Série Trocando Ideias – Caderno 5 – Logística Solidária

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Série

Caderno 5

Logística Solidária


Logística Solidária


Apresentação

União Brasileira de Educação e Ensino - UBEE Instituto Marista de Solidariedade - IMS Presidente: Wellington Mousinho de Medeiros Conselheiros: Alexandre Lucena Lôbo Ataide José de Lima Humberto Lima Gondim José de Assis Elias de Brito José Wagner Rodrigues da Cruz Superintendente de Organismos Provinciais: James Pinheiro dos Santos Superintendente de Operações Centrais: Artur Nappo Dalla Libera Superintendente Socioeducacional: Dilma Alves Rodrigues Gerente Social: Cláudia Laureth Faquinote Diretora do IMS: Shirlei A. A. Silva Coordenação da Publicação: Rizoneide Souza Amorim Elaboração do Texto: Anderson Barcellos Santos Fabiano Coutinho Ruas João Passos Filho Vania Regina Diehl

Este é o caderno 05 da “Série Trocando Ideias” que trata da comercialização solidária, em uma abordagem da Logística na perspectiva da Economia Solidária, denominando-se Logística Solidária. Esta publicação é o resultado de diversas oficinas realizadas com Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), durante a execução do Projeto Nacional de Comercialização Solidária (PNCS), coordenado pelo Instituto Marista de Solidariedade (IMS), em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária – Ministério do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE), com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PAC´S). As capacidades e relações de produção, comercialização e consumo, dentro da lógica da economia solidária, apresentam grandes desafios a serem enfrentados no campo da logística. Há uma demanda clara pelos EES, da construção de um processo que permita, simultaneamente, a apropriação e o exercício de informações estratégicas e que garanta as suas autonomias, através da adequação de procedimentos logísticos às suas realidades.

Diagramação: Oniodi Gregolin

O Caderno 05 – Logística Solidária vem contribuir para o atendimento desta demanda, apresentando elementos para a reflexão, com conceitos, definições, tipos e o destaque para a relação entre a logística e a cadeia de suprimentos, com os seguintes questionamentos: a logística é uma ferramenta da cadeia de suprimentos ou a cadeia de suprimentos é uma ferramenta da logística?

Projeto Gráfico: Lavínia Design

Boa leitura!

Rosane Juraci Bastos Revisão: Lecir Peixoto Rizoneide Souza Amorim


A logĂ­stica e seus tipos PARTE 1


Conceito e caracterização de Logística Solidária

Para que um EES possa produzir e comercializar determinado produto, é necessário um conjunto de fatores funcionando bem, que compõem a logística do processo.

O que é Logística? A logística visa planejar, organizar e controlar o fornecimento e o armazenamento de matérias primas e produtos diversos, durante o processo de produção, comercialização e consumo. É composta por três elementos: transporte, estoque e localização, que conjuntamente, têm por objetivo o atendimento ao cliente em determinado serviço (Ballou, 2006).

PLANEJAMENTO ORGANIZAÇÃO CONTROLE Estratégia de transporte

• Previsão • Decisões sobre estoque • Decisões de compras e deprogramação de suprimentos • Fundamentos de estocagem • Decisões sobre estocagem

Objetivos do serviço ao cliente

• Fundamentos do transporte • Decisões sobre transporte

• O produto • Serviço logístico • Processamento de pedidos e sistemas de informação

Estratégia de localização • Decisões sobre localização • O processo de planejamento da rede 8

A Logística sob a ótica da Economia Solidária Um sistema logístico construído a partir dos princípios da Economia Solidária pressupõe a agregação de valores que, normalmente, não são considerados no sistema produtivo capitalista e vão muito além da complexidade da produção e da entrega rápida e eficiente dos produtos. Tais valores têm como pressuposto básico a valorização do elemento humano acima do capital, o que se conceitua como logística solidária “... o desenho e a implementação de fluxos racionais, que permitam o acondicionamento, transferência, armazenamento e distribuição de produtos e serviços em diferentes lugares, de forma que essas pessoas possam obter um ganho justo e que lhes permita a auto sustentabilidade, dando-lhes condições de viver com dignidade” (Martins e Gasparin, 2005). Para Martins e Gasparin (2005), a logística solidária busca:

Figura 1 - Fonte: Ballou 2006

Estratégia de estoque

Garantir a disponibilidade de matéria prima e insumos para a produção e propiciar a distribuição eficiente e rápida dos produtos no mercado desejado, com baixo custo e sob a ótica da economia solidária, requer um grande exercício da prática colaborativa.

• Promover o crescimento econômico (ecológico e socialmente justo e sustentável); • Colaborar na integração das cadeias produtivas da economia solidária, permitindo-lhes maior eficiência e vantagens em suas operações de comercialização e distribuição através da integração das iniciativas já existentes; • Garantir volume, ganho de escala na comercialização, armaze9


namento e distribuição de produtos; • Redução do número de “atravessadores”, resultando em margem de lucro mais justa para quem produz, embala, armazena e transporta esses produtos; • Pautar as operações logísticas de forma coerente com os valores de solidariedade, autonomia, responsabilidade, libertação, reciprocidade, equidade, democracia e sustentabilidade; • Resgatar e incluir socialmente os/as produtores/as, por meio de canais otimizados para armazenagem e distribuição de seus produtos; • Resgatar e incluir os prestadores de serviços, notadamente motoristas, garantindo volume e faturamento e resultando em melhores condições de vida para os mesmos; • Estabelecer malhas regionais de distribuição de produtos que possam ser utilizadas em situações de contingência (desastres, intempéries climáticas, etc), garantindo confiabilidade nos processos de distribuição de alimentos, remédios e doações;

Figura 2: Os estágios da logística na perspectiva da economia solidária. Fonte: (Martins, 2010)

• Contribuir no desenvolvimento, produção e comercialização de produtos gerados a partir de subprodutos ou de materiais recicláveis por meio da gestão eficiente de contra fluxos; • Contribuir de forma efetiva na eliminação de desperdícios (alimentos, combustível, ocupação de veículos, etc). • A logística solidária reescreve a máxima do professor Bowersox: “Fazer mais e mais com menos desperdício, até fazer tudo com todos/as e para todos/as”.

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Tipos de Logística

• Resíduos da produção de derivados da cana-de-açúcar (ex. bagaço como fonte de energia de fornos). Quais fatores devem ser observados para a aplicação da Logística Reversa?

Logística Reversa É a logística que trata do gerenciamento de materiais usados, isto é, planeja, organiza, executa e controla os resíduos originados do consumo, fazendo um movimento reverso desde o ponto de consumo até o ponto de origem. Quais os objetivos da Logística Reversa? • Promover a redução do uso de matéria prima, por meio da reutilização, reciclagem e substituição de materiais;

• Fatores econômicos – avaliar a necessidade de adaptação dos produtos em relação aos custos, quantificar e qualificar a diminuição do impacto ambiental; • Fatores regulatórios – avaliar a relação existente entre o uso de recursos vindos da logística reversa e a legislação e a política de meio ambiente; • Fatores referentes à responsabilidade corporativa - relacionamse ao comprometimento dos EES com a destinação correta dos seus resíduos; • Fatores tecnológicos – referem-se aos avanços tecnológicos que propiciam a reciclagem e o reaproveitamento de materiais após descarte pela sociedade; • Fatores logísticos - relacionam-se aos aspectos logísticos da cadeia reversa, como por exemplo, a coleta dos produtos.

• Incentivar e propiciar o descarte adequado de resíduos; • Controlar o desperdício. Quais as aplicações da Logística Reversa? • No reaproveitamento de embalagens (ex. embalagens de vidro); • Na reciclagem de embalagens (ex. garrafas PET, papelão, caixas de leite longa vida); • No uso de resíduos do pós-consumo (ex. sementes de açaí para produção de energia ou artesanato); 12

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Logística Intermediária

da produção e comercialização;

É quando outras organizações executam as atividades logísticas dos empreendimentos.

• Fatores políticos e governamentais – verificar a possibilidade de alguns setores do Estado colaborarem nas atividades logísticas. Ex. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), estatal que possui grandes estruturas de armazenamento de alimentos, coopera em alguns estados, com agricultores familiares na estocagem de seus produtos, evidenciando a sua colaboração no processo de logística intermediária subsidiada pelo Estado.

Quais os objetivos da Logística Intermediária? • Possibilitar aos EES realizarem suas atividades produtivas e comerciais, sem se ocuparem da gestão e manutenção de infraestruturas móveis (caminhões, embarcações, motos e outros) e imóveis (galpões, centros de distribuição, agroindústrias, silos e outros); • Possibilitar a diminuição das atividades dos EES dentro da cadeia produtiva, por meio da contratação de outros EES para a realização de atividades de transporte, distribuição, armazenamento e transformação de alguns produtos; • Propiciar condições aos EES para que focalizem e qualifiquem suas atividades fins.

• Fatores tecnológicos – verificação da necessidade de investimentos em equipamentos mais sofisticados, para a realização das atividades de transporte, processamento/transformação, armazenamento e distribuição de produtos. Construir parcerias estratégicas que se responsabilizem por estas atividades, diminui o investimento, manutenção e gestão das estruturas logísticas; • Responsabilidade Cooperativa - relaciona-se à cooperação entre EES para a superação dos desafios da logística, o que otimiza recursos humanos e financeiros, diminui custos e aumenta os ganhos dos cooperados;

• Fatores econômicos – que se refere à análise do custo da utilização de uma logística intermediária, o que pode aumentar o custo

• Fatores logísticos - ao longo do ano ou até mesmo em algum período específico, pode haver deficiência de estrutura para produzir a quantidade necessária para o atendimento da demanda. Este fato pode levar o EES a buscar outros empreendimentos para realizar a atividade de transformação, processamento e beneficiamento.

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Quais as aplicações da Logística Intermediária? • Na distribuição, entrega ou armazenamento de matéria prima ou produtos finais; • No transporte da matéria prima da fonte até o local de produção; • No processamento de produtos mais elaborados. Quais fatores devem ser observados para a aplicação da Logística Intermediária?


Logística de Suprimentos A Logística de Suprimentos é a organização e o planejamento do ciclo e fluxo dos componentes da uma cadeia produtiva, representados por seus fatores de produção (matérias primas, embalagens, rótulos, serviços/mão de obra, alimentos, energia, água). Esta logística cuida do planejamento, administração, movimentação, armazenamento, processamento/transformação e transporte desses componentes. Quais os objetivos da Logística de Suprimentos? • Garantir o fornecimento dos elementos necessários para o processo de produção; • Agilidade e rapidez no tempo de espera nos recebimentos; • Confiabilidade no cumprimento dos prazos acordados;

• Flexibilidade nas ações, com capacidade de mudança de estratégias, quando necessário; • Eficiência no uso dos recursos e diminuição dos custos. Quais as aplicações da Logística de Suprimentos? • Na organização da aquisição e estoque de matérias primas; • Na organização do estoque de produtos acabados; • Na organização da distribuição de produtos acabados; • Na organização da aquisição de suprimentos, como rótulos, embalagens, dentre outros. 16

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Quais fatores devem ser observados para a aplicação da Logística de Suprimentos? • Fatores econômicos – relacionados com a diminuição do custo da produção (Ex. diminuir o tempo de estocagem de produtos acabados, insumos e matérias primas). Para isso, é necessário um planejamento eficiente, prevendo a quantidade a ser produzida, os suprimentos necessários e a previsão de entrega dos produtos; • Fatores políticos/governamentais e da legislação – considerar os registros e controles necessários para viabilizar a circulação e o consumo dos produtos;

• Iniciativa cooperativa – refere-se à cooperação entre EES para a superação dos desafios da logística, por meio da realização de atividades de maneira colaborativa e integrada, otimizando recursos humanos e financeiros (ex. compras coletivas de matérias primas, rateamento de despesas com transporte); • Fatores tecnológicos - relacionados à necessidade de equipamentos adequados para o transporte, armazenamento e distribuição de produtos, garantindo a integridade e a qualidade dos produtos e entrega dentro dos prazos. 18

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Logística de Produção A Logística de Produção refere-se à gestão necessária para a transformação da matéria prima em produto acabado, com a tomada de decisões táticas e operacionais, abrangendo todas as relações internas e externas do empreendimento. Ela cuida de todas as decisões, para garantir os elementos necessários para uma determinada produção (ex. matéria prima, pessoal, rótulos, embalagens, equipamentos, dentre outros). Quais os objetivos da Logística de Produção? • Organizar e orientar sobre o que/quanto/quando produzir e o que/quanto/quando comprar; • Organizar e orientar sobre a disponibilidade de recursos para produzir.

Quais as aplicações da Logística de Produção? • Para a definição do produto a ser produzido; • Para o planejamento da quantidade da produzida; • Para a definição do período em que será produzido; • Para a organização da estrutura necessária para a produção (pessoal, máquinas, equipamentos, rótulos, embalagens, insumos, matéria prima, dentre outros). 20

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Quais fatores devem ser observados para a aplicação da Logística de Produção? • Fatores econômicos - relacionam-se com o planejamento da produção, com o intuito da diminuição dos custos e garantindo a viabilidade da produção; • Fatores políticos/governamentais e da legislação – é o atendimento dos critérios e normas trabalhistas, tributárias, ambientais e produtivas, o que garante a circulação da produção no mercado; • Iniciativa cooperativa – desenvolvimento de uma atuação coletiva para a diminuição dos custos, através do uso mais eficiente de recursos (ex. evitar o desperdício de matérias primas e insumos, uso eficiente da energia e água); • Fatores tecnológicos – relaciona-se ao uso de equipamentos de produção eficientes, com baixo consumo de energia e pouca exigência de manutenção, o que garante produtos em qualidade e quantidades suficientes. • Fatores logísticos – buscar informações precisas sobre o processo de produção, aquisição e estoque de matéria prima e insumos, controle sobre as estruturas de produção, rotina de produção bem definida aliada a um eficiente sistema de manutenção das máquinas e equipamentos.

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Pensando a logística solidária

PARTE 2


Refletindo e exercitando a aplicação da Logística Solidária Para a aplicação da logística solidária, faz-se necessário pensar sobre o que se produz, quem compra e onde os produtos são comercializados. Com estas informações os EES podem definir e planejar: • Em quais localidades devem ter células locais de consolidação? • Em quais cidades devem ter células regionais de consolidação? • Quais os fluxos e contra fluxos existentes? • Quais as características, quantidades de veículos para a realização do transporte e distribuição dos produtos dos EES ? E ainda refletir sobre: •Como estamos trabalhando a logística solidária em nossos EES ? • O que estamos fazendo para praticar a logística solidária? • O que precisamos saber (informações chaves) para viabilizar um processo de logística solidária? • Quais poderiam ser os desafios para viabilizar uma logística solidária? • Com quem podemos contar para viabilizar uma logística solidária? • Quais formas de comercialização e distribuição podem favorecer maior autonomia aos produtores?

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Os conceitos anteriores colaboram com a definição de logística solidária e apontam diretrizes para a construção de um modelo logístico solidário que atenda as necessidades de EES e de redes colaborativas. O que permite a verificação das possibilidades técnicas e políticas viáveis, que podem contribuir para o desenvolvimento sustentável de cadeias produtivas, seus elos e sobretudo, garantir vida digna às pessoas e às organizações integrantes de uma rede com esse perfil. O digrama da figura 3 sugere, do ponto de vista técnico, quatro níveis de células, podendo ser expandidas para mais níveis, dependendo das especificidades da cadeia, dos seus elos e dos organismos públicos e/ou privados que a compõem.

Seguindo os quatro níveis propostos, temos: Nível 1 – são os produtores urbanos/rurais, incluindo agricultores familiares, artesãos, prestadores de serviços e EES (cooperativas, associações e grupos informais); Nível 2 - caracteriza-se por uma célula local, um entreposto para carga e descarga ou para garantir a qualificação dos produtos (aumento da vida útil, embalagem, armazenamento) e a distribuição para o consumo final; Nível 3 – caracteriza-se por uma célula microrregional, alimentada por um conjunto de células locais e pode ter o papel de formar uma escala de produtos capaz de viabilizar as demais operações necessárias nos elos inferiores e superiores da cadeia. Assim como no nível 2, este polo pode variar em tamanho e em complexidade em função das características da cadeia. Pode estar presente em um município de maior expressão, com expressivas oportunidades de negócios e com uma demanda volumosa de produtos; Nível 4 – caracteriza-se por um centro regional, receptor de produtos de vários polos microrregionais, aumentando ainda mais a escala, a diversidade e o volume de produtos, podendo garantir vantagens competitivas em relação aos produtos ofertados no mercado.

Nível 1 -

Produtor/Artesão/Cooperativa

Nível 2 -

Célula Local

Nível 3 -

Polo Micro-regional

Nível 4 -

Centro Regional

Figura 3: A logística solidária consolidada. Fonte: (Martins, 2010)

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Para cada nível, haverá demandas distintas conforme o grau de complexidade de cada célula e/ou dos elos da cadeia produtiva. Para suprir estas demandas, é necessário um dimensionamento correto de estruturas e equipamentos que possuam as capacidades exigidas, os recursos e a operacionalidade ideal, garantindo o funcionamento da cadeia de suprimentos de maneira suficiente e eficiente.

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Ideias para melhorar a gestão da cadeia de suprimentos e das redes

Fluxo de Informações

Fornecedor

Indústria

Distribuição

Varejo

Consumidor

Com o histórico, informações e dados sobre a cadeia de suprimentos, fica mais fácil gerenciar. Mas atenção, eles devem refletir a realidade! O que permite identificar os pontos frágeis, por exemplo, a dependência de um único fornecedor ou mercado.

Fluxo Financeiro e de Produto Figura 4: Modelo cadeia de suprimentos.

As características de uma cadeia produtiva orientam a estruturação de um modelo ideal de cadeia de suprimentos, o que inclui um modelo de gestão que deve melhorar a eficiência (ganho de rendimento) a partir das seguintes definições de fluxos: • Previsão e planejamento do equilíbrio entre oferta e demanda; • Localização de fornecedores de matérias-primas; • Fabricação, armazenagem e entrega do produto; • Devolução do produto pelo cliente, caso necessário.

Por onde Começar? • Invista em tecnologias de comunicação, principalmente com fornecedores, para agilizar o tempo de pedido e o tempo de entrega, garantindo matéria-prima disponível e com os clientes, para reduzir o tempo de atendimento. Esse é um indicador fundamental! • Utilize as tecnologias de informação existentes, planilhas e ferramentas computacionais e automáticas disponíveis a baixo custo, começando pela previsão de vendas, pelo controle de estoques, compras, pedidos, expedição, entrega e assim por diante; • Analise todo o processo da produção (matéria prima, transporte,

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distribuição e custos disso) e se seria mais barato terceirizar alguma parte do processo; • Diminua os custos de estocagem e mantenha os níveis de estoque baixos, mas com uma margem de segurança. Utilize o sistema de pedidos para a produção. O custo de estoque é um dos principais indicadores utilizados para analisar o desempenho logístico de uma organização; • Estabeleça uma comunicação entre clientes e fornecedores, sempre em diálogo para sugestões e melhorias no atendimento; • As decisões de compras maiores e aumento de estoque, devido a vantagens de preços por exemplo, devem ser tomadas com base em planilhas e cálculos, não em pressão e intuição;

Transporte, distribuição e logística O transporte representa o elemento mais importante no custo logístico. O transporte de produtos entre fornecedores e empreendimentos ou entre os empreendimentos e seus clientes pode ser feito pelos modais aéreo, ferroviário, aquaviário ou rodoviário, ou uma combinação deles (transporte multimodal). Cada um apresenta suas vantagens e desvantagens e tudo depende do prazo, volume, local e custos.

• Um processo de gestão da cadeia de suprimentos deve ser uma experiência compartilhada e positiva para todos que fazem parte dela. Isso contribui para a construção de relações de confiança benéficas e de longo prazo entre EES, fornecedores, parceiros e clientes; • A gestão de uma cadeia de suprimentos e de redes requer uma distribuição eficiente, com baixo custo com estoques. O equilíbrio entre ambos pode turbinar a produtividade e a eficiência.

As cadeias de suprimentos solidárias fazem ainda algo mais, considerando outro fator além do custo: o pós-uso, com a responsabilidade sobre o destino adequado de possíveis resíduos (para reciclagem ou reuso). Tais práticas recebem adesão da mídia e dos consumidores mais zelosos. 32

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A logística para distribuição de produtos e a prestação de serviços pode influenciar fortemente nos resultados da atividade.

Como garantir a eficiência dos métodos de distribuição?

O que o modo de transporte deverá considerar? • O tipo de produto (se perecível ou não); • A disponibilidade da matéria prima; • O tempo necessário para adquirir a matéria prima; • A facilidade de acesso e negociação com os fornecedores (locais ou no exterior); • As exigências dos processos alfandegários (para as importações/ exportações); • Quantificar o volume e o peso do produto.

• Construir um roteiro e definir as melhores rotas de entrega dos produtos, o que pode reduzir os gastos com transporte, que representa o elemento mais importante do custo logístico e tem papel fundamental na prestação do serviço ao cliente; • A utilização de ferramentas eletrônicas, por exemplo, o “Google Mapas” pode ser uma ferramenta eficiente para contribuir na roteirização mais adequada às condições reais do EES. • A partir da roteirização, pense na utilização de meios de transportes mais adequados aos produtos e às distâncias, considerando tempo necessário, perecibilidade de produtos, etc. (ex. substituição do transporte terrestre por marítimo); • Negociar os custos do transporte antecipadamente; • Ajustar com o cliente (ou com o fornecedor) as quantidades adequadas, para que nenhuma parte tenha estoques muito altos, a fim de garantir agilidade na fabricação e maior fluidez nas linhas produtivas;

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• Exercitar a autogestão da estrutura de logística do transporte e distribuição, buscando a sua melhor performance, sempre alerta aos níveis de estoques. Lembrar que a estocagem ad-

Quais as vantagens de um sistema de roteirização? • Permite a redução da distância percorrida;

equada e o tempo de percurso da entrega podem aumentar

• Permite a redução do tempo de atendimento;

muito a produtividade;

• Aumenta o nível de serviços aos clientes;

• Utilizar ferramentas logísticas (cálculos e planilhas) para es-

• Permite o controle dos horários de entrega.

colher os melhores locais de armazenamento e a determinação das melhores rotas de entrega. Tanto a recepção quanto a expedição devem ser eficazes, diminuindo tempos de processamento e burocracias que em nada agregam valor ao produto.

Rotas de Distribuição As rotas de distribuição são traçadas dentro de um território procurando ligar todos os envolvidos.

Rota de Distribuição Central de Distribuição

Clientes

Mercados

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Planejando a Logística Solidária

O planejamento logístico deve ser feito para o processo de distribuição da atividade, o que contribui para reduzir os custos e melhorar a eficiência de atendimento aos clientes.

Onde o Planejamento Logístico deve ser aplicado? • Logística de entrada – registro e controle do fluxo de matéria prima entregue ao EES para entrar no processo produtivo; • Logística Interna – registro e controle da circulação da matéria prima, dos produtos em fabricação e dos produtos acabados dentro do EES; • Logística externa – previsão do transporte dos produtos acabados (o que envolve a embalagem, expedição e manutenção);

A relação com os fornecedores Um processo de produção e comercialização de produtos necessariamente deve-se estabelecer uma relação com fornecedores, o que pressupõe o estabelecimento de relações de confiança e a garantia de uma parceria que atenda às necessidades apresentadas, de forma eficiente e com o menor custo possível. Para isso, indica-se: • Reduzir o número de terceirizados, para alcançar o mesmo objetivo; 38

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• Estabelecer canais de distribuição e gestão partilhada de estoques de produtos acabados, assim clientes e fornecedores

Considerações finais

compartilham custos, ganhos e riscos; • Antecipar a escassez por meio de análise de histórico e previsão de demanda, ajustando o estoque adequadamente; • Garantir agilidade de produção e entrega, com diminuição dos custos é fator primordial para o sucesso ou fracasso de uma atividade. A relação com fornecedores e clientes devem ser de parceria, o que garante o maior comprometimento para oferecer bons produtos ao mercado; • Para o caso das redes de colaboração solidária, é necessário estruturar instâncias políticas capazes de envolver uma grande diversidade de EES, organizações públicas e privadas. Hoje no Brasil, um crescente número de experiências de gestão de EES, de programas, projetos e políticas públicas vem sendo postas em prática.

A logística sob a ótica da economia solidária requer a aplicação dos conceitos e princípios da logística propriamente dita e a aplicação dos princípios e práticas da economia solidária. A eficiência técnica aliada a um modo de organização e gestão dos processos econômicos de produção e comercialização sob bases justas e solidárias, podem possibilitar a sustentabilidade dos EES ao longo do tempo. A aliança entre os princípios e práticas da Economia Solidária com os princípios e práticas da Logística podem proporcionar vários benefícios, entre eles: • Integração entre elos de cadeias produtivas solidárias (beneficiando cada vez mais os EES); • Exercitar a gestão e execução de ações em cooperação (dentro do EES e entre EES, público externo, consumidores, parceiros colaboradores, poder público e outros); • Envolver jovens e mulheres de raças e etnias diferentes em processos de produção, comercialização e consumo solidários (ampliando e abrindo novas oportunidades de trabalho, geração de renda e de consumo solidário); • Contribuir para a evolução do processo produtivo, buscando estruturas produtivas mais apropriadas e eficientes, garantindo e promovendo o acesso das/os trabalhadoras/es a equipamentos de segurança, o que possibilita melhorias nas condições de trabalho e garante dignidade às/aos trabalhadoras/es; • Gerar produtos cada vez mais qualificados e responsáveis, sem-

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pre de forma transparente para o seu público consumidor, com a adoção de práticas ambientalmente corretas nos processos produtivos, da garantia da qualidade sanitária, da prática da pontualidade, com o acordo de preços e divisão dos custos; • Ser cada vez mais proativo no território de atuação, de maneira integrada e promotora do desenvolvimento local, por meio da geração de postos de trabalho e renda para um número cada vez maior de pessoas, articulando e integrando ações no campo social, ambiental e econômico, em parceria com organizações públicas e da sociedade civil e gerando referências para as políticas públicas.

Exercitando os princípios da Logística Solidária em casa A casa também é um espaço de produção e de consumo. É ali que geralmente manipula-se os alimentos de todos os dias. Antes de refletir sobre a logística aplicada aos EES, vamos imaginar a organização da Logística Solidária em nossas casas?

A logística doméstica de Produção

É possível fazer a logística de produção doméstica, ou parte dela, de maneira solidária? Em algumas comunidades existem as cozinhas coletivas, de uso comum, com a realização de compras coletivas da matéria prima e dos insumos de limpeza, o que pode diminuir o custo para todos e propiciar um maior volume de alimentos. Um exemplo são as cooperativas de consumo bastante ativas nos tempos atuais.

A logística doméstica de Suprimentos •A busca pelos suprimentos domésticos (água, energia, gás/lenha, matérias primas/alimentos) e insumos (materiais de limpeza e equipamentos móveis utilizados) é um processo natural das famílias, que organizam estoques, pagam as contas de água, energia, telefone e outras; • Esses processos podem ser efetuados de maneira colaborativa, através da compra coletiva e do pagamento das contas por uma única pessoa, o que colabora com uma menor necessidade de deslocamento das pessoas para o pagamento das contas e para a compra de produtos, além de contribuir para a obtenção de melhores preços dos produtos, com melhoria no poder de negociação;

• Primeiramente existe a necessidade de uma estrutura mínima para efetuar este trabalho (espaço físico: cozinha e equipamentos: fogão, geladeira, panelas e outros; • Necessário organizar a matéria prima para fazer as refeições, que são os produtos adquiridos no mercado local, o que garante material para o café da manhã, almoço, lanches e o jantar; • Necessário realizar a limpeza do local e dos equipamentos nos intervalos das refeições, o que inclui o material utilizado para a limpeza (sabão, detergente, panos, vassoura e rodo); 42

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A logística doméstica Intermediária • Utilizando-se da Logística Intermediária em casa, ao invés de fazer a comida em casa, pode-se comprá-la pronta em restaurantes ou supermercados. Geralmente esta logística já é utilizada pela grande maioria das famílias, que não produzem pão em casa e buscam em padarias, que são “fornecedores”. Outro exemplo é a lavagem de roupa da família por terceiros.

A logística doméstica Reversa • O aproveitamento dos resíduos orgânicos (cascas de frutas e verduras, sobras de comidas e outros) para a produção de adubo orgânico e estes, por sua vez, contribuir para a produção de alimentos nos quintais ou para alimentar pequenos animais, fato que contribui para a diminuição do desperdício; • Quando os resíduos orgânicos não são utilizados no próprio domicílio, eles podem ser enviados para a coleta seletiva ou fazer uma compostagem coletiva com os vizinhos; • Os resíduos de papel, plástico, metal, vidro podem ser encaminhados para cooperativas de catadores/as, ou mesmo realizar nos próprios domicílios o aproveitamento deste material, utilizandoos para cultivar plantas, produzir artesanato ou outros usos.

Referências Bibliográficas e Fontes de Consulta

BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. O corredor central da Mata Atlântica: uma nova escala de conservação da biodiversidade. Brasília: MMA, 2006. 46 p. COSTA, Luciangela G. da.; VALLE, Rogério. Logística reversa: importância, fatores para aplicação e contexto brasileiro. (Artigo ara o III SEGeT - Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia). 2006. GEORGES, Marcos R. Cadeia de Suprimentos Solidária. Pontifícia Universidade Católica de Campinas: 2010. HATAKEYAMA, Kazuo, et al. Como a logística reversa pode agregar valor econômico, legal e ecológico às empresas: Estudo de caso de uma madeireira. (Artigo para o II Simpósio Internacional de Ciências Integradas da Unaerp Campus Guarujá). 2005. LEITE, Paulo R. Logística Reversa: Nova área da logística empresarial. 6 p. Revista Tecnologística. São Paulo: Publicare, 2002. MARTINS, Juliano R.; GASPARIN, Leandro M. Logística Solidária. São Paulo: Scortecci: 2005. MARTINS, Juliano R. Estado da arte logística de redes colaborativas solidárias. Rio de Janeiro: 2010.

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MOORI, Roberto G.; SANTOS, Mário R. dos.; SHIBAO, Fábio Y. A logística reversa e a sustentabilidade empresarial. (Artigo para o XIII SemeAd - Seminários em Administração). 2010. RAMOS, Rogério. Definições de Logística Reversa. Disponível em: <http://www.infoescola.com/administracao_/definicoes-delogistica-reversa>. Acesso em 07 nov. 2013. REGO, Andreia S. Logística reversa no mercado de embalagens: caso Tetra Pak. (Monografia apresentada ao Centro Universitário de Brasília). Uniceub: 2005. JUNIOR, Reginaldo J. C., et al. A utilização da logística intermediária de suprimentos no setor sucroalcooleiro no estado de Pernambuco. (Artigo apresentado ao XIII Simpep). Bauro, 2006.

Logística Solidária Caderno 5 da Série “Trocando Ideias” Instituto Marista de Solidariedade SDS Bloco F Nº 27 Conjunto Baracat Salas 113/115 Brasília-DF CEP: 70392-900 Telefone e Fax: (61) 3224.1100 E-mail: ims@marista.edu.br www.ims.org.br 2013 46

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