Impressões - Noturno 2016/2

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JORNAL LABORATÓRIO

GOIÂNIA | 2016 / 2

especial

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diversidade

NOVA FAMÍLIA

EDIÇÃO NOTURNO

Distintos vínculos afetivos modificaram o contexto familiar, deixando nítido que não existe um padrão. Pais e mães solteiras, uniões homoafetivas, multiparentais compõem diferentes núcleos, como o formado por Nataliê Mundim, Cristiane Domingues e Leo Wohlgemuth (foto),família com duas mães e um pai de uma criança desejada e amada. E dentro de casa, as funções tradicionais de pais e mães também estão em mutação. >> 12 e 13

OUTRAS DEFINIÇÕES, SEM PRECONCEITOS ALÉM FRONTEIRA

Estrangeiros adotam Goiás como moradia e trazem para cá suas influências e festas típicas, como o Festival de Nova Veneza (foto).

>> 8 e 9

LIVRE PARA DECIDIR Ao ocupar locais de trabalho onde há supremacia masculina, mulheres como a piloto Camila de Araújo (foto) enfrenta desafios.

>> 14 e 15

COSPLAY: Fãs de Animes brincam entre o real e o imaginário >> 18


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OPINIÃO

Na luta por direitos

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Psicóloga, mestre em Saúde Mental e presidente da Astral GO, idealizadora do Projeto Casulo.

embra-se da jovem Malala Yousafzai? Desde os 15 anos ela travou uma luta para que as garotas paquistanesas tenham o direito de ir à escola. Tamanha “ousadia” lhe rendeu um atentado a tiros. E ela sabia o que é uma feminista? Em algum momento ela se apresentava como feminista? Pois bem, Malala é uma feminista. O direito a ter direitos é seu mote e o feminismo é a luta de um movimento político pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Nos Estados Unidos, a família de uma criança de apenas seis anos enfrenta um embate na Justiça pelo direito de a criança usar o banheiro no qual se identifica. “Coy”, aos seis anos, à primeira vista é uma criança como outra qualquer. A direção do colégio proibiu “Coy” de usar o banheiro feminino. O motivo? Apesar das roupas e do cabelo longo, “Coy” é biologicamente um menino. Trata-se uma criança transexual. Enquanto isso a mãe de “Coy” reivindica veementemente o direito de a criança usar o banheiro feminino sem restrições e constrangimentos. Seria essa mãe feminista? Ou transfeminista? Ser feminista significa lutar pelos direitos iguais. As pessoas trans (travestis e transexuais) lutam por que, afinal? Além dos dilemas com educação e moradia e inserção no mercado de trabalho a luta cotidiana destes indivíduos é contra o preconceito e a discriminação. Em outros termos uma batalha contínua contra discriminaEXPEDIENTE

Beth Fernandes

ção de gênero. Ser uma pessoa “trans” compreende uma identidade de gênero e não orientação sexual, diferenças estas que demandam esclarecimento para evitar confusões epistemológicas. A orientação afetivo-sexual se liga ao desejo e à atração, bem como à “transfiguração” do amor. No que se refere à identidade de gênero, esta se vincula ao fato de como as pessoas se sentem, se comportam e se relacionam. De forma mais simples –não simplista – e conceitual, podemos dizer que gênero é um conceito que explica comportamentos de mulheres e homens em nossa sociedade, e como isso pode identificar sentimentos internalizados (masculinos e femininos) das pessoas. Gênero é como as pessoas – homens e mulheres – se sentem. O feminismo reflete sobre estes sentimentos masculinos e femininos na sociedade. O feminismo não apregoa a dominação das mulheres sobre os homens, para a decepção do senso comum. Estamos falando de demandas por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo sim é um sistema de dominação. Em contrapartida, o pensar feminista reclama por direitos igualitários e a efetivação dos direitos humanos. Feminismo está pautado na liberdade. Pensar em pessoas “Trans” e feminismo têm como raciocínio inicial os efeitos de corpos e sua transformação que emergem na modernidade através da reiteração da matriz hete-

CHARGE

rossexual constituída ao mesmo tempo pela dominação masculina e pela exclusão das homossexualidades e das identidades de gêneros. Temos que elaborar um conjunto de proposições que subsidiem políticas públicas em todos os âmbitos e estimular o debate sobre a inclusão da população de travestis e transexuais, inclusive a invisibilidade sexual desse segmento, na sociedade ou dentro do sistema escolar, de saúde e outros. Estou falando de feminismo, em corpos em transformação e direitos sexuais. Não podemos pensar em parar a discussão do feminismo quando mulheres são estupradas diariamente e, além de tudo dizem que, “a culpa é delas” por se vestirem de forma sensualizada. A luta não é um sinônimo de coragem, pois nas convenções sociais e do senso comum, a mulher é depreciada, não podemos terminar este assunto poeticamente enquanto homens ganham mais e mulheres muito menos na nossa sociedade.

EDITORIAL O debate de ideias e a postura democrática em expor as visões de mundo dos mais variados grupos sociais é uma obrigação do jornalismo e, por esta razão, não podeira ser diferente com o jornal-laboratório IMPRESSÕES, espaço de formação de futuros profissionais da área. Nesta edição, o mote central é a diversidade, em seus mais ecléticos aspectos. Por isso, a matéria de capa traz uma reflexão sobre os novos modelos familiares. Também abrimos espaço para as transformações de gênero, para o empoderamento feminino, para a cultura alternativa, para a chegada de estrangeiros a Goiás, para o novos mercado de trabalho. E viva a diversidade!

JORNAL IMPRESSÕES: Direção da Escola de Comunicação: Profª Sabrina Moreira Coordenação do Curso de Jornalismo: Prof. Antônio Carlos Cunha Professores: Carolina Goos, Carolina Melo, Déborah Borges, Lara Guereiro, Rogério Borges e Salvio Juliano Edição Geral: Prof. Rogério Borges e Carolina Melo Projeto gráfico: Prof. Salvio Juliano Fotografias: 2º período de Jornalismo Edição e Diagramação: 5º período de Jornalismo Monitoria: Alexandre Ferrari (6º período)

Fábio João

Reportagens: 3º período de Jornalismo


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inclusão

Foto: Reprodução

Educar para a vida Estímulo ao desenvolvimento do jovem com necessidades especiais é chave para sua evolução Texto: João Paulo e Lorany Ribeiro Edição: Lays Feliciano Diagramação: Hiago Miguel da Silva

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qualificados para orientar as crianças, que ficavam muito dependentes. Vendo aquilo, a Júlia regrediu. Passou a fazer coisas que ela já não fazia há muito tempo, assim como urinar na roupa e regredir a fala”, relata a mãe, que reafirma a importância do estímulo para o desenvolvimento dessas crianças.

direito ao ensino de qualidade deve ser garantido crianças e adolescentes, sejam especiais ou não. Mas encontrar escolas e instituições Instituições de ensino preparadas preparadas para a educação inclusiva não é fácil, apesar de serem fundamenA inclusão começa com a formação e tais ao desenvolvimento emocional e inpreparação dos professores, com o direciotelectual dos alunos. namento de acadêmicos e futuros pedaSegundo a psicóloga e presidente do Núgogos. Segundo a estudante de Pedagogia cleo de Aprendizagem e Desenvolvimento Isabela Rodrigues, “o profissional da eduHumano (Interação), Janette Carrer, ao estucação precisa ter disponibilidade, não só de dar em uma escola inclusiva, o aluno pode viensinar, mas de amor e atenção. Necessita venciar adaptações curriculares que atendam pesquisar, ter estudo e vigor”. às suas necessidades específicas, diminuindo O Centro de Orientação e Reas possibilidades de fracasso escolar. abilitação e Assistência ao EnEla acredita que ao vivenciar essa cefalopata (Corae), que deinclusão, as pessoas com nesenvolve esse tipo de ação cessidades especiais são tra“Ter amigos há 43 anos na capital, retadas de igual para igual. “Ela cebe educandos de todas será encorajada a se mostrar diferentes é importante, as idades diariamente. como realmente é”, explica. aprendemos com eles.” A instituição conta com A psicóloga Graziele uma escola que trata esRodrigues Braga é mãe de Maria Luiza, pecificamente de pessoas Júlia, de 13 anos, que tem estudante com necessidades especiais. minimicrocefalia. Ela detectou A instituição integra ainda o os primeiros sintomas da doença sistema de Atendimento Educaaos cinco meses de gestação. Ao fazer acompanhamento médico com neurologista foi constatado, em exames, sequelas de uma leve microcefalia. Quando a filha tinha seis meses, Graziele conheceu o Centro de Orientação e Reabilitação e Assistência ao Encefalopata (Corae) e deu início às atividades estimulantes com a pequena Júlia. A criança com um ano de idade começou a andar e a falar e aos três anos recebeu alta. Após Júlia receber alta do Centro de Orientação, foi matriculada em uma escola de ensino regular. Mas com as limitações e a falta de preparo profissional no local, Graziele percebeu uma regressão em sua filha e acabou tendo que optar por outra instituição de ensino. “Na escola não havia professores

cional Especializado (AEE), recebendo educandos de escolas regulares que apresentam algum tipo de deficiência ou dificuldade de aprendizado para que façam tratamentos especializados. O Colégio Integrado de Educação Moderna (Ciem) é outra escola de Goiânia que recebe pessoas com necessidades especiais. A escola trabalha com várias características de autismo, Síndrome de Dawn, problemas de visão e audição parcial, mobilidade reduzida, doenças mentais de nível leve, entre outras. No colégio também são matriculados alunos sem necessidades especiais. A escola conta também com um grupo terapêutico que fica à disposição de alunos, professores e pais dos educandos, para que possam ser orientados e amparados em suas dificuldades do dia-a-dia. O grupo é composto por psicólogo, reabilitadora cognitiva, psicopedagoga, neurologista e fonoaudiólogos. O Projeto Conviver é uma das propostas da escola. “Ter amigos diferentes é importante e nós aprendemos com eles”, conta a aluna Maria Luiza. A acessibilidade nas escolas é um processo conta-gotas, explica a diretora Albertina Bringel. “É importante o conhecimento, mas também é importante o respeito e a generosidade que é a virtude de acrescentar algo ao próximo”, diz ela. Foto: João Paulo

Foto: João Paulo Felix


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diversidade sexual

Preconceito na escola Despreparo em vários níveis do processo educacional contribui para que homofobia repercuta nas salas de aula Reportagem: Gabriel Nunes Edição e Diagramação: Gabriel Lima

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violência homofóbica refletida em dados no Brasil está presente também nos espaços em que deveriam ser respeitadas as diversidades: a escola. Isadora Medeiros, estudante transexual de 20 anos, conta que em seus primeiros anos escolares não sofreu nenhuma forma de agressão, até mudar de colégio para cursar a 6ª série do ensino fundamental, momento em que começaram as perseguições. “Os alunos xingavam, tacavam coisas em mim, me perseguiam até à avenida próxima de casa. Enfim, eu era o objeto perfeito para a diversão deles.” Segundo ela, os professores nunca tomaram nenhuma medida para mudar a atitude das crianças. “Pensei em pedir para minha mãe me mudar de escola, mas tive medo de contar o que sofria. Eu voltava para casa muito triste. E ficava com muito receio de ir para a escola. Logo eu, que sempre amei estudar”. Foto: Reprodução

Segundo o sociólogo Jouber Silvestre, mestre em Sociologia da Sexualidade, “a escola tende, de forma muitas vezes sutil, a atuar no sentido de gerar sujeitos femininos e masculinos considerados ‘normais’ na nossa sociedade, discriminando aqueles que de alguma maneira se apartam da norma”. O sociólogo ainda comenta que as escolas “ainda conservam percepções e práticas baseadas em normas pedagógicas organizadas em uma aprendizagem uniforme, desconsiderando a diversidade, ou seja, as diferenças”. Entre os enfrentamentos contra as violências de gênero, há os que apostam na promoção de debates dentro da sala de aula, nas escolas. Mas não são todos que pesam assim. De um lado estão aqueles que defendem o papel da escola na educação sexual,;de outro, os que acreditam que apenas a família deve ser responsável por tal educação.

Terceirização da educação

A psicopedagoga Vera Lúcia de Rezende, que trabalha numa escola de Goiânia, defende que a discussão deve ser feita na escola, mas não retira essa responsabilidade dos pais. “Esse debate deve acontecer tanto na escola, mas principalmente na família. Eu sou contra a terceirização que acontece, na qual a família transfere a responsabilidade para a escola, em todas as áreas”, critica. Para Vera Lúcia, o paradigma de gênero precisa ser quebrado, além de considerar importante que as crian-

Campeão da homofobia De acordo com pesquisa da organização não governamental Trangender Europe, o Brasil é o país que mata mais travestis e transexuais no mundo. Entre 2008 e 2014, houve o registro de 604 mortes. As estatísticas referem-se às violações reportadas, mas não correspondem à totalidade das violências ocorridas contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. ças sejam ensinadas sobre como funcionam seus corpos, como elas podem se cuidar e como podem respeitá-los. “É provável que a compreensão acerca das definições de gênero e da identidade sexual sejam confusas e imprecisas”, diz a psicopedagoga. Antigamente os perfis de gênero eram baseados apenas no sexo biológico, hoje em dia a identidade sexual é composta pelo sexo, pela orientação sexual e pelo gênero. Coordenadora pedagógica de uma escola infantil, Kelly Cristina Vieira diz que as instituições educacionais ainda não estão preparadas para discutir sobre sexualidade e identidade de gênero. “Por mais que elaborem propostas pedagógicas e projetos sobre o assunto para serem trabalhados nas escolas, infelizmente o preconceito ainda é o maior problema, tanto das escolas quanto dos profissionais que atuam nelas”, afirma a professora. Kelly reitera que esses assuntos não são proibidos nas escolas, mas que “muitos profissionais não estão preparados humanamente e profissionalmente para levantar as discussões”. De acordo com ela, a escola precisa promover debates respeitosos, tratando a questão com menos emoção e mais razão. A estudante Isadora Medeiros, que pretende cursar Artes Cênicas e trabalhar com teatro, acredita que o assunto deva ser debatido com clareza e naturalidade para que seja cada vez menos tabu. “O assunto se tornará mais leve, digamos assim. As pessoas terão no mínimo uma noção do que se trata. Quem sabe, as pessoas saberão os dois lados da moeda, o quanto, não só transexuais, mas todos, precisam ser entendidos sem julgamentos”.


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diversidade sexual

Em busca de respeito

Quem muda de sexo ou assume outra identidade de gênero luta contra preconceitos de toda ordem na sociedade

Reportagem: Gleiciane Pereira da Silva Edição e Diagramação: Vanessa Cortês

Foto: Wildes Barbosa

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odas as pessoas, de acordo com o artigo 5º da Constituição Federal de 1988, são iguais perante a lei e têm o direito à vida, liberdade e igualdade. Mas o direito de manifestar publicamente a identidade sexual parece não ser de todos. Casais que mantêm relações homoafetivas, por exemplo, tendem a se isolar, por medo de agressões físicas ou verbais. Assim também ocorre com pessoas que expressam sua identidade de gênero, independente do sexo biológico. A delegada goiana Laura de Castro, de 34 anos e que ficou conhecida pela mudança de sexo em 2010, conta que já passou por situações constrangedoras de discriminação, de forma muitas vezes indireta. “Acontece o desrespeito de maneira velada, irônica, aqueles comentários maldosos”, observa. Por medo de não ter a aceitação da família e das pessoas com quem convivia, Laura adiou a cirurgia durante muito tempo. “Tive muito medo quanto à aceitação das pessoas e, princi-

“Tive muito medo quanto à aceitação das pessoas e, principalmente, dos meus filhos. Isso fez com que eu tardasse a minha decisão”

Foto: Reprodução

Laura de Castro, delegada palmente, dos meus filhos. Isso fez com que eu tardasse a minha decisão”. O analista de desenvolvimento empresarial Lucas Allerandro Monte Negro, de 20 anos, diz que desde criança se achava diferente dos outros garotos e sua família também percebia. Suas amizades eram apenas com as meninas e se interessava por maquiagem, cabelosa, moda em geral. Mesmo assim, ele tentava disfarçar para não decepcionar a família. “Até os meus doze anos eu ainda entrava em conflito comigo mesmo, não entendia como era possível um garoto ser cercado de meninas e não se sentir atraído por nenhuma delas.” Ele conta que já sofreu inúmeras tentativas de agressões físicas. “Às pessoas usam Deus para justificar seus preconceitos. Tudo que

é diferente ou foge dos padrões da sociedade sofre preconceito e discriminação.” A psicóloga do Centro de Referência Estadual da Igualdade (CREI), Sandra Maria de Souza, de 46 anos, atende pessoas vítimas de violência de gênero, racismo, homofobia e tráfico de pessoas. Ela diz ficar indignada com o descaso da sociedade quanto ao preconceito e lembra um fato de um jovem travesti. Após sofrer violência sexual por oito rapazes e ser abandonada próximo a um hospital, a vítima não teve atendimento dos funcionários da Saúde. “É visível a questão do preconceito e o CREI lida com essas situações diariamente”, relata Sandra. A presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eliane Rocha, afirma que o problema da sociedade é se manifestar e interferir em questões que dizem respeito somente à intimidade do indivíduo, mesmo quando manifestas em espaços públicos. “Às vezes a sociedade taxa a pessoa simplesmente porque ela tem uma intimidade que foge dos padrões sociais e se esquece de todas as qualidades que a pessoa tem”. Ela cita, como exemplo, a dificuldade dos transexuais de encontrar emprego e que, por esse motivo, a única opção que muitos têm é a prostituição.


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tecnologia

Empreendedorismo Digital Enquanto a nova geração aposta no mundo virtual, alguns comerciantes preferem a tradição em seus negócios

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e olho nas novas tendências do mercado, empresários diversificam na hora de empreender. Há os que enxergam a internet como uma forma de obter lucros. Outros apostam no tradicionalismo das vendas presenciais. Em muitos casos, tudo começa como um hobbie. Fernando Quirino é produtor de conteúdo para a internet, uma nova profissão criada a partir do ambiente virtual e que vem se tornando fonte de renda para empreendedores. Ele fundou o canal no Youtube “Nerdista”, que já tem mais de três mil inscritos que recebem conteúdos sobre cultura Pop. Segundo Fernando, para iniciar um empreendimento, não basta apenas ter coragem. Por ser um mercado instável é preciso calcular os gastos, fazer planejamento, analisar quem é o público e focar nos objetivos traçados. “Ser produtor de conteúdo é trabalhoso em qualquer área, mas no Youtube é mais complicado ainda”, diz. Pablo Umbelino, 22, é estudante de Publicidade e Propaganda e é um dos criadores do canal “Libera o Wifi”, que está no ar há seis meses. A conta no YouTube administrada por ele tem cerca de 150 inscritos e sua página no Facebook já passou dos mil seguidores. “Eu já tinha vontade de ter um canal no YouTube, então chamei uma amiga, pensamos como queríamos a logomarca e sobre qual seria o primeiro tema.” Ele afirma que todo o dinheiro arrecadado com os trabalhos produzidos para o YouTube é destinado às melhorias na página no Facebook, ligada ao canal, lugar onde há um número maior de visualizações, embora não renda lucro algum. Felipe, administrador de outro canal no Youtube, “Falando do que”, tem quase dois mil inscritos e acha que ser um youtuber não é algo que possa ser levado na brincadeira.

“Alguns pensam que é apenas ligar a câmera, falar o que quer e pronto, mas não, não é só isso. Por mais que alguém tenha referências de outro profissonal, não é aconselhável copiar outro youtuber e, se fizer isso, será criticado”, afirma o jovem de 22 anos, que vive da profissão. Ele acredita que o princípio básico para se dar bem na área, assim como em qualquer outro lugar, é saber aceitar as críticas pois elas sempre chegam. Segundo o economista e professor do Instituto Federal Goiano (IFG), Adriano Paranaíba, o avanço tecnológico permite que o comércio tenha a internet não como um concorrente, mas como uma grande oportunidade de novos negócios. O economista ainda afirma que o uso de smartfones fez com que essa atividade crescesse rapidamente. “Caso os comerciantes usassem a web de forma inteligente, ela poderia se tornar uma grande aliada no combate à crise. No Brasil esse novo método de comércio foi responsável por movimentar 41,3 bilhões em 2015”, disse.

Foto: Thiago Costa

Reportagem: Victor Lamas e Thiago Costa Edição e Diagramação: Thiago Costa e Victor Gabler

À moda antiga

Há os que ainda encaram a internet como uma possibilidade distante para empreender. Geralmente são pessoas com pouca familiaridade com o ambiente virtual. Dona Isamar Florentino, artesã, ainda não enxergou a internet como um meio de vender sua arte, mesmo sua filha, Neth Florentino, acreditando que ter uma página na internet aumentaria as vendas. “Ainda que não tenha uma página no Facebook específica para o ateliê, minha mãe comercializa muitas peças para todo Brasil e também para países da Europa, América do Norte e África. Minha mãe reluta em fazê-la alegando falta de tempo para administrá-la”, diz. O economista Adriano Paranaíba pondera que o comércio que se utiliza das plataformas virtuais nem sempre representa uma ameaça ou uma competição. “Assim como a artesã não se encaixou na internet, existe uma divisão de consumidores que também não se encaixa com a era tecnológica. Em pleno século XXI é um risco enorme não se adaptar às mudanças, seja elas qual forem”, aconselha.


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profissões

Quem não se comunica... A necessidade de gestão da comunicação nas sociedades atuais abre inúmeras possibilidades profissionais para quem se habilita na área Reportagem: Milla Mendonça Edição: João Neto e Lorena Bastos Diagramação: Lorena Bastos

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uem não se comunica, se trumbica”, já dizia o animador de auditório Chacrinha. Não à toa, a atuação profissional na área da comunicação abarca 18 habilitações, entre as quais Cinema e Audiovisual, Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda. O interessante no campo da comunicação é a diversidade do mercado de trabalho. Assessorias de imprensa, agências de comunicação, serviços de consultoria, docência, especialização em mídias segmentadas e comunitárias, além de projetos independentes estão entre as possibilidades para quem gosta da área. O cenário em expansão permite ao comunicólogo criar o próprio negócio. À disposição, jornais, revistas, rádios, televisão e, especialmente, as novas mídias. O Ministério da Educação já estabelece o empreendedorismo como um conteúdo de formação nas universidades. O jornalista Bruno Nascimento, que é sócio proprietário e gerente de contas da empresa BM2 Comunicação, voltada para assessoria de imprensa, publicidade e marketing digital, observa o crescimento do mercado. “Nenhuma marca hoje sobrevive fora do cenário virtual, os números do Ibope Mídia e dos sindicatos de comunicação mostram que o investimento em mídia na televisão é estagnado, cresce de 1% a 2% ao ano. Já na mídia digital, o crescimento alcança os 25%.” O mercado digital já alcançou as revistas e se direciona para abarcar o rádio. É mais barato e tem a possibilidade de segmentação muito maior do que em outros meios, acredita Bruno Nascimento. “A importância é tão grande que as agências estão migrando para se tornarem digitais. As pequenas e médias empresas que não têm condições de investir em rádio e televisão e se direcionam para a atuação no ambiente

Foto: Milla Mendonça

“Na mídia digital o crescimento alcança os 25% ao ano.” Bruno Nascimento, empreendedor >> Funcionarios da BM2: novos mercados digital estão gerando um resultado tão ou mais expressivo quanto aquele investido em mídia tradicional”. Graduada em Relações Públicas, mestre e doutora em Comunicação, Simone Antoniaci Tuzzo avalia que o mercado atual é considerado promissor, pois a comunicação passou a fazer parte da vida de todas as pessoas de forma absolutamente impactante desde a proliferação dos meios de

comunicação de massa, sendo que, com as mídias digitais esse impacto é ainda mais forte. “O processo cresce exponencialmente e por isso o mercado está aquecido, dependente de profissionais capacitados a exercer esse papel de estudo de públicos que interagem com cada organização social, pois a venda de produtos, bens, serviços e imagem dependem dessa construção da comunicação.”

Mudanças na formação Segundo a professora Sabrina Moreira, diretora da Escola de Comunicação da PUC Goiás, a universidade se prepara para formar os futuros comunicadores e a preocupação é sempre de acompanhar as mudanças do mercado. Sobre a formação do jornalista, para a diretora da Escola de Comunicação, “a maior preocupação da preparação do profissional é que ele tenha uma formação humanística. Assim, a formação pode dar ao aluno um olhar mais plural e crítico, porque o jornalista tem que ser capaz de abordar diferentes assuntos e diferentes vivências.” O jornalista hoje lida com mudanças contínuas nas plataformas e tem de estar apto, se preparar para as mídias tradicionais, mas tam-

bém tem que ter em vista as novas plataformas. A professora Sabrina ressalta ainda que a matriz curricular é construída em um diálogo constante com o mercado de trabalho, sindicatos e as entidades representativas. Cláudio Curado, presidente da Sindicato dos Jornalistas de Goiás, afirma que atualmente o mercado no estado se encontra voltado para a assessoria de imprensa e responde com mais de 60% das contratações de jornalistas. Essa área se destaca mais pelo fato de as empresas e instituições terem a necessidade de se comunicar melhor com o seu grande público, sendo uma tendência de mercado essa segmentação na produção de informações.


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mudanças de vida

Aqui junto de nós,

um pouquinho de cada continente Estrangeiros encontram em Goiás um lugar para refazer suas trajetórias Reportagem: Victor Vidal Edição e Diagramação: Ana Clara Itagiba

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formação da população em Goiás seguiu a tendência do País, com a mistura dos povos indígenas, africanos e europeus. O fluxo humano gerou o encontro na região também de asiáticos e de pessoas de toda a parte das Américas e Oceania. No cotidiano, o forte traço do sertanejo original troca influências com os povos de costumes e tradições além-fronteiras. O historiador Jairo Alves Leite conta que a migração em Goiás se inicia com a chegada dos portugueses, dos escravos e com a entrada dos bandeirantes, quando a população indígena era predominante nessas terras. Logo depois, no início do século 18, a extração do ouro atraiu olhares e interesses de ocupação de brasilei-

“Tem árabes, italianos, japoneses, norteamericanos, ingleses, europeus de diversos países.” Jairo Leite, historiador

ros para a região. Nos séculos seguintes, há a chegada dos estrangeiros de inúmeras partes do mundo. “A partir desse momento a gente tem árabes, italianos, japoneses, norte-americanos, ingleses, europeus de diversos países, que no decorrer do século 19 e 20 acabam se iden-

Haitianos também chegam a Goiás em busca de oportunidades No final da década de 2000, novos imigrantes vieram para o estado de Goiás em busca de refúgio, emprego e vida digna. Os haitianos ocupam a periferia de Anápolis, que cresce sem perder o clima de interior. No bairro Vila Formosa, no alto da cidade, concentra-se a maior parte dos pelo menos 40 haitianos que moram nas imediações.

Recém-chegado, Piercius Francois, de 30 anos, conseguiu uma vaga no turno da madrugada em uma fábrica farmacêutica instalada na região. “Aqui é mais tranquilo: tem menos gente, menos carros e menos malandros, como vocês dizem”, afirma, com o português hesitante, comparando com a cidade de São Paulo, por onde já passou. Piercius mora em um imóvel de três cômodos com um primo e um amigo. Eles se viram para pagar o aluguel de R$ 400 e, para garantir o alimento, precisam contar com a ajuda e a solidariedade do povo goiano. Sem deixar o sorriso de lado em meio a tantas dificuldades, Piercius conta que quer estudar e se formar para um dia poder devolver a ajuda que está recebendo. >> Os haitianos Piercius Francois (esquerda) com seu primo (direita)

tificando com o Estado e desenvolvem aqui seus afazeres”, conta o historiador. Algumas cidades goianas foram consolidadas com a presença atuante de estrangeiros. Anápolis recebeu uma grande leva de sírios e libaneses, que fortaleceram o comércio do município. Nerópolis atualmente tem uma grande população de descendentes de japoneses. Nova Veneza foi uma colônia de italianos. A Colônia de Uvá, próxima à cidade de Goiás, recebeu imigrantes alemães. A colônia agrícola de Itaberaí foi formada também pela presença de europeus, em sua maioria da Polônia. Já Catalão recebeu muitos árabes. “A cultura goiana é formada por essa miscigenação de várias etnias. Nós temos, por exemplo, na culinária, o quibe e o charuto que são comidas árabes, temos também os fast foods, que são da culinária americana, temos vários doces que são derivados da Europa, a macarronada e lasanha trazidas pelos italianos. Nesta diversidade gastronômica percebemos a influência dos imigrantes”, pontua o historiador Jairo Alves Leite. Mas foi na Segunda Guerra Mundial que Goiás presenciou a intensa chegada de europeus, fugidos dos horrores do conflito. Foi o caso de Jan Magalinski, um imigrante polonês, atualmente com 81 anos, que veio com seus pais para o Brasil, como refugiado. Em setembro de 1949, a propriedade de sua família foi devastada. Na tentativa de reconstruir suas vidas, transferiam-se para o campo de refugiados denominado Centro Regional de Processamento de Fallingbostel. Ali receberam a documentação necessária do cônsul brasileiro para viajar à nova pátria. No dia 27 de junho de 1949, a família Magalinski desembarcou na estação ferroviária de Leopoldo de Bulhões, em Goiás, de onde foram levados para a hospedaria dos imigrantes. Permaneceram ali por 35 dias, quando se encaminharam, junto a mais seis famílias, ao município de Silvânia, para trabalhar na lavoura de café. Em


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VOCÊ SABIA?

Museu dos Imigrantes em Goiás

Fotos: Ana Clara Itagiba

Com o objetivo de resguardar a memória dos imigrantes em Goiás, o Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski está em processo de consolidação no Centro de Convenções de Anápolis. No local será abrigado o futuro Museu dos Imigrantes do Estado de Goiás. O acervo com mais 1000 peças, entre objetos, documentos e fotografias de imigrantes das mais variadas nacionalidades que vieram para Goiás, foi doado por Magalinski.

Festivais preservam tradições Fotos: Prefeitura de Nova Veneza

Fotos: Ana Clara

junho de 1950, Jan com quase 15 anos, foi para Anápolis. Dezessete anos mais tarde se transferiu para Goiânia e se formou em História e Geografia. Hoje professor, Jan Magalinski participou da fundação da Sociedade Brasileira-Polonesa (Braspol), da criação do Museu Histórico de Anápolis, em 1971, e fundou o Centro de Memórias do Imigrante, em 1999. Dentre tantos estrangeiros que construíram a vida no estado de Goiás, o italiano Hector Lamartine, aos 25 anos, veio da cidade de Le Pastul até o Rio de Janeiro de navio, em 1969, motivado por um projeto social ligado a uma igreja. “No começo foi difícil, por causa da língua, do clima. Saí da Bélgica nevando e cheguei ao Rio com 40°C. Eu sentia muita sede toda hora, e os pernilongos me irritaram muito. Nos primeiros cinco meses notei muita violência no bairro Nova Iguaçu, onde eu estava desenvolvendo um projeto social”, lembra Hector. Ele mudou-se então para Goiânia em busca de uma vida melhor e para dar continuidade a seu projeto social. Na região, formou-se em Filosofia na Universidade Federal de Goiás (UFG). “Em poucos momentos eu tive muita vontade de retornar, mas hoje eu não voltaria porque construí minha família aqui. Tenho uma esposa, três filhos e seis netos”. O aposentado com 72 anos afirma que é um verdadeiro goiano naturalizado.

>> Festival Italiano de Nova Veneza

Os imigrantes foram e ainda são importantes para a formação da identidade do povo goiano. Temos festas como o tradicional Festival Gastronômico Italiano de Nova Veneza e o Festival Bon Odori, da cultura japonesa. Esses eventos contam com músicas tradicionais, comidas típicas, roupas que retratam a cultura e artes plásticas da Itália e Japão.

>> Documentos e passaportes de imigrantes que vieram para Goiás

Hollywood no Cerrado Durante estadia em Anápolis, Joan Lowel escreveu o livro Promised Land (Terra Prometida, em tradução livre). “Neste livro ela relata suas histórias e aventuras em solo brasileiro, despertando o interesse de vários norte-americanos em adquirir terras em Goiás principalmente na cidade de Anápolis”, conta o historiador Jairo Alves. Em Anápolis, a atriz criou a imobiliária Terra da Promissão e negociou propriedades com norte-americanos. Destacam-se as aquisições de Janet Gaynor, a primeira mulher a ganhar o Oscar, e Mary Martin, atriz que interpretou Peter Pan. A história dessas americanas no interior de Goiás acabou virando um documentário. Hollywood no Cerrado, de 2009, foi dirigido por Tânia Montoro e Armando Bulcão.

abigatI aralC anA :sotoF

Ao final da década de 1930, a atriz hollywoodiana Joan Lowell, que chegou a contracenar com Charlie Chaplin no filme The Gold Rush (Em Busca do Ouro), de 1925, mudou-se para Goiás. A atriz norte-americana, após viagem à América do Sul em um transatlântico, apaixonou-se pelo capitão do navio. O casal decidiu morar em Goiás, época da Marcha para o Oeste, em 1930, criada no governo Getúlio Vargas. Compraram terras em Jaraguá e após a atriz ficar doente, foram para Anápolis ao encontro de um médico missionário inglês, doutor James Fanstone. Sem recursos financeiros para custear o tratamento, moraram de favor por algum tempo na chácara de propriedade do médico inglês.


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Próxima parada:

Goiânia

A capital de Goiás tem se tornado o destino comum de migrantes, especialmente do Tocantins, Maranhão e Pará Reportagem: Leia Pires e Wesley Almeida Edição: Adriel Morais Diagramação: Adriel Morais

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cidade de Goiânia, projetada para 50 mil pessoas, hoje tem mais de 1,4 milhão de habitantes, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelos bairros e ruas da capital nota-se que parte desse crescimento populacional não é por ação exclusiva dos goianienses. Pessoas de todo o Brasil são atraídas para a região com ofertas de emprego, oportunidades de estudo ou simplesmente por se afeiçoarem à cidade. De Santa Maria da Vitória, no estado da Bahia, José Neto Alves, um senhor de cabeça branca e voz suave, relembra sua história embaixo de uma das árvores da Avenida Goiás. Aos 64 anos, seu José é representante de ourivesaria, mas já trabalhou como auxiliar de serviços gerais por dez anos após chegar à capital. Conheceu a cidade no ano de 1973 quando ainda era solteiro e veio a passeio. A mudança de Estado foi uma decisão tomada 29 anos depois, após perdas familiares na região natal. “Quando eu vim para Goiânia

Fotos: Reprodução

a primeira vez, eu gostei muito, mas voltei para a Bahia. Lá me casei, e tive quatro filhos, dois deles faleceram e isso me fez querer mudar. Então, em 2002, vim pra cá e dessa vez para ficar”, conta. Segundo a socióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Neusa Maria Branco, de 57 anos, um ponto forte em Goiânia que motiva a migração é a oferta de trabalho. A capital é uma das maiores exportadoras de carne bovina do País e tem como sustentáculo o agronegócio. Mas ela ressalta que muitas pessoas são atraídas a Goiânia pela possibilidade de iniciar os estudos, pela estrutura acadêmica que a cidade oferece. Foi para estudar que Silvana Silva dos Santos, de 21 anos, veio da pequena cidade de Zé Doca, no estado do Maranhão. Quando contemplada com uma bolsa universitária, não teve dúvidas: seu destino seria Goiânia. O interesse começou quando veio participar de um congresso que estava sendo realizado na cidade em 2015. “Gostei muito da cidade”, lembra. Desenhado seus próprios looks e realizando pequenos trabalhos de personal stylist, com apenas 12 anos Silvana Silva percebeu que o seu mundo seria o da moda. Hoje, a maranhense está no segundo período do curso de Design de Moda e sonha levar o seu aprendizado para as salas de aula da sua cidade e contribuir na formação dos conterrâneos. Silvana compartilha com os goianos as histórias do Bumba Meu Boi e o arroz cuxá, cozido com a folha de vinagreira, uma espécie de couve verde e azeda. “Aqui as pessoas acreditam que o Maranhão é só pobreza e miséria, mas tem muitas riquezas no meu estado”. Silvana é mais uma dos 11.517 maranhenses que moram na capital, segundo dados recentes do IBGE. O estado que mais traz migrantes

a Goiânia é Tocantins, seguido pelo Maranhão, Pará, Bahia, São Paulo. Para a socióloga Neusa Maria, os mineiros e tocantinenses levam vantagem na adaptação a Goiás pela proximidade dos estados e pela similaridade cultural. De Belo Horizonte, a pedagoga Claudiane Junqueira, de 41 anos, concorda. “Acho Minas e Goiás muito parecidos”. A pedagoga veio para Goiânia em agosto de 2010, após uma proposta de emprego em um colégio da capital. A adaptação foi rápida. Morando há seis anos em Goiás, casou e teve dois filhos. “Cheguei com 36 anos focada no trabalho. Mas em uma saída para almoçar, acabei conhecendo o meu marido com quem sou casada há quatro anos e meio”. Com dois anos na cidade, o colégio onde trabalhava foi vendido e a mineira foi dispensada da instituição. Mesmo com proposta de trabalho em uma nova cidade, Claudiane decidiu ficar em Goiânia. Ela acredita que o carinho que sente pela cidade tem relação direta com povo goianiense. “Fui acolhida como se estivesse voltando para a minha cidade depois de uma temporada fora. Não me senti em nenhum momento como alguém de outro estado”. A quatro quilômetros de onde Claudiane mora, está o escritório de advocacia de outro mineiro, de Araxá. Edmar Lazaro Borges, de 70 anos, chegou a Goiânia em 1965, aos 19 anos, em busca de um sonho: estudar e se tornar um advogado. Antes da sua chegada à cidade, ele trabalhou na roça e serviu no Exército. Na capital goiana, valoriza a hospitalidade do povo. “Eu devo muito a Goiânia. Tudo que eu conquistei hoje, eu devo à minha força de vontade e a essa cidade”. Segundo o historiador Luiz de Souza, nunca houve um ponto na história de Goiânia que justificasse a vinda intensa de migrantes. “Goiânia não tem na sua história uma justificativa para a vinda acentuada de migrantes. Talvez a década de 1970, quando a cidade teve grande desenvolvimento, foi um grande atrativo, mas nada que seja um marco na história da migração na região”.


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gastronomia

Sabores do Brasil

Fotos: Reprodução

A riqueza culinária de cada região mostra o variado cardápio de um país continental Reportagem: Vera Urias Cavalcante Filstein Edição: Christielly de Oliveira e Naythielle Moreira Diagramação: Naythielle Moreira

REGIÃO NORTE

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rasil é um país rico em diversidade humana, cultural, religiosa, social e também na culinária. Cada um dos estados brasileiros tem seus pratos típicos e suas peculiaridades, que são preparados de acordo com as tradições locais. A própria origem da culinária brasileira é resultado da mistura de três povos: índios, portugueses e africanos. Mais tarde também chegaram influências de imigrantes de diversas origens. Para a chef de cozinha, Suzana Wascheck, é indispensável à culinária brasileira a mistura de ingredientes de outras culturas. “A gastronomia brasileira só evoluiu a partir desse intercâmbio cultural vindo da Itália, da França, dos portugueses, orientais, entre outras culturas”, acredita. Os hábitos alimentares são diferentes de estado para estado, de acordo com sua história, costume e variedade de ingredientes e sabores. “A cozinha brasileira tem tudo, é muito rica em produtos e temperos, temos uma diversidade muito grande e isso permite uma mistura muito legal para se trabalhar”, afirma Suzana.

CENTRO-OESTE

No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul destacam-se o pacu frito ou assado, Maria Izabel (carne seca com arroz). O Tererê, que é uma infusão de água gelada e erva-mate, é uma bebida típica do Mato Grosso do Sul. Em Goiás, o pequi é um fruto muito popular que caiu no gosto da gastronomia. Também o empadão goiano e doces de frutas em compotas são comuns. Dona Maria Vaz, da Cidade de Goiás, destaca o doce de feijão, típico da cidade onde nasceu. “Aprendi a fazer o doce com minha sogra, as pessoas que não conhecem acabam estranhando um pouco quando ofereço, mas quando comem acham muito gostoso”, afirma a cozinheira.

REGIÃO SUL

As principais influências culinárias vieram da Europa, principalmente por meio de italianos e alemães. O prato mais tradicional é o churrasco. Em Santa Catarina, o marreco recheado. No litoral, os peixes, camarões e ostras. No Paraná, o barrado paranaense. O chimarrão, feito com erva-mate também é uma marca registrada do gaúcho.

REGIÃO SUDESTE

A influência culinária vem dos portugueses. Pratos com peixes e frutos do mar são típicos do Espírito Santo, tendo a moqueca capixaba como prato principal. Em Minas Gerais destacam-se a carne de porco, arroz com galinha e o feijão tropeiro. Os doces tradicionais de Minas têm como base a laranja-da-terra, abóbora e o mamão. No Rio de Janeiro, destacam-se a feijoada, o bacalhau, filé com fritas e o picadinho carioca. Em São Paulo as comidas se assemelham com as de Minas, mas com destaque para o cuscuz paulista.

REGIÃO NORDESTE

Os peixes e frutos do mar são típicos do litoral. Na Bahia a influência culinária vem da África com pratos como sarapatel, vatapá, caruru, acarajé, bobó de camarão. Outras comidas tradicionais do Nordeste são a buchada-de-bode, a pamonha, canjica e o queijo coalho. O azeite de dendê é o que dá um sabor diferenciado à maioria desses pratos. Em Pernambuco o bolo de rolo é típico e feito com farinha de trigo e recheio de goiabada.

É onde a culinária indígena se torna mais influente. No Amazonas e Pará o que se destaca na culinária são a maniçoba, conhecida como a “feijoada paraense”; o pato no tucupi, com folha de jambu acompanhado de arroz branco e farinha d’água; e o tacacá, um caldo quente composto por tucupi, camarões secos, jambu e goma. Amanda Cogo, proprietária de um restaurante que explora os sabores da Amazônia, observa o gosto do goiano pelo tacacá paranaense. “Meu restaurante é focado em comidas típicas do Norte, especialmente paraense. Hoje meu carro chefe é o tacacá, mas eu também faço unha de carangueijo, maniçoba, pato no tucupi, arroz de pato, arroz paraense, açaí puro, tapioca”. Também em Tocantins as misturas em cima da mesa unem as particularidades regionais. “O baião-de-dois na verdade é um prato típico do Nordeste que é feito com lentilha, mas nós adaptamos ele com feijão de corda, carne seca e arroz. É comum no nosso Estado esquentar as sobras desse prato no outro dia e comer no café da manhã pra ir pra roça trabalhar, pois é uma comida forte que sustenta”, explica Aristéia Cardoso Lima, nascida em Conceição do Tocantins.


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Família, eh... Família, ah... ...FAMÍLIA!

“A base da relação é o amor e o apoio que recebemos das nossas próprias famílias.” Natalliê Mundim

Papai, mamãe e filhos já não abrangem todo o sentido da palavra família, dada a diversidade das uniões afetivas

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uando se fala em família, normalmente se faz a associação com a figura de uma tríade: pai, mãe e filhos. Mas o modelo tradicional já não abarca uma série de arranjos familiares, tão múltiplos quanto a diversidade de gêneros e opiniões. Casais que optaram por não ter filhos, mães solteiras, pais com filhos, pais separados, pais com segundo ou terceiro casamento. São muitas as uniões afetivas que o sentido da palavra família vem se tornando cada vez mais flexível. A socióloga Fabiana Souza de Almeida afirma que atualmente os novos modelos crescem de forma acelerada. “Assim como os avanços tecnológicos, as famílias antes compostas por pai, mãe e filhos vêm sofrendo alterações.” Para ela, a antiga crença do “até que a morte nos separe” já não anda tão em alta, com a possibilidade que novos caminhos sejam trilhados. Os mais jovens já sentem as mudanças no modelo familiar e se adaptam à realidade particular em que vivem. “Observa-se que muitas crianças e adolescentes vêm reconstruindo seu conceito de família. Na ausência de um dos membros, por exemplo, o pai, são inseridos no seio familiar novos personagens, como a figura do padrasto, da madrasta”, cita. Ela diz ainda que a família não deve omitir nada às crianças. “Quando se trata da constituição de sua origem, a criança deve participar do entendimento dos arranjos familiares e não deve ser colocada contra um dos membros que constitui o seio familiar.” Mãe solteira de uma menina de 10 anos, Ana Paula Almeida diz ter uma “família de dois” e afirma que carinho, atenção e amor não faltam. “Embora o pai

Foto: Layza Vasconcelos

Reportagem: Micaela Bessa Edição: Raul Luchese Diagramação: Vanessa Cortes

seja pouco presente, os avós e tios sempre tiveram convívio com ela, com muito carinho, atenção e amor. Percebo pela nossa convivência e experiências diante das adversidades, que ela me admira por encarar os desafios sozinha”, alega. A sua filha, Vivian Almeida, ainda muito jovem foi quem a fez compreender que elas eram uma família. “A propósito, comecei a nos enxergar como uma família completa depois que ela começou a dizer para as pessoas que somos uma família de duas com muita naturalidade.” Ana Paula já teve que enfrentar preconceitos por ser mãe solteira, mas acredita que família é quem fornece a estrutura emocional e material para a formação do ser humano como parte de uma coletividade. “Na minha visão, é no ambiente familiar que temos a primeira e principal formação como ser humano, como cidadãos do mundo. É com a família que temos as primeiras lições de vida, que temos a ideia e a prova de como lidar com as adversidades e quais caminhos seguir no decorrer da nossa trajetória”, diz. Kely Oliveira, fisiterapeuta de 28 anos, vive com Bruno Barros, mas não se casaram no papel. Pretendem ter filhos, mas

somente com condição financeira estável. “O fato de não sermos casados perante a lei não nos difere de outras famílias, porém, às vezes, a relação é vista com estranheza por pessoas mais velhas”, afirma.

Uniões homoafetivas

Segundo a socióloga Fabiana Souza, os debates mais polêmicos dizem respeito ao questionamento a respeito de famílias formadas por casais homoafetivos. De acordo com ela, esse tipo de família vem crescendo e, apesar dos preconceitos, é notório que se as pessoas do mesmo gênero têm amor, carinho, dedicação, responsabilidade, condições financeiras e psicológicas, elas possuem todo requisito básico e necessário para uma boa educação de uma criança. Natalliê Pereira Mundim vive uma relação multiparental com outra mãe, Cristiane Domingues de Almeida e um pai, Leo Wohlgemuth Lobô. Eles têm um filho de 11 meses de idade. Segundo a família, ele foi gerado por inseminação artificial. As mães contam que o bebê já balbucia a palavra “mamãe” para ambas. “A base da relação é o amor e o apoio que recebemos das nossas prórias famílias.” Os três contam que sentem orgulho por inspirarem novas famílias a se adaptarem.


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Eles são os “donos”de casa

Enquanto mães vão para o mercado de trabalho, pais respondem, cada vez mais, pelos afazeres domésticos

Reportagem: Thaíla Queiroga de Macedo Edição: Daniella Monteiro e Ludmyla Gonçalves Diagramação: Otávio Ordones

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imagem da mãe responsável pelos afazeres domésticos está ficando no passado. Hoje, o homem da casa também lava roupas, as louças, cuida das crianças e ajuda com a lição de casa. Há quem duvide, mas eles sabem trocar fraldas, os horários certos da mamadeira dos bebês e a hora de ir buscar as crianças na escola. O modelo hierarquizado da família tem traços antigos na história do Brasil. O sistema patriarcal tem no topo da hierarquia a figura masculina, ou seja, o “pai” como o chefe, o administrador das economias familiares e também de toda a influência social da família, enquanto a mãe assume os cuidados no lar. Para a psicóloga Thaís Brenner, nas relações familiares “ninguém manda de fato, e nem deve ser considerado o líder absoluto ou qualquer coisa do tipo, pois não é saudável. Remete a um líder

Feminismo De maneira simples e direta, feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. É uma mobilização social pela “quebra” da hierarquização dos sexos, do sexismo e do machismo. O que chama a atenção é que mesmo sendo um movimento que luta pelos direitos igualitários entre os gêneros, há mulheres que ainda não o apoiam. A socióloga Angélica Peixoto explica que isso acontece na maioria dos casos porque as mulheres militantes tendem a demonizar o sexo masculino e abstrair todo o processo histórico. Atitudes como essas reduzem as possibilidades de se ter uma visão mais geral do que é realmente o movimento feminista.

autocrático e punidor, que dá medo. O pai ou a mãe tido dessa forma, aos olhos da criança, é um monstro ao qual ele precisa obedecer e temer”. Para Ludovico Felipe de Paula Júnior, 45 anos, se responsabilizar pela rotina de seu filho de 4 anos e gerir os afazeres do lar é motivo de orgulho. “Meus colegas fazem graça, mas, para mim, é motivo de muito orgulho. Faço por hoje, não penso no futuro. Minha segurança é ficar perto dele, assim como de meus outros filhos, quando podem estar por perto”. Casado pela segunda vez, o representante comercial tem outros três filhos do primeiro casamento. Na sua atual rotina, mora com o filho mais novo e organiza toda a gestão em casa: leva para a escola, ajuda nos deveres escolares, além dos afazeres do lar. “Eu e minha última esposa, no momento, estamos separados e o meu filho mora comigo há seis meses, somos nós dois”, explica. Na infância, os papeis e contextos sociais e culturais são absorvidos porque a família os introduz em seu cotidiano. “A criança criada em uma cultura que lhe mostre que papai é quem trabalha e mamãe é quem fica em casa cuidando de tudo vai ter esse formato como certo. Mas a inversão de papeis contribui para uma percepção menos estanque. O mesmo ocorre com a percepção de casais homoafetivos sendo assimilada como uma estrutura comum e não como uma aberração”, explica a psicóloga Thaís Brenner. O equívoco, segundo ela, é acreditar que uma criança que cresce em uma organização familiar fora dos padrões vai sofrer mais futuramente. A técnica em enfermagem Allyne Rodrigues mora em Goiânia e precisa ficar longe dos seus dois filhos pequenos para trabalhar. “Hoje eles moram em

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Dicionário Segundo reportagem da Agência Brasil, o dicionário Houaiss está buscando sugestões para redefinir o significado da palavra família. A campanha #TodasAsFamílias, promovida pela agência NBS (NoBullShit) com o Grande Dicionário Houaiss, recebeu mais de 3 mil sugestões de texto sobre o conceito de família, uma nova definição “sem preconceito ou limitações”. De acordo com um dos responsáveis pela campanha, a ideia surgiu a partir da consternação que a população teve diante da definição do Estatuto da Família, aprovado em comissão especial da Câmara dos Deputados, em 2015. Pelo texto, “define-se entidade familiar como núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. Ainda de acordo com a matéria, o Instituto aceitou a proposta por seu interesse e valor humanitário. Divininópolis com minha mãe, sinto saudade, mas ao mesmo tempo preciso trabalhar e dar melhores condições para eles.” Allyne tem uma jornada pesada de trabalho e ainda afirma que prefere assim a depender de um homem. “É uma escolha difícil ficar longe dos meus filhos e participar de longe da educação. Estou sempre ligando e cobrando os estudos e o respeito que devem a sua avó”. A forma de se tratar esse assunto com os filhos deve ser clara. Segundo a psicóloga Thaís Brenner, não é chegar e impor um formato do tipo “mãe é a chefe e seu pai vai cuidar dos afazeres”. Quando o assunto é cuidar da casa e dos filhos, vemos uma diversidade onde cada núcleo familiar estipula o que é melhor e não há um padrão. “O que temos que reverter é a visão social que institui um padrão que mudou já algum tempo, que gera discriminação e preconceito”. Para a psicóloga, as decisões devem ser negociadas pelo casal. Os lares estão sendo constituídos de diversas formas, e o pai que cuida do lar está ali, mantendo o aconchego e muitas vezes sentindose ainda mais parte do ambiente, por não trabalhar e estar sempre de olho em seus filhos. “Muitos ainda acreditam que hierarquizando a família, os filhos vão respeitar mais e isso é errado”, garante.


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A eterna luta pela igualdade Mesmo com a maior emancipação feminina, mercado de trabalho ainda oferece muitos desafios para as mulheres que buscam ascender na carreira Reportagem: João Pedro Figueiredo Edição: Max Egito M. Curcino Diagramação: Ana Carolina Tavares

“Tive que ir administrando minha relação com funcionários, empresários e clientes para ter o respeito que qualquer pessoa deveria receber”. A gerente regional afirma que na hora cada vez mais frequente ver mulheres de contratar não leva em conta o gênero. “Já trabalhando em locais antes apenas ouvi de tudo, desde que lugar de mulher é na ocupados por homens. O que muitos cozinha, até elogios, falando que o trabalho não sabem é o quanto, na maioria das vezes, de mulher é mais completo e transparente. foi difícil elas chegarem aonde estão. Mesmo Mas quero é que não haja diferença entre conseguindo destaque, recebem salários me- gêneros, pelo menos dentro da minha regionores do que os homens. nal.” Coincidência ou não, hoje mulheres são Ana Sousa, 39 anos, trabalha desde 2006 a maioria na sua filial. na área de representação comercial. “Quan A falta de sensibilidade dos locais do comecei a ir às ruas para atender os clien- de trabalho com a mulher que, além de protes, muitas vezes era recebida com cara fissional, também assume o papel de de desconfiança, já que os empresámãe é outro problema comum. rios eram em sua maioria aten“Quando minha filha estava “Já ouvi de tudo, desde didos por homens.” Segundo com problemas de saúde que lugar de mulher é ela, homens que ocupam a e tive que me ausentar mesma função costumam por algumas semanas, na cozinha, até elogios, ganhar maiores salários e, tive que ouvir algumas falando que o trabalho de na maioria dos casos, têm pessoas dizendo que se mulher é mais completo e formação inferior. fosse um homem no meu transparente. Adriana Botelho, gelugar não teriam esse proAdriana Botelho, rente regional de uma grande blema”, afirma a represengerente empresarial empresa nacional, lembra que tante comercial Ana Sousa. quando passou a ocupar o cargo de Daiany França, 28 anos e um funcionário antigo da empresa precidois filhos, afirma que não é fásou se posicionar de forma mais firme em cil conciliar a vida de mãe e trabalhadora. sua relação com os colegas de trabalho. “Quando a Juliana nasceu eu estava com

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Diferença salarial Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), há uma evidente diferença salarial entre homens e mulheres que possuem o mesmo nível de instrução. – Entre analfabetos, os homens ganham 5% a mais que as mulheres. – Entre aqules que têm ensino fundamental, a diferença de ganhos salariais em prol dos homens é de quase 15%. – Essa defasagem chega a cerca de 17% entre aqueles que possuem ensino médio.

duas férias vencidas e uma para vencer, mas a empresa me deu apenas o tempo da licença, de seis meses, para eu ficar em casa”.

Assédio

Desconfiança no trabalho, salários menores, falta de compreensão com as diferenças de gêneros. Os enfrentamentos não terminam por aí. Ao ocuparem cargos em que há a preponderância da presença masculina, as mulheres ainda têm que lidar com situações de assédio. Para Laís Brito, 27 anos, professora da disciplina de Química, os assédios são constantes. “Ocorrem dentro e fora de sala de aula. E para quem trabalha com adolescentes é ainda pior, porque temos receio do que eles podem fazer.” A professora ainda afirma que o assédio sexual parte também de outros professores. A jornalista Lara Guerreiro, 37 anos, ao longo de sua carreira enfrentou diferentes tipos de assédios e intimidações. “Eu trabalhava para um deputado, e ele me ligou tarde da noite me chamando para ir à casa dele. Claro que recusei, falei que não era meu horário de expediente e que era casada, não fazia sentido eu ir até lá.” Ela também recorda ter enfrentado assédio moral por sua chefe. “Como ainda estava em período probatório, eu fiquei com medo de fazer alguma coisa, estava sozinha no Rio de Janeiro e grávida.” Imagem: Reprodução

– Já na faixa dos que têm ensino superior, as mulheres ganham 34% menos que os homens.

Elas sustentam mais de um terço dos lares Com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, 37,3% das unidades domésticas tinham a mulher como responsáveis pelo principal sustento financeiro da família.


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Foto: Lucas Marques e Maria Tereza Cruz

A decolagem da mulher na aviação >> A piloto Polyane Christine: sem medo de entrar no Clube do Bolinha da aviação

Reportagem: Nayara F. Costa Edição: Patrícia Silva

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inserção da mulher na aviação brasileira se iniciou por um sonho que resultou na primeira licença para pilotar avião, concedida a uma mulher pelo Aeroclube de São Paulo. Ada Rogato é o nome que dá orgulho a muitas mulheres que sonham em voar alto. Um dos principais desenhos que definem a ausência feminina no espaço aéreo é a imagem restrita da mulher responsável pelo lar e a família. Essa responsabilidade individualista e a pressão social levam muitas mulheres a não se inserirem em profissões que são consideradas pela sociedade como masculinas, fazendo com que inúmeras delas, deixem de realizar seus sonhos e desejos pessoais. Em contrapartida, algumas empresas aéreas passaram a investir mais no público feminino, lançando campanhas que mostram a população, a imagem da mulher piloto de uma forma mais natural. O secretário do Aeroclube de Goiás, Guilherme de Napoli, 33, afirma que os fatores que afastam as mulheres da aviação, não se limitam apenas ao preconceito e ao machismo. Além desses, há a questão orçamentária. “Levando em consideração que o pú-

blico feminino que se arrisca na carreira de piloto é minoria, se alguém contratar piloto e copiloto de sexos diferentes, por exemplo, tem obrigatoriamente que fazer duas reservas em hotéis, enquanto dois homens podem dividir o mesmo quarto.” Além disso, a carreira de piloto exige um alto investimento para a formação e manuseio com a tecnologia avançada, o que afasta em geral muitas “sonhadoras dos céus” de seus objetivos. Embora as pilotos estejam em minoria, a inserção das mulheres nessa área esta em fase de crescimento. De acordo com Guilherme, a cada seis meses, seis mulheres, concluem o curso de aviação no Aeroclube de Goiás. Camila de Araujo Gewehr, 25, é uma dessas guerreiras que decidiram bater de frente com a sociedade para ir atrás do seu sonho. Camila é piloto da agência Brasil Vida Táxi Aéreo. Ela ingressou nesse mercado em 2005 e conta que não é fácil enfrentar as imposições da sociedade, mas nunca encarou isso como empecilho. “Ser o gênero que é minoria na aviação não significa que somos menos capazes”, argumenta.

A pequena porcentagem de vagas destinadas à mulheres na aviação e em outras profissões, que são ocupadas em maioria pelos homens mostra que mesmo depois de anos de luta por direitos civis, a sociedade ainda é indiferente quanto a certas mudanças sociais que beneficiam o sexo feminino. Mas o preconceito social e as dificuldades são insuficientes para impedir que ocupem um cargo de piloto de avião e também em outras profissões que por muito tempo foram restritas a elas. Polyane Christine, 18 anos, estuda Direito durante a semana e aos finais de semana faz o curso de piloto privado. A mãe exigiu a formação jurídica em troca do intensivo no Aeroclube de Goiás. “Faço uma coisa que eu odeio em troca de outra que eu amo”, assume logo, mas confessa que tem medo de não conseguir emprego devido ao preconceito. Mesmo assim, Polyane se esforça muito e aconselha quem também quer seguir a carreira. “As dificuldades e preconceitos vão surgir, mas não desista.” Essa determinação define a busca incessante das mulheres pelos seus direitos e a liberdade de escolher em qual vôo vão ingressar.


16 Impressões [2016-2] identidade

Divas da noite

No mundo das drag queens, há glamour, brilhos e paetês, mas também concorrência e luta pela valorização familiar e profissional

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aquiagens, meias-calças, cílios postiços, saltos altos, performances, shows, entretenimento, diversão. Assim pode ser entendido o mundo das drag queens. O espetáculo formado por homens que se vestem do sexo oposto tem origens antigas, de um tempo em que as mulheres eram impedidas de representar papéis femininos, entre os séculos XVI e XVII. Atualmente, são nos palcos das casas de shows noturnas das grandes cidades que as drags se encontram. Bruno Trillo começou a se montar por brincadeira, em uma festa no carnaval de 2002. Ele não tinha nenhum conhecimento sobre “o mundo de purpurina”. Depois de assistir diversos shows de drags mais experientes, decidiu que queria fazer uma apresentação. Nasceu a Paola Vulcão, que com o passar do tempo viu as apresentações se tornarem uma fonte de renda. “Minha primeira apresentação foi na antiga boate Jump e foi um desastre. Até então nunca tinha feito algo do tipo, achava que seria fácil, mas não tinha sequer coordenação motora. Não sabia me maquiar direito e até a peruca soltou”, conta, rindo. A aceitação da família ocorreu de forma gradativa. No início contou somente para a sua mãe, que não viu com bons olhos. “Minha mãe obviamente não gostou, mas com o tempo ela viu que estava dando lucro e aceitou. Hoje em dia minha relação com minha família é a melhor possível, todos me aceitam e adoram meu trabalho”.

“feminina, recatada, discreta, mas que não leva desaforo para casa”, brinca. Joaquim ainda não se apresenta profissionalmente, mas em poucos meses pretende estrear nos palcos. Sabe da concorrência que irá enfrentar. “A convivência com as drags é boa quando são amigas, mas sempre tem aquela disputa de quem vai ficar mais bonita, quem vai ousar mais no look”.

“Feminina, recatada, discreta, mas que não leva desaforo para casa” Ravenna Levan

Concorrência no meio

Foto: reprodução

Reportagem: Déborah Queiroz, Guilherme Gonçalves, João Neto e Lorena Bastos Edição e Diagramação: Ewerton Soares e Panmella Barros

A moda e a arte aproximaram Joaquim Araújo Gabriel do mundo das drag queens. Ele veio do Tocantins para Goiânia com o objetivo de estudar Design de Moda. Trabalhou em eventos na área e ensinava modelos a andar de salto alto. Com o tempo, criou a personagem Ravenna Levan,

Aos 21 anos, Veber Prado descobriu o mundo das drag queens na noite boêmia de São Paulo, onde morou por três anos. Em Goiânia, começou a interpretar a Amy Buffay, em referência a cantora inglesa Amy Winehouse e a personagem do seriado americano Friends, Phoebe Buffay. “Quando me montei pela primeira vez, lembro como se fosse hoje, eu sofrendo com aquele salto no meu pé, a peruca me dando dor de cabeça, a maquiagem me agoniando, o sutiã me pinicando. Mas eu levantei e olhei no espelho e foi tudo embora. Juro, foi a melhor sensação que já tive na vida, a de não ser eu mesmo por alguns instantes”, lembra. Amy convive com diferentes “mundos”: os gays, as drogas, “os maconheiros”, os hippies, empresários, estudantes de faculdade. E, segundo ela, “nenhum meio é mais maldoso, perigoso e competitivo que o mundo das drags”. Ela conta que as drags mais famosas de Goiânia têm grupos de WhatsApp onde são avaliados os looks e performances das iniciantes. “Se suas companhias não forem bonitinhas, se suas maquiagens e looks não estiverem impecáveis, as perseguições ocorrem com chacotas


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Drag queens famosas têm apelo popular e sabem, como poucas, entreter o público com seus shows e suas performances

Amargoza Simpson, Camilla Miss e Kanichala Voniqre Estrelas do antigo espetáculo Jú 11 e 24, que teve enorme sucesso em Goiânia nos anos 1980 e 1990, elas mostram que a noite da capital também tem espaço para as divas.

por parte das mais famosas durante meses. Existem até grupos para descascar as menos polidas”. O termo “shade” é utilizado por Amy para explicar quando uma ataca de forma maldosa direta ou indiretamente outra drag.

Relação com a família

Nem tudo são plumas e paetês. Para muitos artistas que se travestem de mulher nas noites goianas, entre os desafios há a compreensão e o respeito. Joaquim Araújo ainda não ousou contar a sua família sobre o seu futuro trabalho de transformista ou o desejo de assumir sua transexualidade. Apenas algumas primas distantes sabem sobre a existência da Ravenna Levan e acham

Foto: reprodução

Foto: reprodução

Foto: Weimer Carvalho

As poderosas

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Nanny People

Isabelita dos Patins

Figura frequente da noite paulistana, a comediante e apresentadora se destaca pelo jeito irreverente e debochado, sempre com seu leque a postos.

A carismática drag se tornou um símbolo das paradas gays pelo Brasil e se transformou em celebridade nacional.

interessante a coragem do primo. Joaquim conta que prefere não comentar para evitar aborrecimentos com os familiares que não aceitaram totalmente sua orientação sexual. “Minha família não aceita 100% o fato de ser gay e tampouco uma drag, pois já associam a imagem à possibilidade de eu virar travesti ou me assumir transexual. Não que não tenha interesse, mas no momento estou bem como drag mesmo”, afirma. A relação com o pai e a mãe é um tema delicado para Veber Prado. Criado por uma tia, seu pai o expulsou duas vezes de casa ao saber da sua opção sexual e de seu trabalho. Ele também implicava com o seu jeito de falar, seu estilo e gosto musical, com as tatuagens e

piercings, o que fez com que a relação ficasse restringida a um “oi” e “tchau”. “Ele tentou me privar de tudo que eu gosto. Meu pai é mais um caso dos velhos pais homofóbicos que fazem seus filhos sofrerem, infelizmente”. A mãe descobriu a antiga profissão do filho por meio de uma situação inusitada: ela abriu a sua bolsa e se deparou com uma meia calça. “Foi meio difícil achar uma explicação, pois ela acreditou que queria fazer uma troca de sexo, o que não era o caso”. Hoje, trabalhando em uma empresa de revendas de telecomunicações, fazendo parte da equipe de venda interna, Veber acredita que a sua capacidade de “vender seu peixe” foi o que levou ao sucesso longe da vida dos palcos.


18 Impressões [2016-2] cosplay

>> Sakura Haruno do anime Naruto

O mundo do faz de conta

Pessoas de todas as idades encarnam seus personagens favoritos de animes em uma verdadeira cultura paralela Reportagem: Filipe de Carvalho Edição: Ana Clara Itagiba e Raema de Castro Diagramação: Rayka Martins

225,00. “A roupa é encontrada em grupos de venda no Facebook, você pode comprar por encomenda ou usado. A peruca eu encomendei da China e o resto é meu, fui adaptando”, uem nunca brincou de se vestir de conta, orgulhosa. Maro já é mais experiente super-herói quando criança? Em com seus 31 anos. O esteticista e maquiador Goiânia, a caracterização inspirada profissional já participou de competições, em personagens de anime (HQ , jogos, man- mas hoje é cosplayer por hobbie. Apesar de gás) vem se tornando febre entre pessoas de boa parte da produção da roupa ter sido retodas as idades. Conhecida como cosplay, a alizada por ele, foram investidos cerca R$ prática movimenta eventos, mercados, fãs e 350,00 em materiais e acessórios. abre a discussão sobre os problemas acarSaber dosar o mundo imaginário das retados com a aproximação entre o mundo produções audiovisuais com o mundo real imaginário e o mundo real. é uma preocupação de muitos pais. Para A psicóloga Érika Verri Lopes está na a psicóloga Érika Verri, ainda que os fase final de sua especialização em games e animes sejam exemplos Psicodrama Terapêutico e Sode estímulos ao desenvolvicioeducacional e esclarece mento de crianças e jovens, “Se eles souberem dosar devem ser considerados que entre o mundo imaginário e o mundo real há seus limites. “O limite o mundo do anime com o o limite mental. “Possuíentre o adequado e o mundo real, eu não vejo mos em nossa mente um inadequado é relativo problema nenhum”. mecanismo natural que ao meio em que a pessoa conduz nossa atenção ora vive. Via de regra obserRosana de Freitas, para vivências reais e ora vamos que é necessário mãe de cosplayers para experiências imaginauma atenção maior quando tivas. Vale ressaltar que é uma a pessoa passa a ter prejuízos capacidade inerente aos seres huem sua forma de se relacionar, no manos e fazemos isso com considerável frecumprimento de tarefas rotineiras quência por ser importantíssima para o nosso e compromissos”, afirma. desenvolvimento cognitivo, mnemônico, soRosana de Freitas, de 41 anos, sempre cial e afetivo”, explica. que pode acompanha o sobrinho Matheus Desde 2014, a estudante de Arquitetura Mesquita, 18 anos, e as filhas Sophia de FreiStéphane Souza, 18 anos, faz cosplay e se tra- tas, 11 anos, e a mais nova do grupo, Júlia veste de vários personagens: a fofa psicótica de Freitas, 8 anos, nos Gasai Yuno do anime Mirai Nikki, a suporte festivais que forneSona do jogo League of Legends (LOL) e até cem espaço para os a versão feminina do mestre das trevas Darth cosplayers, como o Vader. “Gasto cerca de R$ 200,00 para fazer Mangazine Festival. a caracterização e não acho caro”, conta a jo- Rosana não vê provem. Stéphane revela que às vezes improvisa blemas em suas filhas alguns materiais e economiza ao não com- gostarem de anime, prar a peça original. mas preza pelo limiJá Maro Asamiya e Stefânia Rodrigues te. “Se eles souberem fazem cosplay do Sasuke Uchiha e da Sakura dosar o mundo do Haruno, respectivamente. Ambos os perso- anime com o mundo nagens são de um dos animes mais conheci- real, eu não vejo prodos no mundo: Naruto. Stefânia, estudante blema nenhum”. de Ciências Biológicas, tem 18 anos e para se vestir da personagem investe cerca de R$

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Foto: arquivo pessoal

Críticas dentro de casa Stéphane Souza não tem apoio dos familiares para fazer cosplay, muito pelo contrário. Eles a aconselham a deixar isso de lado. “Meus parentes dizem que é uma besteira, que é perda de tempo e de dinheiro”. Para a família, ela poderia ocupar o seu tempo e disposição com outra atividade mais produtiva, como um curso, por exemplo. “Mas eles não entendem que é um hobbie, um lazer como qualquer outro”. A realidade de Maro Asamiya também não é diferente. “O preconceito começa dentro de casa. Os primeiros a criticarem são os familiares. “Eles questionam ‘por que você vai fazer isso? É perda de tempo, você não vai ganhar nada’. Sempre rola um comentário desses”, comenta o cosplayer, com indiferença. Segundo a psicóloga Érika Verri, para não se deixar afetar pelo preconceito, é importante o exercício do autoconhecimento e do autocontrole. “Como não temos controle sobre o comportamento do outro, para lidar de uma forma mais assertiva e evitar situações negativas, é importante percebermos a nós mesmos (estado de ânimo, humor, cognição) e o meio externo (local, pessoas ao redor), ou seja, discriminarmos as situações favoráveis e desfavoráveis à expressão de nossas preferências, sejam quais forem”.

>> Stéphane Souza com seu cosplay da Gasai Yuno


[2016-2] Impressões

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arte corporal

Meu corpo, minhas regras Body modification, ou modificação corporal, confere personalidade e marca o estilo de vida dos adeptos Reportagem: Lucas de Godoi Edição: Mikaelle Oliveira e Pabline Flaviane Diagramação: Mikaelle Oliveira

Fotos: divulga;cão

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s intervenções no corpo podem até parecer bizarras ou curiosas, mas carregam inúmeras histórias e visões de mundo. A opção em transformar o próprio corpo, seja com silicone, piercing ou tatuagens, hoje ganha nome: body modification, ou modificação corporal, no bom português. Mas tais fenômenos são antigos e remetem às heranças de culturas ancestrais, como as indígenas, que foram adaptadas nos países ocidentais para conferir personalidade e marcar um estilo de vida. Para o sociólogo José Mauricio Dorninger, o desejo pela body modification revela muito mais do que o gosto estético de uma pessoa. Segundo ele, as pessoas se modificam com a intenção de se tornarem especiais e as tatuagens têm papel predominante. “A tatuagem passa a ser um instrumento não falado de como ‘eu’ quero ser visto e compreendido. É uma afirmação do ego e da necessidade de se sentir especial, diferente”. Vinícius Viniths, designer de moda, nasceu no outono de 1991. É filho de comerciantes religiosos que o incentivaram desde cedo a seguir a doutrina cristã. Com 24 anos, Vinícius, que fez sua primeira tatuagem aos 14, já possui um braço inteiramente preenchido por desenhos das mais variadas formas, além de outras tatuagens em diversas partes do corpo e piercings. O jovem mostra o diamante com asas tatuado no peito e conta que o desenho remete à liberdade e beleza, coisas que ele valoriza. As motivações, segundo Vinícius, são inúmeras: uma realização pessoal, uma homenagem ou a própria arte, quando o procedimento é exclusivo, dispendioso e demanda tempo para criação. “Pelo fato de ter as tatuagens, eu me sinto uma pessoa mais descolada, mais atualizada. Eu tenho amigos que eu fiz em estúdios e eventos de tatuagens. Se eu não tivesse as minhas tatuagens, hoje eu seria mais uma pessoa comum”. A tatuadora Lays Alencar diz se emocionar com histórias que chegam ao seu estú-

>> Designer Vinicius Viniths: peito e braço tatuados dio. As pessoas buscam a tatuagem como uma forma de se sentirem melhor, o que Lays compara com uma cirurgia plástica. Outras são feitas para cobrir cicatrizes, até mesmo emocionais. A tatuadora relembra o caso de uma pessoa que perdeu a mãe e o irmão de

apenas quatro anos em um acidente de carro. Para carregá-los consigo, tatuou: “seu amor viverá eternamente em mim”. Segundo ela, “a pessoa sente que se marcar o corpo com alguma lembrança, ela estará para sempre em sua companhia”. Assumir as tatuagens Se os elogios e a admiração são tão presentes no campo pessoal, na hora de buscar um emprego a realidade muda. Valquíria Rosa, 22 anos, é adepta da body modification e trabalha como aplicadora de piercings. Para ela, que já buscou vagas como vendedora em lojas de shoppings e não conseguiu, existe resistência por parte dos empregadores em relação aos corpos diferentes do padrão. Valquíria acredita que hoje só é possível trabalhar na área das modificações corporais, por ser aceita e vista com mais naturalidade. “Eu tenho tatuagens expostas. Acredito que os empresários não querem passar uma imagem ruim para os clientes. E eles acreditam que quem é tatuado passa uma imagem ruim”, reclama. Vinícius Vinithis não frequenta mais a igreja pelo preconceito que enfrentava. Ele acredita que no futuro as pessoas terão mais aceitação. “Eu creio que tanto o lado religioso, como artístico, tudo evolui, tudo muda. As pessoas mudam”.

Tatuagens já são um grande negócio Há eventos que são organizados para a discussão de tendências, competições, workshops e exposições. Criada no Brasil, a Tattoo Week é considerada a maior convenção de tatuagem da América Latina. Recebeu em sua 4ª edição, no primeiro semestre de 2016, no Rio de Janeiro, 30 mil visitantes para conferir o trabalho de 900 artistas, de 14 países. Além estar em contato com adeptos da modificação corporal de diversas partes do mundo, nos eventos o público busca outras referências de tatuagens, moda e elementos para a construção da sua imagem. As tatuagens também são possibilidades para jovens empreendedores. Vinícius, que é designer de moda, explica que ter tatuagens é um ponto positivo na divulgação do seu trabalho, por ajudar a compor as peças das roupas de sua criação, inspiradas no estilo de

Foto: Divulgação

>> Tattoo Week: maior evento da área no País vida que remete à liberdade e modernidade. Assim como a tatuagem no seu braço, uma de suas coleções de regatas masculinas era de estampas florais. “Eu fotografo com as minhas peças e as pessoas querem comprar. É como se elas se espelhassem na minha imagem ao escolher os itens”, afirma.


20 Impressões [2016-2] preconceito

Gordofobia: um assunto invisível

Segundo o Ministério da Saúde, em 2015 mais da metade dos brasileiros estavam acima do peso

Size, que se incomoda quando perguntam por que continua gorda mesmo tendo um rosto bonito. Apesar de a maioria das modelos do mercado da moda ser formada eja em uma avenida movimentada ou por manequins 34 e 36, grifes Plus têm se em uma universidade, é impossível expandido para atender a esta demanda encontrar duas pessoas exatamente cada vez maior, abrindo espaços para as iguais. Pessoas altas destoam na multidão, modelos de corpos mais avantajados. Uma pesquisa divulgada pelo as baixas ficam mais escondidas, os corpos formam a universalidade de tipos comple- Ministério da Saúde em 2015 revelou que tamente únicos. Corpos magros, corpos o índice de brasileiros acima do peso é gordos e corpos que não se encaixam em alto: 52,5% da população se enquadram nenhuma das duas categorias. Mesmo com na categoria e, destes, 17,9% estão tantas diferenças, a sociedade cria padrões obesos. Os números mostram que o excesso de peso é maior entre os homens, impossíveis de acolher todos. 56,5% contra 49,1% das mulheres. “Eu tinha uma amiga que era magra Já a taxa de obesidade não é e todos zoavam dela por causa muito diferente entre os disso. Ela começou a comer dois gêneros, sendo 17,9% mais pra se sentir melhor e quanto mais ela comia, mais “Eu sou gordo porque entre o sexo masculino 18,2% entre o sexo curtiam com o seu corpo. é uma opção de vida efeminino. Ela ficou obesa e eles não que eu escolhi.” Apesar do alto índice pararam. Um dia ela sentiu de cheinhos, a repulsa que não aguentava mais e Joáo Pedro, contra as pessoas gordas tirou a própria vida. Isso foi há 19 anos, estudante ganha força nas redes sociais, um ano”, conta, com tristeza, a onde o preconceito é protegido estudante Sabrina Soares. pelo anonimato. Entre os debates virtuais, A revista Fórum define como gordofobia a forma de discriminação estruturada e dis- há o argumento de que o excesso de peso seminada nos mais variados contextos socio- não deve ser disseminado como algo bom, culturais, consistindo na desvalorização, estig- pois representa falta de cuidado com a matização e hostilização de pessoas gordas e saúde. Mas a valorização de modelos seus corpos. De forma simplificada, gordofo- magras no mundo da moda, por exemplo, está muito longe de ser sinônimo de bia é o ato de repulsa contra pessoas gordas. “As pessoas são ensinadas desde preocupação com a saúde. A ex-modelo da agência Ford Model pequenas a comer de tudo, são induzidas a consumir fast foods e guloseimas o e estudante de Jornalismo da PUC Goiás tempo todo. A mesma mídia que induz Bárbara Ferreira, de 18 anos, abandonou o consumo desses alimentos, cobra que a carreira justamente para valorizar a as mulheres tenham corpos perfeitos. É saúde. “O meu agenciador falou: ‘quero incoerente e extremamente injusto”, diz que sua alimentação seja só de folhas. Eu Gabriela Caroli, 30 anos, modelo Plus não quero que você engorde’. Não havia Reportagem: Déborah Queiroz Edição: Thaysa Rafaella Vani Diagramação: Amanda Marinho e Thaysa Vani

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Fotos: Reprodução

um cuidado com a saúde, só queriam você magra, magra, magra e esse foi um dos motivos que me levou a repensar a carreira. A minha saúde estava indo para o ralo”, recorda. Debates sobre o tema têm sido cada vez mais recorrentes, principalmente em colégios e universidades que visam promover a aceitação à diversidade. “Eu sou gordo por opção. Eu não quero ser uma pessoa magrela que fica só comendo salada, só coisa light. Eu quero aproveitar a minha vida e se isso me faz um pouco ou muito gordo, pra mim não vai fazer diferença. Até mesmo porque isso não me atrapalha amorosamente, não atrapalha na minha vida social e acho que é escolha de cada um. O importante é a pessoa ficar feliz com o corpo que ela tem, independente do que a sociedade prega”, diz o estudante João Pedro, de 19 anos.

Recentemente o ator Wentworth Miller, conhecido por seu papel na série Prision Break, foi ridicularizado por ganhar peso. O ator rebateu as críticas afirmando que a comida foi seu refúgio durante a depressão. “Poderia ser qualquer coisa. Drogas, álcool, sexo. Mas comer é uma coisa que me fazia aguentar. Havia momentos em que o grande momento da minha semana era o meu prato favorito e um episódio de Top Chef ”, disse em seu Facebook.


[2016-2] Impressões

entrevista

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alberto las casas jr.

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”Quanto maior o peso, mais sobrecarga para os órgãos” Reportagem: Déborah Queiroz Edição: Thaysa Rafaella Vani Diagramação: Amanda Marinho

Pessoas que estão acima do peso têm mais chances de sofrer de pressão sangüínea alta, possuir altos níveis de gordura no sangue, excesso de “mau colesterol” e falta de “bom colesterol”. Todos esses são fatores que podem levar a doenças cardíacas e até, em casos mais graves, ao infarto, uma das principais causas de mortes entre adultos no mundo. Para saber um pouco mais sobre a relação entre sobrepeso e problemas cardíacos, a equipe do IMPRESSÕES conversou com Alberto Las Casas Jr, cardiologista no Instituto de Neurologia de Goiânia. O médico faz alertas sobre os riscos que a obesidade traz a todo o organismo e dá conselhos para quem pretende manter-se em forma em nome da saúde. O sobrepeso está diretamente ligado à saúde? Sim, quanto maior o peso, mais sobrecarga os órgãos terão para realizar as suas funções. O sobrepeso aumenta o risco do aparecimento de doenças perigosas, como a hipertensão arterial, o diabetes e o aumento do colesterol e do triglicérides. Problemas cardíacos podem estar diretamente ligados ao excesso de peso? O excesso de peso é um agravante aos problemas cardíacos, mas não é o único vilão. Outros fatores de risco importantes incluem a idade. Com o passar dos anos, os riscos aumentam. Há ainda a história familiar, o sedentarismo, o tabagismo, o etilismo, a hipertensão arterial, diabetes e colesterol aumentado. Quanto mais esses fatores a pessoa apresentar, maior o risco de ter problema cardíaco precoce. Quem tem mais problemas cardíacos, magros ou gordos?

“O excesso de peso é agravante dos problemas cardíacos, mas nao é o único vilão”

Considerando que as pessoas magras e as obesas apresentam os mesmos fatores de risco, isto é, mesma idade, pressão arterial, diabetes, colesterol semelhantes, mesma genética, mesma quantidade de exercício físico semanal, mesmos hábitos de vida quanto a cigarro e álcool, o risco é maior no obeso. As modelos Plus Size tem que ter uma alimentação saudável para manter a rotina de trabalho. É possível se manter gordo tendo uma alimentação saudável?

Mesmo a alimentação saudável, desde que em excesso e associada à falta de atividade física, pode levar ao excesso de peso. O controle do peso é conseguido com o controle de duas variáveis principais, a alimentação e a atividade física. Não adianta controlar uma e não controlar a outra. Quais os riscos para a saúde de se manter acima do peso por opção? Os principais riscos incluem problemas articulares, cardiovasculares, diabetes, derrame, problemas respiratórios. É possível se manter acima do peso sem que isso cause riscos à saúde? Não, pois isso causa um desgaste maior do organismo. Muitas vezes demora 10, 20 anos para aparecer as complicações, mas com a expectativa de vida próximo a 80 anos, se não cuidarmos enquanto estivermos jovens, não vamos chegar nessa idade com saúde. Quais são as recomendações para quem está acima do peso? E também abaixo do peso ideal. O grande segredo de manter o peso adequado é ter alimentação saudável e fazer atividade física com regularidade. Infelizmente ninguém quer isso, fazer “sacrifícios” para manter a saúde. A rotina é querer um remédio ou uma dieta milagrosa para perder peso em um mês ou uma vitamina pra ganhar peso, mas nada disso resolve. Pode ajudar a controlar o peso, mas não ajuda a manter a saúde, que é muito mais importante.


22 Impressões [2016-2] turismo

Os paraísos que Goiás oferece ao visitante Reportagem: Elis-Meire Rodrigues e Paulo Vitor Kysten Edição: Amanda Marinho Diagramação: Amanda Marinho

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ico em belezas naturais, águas termais, abundantes cachoeiras e paisagens de encher os olhos, Goiás esconde lugares de grande interesse turístico. Os destinos são diversos e podem agradar mochileiros, pessoas que viajam sozinhas, em grupos, com amigos ou família. Entre os principais pontos turísticos do Estado está a cidade de Caldas Novas, que possui águas termais e rios quentes. Conhecido mundialmente, o local transformou-se no maior polo turístico da região. Pirenópolis, outro destino bastante comum, recebe meio milhão de visitantes por ano, segundo a prefeitura da cidade. Outro ponto turístico é a capital da Fé de Goiás, Trindade, que está entre os roteiros mais populares por fieis católicos no País. O número de visitantes fica em torno de quatro milhões por ano, segundo dados divulgados pelo IBGE. Sendo um dos mais importantes pontos de peregrinação da fé católica no Brasil, a cidade, durante a Romaria do Divino Pai Eterno, recebe cerca de 2,8 milhões de pessoas.

E aí, vai pra onde? A 156 km de Goiânia, um paraíso se esconde em meio a cavernas cheias de grande beleza: Ponte de Pedra, em Paraúna. Quem já foi, garante que o lugar é incrível. Destino: São cerca de 2 horas de carro. Acesso pela via BR – 060 e GO – 164.

Diversificando as Rotas Além de Trindade, Pirenópolis, Caldas Novas e cidade de Goiás, os goianos possuem diversas outras opções de turismo dentro do próprio estado que por vezes passam despercebidas ou não têm seu potencial turístico explorado. Cidades como Lagoa Santa, Cavalcante, Corumbá de Goiás, Cocalzinho, Formosa, Caiapônia e Jataí são ótimas para quem deseja fugir da rotina e ter alternativas para um fim de semana. Neftali Feliciano, 26 anos, é admirador da natureza e do turismo. Conhece diversos pontos turísticos na região. Segundo ele, Goiás é riquíssimo em ecoturismo, com várias alternativas naturais. “Poucas pessoas fora do estado de Goiás conhecem Cavalcante e Alto Paraíso, por exemplo”. Cristina Sangalo, 33 anos, trabalha como assistente social e nos finais de semana como guia de Turismo em Cavalcante. Futuramente, ela pretende trabalhar apenas com turismo. Para Cristina, apesar de Cavalcante possuir potencial turístico, falta ainda falta estrutura para receber visitantes. “Cavalcante precisa de um administrador que dê perfil turístico à cidade, pois temos alternativas para isso, constam mais de 100 cachoeiras catalogadas”, afirma ela sobre a cidade que é porta para a Chapada dos Veadeiros e das comunidades calungas. Jataí, a 320 km de Goiânia, esconde riquezas que ainda precisam ser exploradas, como as águas termais. O município se destaca no cenário turístico de Goiás como destino para os que procuram turismo de aventura e banhos em águas quentes. Os grandes clubes aquáticos do município têm diárias que custam a partir de 150 reais. Destino: Acesso pela via BR – 060.

Caldas Novas Pesquisa realizada pelo site Guia Mais elegeu as dez melhores cidades turísticas de Goiás. Dentre as citadas estão Jataí, Caiapônia, Formosa, Cavalcante. Apesar de não ocupar nenhuma colocação na lista, o Salto do Corumbá também é destino para quem gosta de curtir a natureza. O local ocupou a mídia mundial quando suas quedas d’água estamparam a capa da maior revista de viagens e natureza do mundo, a National Geographic Traveler, na coluna a Best of the World (Melhores do Mundo).

Cachoeira Santa Bárbara, em Cavalcante

Fotos: Reprodução

Músicas, danças, festas populares, culinária, artesanato e muita beleza natural. Estes são alguns dos atributos que fazem de Goiás um bom destino para turistas

Para quem curte cachoeiras, um dos destinos mais procurados em Goiás é a Cachoeira Santa Bárbara, localizada em Cavalcante. São duas quedas com águas azuladas e translúcidas. Destino: Leva cerca de de 6h de carro para ir de Goiânia a Cavalcante. São 510 km de viagem.


[2016-2] Impressões

cultura

O que rola no Grande Hotel

Vem pra rua!

Batalhas de MC’S Pra quem quiser batalhar é só chegar alguns minutos antes e se inscrever no local. Além de batalhas de rimas, o evento proporciona pocket’s show’s.

O centro de Goiânia é também um ponto de encontro de gerações que buscam cultura e diversão de forma gratuita

Sons de Beco Considerado uma iniciativa pioneira nos eventos gratuitos a céu aberto no centro de Goiânia. Tem o intuito de motivar uma maior interação das pessoas com seus locais de passagem, trabalho, visitação ou moradia.

Reportagem: Matheus Carlos e Rayka Martins Edição e Diagramação: Rayka Martins

rem uma visão diferente do mundo, mostrar a eles que ainda tem esperança de uma vida melhor, mas a dificuldade de acesso acaba divisão dos espaços na cidade, so- impedindo de irmos.”, queixa-se. Na tenmada ao aumento desenfreado da tativa de diminuir a divisão da cidade e população dos grandes centros ur- proporcionar um espaço de encontro, uma banos, resultaram na diminuição dos espa- melhor interação entre os moradores de ços de convivência, do encontro da diversi- Goiânia, jovens vêm promovendo a ocupadade. Quem mora na cidade ocupa espaços ção de espaços públicos na cidade. bem definidos. O encontro com o diferente Os amigos Victor Caetano, Gil Célio, fica cada vez mais difícil, por meio dos vi- Matheus e Wander Segundo criaram o Coledros fechados dos tivo Cultural Ocupem as carros, dos muRuas e desde novemros rodeados por bro de 2015 realizam cercas elétricas e mensalmente eventos pela falta de árenas dependências do as de lazer. Grande Hotel, priSegundo o meiro hotel da capital geógrafo Eduare local de importantes do de Freitas, a reuniões da história da divisão na cidacidade. O objetivo do de promove uma projeto é proporcioprecarização da nar um evento cultural malha urbana, acessível ao público de pois os habitantes diversas faixas etárias e não se apresen- >> Jovens curtem show durante o Ocupem as Ruas classes sociais. tam na cidade inteiramente, e sim em peO evento acontece gratuitamente, mas quenas partes. “Quanto maior as disparida- conta com a contribuição voluntária do púdes socioeconômicas entre as classes sociais, blico. “Pedimos a contribuição para que tudo maiores são as diferenças nas moradias, ser- não saia do nosso bolso”, diz Victor Caetano. viços públicos e principalmente na qualidade Para ser tornar mais acessível a toda a pode vida do cidadão”. pulação, a atividade é realizada aos A população de baixa renda domingos no centro da cidade, “Nossa proposta é durante a tarde, para se tordepende efetivamente da qualidade dos serviços públicos viável a volta para casa um evento baseado nar para alcançar melhor quapara quem utiliza o transna contracultura e no porte público. lidade de vida, na área da educação, saúde, transpor“Nossa proposta é ‘faça você mesmo’.” te coletivo e cultura. Maria um evento baseado na Victor Caetano, da Conceição, mãe de quatro contracultura e no ‘faça do coletivo Ocupem filhos, mora no bairro Vale dos você mesmo’, contando as Ruas Sonhos, na periferia de Goiânia, apenas com a colaboração voe reclama da falta de lazer e cultura luntária de várias pessoas”, afirma gratuita para seus filhos. Victor. A contracultura é um movi“Gostaria de frequentar atividades de mento que se iniciou na década de lazer e cultura na rua, para meus filhos te- 1960 e tem como ideologia o rompimento

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A

Foto: Otávio Morato

Baile de Rua Tataruê O projeto independente nasceu no Carnaval de 2016, um evento gratuito com música, projeções de vídeo, apresentações artísticas , decoraçao estilizada. Fantasias, maquiagem e fuga do óbvio são muito bem-vindas.

Foto: Rayka Martins

Grande Hotel – Av. Goiás, esquina com Rua 3, Centro.

das barreiras para que diversas culturas possam se juntar para expressar sua arte. O encontro conta com a exposição de artistas goianos e shows com bandas de diferentes estilos que não conseguem espaço para se apresentar na cidade e que têm objetivos em comum com o coletivo, ou seja, o de não visar lucro. Eventos de caráter similar do Ocupem as Ruas têm ocorrido com certa frequência em Goiânia. O Batalha de Mcs, Sons de Beco e Baile de Rua Tataruê são alguns exemplos. O objetivo de todos eles é garantir um momento de convivência, onde a diversidade possa ser manifestada em espaços públicos.


24 Impressões [2016-2]

Edição: Amanda Pinheiro e Lucas Melo Fotos: Maria Luiza Rodrigues

ENSAIO

“A arte de atuar requer possibilidade de se moldar diante os papéis propostos, causando veracidade para o espectador.

Uma pessoa para compreender tem de se transformar.’’

Antoine de Saint-Exupéry

“Nada é impuro quando acontece aquele atrevimento mágico de transformar a vida em arte. Caio Fernando Abreu

Grupo de Teatro Guará


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