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DEZEMBRO DE 2018. ANO IX. NÚMERO 37
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
Arrocha
Foto: Ricardo Kadett
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ
RU AS XV de Novembro ou Frei Manoel Procópio?
Rua Ceará marca vida de uma família inteira
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CHARGE: Jhulia Ferreira e Vitória Costa
ANO IX. NÚMERO 37 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
Expediente: Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Universidade. Jornal Arrocha. Ano IX. Número 37 Dezembro de 2018
Reitora - Prof. Dra. Nair Portela Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Daniel Duarte Coordenador do Curso de Jornalismo - Prof. Msc. Carlos Alberto Claudino
Professores - Dr. Alexandre Zarate Maciel (Jornalismo Impresso); Dr. Marcus Túlio Lavarda (Programação Visual); Dr. Miguel Angel Lomillos (Fotojornalismo); e Dr. Marcos Fábio Belo Matos (Revisão)
Alunos de Linguagem e Programação Visual Ana Lecticia Bandeira André Luis Bruna Madonna Carlúcio Barbosa Hugo Pereira Jeilza Cavalcante Jéssica Lima Lyandro Nunes Marcilania Pereira Maria Francineide Matheus Campos Michely Alves Patricia da Silva Vitória Castro
Alunos de Jornalismo Impresso e Fotojornalismo Bruno Santos Gabriela Magalhães Gessica Cavalcanti Henrique Andrade Ilberty de Oliveira Jean Camapum Jonas Lima Laís Gomes Laís Sousa Marcelo Nunes Rafaela Pinheiro Rafaete de Araújo Sabrina Santiago Sara Kalinne Tayron Chagas
Monitor: Gilmar Carvalho Capa: Luana Coelho Ensaio: Viviane Reis Inghrid Keith Amanda Reis Núcleo de Apoio: Cássia Castro Francisco Mourão Gabriella Figueiredo Henrique Andrade Hugo Oliveira Layana Barbosa Luana Coelho Viviane Reis
Beira-Rio é o lugar preferido para famílias e diversas tribos culturais JONAS LIMA TEXTO: JONAS LIMA DIAGRAMAÇÃO: PATRICIA DA SILVA
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EDITORIAL - Pelas ruas que andei
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cronista carioca João do Rio (1881-1921) amava andar pelas ruas, arte que ele chamava de flanar. Seu espírito acabou influenciando a alma do repórter sensível brasileiro. João não se conformava com a definição de dicionários, para os quais rua era “apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações”. E pincelou em uma de suas crônicas, justamente com o nome “A Rua”: “Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!” Para preparar este jornal, nossos repórteres flanadores do Arrocha se lançaram na missão de mergulhar no universo das principais ruas de Imperatriz. Conversaram com os moradores, feirantes, comerciantes em geral, ou aqueles que por elas transitam a trabalho ou mesmo para funções de lazer e esportes. O leitor vai perceber que esses espaços pulsam, guardam memórias e que o sábio João do Rio estava mesmo certo: têm alma. Vamos passear juntos? Começar pela antiga rua XV de Novembro, que acolheu os primeiros habitantes da cidade. Adentrar pelo intenso movimento do comércio e das vidas em constantes encontros das ruas Getúlio Vargas e Ceará. Na avenida Bernardo Sayão, saborear uma panelada na tradicional Quatro Bocas. Na BR-010, entender os fluxos de desenvolvimento da cidade. Para aquele exercício do fim do dia, a inusitada avenida Moacyr Spósito Ribeiro, mais conhecida como pista do aeroporto.
As vias que ligam os grandes bairros como artérias não foram esquecidas pelos nossos repórteres. A memória das antigas quadrilhas, mas também dos alagamentos na avenida JK. A avenida Santa Teresa, que também já foi palco de muitas festas. E na rua Duque de Caxias, desfiles descentralizados na Semana da Pátria. Na Newton Belo, curiosas histórias de quem vive ou mantém comércios bem em frente de um cemitério. A transformação de uma grande fazenda em uma agitada via, a avenida Industrial. Motos, carros, ciclistas, pedestres e carroças na Euclides da Cunha. A Leôncio Pires e a recém-revitalizada Praça da Bíblia. Na página de entrevista, o historiador Lucellyo Albuquerque Ducas analisa que Imperatriz se expande a partir de um grande fluxo migratório, que lançou outros olhares sobre espaços outrora esquecidos da cidade. “São essas comunidades, essas pessoas que vieram e começam a visualizar Imperatriz de uma nova forma, que vão dando identidade às novas ruas”, conclui. O espírito desses repórteres de desbravar realidades pouco iluminadas pela mídia tradicional traz como grande recompensa uma sensação de transformação. O jornalismo de Imperatriz precisa focalizar os bairros e o Centro da cidade não só pela perspectiva desfocada de seus buracos e esgotos. Mas também pelo que eles guardam de poesia. Bom passeio!
Avenida Beira-Rio foi inaugurada em 1994, com o objetivo de preencher um espaço vazio dentro da cidade e, de lá para cá, recebeu reformas e atualmente é usada para a realização de eventos e como um point de encontro entre diversas tribos culturais. A rua se estende por um longo percurso e é o ponto de entrada para variados tipos de atividades. Serve para passeios solitários ou em família, ou para aproveitar as inúmeras atrações, que vão desde quadras para esportes, aparelhos de ginástica que pessoas de diversas idades utilizam para se exercitar, espaço para andar de bicicleta, skate, trazer o cachorro para uma caminhada, apenas curtir a paisagem ou até mesmo pelo simples motivo de visitar umas das barracas de comidas que existem aos montes naquela área. O amplo espaço é propício para encontros e festas entre amigos ou com a família. A visão panorâmica do Rio Tocantins se estende por um longo percurso, enchendo a vista dos seus espectadores. A rotina começa lenta na Beira-Rio. Do período da manhã até à tarde, poucas pessoas são vistas e a calmaria e o silêncio reinam. Mas, a partir das 17h, o movimento começa a aumentar. Quase que instantaneamente, os donos de barracas que chegaram um pouco antes para montar os seus estabelecimentos começam a colocar as cadeiras e mesas, que em breve serão preenchidas pelos seus clientes. E em pouco tempo tem início o preparo da comida. O cheiro se espalha pelo espaço e é quase impossível não se sentir tentado a parar em pelo menos uma das barracas para fazer um pedido. Apresentando diversidade dos alimentos servidos, em uma variável que vai de cachorros-quentes a comidas típicas do estado do Pará, os donos de barracas parecem estar felizes com seus pontos. Como é o caso da senhora Maria da Graça, que já trabalha há 15 anos na BeiraRio. Ela começou vendendo caldos
Beira-Rio atrai centenas de famílias imperatrizenses todos os dias para momentos de lazer
e atualmente possui uma barraca de cachorro-quente. Segundo Maria, a avenida é um bom local de trabalho devido à organização e alta circulação de público. “É assim que eu sustento a minha família”, conta. Mas Maria também relata que há dois meses que o público vem diminuindo e o lucro de vendas, consequentemente, caindo. Redução - A diminuição de pessoas não é um problema percebido apenas pela dona Maria. Outra proprietária de uma barraca também é afetada por isso. A senhora Maria Fernandes também percebe essa diminuição, principalmente perto do final do mês: “O movimento é bom, principalmente no começo do mês, mas chegando do dia 20 pra frente diminui bastante”, informa. Maria Fernandes tem como profissão a alfaiataria, além de manter a barraca de alimentos como uma segunda renda há nove anos. Segundo ela, é uma ótima forma de conseguir um dinheiro extra no fim do mês. Descendo um pouco mais pela rua, percebe-se o número considerável de pessoas correndo e se exercitando. Uma das formas que parecem chamar mais a atenção do público, principalmente dos jovens, é a opção de usar patins para passeio. Esse é o caso de Maria Giovanna, de 15 anos, que estava apro-
veitando seu tempo livre e decidiu ir à Beira-Rio com sua mãe para passear usando patins. “Venho nos finais de semana, mas se tivesse tempo viria sempre”, conta sorrindo, ao falar de seu hobby. Sua mãe, a dona de casa Maria Antônia, que estava acompanhando a filha, revela o motivo de ter escolhido esse lugar para vir: “Eu acho um lugar muito agradável e bastante seguro”, revela. Ambas concordam que a Beira-Rio é um bom lugar para se divertir em família. A segurança, apesar de ser algo positivo para a grande maioria dos frequentadores do local, ainda é um assunto que levanta questionamentos e dúvidas para algumas pessoas, como é o caso da designer de 37 anos, Suzana Botelho, visitante frequente da Avenida Beira-Rio. Ela expressa que, apesar de ser um local bom para se exercitar e passear com seu filho, ainda é preciso ficar atenta à sua volta, pois “existe gente de todo tipo, e no mundo em que a gente vive não dá para confiar em ninguém”. Para Suzana, o momento ideal é o período da manhã, quando o movimento é menor e mais tranquilo, o que facilita seu relaxamento. Apesar do silêncio que as manhãs propiciam, é a partir das 18h que a avenida ganha vida, se enchendo de luzes e cores, cheiros e pessoas dos mais diferentes tipos, desde famílias a casais de namorados.
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HISTÓRICO A rua mais antiga e popular da cidade de Imperatriz, que evoca tantas memórias, não é conhecida pelo seu título de fato, por conta da sobreposição de vários nomes ao longo da sua existência
XV de novembro ou Frei Manuel Procópio? MARCELO NUNES TEXTO: MARCELO NUNES DIAGRAMAÇÃO: HUGO OLIVEIRA
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atual rua Frei Manuel Procópio, mais conhecida como XV de Novembro, foi a primeira avenida de Imperatriz. No século XIX, inicialmente era a única via da cidade e seu nome era Rua Grande. Com o tempo, passou a ser chamada de Rua de Dentro. Conforme a cidade foi se transformando, ganhou outros nomes como Rua do Fio, Rua de Baixo, Rua do Meio, Rua do Telégrafo, Rua Teresa Cristina e Dom Pedro II. Depois da Proclamação da República, no dia 15 de novembro de 1889, ficou conhecida como Rua XV de Novembro. No ano de 2002, moradores da rua pediram ao ex-prefeito Jomar Fernandes, por meio de um abaixo-assinado, a mudança de nome e conseguiram a homologação da transição de Rua XV de Novembro para Rua Frei Manuel Procópio. Obtiveram, também, a autorização oficial para o desmembramento em mais duas ruas: Teresa Cristina e Dom Pedro II. Segundo a moradora Domingas Paixão, de 75 anos, a rua era considerada o espaço em que a nobreza vivia, pois ali residiam coronéis e políticos, além de abrigar o primeiro Mercado Municipal, o Fórum, a Igreja Matriz e a pioneira capela de Santa Tereza, que ficava localizada onde hoje é o Hospital das Clínicas Unimed. No livro-reportagem “De areia a paralelepípedos”, apresentado como conclusão de curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, o jornalista Diego Boaventura revela características dessa época com o olhar dos moradores, estabelecendo analogias com os dias atuais. O autor brinca com a transição do tempo e discorre histórias tocantes sobre a rua, resultado de bate-papos mantidos com moradores anti-
gos e com descendentes de pessoas que ali residiram. Domingas Paixão relembra também que, com o passar do tempo, a rua foi sendo inteiramente dividida por mangueiras, e ali ficou sendo o ponto de encontro das famílias e local para as crianças brincarem. Os fatos que mais a marcaram em todo esse tempo em que mora na rua ainda estão vivos na memória. “Eu sinto falta da segurança, de dormir com a porta aberta e o vigia vir e bater na porta pela manhã, para avisar. Também de espaços maiores e mais arborizados. Antes aqui os terrenos eram grandes, pareciam grandes pomares”.
“A rua foi sendo inteiramente dividida por mangueiras, e ali ficou sendo o ponto de encontro das famílias e local para as crianças brincarem” Rua Frei Manuel Procópio em dias atuais: mesmo com o passar dos anos, ainda é palco de diversão para crianças embaixo de suas famosas árvores
Memória - A historiadora Margarida Chaves, por sua vez, pontua fatos importantes sobre a Rua Frei Manuel Procópio. O espaço foi palco de acontecimentos incríveis para Imperatriz, já que abrigou os primeiros sistemas de telefonia e telégrafo da cidade. As primeiras medições de temperatura também foram feitas, ao que consta, por uma mulher, na Praça da Meteorologia, sendo repassadas para toda a região do Bico do Papagaio. Não o bastante, apresenta características históricas que afirmam a presença de pessoas ilustres na rua. A pesquisadora
defende que antes as casas diziam muito sobre os moradores, pois a arquitetura demonstrava quem possuía um grande poder aquisitivo. Assim, nas residências existiam estruturas semelhantes à colunas, que dividiam o teto da parede e que se chamavam “eira, beira e tribeira”. As três colunas indicavam que a casa era de um coronel ou de alguém muito rico. A presença de duas delas já demarcava que um comerciante morava ali e, se só houvesse uma, com certeza o dono se tratava de um cidadão comum. A rua teve moradores ilustres,
MARCELO NUNES
como Renato Cortez Moreira, Dorgival Pinheiro, Gumercindo e Coriolano Milhomem. Pode-se dizer que a rua foi a que mais abrigou prefeitos e vices na história de Imperatriz. Uma prova disso é a permanência de familiares até hoje no local. Atualmente a rua é a morada de pessoas com sobrenomes de peso na cidade, como os Cortez Moreira, os Milhomem e os Paixão, sendo que essas famílias estão por aqui desde a sua fundação. A história da rua não é dada somente pela sua arquitetura ou com o passar do tempo e, sim, narrada
O primeiro Mercado da cidade TEXTO: MARCELO NUNES DIAGRAMAÇÃO: HUGO OLIVEIRA
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Mercado Municipal Bom Jesus, com poucas modificações desde sua construção, palco de diversas histórias e acontecimentos
pela memória da sociedade imperatrizense. Por isso, a historiadora Margarida Chaves ressalta a importância da consciência histórica da população. A criação do Museu Virtual de Imperatriz é um projeto de reavivamento dessa memória. Nesse espaço virtual, é possível encontrar fotografias que narram a história recente e do passado da segunda maior cidade do Maranhão, vídeos que fazem lembrar bons momentos do passado, além de fotos antigas de outras cidades e personalidades do Brasil e do mundo.
Mercado Bom Jesus foi o primeiro estabelecimento comercial municipal deste gênero em Imperatriz. No início da cidade, era o único lugar em que se encontravam carne bovina, suína, caprina e de aves para comprar. O espaço era ponto de encontro de sertanejos e agricultores para a venda de cereais e produtos da região. No final da década de 1950, e na de 1960, tornou-se um centro comercial com pequenas mercearias e quiosques que vendiam comida caseira. Foi demolido em 1971, sendo reconstruído e ampliado pelo prefeito Renato Cortez Moreira, que também foi assassinado no local em 1993. O comerciante João Batista, de 85 anos, é o vendedor mais antigo do Mercado Municipal Bom Jesus. O ex-prefeito Renato Cortez Moreira morava bem próximo do local. Ao relembrar de características do espaço, João aponta que este não so-
freu tanta modificação com o tempo. A mudança mais significativa foi a de variedades de produtos que eram vendidos e também a construção de galerias que mudaram um pouco o aspecto geral. "Aqui era composto por bancas, de todo tipo e que vendiam de tudo um pouco", afirmou João Batista. O Mercado Municipal foi marcado por um acontecimento histórico e trágico. O seu fundador, o ex-prefeito Renato Cortez Moreira, foi assinado no dia 6 de outubro de 1993, dentro do mercado, logo após a alvorada que marcava o início do festejo da padroeira da cidade, santa Teresa D'ávila. Domingas Paixão também comenta o acontecimento. "Após o término da alvorada, as pessoas estavam a caminho de suas casas, quando um homem passou gritando sobre uma morte no mercado. A cidade toda foi ver o que de fato havia acontecido. Então descobriram que Renato Moreira tinha sido assassinato, foi um alvoroço nesse dia".
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CENTRO Maior polo do comércio na cidade, atraindo cidadãos de toda a região, a avenida conta com pontos importantes, incluindo o Calçadão e a Praça Brasil, utilizados para compras e passeios
Getúlio Vargas: o império do comércio GESSICA CAVALCANTE TEXTO: GESSICA CAVALCANTE DIAGRAMAÇÃO: MATHEUS CAMPOS
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etúlio Dornelles Vargas, nascido no dia 19 de abril de 1882, foi um advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo o seu 13º e último presidente, Washington Luís, e impedindo a posse do presidente eleito em 1º de março de 1930, Júlio Prestes. Foi presidente do Brasil em dois períodos. Morreu no dia 24 de agosto de 1954, após se suicidar com um tiro no coração. Em Imperatriz, o ex-prefeito Antenor Fontenele Bastos, que foi político, jornalista e comerciante, renunciou ao cargo, assim assumindo o vice-prefeito Raimundo de Moraes Barros, conhecido como Mundico Barros, que concluiu o mandato. Mundico foi o responsável pela criação da avenida Getúlio Vargas, entre os anos de 1958 e 1960. Informações do livro da historiadora Edelvira Marques, “História da Fundação de Imperatriz”, de 1993, dão conta de que Mundico “iniciou sozinho sua meta de moradia, traçou então o projeto que iniciava na Praça de Fátima, ultrapassava a rodovia em construção e formava a avenida Babaçulândia. Para a melhoria da Getúlio Vargas, a Rodobrás ajudou fazendo o bueiro da lagoa e piçarrando-a.” Calçadão - Já em 1979, no governo do então prefeito Carlos Amorim, foi construído. na avenida Getúlio Vargas, o Calçadão. O comércio já tinha uma grande proporção de público antes mesmo de sua construção, e logo após a inauguração, ganhou mais espaço na Praça de Fátima, gerando um aumento do fluxo de pessoas. No início, os comerciantes acreditavam que a construção de um local para as pessoas transitarem ao meio, com bancos, traria prejuízos para as suas vendas, mas não foi isso que ocorreu. O Calçadão se tornou o polo do comércio popular, atraindo não só os imperatrizenses como também a população de toda a Região Tocantina. Assis da Chagas Araújo da Silva, 59 anos, trabalha há oito vendendo meias e DVD’s no Calçadão. Ele afirma que, com o decorrer dos anos, aumentou não só o número de lojas, como também os de camelôs, uma forma de garantir a renda da família e de conhecer pessoas e histórias. “Isso aqui ajuda muito, né? O trabalho aqui é muito importante, pelo fato de além de estar exercitando o corpo, a gente também está dialogando com as pessoas. Todo mundo tem algo para transmitir, e quando estamos aqui no meio da sociedade, da população, a gente ouve histórias, tanto as coisas boas como também as ruins”, relata Assis. Mas, por ser um local extenso, não é sempre que as vendas vão bem. Às vezes, há uma baixa, mas os comerciantes nunca perdem a esperança. “Aqui é um espaço muito grande, às vezes as vendas ficam pequenas. E aí, para aquelas pessoas que realmente dependem só daqui para sobreviver complica, mas
Surgida na década de 1960, a Getúlio Vargas é um local de bastante movimentação. Além de concentrar o setor alimentício, o transporte ambulante e passageiros trafegam a todo momento
a gente tem que trabalhar, né? O trabalho rendendo muito ou pouco, a gente tem que batalhar, usar uns truques aqui, o jeito diferente de chamar ali. E o cliente para e compra, mas as vezes é difícil. Desistir é o que não podemos”, concluiu Assis. Os consumidores, além de contar com uma variedade de mercadorias, encontram diversos preços em diferentes lojas, além de formas de pagamento e vendedores com suas artimanhas. Isso atrai o cliente, como garante a dona de casa Maria de Fátima. “Acho ótimo fazer mi-
nhas compras aqui, posso pechinchar. A recepção nas lojas é muito boa e atrativa, além da variedade de lugares, né? Só compro minhas roupas, calçados, tecidos aqui, tanto minhas como dos meus filhos e do meu marido. Bato perna mesmo, porque variedade é o que não falta.” Praça Brasil - Outro ponto importante da Avenida Getúlio Vargas é a Praça Brasil. Inaugurada na década de 1960, a área foi criada em paralelo ao Mercadinho. A praça é um local de muita movimentação e onde as
pessoas aguardam transporte, tanto para a Estrada do Arroz quanto para outros lugares. Um ambiente muito importante onde passaram influentes políticos, como o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que na época era metalúrgico, e também um local aberto, onde aconteciam eventos políticos e comícios. Além de pontos de ônibus, farmácias, bancos e prédios ao redor, há também ambulantes com vendas de lanches. Os passageiros dos ônibus que por muitas vezes aguardam GESSICA CAVALCANTE
Vendedor ambulante ocupa o seu espaço no Calçadão: a facilidade das vendas é essencial, sendo auxiliada por ser um ambiente de grande fluxo
por bastante tempo e chegam ao seu destino tarde, agradecem por ter uma forma de se alimentar antes de chegarem em suas residências. “Eu sempre pego ônibus aqui, e sempre lancho, ou um pastel, ou um salgado com suco. Como chego tarde em casa, dá para aguentar até a hora da janta, mas eu gosto muito de comer aqui. Os vendedores são muito atenciosos e conversam com a gente enquanto fica pronto”, conta a estudante Ana Luíza Cardoso. O que deixa os frequentadores amedrontados é o grande fluxo de moradores de rua, que aumenta à noite, gerando medo de os pedestres transitarem nas calçadas, como ressalta a recepcionista Fellipa Mendes. “Aqui é um pouco escuro, às vezes eles chegam de uma vez na pessoa, e acham que aqui é só para eles. Não querem que a gente ande pela calçada, e até mesmo fica difícil sentar em algum local porque eles estão deitados”. Relatos sobre assaltos também são frequentes. Andar com um celular em mãos, usar fone de ouvido, é algo não muito comum na praça e o medo das pessoas acaba levando-as a evitar transitar no local. “Eu morro de medo de usar aqui. Quando estou esperando o ônibus deixo no silencioso, evito ao máximo mesmo de triscar. Quando entro no ônibus aí que pego, antes disso não, salário dá mal para pagar as contas, imagine comprar um celular novo”, destaca Fellipa. Seja para comprar uma revista, alimentar-se, esperar um ônibus, a Praça Brasil é um ponto muito importante da cidade, com histórias e pessoas interessantes. Quem a visita alimenta as memórias e não deixa morrer um dos pontos principais da avenida Getúlio Vargas.
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MEMÓRIA A rua Ceará foi a via escolhida por Helayne Roberta para criar seus filhos e construir seu futuro há cerca de 30 anos. Hoje em dia seus dois filhos, Douglas e Hestherferson, ganham suas vidas por ali
Rua Ceará marca vida de uma família inteira TEXTO: JEAN CAMAPUM DIAGRAMAÇÃO: JEILZA CAVALCANTE
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rua Ceará origina-se no bairro Bacuri, cruza com o Centro, Juçara, Nova Imperatriz e o começo do Santa Rita. Com aproximadamente 5 km de extensão, o seu início é ocupado principalmente por residências. O setor comercial, composto por lojas para conserto de celulares e TV’s, farmácias, oficinas de moto entre outros estabelecimentos, pode ser notado apenas ao se aproximar do centro da cidade. A rua Ceará também abriga o primeiro shopping construído na cidade, o Timbira, que foi inaugurado em outubro de 1996. A operadora de caixa do cor-
respondente bancário do Banco do Brasil, Pague Fácil, Helayne Roberta, mora na rua Ceará há mais de 30 anos e lá criou os seus três filhos. Roberta, como é mais conhecida, conta que comprou uma farmácia em 1987 com a intenção de sustentar sua família. “Devido ao comércio, não tinha muita farmácia por aqui. Já que ficava perto das Quatro Bocas, a gente abriu com o intuito do movimento ser melhor”. Roberta esclarece que a rua Ceará sempre foi asfaltada e informa que havia uma feira em frente à farmácia, a antiga Feirinha da Nova Imperatriz. A operadora de caixa conta que o movimento da feira ajudava nas finanças do seu esta-
belecimento comercial. Entretanto, alguns feirantes não limpavam suas barracas, o que acabava gerando um certo desconforto no quesito lixo na rua. Roberta morou durante cinco anos no fundo da farmácia, mas em 1992 surgiu uma oportunidade de comprar um terreno para construção de sua casa, onde vive até hoje. “A gente tinha um intuito de construir a farmácia na frente, pensamos que o comércio iria crescer e fizemos um ponto na frente e a minha residência atrás”, explica. Como o ponto ficou desocupado, Helayne resolveu alugar o setor, que hoje é ocupado pelo médico veterinário Hestherferson Alencar, JEAN CAMAPUM
O setor comercial da rua Ceará, com lojas de conserto de celulares, farmácias e oficinas localiza-se mais ao centro
JEAN CAMAPUM
A família Alencar relembrando, por álbum fotográfico, os melhores momentos da infância dos irmãos
o seu filho mais novo. Ele tem 27 anos, é graduado em medicina veterinária pela então Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e abriu sua clínica veterinária em 2015. Conta que decidiu abrir seu ponto na rua Ceará devido à demanda de animais nessa região. “Foi feita uma pesquisa para verificar se esse ramo daria certo nessa redondeza e se existiam animais de estimação”, justifica. Já o filho do meio, Douglas Alencar, executa suas aulas de reforço no lugar onde era a sala de estar de Helayne. Douglas é professor há cinco anos na Escola Aquarela e trabalha com aulas de reforço há cerca de sete anos. Douglas escolheu a rua Ceará como ponto de ensino por ser próximo de várias escolas e seria um lugar estratégico para começar a lecionar. “Já era professor e comecei a aula de reforço como um extra. Hoje em dia o extra acabou se tornando a renda principal”.
A infância dos irmãos Douglas e Hestherferson na rua não poderia ser melhor. Apesar de morarem em uma via movimentada, brincavam nas calçadas da rua Ceará sem nenhum problema. Os irmãos contam que brincavam de bola e pau na lata tranquilamente, apenas tendo cuidado com a rua em si, por ser uma via com bastante movimento. Em 2003, Roberta teve uma grande surpresa, pois grandes farmácias como a Big Ben e Pague Menos chegaram à cidade e as pequenas drogarias não conseguiram bater de frente com o preço dos medicamentos. Esse acontecimento resultou na falência da drogaria Santa Tereza. Apesar do triste acontecimento, a relação de Roberta com a rua Ceará não poderia ser mais positiva, ela conta que adora morar nessa via. “Adoro, aqui é um lugar muito bom para morar, tudo está perto. Tem supermercados, mercearias, hospitais, banco, tem tudo”.
De garimpeiro a mecânico: a trajetória de um trabalhador na via TEXTO: JEAN CAMAPUM DIAGRAMAÇÃO: JEILZA CAVALCANTE
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rua Ceará é uma via bastante movimentada da cidade. Cruza com as principais avenidas, como a Dorgival Pinheiro de Sousa e a Getúlio Vargas, sendo fonte de renda para inúmeros trabalhadores. Ao se aproximar do bairro Juçara, percebe-se que o setor comercial ainda é forte. A rua acomoda a Secretaria Municipal de Educação (Semed), que antes era o ponto de uma doçeria bastante famosa da cidade, a Cartuimp. Uma quadra depois, o visitante nota uma infinidade de lojas e oficinas para o setor automotivo voltadas para motos. Grandes lojas renomadas e pequenas oficinas estão misturadas devido à variedade. O mecânico Mauro Sousa trabalha no setor automobilístico de motos na rua Ceará desde 1993 e conta que no momento em que chegou na rua existiam apenas sete estabelecimentos. Hoje, 25 anos depois, o número aumentou para aproximadamente 20 lojas. Mauro já trabalhou com diversas profissões, mas se identificou com a mecânica de moto.
“Já trabalhei como garimpeiro, na roça, com junqueiro, mecânico de carro e outros. Mas me identifiquei mesmo foi como mecânico de moto e trabalho com isso até hoje, achei uma profissão melhor”, explica.
“Fiz vários clientes nessa rua, é por isso que não mudo. Já mudei de ponto, mas nunca de rua. Aqui é um bom local de trabalho”
O mecânico conta que escolheu a rua Ceará para ser o seu ponto de trabalho na época por ser uma via bastante movimentada e já tinha habilidades em consertar motos ao chegar. Durante sua trajetória na rua Ceará, Mauro informa que já trabalhou em dois locais. “Trabalhei durante 10 anos na Zero Motos e na Central Moto por 14 anos”.
No início de 2018, Mauro resolveu criar seu próprio local de trabalho, ele queria ter a sua própria renda. O mecânico explica que já tinha muitos clientes fixos nessa rua, não importava a loja em que ele estivesse, eles o seguiam. Mauro afirma que a rua Ceará é um forte ponto comercial, pois, desde quando ele chegou na década de 1990 até os dias de hoje, o movimento melhorou bastante. “Fiz vários clientes nessa rua, é por isso que não mudo. Já mudei de ponto, mas nunca de rua. Aqui é um bom local de trabalho”. Ao se aproximar do fim do bairro Nova Imperatriz, é observado que a rua Ceará retorna às suas origens. Onde o setor comercial não é tão forte quanto no centro, existem apenas alguns pontos de comércio e a via volta a ser cercada de residências. Um semáforo marca o fim da rua Ceará e inicia a avenida Newton Bello.
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Mauro Sousa trabalha na rua Ceará há cerca de 25 anos e sustentou sua família nesse ramo
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6 FOTOS: VIVIANE REIS
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RODRIGO MORAES
Avenida JK foi palco de eventos regionais Com uma extensão que corta vários bairros da cidade, a avenida JK carrega um legado de cultura ao longo do tempo, evidenciado por histórias dos moradores que se encantam com o passado TEXTO: HENRIQUE ANDRADE DIAGRAMADOR: MICHELY ALVES
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ortando vários bairros da cidade ao longo da sua extensão, e levando o nome de um médico, oficial da Polícia Militar mineira, e ex-presidente da República, a Avenida Juscelino Kubitschek, ou Avenida JK, como é popularmente chamada pelos moradores, foi palco de diversos eventos e festivais das manifestações culturais no passado. O legado dessas comemorações é um marco que permanece até os dias de hoje, trazendo novos eventos que remetem à alegria que desde sempre se faz presente nas festas que marcaram a avenida. Rock in Rua, Lava Prato, comícios e Arraiá da Rua são alguns nomes dos eventos que marcaram uma geração, proporcionando boas lembranças aos que fizeram parte, reunindo todos os tipos de cultura em uma ou mais atrações, destinadas a toda a família e amigos, conforme afirma a ex-quadrilheira e brincante Elisângela Oliveira Lima Andrade, 42 anos. “Eu lembro da minha juventude, dancei muito quadrilha nesses eventos que tinham, em que fechavam as ruas. Eu fazia parte de um grupo que dançava nessas festas, um arraiá, o Vai-Vem. Eu,
meu esposo, minhas irmãs, meus amigos, meus vizinhos, todo mundo participava junto. Todo mundo na mesma sintonia compartilhando da mesma alegria, era uma coisa muito linda de se ver”, explica. Francisco Borges Leal, 51 anos, e Marlene Araújo Leal, 54, casados há 30 anos, moram na avenida JK há quase 10 e são um dos moradores mais antigos da região. Leal conta que, assim como Elisângela, também chegou a dançar quadrilha e carrega na memória as lembranças da juventude marcada pela dança. Marlene conta que não chegou a dançar, mas estava presente nos festivais, partilhando da mesma alegria e intensidade do marido, que fazia parte de um seleto grupo de quadrilhas juninas que se apresentavam nas ocasiões. A avenida tem, em sua extensão, um grande número de moradores que garantem o sustento da família por meio da venda de marmitas, espetos, doces, salgados, bolos e variedades. Os moradores afirmam que, em todos os anos, as organizações dos eventos davam prioridade aos residentes da avenida para a venda de comida, explica a moradora Lúcia dos Santos do Carmo, 53 anos. “Meus pais sempre venderam doces e bolos, e eu herdei isso deles. Moro aqui desde muito nova, HENRIQUE ANDRADE
Trecho da Avenida JK onde são realizados os eventos dos dias de hoje, assim como no passado
e sempre que tinha esses eventos, éramos convidados para fazer a venda da comida aqui. Eles sempre pensavam muito na gente, e isso era uma das coisas que faziam a gente ficar sempre na espera pelo próximo ano”. Lúcia lembra com detalhes dos vários acontecimentos que marcaram algumas edições dos eventos de que já participou, sejam tragédias ou comédias. Como a vez em que uma das moradoras foi pedida em casamento, quando o pretendente colocou a aliança em um salgado e lhe ofereceu. “Ela quase engasgou ao morder. Mas a multidão estava tão animada com a situação que não tinha como ela negar o pedido, disse ‘sim’ e foi como se a festa tivesse recomeçado”, completa Lúcia.
“Todo mundo na mesma sintonia compartilhando da mesma alegria, era uma coisa muito linda de se ver” Mudanças- Atualmente, a Avenida JK é palco de novos eventos, que assim como no passado, fecham as ruas para que se possa festejar. Entretanto, o mais recente festival que levou o nome da avenida, JK Folia, aconteceu em 2016 e contou com a presença de artistas locais e cantores nacionalmente conhecidos. Hoje os eventos não são mais frequentes e a população lamenta pela pausa no que era considerada uma tradição local. “Hoje em dia, nunca mais se ouviu falar em algum show aqui na rua. É triste, porque todo ano a gente já esperava pra saber quais iam ser as atrações”, afirma Lúcia. Dentre as causas que justificam as pausas na programação, um dos principais motivos é a falta de estrutura da avenida, que atualmente não tem capacidade para comportar um evento desse porte. O índice
de violência e os números de acidentes com veículos em alta velocidade também preocupam, tanto a população quanto a organização dos festivais. Moradores afirmam ainda que os riachos que cercam
a avenida, gerando enchentes em todo período chuvoso, também põem em risco a saúde dos brincantes e são uma das causas que acabam impossibilitando a realização desses eventos.
HENRIQUE ANDRADE
Neste outro trecho, alagamentos ocorrem com maior frequência durante o período chuvoso
Período chuvoso gera problemas na Avenida JK
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Avenida JK é um dos mais comuns pontos da cidade em que a temporada das chuvas gera problemas à população local. Todos os anos, moradores das proximidades reclamam dos alagamentos, que atrapalham o tráfego de quem usa a avenida no trajeto para o trabalho, ou até mesmo os que precisam sair de casa, além dos diversos problemas à saúde que a poluição dos riachos pode causar aos moradores. Há algum tempo, o problema das enchentes não era tão emergente como agora. O riacho Capivara, que transborda a água para as ruas, apresentava melhores condições e possibilitava diversão e a realização de atividades domésticas do dia a dia, uma situação que se distingue da atualidade, como explica o morador da Avenida JK, Máyk Bruno Araújo Leal, de 26 anos. “Meu pai e minha mãe chegaram a banhar nele, meu tio aprendeu a nadar nesse riacho, minha avó conta que as mulheres lavavam roupas nele. Hoje já não é mais possível, porque é
poluído, mas ainda hoje quando alaga, tem umas crianças que banham aqui, ignorando os riscos de adoecer”. Os cidadãos relatam que o problema se repete todos os anos, tornando-se parte da rotina. “Já tem quase 10 anos que moro aqui e em todo período chuvoso é a mesma ‘ladainha’, saber que a avenida alagará”, explica Leal. O problema, que é de conhecimento da prefeitura, tem soluções, que por algum motivo nunca saíram do papel. Os moradores mais antigos contam histórias sobre um projeto na Câmara Municipal para a construção de uma galeria, durante o mandato do ex-prefeito Sebastião Madeira, mas definem como meros boatos e acabam caindo no esquecimento. Assim como a galeria, outras medidas já foram tentadas para que se pudesse solucionar o problema. “Teve um prefeito, não me recordo qual, que tentou indenizar o povo das margens do riacho, pra poder construir a galeria, mas o povo não aceitou e aí continuamos nessa”, afirma Leal.
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ENTREVISTA: HISTORIADOR LUCELLYO ALBUQUERQUE
“Novos caminhos estão sendo trilhados” RAFAETE DE ARAÚJO TEXTO: RAFAETE DE ARAÚJO DIAGRAMAÇÃO: ANDRÉ ZIMBAWER
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ucellyo Albuquerque Ducas, 37 anos, graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), especialista em História do Brasil pelo Instituto de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Fetat), servidor público de Davinópolis, onde atua como professor da área, trabalha também na rede privada de ensino em Imperatriz, além de ser palestrante sobre Inteligência Emocional. Em sua monografia de conclusão de curso (TCC), pesquisou sobre os agrupamentos sociais com base nos gêneros musicais, resultando no trabalho: “A música na cidade de Imperatriz na década de 1970”. E continua sua pesquisa focada na história da cidade, como por exemplo, as origens e evoluções das ruas do município. O professor Lucellyo Albuquerque Ducas fala sobre marcos importantes na construção da cidade, elementos que caracterizam e dividem o local em duas partes: a nova e a velha Imperatriz. Além de fatores do envolvimento com a música, com as culturas e até mesmo as ondas de violência por causa do sentimento de posse em relação a esses espaços. No livro “A Alma encantadora das ruas”, o cronista e jornalista João do Rio escreve: “Os dicionários dizem: Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia”. Porém, o professor Ducas mostrou que a definição vai além, relaciona-se também com o imaginário de cada um, o que pode render histórias fascinantes.
‘Tivemos uma gangue da Rua Maranhão contra a gangue do Setor Rodoviário e quando as duas se juntavam era briga. Gerou um sentimento de pertencimento, porém para o extremo, para a violência”
Como se inicia a história de Imperatriz em relação às ruas? Ela inicia-se a partir de 1852, em uma expedição às margens do Rio Tocantins, vinda de Belém. Uma expedição política, mas de certo modo, religiosa, comandada por Frei Manoel Procópio. A partir daí, começa o desenvolvimento da cidade, tendo uma parte maior, mais velha, formada por pessoas mais tradicionais, por conta da origem. Como é caracterizada essa identidade tradicionalista que você comentou da Imperatriz velha? Então, falar de sociedade velha da cidade de Imperatriz é falar de tradições, de famílias antigas, e também do conservadorismo. Essas pessoas determinam a identidade, construíram um poder político e econômico pautado em grandes nomes, em tradições e, consequentemente, denominado conservadorismo. Professor, dessa forma temos duas partes em Imperatriz: uma chama-
Historiador e professor Lucellyo Albuquerque Ducas, 37 anos, pesquisador da sociabilidade a partir de estilos musicais da de nova e a outra de velha. Como pode ser caracterizada essa parte nova da cidade? Ela é caracterizada pela abertura da [rodovia] Belém-Brasília, ligada à criação da cidade de Brasília e da perspectiva da internalização do nosso país, na época do [então presidente da República] Juscelino Kubitschek. Assim, novos caminhos estavam sendo trilhados para a cidade de Imperatriz, que fica às margens do rio, e começava a pedir uma ligação com a nova rodovia. Surgiram outras vias de acesso, como a avenida Getúlio Vargas, Dorgival Pinheiro de Sousa, avenida Bernardo Sayão, com a perspectiva de integração do comércio de nossa cidade. Como se constrói a identidade dessas ruas e de tantas outras que vieram depois? A identidade de Imperatriz começa na parte velha, mas a partir do momento que há essa abertura da rodovia Belém-Brasília, outros grupos vão se formando aqui na cidade, pessoas oriundas do Rio RAFAETE DE ARAÚJO
“As pessoas criam identidades, vão criando essa ligação com costumes e tradições, criam esses enraizamentos. Chamou atenção a forma como as pessoas se sociabilizavam”
Grande do Norte, da Paraíba, do Ceará, do Piauí. Migrantes fugindo da decadência, em virtude da seca, em busca de uma qualidade de vida ou mesmo do pão de cada dia. Aqui, elas começam a se aglomerar em cantos diferentes. Por exemplo, algumas pessoas fixam-se na parte esquerda da cidade, onde o forte era o arroz, o moinho, formando a Nova Imperatriz. Outras começam a se fixar na própria área de mecânica, subindo mais para região do Entroncamento. Outras iniciam com as invasões, acreditavam que aqueles matagais poderiam ser habitáveis. Começa também a se desenvolver a parte direita da cidade, criando os bairros São José do Egito e o Bacuri. São essas comunidades, essas pessoas que vieram e começam a visualizar Imperatriz de uma nova forma, que vão dando identidade às novas ruas.
meçar, mas não era todo mundo que tinha esse acesso, era só a classe elitizada. Outro fator também foi a criação das boates, nas proximidades da cidade antiga, principalmente a Balaio, criada pelos irmãos dos balaios, o primeiro local com jogo de luzes, e não era mais uma elite. Assim, as classes menos favorecidas já conseguiam um espaço, começa a mistura entre o conservadorismo e o popular.
Para muitas pessoas as ruas são apenas locais de passagem e, para outras, elas possuem características próprias. Quais são os elementos que podem ser notados na caracterização das ruas? A primeira é a própria vizinhança, que se configura na criação dos filhos, nas brincadeiras antigas, no apadrinhamento de pular fogueira, numa liberdade que pouco a pouco vai sendo tirada. Dessa forma, as pessoas criam identidades, vão criando essa ligação com costumes e tradições, criam esse enraizamentos.
Músicas lembram muito o rádio. Por exemplo, no rádio as pessoas costumam mandar alô para as pessoas e para os ouvintes de determinada rua. Como é possível ver essa relação? Na verdade, no começo não existiam esses meios de comunicação que temos hoje. Tinha na verdade as vozes. Aqui tinha duas vozes [sistemas de som instalados em postes]: a voz Iracema, na Nova Imperatriz, e a voz Brasil. As pessoas davam ênfase em querer morar nessas ruas, porque ali tinha uma voz. Então entra a era do rádio. As ruas disputavam prêmios na rádio com base em quem cantasse melhor. O problema é que mais tarde isso gera violência, começam a surgir as gangues de rua, e houve morte, tudo em defesa de setores. Tivemos uma gangue da Rua Maranhão contra a gangue do Setor Rodoviário e quando as duas se juntavam era briga. Gerou um sentimento de pertencimento, porém para o extremo, para a violência.
As ruas são palcos de sucessivas representações da sociedade, como os múltiplos encontros realizados, além das trocas de experiências que mantêm as relações sociais. Quais as histórias que mais causaram impactos em você? Chamou minha atenção a forma como as pessoas se sociabilizavam. Tinha a Praça da Cultura, ali tinha um coreto para o político ou alguém que queria se manifestar em praça pública. Mais tarde, chegou o cinema e os bailes. Então era uma diversão, quando as pessoas escutavam uma música “x” já sabiam que o filme iria co-
E hoje, quais as ideologias que podem ser percebidas na formação de novas ruas? As mesmas das antigas, no sentido de que se cria um habitat, para depois se imaginar uma estrutura. Porque a gente observa que os bairros não foram projetados aqui, mas aquela ideia de ter uma moradia. Então cria-se uma comunidade para depois lutar por melhorias: “Minha rua não tem asfalto”; “Minha rua não tem esgotos”. Porque não foi planejada, nossa cidade não foi planejada, foi expandindo, criada, em parte, por invasões, histórias.
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MOVIMENTO As Quatro Bocas têm origem no fato de anteriormente existirem quatro prostíbulos no cruzamento entre a Ceará e a Bernardo Sayão, sendo um em cada esquina, gerando o nome inusitado
Avenida Bernardo Sayão: história e tradição VIVIANE REIS TEXTO DE: GABRIELA MAGALHÃES DIAGRAMAÇÃO: MARCILANIA SOUSA
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avenida Bernardo Sayão é uma das principais da cidade, e está localizada no bairro Nova Imperatriz, servindo de ponto de ligação entre outras regiões importantes. O nome é uma homenagem a um engenheiro chamado Bernardo Sayão Carvalho Araújo, que ajudou a construir Brasília e que foi designado para as obras da BR-010, onde a avenida começa. Bernardo morreu aos 57 anos em um acidente, quando uma árvore caiu em sua barraca, enquanto trabalhava na construção da rodovia Belém-Brasília. Na memória dos moradores antigos, a Bernardo Sayão em épocas passadas era uma rua de piçarra, que não tinha pavimentação e servia como uma das saídas da cidade. Hoje, a via virou uma avenida que possui vários pontos comerciais, e na qual existe um intenso fluxo de veículos. As Quatro Bocas, local mais conhecido da avenida Bernardo Sayão, fica no cruzamento das ruas Rio Grande do Norte e Ceará, no bairro Nova Imperatriz. Segundo o escritor imperatrizense José Henrique Guimarães, o nome tem sua origem no fato de anteriormente existirem quatro prostíbulos no cruzamento entre a Ceará e a Bernardo Sayão, sendo um em cada esquina, por isso Quatro Bocas. Cotidiano - São exatamente 8 horas da manhã de uma segunda-feira, já amanheceu na avenida Bernardo Sayão e sentimos uma brisa leve do começo do dia. O barulho dos carros já indica que as pessoas estão de partida para o trabalho depois de um longo final de semana. Observamos em suas expressões faciais que uns estão animados, enquanto outros ainda bocejam como se estivessem com sono. Seus rostos não escondem que o desejo era que fosse final de semana ainda. Na esquina do cruzamento das Quatro Bocas, os funcionários já estão sentados na calçada à espera de a loja abrir. Enquanto outros apreciam o vento que corre sobre seus cabelos, é possível ver suas fardas
Panelada tornou-se um dos pratos típicos tanto para população local quanto turistas. Vendida na avenida Bernardo Sayão, a iguaria ganhou fama e tradição, servindo de sustento para vendedoras
bem passadas, prontos para iniciar uma nova semana de trabalho. Durante o percurso, ainda estamos no local que é conhecido como Quatro Bocas, agora no cruzamento com a Rua Piauí, onde ela finaliza. Vemos adiante a academia muito movimentada, pessoas entram e
“Quando comecei a trabalhar aqui, não tinha movimento de banco, esses comércios eram todos terrenos baldios, lava-jato” saem com roupas coladas no corpo e suadas. Enxergam-se, ainda, feirantes montando suas barracas
com as verduras prontas para a venda. O fluxo aumenta e percebe-se que logo cedo as pessoas já saem às compras. Apressadas, escolhem rapidamente os temperos e verduras e seguem a caminho de casa. São exatamente 13h e o movimento das Quatro Bocas é diferente do que vimos pela manhã. O sol agora esquenta, ao contrário do frescor logo mais cedo. As paneleiras já começam a arrumar suas barracas e observamos que umas demoram mais que as outras. Ainda há pessoas saboreando o restaurante “de costa para rua”, como é conhecido o local de vendas, principalmente, de paneladas. Seguindo o percurso das Quatro Bocas, as feirantes ainda vendem suas verduras. Um senhor de cabelos grisalhos, blusa branca, short desbotado e usando havaianas, se aproxima da vendedora, e pede as VIVIANE REIS
Avenida Bernardo Sayão, que recebeu o nome do engenheiro essencial para a história da cidade, hoje abriga um agitado centro comercial paralelo
compras de hoje, como quem já tem intimidade. Passa-se uma hora e já escutamos os barulhos dos carros, o movimento aumenta, as pessoas estão retornando ao trabalho. Chega a noite e o sol já se pôs na avenida Bernardo Sayão, cruzamento com as Quatro Bocas. O
“O ponto das Quatro Bocas já existe há 70 anos, sofrendo várias modificações urbanas, mas sempre acolhendo múltiplas histórias de vida” fluxo de pessoas no Panelódromo é maior do que mais cedo e agora as paneleiras estão nas calçadas das lojas que já estão fechadas devido ao encerramento do trabalho. As farmácias continuam abertas, observamos que as pessoas entram e saem direto da loja, com expressões faciais de quem está atrasado para alguma coisa. Algumas vendedoras do Panelódromo já começam a retirar seus equipamentos, dando fim ao trabalho do dia. Logo na esquina, avistamos o Banco do Brasil, o movimento é maior que imaginara. São exatamente 20h e um grande fluxo de pessoas sai do estabelecimento. A expressão de medo é visível em seus rostos. O barulho dos carros é gritante e o quarteirão chega a ficar lotado de veículos, mas o sinal verde dá a largada e eles seguem para os seus destinos. Avistamos de longe um grupo de pessoas que aparenta ter 30 anos. Elas passam correndo fazendo caminhada, e o suor em seus rostos não disfarça o cansaço, mas seguem sorrindo ao seu destino final. As 21h
se aproximam e os carros que estão estacionados começam a se retirar. Diminuindo o movimento da rua, as paneleiras já estão de partida, cansadas, mas satisfeitas por mais um dia de trabalho concluído. Tradição - A panelada é a iguaria tradicional nas Quatro Bocas e de Imperatriz. Segundo as paneleiras, o ponto já existe há 70 anos, acolhendo histórias de vida como a de Maria da Paz, de 58 anos, que já trabalha há 28 com a venda. Ela afirma que hoje a Quatro Bocas mudou definitivamente de como era conhecida antigamente. “Quando comecei a trabalhar aqui, não tinha movimento de banco, esses comércios eram todos terrenos baldios, lava-jatos. Só tinha um açougue que era na Rua Piauí, os movimentos de carros eram poucos, aqui no panelódromo era lava-jato. Melhorou porque a gente vai trabalhando e sobrevivendo, e é sempre bom para a gente.” Um rapaz natural de Açailandia se aproxima e senta no restaurante de costas para a rua, acompanhado de uma moça. Os dois escolhem a barraca de dona Maria e pedem um prato bem caprichado. Percebemos pelo seu jeito de falar que ele possui uma relação de amizade com a vendedora. Trajado com uma blusa verde de mangas curtas, calça jeans e sapatos esportivos, ele saboreia a deliciosa panelada. Clede almoça na barraca de Dona Maria sempre que vem a Imperatriz. Há anos ele aprecia a deliciosa panelada e é só elogios ao prato. “Sou de Açailândia, mas sempre almoço com a Dona Maria. Quando venho em Imperatriz, escolho a sua barraca pela qualidade do seu prato servido e recomendo para muitas pessoas. Há anos como no mesmo lugar e não me arrependo de sempre escolher aqui para satisfazer a vontade de comer panelada”.
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AVENIDA MOACYR SPÓCITO
Conheça mais sobre o nosso aeroporto Prefeito Renato Moreira e sua avenida de acesso. Ambos completaram neste ano uma jornada de 45 anos na história de Imperatriz
Curiosidades sobre a pista do aeroporto ILBERTY DE OLIVEIRA TEXTO: ILBERTY DE OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: VITÓRIA CASTRO
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ocê, que é morador de Imperatriz, já ouviu falar da Avenida Moacyr Spósito Ribeiro? Ou uma avenida de nome mais simples, como Santos Dumont? Curiosamente, se alguém pesquisar por esses nomes nos sistemas dos Correios ou até mesmo no Google Maps, poderá ver que estas avenidas se referem ao mesmo local, conhecido popularmente como a pista de acesso ao aeroporto Prefeito Renato Moreira. Nos últimos anos em Imperatriz, podemos observar um crescente número de pessoas que sentem a necessidade de incluírem a prática de atividades físicas em seu cotidiano, principalmente a caminhada. Dentre estas pessoas, são muitas as que optam por locais públicos que proporcionem opções para tais exercícios. Uma prova disso são as recentes reformas na Praça Beira-Rio e na Avenida Pedro Neiva de Santana, que agora proporcionam espaços designados à prática de atividade física, bem como a criação do Complexo Esportivo e de Lazer Jurivê de Macêdo, localizado no fim Avenida Bernardo Sayão, que serve justamente para este propósito. E é nesta categoria de locais que se encontra a pista de acesso ao aeroporto da cidade. Dentre os entrevistados, poucos sabiam afirmar o nome da pista, ou sequer sabiam que a pista tem nome e título de avenida. Alguns afirmam que isso poderia ter ocorrido devido à placa que teria o nome da pista ter sido colocada bem após o seu final. De acordo com dados dos Correios, o nome oficial da Avenida é Moacyr Spósito Ribeiro, mas não se sabe ao certo porque ela aparece como Avenida Santos Dumont em alguns mapas da cidade.
Originalmente a pista não havia sido feita com o propósito da atividade da caminhada, assim como afirmam alguns dos frequentadores mais antigos da pista local, como o comerciante Humberto Balbino da Silva, 57. “Muitos vinham à pista pela sua extensão, não muito longa e não muito curta”. A pista se estende por dois quilômetros, e estes estão marcados no asfalto, possibilitando aos frequentadores acompanhar seu progresso na caminhada. “Antigamente a calçada era feita com bloco de granito, que é péssimo para caminhar. Dava para perceber que a rua não foi feita para caminhada”, analisa Humberto. Outros frequentadores também afirmam como a pista era mais perigosa antigamente. “Antes da reforma que fizeram aqui, bandidos podiam aparecer a qualquer momento. Agora tem mais policiamento por aqui”, confirma a dona de casa Maria do Carmo da Conceição, de 48 anos.
“Muitos vinham à pista pela sua extensão, não muito longa e não muito curta”, diz Humberto História - De acordo com os arquivos da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), a partir do final dos anos 1960, estudos comprovaram que era necessária a construção de um novo aeroporto, com capacidade de atendimento a aeronaves modernas e com melhores condições de infraestrutura. Foi escolhida uma área situada a 5 km do centro da cidade, onde seria possível construí-lo.
População de Imperatriz praticando atividades físicas com os novos aparelhos disponíveis na Avenida Moacyr Spócito
As obras do novo aeroporto foram executadas por administração direta da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (Comara) e concluídas em 25 de maio de 1973. É administrado pela Infraero desde 3 de novembro de 1980. Em 2000, o aeroporto recebeu seu nome em homenagem ao ex-prefeito Renato Cortez Moreira, assassinado durante seu mandato, em 1993. O Aeroporto de Imperatriz recebeu, em 2012, uma reforma e ampliação de seu terminal de passageiros, que aumentou as salas de embarque e desembarque, área de manuseio de bagagens com novas esteiras, terraço panorâmico e Centro de Operações Aeroportuárias. As melhorias apliaram a capacidade do aeroporto, proporcionando
conforto, agilidade e satisfação aos passageiros e usuários. Importância - Em fala concedida ao site Aviação Brasil, o superintendente do aeroporto, Enos Domingues, destaca que o terminal tem papel fundamental para a região por ser o único nas proximidades a receber aeronaves de porte médio, com aviação regular. “Os passageiros, em quantidade cada vez maior, chegam à cidade em busca de turismo e de negócios, e muitos estudantes, devido ao número crescente de universidades locais”, explica. Essa é a situação da estudante de medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Gabriela Alencar, de 24 anos, que nos conta como sua família mora
em Uberlândia, e ela mora em Imperatriz para realizar seu sonho de receber seu diploma e exercer a profissão de médica. “Todos os anos eu viajo para Uberlândia para passar o final de ano com minha família”, explica. “Eu até reparei como melhoraram o aeroporto e a rua, ficou bem melhor para mim”. Finalmente, em março de 2017, o governo do Estado, junto com a Infraero e com contribuição do Rotary Club de Imperatriz, reformaram a pista com objetivo de criar um melhor espaço designado aos praticantes de caminhada bem como proporcionar outros aparelhos para diversas outras atividades físicas. A pista de acesso ao aeroporto se vê lotada de frequentadores todos os dias da semana, entre as 17h e as 19h.
Você sabia? Em Imperatriz também ocorrem acidentes de avião ILBERTY DE OLIVEIRA
TEXTO: ILBERTY DE OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO: VITÓRIA CASTRO
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Praticantes de caminhada ao lado da placa que sinaliza a entrada para o aeroporto Prefeito Renato Moreira
Aeroporto Prefeito Renato Moreira não foi originalmente o primeiro de Imperatriz. No final da década de 1930, a cidade era atendida pelo transporte aéreo regular graças aos hidroaviões (Junker) operados pelo Syndicato Condor, que utilizou o rio Tocantins de 1939 a 1945. No final da Segunda Guerra Mundial, passou a ser utilizado um aeroporto na área onde hoje se localizam diversos órgãos públicos: Hospital Regional, Universidade Federal do Maranhão, Funai, Fundação Nacional de Saúde, Fórum, Senac, Colégio Dorgival Pinheiro de Sousa, Colégio Graça Aranha e Senai. A pista de pouso media 200m x 30m, coberta de terra e cascalho. O aeroporto apresentava risco permanente de interdição no período chuvoso, quando os
voos regulares eram suspensos. Em 18 de abril de 1984, um avião tipo Embraer Bandeirante da Votec, de prefixo PTGJZ, colidiu no ar com outro Bandeirante da mesma empresa, de prefixo PT-GKL. O PT-GKL fez um pouso forçado no Rio Tocantins e dos seus 17 ocupantes, 16 sobreviveram. O PT-GJZ perdeu o motor esquerdo e parte da asa do mesmo lado, entrou em parafuso e caiu, causando a morte de todas as 18 pessoas a bordo. Na época, era intenso o movimento de aeronaves de pequeno porte em Imperatriz. O aeroporto não possuía torre de controle e toda a coordenação dos tráfegos era feita precariamente pelos próprios pilotos. Somados a isso, um atraso de 20 minutos no voo do PP-GKL e as condições climáticas no período chuvoso foram fatores determinantes para o acidente.
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TRANSFORMAÇÃO Avenida Newton Bello é repleta de transformações, que ocorreram desde seu nome até sua forma física. Seus moradores relembram as mudanças e as melhorias que a via sofreu ao longo dos anos
Das ocupações ao desenvolvimento urbano LAIS SOUSA
não se importavam com a situação da rua. Foi necessário muita briga para mudar a situação”, revelou. Jorge confessa que as reformas que a rua sofreu foram muito importantes, pois a Newton Bello costuma ser bastante movimentada e, na década de 1990, era muito utilizada principalmente por jovens. A via dava acesso a diversos clubes de festa no bairro Santa Rita, como por exemplo, o Casa Blanca e o bar do Chico do Rádio. “Os jovens hoje em dia não vão mais em festas, mas antigamente essa rua aqui servia de passagem para vários eventos por esses rumos”, recordou o aposentado.
“Quando eu cheguei aqui em Imperatriz, essa rua se chamava Ceará” Avenida Newton Bello atravessa dois grades bairros da periferia de Imperatriz, cumprindo justamente a função de ligá-los ao centro da cidade TEXTO: LAIS SOUSA DIAGRAMAÇÃO: ANA LECTICIA
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niciando-se no bairro Santa Rita e terminando no São José, a avenida Newton Bello tem aproximadamente cinco quilômetros de comprimento. Por percorrer um dos maiores bairros de Imperatriz, no caso o grande Santa Rita, a avenida é repleta de casas e condomínios, apresentando também diversidade em comércio, como madeireiras, lojas que vendem mudas de árvores e clínicas odontológicas. O comerciante Carlos Leal, 50 anos, mantém o seu comércio na
rua há mais de três anos e afirma que escolheu esse local por ser uma via de muito trânsito, o que facilita bastante o seu negócio. “Essa rua aqui é boa, menina. Eu não escolhi ela por acaso. Por aqui passam todo dia milhares de carros e pessoas que sempre consomem algo. Os lucros são bem proveitosos”, contou. O comércio do senhor Leal fica localizado bem em frente ao cemitério Campo da Saudade e em relação a isso ele afirma: “Olha, alguns clientes se incomodam, mas não deixam de vir”. Ao chegar em Imperatriz, em 1988, Leal conta que a rua Newton
Bello não se chamava assim. “Quando eu cheguei aqui em Imperatriz essa rua se chamava Ceará”. O nome foi mudado para homenagear um ex-governador do Maranhão. Já o aposentado Francisco de Assis Franjano Jorge, 65 anos, morador da rua há mais de 30, conta que ainda costuma chamá-la de Ceará e relembra que a avenida já foi uma estrada de chão e, em seguida, após muitas reinvindicações, foi posta uma piçarra e, por fim, um asfalto. Conta também que boa parte das casas construídas em volta da rua surgiram a partir de invasões. “Na época das invasões os governos
A avenida, que tem sentido duplo, é uma das vias mais movimentadas na cidade, afinal ela liga o centro de Imperatriz com suas periferias, gerando, assim, um trânsito bastante intenso. Porém, mesmo com o constante movimento de veículos e pedestres, a ocorrência de acidentes é rara. O comerciante Leal recorda que estes eram mais comuns no cruzamento das ruas Ceará com Padre Cícero, Floriano Peixoto e a avenida Newton Bello. O problema foi solucionado em novembro de 2014, quando a prefeitura atendeu à solicitação de moradores e motoristas e instalou um semáforo no cruzamento, dimi-
nuindo assim o número de acidentes e o congestionamento nas vias. Na primeira semana de novembro de 2018, a Secretaria de Transportes e Trânsito (Setran) introduziu uma faixa de pedestres na avenida, próxima ao semáforo, considerada de extrema necessidade. “Sempre pedimos para que essa faixa fosse instalada, é muito difícil fazer a travessia das duas pistas. É arriscado para mim, que sou idoso e para os meninos, que vêm da escola. Nunca houve nada, mas é melhor prevenir do que remediar”, concluiu o aposentado. Árvores - A avenida Newton Bello percorre boa parte da região do grande Santa Rita. Esse bairro é o mais arborizado de Imperatriz. É possível perceber essa abundância de árvores ao percorrer a via. Assim como é perceptível a presença de árvores e de floriculturas, também são evidentes as madeireiras. Segundo a florista Andreia Pereira Lima, 34 anos, é desmotivante ver que se vendem mais árvores mortas que vivas. “Por dia, costumo vender apenas um ou dois brotos. Mas meus colegas que trabalham vendendo madeira, vendem dezenas só em uma manhã”, lamentou. Já o carroceiro Antônio Vaz Pereira, 55 anos, relata que a rua Newton Bello sempre foi bastante utilizada com o transporte de cargas. E nos últimos anos, para o carregamento de madeiras. “Não me orgulho de carregar todos os dias centenas de madeiras. Mas foi nessa labuta que sustentei toda a minha família. Foi aqui também, em especial nessa rua, que fiz grandes amigos”, declarou o carroceiro.
Avenida Newton Bello tem o maior cemitério de Imperatriz TEXTO: LAIS SOUSA DIAGRAMAÇÃO: ANA LECTICIA
O
s cemitérios eram construídos longe dos centros populacionais, pois assim evitava-se que as pessoas estivessem em constante “encontro” com os mortos. Mas quando ocorreu o crescimento populacional junto com a imigração do campo para a cidade, as casas e o comércio começaram a ficar cada vez mais próximos dos outrora tão temidos cemitérios. Segundo Francisco de Assis Jorge, a necessidade tomou conta do receio. “As pessoas precisavam morar em algum lugar, não podiam ter medo”. Certamente o temor foi superado, afinal a rua Newton Bello possui o maior cemitério da cidade, com mais de 40 anos e à sua volta estão dispostas dezenas de casas e há até mesmo paradas de ônibus na porta do local. O aposentado José Pereira Lima, 65 anos, que costuma pegar ônibus diariamente na
porta do cemitério, deixa claro que não sente nem um pouco de medo, pelo menos no período matutino. “Fico de dia aqui de boa, mas não me chame pra vim pra cá de noite não”, comentou. Opinião semelhante à da aposentada Maria Mathias de Almeida, 61 anos, que também pega ônibus todos os dias na parada do cemitério para ir à Casa do Idoso. “Não tenho o menor medo, daqui uns dias vamos parar aí, mesmo”. De acordo com Leal, já houve muitas histórias envolvendo o cemitério, mas ele mesmo nunca viu nada. “Havia histórias de crianças que ficavam chamando as pessoas para entrar no cemitério. Mas eu acho que é tudo mentira. Minha vizinha trabalha limpando covas e nunca viu nada”, considerou. Já Jorge aproveita o cemitério para tirar uma renda extra. No mês de novembro, aproveita o Dia dos Finados para vender coroas de flores. Ele realiza essa atividade comercial há mais de 22 anos e garante que consegue tirar uma graninha. “Temos que aproveitar as opor-
LAIS SOUSA
Vendedores ambulantes aproveitam o Dia dos Finados para tentarem fazer uma renda extra, garantindo o sustento mensal
tunidades, eu não mexo com eles e eles não mexem comigo e está tudo bem” , brinca, referindo-se aos mortos. Seguindo o mesmo pensa-
mento financeiro do seu Jorge, a dona de casa Rosa Vieira Jorge, 45 anos, vê na avenida, em especial no Dia de Finados, uma ótima oportunidade de faturar
uma renda extra. “Sempre venho vender coroa e geladinho no dia 2 de novembro. Essa rua aqui pra mim é ponto de trabalho”, pontuou.
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INDUSTRIAL A Industrial é uma avenida ainda jovem, porém que já possui uma história marcante de existência ainda não conhecida por grande parte da população da cidade de Imperatriz
Uma Transamazônica dentro de Imperatriz BRUNO SANTOS TEXTO: TÁYRON CHAGAS DIAGRAMAÇÃO: LYANDRO NUNES
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uem chega à Avenida Industrial se depara com uma via de pouca idade e ainda em evolução, porém, que fez e faz parte da história e da criação dos bairros que ela corta e liga. Seu nome, alguns moradores acreditam que tenha relação com a industrialização da cidade. A Grande Industrial, como também é conhecida, inicia no bairro Santa Inês, e ao longo do seu trajeto passa por diversos outros, como Santa Rita, Bom Sucesso, São José, Novo Horizonte, Parque São José, Parque Planalto e Vila Macedo. Justamente por conta dessa ligação entre inúmeros bairros, a avenida possui grande importância para os moradores das redondezas. Via de ônibus, táxis e outros tipos de transportes coletivos acabam tornando-a a principal avenida deste lado da cidade de Imperatriz. A avenida também é palco de desfiles em alusão ao 7 de Setembro que todos os anos são realizados com as escolas do Polo Santa Rita na Semana da Pátria, alguns dias antes do desfile oficial, que ocorre no centro da cidade. Apesar de ser apenas um polo, o evento é bem organizado e bonito de se ver. Um dos moradores mais antigos da avenida, Ronaldo Landes, mais conhecido como “o cantor”, é uma grande figura da localidade e conta um pouco da história de como surgiu a Avenida Industrial. Ele diz que a rua teve início na época em que o prefeito da cidade era José Ribamar Fiquene, na década de 1980, há aproximadamente 30 anos. “Aqui tudo era mato, a antiga fazenda do finado Zuzinha”, conta Ronaldo, apontando para as casas que beiram a avenida. Quem vê a Industrial tão cheia de casas com arquiteturas modernas, lojas, supermercados, farmácias, casa lotérica e até mesmo um posto policial recém-reformado, não imagina que ali, há apenas três décadas, era uma grande fazenda. Ronaldo orgulha-se de ter participado de parte da evolução de sua rua. “Passei 15 anos para conseguir
o complemento desse asfalto, e eu consegui no governo do prefeito [Sebastião] Madeira”. Agora ele busca o recapeamento, para melhorar a avenida e sua sinalização, pois para ele a via ainda é um tanto perigosa. Morando no mesmo local há 26 anos, ele relembra de forma honrosa que desde que se iniciaram os desfiles da Semana da Pátria por lá, a concentração se dá sempre na frente da sua casa. “Começa bem aqui na minha porta”. Mais abaixo, próximo ao cruzamento mais conhecido como Ponto–X, onde a avenida é cortada pela grande rua Santa Rita, mora Cicerino Ribeiro. Ele explica que essa parte da Industrial ficou conhecida assim porque justamente neste ponto existia um local de festas que costumava deixar a rua totalmente tomada pelo público que a visitava. “Aqui na minha porta era tanta gente, que nós ficávamos até com medo, todo mundo estranho”, conta Cicerino. O local era visitado por gente de diversos bairros da cidade, mas hoje no espaço só funcionam um pequeno restaurante e um simples lava jato, porém o nome vai ficar para sempre marcado na história da Avenida Industrial.
“Passei 15 anos para conseguir o complemento desse asfalto, e eu consegui no governo do prefeito Madeira”
Variedades- Seu comércio é bastante variado. Com predominância de oficinas para bicicletas e motos e casas de materiais para construção que podem ser encontrados de uma ponta a outra da via, é possível durante o dia observar um grande fluxo de carroças e caminhões que transportam materiais para o ramo da construção. Já durante a noite, aparece o ramo campeão na avenida. Os bares, depósitos de bebidas e espetinhos podem ser encontrados pelo menos dois em cada quartei-
Avenida Industrial, que funciona como ponto de referência e tem grande importância para os moradores do Santa Rita, Santa Inês e os demais bairros vizinhos
rão. Um ponto muito conhecido no local é popularmente conhecido como Três Bares, que era a junção de três estabelecimentos literalmente, e que funcionavam em conjunto. Atualmente o lugar não possui mais todos os três, porém o que restou ainda leva o mesmo nome até mesmo por questão de reconhecimento. A Avenida Industrial também é lugar de prática de exercícios. Muita gente pratica caminhada durante o período da manhã. Helena, moradora da localidade, conta que gosta muito de praticar seu exercício matinal na avenida, e além de não achar perigoso apesar de não ter muita segurança, ela encontrou uma grande oportunidade de ajudar o meio ambiente e lucrar ao mesmo tempo. Dona Helena aproveita a caminhada para catar latinhas e arrecadar alguns trocados com a venda. “Tem dias que a gente vai indo e passando pelos bêbados ainda saindo das festas, cinco horas da manhã”, conta ela, com muito humor. BRUNO SANTOS
A Industrial corta diversos bairros e passou a fazer parte do crescimento econômico imperatrizense, principalmente por sua localização privilegiada
TÁYRON CHAGAS
Clube de Reggae Swing Brasil, antigamente chamado de Casa Blanca, funciona desde 1998
O ritmo da Industrial
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clube de reggae Swing Brasil é um dos principais expoentes culturais e de movimentação da via. Referência na localidade, não há quem não saiba onde o encontrar. Há 20 anos fazendo a alegria da massa regueira no mesmo ponto onde está localizado até hoje, Raimundo, mais conhecido como Papagaio, fundador do clube, conta que o movimento do reggae na região teve início na praça do Santa Rita, na década de 1980. Porém, com o grande fluxo de visitantes, a festa teve que ser transferida para a Casa Blanca, na mesma localidade onde resistiu até o ano de 1998. E a partir daí, surgiu o tão falado Clube de Reggae Swing Brasil. O clube já funciona na Avenida Industrial há duas décadas e, neste período, ocorreu o surgimento da famosa equipe de som Land Mix, exclusiva do Swing e que é conhecida em todo o Maranhão. Nessa equipe de reggae foi onde o grande DJ Ceará, o DJ de reggae mais antigo da cidade, iniciou a sua carreira e terminou por conta de uma morte repentina. O seu sucessor
foi o DJ Odair, que deu lugar a outros DJ´s no Swing, mas que continua viajando e fazendo seu trabalho tocando em muitas festas Maranhão afora. Odair conta um pouco de sua carreira junto ao movimento do reggae e revela que tinha aproximadamente 16 anos quando começou a trabalhar na antiga Casa Blanca. Porém, ele não entendia nada dos aparelhos, então, enquanto fazia seu trabalho de zelador, observava os demais DJ´s da casa tocando. “Eu observava os outros tocando e fui aprendendo”, comenta. Certo dia, o principal DJ da equipe Land Mix adoeceu e não pôde comparecer. Foi aí que a sorte sorriu para Odair, que pediu uma oportunidade de tocar na festa ao Papagaio. De lá para cá, DJ Odair foi ganhando espaço e visibilidade e nunca mais parou. Atualmente o local funciona apenas às sextas e aos domingos. Muita gente, de inúmeros bairros, é atraída para essa grande festa. Gravações de DVD´s, noites comemorativas e muito mais se encontram no Clube Swing Brasil.
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VIA ANTIGA Criada no verão de 1975, a rua leva o nome do jornalista e escritor Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, conhecido pela obra notável do movimento pré-modernista intitulada “Os sertões”
Euclides da Cunha: principal rua da Vila Nova LAÍS GOMES
Movimentação diária e constante na Praça Ferro de Engomar, localizada na rua Euclides da Cunha. O que por muito tempo foi um beco sem saída tornou-se o cruzamento mais movimentado do bairro Vila Nova
TEXTO: LAÍS GOMES DIAGRAMAÇÃO: JÉSSICA LIMA
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ila Nova é um dos bairros mais antigos de Imperatriz e servia para ligar esta cidade a João Lisboa (antes conhecida como Gameleira). Com a expansão da rua São Sebastião, surgiu a Euclides da Cunha, outrora nomeada Rua Principal. Como o bairro cresceu sem planejamento, a rua Euclides da Cunha parecia um beco sem saída. Foi aí que criaram outra via, a Tancredo Neves. Havia um espaço desocupado, com o formato de triângulo isósceles. Então surgiu a oficialmente nomeada Praça Manoel Cecílio, mais conhecida como Praça Ferro de Engomar, devido à sua semelhança com o formato do eletrodoméstico. A rua tem o nome do escritor e jornalista Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha. Nascido em Cantagalo (RJ), estudou na Escola Politécnica e na Escola Militar da Praia Vermelha, tornando-se brevemente um militar. Ingressou no jornal A Província de S. Paulo — hoje O Estado de S. Paulo — enquanto recebia título de bacharel e primeiro-tenente. Em 1897, tornou-se jornalista correspondente de guerra e cobriu alguns dos principais acontecimentos da Guerra de Canudos, conflito dos sertanejos da Bahia liderado pelo religioso Antônio Conselheiro contra o Império Brasileiro. Os escritos de sua experiência em Canudos renderam-lhe a publicação de “Os Sertões”, considerado uma obra notável do movimento prémodernista que, além de narrar a guerra, relata a vida e sociedade de um povo negligenciado e esquecido pela metrópole. Reconhecido por seu trabalho, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1903. João Macário de Souza, 78 anos, se mudou para a Vila Nova Imperatriz em 2 de janeiro de 1975. Na época estava com 35 anos, já era casado e tinha dois filhos. “O bairro só ti-
nha nome, não tinha rua nenhuma, tinha poucas casas. Só tinha um caminho, ia da rodoviária direto para Rua Principal”, hoje, nomeada de Euclides da Cunha. A rua passava por dentro do Jardim São Luís, era como se fosse uma avenida grande. Nessa época, João Macário se instalou pelo bairro e começou uma nova vida com a família. Só havia casas na rua Euclides da Cunha, chamada de rua A, porque antigamente as vias tinham nome de letras ou de números. “No tempo que era nome de letra, eu achava melhor, era mais fácil de decorar as ruas. Agora eu nem sei o nome de todas elas”, afirmou ele, rindo enquanto tentava lembrar o nome de mais vias. Ele se recorda bem de quando chegou no bairro. “Antes era só mato e riachos, tiveram que começar do zero mesmo. Deu muito trabalho”. No verão de 1975, as ruas do bairro Vila Nova começaram a ser abertas, sendo as primeiras: Euclides da Cunha (que até então era conhecida apenas como Rua Principal), São Sebastião, Padre Anchieta e João Palmeira, até sair na Babaçulândia. Como um dos primeiros moradores do bairro, Macário afirma que o primeiro ano foi muito sofrido. “A gente não tinha onde comprar verduras, carne, remédio... nada! Não existia táxi naquela época e nem tinha estrada, a gente quase nunca ia no centro, porque não tinha como ir.” Casado há 55 anos com Maria das Neves Lima Souza e pai de oito filhos, ele passou muitas dificuldades, mas aos poucos conseguiu se estabilizar e cuidar da família. Só a partir dos anos 1980 começaram a surgir os primeiros investimentos comerciais. Como não havia loteamento planejado, as invasões eram comuns. Os primeiros moradores e os próprios invasores é que indicavam o nome das ruas. No início não havia policiamento no bairro, por isso aconteciam
muitos assassinatos. “Na época de 80, dois homens foram roubar o comércio de um homem chamado Mineirinho. Ele pegou a arma, foi atrás deles e matou os dois”. João Macário afirma que eles temiam andar nas ruas, tarde da noite. “Teve uma vez que o próprio Mineirinho pegou outro bandido e matou na pracinha (Ferro de Engomar), na frente da população, foi o mais chocante pra mim. Depois ele desapareceu e ninguém nunca mais ouviu falar dele”. Depois de um tempo, Macário comprou uma casa e fez uma oficina. “Era meu ganha-pão na época, trabalhei muito com isso”. Em meados dos anos 1980, o garimpo estava no auge, a Serra Pelada era o assunto do momento. João conta que uma vez modificou a capota de uma S-10 da igreja. “O povo ficou impressionado com meu trabalho e começaram a fazer encomendas”. Segundo ele, a Serra Pelada começou a dar dinheiro e o povo comprou muitas caminhonetes. “Umas oito pessoas trabalhavam comigo nessa época, eu não dava conta de tanta encomenda”. Até o ano de 1987, ele tirava o sustento da família na oficina. Macário conta que uma vez aconteceu um incêndio na oficina e queimou tudo. Depois do ocorrido, ele se mudou, construiu uma nova casa, onde mora atualmente, e começou a trabalhar com móveis planejados. “Nesse tempo trabalhei com menos pessoas, mas vivia muito bem”. Aos poucos ele começou a colocar seus filhos para trabalhar na marcenaria com ele. “Hoje não dou conta de fazer mais nada, nem saio de casa, praticamente, mas meus filhos tomam de conta da oficina. Eles também tiram o sustento da família deles da Móveis Macário”. Rua Principal - A Rua Euclides da Cunha, por ser a principal do Bairro Vila Nova, com um grande fluxo de
motos, carros, ciclistas, pedestres e até carroças, é a mais movimentada. Quem vai para o centro, quase que obrigatoriamente passa por lá. Ela também é a rota dos ônibus: Bom Jesus-Vila Nova (linha 20), Vila Fiquene (linha 02) e Cacauzinho (linha 19). Drogaria, padaria, lotérica, açougue, lojas, sorveterias, restaurantes e igrejas são alguns dos muitos estabelecimentos espalhados pela Rua Euclides da Cunha. Joseane Cardoso, dona do Ateliê JR, localizado na rua 15 de novembro - Vila Nova -,
conta que os clientes encontram o Ateliê porque ela indica a Rua Euclides da Cunha como ponto de referência. “Todos conhecem a Rua Principal, sempre digo: peguem a Euclides da Cunha que não tem erro”. Luís Felipe dos Santos Silva, mais conhecido como Felipão, 22 anos, mora no bairro desde quando era criança. “No meu tempo a gente brincava na rua até tarde da noite. Não tinha essa bandidagem que tem hoje, por isso as ruas eram mais seguras. Saudades desse tempo.” LAÍS GOMES
Praça Ferro de Engomar continua sendo o principal ponto de encontro na Rua Euclides da Cunha
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BACURI Moradores se mostram entusiasmados com a expansão comercial atual da rua, já que onde antes só havia pequenas quitandas hoje se encontra um centro comercial bem mais amplo e dinâmico
As transformações da Rua Leôncio Pires RAFAELA PINHEIRO TEXTO: RAFAELA PINHEIRO DIAGRAMAÇÃO: CARLÚCIO BARBOSA
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om o passar dos anos, as ruas de Imperatriz, que antigamente eram vias esburacadas, com mato, lama e areia, hoje se transformaram em função da expansão econômica e urbana em vias – em sua maioria - pavimentadas, cheias de casas e edifícios residenciais ou comerciais. Atualmente, algumas ruas, principalmente as do centro, deram origem a um núcleo comercial de grande importância, sobretudo a rua Leôncio Pires Dourado, no bairro Bacuri, antes conhecida por rua Amazonas ou Cumaru. De acordo com alguns moradores antigos da cidade, o bairro Bacuri é o mais velho de Imperatriz e a rua Leôncio Pires Dourado era o único caminho que dava acesso à entrada e saída da cidade. No presente, a rua ainda contém elementos de seu passado, como por exemplo, a Praça da Bíblia, que evoluíram junto com ela. Passado - Alfileno de Sousa, de 86 anos, conta que veio de Pedreiras para morar em Imperatriz, no dia 3 de setembro de 1969. Ele relembra que no início da década de 1970 habitava uma casinha de piaçaba e que negociou a compra do terreno por um botijão de gás. Ainda hoje reside em frente à Praça da Bíblia desde que chegou, há 49 anos, tendo sido um dos primeiros moradores, quando ainda se chamava Rua Cumaru. Referindo-se à antiga via, Sousa conta que na época que chegou ainda não havia muitas casas, apenas terra e mato. Ao relembrar a evolução da rua, ele comenta que a primeira pavimentação do local e também de Imperatriz ocorreu durante o governo do então prefeito, Carlos de Amorim. “Ele foi o primeiro prefeito que fez benefício nessa rua. Fez essa Praça da Bíblia, mas antigamente era Praça
Rua Leôncio Pires abriga a Praça da Bíblia, Quartel Militar, Corpo de Bombeiros e um grande comércio: “Hoje temos uma cidade mais servida”, afirma Alfileno de Sousa, que morava em uma casa de piaçaba
Imigrante. Vi essa praça nascer”, enfatiza. Hoje essa rua é considerada uma das melhores avenidas, segundo Alfileno. “É entrada e saída de Imperatriz. Antes era mão dupla. Hoje só faz subir, não desce mais”. Sobre a trajetória histórica da rua, ele conta que quando chegou aqui, na Rua Leôncio Pires Dourado, ainda não existiam supermercados, o Corpo de Bombeiros, o Quartel da Polícia Militar, nem a atual Feirinha do Bacuri. Entusiasmado com a grandeza comercial atual da rua, Sousa diz que hoje ela possui um grande comércio. “Antigamente, compráva-
RAFAELA PINHEIRO
mos na quitanda, mas não tinha esse negócio de supermercado. Aqui tinha o Pegue e Pague. Chegava lá, comprava e tinha que pagar, e depois surgiram outros mercados. E hoje temos uma cidade servida, graças a Deus!”. Lembranças - Outro pioneiro da rua é Antônio de Sá, também de 86 anos. Ele conta que na época em que veio morar na rua Leôncio Pires Dourado, o local era só uma pista de areia e tucum rasteiro, cujos espinhos “apregavam” nas roupas de quem trafegava nela. Sá lembra que na rua, em frente à atual Praça da Bíblia, havia um matadouro
kg, e a água era limpinha, gostosa pra gente banhar e brincar”, comenta ele. Sobre as mudanças que aconteceram na via, Antônio conta que presenciou a chegada da energia elétrica, instalação de poste de madeira nas ruas, e o surgimento dos primeiros talões de energia, o qual guarda até hoje como recordação. Ele também recorda que a primeira Exposição Agropecuária de Imperatriz (Expoimp) da cidade ocorreu na Praça da União, mas depois o evento mudou-se para o local da Feirinha do Bacuri, exatamente onde se encontra hoje a loja Eletro Matheus.
Zeziel Sousa assume o papel de “historiador” por ser um dos antigos moradores da rua TEXTO: RAFAELA PINHEIRO DIAGRAMAÇÃO: CARLÚCIO BARBOSA
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Um dos primeiros moradores da rua, Antônio de Sá, 86 anos, ao lado do seu filho, Francisco de Sá
e um outro onde hoje se localiza o Posto de Gasolina Buriti. Naquela época, havia apenas três casas ao longo da rua inteira, sendo a primeira o matadouro, a segunda a do seu Sá e a última em frente ao atual quartel. Nessa época, a residência de seu Sá era simples. “A nossa casa era de taipa com barro e muita areia,” lembra. Com voz saudosa, relembra que no riacho Bacuri as pessoas pescavam, banhavam, lavavam roupas, e canoas vinham do rio Tocantins e circulavam sob a ponte, que na época era de madeira. “Antigamente, no rio que passa debaixo dessa ponte, pegávamos peixe de até 1,5
eziel Sousa reside na rua Leôncio Pires desde 1973. Hoje, trabalha como taxista na Praça da Bíblia, emprego que mantém há 13 anos. Ele recorda de como era a rua em seus aspectos, e descreve como a sua evolução trouxe grandes melhorias para os seus moradores. Segundo Zeziel, perto de sua habitação “não tinha nenhuma casa, era uma quinta cheia de gado, uma rua com muita lama e mato. E do jeito que está hoje, está um pedacinho do céu, a vista do que era. Agora, estamos bem no centro da cidade, praticamente”, afirma com alegria. Ele comenta satisfeito que a melhor parte da evolução da rua foi a construção da Praça do Imigrante,
em 1978. Referindo-se às reformas ocorridas nesse local, explica que essa é a “terceira praça”. Para Ziziel, a segunda surgiu da sua primeira reforma, porque a partir daí passou a se chamar Praça da Bíblia.
“Do jeito que a rua
está hoje, está um pedacinho do céu, a vista do que era antes”, diz Zeziel
E, por fim, a terceira ocorreu com a segunda reforma da atual praça, a qual manteve o nome, porém, modificou toda sua estrutura para oferecer aos moradores um espaço de esporte e lazer.
Melhorias - Ana Rosa de Sousa, de 53 anos, reside na rua há 20, e acompanhou a instalação do esgoto e pavimentação. Segundo ela, “investiram muito bem” na infraestrutura da via, principalmente a respeito do esgoto, o qual continua importante até o dia de hoje. Conta ela que, quando passou a morar na via, esta tinha mão dupla e se chamava rua Amazonas. E, inclusive, ainda recebe conta de luz com o CEP dessa localidade. Hoje, ela considera a rua Leôncio Pires Dourado uma das principais do bairro, não só pelo fator comercial, mas pela Praça da Bíblia. “A revitalização dessa praça ficou muito boa para se exercitar. Inclusive, eu caminho nela todo final de tarde. Não tem coisa mais agradável do que ir pra lá e ver uma praça que realmente está toda organizada”, elogia.
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CENTRO FESTIVO Para desafogar o trânsito na área central da cidade, a rua Santa Teresa tornou-se uma avenida, o que exigiu a abertura da via na altura da escola Graça Aranha e acabou gerando uma nova praça
Santa Teresa e seu histórico de festas juninas ACERVO FAMÍLIA LIMA DE OLIVEIRA TEXTO: SARA KALINNE DIAGRAMAÇÃO: MARIA FRANCINEIDE
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rua Santa Teresa, atualmente denominada avenida Santa Teresa, é uma via localizada no Centro de Imperatriz, que passou a assumir uma importância maior após ser redirecionada atrás do terreno da Escola Graça Aranha, entre as ruas Y e Simplício Moreira, possibilitando uma melhora no fluxo de trânsito. Com o mesmo nome da principal igreja católica da cidade, a avenida guarda muitas memórias sobre a cultura e a história de Imperatriz. Uma dessas lembranças é de que a rua foi uma das pistas de voo para um monomotor modelo Wacco, sob o comando do aviador militar Rui Presser Belo, que inaugurava a pista recém-construída, como conta no livro “Apontamentos e Fontes para a História Econômica de Imperatriz”, o historiador Adalberto Franklin. Essa via era anteriormente conhecida por abrigar muitas festas juninas, período que se consolidou como um dos mais celebrados pelo imperatrizense e que já faz parte da cultura local e regional. Tradicionalmente, as Festas Juninas começam no dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio e encerram no dia 29 do mesmo mês, dia de São Pedro. Já nos dias 23 e 24, é celebrada a véspera e o dia de São João. Ela é comemorada principalmente na região nordestina e conta com comidas típicas, danças e muito forró. As tradicionais folias recebem ainda diversas atrações musicais, além de brincadeiras características, tais como a barraca do beijo e o casamento caipira. Por gostarem tanto dessa típica festa e vendo como eram poucos os lugares em que realmente podiam brincar, os moradores da rua Santa Tereza decidiram eles mesmos organizar sua própria festividade, como conta Rosilene Pereira Gonçalves, uma das idealizadoras do projeto. “Eu sempre gostei e achava bonitas as brincadeiras de antigamente. Era um sonho meu começar a dançar quadrilha na rua.’’ Para abrigar a festa, a rua Santa Teresa
Antigas quadrilhas animavam as ruas em tempo de festas juninas, trazendo muita alegria, mas hoje ficou só a lembrança dos antigos moradores
era fechada por dois quarteirões e os organizadores precisavam de um alvará da prefeitura. ‘’A licença era um dos principais problemas enfrentados, mas graça a Deus que conseguíamos da prefeitura’’, explica Rosilene. Além da licença, havia a necessidade de convidar os moradores das proximidades, mas como conta a fundadora, a maioria aceitava participar. “A gente pedia autorização nas casas para poder levar a licença até a prefeitura e muito morador aceitava. Já os organizadores pediam patrocínio aos moradores, que sempre ajudavam com o que podiam para a festa acontecer”, complementa a idealizadora. As festividades também geravam uma fonte de renda para algumas pessoas, que participavam e vendiam comida nos locais, como conta a moradora Maria de Jesus, residente há 41 anos na rua. Ela diz que além de gostar bastante da celebração, ainda conseguia um dinheiro extra para ajudar em casa. “Gostava muito da quadrilha aqui na rua porque
era bem animada. Na época eu vendia espetinho, canjica e várias outras comidas típicas. Conseguia um bom dinheiro para as despesas de casa’’, relembra a vendedora.
“Eu sempre gostei e achava bonitas as brincadeiras de antigamente. Era um sonho meu começar a dançar quadrilha na rua’’ Ainda existiam os que dançavam na quadrilha, como é o caso de Rosimeire Lima de Oliveira, que é moradora da rua há 30 anos. Segundo ela, havia muita diversão e a atividade da dança nos meses de junho era uma das mais prazerosas. ‘’Eu gostava bastante, dançava muito.’’ A quadrilha na rua Santa Teresa du-
rou sete anos. Rosilene explica que a festa acabou por conta das gangues que começaram a surgir e acabaram por arruinar a diversão com confusões e roubos. “A gente desfez por conta da ameaça daquelas gangues, começaram a ficar muito perigosas as festas de rua. Infelizmente, tivemos que acabar com as quadrilhas”. Dona Maria de Jesus se recorda com saudades dos tempos áureos da rua, quando o chão era de piçarras e as casas de taipa e na qual as crianças podiam brincar sem medo. Hoje isso não é mais possível, já que os assaltos ocorrem com muita frequência. ”Mil vezes melhor a rua antigamente, se comparada com agora. A gente não vivia tão assustada como vive hoje, com medo de tudo’’, lamenta. Rua ou avenida? - Para desafogar o trânsito na parte central da cidade, a rua Santa Teresa tornou-se uma avenida, o que consistiu na abertura da via na altura da Escola Graça Aranha, transferindo a quadra para a frente do colégio, causando
a demolição de duas salas de aula e a construção de outras duas salas anexas ao prédio. Com a ampliação também foi construída a Praça Mary de Pinho, situada ao lado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que agora se configura como um dos mais novos “cartões postais” da cidade, dotada de equipamentos de ginástica, parque infantil, fonte e jardim. A praça recebeu o nome de uma das mulheres que fizeram história em Imperatriz, a professora e vereadora Mary de Pinho, que em sua vida profissional e política foi uma das defensoras e incentivadoras do esporte e da educação. Muitos moradores gostaram da ampliação devido à melhora no trânsito, o que possibilitou uma maior flexibilidade de pessoas que andam pela praça, seja para passear ou fazer exercícios. Além do mais, tais mudanças ajudaram no crescimento do comércio localizado naquele ponto específico da cidade, como conta o comerciante Júlio Pereira, proprietário de um pequeno comércio na avenida. “Ficou muito bom, houve uma melhora no trânsito que antes era um caos, além de que a criação da praça ajudou a ampliar muito nas vendas de frutas e comidas, por exemplo”. José da Silva é um dos moradores antigos da avenida. Ele já mora na rua há 40 anos e conta que gostou bastante da repaginada, apesar do grande fluxo que transita ali diariamente. Acredita que é importante existir um lugar de lazer para as pessoas poderem se divertir. ‘’Isso é muito importante, antes não andava tanta gente por aqui, eram somente os alunos da escola vizinha. Agora há bastante movimento’’. Atualmente, ainda são poucos os lugares disponíveis e acessíveis para dançar quadrilha em Imperatriz. A festança ocorre majoritariamente nas escolas e a cidade conta com alguns eventos como o Arraiá da Mira, que reúne os principais grupos de quadrilhas dos municípios do estado do Maranhão. O evento, apesar de ser reconhecido como um incentivo à cultura local, é pago e restringe o acesso àqueles que não têm condições. SARA KALINNE
Motoristas trafegam em frente à Praça Mary de Pinho, um dos pontos turisticos da cidade. O nome da praça vem de uma figura histórica em Imperatriz, a professora e vereadora Mary de Pinho, defensora e incentivadora do esporte na cidade
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VILA LOBÃO Centro da Vila Lobão: pessoas, serviços, frutas e verduras aguçam e movimentam o cotidiano da principal rua do bairro. A via tem esse nome em homenagem ao militar conhecido como Duque de Caxias
Do comércio formal à feirinha: a rua Duque de Caxias e sua intensa variedade SABRYNA SANTIAGO TEXTO: SABRYNA SANTIAGO DIAGRAMAÇÃO: BRUNA MADONNA
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rua Duque de Caxias tem por principal característica o fluxo de pessoas e o tráfego intenso de veículos. Do senhor de bicicleta à criança de triciclo, é comum encontrar na via pessoas de todos os tipos, indo e vindo. Localizada na zona leste de Imperatriz, no bairro Vila Lobão, a Duque de Caxias faz ligação entre as vilas Redenção I e II e Cafeteira e tem início na avenida Babaçulândia, na MA-122, terminando na rua São José. A via tem esse nome em homenagem ao militar Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caixas, que recebeu este título no reinado do imperador Pedro II, a quem serviu. Caxias é considerado patrono do Exército brasileiro e na data do seu nascimento é comemorado também o Dia do Soldado. No decorrer da rua, é possível observar um mix entre o comércio e as residências. Alguns moradores utilizam o espaço de suas casas para montar o próprio negócio, enquanto outros alugam seus pontos. No fim, é certo que todos estão em busca de uma renda extra ou do sustento da família. José Ribamar é dono de um ponto comercial na localidade e relata que nunca ficou mais de dois meses sem inquilino. “Aqui é o centro do bairro, todo mundo quer alugar um ponto para vender suas coisinhas. Alguns acham o preço caro, outros não. Já passei no máximo dois meses sem locador, a gente coloca o preço que acha justo” A rua também é palco de um dos principais eventos que acontecem no bairro, no mês de setembro. Na Semana da Pátria, ocorre um desfile nos polos descentralizados, ocasião em que instituições, escolas e fanfarras desfilam em pelotões. A população sai de casa para prestigiar o evento, assim como autoridades municipais e das instituições de ensino. A dona de casa Maria de Fátima, moradora do bairro, conta que assiste ao evento todos os anos. “O último desfile estava lindo, sempre vejo. Acho a participação das crianças e dos pais e professores acompanhando de dar gosto. E como acontece na principal rua do bairro, sempre é de esperar que muitos venham assistir”. Feira - Outro local tradicional na cultura do bairro é o seu supermercado a céu aberto. Pelas feiras livres da cidade, o aroma das frutas e folhas frescas reúne crianças, idosos e jovens pelos corredores. Feira de rua é mania imperatrizense. Alguns bairros têm feira própria ou nas proximidades, que são realizadas de segunda a sexta ou somente nos finais de semana. Na Vila Lobão, não poderia ser diferente. A feira acontece tradicionalmente aos domingos pela manhã,
Rua Duque de Caxias, localizada na região central do bairro Vila Lobão, possui uma circulação intensa de pessoas e veículos que a caracteriza
há mais de 25 anos, sendo a segunda maior da cidade e abrangendo outros bairros da vizinhança, como Vila Cafeteira e Redenção I e II, ocupando um total de quatro quarteirões. No decorrer da semana, se o consumidor for em busca de legumes, frutas e verduras vai encontrá-los em pequenos hortifrutis ou em algumas barracas dos feirantes distribuídas ao longo da Duque de Caxias, que também é agraciada com supermercados, farmácias, pet shops, açougues, padarias, entre outros estabelecimentos. Aos domingos, o local se torna mais
completo, justo que o comércio também abre por causa do grande fluxo de pessoas presente na feira, assim podendo conseguir um maior faturamento. Com tanta variedade de produtos, alimentos e
Pelas feiras livres da cidade, o aroma das frutas e folhas frescas reúne crianças, idosos e jovens pelos corredores
serviços, esta aérea é o coração do bairro. O mercado na rua possui uma característica excepcional: alguns estabelecimentos não fecham no horário comercial e ficam abertos até mais tarde. Assim, o comerciante fatura mais e atende à necessidade do consumidor que não tem tempo de comprar até as 18 horas. A comerciante Erivania Soares, de 46 anos, diz que o fato de ficar com o comércio aberto até mais tarde e abrir nos domingos de feira ajuda no financeiro. “Eu entendo que muita gente sai do serviço em cima da hora e nem sempre dá SABRYNA SANTIAGO
Feira atrai consumidores locais nos finais de semana. Com uma grande variedade de frutas, legumes e produtos em geral, é uma das atrações da rua
tempo de comprar o que precisa, achar um comércio aberto é ótimo. O consumidor fica feliz e a gente fatura mais com esse horário extra e nos dias de feira.” Na feira é possível encontrar mamão, melão, queijo, alface, coentro, artigos para casa, açaí e ainda comer pastel e tomar um caldo de cana para encerrar o passeio ou afazer, em meio a esse mundo de cores, aromas, sons e sabores. É incrível como a feira surge da noite para o dia e some logo após a hora do almoço. Um sobe e desce de pessoas por um corredor estreito, muita pechincha e uma paisagem bem colorida. No meio desse cenário se encontra Cida Santos, vendedora de legumes e verduras. Ela conta que trabalha na feira desde criança, um ofício de família.“Meu pai e minha mãe trabalharam na roça e na feira, me ensinaram a plantar e colher e vender. Daqui tiro o meu sustento, que nem sempre é muito, mas nunca faltou nada pra os meus filhos.” A feira recebe pessoas de outras localidades mais distantes. De bermuda jeans e camiseta vermelha, com as mãos ocupadas pelas sacolas, Cláudio Silva juntamente com sua esposa, morador do bairro Vila Nova, diz que de todas as feiras da cidade prefere a da Vila Lobão para realizar suas compras. “Todos os domingos faço feira da semana com minha mulher, já é rotina. Essa daqui é a melhor, mais agradável e gosto dos produtos, todos de qualidade, sem falar no ótimo atendimento feito pelos feirantes”. Em uma barraca de frutas, é possível avistar Francineide Pereira. Com uma bolsa no braço, um guarda-chuva em mãos e com os sentidos aguçados, ela usa do tato e visão para avaliar as frutas uma a uma. Explica que faz isso há muito tempo, assegura nunca errar e que sempre leva as melhores frutas para casa. No ano passado, em novembro, o local foi cenário de um projeto chamado “Abrindo o Mercado”, promovido pela Fundação Cultural de Imperatriz, com apoio da Prefeitura. Com o intuito de aquecer a economia e proporcionar atividades artísticas, se apresentaram no palco Ana Paula Bastos, Henrique Bastos e Bibi Martam, com o tema Tributo à Jovem Guarda. As pessoas que doavam um 1kg de alimento participavam de um sorteio de um brinde e ajudavam o projeto “Mãos dadas”, que presta assistência aos portadores de HIV. A moradora Cristina Lima estava presente no show realizado e disse que essas iniciativas deviam acontecer mais vezes. “Esse tipo de coisa é atrativo, ajuda os feirantes a venderem mais e deixa o ambiente mais alegre e animado para o consumidor. Eu estava no dia, pena que acontece uma vez ou outra, deveria ser mais frequente”.
Jornal
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Arrocha
ANO IX. NÚMERO 37 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2018
ORIGENS A Rodovia Belém-Brasíllia foi planejada pelo presidente Juscelino Kubitschek para contribuir economicamente com a região e continua passando por mudanças para desafogar o trânsito no local
BR-010: o desenvolvimento continua SUZANA QUEIROZ DE ARAÚJO TEXTO: SUZANA QUEIROZ DE ARAÚJO DIAGRAMAÇÃO: AMANDA NASCIMENTO
A
rodovia Belém-Brasília (BR010) é fruto de um plano elaborado pelo presidente Juscelino Kubitschek, que reuniu seus ministros um dia após a posse na presidência, ocorrida no dia 31 de janeiro de 1956, para expor seus objetivos do plano de governo, que tinha como slogan “50 anos de desenvolvimento em 5 de realizações’’. O projeto foi aprovado e iniciado em 1958. Assim, Imperatriz foi privilegiada por fazer parte do início desse desenvolvimento histórico, sendo a base da segunda frente de trabalho da área maranhense. Saíram da cidade duas frentes, sendo uma no sentido da divisa entre Maranhão e Goiás, na cidade de Estreito, local escolhido para a construção de uma ponte sobre o Rio Tocantins e a outra no sentido contrário, em direção à divisa com o Estado do Pará. Bernardo Sayão - O engenheiro agrônomo Bernardo Sayão foi escolhido diretamente pelo presidente Juscelino para administrar a construção da rodovia Belém-Brasília, que contaria com aproximadamente 2.169 quilômetros. Sayão nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1901 e se formou pela Escola de Ensino Superior de Agronomia e Medicina Veterinária de Belo Horizonte (MG). Conquistou cargos de confiança no país, entre eles ser o responsável pelas obras da rodovia Belém-Brasília, o que lhe gerou o título informal de “Desbravador da floresta” Humilde e dedicado, aparentava não fazer distinção entre pobres e ricos e fazia questão de estar presente regularmente na localidade,
para acompanhar as obras pessoalmente, se unindo até mesmo aos trabalhadores durante o expediente, para manter o ritmo e assegurar o andamento de todo o serviço. “Mantinha-os animados para ganhar tempo e garantir os prazos acertados com o presidente Juscelino. Por esse motivo se tornou muito popular entre os trabalhadores de todos os níveis.”, relata o historiador Adalberto Franklin em seu livro “História Econômica de Imperatriz”.
“Imperatriz foi privilegiada por fazer parte do início desse desenvolvimento histórico, sendo a base da segunda frente de trabalho da área maranhense” Dessa maneira, os trabalhadores presentes nessa empreitada fizeram parte de um marco histórico e econômico entre os estados de Goiás, Maranhão e Pará. Aproximando-se da reta final da abertura da estrada no Pará, uma fatalidade ocorreu na área chamada “ligação”. Faltavam somente 16 dias para o encontro das frentes Pará e Maranhão e o dia 31 de janeiro de 1959 foi escolhido para visita do presidente Juscelino Kubitschek, com a intenção de comemorar em conjunto a “ligação”. Portanto, Bernardo Sayão optou por acompanhar pessoalmente o trabalho na localidade, pois precisava cumprir o prazo em que ocorreria a visita. No momento em que Bernardo Sayão entra em sua tenda, é atingi-
do por uma árvore que mandou cortar. Sayão ficou gravemente ferido e começava ali o temor pela perda do então “desbravador da Floresta”, que não mediu esforços e empenho para a rodovia chegar aonde chegou. Infelizmente, o engenheiro não conseguiu socorro médico a tempo e faleceu, aos 57 anos, em Açailândia, onde aguardava uma aeronave com ajuda médica. O corpo de Bernardo Sayão só conseguiu translado três dias após sua morte, já em estado de decomposição. Este fato impossibilitou até mesmo a abertura do caixão ao chegar em Brasília, gerando rumores e questionamentos se realmente sua morte teria ocorrido. Inauguração - Mesmo com a tragédia, foi necessário retomar a construção rapidamente. O desejo do presidente Juscelino era de inaugurar a extensa estrada em 1960. Antes de terminar o período de mandato, o presidente veio a Imperatriz para inauguração da BelémBrasília. “E, num jipe, ao lado do prefeito Antenor Bastos, percorreu diversas ruas, conversou com as pessoas debaixo das mangueiras da XV de Novembro e fez uma visita ao escritório da Rodbrás, ao lado do rio Cacau, na saída sul da cidade”, registra Alberto Franklin. Antonio Vila Nova de Souza, conhecido como “delegado”, atualmente com 80 anos de idade, se orgulha ao se lembrar da sua colaboração nos primeiros cuidados que a rodovia Belém-Brasília recebeu depois de inaugurada. “Trabalhei como tratorista numa equipe de sete pessoas nas proximidades de Araguaína, para fazer alguns reparos necessários que surgiam ao longo do tempo. Estava sempre à disposição quando chamado. Alguns anos depois, vim trabalhar como
Veículos transitam pela BR-010, na entrada da cidade conhecida como Portal da Amazônia
segurança em Imperatriz, para ficar mais próximo da família. A construção da rodovia contribuiu para geração de empregos, e eu fiz parte da história da BR-010, oferecendo o meu trabalho de acordo com as habilidades que eu tinha.” Mudanças - Devido ao fluxo intenso de carros na BR-010, serão feitos alguns ajustes, como duplicação da pista central e construção de viadutos. Cerca de 10 mil veículos trafegam diariamente e as mudanças atuais prometem garantir a segurança e melhorar a capacidade de fluxo. Ricardo Ferreira de Souza, 32 anos, trabalha há seis meses na sinalização da duplicação da pista
próxima ao supermercado Atacadão oito horas por dia, de segunda a sexta-feira. Sua missão é alertar os condutores a caminho e prevenir acidentes. “A obra começou no ano de 2017, muita gente não botou fé que esse projeto sairia do papel realmente. Por mais que agora esteja essa bagunça de gente pra lá e pra cá, com tratores e muita poeira, o resultado final esperado é muito positivo. Nossa preocupação é que muitas pessoas não dão importância para sinalização para evitar acidentes devido ao grande alvoroço da obra, mas estamos aqui para contribuir ao máximo. E tenho certeza que vamos ficar satisfeitos quando for entregue a obra finalizada.”
Desafios enfrentados pelos vendedores nas margens da estrada SUZANA QUEIROZ DE ARAÚJO
TEXTO: SUZANA QUEIROZ DE ARAÚJO DIAGRAMAÇÃO: AMANDA NASCIMENTO
E
Valdemir, vendendor atuante mais antigo na BR-010 e representante dos demais comerciantes
nfrentando sol ou chuva, os tradicionais vendedores de laranjas da BR-010, na entrada de Imperatriz, se fazem presentes todos os dias, em um local pouco confortável e que não aparenta ser muito seguro por estar na lateral da rodovia. Tudo começou há mais de dez anos, com dois caminhões que faziam a venda das laranjas. Os comerciantes identificaram a entrada da cidade como um ponto de venda estratégico e lucrativo, por conta da passagem de várias pessoas e também por ser parada de alguns transportes públicos. Porém, pouco tempo depois, algumas coisas mudaram na venda. Chegaram várias pessoas com intuito de também vender laranja no local. Um dos primeiros vendedores a chegar foi Valdemir de Lima Nascimento, 61 anos, conhecido como Valdo. Ele aproveitou a oportunidade para buscar uma renda e aju-
dar no sustento da família. E aos poucos foram chegando pais ou mães de família com este mesmo objetivo. Dessa maneira, os caminhões foram substituídos por bancas com vendedores de laranjas. De acordo com Valdo, estão cadastrados no local cerca de 12 vendedores, porém ao longo do tempo foram chegando novas pessoas que não foram incluídas no cadastro. “Aqui trabalha quem precisa, e quem quer, independente do cadastro”, comenta. Os vendedores também já enfrentaram problemas com órgãos públicos que tentaram fechar as barracas pelo local ser inseguro, e chegaram a argumentar que possivelmente seria disponibilizado um espaço mais adequado para as vendas. “Eu considero o local seguro, por ser muito largo e termos espaço. Ter um local mais confortável e adequado não recusaríamos, porém ainda não foi cumprida a promessa e nós não podemos ficar sem sustento. Com muita luta, con-
seguimos autorização para trabalharmos nessa lateral da BR-010”, ressalta Valdo. A crise econômica também afetou as vendas e colocou em risco a renda dos vendedores. “Confesso que ultimamente as vendas não têm sido boas, por conta de crise. Houve um tempo que vendíamos mais de 80 sacos de laranja, e atualmente é somente de 30 a 40 sacos, mas há dias que ainda conseguimos tirar um lucro maior que outros, mesmo com momentos mais difíceis” confirma Valdemir. Ao observar por um tempo o período de vendas, é notável o esforço e os olhos de esperança dos vendedores de ter um bom dia de vendas e ir pra casa com a jornada de trabalho cumprida. “O que nos dá força pra continuar aqui é saber que temos que sustentar nossos filhos e família. Ficar no sol ou na chuva para vender laranja nem sempre é tão simples, mas a necessidade nos dá força para continuar e voltar amanhã”.