Jornal Arrocha - Edição 21 - Bairros

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AGOSTO DE 2013. ANO IV. NÚMERO 2I

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Arrocha

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

INDIANARA LEMOS

Bairros

Imperatriz merece um olhar diferenciado para as particularidades de suas regiões urbanas


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ANO IV. NÚMERO 21 IMPERATRIZ, AGOSTO DE 2013

CHARGE

EDITORIAL - Bairros por outro ângulo

LEONARDO VARÃO

Colaboração e descoberta. Duas palavras que definem bem a elaboração deste Arrocha especial Bairros. A intenção, desde a pauta, foi tentar visualizar as regiões de Imperatriz além dos seus buracos e problemas de infraestrutura. Entender, afinal, que o “espírito” de determinado local da cidade vem justamente da população que a habita. Para preparar esta edição, primeiro os acadêmicos de jornalismo impresso e fotojornalismo foram divididos em cinco grupos, com a missão de mergulhar em grandes regiões da cidade. Foram observar o cotidiano dos bairros além da BR010; os vastos Bacuri e Santa Rita; áreas nobres, como o Três Poderes

e o Juçara; além da chamada Cidade Velha, onde tudo começou. Todos voltaram fascinados das suas inscursões, superando a visão de que periferia é local de violência. As animadas feiras, a religiosidade, os pontos de encontro, principalmente nas praças e os senhores e senhoras que guardam o passado na ponta da língua. Está tudo aqui, filtrado nesta edição. Boa leitura. Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

Ensaio Fotográfico DENISE CORRÊA

SAULO RODRIGUES

JHENE ASSIS

ANDRÉ NETO

EXPEDIENTE

Jornal Arrocha. Ano IV. Número 21. Agosto de 2013 Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade. Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho | Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Marcos Fábio Belo Matos | Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. M. Marcelli Alves da Silva.

Professores: M. Alexandre Maciel (Jornalismo Impresso), M. Marco Antônio Gehlen (Programação Visual), M. Marcus Túlio Lavarda (Fotojornalismo). Adriano Ferreira, especialista em Lingua Portuguesa e Literatura (Revisão). Reportagem: André Neto, Carlos Eduardo, Denise Correa, Deylanne Santos, Domingos De Almeida, Érica Ferreira, Fernando De Aquino, Idayane Ferreira, Jackeline Teixeira, Jhene Assis, José Moraes, Julielli Soares, Kássia Santos, Kelly Saraiva, Luanda Vieira, Mari Marcoccine, Marina Cardoso, Mikaell Carvalho, Railson Andrade, Ramisa Salles, Rebeca Viana, Saulo Rodrigues, Sheila Costa, Tuanny Figueiredo.

REBECA VIANA

ANDRÉ NETO

Diagramação: Adaylma Rocha de Sousa, Ananda Kallyne Muniz Portilho, Angra Nascimento Silva, Anne Caroline Bomfim de Souza, Barbara Fernandes de Oliveira Cavalcante, Beatriz Karine Machado Sousa, Brenda Herenio Fernandes, Diego Fernandes dos Santos, Francisca Daniela dos Santos Souza, Isabel Delice Gomes Madeco, Janaina Silva Santos, Lais Pereira Ferreira, Lawson Almeida Barros Barbosa, Paulo Victor Franco Silveira Rafael Mendonca Pestana, Raonni Veloso dos Santos, Rhaysa Novakoski Carvalho, Vanessa de Paula de Moura Sousa Silva.

Fotografia: André Neto, Carlos Eduardo, Denise Corrêa, Deylanne Santos, Domingos de Almeida, Érica Ferreira, Erisvan Bone, Fernando Aquino, Idayane Ferreira, Jackeline Teixeira, Jhene Assis, Julielle Soares, Kássia Santos, Kelly Saraiva, Luanda Vieira, Mari Marconccine, Marina Cardoso, Mikaell Carvalho, Railson Andrade, Rebeca Viana, Saulo Rodrigues, Sheila Costa, Tuanny Figueiredo. Estagiários: Antônio (diagramação)

Carlos

Freitas,

Max

Dimes

Contatos: www.imperatriznoticias.com.br | Fone: (99) 3221-7625 Email: contato@imperatriznoticias.com.br


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ANO IV. NÚMERO 21 IMPERATRIZ, AGOSTO DE 2013

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HISTÓRIA Pequenas comunidades que foram surgindo em torno da rodovia Belém-Brasília se tranformaram em alguns dos mais importantes bairros de Imperatriz

Das ocupações ao desenvolvimento urbano JULIELLI JASMINE

DENISE CORRÊA

Grandes fazendas e terrenos cobertos por matagais em torno da rodovia Belém-Brasília deram lugar, principalmente nas décadas de 1970 a 1980, ao que hoje são os bairros periféricos de Imperatriz. Vila Nova, Vila Lobão e vilas Redenção I e II são alguns deles. Apesar de começarem a surgir em décadas anteriores, esses bairros foram, em sua maioria, registrados na Câmara Municipal de Vereadores no período dos anos 1970 e 1980. O bairro conhecido como Vila Nova foi registrado em 1984, segundo o morador e antigo representante comunitário José Braga de Oliveira, 62 anos. Dono de um pequeno comércio, “seu” Braga, como é conhecido pelos vizinhos e fregueses, mora na Vila Nova há 30 anos e se mostra um profundo conhecedor da história deste pedaço de Imperatriz. “Havia um fazendeiro chamado Deusdete Piauí que cedeu parte do seu terreno para construção de casas e a outra parte foi sendo invadida aos poucos. Daí em diante, a comunidade foi crescendo e se transformou em bairro”. Deusdete também doou parte de suas terras para a construção da primeira capela do bairro, feita de taipa e coberta de palha, em 1975, três anos depois da primeira missa da Vila Nova, realizada pelo missionário capuchinho Frei Epifânio. Hoje, a igreja, que recebeu o nome de Menino Jesus de Praga por indicação de

José Braga de Oliveira foi um dos primeiros representantes do bairro Vila Nova e testemunhou o crescimento da comunidade ao longo de 30 anos

uma devota, é ponto de referência do bairro juntamente com lugares como a Praça Manoel Cecílio, popularmente conhecida como Praça “Ferro de Engomar”, devido ao seu formato. O ex-caminhoneiro José Vital, 70 anos, diz ser o primeiro morador do bairro Vila Redenção II. Natural de Minas Gerais, “José Mineiro”, como é conhecido, decidiu sair do aluguel e

comprar seu próprio pedaço de terra. “Quando comprei o terreno, aqui só tinha capim e lama”, conta José Mineiro que, mesmo após mais de 40 anos da sua chegada em Imperatriz, ainda conserva fortemente o sotaque de sua terra natal. Propriedade de um espanhol e de outros fazendeiros, as áreas que formam os bairros vilas Re-

denção I e II foram compradas por uma imobiliária, que deu o nome ao local. Aos poucos, os lotes foram sendo adqueridos e ruas e casas surgindo em meio ao matagal. Próxima à Vila Lobão, hoje identifica-se claramente a diferença entre os dois bairros. Ruas principais asfaltadas e comércios tornam a Vila Lobão, muitas vezes, independen-

te do Centro, já as vilas Redenção I e II ainda enfrentam a escassez de infraestrutura e serviços básicos. Ruas sem asfalto e mato que cobre boa parte das sarjetas sem tratamento de esgoto. As casas, em sua maioria, conservam as estruturas originais da época em que foram construídas. Em alguns pontos da comunidade, a sensação é de que o tempo não passou. O bairro Vila Lobão foi, em grande parte, constituído por invasões. A partir dos anos de 1980 o processo de ocupação urbana foi intensificado de forma significativa e as instituições públicas deram os seus primeiros sinais com a chegada de asfalto em algumas ruas principais e de regulamentação fundiária. Essas ocupações desordenadas deram origem a uma particularidade do bairro Vila Lobão: as Cinco Bocas. Uma rua que dá origem a mais quatro e onde fica localizada a delegacia. Aliás, a Vila Lobão é um dos poucos bairros que dispõe de uma delegacia própria, assim como a Vila Nova. Devido à explosão populacional na década de 1980 e o seu distanciamento do centro, o bairro Vila Lobão, atualmente é caracterizado pelo espírito empreendedor de seus moradores. Fazer da garagem ou da sala de estar um pequeno comércio como um salão de beleza ou uma boutique, não é raro de se encontrar nas ruas do bairro. As comunidades adjacentes também são abastecidas com seu comércio aquecido, mostrando que, cada vez menos é preciso atravessar a BR010 para resolver algum problema.

Horta Comunitária é fonte de renda para moradores do Bairro Vila Nova KÁSSIA SANTOS

Cebolinha, coentro, alface, macaxeira, berinjela, quiabo, rúcula e abobrinha são alguns alimentos cultivados na horta comunitária do Bairro Vila Nova. O cheiro de terra molhada perfuma a tarde e, sob sol forte, os agricultores irrigam, plantam e colhem. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estima-se que o projeto gere 250 empregos diretos e indiretos em Imperatriz. Zenilde da Silva, presidente da Associação dos Hortifrutigranjeiros da Região Tocantina, conta que o projeto nessa dimensão surgiu em 2001, mas em 1995 já havia pequenas plantações. O agricultor Raimundo Nonato dos Santos assegura: “Quando cheguei aqui em 95 já tinha pessoas trabalhando. As hortas eram pequenas. Comecei ajudando o Manoel Arcanjo, um dos pioneiros. Mas, tempos depois ele foi embora. Eu fiquei e tô aqui até hoje”. A horta funciona na área do Aeroporto Renato Cortez Moreira em um espaço de aproximadamente 15 mil metros quadrados, com estrutura de rede elétrica e de abastecimento de água. São produzidas, em média, 15 toneladas de alimentos por mês. O terreno é dividido para organizar e facilitar o plantio. Raimundo trabalha com sete pessoas e comenta que antes somente a comunidade consumia as hortaliças. Depois, os feirantes da região passaram

a comprar também. Em dezembro de 2001 veio a associação e, por meio dela, o Governo Federal passou a investir no projeto. A prefeitura também ajuda com a compra de algumas sementes. “Mas é algo mínimo”, revela Raimundo. Zenilde aponta uma das maiores dificuldades, o inverno (época de muitas chuvas no Maranhão), pois o cultivo de abobrinha e quiabo fica inteiramente comprometido. Os alimentos são vendidos para a comunidade, redes de mercados da cidade e escolas públicas, onde são utilizados no preparo da merenda escolar. Raimundo afirma, ainda, que a remuneração dos trabalhadores necessitou de reajuste, pois o crescimento no número de empregos da cidade estava atraindo seus companheiros. “Tivemos que repensar o salário, senão o pessoal não ficava”. A agricultora Maria das Neves Eugênio pensa diferente. No ritmo de uma música bem animada ela colhe coentro e cebolinha. Feliz, conta que construiu sua casa nas imediações da horta para facilitar a locomoção e garante que não largaria o que faz por nada. Na visão de Maria a falta de cobertura e o sistema automático de irrigação para a plantação são os maiores problemas. Com mais de dez anos de dedicação, ela é uma das agricultoras mais antigas no projeto. Acorda às cinco da manhã. “Como moro aqui, não tem hora pra largar a lida. Eu amo trabalhar nesta horta, adoro o que faço, é corrido, mas eu gosto”.

TUANNY FIGUEIREDO

Em 1995, nasce com timidez o Cinturão Verde. O projeto ganhou força em quase duas décadas de existência e hoje emprega mais de 250 agricultores


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ANO IV. NÚMERO 21 IMPERATRIZ, AGOSTO DE 2013

DEPOIS DA BR Em um domingo de muito calor, a Feira da Vila Lobão está bem agitada. Barracas expostas, tudo muito colorido e diversificado, com opções para compras variadas

Feira da Vila Lobão é segunda maior da cidade KASSIA SANTOS TUANNY FIGUEIREDO

O Bairro Vila Lobão, em Imperatriz, possui a segunda maior feirinha de alimentos da cidade, perdendo apenas para a do Bom Sucesso, como explica Mariano Dias, presidente da Associação de Moradores. A feira atende também as vilas Redenção I e II e Cafeteira. Fica na rua Duque de Caxias, se estendendo por vários quarteirões e acontece aos domingos há mais de 20 anos. A Vila Nova também possui uma feirinha, porém, bem pequena, tomando quase que um quarteirão apenas, na rua Dom Marcelino. Mesmo acanhada, ela atrapalha a rota definida dos ônibus aos domingos. Em um domingo de muito calor, a Feira da Vila Lobão está bem agitada. Barracas expostas, tudo muito colorido e diversificado. Nesse cenário, em cima de uma calçada, se encontra José Matheus Macário, chamando a atenção de todos que por ali passam. Vendedor de tapioca na feira há mais de 10 anos, ele exalta o prazer de estar ali todos os domingos. “Quando não venho pra cá, parece que o dia fica morto pra mim”. Está sempre sorrindo e não reclama de nada. “O que chama a atenção do cliente é o bom humor, a felicidade”. Ele conta que é por isso que consegue vender toda sua tapioca antes das 10 horas da manhã. Eliete Alves Silva, enquanto compra a tapioca de José Matheus, começa a contar: “Aqui é o ponto onde a gente acha de tudo. Pra quem trabalha a semana inteira e não tem

Feira da Vila Lobão é um verdadeiro supermercado a céu aberto em Imperatriz. Feirantes e compradores se misturam em meio à diversidade de frutas, verduras e produtos em geral

tempo de fazer compras, a feira é a saída pra comprar”. Mais acima na feira, Cira Santos Figueiredo mantém uma barraca exposta com verduras e legumes. Há quatro anos trabalha na feira e explica que, mesmo vivendo só desse ofício, consegue uma renda boa. “O segredo em vender bem tá na qualidade da verdura. Vender coisas sempre de primeira qualidade”. Além disso, quando questionada sobre a convivência com os outros

feirantes, ela responde que são todos conhecidos uns dos outros e são amigos, mas, não deixam de ser concorrentes na conquista pelo cliente.

Persornagens - O interessante é que, geralmente, são famílias inteiras que trabalham na feira. É o caso de Sandra Helena Alchpa Sousa, 31 anos, que trabalha com o marido, o sogro e outros parentes. Ela chega à feira às cinco da manhã. Sandra consegue sempre fazer com que o cliente leve

seu alface ou seu cheiro verde por um preço bom. “Mulher, te faço R$ 2 no alface. Leva!”, ela oferece para a freguesa. Sua barraca é apenas um banco com uma bacia cheia de alfaces e cheiros-verdes. Suor descendo na testa em um sol bastante quente, calor típico desta época do ano, ela parece animada e, enquanto vende, conta aos fregueses que se aproximam, a hora em que montou os pés de alface e os cheiros-verdes. “Foi tudo feito hoje cedinho”.

Elisama Martins da Silva, 29 anos, é outra feirante há bastante tempo. Trabalha com seu irmão em uma barraca de frutas e verduras. “É um meio de sobrevivência bom. Dá pra ganhar um dinheirinho, porque atende os bairros todos daqui de perto”, conta. Elisama explica ainda, que chega às três horas da manhã para começar a montar a barraca que é bastante grande. “O ditado é certo: Deus ajuda quem cedo madruga”, ressalta, com um tom de alegria.

Com pisadas compassadas, a cultura da dança reina em Imperatriz DENISE CORRÊA

vam R$ 28 mil para manter uma das maiores quadrilhas da Vila Lobão e Região Tocantina. Apesar de ser reconhecido pela Fundação Cultural de Imperatriz, o grupo afirma não receber nenhum incentivo financeiro de entidades governamentais.

Cultura - Em uma Feira de Ciências

Brincantes se divertem e exibem a beleza dos seus vestidos rodados e chapéus de couro em uma coreografia que retrata a história de Lampião

JULIELLI SOARES

Vestidos rodados e bordados, chapéu de couro e colete colorido coberto de miçangas. “Um luxo só”, como diz Lívia Bandeira, 10 anos, a integrante mais nova da quadrilha “Zé Comeu”. Apesar da pouca idade, Lívia já tem conversa de gente gran-

de. “Quero fazer Medicina, mas até lá pretendo continuar dançando”. Quando a quadrilha se apresenta o chão treme com os passos compassados dos 66 brincantes. As vibrações fazem com que até os espectadores dancem de forma involuntária. São 21 anos de história e 70 títulos conquistados, de acordo com Debora Bandeira, 30 anos, que faz

parte da coordenação do grupo. O “luxo” das peças não está somente no brilho, mas também nos preços. “Um vestido custa em média R$ 400, isso porque compramos os materiais mais baratos em outros lugares e parte da mão de obra na confecção das peças é dos próprios dançarinos”, conta Debora. Os gastos do grupo até junho de 2013 soma-

na Escola Jonas Ribeiro em 1997, na Vila Redenção, o grupo Kizomba fez a sua primeira apresentação. Na época era composto por alunos da escola e coordenado pela professora Maria do Amparo. No período da sua formação, a Fundação Cultural de Imperatriz desenvolvia um projeto de oficinas de danças típicas, que contribuiu de maneira decisiva para a formação e aprendizado dos alunos. Hoje, o Kizomba é um dos grupos de destaque na cidade, tendo se apresentado três vezes no Festival Internacional de Dança de Brasília e com dois projetos aprovados pelo Programa de Cultura Banco do Nordeste, que tem como objetivo facilitar o acesso aos recursos destinados ao patrocínio de ações culturais. Ao falar da importância do grupo o bailarino Raynan Ferreira, 22 anos, destaca: “É o que mantém a cultura daqui”. Resgatando as danças tradicionais e as africanas que “não são tão aceitas pelos leigos”. São 26 pessoas no balé e seis músicos que estudam as danças “parafol-

clóricas”, como o grupo define. Eles já possuem suas próprias composições musicais. Na Fundação Cultural de Imperatriz estão cadastrados 30 grupos de dança, sendo 13 quadrilhas e 17 diversificados. Estima-se que este número seja maior, segundo a assistente administrativa da Fundação, Maria Lúcia Flor da Conceição: “A maior parte das pessoas nem sabe que existe esse registro”.

“São 21 anos de história e 70 títulos conquistados” Com uma década de existência o grupo de teatro Adonai, antigo Face a Face, teve seu início no pátio da Paróquia Menino Jesus de Praga, na Vila Nova. “Não temos um curso de teatro, mas quem quiser participar tem que procurar alguém do grupo”, declara Raimundo José Freitas, 41 anos, um dos 10 participantes fixos. As apresentações ocorrem apenas no período da Semana Santa. “Fazemos da santa ceia até a ressurreição”, explica Raimundo. O grupo não recebe nenhum recurso público. “É a comunidade que nos ajuda, cada um doa o quanto puder dar”, acrescenta.


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ANO IV. NÚMERO 20 IMPERATRIZ, JULHO DE 2013

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TRÊS PODERES Incomodados com a construção de prédios, antigos moradores vendem suas casas para fugir da falta de privacidade trazida pela verticalização de edifícios

Obras de prédios mudam visual do bairro MIKAELL CARVALHO

MIKAELL CARVALHO MARI MARCONCCINE

O advogado Agostinho Noleto é um dos moradores mais antigos do bairro Três Poderes. Reside no local há 33 anos. “Comprei um terreno e levei cinco anos para construir esta casa onde criei meus três filhos. O bairro ainda era um grande matagal, onde o único barulho que se ouvia era o cantar dos grilos à noite”. Hoje, a casa espaçosa e confortável, com um lindo jardim e a piscina que é a alegria dos seus oito netos está prestes a ganhar um vizinho nada agradável, um prédio com 23 andares. E a construção de outro vai ser iniciada no terreno dos fundos. “Eu lamento profundamente o que está acontecendo no bairro. Já recebi propostas para vender minha casa. Logo, não terei alternativa por falta de privacidade. Mas como ver demolida a casa que construí e vivi por 33 anos? Eu pretendia morrer aqui”. A professora Cenir Silveira há 20 anos também escolheu morar no bairro pela tranquilidade. “Precisava de espaço e sossego para os meus seis filhos”. Sentada na varanda de casa, Cenir comenta que o bairro já tinha a fama de “nobre” e que sua residência, hoje ampla e confortável, era a última da Rua Rio de Janeiro, cercada de matagal por todos os lados, e de onde só se ouvia o coachar dos sapos. “Muitos amigos meus já se mudaram. Eu não pretendo sair daqui. As construções dos prédios ainda estão longe da minha casa, mas, se um dia não tiver alternativa, eu terei que vender também”.A tranquilidade dos velhos tempos no bairro,

Advogado Agostinho Noleto lamenta sair da casa que construiu e onde mora há 33 anos

hoje é quebrada pelo barulho intermitente dos canteiros de obras e de caminhões que transportam materiais de construção. Os prédios residenciais de luxo brotam assustadoramente do chão, como que por encanto, mudando o visual do bairro, antes só de casas. O Bairro Três Poderes fica situado entre a Avenida Bernardo Sayão e os bairros Juçara e Maranhão Novo. Com uma praça bem cuidada, ruas asfaltadas e saneamento básico, algumas de suas características são casas com muros altos e cercas elétricas, ruas quase sempre desertas e ausência de qualquer tipo de atividade comercial.

Comodidade - Quem mora no Centro

da cidade, tem a facilidade de estar perto de todo tipo de comércio, mas, por outro lado, os poucos moradores se sentem isolados, sem vizinhos. “Quando me mudei aqui pra Avenida Getúlio Vargas, há 41 anos, jamais poderia imaginar que um dia, essa avenida seria tão importante e com tantas lojas”, lembra a dona de casa Maria da Consolação Pinheiro de Sousa. “Naquele tempo, eu tinha muitos vizinhos, a gente se sentava na porta pra conversar. Hoje, me sinto muito só, principalmente à noite, quando as lojas fecham”. Mesmo próximo ao Centro, o Bairro Juçara, ainda que tenha um diversificado comércio, é residencial, em sua maior parte. Formado por casas onde as portas se

Operários durante a construção de mais um prédio. O barulho constante incomoda a vizinhança

abrem diretamente para as calçadas, as crianças ainda brincam na rua, à tardinha, enquanto os adultos colocam cadeiras nas calçadas e o papo em dia com os vizinhos. Atuando no mercado imobiliário há 34 anos, o corretor Ademar Marian ressalta a expansão de Imperatriz neste setor, retomada pelas

grandes empresas que se instalaram na cidade. “No Centro encontra-se a principal área comercial da cidade e os valores são os mais altos por metro quadrado. Em segundo lugar vem o Bairro Juçara, considerado misto. E por ultimo o Bairro Três Poderes, embora as casas estejam sendo transformadas em torres residenciais”.

“Centro de saúde atende aproximadamente 900 pessoas por dia” MIKAELL CARVALHO

“O atendimento aqui de zero a dez, dou cinco”, relata Joana Querina, moradora da Rua Pernambuco, Centro, que aguarda a sua vez de ser atendida no Centro de Especialidades Medicas Três Poderes, da rede pública de saúde municipal, localizado no bairro de mesmo nome, em Imperatriz. Fluxo grande de pessoas, salas de espera cheias, filas nos corredores, essa é a rotina do centro de saúde que chega a atender aproximadamente 900 pessoas por dia, segundo a coordenadora geral do centro, Tassiana Miranda. Frequentado por moradores de toda a cidade, conta com 160 funcionários, desde vigilantes a especialistas médicos. “Sempre que venho aqui sou atendida”, conta Nedimar Barros, moradora da Vila Redenção. “As especialidades médicas são centralizadas aqui, por isso venho para cá”. Com mais de 25 anos de prédio, o Centro de Especialidades Medicas Três Poderes comporta, em suas estruturas, oito programas de atendimento: Centro de Especialidades Médicas; Programa Saúde da Família (PSF); Central Farmacêutica; Programa da Mulher; auditoria,

local onde são despachados exames de alto custo, Tratamento Fora Domicílio (TFD); cartão SUS e Centro de Especialidades Odontológicas. Todos os programas funcionam de segunda à sexta-feira. Há também 14 especialidades médicas: urologia; clínico geral; cardiologia; gastroenterologia; angiologia; cirurgias geral, de pequeno porte, reparadora e pediátrica; neurologia; dermatologia; cirurgia de cabeça e pescoço; ginecologia e pediatria. O atendimento é realizado de segunda à sexta-feira, mas as consultas são marcadas em um mês para serem realizadas no outro. Localizado em uma área nobre, o Centro de Saúde Três Poderes é mais utilizado por moradores de outros bairros do que os que moram próximos a ele. É o caso de Ezequias Texeira, que sai do Bairro Vilinha para procurar atendimento. “Lá onde eu moro o atendimento é zero. Por isso que me desloco para esse posto”, afirma, com voz contundente e usando expressões fortes. Antonio Augusto Sousa, 58 anos, funcionário do Centro de Saúde, acredita que por estar localizado no Bairro Três Poderes, os moradores locais não utilizam os serviços do Centro de Saúde, por terem boa renda e condições de fazerem tudo o que precisam em um

MARI MARCONCCINE

Usuárias do Sistema Público de Saúde aguardam com paciência a vez de serem atendidas no Centro de Especialidades, no Bairro Três Poderes

hospital particular, onde o atendimento é mais rápido. “Aqui eles teriam que esperar um pouco”. São cerca de 43 postos de saúde espalhados pela cidade, mas o Centro de Saúde Três Poderes é o que tem mais especialidades médicas. O advogado Agostinho Noleto, morador do bairro, acredita que o

Centro de Saúde está localizado no lugar errado. “Deveriam ter construído esse posto de saúde em um lugar mais próximo das pessoas que realmente o utilizam. Os moradores daqui não costumam usá-lo”. Os bairros vizinhos se enchem de clínicas particulares, como é o caso do Juçara, onde

pode-se observar residências sendo transformadas em clínicas de estética e dermatologia. Já o Centro da cidade está repleto de clínicas de oftalmologia. Enquanto isso, o Centro de Saúde do Bairro Três Poderes permanece sobrecarregado de pessoas que buscam atendimento da rede pública.


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ANO IV. NÚMERO 21 IMPERATRIZ, AGOSTO DE 2013

CIDADE Divergências na estrutura, movimentação e particularidades caracterizam cada uma delas. Praças são importantes espaços públicos de um bairro

Praças de Imperatriz são mundos desiguais ANDRÉ NETO JACKELINE TEIXEIRA

Praças são locais essenciais para as cidades. As pessoas as usam para namorar, para o lazer, para a interação com os vizinhos. Juntamente com as ruas, consistem em um dos mais importantes espaços públicos de um bairro, mas são diferentes e únicas em cada lugar. Há 21 anos, a Praça Pedro Américo, localizada no Bairro Três Poderes, era apenas um matagal. Nesse período, o prefeito Davi Alves Silva, na sua última semana de gestão, preparou o terreno, fez nivelamento, jardinagem, comprou bancos, cuidou da iluminação, segurança e manutenção. Por vários anos ficou por conta dos moradores, mas, atualmente, a “praçinha” é administrada pela prefeitura. Esses são dados de Agostinho Noleto, um dos moradores mais antigos do bairro. Hoje, rodeada de mansões e prédios sendo construídos cada vez mais, o lugar público se tornou um local para prática de esportes, exercícios físicos e encontros familiares. Depois da revitalização, se transformou na praça mais bem cuidada dentre outras da cidade. “Aqui sempre tem manutenção, está sempre limpa, até as ruas do bairro são limpas”, conta João Paulo Azevedo, morador do bairro há 14 anos. A Praça Pedro Américo, antes muito perigosa devido à escuridão e ao tráfico que lhe rodeava, agora é outra realidade. O funcionamento do trailer policial 24 horas, tranquiliza os que moram no bairro e frequentam a praça e também os que vêm de fora para caminhar no local. Sobra beleza no bairro Três Poderes e em compensação falta muitas coisas. “Amo morar aqui, mas

Praça Pedro Américo, antes muito perigosa devido à escuridão e ao tráfico que lhe rodeava, agora experimenta outra realidade. Hoje é a mais bem cuidada de Imperatriz e está aberta ao lazer

bem que poderia ter uma padaria, farmácia, restaurante, bar, e uma igreja no bairro e mais brinquedos e aparelhos para idosos na praça”, desabafa João. Nathália Alves, 10 anos, comenta que brinca quase todos os dias, gosta do seu bairro, mas, “queria mesmo era morar na Cafeteira. Acho lá é mais espaçoso, agradável e mais movimentado”. Como não tem muitos brinquedos, a menina, na companhia do irmão, se diverte como pode. “Eu trago meus patins e meu irmão traz a bola”.

Contraponto - Pipoqueiros, sorveteiros, vendedores ambulantes, pontos de táxi, bancas de revistas, ponto de ônibus, mototaxistas, lanchonetes, escola, casa de artesanato, árvores e moradores de rua fazem parte da caracterização da Praça Brasil. O local foi construído na gestão do prefeito Renato Cortez Moreira, por volta de 1972, segundo detalha o taxista José Hilton Nascimento, 59 anos, que trabalha na praça há 31 anos. “Desmancharam e fizeram umas duas vezes. Fizeram mal, mas fize-

ram. Os pés de manga que tem hoje na praça a gente que comprou e plantou”, recorda o taxista. A movimentação na praça central de Imperatriz é bastante agitada e satisfatória. “O bom da praça é que ela está rodeada de farmácias, comércios, bancos, igreja, hotéis e até hospital”, explica o taxista. Os pontos negativos do local são os moradores de rua que, devido ao uso constante de drogas, amedrontam quem passa por ela. Entretanto, “não há perigo em relação a

assalto, eles vem, cheiram cola, mas não mexem com ninguém e quando brigam é entre eles mesmos”, conclui José Hilton. Na região central de Imperatriz as praças da Cultura, Tiradentes, Fátima e Mané Garrincha estão situadas próximas umas das outras e são utilizadas principalmente para manifestações, lazer aos finais de semana e abrigo para os moradores de rua. O Bairro Juçara, situado nessa região, não possui nenhuma praça e nenhum lugar para lazer.

Ruas com nomes de estados brasileiros facilitam localização em Imperatriz JACKELINE TEIXEIRA

Rua Pernambuco atravessa toda a região central. Como ela, outras vias levam o nome de estados ANDRÉ NETO

Uma grande cidade pode ser descoberta andando e conhecendo a história de suas ruas e avenidas. São nessas veias pulsantes que cortam o município de norte a sul, e de leste a oeste, onde acontece de

tudo, encontros, desencontros, protestos, manifestações e tragédias, E é nas ruas e avenidas que se vê o progresso acontecer. São Paulo tem a Avenida Paulista e a Rua 25 de Março, Paris tem a Champs-Élysées e Nova York é conhecida pela Quinta Avenida. São logradouros que remetem de cara

à cidade a que pertencem, identificando de imediato o lugar. Imperatriz tem um conjunto de ruas centrais com uma peculiaridade: nomes de estados brasileiros. Elas seguem paralelas uma após a outra, na mesma sequência em que aparecem no mapa do Brasil, começando com a Rua Rio de Janeiro até a Amazonas. São vias extensas, que passam por bairros populosos e que têm maior importância nos bairros Centro, Juçara e Três Poderes. O Bairro Juçara aos poucos vai deixando de ser um local predominantemente residencial. Hoje, lojas, clínicas, oficinas e escritórios estão no lugar onde eram casas antigamente. As ruas reuniam muitas crianças brincando, como bem lembrou a bancária aposentada Dirce Rosa, que mora no bairro há 23 anos. “Os meninos jogavam bola, empinavam pipa nas ruas. Os meus filhos cresceram tudo junto com os filhos dos vizinhos. Hoje não vejo mais esse movimento de crianças. Há 18 anos era melhor”, destaca Dirce. Ela conta que por causa do movimento intenso de carros as crianças são obrigadas a brincarem

somente nas calçadas, como a sua neta, que sempre que a visita utiliza a calçada em frente para passear de velocípede. Outro aspecto que chama a atenção com relação às ruas do Bairro Juçara e Centro é a manutenção constante da prefeitura. Serviços de limpeza, tapa-buracos, pintura de meio-fio, podas de árvores, rede elétrica, têm uma frequência maior em comparação a outros bairros da cidade. “O carro de lixo não deixa de passar nem um dia. E sempre vejo varrerem as ruas ou outros serviços sendo feitos rapidinho. Até esgoto entupido a Caema vem logo resolver”, disse o militar Carlos Jeffeson Félix Ulisses, morador do Juçara há 25 anos.

Localização - A maior dificuldade para quem passeia ou utiliza dos serviços encontrados nas ruas da região central é quanto à localização de endereços. É muito comum passar mais de uma vez em frente a uma casa e não saber que número ela tem. Sem falar que muitas ruas não têm placas de identificação ou, começam com um nome e ter-

minam com outro. O mototaxista Walkinaer Moraes Andrade trabalha há sete anos no posto em frente ao Shopping Timbira e explica que quando o passageiro já vem com o endereço certinho, dizendo inclusive entre quais ruas fica, se torna mais fácil de achar, senão, pode rodar bastante até encontrar. Quem está apenas de passagem pela cidade e encontra dificuldade para achar endereços, vai ter que confiar nos taxistas ou mototaxistas. O auxiliar administrativo Erinaldo da Silva Brito mora em Itinga-MA e toda semana vem a Imperatriz prestar contas na Junta de Serviço Militar. Ele diz que só conhece o trecho entre Nova Imperatriz-Centro-Bacuri e só as principais ruas. Para ele é uma vantagem já saber entre quais ruas fica o endereço, porque existem muitos números repetidos na mesma via. “Sempre que venho a Imperatriz e preciso ir a para outro lugar, já digo logo pro mototaxista entre quais ruas fica o meu destino, facilita pra achar. Esse negócio de ‘entre quais ruas’, só tem aqui em Imperatriz, em outras cidades nunca vi”, admite Brito.


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INFLUÊNCIA De pequeno povoado a um dos maiores núcleos demográficos de Imperatriz, o Grande Santa Rita guarda uma tradição de devoção à santa sofredora

“O povo do Santa Rita é bem religioso” DEYLANNE SANTOS

temos um público bom aqui. Nos finais de semana esta igreja lota”. A área territorial canônica da paróquia é bem extensa. Compreende vários bairros, como por exemplo: São José, Novo Horizonte, Planalto, Vila Macedo, além de povoados como Lagoa Verde. Ao todo são 13 capelas, das quais todas contam com grupos de jovens e missionários. Aos domingos são realizadas quatro missas na matriz. A ideia é auxiliar os fiéis dando maior flexibilidade de tempo e atendendo públicos diferentes em cada horário. A paróquia conta com atividades que visam à evangelização e o melhor apoio aos fiéis do bairro. “Nós temos aqui o nosso centro pastoral, temos catequese, que vai dando a formação para essas crianças e adolescentes”, aponta o padre catarinense Agenor. Santa Rita de Cássia, de origem italiana, é a segunda santa mais popular no Brasil, perdendo o posto para a padroeira nacional Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Com uma história de recomeço e persistência no amor divino, a santa é sinônimo de graça para as causas consideradas impossíveis. Padre Agenor Mendonça, durante celebração de missa na paróquia Santa Rita. Segundo ele, a fé deve ser constantemente alimentada JHENE ASSIS

Paredes de taipa, cobertura de palha. Estrutura singela. Pretensão evangelizadora. É no ano de 1981, que nasce, dois anos após a fundação da Paróquia de Santa Rita, a primeira capela, construída em mutirão com os moradores locais. O bairro, que contava apenas com três ruas, a partir do surgimen-

to da comunidade tornou-se um dos maiores núcleos demográficos da cidade: o Grande Santa Rita. A história de devoção e religião dos primeiros moradores foi determinante para aceitação e batismo do nome do bairro. “Por serem um povo sofredor, sem água potável e com muitas doenças, foi sugerido por dois funcionários da Sucam (Adolfo e Davi) que o setor se chamasse ‘o Bairro Santa Rita’ por

se tratar de uma santa que sofreu muito”, relata a aposentada Lucília do Nascimento, 63 anos. De pequena comunidade pertencente à Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Santa Rita tornou-se uma das mais importantes paróquias imperatrizenses. Para o atual pároco, padre Agenor Mendonça, 56 anos, o bairro é bem católico. “É a segunda paróquia da Diocese de Imperatriz. Nós

Festejo- Como fruto da tradição e da fé, desde 1982 é realizado todos os anos o festejo em honra a Santa Rita de Cássia. A comemoração acontece entre os dias 1º e 22 de maio, reunindo mais de 10 mil pessoas, de todas as idades. Para Maria Eduarda, de 9 anos, que sonha em ser médica, essa comemoração é mais que festa. “É aqui que aprendemos as coisas de Deus”. O festejo já é uma data bem esperada pelos fiéis do bairro e a cada ano reúne um público maior.

Há quem participa “desde sempre”, como é o caso da estudante Andressa Pereira, 15 anos. Ela vê em sua fé na santa, uma motivação a mais. “Acho muito bonito. Ela foi uma mulher muito importante. Quando você olha dá vontade de seguir seus passos. Foi um verdadeiro modelo”. Para quem participa a primeira vez da festança, a impressão é a melhor possível. É o que revela a dona de casa Maria do Amparo, 52 anos, da paróquia de Nova Imperatriz. “Percebi que o povo do bairro aqui é bem religioso. Tem mais católico que evangélico”. Último dia de festejo: todos os bancos da Igreja ocupados, pátio lotado e rosas nas mãos. A expressão da fé cristã católica comove o bairro. Procissão, fogos, palmas e muito louvor. Ao final da missa, que é celebrada pelo Bispo da Diocese, Dom Gilberto Pastana, os fiéis são acolhidos no pátio da paróquia, com música e barracas recheadas de guloseimas. A manifestação religiosa acolhe não só seus paroquianos, mas também, outras paróquias circunvizinhas. O festejo é a mais forte representação católica no bairro. É o que acredita Raimunda Bahia Lima, de 62 anos, e que há 22 frequenta a festividade. “É muito importante para manter a religião no bairro. Muita gente, é sinal de muita fé”. Padre Agenor constata o sucesso e a grande aceitação destes dias de fé e esperança que preenchem os corações dos fiéis da paróquia. Segundo ele, a Igreja Católica, principalmente nos dias de hoje, tem que se reinventar mantendo as tradições e acima de tudo a fé. “A fé tem que ser alimentada. Então, na medida que a gente vai promovendo essa evangelização tende a crescer”.

Feirinha do Bom Sucesso: mistura de sons, sabores e cheiros DEYLANNE SANTOS

São seis horas e a movimentação de pessoas já começou. É um sobe e desce por vias estreitas, muito topa-topa e a pechincha rolando solta. “Hoje eu vou botar é pra vender tudo”, diz um feirante. “Moço, quanto que custa?” pergunta uma freguesa. Uma mistura de sons, sabores, cheiros, cores e texturas compõem a variedade de produtos da maior feira de bairro de Imperatriz, a feirinha do Bom Sucesso. “Começou com 13 bancas. E de lá pra cá só vem crescendo”, afirma o presidente da Associação de Moradores e fundador da feirinha, Pedro Ambrosio. Fundada em 1987, a feira, que funciona aos domingos, hoje possui em torno de mil bancas, ocupando cerca de dois quilômetros de extensão de ruas como Quintino Bocaiúva, Raimundo de Morais, Dom Evaristo Arns, São Vicente de Paula e Bom Jesus. “Já foi considerada a maior feira a céu aberto do Maranhão”, acrescenta o presidente. A feira é frequentada por pessoas de toda a cidade. No entanto,

abastece principalmente a região do grande Santa Rita, que engloba vários bairros como São José, Planalto, Vila Macedo, Imigrantes, já que a feira mais perto fica no bairro Nova Imperatriz, próxima ao Centro. O pedreiro Joaquim Gomes e sua esposa Alice Alves, sempre vêm à feira porque onde moram, no bairro São José, não existe nenhuma e os preços no supermercado são mais elevados. “A gente vem comprar aqui o básico: feijão, arroz, verduras porque tem mais opção e as coisas são mais em conta”. A feirinha vende uma infinidade de produtos como roupas, calçados, frutas, verduras, carnes, ervas e peixes que, aliás, são um grande atrativo tendo uma rua dedicada à iguaria: a “Rua do Peixe”. De acordo com Ambrósio, circulam pela feira aos domingos, cerca de 30 mil pessoas, o que gera uma receita de aproximadamente R$ 3 milhões. “Estimamos que cada pessoa venha com R$ 100 para comprar, mas isso pode ser até mais”.

Feirantes - Um local rico em estereótipos, cada pessoa com um jeito

peculiar de ser e diferentes histórias para contar. Um senhorzinho simples pode ser visto na barraquinha de ervas. José Gonçalves, meio tímido, conta que vende ervas, cascas, temperos e garrafadas há uns 20 anos na feirinha. “Aqui tem um monte de cascas que servem pras doenças doidas, como diabetes e pneumonia”. T.A. tem nove anos e vende CDs e DVDs para a mãe. Um garoto franzino e simpático que admite não gostar de vender, mas ressalta que é preciso. Sobre o que quer ser quando crescer, ele é despretensioso. “Ah... o que Deus quiser”. Diferente de D.O., de apenas seis anos, que vende cheiro verde com o tio no maior entusiasmo e leva com a inocência de criança, tudo como uma diversão, apesar de atender os clientes como gente grande. Sentada no chão, concentrada em debulhar o feijão, Ilnete Machado, feirante desde os 10 anos, conta que sai muito cedo do Bananal, onde mora, para começar mais um árduo domingo de feira. “Saio às 5h30 para chegar com hora para montar a barraca”.

JHENE ASSIS

Grande variedade de frutas, legumes e utilidade doméstica faz da feira umas das maiores da cidade


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ENSINO Abas - Mimos de Criança é uma extensão da caridade de Adolfo Silva. Para a surpresa da mãe, ele acolhia e alimentava em sua casa várias crianças de rua

Mãe abre creche em memória do filho morto REBECA VIANA

“Mãe perde filho de 20 anos em um acidente de carro”. A princípio parece ser só mais uma tragédia, dessas que são noticiadas diariamente na mídia. Porém, a partir dela, surgiu a Associação Beneficente Adolfo Silva (Abas), hoje localizada no Bairro Imigrantes. Trata-se de uma creche filantrópica, fundada por Nanete, mãe de Adolfo Silva, este que desde cedo já demonstrava o desejo em ajudar os menores desfavorecidos. “Ele, mesmo sem eu gostar muito, pegava todo menino de rua que via, levava pra casa e dava comida pra eles”. Após a morte prematura do filho, Nanete percebeu que deveria, de alguma maneira, dar continuidade ao gesto solidário. Então surgiu a ideia de fundar uma creche, que atendesse principalmente crianças carentes. “Durante uma viagem, vi o nome Abas em algum papel dentro do avião. Aquele nome ficou martelando na minha cabeça. Era como se fosse um sinal, uma confirmação do que tinha que fazer”. Então, em 1999, um ano depois da morte de Adolfo, foi fundada a A.B.A.S. Começou em um lugar pequeno. Depois, com ajuda do seu irmão, Nanete conseguiu comprar um terreno maior, no Bairro Imigrantes,

onde atualmente localiza-se a creche. Lá é disponibilizada educação infantil com o Jardim I, II e III, além de cursos profissionalizantes para mães, como o de artesanato e corte e costura. Tem até horta comunitária, tudo gratuito, inclusive os serviços prestados pelos professores, vigias, agricultores e zeladores, que são voluntários.

“Ati é o melhor lugar. Quelo ficar aqui. E também quelo que a tia deixe ficar mais tempo no recreio”.

Fama -

Apesar de não ser municipalizada, não tendo, portanto qualquer vínculo ou ajuda do governo e existirem outras três creches municipais nas redondezas, a A.B.A.S. é a mais requisitada da região do grande Santa Rita. Não se limita apenas à educação e oferecer alimentação balanceada e recreação segura. Segundo Nanete, as crianças recebem estímulos sobre senso de responsabilidade

FOTOS: REBECA VIANA

Dificuldades - Os italianos também “apadrinhavam” as crianças mais carentes, chegando a fornecer cestas básicas para suas respectivas famílias. Mas, devido à crise econômica europeia, a Itália vive tempos difíceis e alguns gastos precisaram ser reduzidos. “Estamos lutando por um bebedouro. Por enquanto a água é servida em litros de refrigerante que, com o calorzão, vão esquentando”, afirma a diretora Nanete, que também é merendeira e cuida dos serviços gerais. Ainda assim, para Cleidiane Sena, mãe de dois alunos da creche, lá é o local mais adequado para deixar seus filhos. “As mães têm muitas coisas pra fazer. É bom ter um lugar seguro pra deixar o filho. Aqui é muito bom, eles aprendem e ainda se alimentam”. Já o tímido Diogo Rodrigues, contando nos pequenos dedinhos, ressalta que já tem 4 anos e que nunca quer sair de lá. “Ati é o melhor lugar. Quelo ficar aqui. E também quelo que a tia deixe ficar mais tempo no recreio”.

Antigo lixão deu espaço à Praça Mulheres de Ferro: lugar de venda, encontros e muita diversão

Crianças durante a recreação à espera do lanche, um dos momentos preferidos entre os pequenos

Sorriso da pequena Joana é o resultado de um legado de caridade e amor deixado por Adolfo Silva

Mulheres de Ferro: a força construtora da praça símbolo que une o Planalto II SAULO RODRIGUES

Vilma Dias é uma das cinco mulheres que transformou um lixão em espaço de lazer para comunidade

FOTOS: SAULO RODRIGUES

social e também contribuem com a limpeza do lugar, não jogando lixo no local indevido. Conhecida, ainda, por Mimo de Criança, a associação beneficente é mantida por uma considerável ajuda de italianos missionários e contribuição da comunidade.

“Quem vê aquele pedacinho ali pensa que não é nada, mas para nós foi muita coisa”. É assim que Vilma Dias de Oliveira, 53 anos, descreve a importância da Praça Mulheres de Ferro, no bairro Planalto II. A ideia de construir a praça surgiu de uma mulher, Angélica, que sonhava com um lugar que servisse de lazer no bairro. Vilma conta que Angélica a convidou para “pegar a enxada e fazer uma limpeza onde antes era apenas lixão. O pessoal que passava ficava fazendo críticas e debochando de nós enquanto capinávamos aquele local”. Ao passar das horas daquele mesmo dia, mais algumas mulheres chegaram para ajudar. E foi assim, com a ajuda de mulheres como Angélica, Bruna, Gislene, Cláudia, Maria de Jesus e Vilma, que a pequena e tímida pracinha passou a existir. Mesmo com todo esforço, essas cinco mulheres perceberam que precisariam de ajuda. “A gente parou e teve a ideia de chamar o Bandeira 2. A equipe veio, fez a entrevista e aí a gente desafiou: Qual era o vereador que tinha coragem de, até no outro dia, ajudar a gente”, relata Vilma.

O desafio foi aceito e um parlamentar contribuiu com os tijolos, piçarra e cimento. Mas Vilma ressalta que “ele fez a obrigação de qualquer vereador”. A partir daí, a comunidade começou a ajudar também: um dava um saco de cimento, o outro o seixo e a mão de obra. Cada uma das pessoas ajudava com o que podia. Com sete anos de existência, o espírito de cooperativismo ainda é comum em torno da praça. Os moradores sempre reúnem e fazem os pequenos reparos necessários nesse local que serve, além de outras atividades, para as confraternizações de datas comemorativas. A falta de saneamento no bairro também atinge os arredores da pracinha que fica localizada entre a Avenida Imperatriz e a Rua do Cravo. Segundo o presidente da Associação de Moradores, Carlito Romão, vários foram os pedidos para que alguma autoridade solucionasse a situação. Point - Em um bairro onde o lazer é inexistente, a pracinha com suas pequenas dimensões (pouco menos de 300 metros quadrados) faz a alegria de seus visitantes. “Aqui é o ponto da gente. Quase toda noite venho aqui com meu filho. Ele brinca de bola, conversa com os amiguinhos. Ele tem 10

anos e precisa brincar”, afirma Antonio Conceição Oliveira, 63 anos. A pracinha é a única do bairro, sendo que outras mais próximas ficam no Santa Rita. Isaías Bandeira da Silva, 12 anos, confirma a importância do local. “Eu fico aqui direto. Brinco de bola e tal. O único lugar melhor do Planalto é aqui”. O valor da atitude desse grupo de mulheres é reconhecido até por homens que não acreditavam no projeto. “O pessoal ficava mangando: rapaz essas mulheres não têm o que fazer mesmo. Mas se não fossem elas, até hoje isso era um matagal”, testemunha Weudes de Almeida Silva. A Mulheres de Ferro tornouse também um bom local de vendas. Ao anoitecer alguns moradores montam suas bancas e ali comercializam espetinho, crepe, milho verde, dentre outras comidas. Ivania Maria Silva Carvalho, 37 anos, é uma delas. “Antes aqui era um matagal. E nós mulheres tomamos a iniciativa. Através dela (praça) muitas pessoas estão conseguindo alcançar seus objetivos. Com o que vendo aqui consegui aumentar minha casa e troquei alguns móveis”, revela dona Popota, como popularmente é conhecida. Para ela, a praça é o cartão postal do bairro.


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ENTREVISTA Professor Expedito Barroso fala do dinamismo urbanístico de Imperatriz e analisa o contexto político, cultural e os desafios ambientais da cidade

“Falta mais cidadania e participação popular” Expedito Barroso é graduado em Ciências Biológicas e mestre em Ciências Florestais. Foi secretário de Infraestrutu-

ra e Meio Ambiente em Imperatriz entre os anos de 2001 e 2004. Atualmente é diretor da Universidade Estadual do Ma-

ranhão (UEMA). Em entrevista ao Jornal Arrocha, ele fala sobre as diretrizes políticas para os desafios urbanísticos da ci-

dade, apontando o Plano Diretor como a forma mais eficaz de desenvolvimento urbano. Falou ainda dos danos ambientais

causados pelas grandes empresas instaladas em Imperatriz e sobre o destino adequado do lixo que produzimos. FOTOS: DOMINGOS ALMEIDA

DOMINGOS DE ALMEIDA JOSÉ MORAES

O Plano Diretor de Imperatriz, criado em 2004 foi contestado pelo Ministério Público Estadual. Onde se concentram as maiores perdas para a cidade com a não execução do Plano? Desde a Constituição de 1989 os municípios acima de 20 mil habitantes têm que constar o Plano Diretor como instrumento de controle social e de deliberação de diretrizes para as políticas de desenvolvimento urbano. O que faz a ausência desse Plano Diretor? Evita a participação social na política de desenvolvimento urbano e planejamento urbanístico da cidade. Então é necessário que se tenha esse instrumento. Existe o Fundo Nacional de Habitação e Interesse Social, que tem uma quantidade de recursos para a implantação de moradias para famílias que estão em situação de risco ou de vulnerabilidade urbana. Assim como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano (FNDU), que são mais acessíveis se tiver o Plano Diretor. Aí vemos a necessidade de existir esse instrumento regulatório de controle e monitoramento de políticas públicas para o contexto urbano. Porque é tão difícil se combater as enchentes de Imperatriz? Imperatriz está localizada em uma área de intervenção direta do rio. Só no perímetro urbano nós temos o Riacho Bacuri, o Cacau e o Capivara, que se liga com o Riacho Santa Tereza. Então, temos pelo menos quatro riachos que estão na malha urbana da cidade. Aqui é uma região de influência do Rio Tocantins, no caso do Bairro Beira-Rio, Vila Leandra e Bairro da Caema. São áreas que foram desordenadamente ocupadas até o leito, e às vezes, como é o caso do Riacho Bacuri, em cima do leito. Temos também um aspecto nosso enquanto cidadão, de ter o rio como nossa lata de lixo. Aquele utensílio que não me ser-

ve mais, desde uma pilha de rádio a um casco de geladeira, um sofá, eu acho mais fácil jogá-lo no rio do que esperar o serviço de coleta. Tanto o relevo, quanto as políticas públicas ineficazes e essa falta de consciência ambiental colaboram para o aumento do problema. É possível minorar, recuperando as margens desses riachos e fazendo o remanejamento dessa população que está em área de risco, sujeita aos impactos sociais e ambientais.

consistente ela vai minimizar suas ações para mitigar esses efeitos. Uma coisa é certa: na relação capital e trabalho, o capital não faz filantropia. Empresa existe para ter lucro, minimizando gastos. Se não há um planejamento ordenado dessa cobrança e um controle dos órgãos, não apenas o município, mas o Estado, no monitoramento e controle dos impactos, a empresa vai trabalhar com o mínimo possível de investimentos na área.

Nos últimos anos Imperatriz recebeu polos de grandes empresas e agora sofre com danos ambientais provocados por elas. Faltou planejamento na implantação desses projetos empresariais? É inegável que o processo de crescimento que ocorre no país, a partir da última década, interiorizou os investimentos e fez com que cidades médias localizadas no interior do Nordeste, Norte e Centro-Oeste tivessem um aporte de investimentos particulares com financiamento público enorme. E houve certa política de atração do investimento, mas não uma política de controle de participação nesse planejamento para mitigar os impactos ambientais. Seria imprudente a gente imaginar que uma indústria de papel e celulose não irá trazer impactos ambientais. Tanto traz que há uma definição na legislação ambiental de se fazer os estudos de impactos ambientais e o plano de recuperação de áreas degradadas. Como a Suzano tem capital aberto, quando ela escolhe um local com logística boa que permita competitividade no mercado internacional, ela não vai se instalar por conta de outras demandas que não sejam de caráter estritamente técnico. Logo, se quem está recebendo não determina critérios, normas, procedimentos e ações que possam minimizar esses efeitos ambientais no seu contexto global, físico, social, econômico e político... Se a empresa que vem não tem essa cobrança de forma ordenada e

O município foi negligente em não cobrar os investimentos da empresa para asem tamanha proporção? Eu estendo para as forças políticas do município. Aí eu incorporo as universidades, as associações, tanto de pequenos produtores quanto as de grandes empresários.

“Seria imprudente a gente imaginar que uma indústria de papel e celulose não irá trazer impactos ambientais”

Nós, também, temos nossa parcela de culpa e responsabilidade. Em Imperatriz foram realizadas duas audiências públicas, uma sobre o maciço florestal e outra sobre a fábrica. Algumas medidas colocadas nas audiências nunca foram cumpridas. Se não se cumpre questões simples e não há cobrança do órgão de licenciamento ambiental; se a empresa não cumpriu [o acordo] e o Estado, enquanto ente de poder, não cobrou, que dirá das questões que envolvem impactos da geomorfologia sobre as bacias subterrâneas e hídricas e sobre as outras demandas!

Falta empenho dos administradores para resolver os problemas de Imperatriz, ou a cidade é mesmo desafiante a ponto de impossibilitar a chegada de benefícios públicos em alguns locais? Eu não digo que falte empenho, digo que falta mais cidadania, e isso não há como culpar os gestores. Tão somente digo que falta mais cidadania e mais instrumentos de participação popular para definição da cidade que nós queremos, e como nós queremos. Com nível de satisfação e de bem estar urbano, social, ambiental, econômico e sanitário. Envolve a nós como atores, ter pró-ação, uma política organizativa. E as universidades públicas ou particulares têm um papel fundamental nisso, que é produzir o conhecimento sobre essa realidade para que possamos contribuir nessa agenda de desenvolvimento local e regional. Como fazer para investir os recursos do município para garantir a chegada dos benefícios aos locais mais necessitados? Cumprir a Lei Orgânica do Município, cumprir os marcos que o Governo Federal e Estadual exigem, que são as políticas públicas com participação popular e controle social com transparência e eficácia. Você acredita que Imperatriz está pronta para garantir o destino adequado do lixo com a desativação do lixão municipal? Acredito! Não tenho dúvidas quanto a isso! O município está discutindo e a gente está vendo com bons olhos esta discussão sobre a desativação do lixão. Os municípios, a partir de 2014 são obrigados a ter um Plano Municipal Gerencial de seus Resíduos Sólidos. E a gente acredita que é plenamente possível ter coletas seletivas e locais de entrega voluntárias. A Associação dos Catadores de Resíduos de Imperatriz (Ascamari), hoje, já está recolhendo material reciclável. Mais ou menos 28 toneladas de papel, de plástico que iriam para o lixão estão servin-

do de renda para esses catadores. Inclusive estamos implantando, agora, na UFMA e na UEMA as begs [latas de lixo] para fazer coleta seletiva. Nas universidades se produz muito papel como resíduo, então o papel, o plástico das lanchonetes, dos equipamentos e das demais embalagens, a gente vai coletar em parceria com a Associação para que esse material, que é produzido em grande quantidade, possa ser utilizado pelos catadores. Eu vejo que isso é plenamente possível. Desde que seja feito com transparência, com expertises, com pessoas que entendam. Convidando os atores da sociedade que detém o conhecimento e informações para socializar nesse assunto, fazendo um plano sobre tudo que permita a participação e o controle social. Professor, o Movimento Cultural de Imperatriz entrou em uma luta contra o Governo do Estado para conseguir transformar o antigo prédio da Caema em um Centro Cultural. Qual a relevância do trabalho desse possível Centro para as pessoas dos bairros carentes da cidade? Cidadania. Ci-da-da-nia (bem compassado). Aquela região do bairro da Caema produz artes todo dia. Agora a arte que se produz lá está sendo pouco consumida e apreciada enquanto um produto. Mas, o papel desses artistas é levar cidadania e educação. Isso se chama educação de cima para baixo que se faz com inclusão, pela arte, pelo conhecimento, pelo lúdico e pelo prazer. Essa atitude de ocupação do prédio, como foi o movimento Ocupart, na antiga biblioteca, são movimentos salutares porque sacodem, botam poeira no ar. E nesse ponto específico falta uma política cultural na cidade de Imperatriz. Houve recentemente a Conferência Municipal de Cultura. Acho que isso era um assunto importante que deveria ser pautado, em relação ao prédio da Caema para que aquilo lá possa ser transformado em um espaço de cidadania. Um espaço cultural.


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TRANSFORMAÇÃO Antigos moradores relembram as origens dos Bairros Bacurí, Buruti e Parque Anhaguera, com os relatos de mudanças ocorridas nos últimos 30 anos

Três bairros em três décadas de história LUANDA VIEIRA

ARQUIVO PESSOAL: MARCELINA ALENCAR

LUANDA VIEIRA

“Quando viemos morar no Bairro Bacuri, em janeiro de 1982, era difícil chegar aqui. Sempre nos perdíamos, porque ainda tava construindo a ponte sobre o riacho e quando chovia a água dava na cintura. A gente tinha que vir pela Rua Leôncio e saía depois da Rua Beta”. Marcelina Alencar da Silva, 73 anos, costureira aposentada, moradora da Rua Simplício Moreira há 31 anos, conta que a única casa daquele quarteirão era a dela e de sua comadre e o resto era só mato. “Graças a Deus tenho a sorte de ir morar em uma rua e logo chegar as melhorias”, agradece ela. Marcelina se lembra que não havia água encanada e nem energia, mas não demorou muito para chegar. “A energia era até ali no Centro Espírita, próximo onde hoje é a padaria Santiago e em pouco tempo tava para lá do Parque do Buriti”. Muito religiosa, Marcelina fala da sorte que tem de vir morar em um bairro que não demorou muito para se desenvolver. “Essa rua já era feita, não tinha asfalto, mas já tava feita”. Ela ainda lembra como era o riacho. “A água era limpa, cristalina, um Bacuri bonito e limpo. Muito diferente de hoje, só lixo, uma nojeira”.

Buriti – Morando há 28 anos no Bairro Buriti, Maria Madalena Carneiro Mota, 53 anos, conta que a região onde mora já se desenvolveu muito. “No lugar desse complexo de saúde era uma praça e antes de ser praça, um matadouro”.

LUANDA VIEIRA

Marcelina Alencar da Silva conta que a região do grande Bacuri cresceu muito em três décadas

Rua Simplício Moreira nos anos 1980 (acima) e atualmente (abaixo). A cidade não para de crescer

Foram feitos vários abaixo- assinados por moradores da região para a retirada do matadouro. Depois de muita luta e com a ajuda da impresa, conseguiram. Madalena lembra que após ser desativado, aquele mau cheiro do matadouro ainda durou três anos. “Ali para cima fica o Parque Anhanguera, onde era só mato e terreno para vender”, relembra Madalena. Ela tinha poucos vizinhos e depois de alguns anos, o bairro fi-

Morando há 27 anos no Parque Anhanguera, Raimunda da Silva Sousa, 53 anos, é presidente do Clube de Mães. Ela conta que quando mudou para o bairro era só a sua casa e mais outras duas que ficavam um pouco longe. “Ali onde é a igreja e o clube de mães era uma lavanderia e o resto era só mato, terrenos desocupados”. Raimunda diz que a maioria dos terrenos no bairro foram invadidos e

cou cheio de casas e pessoas. “Gosto de morar aqui, para mim é o melhor bairro”, afirma Antonio Pereira dos Santos, 53 anos, comerciante, 24 anos morando no Parque do Buriti. “As mudanças no bairro foram muitas. Antes tudo era terreno onde a molecada alvoroçada jogava bola. Há 20 anos, aqui só duas pessoas tinha carro. Agora todo mundo tem, menos eu”, conta Antonio, em meio aos risos.

que nenhum deles tem título definitivo da casa. “Não dá para fazer uma definição certa dos bairros, só sei onde começa o Bacuri, aí vem o Buriti e depois o Anhanguera”, explica Marcelina. Ela não sabe o motivo do nome do bairro, mas acha que é por causa do riacho. É o que vem nas contas de água e energia, mas para ela o bairro Bacuri é onde os ribeirinhos moram, nas margens do riacho.

Tradicional Feira do Bacuri é o centro do comércio alternativo no bairro FOTOS: MARINA CARDOSO MARINA CARDOSO

Feira atrai consumidores locais nos fins de semana. Diversidade e criatividade são fundamentais para se destacar dos demais concorrentes

A Feirinha do Bacuri existe há décadas. É um mercado alternativo semelhante ao Mercadinho para as pessoas que querem comprar frutas, verduras, carnes, peixes, CD’s e DVD’s piratas e acessórios sem precisar ir ao Centro ou enfrentar filas no supermercado. Na feira, o cliente pode encontrar raízes, mel, azeites e folhas para chá que são típicas da região por um preço acessível. Domingo é o dia de maior movimento e as barracas competem, lado a lado, por espaço e clientes. O feirante mais criativo e simpático, ganha um cliente fiel. Rodeada pelo colorido das frutas e verduras é onde Celina Almeida trabalha há mais de dez anos. Jeito tímido e reservado, ela conta como era quando chegou. As bancas eram na rua e de pau e só depois, em conjunto com outros feirantes, foram criados os espaços que lembram quiosques de alvenaria. A rotina de Celina é puxada. Começa de madrugada, quando sai da Vila Nova e só volta para casa no fim de tarde. Celina reclama que o

defeito que vê é que as bancas precisam de uma reforma. Milton da Cruz, 57 anos, sempre foi feirante e também vende frutas e verduras. Mas, na sua banca, o diferencial é o azeite de coco babaçu e mel de abelha. O primeiro é daqui do Maranhão e outro vem da divisa do Piauí com Ceará. Carismático e com olhar perdido, ele desabafa: “Emprego pra véi não tem mais. Bem melhor está aqui do que ficar lá em casa”. Maria Raimunda, 49 anos, é de Vitória do Mearim e tem um pequeno açougue na Feirinha, onde vende frangos, coração de boi, galinha, bisteca de porco e linguiça. Raimunda é só simpatia e está sempre com um sorriso no rosto. Ela é da mesma época de Celina e confirma que quando chegou também não havia a estrutura física de hoje e as bancas eram na rua. Atualmente paga impostos pelo local em que trabalha. Sobre a rotina no açougue os dias de semana, informa que o movimento é “meio fraco” e fim de semana “geralmente dá mais gente”. Mas pondera que isso não é regra e solta uma gargalhada. “Engraçado mesmo é quando o cliente não paga”.


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CONSCIENTIZAÇÃO Manutenção comunitária das praças do grande Bacuri foi a alternativa encontrada pelos moradores da região face ao habitual descaso público municipal

Moradores conservam praças do Bairro Bacuri RAILSON ANDRADE

Monumento que representa a Praça da Bíblia. Em 1993, o então prefeito Ribamar Fiquene, decidiu mudar o nome Imigrantes para Praça da Bíblia em uma tentativa de se aproximar dos eleitores evangélicos, que se tornavam mais numerosos RAILSON ANDRADE

Seguindo na Rua Leôncio Pires Dourado, sentido Centro-Bacuri encontramos a primeira praça, a da Bíblia, que ganhou este nome em 1993, na administração do prefeito Ribamar Fiquene. “Reuniu os evangélicos pra fazer uma graça, porque tava com dificuldade nas eleições”, afirma o pastor Josué Paulino, 48 anos, locutor da Rádio Missão, instalada na praça. No fim da tarde os adolescentes praticam esportes, senhoras observam suas crianças brincarem e ambulantes vendem lanches. Mas a praça já foi considerada o maior ponto de prostituição infantil do Brasil, segundo pesquisa feita por Josué Paulino, que trabalhou no Conselho Municipal da Criança e do Adolescente por mais de 15 anos. Foi desenvolvida em conjunto com entidades das capitais São Luís, Bra-

sília e com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Esse trabalho foi realizado de 1999 até 2005, com acompanhamento do Ministério Público, e com juízes da Vara da Infância. “Hoje a praça não é muito diferente. Ainda se vê os grupinhos usando drogas, a polícia passa, faz a batida, mas os traficantes foram se adequando de acordo com a lei”, afirma Josué, que também é estudante de Direito. Seguindo na mesma rua, encontramos a Praça da Alegria, mais conhecida por ser da Feirinha do Bacuri. Inaugurada em 16 de novembro de 1979, na administração de Carlos Gomes de Amorim, é a única que ainda mantém a placa. A praça às vezes é usada para blitzes de divulgação de campanhas ou eventos. “Todo dia eu vou buscar uma autorização para podar essas árvores, e nunca consegui”. Esta é a reclamação do presidente do posto de

táxi, Ariolino da Conceição Setuba, 66 anos, devido à perda de três para-brisas de carro. A praça sempre está cheia de ambulantes e pessoas sem moradia. Um “carrinho” de comida teve seus pneus fixados com cimento. “De tanto a gente falar que tava errado a fiscalização veio aí e falou que tinha que levar pra casa e trazer todo dia. Mas aquele ‘carrinho’ nunca foi em casa, depois ela colocou aquela cobertura e nunca mais tirou”. “As árvores frutíferas foram plantadas duas vezes pelos taxistas que as compraram, devido à má pulverização”, afirma Ariolino, que exerce a profissão há 26 anos, sempre no mesmo local. Mais à frente encontramos a Rua João Pessoa e seguindo à sua direita, chegamos à Praça da Viola, mas a que vemos se chama Guilhermano Reis. A verdadeira Praça da Viola está há poucos metros, mas fechada por muros e grades. É um RAILSON ANDRADE

Moradores decidem democraticamente quais eventos serão realizados na Praça Anhanguera, conhecida por São Miguel

espaço que pertence agora ao Complexo de Saúde. Maria Madalena Mota, 53 anos, lembra-se da Praça da Viola da época dos bancos, dos pés de caju. “Ela era toda aberta, eles fecharam ali por causa dos vândalos, quando eles construíram esse Complexo”. Em 1985 Maria se mudou para a casa que mora até hoje, mas passou dez anos no Pará. Antes, fez muita campanha e abaixo- assinado para que asfaltassem a rua e tirassem o matadouro que estava localizado onde é a praça. “Quando eu fui, aqui não tinha nada, aí quando voltei tinha acontecido o milagre”. Chegando ao final da rua se encontra a praça conhecida por São Miguel, mas que se chama Praça Anhanguera. “Quando foi inaugurada era no tempo que o Ildon Marques era interventor, e ele não podia colocar nome. Mas aí colocou uma placa com o dia que foi inaugurada, bancos e colocou lá só Pra-

ça Anhanguera”, afirma a cabeleireira Raimunda Silva. No dia 30 de junho de 1985, Raimunda e sua família se mudaram para a casa que fica em frente à praça. “Aqui era só mato, um mato rasteiro com algumas moitas”. O local foi aparecendo devido ao contorno que o ônibus fazia no final da rua e foi formando um “limpão” no meio. “Depois que fizeram o meio fio, o Zé, meu marido, mais o seu Delmiro, que mora do outro lado começaram a pegar mudas de oiti e plantaram”. Todos os eventos são realizados na praça a partir de diálogos entre os moradores. Os eventos mais frequentes são evangélicos; o festejo da capela; o Dia das Mães, promovido pela ronda da comunidade com os policiais e o bazar. “Sou presidente também do Clube de Mães. Quando a gente quer arrecadar fundos, a gente faz seresta aqui na praça”, afirma Raimunda. RAILSON ANDRADE

Praça da Alegria, batizada pelos moradores como sendo da Feirinha do Bacuri. Ela é a mais arborizada do bairro


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RESSOCIALIZAÇÃO Apesar da sucessão de sustos causados pelos vizinhos da Unidade Prisional de Ressocialização de Imperatriz (UPRI) moradores consideram uma área tranquila

Com vista para a guarita da Unidade Prisional KELLY SARAIVA KELLY SARAIVA

A Rua 10, localizada no Bairro Buriti, poderia ser como outra via qualquer da cidade, não fosse a vista que seus moradores têm ao abrir suas janelas. A guarita da Unidade Prisional de Ressocialização de Imperatriz (UPRI) faz parte da paisagem desde que Heleide se mudou, em 1985. “Aqui era só mato, mermã... Não tinha essa Cerec, não tinha essa caixona d’água. Começaram a fazer no mesmo ano que a gente se mudou pra cá”. Apesar do medo e do problema de “nervoso” que adquiriu com a sucessão de sustos que os “vizinhos” lhe causaram, a moradora, mesmo gostando da ideia de se mudar, nunca colocou placa de vende-se em sua casa. “Eu tenho medo dos tiros, mas fora isso, aqui é muito tranquilo”. O prédio da Central de Recolhimento de Presos (Cerec), hoje UPRI, foi adaptado à estrutura de uma antiga escola pública de Imperatriz. No início, a instituição prisional não tinha a mínima condição de abrigar os presos. As primeiras rebeliões assumiam o caráter agressivo, mostrando o descontentamento dos detentos com a falta de infraestrutura, segundo o agente penitenciário Antônio Carlos da Paz Jr. Ele ainda reforça com dados dos primeiros anos de funcionamento do prédio.

Janela da casa da dona Heleide com vista para a guarita da UPRI. Lá, graças ao Projeto Raiar da Liberdade, detentos têm a chance de uma renda mensal

“Teve uma época que chegou a ter cerca de 320 presos em um espaço que cabiam apenas 120”. Ivan Rodrigues, antigo agente penitenciário da central, aponta as diferenças e compara os problemas enfrentados anteriormente com a atual situação. “A Polícia Civil tomava conta do sistema prisional na época. Era um sistema que ninguém olhava por ele. Hoje, com a Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária (Sejap), as coisas estão bem melhores. O preso tem con-

dições de sair total ou parcialmente recuperado de lá”.

Projeto – A Sejap lançou em maio de 2011 o projeto “Raiar da Liberdade”, uma parceria entre o Governo do Estado, a 5ª Vara Criminal e a empresa Bodim Bicicletas. O objetivo do projeto é valorizar o trabalho realizado pelos detentos, ensinando-lhes uma profissão e dando a oportunidade para que eles tenham uma renda mensal. “Além de ocupar a cabeça, a cada dia de trabalho é

subtraído um dia na pena deles”, informa o agente Antônio Carlos da Paz Jr.

Lei - Apesar da grande melhora de infraestrutura e organizacional ocorrida nos últimos anos, os casos de corrupção dentro do presídio ainda existem. “Alguns carcereiros, hoje chamados de monitores, se aproximam demais dos presos e colocam coisas ilícitas para dentro”. Facilitação muito bem remunerada. “Lá dentro é tudo muito mais caro.

As coisas funcionam diferente na cadeia, existe uma lei própria”, afirma o policial civil Ivan Rodrigues. Domingo. Dia de visita na UPRI. O ex-presidiário Bob, como gosta de ser chamado, tira um carrinho de mão por cima de um muro da Rua 10. Ele explica que está cuidando do terreno para a família e puxa assunto, mostrando a funcionária do presídio que entra pela porta lateral “toda boa, óia”. Debaixo de sol forte, esbanjando simpatia, conta como funciona a lei da cadeia. “Assim: o cara é tratado pelo grau do B.O. Se é Zé Ruela e só rouba galinha, ele entra aí só pra servir de saco de pancada. Fica sozinho jogado num canto. Aí, se consegue um ‘pexado’ ele fica mais tranquilo. Mas tipo, se o cara é ladrão de banco, os cara lava até a roupa dele. Sabe que o cara tem os vento aí, é massa”, explica, dando risada. Já com três passagens pela instituição, duas aqui e uma no Tocantins, Bob descreve a polícia com intimidade. “Bicho, mas no Tocantins nem compara, os PM de lá sabe bater. Dá só nos calcanhar e nos cotovelos, ou então nas juntas que chega bem no ossinho, dói pra porra. Prefiro ficar aqui sem nada do que tá aí dentro de novo. Deixa eu ir ali fazer meu servicim”. Da mesma forma que apareceu, ele vai embora, empurrando seu carrinho de mão e dá um tchauzinho animado para a moradora, que sorri de volta.

Festejo Católico se destaca entre manifestações religiosas do Bacuri SHEILA COSTA SHEILA COSTA

“Minha religião é tudo na minha vida. Não me acho em outro lugar, sem eu ser católica”, conta Ismerinda Carneiro da Silva, 66 anos, moradora do Bairro Bacuri há 17. Ela frequenta há 15 anos a Igreja São José do Egito, comunidade da paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Católica desde nascença, Ismerinda diz que sua família sempre foi do catolicismo. Atualmente ela participa do grupo de Legião de Maria. Diz que se sente bem em São José, pois é uma igreja acolhedora, há união e um apoio grande entre os participantes. Opinião compartilhada por Isabel Pereira dos Santos, de 16 anos. Católica praticante, ela está engajada em várias atividades da igreja. É integrante do grupo de jovens, Grupo Unido em Cristo (GUC) da Pastoral da Juventude. Participa do Coral da igreja e também faz parte da Liturgia do Dízimo. “Por ser acolhedora, ela é a típica igreja de bairro mesmo. Há uma grande participação das pessoas que moram próximo, mas há também dos mais distantes”. No Bairro Bacuri existe uma variedade religiosa. Outra denominação presente na região é o Espiritismo. Fundado dia 25 de maio de 1974, o Centro Espírita André

Luiz recebe muitos frequentadores, porém, a maioria é de outros bairros. Rhadamés Mesquita, secretário do Centro Espírita há cerca de 15 anos, conta que seus pais foram os fundadores do templo André Luiz. “Nasci em berço espírita”. Ele acrescenta, ainda, que o Espiritismo mudou a sua vida. “Me deu mais paciência, mais sentido para a vida”. Entre as atividades praticadas no Centro há o tratamento espiritual que é acompanhar as palestras. O passe, uma oração feita para as pessoas e a água fluidificada, considerada com energia e que pode transferir para as pessoas se curarem. Suelainy Matos, de 21 anos, moradora do Parque Buriti, é evangélica praticante há dois. Começou frequentando um grupo de teatro na igreja. “Sou evangélica desde o ventre da minha mãe. Parte da minha família era, mas todos desviaram e só eu fiquei. Pois o que me faz permanecer é Deus. É acreditar num Deus vivo”. No bairro Parque Anhaguera e Buriti existem muitas igrejas evangélicas e de congregações diferentes. Suelainy participa da Igreja Batista Nacional Adonai e, segundo ela, a maior parte dos frequentadores é do próprio bairro. “Há acolhimento e comunhão entre as pessoas. E uma ótima receptividade entre os membros”.

Ao centro, Dom Gilberto Pastana durante a celebração eucarística no festejo em honra a Cristo Salvador. A festa é uma das maiores da Diocese de Imperatriz

Na Paróquia de Cristo Salvador, localizada no Parque Buriti, ocorre, anualmente, o festejo em honra a Cristo Salvador. Em 2013 foi o 17°. Segundo o coordenador do festejo, José Wilame Alves, há uma grande participação da população em geral, não só os que participam normalmente das celebra-

ções, mas de todo o bairro e até pessoas de outras paróquias. “A nossa festa é tradicional. E a cada ano o número de participantes é maior. A cidade inteira termina se encontrando aqui no pátio da paróquia neste período”. O bispo da Diocese de Imperatriz, Dom Gilberto Pastana, acre-

dita que o festejo da paróquia de Cristo Salvador seja um dos maiores de Imperatriz. “Se comparar com Santa Teresa d’Ávila, São Francisco também dá muita gente, mas são festas da cidade. E falando em termos de bairro, eu penso que essa aqui, sem dúvida, é a maior festa da cidade”.


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LAZER Beira-Rio atrai diversos públicos com uma programação cultural de bares e restaurantes, pistas de exercícios físicos, comidas típicas e o Mercado do Peixe

Tradicional ponto turístico de Imperatriz FERNANDO DE AQUINO

Uma grande praça de alimentação, jogos para crianças, boates, restaurantes, um Mercado do Peixe, quadras esportivas, tudo emoldurado pelo Rio Tocantins. Essa é a descrição do ambiente tradicional do ponto turístico de Imperatriz, a Avenida Beira-Rio. Raphael Magalhães é morador da cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Ele revende semijoias para diversos atacadistas de Imperatriz e região. A primeira impressão do empresário da cidade, há dois anos, foi positiva. “Imperatriz é grandíssima, o comércio é bem estruturado e diversificado. Estamos em um centro”. Mas, segundo ele, há uma desarmonia em setores econômicos, principalmente em relação ao turismo, ponto que deveria ter mais investimentos. “O grande problema que eu vi aqui, é que a cidade não tem muita coisa pra mostrar pra quem vem de fora”. Em sua última viagem, Raphael trouxe sua esposa, a também empresária Paula Maria. A primeira vez na Beira-Rio foi uma boa surpresa para ambos. “O ambiente é familiar, há uma diversidade de comidas típicas e tudo às margens desse rio bonito”, avalia o mineiro, que na oportunidade experimentou a panelada. “É um pouco quente esse tempero”, reclamou Raphael do sabor apimentado. O bairro foi criado no final da década de 1960, mas as primeiras passarelas foram construídas em 1995, na época em que as lagoas foram divi-

didas e a orla foi criada. A última reforma aconteceu em 2001, quando as quadras de futebol de areia e concreto foram construídas para o uso desportivo. Deusdete Carvalho é vendedora de cachorro-quente. A barraca dela é colorida e ganha o cliente pela quantidade de molhos e recheios. “Aqui a prioridade é a organização e as cores”, reforça a expositora com um sorriso característico que já virou tradição para seus clientes. A jornada de trabalho da vendedora é puxada. De manhã ela cuida dos filhos e netos. No começo da tarde, quando os seus filhos e netos já estão na escola ela dá início ao seu expediente. “Vou ali à feirinha do Bom Sucesso e compro os ingredientes. Cheiro verde, pimentão, tomate e queijo. Deixo tudo cortado e depois preparo o molho”. Às 19 horas de domingo a banca já está cheia de clientes. Gilberto da Silva é baiano e frequentador assíduo da barraca de Deusdete. Para ele, a vendedora é o carisma em pessoa e na cidade não tem uma barraca com um tempero melhor. “É uma delícia esse hot-dog dela, sem falar que ela é muito educada e conquista com esse sorriso e simpatia. Quem não volta pra comer outro?” Mas nem tudo são flores para os turistas na Beira-Rio. “O maior problema daqui é a falta de estrutura. Cheguei a Imperatriz em 2009 e venho muito aqui na Beira-Rio no final da tarde para ver o pôr do sol”, afirma o corretor José Diogo Silva. O autônomo reclama da falta de bancos; do descuido com a grama e as passarelas quebradas

FOTOS: FERNANDO AQUINO

por ação humana ou destruídas pelo tempo. “Mas ali tem uma placa que diz que vai melhorar. São milhões e milhões de reais investidos, só falta saber se vai pra frente”. A placa a qual José se refere é sobre as obras de reestruturação e revitalização da Beira-Rio, orçadas em R$ 2 milhões.

Atrações- Quem vai à Avenida BeiraRio pode conferir a programação de diversas casas de show e restaurantes. “Por ser o grande cartão público da cidade, oferecemos aqui um cardápio especial para os nossos clientes”, afirma Alan Santos, gerente do restaurante República, localizado na segunda descida da Beira-Rio. Nos últimos anos a Beira-Rio também é um dos locais procurados para a prática das atividades físicas. O reflexo empresarial desse fenômeno é a instalação de duas academias de grande porte para a prática esportiva. O time de futebol feminino da escola Santos Dumont treina na quadra de areia todos os dias. Segundo as meninas, a Beira-Rio é o melhor local para realizar a atividade. “É bom jogar bola olhando pro rio. Deixa a gente melhor pra fazer o gol”, afirma Carleane Nogueira, goleira do time. José Diogo, mesmo insatisfeito com os problemas da avenida, afirma que sem esse ambiente, Imperatriz não teria um cartão de visitas. Natural de Altamira no Pará, ele diz que o local é um ponto de beleza incalculável que deve ter um cuidado especial. “Esse pôr do sol é lindo, aqui tem tudo pra ser o melhor local da cidade. Só falta administração e cuidado dos governos”.

Time de futebol feminino da escola Santos Dumont treina na quadra de areia todos os dias

Barraca de Deusdete é colorida e ganha o cliente pela quantidade de molhos e recheios

XV de Novembro representa um marco na história da cidade CARLOS EDUARDO

CARLOS EDUARDO

Cheia de árvores, dividida por um canteiro central com bancos ao estilo de praça e com casas antigas de mais de 50 anos, assim é a Rua XV de novembro no Bairro Beira-Rio. Uma via na qual parece que o tempo não passa. Apesar de estar em uma área bastante agitada da cidade, ainda reserva momentos de tranquilidade e sossego aos seus moradores e transeuntes. A rua já teve outros nomes e é a mais antiga da cidade, tendo surgido com a Vila que deu origem a Imperatriz, com o nome de Rua Grande devido à sua extensão. Depois, com a proclamação da República, passou a se chamar XV de Novembro. No inicio de 2000 a Câmara Municipal atendeu a solicitação dos moradores e determinou que a rua passasse a ter o nome oficial de avenida Frei Manoel Procópio. Mas, o que todos conhecem mesmo é como Rua XV de Novembro. Ela se inicia a partir da Praça da Meteorologia, próximo ao hospital da Unimed, até chegar no mercado municipal Bom Jesus. A partir do mercado até o edifício Quinta Avenida ela se divide, feito dois córregos, no sentido Bairro Bacuri. Entrando para direita, ela é chamada de Rua Dom Pedro II, em ho-

A rua já teve outros nomes e é a mais antiga da cidade, tendo surgido com a vila que deu origem a Imperatriz, com casas antigas de mais de 50 anos

menagem ao imperador, e no mesmo sentido, a esquerda recebe o nome de Rua Tereza Cristina. Com predominância de residências (93,24%), possui mais de 191 domicílios e caracteriza-se por 86,91% de domicílios constituído de casas, sobrados ou similares e 13,09% de edifícios de apartamentos ou conjuntos residenciais com vários domicílios de famílias distintas, segundo dados levantados no site consulta-

cep.com.br. Entre as famílias tradicionais da rua estão a Bandeira, Milhomem, Marinho, Cortez e Moreira. Estas duas se uniram dando origem à família Cortez Moreira de onde provém o ex-prefeito Renato Cortez Moreira, assassinado no Mercado Bom Jesus, na mesma rua. Com um sorriso no rosto, cabelos brancos, camisa estampando sua fé e religiosidade, com uma firmeza nas palavras e bem simples,

a enfermeira aposentada Maria Lucia Ribeiro, 64 anos, é neta de Simplício Moreira e sobrinha de Renato Cortez Moreira. Sentada em sua varanda na Rua Godofredo Viana, ela conta que por causa da agitação noturna que hoje reina na XV de Novembro resolveu mudar para a atual casa onde mora, uma das dezenas de residências que a família possui na região. “Era privilégio quem morava na Rua XV de Novembro,

perto do rio. Tomávamos banho de cacimba...” Maria Lúcia conta que quando o pai morreu, em 1976, sua mãe teve que tomar a frente da família. “Ali, ela reuniu os oito filhos para orientá-los a não desfazer das coisas deixadas pelo meu pai, que tinha um armazém de secos e molhados e umas 20 casas pela cidade”, complementa. Ela lembra que o comércio todo se dava na região e se orgulha de ter feito parte desta história. “Em nossa família tem toda uma mistura das primeiras que chegaram aqui, como os Bandeiras, os Ribeiros, os Cortez e os Moreira”, recorda Maria Lucia. Ela ainda discorre sobre outras manifestações que aconteciam na rua ao longo do ano e que agora já não existem mais. É o caso do festejo a Bom Jesus da Lapa, que saía da rua XV em cortejo pelas vias do Centro. Também havia um galpão que exibia filmes em preto-e-branco e que servia de teatro para dramatizações que as freiras do colégio Santa Teresinha organizavam com os jovens e crianças. Maria Lucia sente saudades dos tempos que morava na XV de Novembro e fala com o olhar distante e emocionado sobre a importância que a rua teve na vida dela: “Ah, é tudo na minha vida, pois foi ali que eu vivi grandes momentos, toda uma historia, dos meus pais, dos amigos, dos vizinhos, tudo mesmo pra mim”.


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CONTRADIÇÃO Enquanto pode se testemunhar a projeção horizontal do bairro, a antiga situação da má infraestrutura persiste sem soluções por parte do poder público

Leandra: entre crescimento e descaso ÉRICA FERREIRA

ÉRICA FERREIRA

Embora existam várias casas que aparentam ser de pessoas de classe média, o Bairro Leandra não conta com uma infraestrutura adequada. Serviços básicos como energia elétrica e água, foram benefícios conquistados pelos próprios moradores IDAYANE FERREIRA

Se você estiver no Centro da cidade e perguntar às pessoas que passam: “Onde fica o bairro Leandra?”, é provável que ouça em resposta, outra pergunta: “Que bairro é esse?” Ou ainda: “Ih! É perigoso lá, viu?” O IBGE não dispõe de dados acerca dos bairros da cidade, isso porque, oficialmente, não existe nenhum em Imperatriz. Na legislatura passada o ex-vereador Edmilson Sanches (PC do B) tentou elaborar uma lei para resolver esse assunto, mas parece que não houve tempo útil para a aprovação.

Sem essa divisão clara, não é possível delimitar cada bairro e resolver uma questão crucial: Onde começa o bairro Leandra? Mesmo informalmente, não há consenso entre os moradores. Para alguns, dos conjuntos de condomínios em diante. Para outros, a partir da cerâmica São Pedro.

Contradições - Em marcha ré o carro que faz frete desce lentamente a rua estreita e sem asfalto, carregando a mobília. Maria Souza de Oliveira, 68 anos, comenta: “Moravam de aluguel, ele ia trabalhar e a mulher grávida ficava sozinha. Por medo de acontecer alguma coisa estão se mudando”. E completa: “Só não fui embora daqui

porque a casa é minha mesmo”. Ela relembra que quando chegou nessa baixada, há 15 anos, era um lugar tranquilo. Existiam mais ou menos cinco casinhas de tábua cobertas de telhas. Hoje em dia, porém, Maria lamenta. “Aqui, nem dormir sossegado a gente pode.”. O nome do bairro, segundo ela, foi homenagem ao dono de uma cerâmica das redondezas que se chamava Leandro. O curioso é que houve uma mudança de gênero. “Quando ele morreu ficaram os terrenos, o pessoal invadiu e chamou de Leandra”. Josefa Rodrigues, 65 anos, mora na parte de “cima” do bairro, há 16 anos. Antes de chegar lá, pagou alu-

guel por 19 anos. Quando soube que estavam vendendo lotes baratinhos por essas bandas, pediu R$ 280 emprestados ao patrão e comprou esse terreno de 6x30m. Benfeitorias, como energia elétrica e água, foram resultados da luta constante dos moradores. “Quando chegaram mais pessoas, cavamos e puxamos a água dos conjuntos. O cano foi comprado por nós mesmos. Tudo era a gente que resolvia”. Moradora do bairro há 23 anos, Maria Alves da Conceição, 39 anos, explica que depois de mais ou menos 10 anos em que morava ali, a área foi invadida e tudo começou a mudar, ficando mais movimentado.

Até então a sua casa era a única. “Troquei uma chácara que tinha lá no Jenipapo, nessa casa. O antigo morador não queria mais viver aqui, porque não tinha ninguém”. Nessa época os conjuntos de condomínios estavam sendo construídos. As casas muradas, com “cara” de classe média, localizadas na parte de “cima” do bairro destoam das restantes. Esse setor é considerado mais nobre e seguro. Ali se encontram residências em construção, como a do pastor da região. “O pastor morava mais embaixo. Ele deu graças a Deus que está construindo a casa aqui na parte de cima. Enquanto isso ele dorme na igreja”, conta Maria Alves.

As histórias do Bairro da Caema, esquecido ao redor de um prédio IDAYANE FERREIRA ÉRICA FERREIRA

Em 15 minutos ou menos dá pra se deslocar do Bairro da Caema até o Centro e vice-versa. Porém, isso não impede que o local tenha o mínimo de infraestrutura, com ruas sem asfaltamento e é claro, o prédio da antiga estação de águas e esgoto que está abandonado há mais de 25 anos e é foco da delinquência infanto-juvenil. De acordo com alguns moradores, os únicos benefícios levados para lá foram a ponte e a reforma da Escola Municipal São Sebastião. Fora isso, o bairro é completamente esquecido pelo poder público.

Histórico – O Bairro da Caema se originou ao redor do antigo prédio, que naquela época, funcionava a todo vapor. Antônio Bispo de Moraes foi um dos primeiros moradores. Comprou alguns lotes da mãe do ex-prefeito Renato Cortez Moreira, Olívia, e os revendeu para conhecidos e parte da família. Mais ou menos no início de 1979 as pessoas começaram a chegar. Algumas casas ali e acolá iam sendo construídas e aos poucos o bairro foi crescendo. Não existia água encanada e a que eles usavam era de uma torneira cedida pela Caema. A energia elétrica só veio após o cumprimento do pro-

jeto de campanha de um vereador. Quando o prédio foi abandonado e a estação desativada, os moradores invadiram o espaço e retiraram bloquetes, móveis de escritório, portas, janelas e tudo mais que puderam reaproveitar. Os bloquetes foram colocados em duas ruas, sendo elas as que ficam mais próximas dos antigos muros, que também foram derrubados. A maior vontade deles e de boa parte da população imperatrizense é que o prédio abandonado seja transformado em um centro cultural, como já foi abordado no documentário produzido em outubro de 2012, o “S.O.S. Bairro da Caema”. O reaproveitamento daquele espaço com o intuito de oferecer arte, cultura, dança, música e teatro, serviria tanto para os moradores ao redor quanto para o resto da cidade. Supriria, de maneira rasa, a falta de investimentos nessa região do estado e beneficiaria o bairro com a diminuição da violência. “Aqui é tranquilo, as pessoas todas se conhecem. Só esse prédio que faz com que gente de fora, que não presta, venha pra cá e traga essa fama ruim”, diz Ernane Amâncio dos Santos, morador há 30 anos. Ele e mais outros residentes reforçam que muitas vezes há crimes que acontecem nas redondezas ou até no Porto da Balsa e muita gente relaciona com o bairro.

Casa de Otílio Bezerra da Silva, ao centro, situada na rua principal do bairro. À esquerda encontra-se Ernane Amâncio dos Santos, um amigo inseparável

Otílio Bezerra da Silva, 80 anos, já foi vítima dessa violência trazida de fora. O senhor conta que uma noite ouviu ruídos e constatou que a sua casa estava sendo destelhada. Quando saiu do quarto e foi para a sala

se deu conta de que a televisão havia sido roubada. Ainda pôde escutar ao longe os dois “moleques”, como ele mesmo disse, falando: “Ele acordou! Ele acordou!”. Em contrapartida, Vicente de

Paula Vasconcelos, 59 anos, afirma que hoje em dia é bem mais tranquilo por causa da polícia, que faz rondas constantes no bairro. “Tinha muito bandido antigamente, tanto de fora quanto daqui de dentro mesmo”.


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