoje não, por isso parei de fazer show cidade que se enriquece em Imperatriz, pois não dá ninguém. de universidades e se As pessoas só focam na televisão, no empobrece de cultura”, que faz sucesso”, denuncia o cantor diz Zeca e compositor Zeca Tocantins, de 60 anos. Imperatriz possui grandes figuras regionais, mas com as misturas cul- Atualidade - A ideia que se tinha sobre o turais há dificuldades de definir sua que é cultura mudou muito. Se Imperegionalidade, causando assim a des- ratriz já era aberta a novas possibilidavalorização de artistas que produzem des culturais, atualmente ela engloba na cidade. ainda mais grupos. Existem festas para Zeca acredita que falta o apoio das o público LGBTQI+, de rock, de samba, universidades. Expõe que a educação pagode, dance, eletrônica, forró, sertadeveria estar de mãos dadas com os nejo, funk, entre outros. movimentos culturais e não virar as A diferença está que os grupos focostas. Os professores deveriam incen- ram se limitando ainda mais e se retivar a busca de produtos regionais, em conhecendo como cultura. As misturas sua opinião. já não acontecem como antes, mas se “O que se produz de qualidade reestruturam. nessa cidade não é valorizado. Faltam Há uma perda de definição do re-
GABRIELA ALMEIDA
TEXTO: GABRIELA ALMEIDA DIAGRAMAÇÃO: ANGELA FREITAS
C
Gosto musical dos jovens em Imperatriz está cada vez mais aberto a novas possibilidades, graças à existência de mais bares e casas de show gional, os cantores que aqui tocavam já não englobam o gosto musical do mais jovem. A abertura do mercado nacional permitiu um novo leque de possibilidades e os cantores que ascendem na cidade com o estilo de sertanejo, rock ou pop ganham mais visibilidade no cená-
rio atual, tanto na cidade quanto fora. “Tem cantores regionais daqui que não curto, mas se entrasse Luis e Maurilio eu entrava com certeza”, confessa Anne Sá. “Hoje em dia tem mais show, é bem mais eclético. Veio a Anitta, o Roberto Carlos, tem festa eletrônica. Tudo
causado por uma competição de casa de produção de shows. O mercado é bem mais aberto”, considera ela. “Hoje tem mais bares, casas de show. As coisas acontecem bem mais fechadas, mas também é bem mais aberto aos novos tipos de público”, afirma Diego.
Jornal
4
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
DIVERSÃO A cidade que reunia diferentes formas de lazer nos anos 70, 80, e 90, como festivais de música e clubes, se reinventa em novas opções com bares, restaurantes gourmet e festas segmentadas ACERVO PESSOAL
JOÃO BOSCO BRITO
Cine Marabá, local em que os jovens assistiam a filmes nas décadas de 1970, 1980 e 1990
Festivais de rock, embora ainda sejam promovidos, já foram mais presentes entre as opções de eventos organizados na cidade
Como Imperatriz se divertia ontem e hoje TEXTO: YANNA DUARTE DIAGRAMAÇÃO: ANA CATHARINA VALLE
O
modo como as pessoas se divertem e vivenciam experiências de lazer hoje em Imperatriz mudou muito da forma como os jovens a experimentavam nos anos 1970, 1980 e 1990. Os adolescentes atuais podem contar com uma cidade com barzinhos, shoppings e eventos de música eletrônica, rock e temática LGBT, como a festa Trópico. Com quase 260 mil habitantes, segundo o site do IBGE, Imperatriz é a única cidade do Maranhão, fora a capital, São Luís, que possui uma população superior a 200 mil pessoas. Com isso, por ser o segundo maior centro cultural, político e populacional do estado, sofreu muitas mudanças no modo como as pessoas viviam e, portanto, se entretinham, dos anos 1970 pra cá. Clubes e Danceterias - Dos anos 1970 aos 1990, os jovens se divertiam em lugares como Clube Tocantins e o Juçara; nos festivais de música popular, que reuniam artistas locais e premiações, como o famoso Faber e danceterias como a Discoblay (anos 70-80), Fly Back e Broadway (anos 90), que estavam entre os lugares que o público imperatrizense frequentava para dançar e ouvir estilos como rock e eletrônico. Jussana Helida, 41 anos, relembra das matinês que frequentava aos 15 anos no Clube Juçara. Estas começavam às 15 horas e terminavam às 21h. Uma das atrações que embalava a tarde era “Maykel e suas Mayketes”, grupo de músicas juvenis bastante conhecido em Imperatriz nos anos 1990. Outra atração famosa era o “Rock em Rua”, nos anos 90, movimento de música independente que ocorria em vias como a Simplício Moreira, com uso de equipamentos de som que instalavam no local. No entanto, o nome engana. De acordo com o microempresário Flávio Batista, 43 anos, um dos jovens que costumava frequentar o evento na época, os ritmos que tocavam iam além do rock de bandas como
Capital Inicial e Legião Urbana, incluindo também a lambada e o technotronic, estilo muito tocado nesse tempo.
“Naquele tempo era mais sadio as coisas, a gente sabia brincar, não havia confusão com drogas. Hoje, é só briga”, conta Maria Dalva
Cinemas Antigos - Quanto às produções cinematográficas, o público tinha acesso aos filmes, por mais que um tanto atrasados, por meio de cinemas como o Muiraquitã, o primeiro da cidade, inaugurado no final dos anos 1950 e o Cine Marabá, inaugurado nos anos 1970 e que funcionou até meados de 1990. Sobre o Cine Marabá, Flávio relembra que aos 15 anos costumava assistir a algumas obras com amigos no local. “Os filmes que mais passavam eram de faroeste e romance, com ação também, tipo os filmes do Chuck Norris e [do diretor] Clint Eastwood”.
Ele ainda se recorda dos cartazes de papel colados nas paredes para anunciar as produções cinematográficas e da repetição de um mesmo filme durante mais de um mês. Flávio ainda conta que o local costumava exibir filmes pornográficos, a partir das 21 horas, mas que apenas os adultos podiam assistir. Segundo a vendedora Merilene Anjos, 35 anos, os locais a que costumava ir quando se tornou mais independente dos pais eram os Clubes de Reggae, localizados na avenida Beira- Rio e danceterias como Fly Back e Broadway. Merilene conta que antigamente as festas começavam e terminavam mais cedo. As chamadas vesperais ou matinês que frequentava nos anos 1990 tinham início geralmente às 16h e encerravam às 19h. Os ritmos que mais tocavam eram axé e samba. Ela relembra que, antigamente, as pessoas saíam para dançar e levavam isso muito a sério, a ponto de treinar antes os passos de dança em casa, como uma forma de fazer parte do ambiente em que se divertiam. “Era tipo uma competição, você não se permitia não saber”, afirma Merilene. Sobre frequentar os mais variados clubes e sua segurança, ela conta que “tinha uns clubes de gente decente e dos malas, desses a gente passava longe”.
Bons Tempos – A vendedora Maria Dalva Montes, 56 anos, fala dos tempos da juventude com muita alegria e saudosismo. Ela afirma que, se pudesse voltar no tempo, faria tudo igual e que foi muito feliz. Frequentadora da Discoblay no auge de seus 17 anos, Dalva conta que “naquele tempo era mais sadio as coisas, a gente sabia brincar, não havia confusão com drogas. Hoje, é só briga”. Ela confessa a saudade que possui do passado, época que considera ter sido tranquila para diversão.
“A cidade ainda tem muita dificuldade para eventos que não seja forró e sertanejo, o que gera uma carência [de outros estilos] pra quem gosta”, afirma Juliana Tais
A assistente administrativa Beatriz Barbosa, 61 anos, concorda com Maria Dalva, embora as duas não se MUSEU VIRTUAL DE IMPERATRIZ
Meninas e sócias reunidas em um baile no Master Clube, em 1979: as festas começavam e também terminavam mais cedo
conheçam. Para ela, antigamente era muito mais seguro se divertir. Beatriz conta que costumava frequentar o Clube Tocantins com os amigos, que tocava estilos como samba e MPB. “Se chamava Tertulha, aos domingos. A gente chegava em casa triste, porque terminava uma e meia da manhã”, relembra Sandra Bastos, 57 anos, irmã de Beatriz. Diversão Hoje - A realidade do passado, recheada de clubes, festivais de música, danceterias e casas de reggae é bem diferente das opções disponíveis para os jovens de hoje. Imperatriz vive um momento de restaurantes gourmet, barzinhos e eventos organizados por um público específico. A estudante de jornalismo Juliana Taís, 20 anos, conta que hoje na cidade há opções de festivais eletrônicos e de rock, ainda que o último estilo tenha reduzido um pouco no número de eventos. Frequentadora assídua de festas de música eletrônica, ela acredita que “a cidade ainda tem muita dificuldade para eventos que não seja forró e sertanejo, o que gera uma carência [de outros estilos] pra quem gosta”. Para ela, frequentar os eventos de rock como o finado Sonora (2016-18) e o Rock Me Please, permitia ter uma chance de se expressar livremente. “O rock e o eletrônico me mudou de maneiras diferentes, cada um”, completa. Mateus Motta, 20 anos, profissional de Marketing, também reconhece uma resistência quanto a eventos diferentes em Imperatriz. Ele participa desde a primeira edição de 2016 da “Trópico Itz”, uma festa que surgiu com uma estética jovial e inovadora, virando posteriormente uma produtora, direcionada ao público LGBT, mas que abriga diversas pessoas. Em meio a novas identidades e uma geração diferente da encontrada nos anos 1970, 1980 e 1990, Imperatriz incorporou outras formas de lazer com festas como a Trópico, festivais esporádicos de rock e música eletrônica, além dos eventuais shows de sertanejo no Parque de Exposição.
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
5
CONVIVÊNCIA Imperatriz tem cerca de 41 praças, além de outros locais de convivência pública, como praias, rodoviária e mercados, todos eles repletos de anos e décadas de histórias vividas por quem os frequenta
Memórias e vivências dos espaços urbanos JOÃO MARCOS TEXTO: JOÃO MARCOS DIAGRAMAÇÃO: FRANCISCO MOURÃO
Tiradentes surgiu o primeiro sanduíche com milho verde e creme de leite da cidade.”
E
xistem muitas formas modernas de se divertir em Imperatriz. São lanchonetes, playgrounds, shoppings e eventos todos os finais de semana. Porém, as praças e outros espaços urbanos, por muito tempo esquecidos, mantêm a sua importância. Logo no seu nascimento, a cidade passou a ter um espaço de convivência social, de acordo com os relatos escritos do historiador Adalberto Franklin. A praça da Meteorologia, que fica na famosa avenida Frei Manoel Procópio (antiga rua XV de Novembro), foi uma das primeiras a serem construídas, datada da época da chegada dos primeiros habitantes de Imperatriz, em 1852. A avenida era a única da cidade na época e por isso era sempre movimentada com eventos e festejos. No mesmo local foi construída a Paróquia Santa Teresa D’Ávila, que ainda é hoje um local de fé e devoção, além de ser um cartão postal da cidade. De forma semelhante aconteceu com locais como a Praça de Fátima. Sua inauguração foi marcada, no início da década de 1950, com a construção da primeira abadia em honra à Senhora de Fátima. Por ser no centro da cidade, de lá fluiu toda a área comercial, passando de uma simples feira para o que hoje é o Calçadão. Além das famosas festividades e eventos culturais, o local hoje é uma atração por ter o famoso “X-tudo de R$ 5,00”, consumido diariamente por muitas pessoas. “Eu uso a praça com frequência para almoço por conta do meu horário do estágio e sempre vou pra praça à noite para lanchar”, relata o acadêmico de Serviço Social, Flavio Carvalho Santos, de 27 anos. Já a famosa Beira-Rio, que fica na avenida com o mesmo nome, foi inaugurada em 1994 e passou por uma grande transformação, sendo reinaugurada no dia 22 de dezembro de 2017. Porém, para a opera-
Lembranças de outros espaços – Além das praças, as praias e até a chamada antiga rodoviária eram locais muito frequentados. Noélia conta que na sua infância, em meados da década de 1970, o Terminal Rodoviário de Imperatriz também funcionava como espaço de lazer. “Quando eu era pequena, aqui em Imperatriz tudo era muito difícil. Só quem tinha televisão eram os ricos. Então, nos dias de domingo, papai arrumava todo mundo e íamos para a rodoviária assistir televisão. Elas eram grandes e ficavam no alto, protegidas por grades. Muitas pessoas iam. Era engraçado”, relembra. No ano de 2011, uma nova rodoviária foi construída próximo à BR-010 e passou a se chamar Terminal Rodoviário Jackson Lago, em homenagem a um dos governadores do Estado do Maranhão.
A atual Praça de Fátima conta com lanchonetes, feiras e a moderna Catedral Diocesana Nossa Senhora de Fátima, inaugurada no final dos anos 1960
dora de caixa Jane Gomes da Silva Moreira, de 42 anos, suas visitas ao local são antigas. “Quando eu era solteira ia muito para Beira-Rio para esfriar a cabeça”, relata Jane, que hoje é casada e tem duas filhas. Mas a diversão não parava por aí. Jane lembra que, na década de 1990, saía muito com os amigos nos tempos livres e o destino era quase sempre o mesmo: “A gente abria o bagageiro do carro e ligava o som bem alto, levava cadeiras e fazia um lanche. Ficávamos de duas até três da manhã na Beira-Rio.” Antes, existia até um parque de diversões, hoje, uma concha acústica foi construída para abrigar diversos eventos da cidade, como Carnaval e Réveillon. Porém, nem tudo era como ela queria. Para Jane, a infraestrutura e a segurança já careciam de atenção naquela época. “Fedia a peixe e tinha JOÃO MARCOS
Beira-Rio hoje conta com um amplo espaço para a prática de esportes, como caminhada e patins
muitos ‘trombadinhas’” conta. Hoje ela frequenta a praça para outros fins, um deles é para praticar esportes. Com a reforma, a Beira-Rio está equipada com uma academia ao ar livre e um amplo espaço para
“O lazer é o que mais me atrai, por isso que tem que ter uma estrutura bacana” a prática de atividades físicas, como andar de patins, por exemplo. E é nesse novo momento que o acadêmico de Direito, Murilo Veloso Paula, de 18 anos, frequenta a Beira-Rio de forma assídua. “O lazer é o que mais me atrai, por isso que tem que ter uma estrutura bacana. Vou com meus amigos e família, lá gosto de praticar exercícios físicos.” Assim como Jane, Veloso acredita que as mudanças trouxeram mais segurança e conforto tanto para os antigos frequentadores quanto para os novos, mesmo que focados nas práticas de atividade física. Outras praças - Também com mais de 40 anos de história, a Praça da Bíblia passou por adaptações semelhantes às da BeiraRio, dentre elas a retirada do monumento em forma do livro sagrado. Recebeu concha acústica, academia e até fonte. A estudante Vitória Durans Santos, de 18 anos, estuda na escola Nascimento de Morais, que
fica na própria praça e conta que era difícil frequentar o local: “Minha mãe dizia para eu não ir, tinha medo que eu fosse assaltada”. Jane, quando jovem, também frequentava a Igreja Batista Nacional Missionária, que fica na Praça da Bíblia. Ela relata que ia para os cultos e participava das atividades no local. Na mesma época, houve um crescimento de bares aos arredores da praça, fazendo com que nos finais de semana o espaço fosse tomado de sons e rostos felizes. A Praça da Cultura, reinaugurada no dia 14 de novembro de 2018 e a Praça Tiradentes eram também pontos de referência na cidade. A psicopedagoga Noélia Nunes Veloso Paula, de 50 anos, relembra: “Praça da Cultura era o point! Tinha um lanche que vendia fiado bem pertinho na esquina com o Santa Teresinha. Já na
Infraestrutura - De acordo com a “Enciclopédia de Imperatriz” (2003), do jornalista Edmilson Sanches, ao todo existem 41 praças além da Beira-Rio. Porém, para o secretário adjunto da Secretaria de Planejamento Urbano de Imperatriz, Filipe Policarpo, deveria haver muito mais, o que impediu foi o crescimento desordenado da população durante os anos. “Todo município tem um plano diretor, que delimita as suas áreas institucionais, que devem ser construídas praças, hospitais e locais públicos. Porém, aqui em Imperatriz, muitas dessas áreas foram ocupadas indevidamente durante os anos.” O secretário completa argumentando que os espaços urbanos estão se renovando devido às novas necessidades das pessoas. Antes, eram apenas bancos e lanches, hoje, os espaços se tornaram mais complexos, porém aconchegantes, para que os mais jovens tenham bons momentos e os mais velhos não esqueçam de seu passado.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE)
Fotografia do início da década de 1960 retrata o local onde hoje está localizada a Praça de Fátima
Jornal
6
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
MUDANÇAS Classificações e termos começaram a aparecer na literatura e estudos a partir da década de 1950. Hoje, as novas denominações Baby Boomer, X, Y e Z, ajudam a traçar perfis diferenciados
Gerações imperatrizenses debatem diferenças RENNAN OLIVEIRA TEXTO: RENNAN OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: SILVANA COSTA
C
om as classificações recentes sobre as gerações, em Baby Boomer, X, Y e Z (ver box) já é possível traçar o perfil de cada pessoa que viveu e ainda vivencia essas realidades. Em Imperatriz não é diferente, já que cada jovem, criança e adolescente tem suas particularidades. O modo de brincar, se divertir e se relacionar modificou-se com o tempo, mas, apesar de a região ser interiorana, muita coisa mudou e tecnologias digitais ganham mais espaço, tanto em escolas como no cotidiano. É o que dizem duas entrevistadas de gerações diferentes. Maria Eduarda faz parte da geração Z, nasceu em 2006. Sempre esteve conectada desde a infância e muito cedo, aos 7 anos de idade, já sabia usar mídias digitais. “Ganhei primeiro meu Ipad, depois ganhei com 10 anos de idade meu smartphone”. Depois se inseriu nas redes sociais. Ela conta que sempre foi autodidata com relação às tecnologias digitais. “Nunca fiz curso de informática, sempre fui autodidata, aprendi a mexer sozinha no computador. Hoje faço pesquisa só no computador e smartphone.” O computador tornou-se amigo íntimo principalmente nas pesquisas escolares. Os livros foram perdendo espaço para o Google. Hoje, ela vê um mundo impossível de existir sem computador e redes sociais. Mesmo com a praticidade e facilidade, Eduarda reconhece problemas em fazer o uso exagerado de aparelhos digitais. Ela conta que já se viciou e não conseguia largar o celular e ainda pondera que o livro tem certa importância. “Eu acho que ter o livro é importante. Porque o aparelho tecnológico a gente pode até se viciar, mes-
Maria Eduarda, estudante do Ensino Fundamental, fazendo uso das mídias digitais. Ela afirma que sempre esteve conectada desde a infância
mo sendo pra coisa boa. O livro é importante para se manter mais focado e se precisa de uma ajuda a mais, o aparelho tecnológico pode ajudar.” A infância ganhou novos aspectos também: brincar de boneca e cantigas de roda tornou-se mais desinteressante e esses espaços que antes eram preenchidos por brincadeiras tradicionais costumam se perder. Maria deixou as bonecas logo cedo. Aos 9 anos já deixava preteridas as brincadeiras de casinha. “Antes, quando mais nova, eu brincava de boneca Barbie e tudo. Mas depois parece que perde a graça.” Algumas brincadeiras não foram totalmente perdidas. Maria, em seu tempo livre, brinca de pique esconde e pega-pega no prédio em que mora. Ela admite
que hoje sabe dividir seu tempo. E conseguiu diminuir sua permanência na internet. Maria Eduarda, apesar da pouca idade, diz que se sente bastante interessada por política. Gosta muito do feminismo e se sente feminista. “Eu mesmo me considero feminista. Eu creio que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens.” Digitais Influencers ajudam-na a formar opiniões sobre o feminismo e política. “Eu amo digitais influencers e principalmente as que sigo. Elas são feministas e dizem que a mulheres devem ter os mesmo direitos que os homens e isso me interessa muito”, reforça. A geração comumente classificada como X, educada pela TV e mais centrada nos livros e com pouco co-
nhecimento de tecnologias digitais, diferencia-se radicalmente da atual. Os monitores de computador já existiam e eram usados, porém não tinham popularidade como hoje. Eram para poucos e para quem tinha poder aquisitivo maior, como ressalta, adiante, Eunice. Slacker Generation - Eunice Sousa fez parte de pessoas nascidas no Baby Boom. Nasceu em 1972 e considerava uma época de ouro, pois, em sua opinião, o melhor surgiu naquele período: produções artísticas, música e festas. Eunice teve seu primeiro contato com tecnologias digitais, tais como celular e computador, muito tardiamente, em uma fase mais avançada da vida adulta. “Acho que diferentemente de hoje, eu não ganhei meu
celular, eu comprei. Meu primeiro celular eu tinha 34 anos de idade. Na época da minha infância e adolescência era uma realidade bem distante, era bastante caro ter um computador e internet. Celular nem se fala, era muito distante”, conta, ao lembrar dos primeiros anos da internet discada quando chegaram computadores na região. Por outro lado, a educação parecia bem diferente, visto que a principal fonte de pesquisa estava nos livros. “Computador já existia, como havia falado, mas para quem era de escola pública era mais difícil ainda.” Pela educação que teve, hoje é desapegada de aparelhos tecnológicos. “Eu costumo ler mais livro físico, não faço tanto uso de celular ou computador pra ler e estudar”, revela. Eunice é desprendida de redes sociais, faz o uso apenas de ferramentas de mensagens, como Whatsapp. Porém, acha que sem essas tecnologias é impossível viver, principalmente pela praticidade que elas oferecem. Na sua adolescência, o modo de se comunicar com amigos era apenas por cartas. “Eu recebia cartas para pedidos de namoro, de amigas, feliz Natal e hoje a gente recebe tudo por whatsapp”. Eunice diz que, por ter vivido numa região do interior, sempre conheceu apenas o lado da política partidária, não tendo participado de movimentos políticos. “Eu fui criada de uma forma bem rígida, trancada em casa, então qualquer movimento político minha mãe achava que era imoral.” Comparar as gerações é difícil se pensarmos que antes cada uma delas só era transformada a cada 20 anos. Hoje a transformação é perceptível e de forma mais rápida acontecem suas mudanças repentinas com as formas de trabalho, relações e interação social.
Baby Boomers, X, Y, Z: entenda como se divide esta classificação etária TEXTO: RENNAN OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: SILVANA COSTA
R
ecentemente tem havido a necessidade de se nomear as gerações. Essa tendência se torna importante para o entendimento do comportamento e das relações com a sociedade que cada jovem teve em sua época. Se antes a infância e adolescência eram algo generalizado, hoje fica mais fácil entender como se dão as particularidades de cada uma. Com essa prática ficou mais simples de entender o que já suspeitávamos. As principais classificações são: X, Y, Z. Os membros da Geração X são conhecidos como filhos dos Baby Boomers, sendo este o primeiro conceito moderno criado e que se refere às pessoas nascidas durante e depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Baby Boom é uma denominação para crianças nascidas durante uma explosão po-
pulacional. Já os X’s nasceram entre os anos de 1960 e 1980 e tem como principal característica a individualidade sem a perda da convivência em grupo e independência. A geração Y é também conhecida por Millenials. Apesar de não haver uma data específica de qual ano a geração Y nasceu, em sua maioria é encaixada entre 1980 e 2000. A maioria são filhos da geração X e dos Baby Boomer. Suas principais características são: sempre conectados e em busca de novas tecnologias. A geração Z não tem também uma data definida. A maioria pode ser integrante da geração Y ou não. São extremamente preocupados com o meio ambiente, fazem mais uso de produtos biodegradáveis, estão sempre conectados. O computador foi seu educador, se caracterizando por serem pragmáticos, indefinidos e ansiosos.
RENNAN OLIVEIRA
Eunice, 46, nascida na geração Baby Boomer, costuma ler mais livros físicos e não faz uso dos dispositivos móveis ou computador para estudar
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
7
IDOSOS
Com cerca de 20.228 idosos em Imperatriz, a pedida para essa geração é manter uma vida ativa. E não basta só se exercitar, mas se abrir para novos relacionamentos, aprendizados e experiências
A vida movimentada da nova terceira idade GISLEI MOURA TEXTO: GISLEI MOURA DIAGRAMAÇÃO: LUCAS CALIXTO
2
0.228. Essa é a quantidade de idosos residentes em Imperatriz segundo o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número se comprova ao caminhar pela cidade, já que é comum ver pessoas da terceira idade nas portas de suas casas, nos comércios e lugares públicos. Porém, engana-se quem pensa que os integrantes dessa faixa etária ainda seguem a antiga linha de serem apenas avós em suas cadeiras de balanço contando histórias para os netos, fazendo tricô ou pequenos reparos na casa. Em Imperatriz, a população idosa tem se tornado cada vez mais ativa. São homens e mulheres que praticam exercícios, moram sozinhos, viajam, namoram, fazem novas amizades, se divertem...Tudo com um sorriso jovial e uma enorme vontade de viver. Esse fenômeno, conhecido como a nova terceira idade, tem acontecido em todo o país, justificado primeiro pelo aumento na expectativa de vida que, segundo o IBGE, é de no mínimo 73 anos. Estima-se, ainda, que em 2060 o número de idosos duplique no Brasil. A aposentada Maria do Carmo Oliveira, de 80 anos, já ultrapassou essa expectativa. Participante há 21 anos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos - Casa do Idoso Feliz, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Social, garante estar vivendo a melhor fase da sua vida. “Minha vida melhorou 100%, tenho a autoestima lá em cima, me sinto jovem, me sinto útil para fazer as coisas”. Segundo
Prática de exercícios contribui para uma velhice saudável e duradoura, já que, entre outros benefícios, melhora as condições cardiovasculares
ela, que frequenta a Casa a semana inteira, a melhor hora do seu dia é quando está naquele local, em clima de confraternização. “A Casa do Idoso é a minha segunda casa, onde encontro meus amigos. É uma família”. Além das amizades, dona Carmitinha, como é conhecida, pratica exercícios como hidroginástica, ginástica, e ainda dança forró e valsa. Assim como ela, Maria de Fátima de Almeida, de 65 anos, também vê na Casa do Idoso a possibilidade de um bom envelhecimento. “Tem tudo a ver comigo. Tudo que um idoso precisa para viver melhor, ter um bom relacionamento, ter uma vida independente”. Porém, além delas, existem
aqueles que procuraram seus próprios meios de envelhecer ati-
“A cada dia a gente quer mais, quer ser feliz e somos muito felizes”, afirma Maria de Fátima vamente. É o caso de José Artur dos Santos, de 66 anos. Morador de Imperatriz desde 1974, atualmente faz parte de um grupo de ciclismo, os “Velhinhos do Pedal”. Para ele, a paixão pelo ciclismo surgiu da necessidade de se movimentar. “O corpo estava criando
uma situação difícil para locomoção. Daí, resolvi fazer ciclismo, haja vista que os joelhos e tornozelos não me davam condições de fazer o que mais gosto: futebol”. Quando o assunto é saúde, todos concordam que a prática de exercícios é fundamental para uma velhice tranquila. Dona Carmitinha afirma que, caso não se exercitasse, certamente já teria morrido. “Se eu não tivesse morrido, estava ‘entrevada’ numa cadeira. Porque eu tinha muita dor de coluna e tontura”. Mente e corpo sãos - Mas, além da saúde do corpo, há também a preocupação com a sanidade mental, como conta Maria de Fátima.
“Muitos sofrem por tristeza, solidão, sem ter alguém para conversar e dizer ‘como você tá lindo!’. E é isso que nos dá alegria, prazer, coragem e ânimo para viver”. Por isso, é fundamental estimular a mente e mantê-la ocupada. Dona Carmitinha mesmo formou-se na faculdade aos 69 anos. “Terminei o ginásio e fiz uma faculdade de Gestão de Qualidade de Vida na Terceira Idade em 2007. Aprendi muito! A me educar, a respeitar o direito do outro”. Para seu Artur, o contato com amigos do grupo de ciclismo faz um bem enorme que vai muito além do físico. “Me faz sentir que, apesar da idade, ainda estou vivo, com direito a gozar de mais alguns anos com saúde e disposição, me mantendo com pensamentos positivos”. Garantir a independência também fortalece a saúde mental. “Eu tenho meu dinheiro, arrumo minhas malas, pego um táxi. Eu sou independente, quando quero viajar, pego um Uber e vou embora”, conta Maria de Fátima. E, claro, apaixonar-se é também sinônimo de felicidade, Dona Carmitinha que o diga. “Sou feliz. A gente conversa, joga dominó juntos, é muito bom. Os filhos dele gostam de mim, me buscam para as festas na casa deles. É muito bom, uma amizade colorida”. Envelhecer é uma das poucas certezas que se pode ter na vida, mas, ao contrário do que antes se pensava, esta pode ser a melhor fase, não mais a do “com dor”. Como diz Maria de Fátima, “por que eu sou idosa vou deixar de viver? Não, nós somos firmes. A cada dia a gente quer mais, quer ser feliz e somos muito felizes”.
Velhice deixa de ser sinônimo de sofrimento para tornar-se período de felicidade TEXTO: GISLEI MOURA DIAGRAMAÇÃO: LUCAS CALIXTO
S
egundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro aumentou cerca de 30 anos desde 1940. Isso ocorreu devido a avanços tecnológicos e na medicina, que possibilitaram maior conhecimento sobre doenças e diminuição da taxa de mortalidade no Brasil. Porém, não muito distante, a velhice era sinônimo de sofrimento. “A velhice da minha mãe não foi boa, sofreu muito. Ela só ficava em casa ou trabalhando, quando não aguentou mais trabalhar na roça, foi cuidar de neto”, conta Dona Carmitinha sobre sua mãe, que faleceu aos 70 anos. Para Maria de Fátima, antigamente a falta de informação dificultava a vida nessa fase. “A velhice era vivida com muito sacrifício, não tiveram a garra que nós temos hoje, de querer vencer, de procurar uma alimentação sadia, exercícios, médicos, exames. É muito diferente de hoje”. Ela, que acompanhou os pais na terceira idade, sabe o quanto foi doloroso o envelhecimento deles. “Quando eu morava em Fortaleza, eles estavam no início de Alzheimer. Com 70 e poucos anos minha mãe já estava com a doença”. Dona Carmitinha, que já superou em vida a idade da mãe, afirma que ela mesma não pensava que chegaria à velhice.
“Me sinto jovem com 80 anos, imagina! Nem pensei que ia ficar velha, achei que ia morrer jovem e deixar meus filhos”.
GISLEI MOURA
“Me sinto jovem com 80 anos, imagina!”, celebra dona Carmitinha Nesses quase 80 anos, o que mudou não foi só a expectativa de vida, mas principalmente o modo como os idosos se posicionam diante dela. Não se entregar e procurar manter-se ativo são medidas que auxiliam no envelhecimento saudável e longínquo. “Há busca pela independência, você vê idosos fazendo cursos, querendo estudar. Onde que antigamente uma idosa ia sair de casa para fazer um curso duas horas da tarde?”, questiona Maria de Fátima. Para ela, existe um segredo que coloca os idosos de hoje à frente da terceira idade do passado. “A nossa meta é envelhecer com saúde. Vamos ficar mais velhos? Vamos. Mas se cuidarmos da nossa alimentação, fizermos exercícios, formos pessoas que gostam de se comunicar, nosso envelhecimento vai ser tão moderado, tão passivo”. Criar laços de amizade e socializar são algumas das características da nova terceira idade, que conta com mais oportunidades que os idosos de antigamente
Jornal
8
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
MÍDIA
Imprensa foi fundada na cidade na época em que o município passava por um período de lento desenvolvimento, abrindo caminho para outros veículos de comunicação nos anos posteriores
Imperatriz e os veículos de comunicação TEXTO: JOÃO PAULO CAMELO DIAGRAMAÇÃO: LAYANA BARBOSA
I
solamento territorial e lento crescimento populacional e econômico. Essas eram as principais características que definiam a situação de Imperatriz, na década de 1930. A ausência de estradas que possibilitassem o deslocamento para outras regiões impactava diretamente o crescimento da cidade. Isso fez com que ela ficasse conhecida como a “Sibéria Maranhense” durante o período. Diante desse cenário, no ano de 1932 nascia a imprensa local. O jornal “O Alicate” foi o primeiro da cidade. Devido às condições da época e à falta de maquinário gráfico para a produção, ele era manuscrito. A primeira edição impressa só foi possível em 1936, com o surgimento do jornal “A Luz”. A partir dos anos 1970, a imprensa acompanhou o desenvolvimento da cidade. A chegada de indústrias e empreendimentos, assim como a construção da rodovia Belém-Brasília, possibilitaram uma mudança importante no cenário local. Além disso, Imperatriz era o portal de entrada para o garimpo de Serra Pelada, propiciando uma grande movimentação de pessoas diariamente pela região. Devido a este fato, houve um crescimento no número de jornais impressos, bem como na segmentação. No período, surgiram impressos culturais, religiosos, de sindicatos, de partidos políticos e de outros segmentos. A chegada dos computadores nas redações, bem como o uso de editoração eletrônica e alguns softwares no processo de produção, só ocorreu mais tardiamente, a partir da década de 1990 e nos anos 2000. A jornalista e pesquisadora Thays Assunção é autora do livro “História da Imprensa em Imperatriz – MA /1930-2010”, que detalha o surgimento e o desenvolvimento do impresso na cidade. Segundo
JOÃO PAULO CAMELO
ela, por meio das notícias era possível perceber os anseios de progresso da sociedade, bem como os costumes e tradições da época. A política estava diretamente ligada à imprensa. Além dos jornais fundados especificamente para divulgar ações de governo e de partidos, existiam os que foram criados por políticos. Thays confirma que “a imprensa de Imperatriz nasce ligada à política”. Com o passar do tempo, o impresso local foi se modificando e se adequando à modernidade. Para a jornalista, “há mais mudanças do que permanências”. Ela cita avanços importantes, como a utilização de fotografias, o surgimento dos cadernos, a organização e definição dos espaços nos jornais.
“Olhar para o passado é compreender hoje quem nós somos’’
Além disso, a rotina de produção passou por mudanças com o surgimento de novas tecnologias. O aparecimento do curso de comunicação social na cidade também trouxe “um impacto sobre a forma de fazer jornalismo”. Apesar de muitas transformações, Thays ressalta que “a ligação com a política é um fator que permanece na imprensa de Imperatriz”. Memória - A professora doutora Roseane Arcanjo Pinheiro é coordenadora do Centro de Documentação do Jornalismo de Imperatriz, vinculado ao curso de jornalismo da UFMA. O acervo reúne dezenas de exemplares de jornais impressos que já circularam na cidade. Roseane começou
Acervo do Joimp, grupo da UFMA que pesquisa e digitaliza jornais impressos que já circularam em Imperatriz, agrega exemplos diferenciados
a se dedicar à pesquisa quando ainda era graduanda do curso de jornalismo em Manaus, no estado do Amazonas. Para a professora, “olhar para o passado é compreender hoje quem nós somos”. Ela também é responsável pelo grupo de pesquisa Jornalismo, Mídia e Memória, o Joimp, que existe desde 2015. Ele é composto por alunos e ex-alunos do curso de comunicação social da UFMA de Imperatriz, que se dedicam a estudar o jornalismo impresso local. Por meio do site www.joimp. ufma.br, é possível ter acesso ao acervo digital e pesquisas desenvolvidas por integrantes do grupo. Televisão - Em 1967, Pedro Bala e Francisco Ramos captaram pela primeira vez o sinal de TV em Imperatriz. Por meio de uma teJOÃO PAULO CAMELO
Transmissão da Missa do Galo, por ocasição da celebração de 1975, marcou a chegada da primeira retransmissora de sinal de TV em Imperatriz
levisão e antena doadas, eles conseguiram recepcionar o sinal de uma TV bolivariana. A primeira retransmissora do sinal da TV Globo chegou à cidade apenas em 1975. Entre as décadas 1980 e 1990, entretanto, surgiram novas emissoras televisivas, bem como a primeira afiliada da TV Globo.
“A tecnologia ajuda a fazer o seu trabalho, mas fazer o trabalho de forma correta com a tecnologia é bem melhor” Antônio Filho começou como repórter no ano de 1984 na extinta TV Educadora em Imperatriz. Desde 1988, trabalha na TV Mirante, onde atualmente é coordenador de Jornalismo. No início da sua trajetória tudo era uma novidade, e assim como os demais colegas, Antônio não tinha formação específica da área. O aprendizado veio com a prática. Para ele, a chegada do curso de formação trouxe uma relevância na qualificação profissional. “Juntar a prática e o conhecimento torna as redações mais preparadas”, considera. Com a mudança tecnológica, a informação ganhou agilidade e muitas melhorias aconteceram no processo de produção. Antonio Filho também destaca que a inserção do jornalismo de Imperatriz em um cenário estadual e nacional são motivos de orgulho. Na sua opinião, “a tecnologia ajuda a fazer o seu trabalho, mas fazer o trabalho de forma correta com a tecnologia é bem melhor”. Rádio - A primeira emissora de rádio local devidamente legalizada
foi a Rádio Imperatriz, que entrou no ar em 28 de outubro de 1978. O veículo surgiu na década de 1970, época marcada pelo período de crescimento econômico da cidade. O livro “Ondas da Memória: a pioneira Rádio Imperatriz”, que conta a trajetória da rádio e momentos históricos do município, foi escrito pela jornalista e também historiadora Nayane Brito. Ela afirma que a Rádio Imperatriz não foi a primeira rádio da cidade, pois “na década de 1960 existiram outras emissoras que foram consideradas ilegais, pois não tinham autorização para funcionar”. O radialista Paulo Negrão, por sua vez, estreou no rádio imperatrizense em 1989. Antes disso, conhecido como Paulo Edson Moreno, era locutor de sistema de som estacionário. No rádio, já foi locutor de programa de entretenimento, repórter esportivo e integrou o departamento comercial como vendedor e depois como diretor. Mas se encontrou no radiojornalismo. Atualmente, grande parte das emissoras de rádio locais abriram mão de programas jornalísticos. Para Negrão, “o público de rádio gosta de notícia”, mas é necessário realizar algumas adaptações para tornar a linguagem mais popular. Na sua concepção, o rádio de Imperatriz no passado “tinha uma preocupação maior com a programação, e hoje está muito monótono”. Assim como no impresso, os avanços tecnológicos também facilitaram o processo de produção no rádio. Utilizando aplicativos em seu celular, hoje o radialista consegue gravar sonoras com qualidade e até mesmo fazer uma conexão ao vivo com outra emissora em outra cidade. Para os próximos anos, ele espera que o rádio “saiba utilizar a tecnologia e que esteja mais comprometido com a satisfação do ouvinte, que é a razão maior”.
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
9
ENTREVISTA: CINEGRAFISTA JOÃO BOSCO BRITO
“Falar é uma coisa, mostrar é outra” BRUNNA TAVARES
TEXTO: BRUNA TAVARES DIAGRAMAÇÃO: RUTIELLE BARROZO
J
oão Bosco dos Santos Brito, mais conhecido como Bosco Brito, 55 anos, além de jornalista, cinegrafista, fotógrafo e ambientalista também é apaixonado pela história de Imperatriz. Atualmente gerencia a Ong “Projeto Anjos do Rio”, que tem como missão limpar o Rio Tocantins, e é proprietário de uma produtora na cidade, a SBC Produções. Cinegrafista há cerca de 30 anos, viu, e gravou, é claro, muitas memórias de Imperatriz, a maioria delas expostas em seu canal no Youtube (João Bosco Brito), que conta com mais de 500 vídeos sobre a cidade, dos anos 1980 até os dias de hoje. Trabalhou nas primeiras emissoras da região: TV Mirante e Alvorada – atual Difusora. Foi produtor, editor e repórter cinematográfico para a televisão, antes de fundar sua própria produtora e passar a ser autônomo. Sempre cercado pela cinematografia, se interessou por filmar e fotografar muito cedo. Aos 10 anos, já entendia de filme e usava a máquina da família. “Desde criança eu tinha essa curiosidade de ver e fotografar, eu era curioso”, comentou. Na entrevista a seguir, Bosco Brito fala sobre como era documentar, quando começou, nos anos 1980, e como é hoje, com todas as facilidades que a tecnologia proporciona. Como que você começou a filmar/fotografar? Desde sempre eu tive interesse por fotografia, por filmagem e essas coisas. Desde criança eu tinha essa curiosidade de ver e fotografar, eu era curioso. Naquele tempo eu fotografava, mandava revelar, e guardava o filme, consegui resgatar algumas coisas, mas joguei fora o resto. O que te fez documentar? Eu imaginava que ia ser importante, então eu deixava tudo guardado. Eu pensava que tudo ia mudar, evoluir, as roupas vão mudar, os carros vão mudar. Achava muito importante registrar tudo. Eu só faço uma foto quando tem sentimento ali, ou quando vai me trazer algo bom. Para você, qual a importância de documentar? Fotografar, gravar é de suma importância pra todas as narrativas, a fotografia é um tempo real do que passou, mas está ali. Se eu te trago uma fotografia dos anos [19]60 e te conto uma história sobre ela, você vai entender muito mais do que se tivesse ouvido a história sem nenhuma ilustração. Como era documentar naquela época (anos 1980 e 1990)? Hoje é tudo muito fácil, qualquer um com um celular é repórter. Naquele tempo, a gente saía pra filmar a reportagem, filmava uma aqui, outra ali, temas diferentes, filmagens diferentes. Como a fita era de duas horas, você filmava cinco minutos aqui, dez ali, a gente gravava até acabar, aí guardava e pegava outra. Era assim que a gente trabalhava naquela época, não tinha essa facilidade de arquivos, de pastas, pra separar e guardar. Qual era a maior dificuldade? Era uma dificuldade tremenda guardar arquivo, as fotos reveladas se desgastam. Diferente de hoje, do digital, é muito mais fácil guardar as coisas.
Era muito complicado, mas aí foram vindo as facilidades da era digital. Quando você começou a guardar o que filmava? Eu sempre fui repórter cinematográfico, gravava as famílias, as festas de aniversário e tudo, eu estava dentro das casas das pessoas. E isso eu fui arquivando, não só isso, também as partes jornalísticas. Trabalhei nas primeiras televisões daqui, Mirante, SBT, Nativa, e aí eu fui guardando. Quando passei a ser autônomo, comecei a guardar minhas próprias fitas.
“Tudo da nossa cidade e região, eu faço e já fiz”
Quanto material você tem acumulado? Eu tenho 500 fitas ali guardadas. Dessas, ainda tem muito vídeo que não foram vistos. O que tem hoje publicamente não chega a 10% do que eu quero mostrar. Eu tive a delicadeza de guardar essas coisas, sabendo que um dia elas iriam servir para algo, para a história. Como hoje servem.
“Eu só faço uma foto quando tem sentimento ali” Tem algum projeto pra viabilizar melhor esse material histórico? Tenho esse projeto há algum tempo, desde 2008, uma sala pública para que as pessoas carentes que não tivessem condições de ter acesso a esse material pela internet pudessem ir. Esse projeto vem desde antes de todas as facilidades de hoje, de compartilhar arquivos pelas redes sociais e etc. Como seria essa videoteca? Essa videoteca pública,
que
João Bosco Brito, cinegrafista e ambientalista, 55 anos, continua trabalhando em sua produtora SBC produções, no centro de Imperatriz-MA
não só teria os vídeos da cidade, mas também as fotografias, pra eu revelar tudo que eu tenho guardado, como um painel, uma galeria. Separado em temas: esporte, como começou o esporte aqui, as ruas antigas, as casas antigas, as pessoas, etc. Todos esses temas eu tenho como mostrar pra vocês, como começou Imperatriz.
JOÃO BOSCO BRITO
Por que uma videoteca? Eu tenho essa videoteca como um meio de transporte de informação para os alunos e universitários. É muito mais fácil do que vir me entrevistar e vai atender muito mais pessoas. Seria só chegar e usar os computadores de graça e obter todas as informações necessárias, com impressoras pra poder levar todos os materiais que quiserem. Falar é uma coisa, mostrar é outra. Mas e nas redes sociais? Eu já deixei os vídeos ao dispor do mundo no Youtube, tem mais de 500 vídeos no meu canal. Lá tem de tudo, desfiles, festas, eventos, reportagens nas aldeias, etc. Depois de tantos anos de carreira, como você se vê? Apenas com 55 anos eu posso dizer que sou um dos pioneiros de tudo o que faço aqui em Imperatriz, da área jornalística, da área ambiental, dessas coisas de resgate fotográfico. Tiveram alguns mais antigos, fotógrafos, mas não eram daqui. Não é muita coisa para uma só pessoa? Todos esses trabalhos são importantes, tudo eu já fiz aqui, eu acho que o repórter não deve se ligar apenas a um tema. E foi o que eu fiz, é o que eu sou hoje eu não me ligo só a uma coisa, todos os temas, da nossa cidade e região e até em nível nacional e mundial, eu faço e já fiz.
Exemplos de equipamentos utilizados por Bosco Brito no início de sua carreira e alguns até hoje
Oito vídeos interessantes do acervo
O
canal do entrevistado conta com mais de 2.500 inscritos e todos os vídeos, juntos, têm mais de dois milhões de visualizações. Confira abaixo uma seleção de alguns dos vídeos mais interessantes do canal de João Bosco Brito: 1 “Filme FBB Adolescência dos índios”: O vídeo mais visualizado do canal (390 mil visualizações). É uma reportagem sobre a adolescência indígena na tribo dos Guajajara. 2 “Filme FBB Contra Mão Danceteria”: Este vídeo mostra uma noite na boate Contra Mão em Imperatriz, nos anos 1990. 3 “Filme FBB Desfile no Posseidon”: Mostra um desfile do curso de modelo que aconteceu no Hotel Posseidon de Imperatriz, em 1992.
4 “Filme FBB Fly Back”: Imagens de uma festa na boate Fly Back, em Imperatriz, nos anos 1990. 5 “Filme FBB Benduíno Praça da Cultura”: Imagens do primeiro enduro Agralle de Imperatriz-MA, Praça da Cultura, em 1991. 6 “Filme FBB Rio Tocantins Incêndio”: Imagens de empresários denunciando as queimadas na beira do Rio Tocantins, em 2017. 7 “Filme FBB 165 anos Imperatriz”: Vídeo comemorativo para o aniversário da cidade, com um compilatório de fotografias das praias de Imperatriz nos últimos anos. 8 “Filme FBB Curta Imagem VII Procine”: Curta metragem sobre a imagem negra e o racismo em Imperatriz.
Jornal
10
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
EDUCAÇÃO Durante anos, Imperatriz não contou com nenhuma instituição de ensino. Hoje, o cenário mudou e já são oito faculdades na cidade, qualificando pessoas profissionalmente em níveis técnicos e superiores
Ensino superior em constante evolução ANDRÉ SOUSA TEXTO: ANDRÉ SOUSA DIAGRAMAÇÃO: ARYANE SANTOS
I
mperatriz, em seus 166 anos, testemunhou, além da chegada de grandes empresas nacionais, o progresso em diversos setores. O investimento do governo e de empresários no ramo da educação, com a criação de novos centros de ensino superior, estendeu a qualidade de ensino a classes até então inatingíveis. Dos cursos pioneiros de Direito e Pedagogia, em 1980, saltou-se para cerca de 46 graduações diferentes distribuídas entre oito centros de ensino superior, existentes atualmente. A precursora na educação superior da região foi a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que iniciou as suas atividades em 1980, com os cursos de Direito e Pedagogia. A comodidade de não precisar procurar um grande centro para que se pudesse almejar um curso superior definitivamente pôs a cidade em um patamar acima. Os investidores reconheceram o potencial do maior município da Região Tocantina e não demorou muito para que surgissem mais unidades de ensino. Imperatriz é um polo comercial, energético e econômico do estado, não por acaso muito se investiu durante os anos para que os jovens da cidade pudessem se qualificar. Até então, cursar o ensino superior na cidade era uma utopia, como conta o advogado aposentado João Félix de Oliveira Neto, 72 anos. “Naquela época você se formar era algo complicadíssimo, era preciso uma série de detalhes e arranjos que precisavam ser feitos pra você poder se mudar pra outra cidade e se sustentar por alguns anos. Isso dificultava as coisas e desanimava muitos dos jovens.” Natural de Imperatriz, João
De cara nova, a Uemasul dá continuidade à história da UEMA, que foi uma das primeiras instituições de ensino superior da região Tocantina
é formado em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA) pois, na sua época de estudante, não havia faculdades em Imperatriz. Ele conta que com muito esforço e incentivo dos pais conseguiu a aprovação e logo se mudou para Belém, onde viveu durante sete anos antes de retornar à sua terra Natal. João é apenas um exemplo dentre os diversos casos que se pode encontrar na cidade. A formação profissional é sonho de boa parte da juventude e a chegada da UFMA renovou a esperança de grande parte do público. Alguns anos mais tarde, em 1987, a cidade recebe mais uma academia de ensino: a Uni-
“Naquela época você se formar era algo complicadíssimo, era preciso uma série de detalhes e arranjos que precisavam ser feitos pra você poder se mudar pra outra cidade e se sustentar por alguns anos. Isso dificultava as coisas e desanimava muitos dos jovens”
Cresce o número de adeptos da educação a distância em Imperatriz com variedade de cursos e instituições TEXTO: ANDRÉ SOUSA DIAGRAMAÇÃO: ARYANE SANTOS
A
modalidade de ensino a distância (EAD) vem conquistando o público imperatrizense com a oferta de cursos superiores e técnicos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), que prometem proporcionar àqueles que não podem frequentar uma universidade uma formação profissional de qualidade e flexível. Este modelo de ensino também atende à demanda dos estudantes que desejam ingressar em algum curso que não está disponível entre as diversas faculdades de ensino presencial da cidade. Há ainda a modalidade semipresencial, para aqueles que querem conciliar a rotina de estudos com o dia a dia, sem abrir mão da integração com outros estudantes e um profissional em sala de aula. Para estes casos, a instituição de ensino dispõe de um tutor que atende
aos estudantes uma ou duas vezes por semana, complementando as horas-aula que estão disponíveis online. Já o ensino 100% online se dá por meio de vídeos disponíveis para serem assistidos onde e quando se quiser. Além disso, existem fóruns e tutores exclusivos nas páginas de ensino para total auxílio ao estudante.
“Definitivamente foi a melhor opção para mim, que cuido da casa e do meu filho. Não dava pra me dedicar totalmente aos estudos antes, porque o dia era muito corrido” Em Imperatriz, algumas universidades oferecem cursos online, como a Pitágoras e a Facimp. Beatriz Noleto da Silva, 29 anos, é mãe de uma criança
versidade Estadual do Maranhão (UEMA). Primeiramente nomeada como Federação de Escolas Superiores do Maranhão (FESM), em 1972, era uma iniciativa de alunos, professores e movimentos sociais na tentativa de descentralizar e democratizar o ensino superior no estado. O debate e as tratativas se encerraram em 1981, com a criação da UEMA, porém a unidade só entrou em funcionamento em 1987, devido à burocracia na sua aprovação. Em 2017, passou a ser chamada de Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul). Também em 1987, chegava à cidade a Unidade de Ensino Descen-
tralizada de Imperatriz (Unedi), que pouco tempo depois seria renomeada para Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (Cefet), trazendo para a população novas opções de cursos, dessa vez voltados para a área da tecnologia. Em 2008, ele teve sua identidade visual remodelada e passou a ser conhecido como Instituto Federal do Maranhão. Atualmente já apresenta uma grande variedade de cursos, tais como Engenharia Elétrica, Química e Ciências da Computação. A partir de 2001 chegaram à cidade os dois primeiros centros de ensino superior: a Faculdade de Imperatriz (Facimp) e a Faculdade Atenas Maranhense (Fama) - atualmente conhecida como Pitágoras. Logo em seguida, vieram a Faculdade de Educação Santa Terezinha (Fest) em 2003, Unidade de Ensino Superior do Maranhão (Unisulma), em 2004 e a Universidade Ceuma, em 2013. Vindo de família humilde e batalhadora, Emanuel Santos Souza, 51 anos, ressalta a importância do desenvolvimento da cidade neste aspecto, pois se não fosse a chegada das instituições de ensino, ele não poderia ter se graduado e formado uma carreira profissional. “Não há como descrever o sentimento de felicidade ao se concluir um curso superior. Graças a Deus eu tive a oportunidade de me formar em Pedagogia na UFMA e isso com certeza mudou a minha vida”. O desenvolvimento de Imperatriz no campo educacional é notável e já pode ser considerado como referência no estado do Maranhão. Investir em novos cursos já não é novidade e prova disso é a chegada do curso de Medicina na Uemasul, previsto para 2019, que deve impactar positivamente até 22 municípios da região.
ANDRÉ SOUSA
de dois anos e concilia os estudos com a criação do filho graças ao ensino a distância. Ela é acadêmica do curso de Administração na Universidade Metodista de São Paulo. “Definitivamente foi a melhor opção para mim, que cuido da casa e do meu filho. Não dava pra me dedicar totalmente aos estudos antes, porque o dia era muito corrido”. Com grande variedade de cursos e instituições, o ensino a distância oferece qualificação desde o nível técnico até graduações e pós-graduações, quebrando barreiras e acabando com empecilhos para o desenvolvimento educacional profissionalizante no Brasil. A modalidade leva aprendizado a pessoas em locais em que não se tem a possibilidade de se cursar o ensino presencial. Já existem iniciativas do governo de alguns estados para investimento em EAD nas universidades públicas. Seria um grande avanço na política de educação do país, atendendo àqueles que não podem pagar pelo serviço. Com dois campus em Imperatriz, a faculdade Pitágoras também oferece ensino a distância
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
11
TECNOLOGIA Novos games garantem aos usuários maior interação com outras pessoas por trás de uma tela, porém esses jogos eletrônicos perdem a essência dos consoles antigos: a diversão e a dificuldade VIVIANE REIS
Games antigos versus novos: recordar é viver Wildson, 33 anos, explica para o filho de cinco anos a importância de preservar os consoles retrôs e como era a relação das pessoas com seus aparelhos nos anos de 1980, enquanto ao fundo aparece um dos games mais antigos, Super Mario, de 1985 TEXTO: VIVIANE REIS DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MUNIZ
D
esde a chegada no Brasil em 1970, os games passaram por várias transformações em decorrência do advento de novas tecnologias e da internet. Do primeiro console (telejogo) até os jogos eletrônicos, transcorreram 48 anos repletos de mudanças e adaptações em busca da inserção das pessoas nesse mundo virtual. Quem é acostumado a jogar grandes lançamentos com aprimoramento gráfico (design), legendas, realismo, interação com outras pessoas por trás de uma tela, além de estar disponível no celular e no computador, talvez não consiga imaginar como era jogar consoles antigos em uma televisão de tubo. Imperatriz nem sempre foi uma cidade repleta de opções de entretenimento. Nos anos 1990, o município não era tão desenvolvido, havia poucos carros, televisões, o cinema
Marabá já havia fechado, as pessoas na sua maioria não possuíam poder aquisitivo e nem contato com celulares, tablets e internet. É nesse momento que os games começam a se popularizar. As propagandas de TV revelavam um mundo totalmente desconhecido, chamando a atenção de crianças e adultos. Porém, nem todos podiam comprar os consoles, pois custavam mais que R$ 100, o salário-mínimo da época. Pensando na democratização do acesso e também na rentabilidade, muitas locadoras foram abertas na cidade, das mais sofisticadas àquelas de bairros, que constituíam a maioria. “Era algo surreal! Lembro que eu ia nas locadoras e tinham filas. Chegava lá e anotava o nome, para ser o próximo a jogar e, enquanto isso passava horas e horas vendo o outro jogar. Sem falar que era uma forma de confraternizar, pois sempre jogávamos com nossos irmãos,
Datilografia revolucionou a escrita e garantiu o conhecimento em digitação VIVIANE REIS TEXTO: VIVIANE REIS DIGRAMAÇÃO: MARIANA MUNIZ
Mudanças - O ex-locador de games, João Alves, 53 anos, trabalhou por 15 anos no ramo e se orgulha de ter feito parte dessa onda de abertura de locadoras. Mas baixou as portas em 2011 após o surgimento de novos jogos, inclusive online e devido à maior facilidade de brasileiros conseguirem comprá-los. Para ele, apesar de os games atuais serem quase que uma realidade, ainda assim os antigos eram mais divertidos. “Hoje os jogos são mais bonitos graficamente, mas em termos de diversão e dificuldade, antigamente era mais difícil. Antes, se perdesse as vidas ou vacilasse, você voltava para o começo. Agora, os jogos dão muitas brechas, pois graças ao check point, quando se perde, o jogo volta praticamente onde estava”, declara Alves.
O colecionador de games Wildson Neiva, 33 anos, já estava inserido no mundo dos games aos 4 anos de idade. Era uma das poucas crianças da sua rua que possuía um console, o que fazia com que outras fossem jogar na sua casa. Segundo ele, a relação das pessoas com seus games mudou muito ao longo da inserção destes no mercado. “Naquele tempo as pessoas tinham apego ao seu game, pois eram bem caros. Hoje, compra um jogo lançamento, joga, cansa e vende super barato”. Relata ainda a importância da consciência de preservar esses games. “Tenho um filho de cinco anos, e já tenho ensinado a importância de preservar e manter a história. Não é só jogar, mas saber que tem algo valioso em suas mãos. Afinal, recordar é viver”. Mulher, se joga! - Quem disse que jogos são só para os homens? A estudan-
te de jornalismo Artemisa Lopes, 22 anos, é uma entre milhares de meninas que amam jogar. Conheceu o mundo dos games eletrônicos aos 14 anos e de lá pra cá nunca mais o abandonou. Segundo ela, os jogos a ajudaram a ser uma pessoa mais crítica, atenta e detalhista, além de auxiliá-la a aprender inglês. “Antes os jogos não tinham legendas e a gente tinha que se virar. Hoje, a maioria já possui”. Para ela, mesmo com o fato de o mundo dos games ser considerado masculino é o lugar onde pode ser quem ela é. “Sabe quando você não escolhe a coisa, mas ao contrário? Isso que aconteceu comigo e com os games virtuais”. Na opinião de Artemisa, o preconceito e o machismo não podem ser um obstáculo e, sim, um trampolim para qualquer pessoa, idade, principalmente, as mulheres que gostam de coabitar em dois mundos, simultaneamente.
Você já locou algum filme esse ano? VIVIANE REIS TEXTO: VIVIANE REIS DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MUNIZ
N
D
urante toda a história, houve muitas invenções que revolucionaram a sociedade, como o caso da máquina de escrever (datilográfica), já que antes da metade do século XIX todos os segmentos ligados à escrita eram feitos manualmente. Criou-se, então, a profissão de datilógrafo e o curso de datilografia, acelerando o mercado de trabalho e abrindo oportunidades melhores para quem o fazia. O ex-professor de datilografia Denis Sousa, 42 anos, conta como era desafiador dar aula em 1989, e ainda mais pelo fato de começar com apenas 13 anos. “Era muito difícil, as pessoas quando realmente iam aprender não tinha nenhuma noção de como se usava a máquina. Sem falar da dificuldade
amigos”, relembra o dono da única loja de games retrô da cidade, Igor Lobato.
que era ensinar alguns alunos deficientes físicos. Mas arrumava uma forma diferente para que eles conseguissem alcançar o seu objetivo.” Nos anos 2000, com a maior produção de computadores e acesso à internet, as escolas de datilografia foram fechando, mas o conhecimento em digitação não. Hoje, o ex-professor é responsável pelo laboratório e recepção da Unimed. “O Denis é fera, nos ajuda sempre. Quando eu crescer quero ser igual ele, ser entrevistada”, diz a recepcionista Maria Gesllainy.
etflix, Youtube e inúmeras plataformas garantem que usuários baixem e assistam a filmes na comodidade de sua casa. Porém, nem sempre foi assim. Por exemplo, em 1980, para assistir a uma produção cinematográfica era necessário se deslocar a uma locadora, enfrentar filas e muitas vezes voltar outro dia porque o filme desejado já estava locado. O proprietário da locadora Universal Filmes, Valdivan Santos, 42 anos, lembra com um sorriso no olhar de como era seu comércio no início, em 2006. “Na época era uma loucura, as famílias ficavam contando as horas para chegar final de semana para virem. A locadora estava sempre cheia. Comprava o triplo de hoje.”
Apesar de maior oferta de filmes online, locá-los ainda permanece uma opção em Imperatriz
Contudo, em 2014, com maior oferta de filmes nas plataformas e também na internet, as locadoras foram desaparecendo, juntamente com muitos clientes. Mas Santos não desanimou e se mantém firme com a venda e aluguel de seus mais de 2 mil filmes. “Vou até aonde der. Ainda tenho muitos clientes, o que faz com que não baixe as portas.
Mas, tenho pensado em outras possibilidades.” Para Maria Silva, 35 anos, o fim das locadoras será uma perda muito grande para cidade, pois nem todos os filmes estão disponíveis na internet. “Esses dias estava morrendo de vontade de assistir um filme, procurei em todo site possível e não encontrei. Fui na locadora e lá estava ele.”
Jornal
12
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
VIOLÊNCIA Mesmo com o advento da rodovia Belém-Brasília na metade do século XX e do agronegócio, Imperatriz foi vítima dos horrores da pistolagem. Contudo, a cidade mostra que é possível vencer um passado cruel
Os tempos da pistolagem em Imperatriz ANDREIA LIARTE
O prefeito Renato Cortez Moreira foi assassinado nas proximidades do Mercado Municipal Bom Jesus, em outubro de 1993. No mercado, foi criado um monumento em sua homemnagem, no local onde ele tombou
TEXTO: ANDREIA LIARTE DIAGRAMAÇÃO: POLIANA CASTRO
N
o século XX, principalmente nos anos 1960 e 1970, as famílias imperatrizenses tinham como fonte de renda o arroz. Mas o cenário não era só de prosperidade, pois a violência estava presente tanto no campo quanto na cidade. Nos meses de abril e maio, as escolas não funcionavam, pois toda a família ia colher o produto. A produção era tanta que os donos das roças dividiam o arroz como pagamento. Na cidade existiam várias fábricas desse gênero alimentício, a maioria delas situada no bairro Maranhão Novo. “Mas a violência maior era dos que estavam grilando a terra, contra aqueles que estavam produzindo arroz, apenas arroz”, analisa o advogado Agostinho Noleto Soares, de 75 anos de idade. Infelizmente a violência rural também atingia a área urbana. Nessa época, existiam pistoleiros famosos que chegaram até a fundar o “Sindicato do Crime”. Os criminosos que atuavam na cidade não eram imperatrizenses e, sim, de outros estados. “Uma vez como secretário de Segurança eu dava entrevista numa rádio em Teresina (PI), tava visitando a cidade, passando por lá e me perguntaram se Imperatriz era a Capital da Pistolagem. Não, não é, porque o pistoleiro que chegou lá vem todos do Nordeste. Eu dizia pra eles lá: ‘Vem daqui do Piauí, do Pernambuco, da Paraíba. Eles são contratados aqui, vão lá, fazem algum serviço e voltam para cá. Lá não tem pistoleiro nativo”, explica Noleto. A cidade acabou herdando a fama de violenta, segundo o advogado. “Mas é uma população ordeira, trabalhadora, que produzia, que construiu essa cidade, com muito honra e com muito trabalho”, discorda Noleto, com muita convicção e orgulho. A socióloga Natália Mendes Tei-
xeira, de 26 anos, por sua vez, lançou em 2016 o livro “Imperatriz: A Terra da Pistolagem”. Ela fez parte da primeira turma de Ciências Humanas-Sociologia, da UFMA de Imperatriz. Como bolsista do projeto de pesquisa e extensão “Cidade das Memórias”, coordenado pelo professor doutor Rogério Veras, conheceu e entrevistou pessoas que viveram esse período. Ela percebeu que esses personagens tinham medo de se abrir sobre o tema. “Parecia uma parte da história sobre o qual não se podia escrever. Então entendi que eu devia escrever”. Natália passou um ano pesquisando nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial, disponibilizados pela Biblioteca Benedito Leite, em São Luís. Também fez uma pesquisa na Academia Imperatrizense de Letras sobre notícias relacionadas ao tema no jornal O Progresso. Após essa primeira etapa, entrevistou jornalistas, literatos e pessoas que vivenciaram aquela época. Natália afirma que os seus entrevistados falavam pouco, pois queriam esquecer esse passado terrível. “Às vezes diziam pouco. Ficavam em silêncio. No geral, o discurso era o mesmo: foi um período que a memória coletiva gostaria de apagar e esquecer. Mas o resgate da memória é uma forma de fazer justiça”, acredita a pesquisadora. Ela diz que os crimes aconteciam à luz do dia por conta da impunidade. “Os crimes tinham suas próprias lógicas e leis. [O padre] Josimo foi morto na rua mais movimentada de Imperatriz. Renato Cortez, mesmo sendo prefeito, no Mercado Público, ao lado da sua casa. Davi Alves, num dos postos mais movimentados da cidade na época. Esse é o perfeito cenário da impunidade. Luz do dia, lugares movimentados, nada disso importa quando a impunidade é lei, e o mercenarismo que mata, regra”. Para a pesquisadora, a localiza-
ção foi um dos fatores que contribuíram para isso. “Imperatriz estava às portas da Amazônia, visada por latifundiários que trouxeram seus jagunços para tomar as terras de rizicultura de subsistência. A construção da Rodovia Belém-Brasília deu aos forasteiros grande atração por essa região melhor desenvolvida que outras, mas totalmente abandonada pelo Estado. Numa terra de ninguém, quando há conflitos de interesses, eles se resolvem pelo cano de uma arma”, relata a pesquisadora.
“Nós já fomos realmente uma referência no Brasil em tempos de pistolagem, mas hoje já não há mais resquícios, isso é coisa do passado”
Arte e resistência - O jornalista e escritor Domingos Isaias César Ribeiro, de 62 anos de idade, mora em Imperatriz há 55. Para ele, a cidade começou a se desenvolver em 1961, com o advento da Rodovia Belém-Brasília. Sua família foi atraída pela força econômica que o município estava vivendo. Jornalista há 35 anos, fez várias matérias policiais. Cobriu a morte de padre Josimo Tavares e na época entrevistou Romeu Tuma, que era chefe da Polícia Federal. Em 1993 ele também cobriu a morte do prefeito Renato Cortez Moreira. Domingos relata que na época existiam movimentos que lutavam pela paz na cidade, entre eles o Fagulha. Mas eram iniciativas tímidas, pois todos tinham medo das represálias dos pistoleiros. Na opinião do jornalista, a impunidade era a causa de toda essa violência. “Sem-
pre o que causava ou a causa era a impunidade, só isso, impunidade. Matava e ficava impune então foi construindo isso aqui”, desabafa. Domingos César lançou mão da arte, principalmente o teatro, como forma de se expressar contra o crime organizado. “Contribuí produzindo literatura, produzindo arte”. De acordo com ele, a cultura contribuiu para a transformação da cidade. “A gente foi produzindo arte, cultura, literatura, por isso que transformamos a sociedade. Foi com essas armas”, acredita. Domingos César e outros companheiros escreveram várias peças e utilizaram o teatro de rua para mostrar às pessoas o que realmente estava acontecendo com os oprimidos. “Era a maneira deles dizer, abrir a boca e se expressar contra aquelas atitudes”, destaca. Em seu livro chamado “Migrante”, conta a história de uma família do Maranhão que foi expulsa das suas terras, mostrando assim toda a perversidade da grilagem. Vencendo a pistolagem - “Nós já fomos realmente uma referência no Brasil
em tempos de pistolagem, mas hoje já não há mais resquícios, isso é coisa do passado”, afirma o delegado da Regional de Imperatriz, Eduardo Augusto Galvão, de 43 anos. De acordo com ele, os crimes que mais acontecem são roubos e furtos, os chamados Crimes Violentos Não Letais. Ele explica que existe uma diferença entre crime de execução e a pistolagem. “A pistolagem é o homicídio mediante pagamento. É você botar preço para matar alguém. E tem gente que executa por outras situações, entra no mundo do crime, acredita que está fazendo um favor à sociedade se matar uma pessoa que tem passagem e tal. Ele não mata necessariamente para receber de ninguém, ele mata para executar”, diferencia o delegado. Para ele, o combate ao tráfico de drogas reduz os crimes de homicídio. “Como é que se reduz o homicídio? Combatendo o tráfico de drogas. Como é que se combate facção? Combatendo o tráfico de drogas. Se não tiver droga para distribuir não tem razão para ter facção. Ninguém vai brigar por território se não tiver droga”, explica. ANDREIA LIARTE
Placa colocada no local onde uma das balas que atingiu padre Josimo ficou alojada
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
13
LUTA No lugar de “revolução sim, ditadura não”, que ocupava os muros de Imperatriz, os movimentos sociais contrapõem o silêncio e tomam conta das ruas da cidade em busca de garantir os seus direitos
REBECA RIBEIRO
População imperatrizense lutando por seus direitos e exercendo sua cidadania em Movimento Social Ativista durante o período eleitoral no ano de 2018, por ocasião do manifesto EleNão, contra o canditado à presidência Jair Bolsonaro
Ditadura e ativismo social marcam cidade TEXTO: REBECA RIBEIRO DIAGRAMAÇÃO: ANA KARLA SILVA
D
urante 21 anos, o Brasil passou por um regime ditatorial militar, período de censura, violência e repressão. E se a partir de 1964 o Brasil passou por restrição à liberdade com a implantação da ditadura militar, na cidade de Imperatriz não foi diferente. “A gente era vigiado nos jornais, aquilo que a gente escrevia era o que eles queriam”, relembra com pesar o jornalista Domingos Cezar. Naquele mesmo período de censura, João Meneses de Santana, o então prefeito da cidade, foi cassado, em 1964, pela sua ligação com o movimento comunista, e quem assume a prefeitura em seu lugar é o vice-prefeito, Pedro Guarda. Nessa mesma década, também foram cassados os vereadores Carlos Lima e João Palmeira Sobrinho. No decorrer dos anos de ditadura no Brasil (1964-1985), apesar do medo, houve quem enchesse seus pulmões de coragem e expirasse força para lutar contra a opressão. Porém, o ativismo que ergueu milhares de brasileiros
para ir à luta não chegou com potência em Imperatriz, já que, por se tratar de uma cidade pequena e com histórico de coronelismo, o controle era ainda maior. De acordo com Domingos Cezar, não havia protestos. “O único protesto que a gente via naquele tempo era uma frase assim ‘Revolução sim, ditadura não’ nos muros”, diz o jornalista. Segundo ele, o que existia na cidade eram entidades classistas que tinham cunho social, como era o caso da União Artística, Operária e Agrícola de Imperatriz, que promovia a integração e tinha como caráter social organizar festas, bailes, times de futebol, além de alguns poucos sindicatos. Estudantes e feminismo - Já pelos anos 1980, se iniciava um movimento estudantil e de sindicato. Dentro das universidades, junto à matrícula, o estudante preenchia uma ficha adicional com seus dados, respondendo a várias perguntas, que eram entregues ao Serviço Nacional de Informações (SNI). Também era comum ter policiais infiltrados nas salas de aula, sem que os alunos soubessem. ACERVO SINDICATO DOS BANCÁRIOS
Reunião do Sindicato dos Bancários (sem data confirmada) para discutir questões da categoria
O professor de história, Luiz Maia, conta um pouco sobre esses momentos que ele vivenciou duplamente, tanto como sindicalista pelo Sindicato dos Bancários, quanto como estudante pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Como aluno, Maia menciona a infiltração de policiais e as discussões políticas em sala de aula. “Geralmente eles queriam discordar da gente. A gente almejando abertura, democracia, justiça, liberdade, sobretudo a universitária. Mas, em nenhum momento, sobre os meus colegas de sala, houve repressão num primeiro momento”, assegura.
“Para cada mil mulheres que estão nas redes sociais se declarando feministas, a gente precisava ter pelo menos 500 mulheres articulando” Pela categoria bancária, o professor viveu momentos políticos mais tensos, tendo até mesmo que se reunir clandestinamente com seus colegas para reuniões sindicalistas. “A gente para se reunir do início de 1980 até 1984, para discutir uma greve, uma assembleia, a gente se escondia. As pessoas tinham medo até do gerente da agência, porque ele podia nos reprimir”, recorda-se. Após a ditadura, o ativismo continuou. Depois da abertura política, em janeiro de 1985, as coisas melhoraram para o lado dos militantes e as greves tornam-se mais comuns. Os estudantes passaram a debater assuntos políticos e realizar greves por reconhecimento dos cursos, por autonomia universitária e por condições de funcionamento. Lá pelos anos 1990, dentro do
Centro de Defesa dos Direitos Humanos, entre 1996 e 1997, já se pautavam na cidade assuntos sobre a importância de articular um grupo que levantasse as questões das mulheres numa perspectiva política, dando início ao movimento feminista em Imperatriz. O primeiro Conselho de Direito das Mulheres do Maranhão é criado em Imperatriz, ainda em 1997. A partir daí, os grupos de mulheres que participavam de organizações políticas e sociais foi aumentando. Atualmente, existe a Articulação Feminista de Imperatriz (AFIM), e o Fórum de Mulheres Feministas. Temos mulheres engajadas no Centro de Defesa dos Direitos Humanos, no Movimento Sem-Terra (MST), entre outros. A feminista Conceição Amorim explica que, apesar de a causa ter crescido e continuar a se fortalecer, precisa-se de mais mulheres que saiam apenas do núcleo das redes sociais e se organizem fisicamente. “Para cada mil mulheres que estão nas redes sociais se declarando feministas, a gente precisava ter pelo menos 500 mulheres articulando, mobilizando, debatendo, indo pras comunidades, pros bairros, organizando as mulheres”, estima. Militância na internet - Em 2018, milhares de imperatrizenses foram às ruas em atos de manifestação que declararam apoio ou desapoio ao então candidato e hoje presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, reunindo cidadãos de todas as classes e até as entidades classistas da cidade. De lá pra cá, vemos que apesar de ser considerado um município do interior, Imperatriz tem cada vez mais abraçado os protestos sociais de cunho nacional, como os movimentos contra a PEC 241 em 2016, contra a reforma da pre-
vidência, em 2017, a manifestação dos caminhoneiros e os atos influenciados pelo período eleitoral de 2018. O que vemos hoje é que, seja sentado no sofá, com seus celulares em mãos, encaminhando-se às urnas para exercer seu papel como cidadão brasileiro ou indo às ruas em busca de seus direitos, o ativismo e suas causas, sejam estudantil, feminista, LGBTQ ou quais forem, ganham espaço no cotidiano da sociedade. Durante as eleições 2018, por exemplo, presenciamos diversas discussões nos meios digitais que, se comparadas com o número de ativistas que saíram de casa para ir protestar, são maiores que os debates presenciais. O que não pode cair no esquecimento é que desde explosão da internet, a militância via web vem sendo a maior auxiliadora das reuniões físicas pela busca dos direitos. As mobilizações pró e contra o então candidato e agora presidente eleito Jair Bolsonaro, por exemplo, se iniciaram na internet. O estudante e ativista Kaio Henrique iniciou a sua militância no Movimento Estudantil e nas lutas de classe em Imperatriz. Ele, que inclusive chegou a viajar para outras cidades do Brasil para protestar, reafirma a força do movimento ativista via internet. “Não só em Imperatriz, mas em todos os lugares, os militantes de internet ainda são maiores que as pessoas que vão às ruas para lutar pelos seus direitos. Imperatriz acaba sendo um reflexo dessa síndrome ou medo mesmo das pessoas ficarem atrás de uma tela”, declara. O estudante diferencia a organização das movimentações em Imperatriz e outras cidades. “Apesar de unidos, creio que poderíamos evoluir muito. Vejo organização e planejamento muito fortes em outras cidades”, assume.
Jornal
14
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
MODA Em um curto espaço temporal, a moda sofreu mudanças constantes para manter o público consumidor. Resultado dessa aceleração é o surgimento de peças com modelagens recriadas ou inovadoras CÁSSIA CASTRO
Costureira há 32 anos, Maria Lina conta que começou costurando as suas próprias roupas e também a das suas amigas, principalmente saias com tendas. Ela afirma que nunca fez curso profissionalizante, mas se atualiza pelas revistas de moda
Moda é o reflexo do contexto da sociedade
TEXTO: CÁSSIA CASTRO DIAGRAMAÇÃO: GABRIELLA FIGUEIREDO
A
moda, como tendência de consumo da atualidade, está em constante mudança. Determinadas peças marcam uma época e se tornam um marco do vestuário daquele momento e, de acordo com o seu contexto, em meio a mudanças, pode trazer novas referências, tanto algo inusitado quanto também a recriação de um vestuário que marcou outro período. Nesse sentido, a moda é uma relação do modo de se vestir com o contexto sociocultural, político e econômico de uma sociedade, mediada por um espaço de tempo. Jossilene Castro, 42 anos, relembra que antes usava roupas mais coloridas e descoladas que sua mãe costurava para ela por causa do estilo de roupas dos anos 1970, como o jeans, calça cintura alta e brilho presente em blusas, vestidos, saias e calças. Naquele período, as peças tiveram influência dos movimentos culturais como o blackpower e punk e sem contar a moda das discotecas. “Sempre ia às discotecas com minhas amigas. Eu usava vestido e saia rodada com tênis All Star, estava na moda”. Antes as roupas eram feitas sob medida pelos chamados “criadores
de moda”, que tinham bastante status na Alta Costura. Depois essa profissão se popularizou para costureiras e alfaiates. Tal trabalho era muito valorizado, pois era frequente e de costume as pessoas mandarem fazer suas próprias roupas sob encomenda, criando assim seu próprio estilo.
“É possível notar algumas mudanças. A moda vai e volta, mas o estilo social está sempre estável” É o caso de Geruza Lucena, de 70 anos, que nunca deixou de lado esse costume. Ela compra seus próprios tecidos, escolhe o modelo de roupa e leva para a costureira. A tradição é a mesma e o estilo também. Ela conta que a costureira da sua mãe fazia seus vestidos bem rodados e com tecidos florais para ela ir às festas de dança da cidade de interior quando era jovem. Hoje, faz os vestidos na mesma modelagem, mas o que muda é a variação de tecidos e cores. “Faço roupas com uma costureira há mais de 20 anos. Naquela época, as roupas das festas de dança eram os vestidos rodados e floridos, os famosos vestidos de chita”.
Moda inconstante - Antigamente não existia distinção entre tecidos usados por homens e mulheres e foi só a partir do século XIX que os estilos desses dois grupos se distanciaram cada vez mais. Nessa época, a máquina de costura foi inventada e a moda mudava em média a cada 25 anos e após mudanças sociais de desenvolvimento e globalização, esse tempo tem diminuído cada vez mais. Claudines Vieira, 32 anos, é um alfaiate que nasceu em João Lisboa e começou seu trabalho em uma fábrica de roupas, aos 16. Ele relata que precisou abandonar os estudos, tendo que parar no ensino fundamental, para trabalhar como alfaiate na fábrica, pois precisava de dinheiro, visto que sua família era muito carente. “Eu tive que optar entre o trabalho ou o estudo, a minha família era muito carente e não dava para me sustentar”. Com 16 anos de profissão, ele conta que naquela época a roupa social era a mais fabricada e o público evangélico garantia a produção. Ao fazer uma comparação com a moda masculina naquele período e recentemente, ele acredita que teve mudanças sim, como a modelagem das peças e os tecidos, pois entra um estilo social com peças mais ajusta-
das ao corpo. Apesar das mudanças relatadas, Claudines afirma que a moda social masculina está sempre em alta. “É possível notar algumas mudanças. A moda vai e volta, mas o estilo social está sempre estável”. A moda é um universo inconstante e enquanto o estilo masculino possui uma certa estabilidade, a moda feminina sofre mudanças a todo momento. A costureira Maria
Lina, 48 anos, conta que aos 16 começou a fazer as suas próprias roupas e também para as suas amigas. “Eu fazia muitas saias com fendas em 1980 e está voltando de novo o mesmo recorte”. Ela nunca fez nenhum curso profissionalizante, mas já está no ramo da moda há 32 anos. “Nunca fiz curso, me atualizo pelas revistas. Costurar é prática, aprende no dia a dia”. CÁSSIA CASTRO
Para Claudines Vieira, que trabalha como alfaiate desde os 16, a moda vive ciclos de vai e volta
Rede social: uma nova forma de popularizar e afirmar tendências ARQUIVO PESSOAL TEXTO: CÁSSIA CASTRO DIAGRAMAÇÃO: GABRIELLA FIGUEIREDO
A
moda está em transformação não somente na inovação de recortes e modelagens, mas também na sua forma de divulgar tendências. No século XIX, os desfiles eram as únicas vitrines de disseminação de propostas de estilo e os estilistas eram responsáveis por elaborar todo o conceito. Hoje, as redes sociais são uma grande ferramenta de popularização de tendências da moda. Assim, um novo personagem entra em cena: as influencers de moda, que a partir do seu perfil na rede social, apresentam atualidades desse universo aos seus seguidores. Scarlatt Nascimento, 30 anos, é influenciadora digital de moda em Imperatriz e tem mais de 55 mil seguidores no seu perfil do instagram. Ela é formada em farmácia e em marketing, atuando atualmente em ambas as áreas.
Neta de um alfaiate e de uma costureira, Scarlatt foi criada nesse universo da moda desde pequena. Aos três anos de idade começou a desfilar e participou de vários concursos. “A
“Às vezes surge uma peça nova que na verdade foi recriada a partir de outras peças antigas. Isso é fascinante!” minha mãe tem um papel fundamental em toda minha carreira. Ela me ensinou muito e ainda hoje me ensina, me instigando a sempre estudar cada vez mais”.
A influenciadora está sempre atenta às novas tendências e repassando aos seus seguidores. Ela afirma que a moda é um ciclo e por isso constantemente inova peças e modelos que já existem. Como por exemplo, a calça pantacour (modelagem que veio a partir da antiga calça pantalona) que até cinco anos atrás não existia e que hoje é tendência na moda feminina. “Às vezes surge uma peça nova que na verdade foi recriada a partir de outras peças antigas. Isso é fascinante!”. O ramo da moda exige estudo e pesquisa constante, visto que sofre mudanças a todo o momento. E Scarlatt relata que batalhou, estudou e se dedicou ao máximo para conseguir chegar a ser uma influencer de moda. “É uma realização, pois hoje eu trabalho com o que eu amo e sou totalmente entregue a essa profissão”.
Influenciadora começou a desfilar aos 3 anos
Scarlatt Nascimento repassa tendências da moda
Jornal
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Arrocha
15
ESTÉTICA
“Imperatriz é uma referência em cirurgia plástica. Hoje em dia a gente atende todo o norte do Tocantins, atende todo o sul do Pará e todo o sul do Maranhão”, diz o cirurgião plástico Paulo de Moura
Antes e depois: mercado da beleza em Imperatriz TEXTO: ELLEN MONTEIRO DIAGRAMAÇÃO: DÉBORAH COSTA
A
segunda maior cidade do estado do Maranhão sofreu um crescimento considerável nos últimos 10 anos. De acordo com o último censo, divulgado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Imperatriz conta com cerca de 247.505 habitantes, sendo que em 2000 havia 230.566. Com esse crescimento, a economia também evoluiu, o mercado da beleza cresceu e se modernizou ao longo dos anos trazendo novos procedimentos e produtos tanto para o público feminino quanto para o masculino. O cirurgião plástico Paulo Sergio de Moura conta que chegou à cidade há quase 15 anos para ministrar a palestra “Aparência no Mercado de Trabalho”, convidado pela então Vale do Rio Doce. No dia seguinte, ele já tinha quase 80 consultas marcadas. O vácuo de profissionais especializados na área da beleza naquela época era perceptível. Existiam pessoas que realizavam procedimentos, mas não eram habilitadas e o custo acabava ficando muito alto.
O primeiro curso focado na área da estética na cidade foi implantado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em 2014, com uma turma de 30 alunos. Os módulos abordam a estética corporal e facial, massagens relaxantes e redutoras, limpezas de pele e extração de cravos e espinhas.
“De dez mulheres que vão conversar sobre as cirurgias, cinco homens realizam o procedimento cirúrgico”
A supervisora educacional Marlívia Macatrão Costa Chaves relata que o curso é bastante procurado devido à grande demanda do mercado imperatrizense. Houve uma expansão no comércio nos últimos 15 anos, tanto que em 2011 foi criada a Feira da Beleza, evento que acontece todo ano, no Centro de Convenções,
ELLEN MONTEIRO
ocasião em que é promovido o encontro dos principais fornecedores de serviços e produtos de cabelos, maquiagem e estética, entre outros. A feira é realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Imperatriz e pela Ativa Consultoria – Serviços, Marketing e Propaganda, com o apoio de patrocinadores e diversos parceiros. Referência- Estudante de Estética, Selma Maria Almeida Silva, 37 anos, revela que sempre gostou desse ramo, porém, nunca se imaginava trabalhando com isso, até quando conheceu o curso e se matriculou. Ela explica que foi se apaixonando aos poucos pela área e que hoje já realiza tratamentos faciais. “Eu fui me informando muito mais e eu gostei muito, porque eu sou muito vaidosa. Sempre gostei de me cuidar, de usar cremes, de usar protetor solar, de fazer receitas caseiras para clarear a pele”, revela Selma. Ela ainda completa afirmando que seus clientes são, em sua maioria, homens. As mulheres prevalecem em Imperatriz, totalizando 51,82% da população. Dentre as quatro turmas formadas no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Mulheres imperatrizenses estão cada dia mais adeptas dos procedimentos estéticos faciais
(Senac), apenas um homem integrou o quadro de estudantes. Porém, o público masculino, com o passar do tempo, foi se tornando mais vaidoso. O cirurgião plástico Paulo de Moura diz que de dez mulheres que vão conversar sobre as cirurgias, cinco homens realizam o procedimento cirúrgico. É evidente o baixo número de homens empreendedores no mercado da beleza na cidade, mas é notório o quanto eles estão cada vez mais consumindo os produtos
e serviços ofertados. O médico ainda revela que antes de existirem profissionais especializados na cidade, os interessados tinham que se deslocar para Teresina-PI ou Brasília-DF em busca desses trabalhos. Atualmente, Imperatriz é referência na região tocantina e em outros estados. “Imperatriz é uma referência em cirurgia plástica, hoje em dia a gente atende todo o norte do Tocantins, atende todo o sul do Pará e todo o sul do Maranhão”, confirma Moura.
Do clássico ao alternativo: a evolução das barbearias da cidade ELLEN MONTEIRO TEXTO: ELLEN MONTEIRO DIAGRAMAÇÃO: DÉBORAH COSTA
D
a navalha para a máquina de barbear, Imperatriz conta com diversas barbearias, umas mais antigas e outras muito modernas. Do rústico chão de madeira ao refinado piso de porcenalato, esses espaços se modificaram bastante ao longo dos anos, transformando o conceito de salão de beleza. De acordo com o Euromonitor, provedor de pesquisa de mercado, o comércio de produtos e serviços de beleza masculina brasileira teve um aumento de 69,7% nos últimos cinco anos. Em 1971, nascia o Salão e Barbearia Lord. Localizado na avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, o estabelecimento é a barbearia mais antiga da cidade. O atual dono, Francisco Valdir de Sá, comumente chamado de “Chiquinho” conta como foi o início de tudo. Antes o lugar pertencia a Jofre Ferreira da Silva. Vindo de Goiânia (GO) a convite de um amigo, ele simpatizou muito com a cidade e abriu o salão. Naquele tempo havia poucas famílias em Imperatriz e o centro era muito diferente do que é atualmente.
Chiquinho é dono da Barbearia Lord desde 2010. Ele afirma que até hoje os antigos clientes frequentam o local e que não abrem mão do serviço, mesmo com um novo dono. “Quase todas as pessoas mais velhas da cidade cortam cabelo aqui. Tem uma galera jovem também, esses novos são quase sempre filhos ou netos dos antigos clientes daqui”.
“Quase todas as pessoas mais velhas da cidade cortam cabelo aqui” O lugar não mudou muito desde a sua inauguração. Os objetos ainda são os mesmos, as cadeiras possuem um ar dos anos 1970, a fachada é bem vintage e o nome permanece. Novos recursos - Nos últimos anos, porém, uma nova concepção de barbearia ganhou espaço no cenário imperatrizense. A Open Barba, pioneira nesse ramo, surgiu em setembro de 2017. Repleta de novos recursos para chamar atenção dos clientes, especialmente, dos homens, o local não se limita só ao corte de cabelo e barba. Barbeiro profissional há três
anos, Paulo Fonseca da Silva Junior exerce sua profissão no salão desde o início e conta como a Open Barba nasceu. “Surgiu com uma ideia nova. O proprietário é de São Luís, ele se baseou nas barbearias de São Paulo, Portugal e França. Ele foi vendo o público masculino crescendo no mercado da beleza, aí ele resolveu trazer para cá esse novo conceito de barbearia” . Além de oferecer serviços comuns, como corte de cabelo e barba, o lugar possui um bar, com uma mesa de sinuca, um fliperama e os mais variados tipos de bebidas. O ambiente é bem moderno e conta com salas de massagem, para kids, de depilação e outra específica para corte ou tintura individual. A “gourmetização” de barbearias vem crescendo nos últimos anos, gerando espaços que não se limitam apenas no usual, aderindo a decorações mais caprichadas e ousadas. O advogado Vaniel Ferreira Vilela, freguês desde o começo da barbearia, explica o motivo: “Acredito que seja porque os clientes estão também se modernizando e procurando um local que não apenas trate sua aparência, mas que tenha conforto e uma sensação de lazer”.
Do normal corte de cabelo ao lugar de lazer masculino, barbearias mudam ao longo dos anos
Jornal
16
Arrocha
ANO IX. NÚMERO 36 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
16
ENSAIO VIVIANE
JOÃO MARCOS
REIS
YANNA DUARTE
VIVIANE REIS
YANNA DUARTE
CÁSSIA CASTRO
CÁSSIA CASTRO
ELLEN MONTEIRO