Cinema IMS-RJ - Folheto Julho/2012

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Na estrada

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SHAME | NEW YORK, NEW YORK |

JOSÉ CARLOS AVELLAR

“Assim como Wim Wenders para fazer Pina (2011) armou uma estrutura apoiada nas possibilidades expressivas da imagem em 3D, assim como Alfred Hitchcock, em O homem errado (The Wrong Man, 1956), e Edward Yang, em As coisas simples da vida (Yi Yi, 2000). contaram por meio de fusões cinematográficas histórias em que os personagens vivem em meio a uma fusão, e ainda, assim como tantas vezes o cinema se serve de um personagem que perdeu a memória ou a noção de espaço e tempo para tomar a condição do espectador no instante da projeção como tema e como modo de narrar, assim também Steve McQueen se serve de uma figura cinematográfica, o fora de quadro, como história e como modo de contar a história, como estrutura de Shame. A figura de narração que Woody Allen usou tantas vezes para falar de Nova York – e de modo especial em Crimes e pecado (Crimes and Misdemeanors, 1989) – aqui é a ideia central, é o que se conta e é o modo de contar. Fora de quadro: na imagem cinematográfica, o que o espectador não vê também faz parte do quadro, e com frequência esta parte invisível da cena é, do ponto de vista dramático, mais importante do que a porção visível no quadro. Em Shame, no filme inteiro, a verdadeira ação dramática, a rigor, não se mostra. A câmera, no recorte do espaço e do tempo que propõe, deliberadamente concentra sua atenção no que a clássica narrativa de cinema costuma deixar fora do campo visual para não perder de vista o que quer dizer. Para contar uma história de não-ditos, de paixões recalcadas, Shame mostra apenas que esconde a história de seus personagens. Desenquadra. Conta o avesso. Recorre ao fora de quadro como uma máscara, sombra, rastro que não somente remete ao reprimido, mas o revela como ele essencialmente é.

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Um exemplo: a cena do jantar de Brandon com a colega de trabalho, Marianne. A conversa é interrompida a todo instante pela excessiva solicitude do garçom para apresentar o menu, os pratos especiais do dia e a carta de vinhos; para sugerir água mineral com gás ou indicar um vinho Pinot noir como o mais adequado e suave; para propor uma entrada antes do prato principal, para servir o vinho. A cena, para o espectador, tem ainda outras interrupções porque muita gente anda para lá e para cá no restaurante,


bem na frente da câmera. O garçom, que se mexe muito e fala muito, atrapalha a conversa de Brandon e Marianne. As pessoas que se mexem no restaurante atrapalham a visão da cena. Quando, adiante, a câmera finalmente se livra de todo esse lado de fora que salta para dentro do quadro e consegue enquadrar os dois personagens, quando finalmente eles aparecem em destaque na tela, quando nada mais atrapalha a ação nem a visão da cena, o espectador, preparado pelo que veio antes, percebe o quanto a conversa é em si mesmo encoberta, o quanto o verdadeiro assunto permanece fora de quadro. Esse instante do filme ilumina um outro, que surge adiante, e ao mesmo tempo é iluminado por ele. Em casa, Brandon conversa com a irmã, Sissy. Estão no sofá da sala. A câmera filma de perto, nada entre ela e os personagens, mas uma outra vez o enquadramento desenquadra a conversa. Os dois aparecem de costas e o rosto de Brandon quase não se vê. Enquanto se queixa da presença da irmã, ela apareceu sem ser esperada e desorganizou a vida dele, Brandon olha quase todo o tempo na direção do desenho animado fora de foco na televisão – o fora de foco que o espectador percebe é uma direta projeção do olhar perdido dele. Desse modo, o centro do quadro fora de foco, Brandon de costas, a cena é principalmente o rosto de Sissy, de perfil, olhos fixos no irmão. O enquadramento é especialmente significativo, pois acentua o que então se discute. Ela quer conversar com o irmão, quer entrar em quadro. Ele quer que ela desapareça, saia de cena, abandone o quadro. No fundo da cena, fora de foco mas no centro da imagem, o desenho animado na televisão desempenha um papel idêntico ao do garçom na conversa no restaurante – é um ruído para sugerir que também a parte definida da imagem, a conversa em primeiro plano, é um ruído. Em cena, um ruído sobre outro ruído. O duplo ruído empurra o sentido para fora de quadro. Nessa sequência de ruídos que se atropelam uns aos outros, talvez o instante mais significativo, ainda mais central que as citadas conversas de Brandon com a colega de trabalho e com a irmã, é talvez menos que um ruído: a interpretação sussurrada como um grito para dentro de New York, New York. Central porque embora pareça uma pausa, um entreato, um desvio, um modo de deslocar a narrativa para um acessório e perder-se do essencial, o jeito lento e triste da interpretação – o contracampo da canção feita para alegremente

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celebrar a cidade – a estranheza do canto, enfim, sublinha a estranheza da atmosfera de Shame. A canção sussurrada em quadro grita a presença de um fora de quadro. E também: central porque o princípio organizador dessa série de não-ditos em torno de Brandon, de seu interesse em pornografia, de seus seguidos encontros com prostitutas, remete o espectador à cidade em que ele vive – ou ele quer ser parte dela, como diz a canção, ou tudo nela quer ser parte dele. Brandon não nasceu ali: vive ali, como vários outros personagens que atravessam a história (às vezes por um breve instante, como a garçonete paulista, como a mulher que sorri no metrô, como a mulher que sorri no bar). Nova York aparece então como uma terra estrangeira e ao mesmo tempo desejada. Não a terra mãe, nem apenas a cidade que realmente existe, mas o fora de quadro da cidade, o espaço de Brandon – e dos colegas de trabalho e os que passam no metrô e os que se reúnem no bar no fim de tarde – o espaço em que todos podem se refugiar numa espécie de fora de quadro de si mesmos. Na primeira imagem, Brandon está em quadro como se estivesse fora dele. O plano é longo e fixo. A câmera lá no alto não se mexe. Brandon, na cama ,com os olhos perdidos em algum ponto do teto, não se mexe. Na última imagem, Brandon entra em quadro. Chove. Ele está na rua, sozinho. Vem do fundo da imagem, caminha na direção da câmera, se deixa cair no chão e chora baixinho. Logo que entra em quadro, o filme termina, pois para compreender o que se enquadra em Shame é preciso, mais que em qualquer outro filme, manter os olhos no fora de quadro. [Como um post-scriptum, vale mencionar que para o público brasileiro esse filme que convida o espectador a compor a história apenas esboçada, que oculta, ou pelo menos encobre, a ação dramática para assim revelar como os personagens ocultam de si mesmos o drama que vivem, para o público brasileiro, o título desse filme traz uma (certamente não deliberada) indicação de seu modo de narrar: manter o original inglês, Shame, sem tradução, Vergonha, talvez ajude a perceber que tudo no filme de Steve McQueen conduz a atenção para o fora de quadro.].

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Carey Mulligan : Shame Shame: Michael Fassbender e Nicole Beharie

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WALTER SALLES | NA ESTRADA PARA VOLTAR AO LIVRO

“Li On the Road num período difícil da vida brasileira, em meados dos anos 1970, em plena ditadura militar. Eu tinha a mesma idade de vários personagens do livro, 18 anos. Tudo, nesse ritual de passagem do final da adolescência para a idade adulta, representava o avesso do que vivíamos no país. É significativo que a publicação de On the Road no Brasil, numa ótima tradução de Eduardo Bueno, tenha coincidido com os movimentos de redemocratização do país, em 1984. O livro tinha uma tal qualidade emblemática para mim que a ideia de adaptá-lo para o cinema nem me passava pela cabeça. Naquela época, aliás, a sala de cinema era onde eu ia para aprender sobre o mundo, virar cineasta não me parecia uma profissão possível. Foi só muitos anos depois, com o convite após a projeção de Diários de motocicleta no Festival de Sundance, em 2004, que o projeto começou timidamente a tomar corpo. Quando a Zoetrope entrou em contato comigo, eu não me sentia pronto. A possibilidade de uma adaptação desse livro era tão complexa que fiz questão de filmar um documentário – Searching on the road – em busca de Kerouac e do livro. Era necessário entender um pouco melhor a odisseia descrita no livro, assim como o que restava da busca daquela última fronteira na América pós-industrial. Tratava-se também de entender melhor as questões dessa geração, o contexto histórico das lutas que ela enfrentou, num país que me era estrangeiro. E confesso que também fiz esse documentário porque eu teria gostado de filmar o que vivemos nas viagens de preparação de Diários de motocicleta na América Latina, e não foi possível fazer isso na época. Há momentos que não se repetem, é tão simples quanto isso.

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Durante a filmagem do documentário, Lawrence Ferlinghetti e eu estávamos de carro, em São Francisco. Ele olhou a ponte de Berkeley engarrafada e pronunciou uma frase que não vou esquecer tão cedo: “You see, there’s no more away ” (“Veja, não há mais além”). Na época de On the Road, ainda havia um mundo a mapear. Borges dizia que seu maior prazer na literatura era o de nomear aquilo que não havia ainda sido nomeado. Hoje, temos a


Sam Riley, Kristen Stewart, Garret Hedlund: Na estrada Na estrada: Kristen Stewart

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impressão de que tudo já foi feito ou repertoriado. Essa implosão do espaço e do tempo é admiravelmente retratada por Jia Zhang Ke em O mundo (Shjie, 2004). O filme termina sintomáticamente com o suicídio dos dois jovens protagonistas. On the Road é um antídoto a esse imobilismo. Isto é o que mais me fascina no livro. Em Lowell, a cidade onde Kerouac passou grande parte de sua infância e de sua adolescência, encontramos John Sampas, o cunhado de Jack. Ele me mostrou uma cópia do manuscrito original, o rolo em que On the road foi datilografado – isso foi muito antes de sua recente publicação, 50 anos depois da versão editada em 1957. A urgência e a aspereza do manuscrito me impactaram de imediato. A primeira frase já anunciava que se tratava de outro tipo de relato. A versão editada em 1957 começa com: “Encontrei Dean pela primeira vez não muito tempo depois que minha mulher e eu nos separamos” (I first met Dean not long after my wife an I split up).” O manuscrito original começa com: “Encontrei Neal pela primeira vez não muito depois que meu pai morreu” (I first met Neal not long after my father died). O herói da obra original acabara de sofrer uma perda que o obrigava a ir adiante. A busca do pai é como um fio condutor, de forma mais marcada do que na versão publicada em 1957. É um tema que sempre me interessou e que se tornou um dos motores da adaptação. Com José Rivera, durante cinco anos, discutimos e trabalhamos em várias versões, tentando respeitar ao máximo a obra, desviando um pouco às vezes, traindo o livro para lhe ser mais fiel. E sou daqueles que acham que uma adaptação deve permitir que os espectadores voltem ao livro, ao original, que construam suas próprias versões de On the Road. Esse seria o maior presente dessa aventura: ver jovens espectadores descobrindo, imaginando seus próprios Sal e Dean.

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Como todos os grandes livros, On the road provoca reações diferentes, segundo o ponto de vista do leitor. Foi algumas vezes visto como um relato puramente documental, como a transcrição do que Kerouac viveu ao longo da estrada. Eu faço parte dos que pensam que a originalidade do livro resulta principalmente da coexistência entre o que foi vivido e do que foi imaginado. Um exemplo: Kerouac descreve a casa de Burroughs em Nova Orleans como uma velha e decadente construção colonial do Sul.


Ora, o local em que Burroughs recebeu Kerouac e Cassady é, ao contrário dessa descrição, uma pequena casa pré-fabricada numa rua tranquila. On the Road não é um relato sobre a geração beat, é a epopeia de jovens de 18 ou 20 anos que não sabiam, naquele momento da vida deles, que iam revolucionar a cultura norte-americana. Trata-se do que acontece antes da ruptura, do desejo de explorar tudo, de não recusar o momento, de viver, de sentir à flor da pele e não por procuração, dos anos de formação que vêm fundamentar e provocar a ruptura mais tarde... Podemos pensar em Diários de motocicleta. A época é a mesma, e os dois livros são narrativas de formação. Diários de motocicleta é o ponto de partida de uma transformação social e política que afetou o continente sul-americano, enquanto On the Road marca o início de uma ruptura no comportamento, nos costumes de uma sociedade. E essas duas vertentes ganharam, de maneiras diferentes, outras fronteiras. A América Latina do início dos anos 1950 em estado de dependência e a América do Norte saciada e autossuficiente. Uma última fronteira (o Sul), em contraponto com o fim de uma expansão territorial (o Norte). Jovens confrontados com realidades diferentes… Os personagens de Diários de motocicleta são transformados pelas pessoas que encontram no caminho, pela geografia humana do continente. Aqueles de On the Road são transformados por uma dinâmica interna do grupo, por isso a câmera colada nos personagens. Road movies como O passageiro - profissão: repórter (Professione: reporter, 1975), de Michelangelo Antonioni, e Alice nas cidades (Alice in den Städten, 1974) de Wim Wenders, me levaram ao cinema. Bye bye Brasil (Carlos Diegues, 1980) ou Iracema ( Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1976) são outros dois relatos de estrada que me marcaram profundamente. A busca por identidade no cerne desses relatos, a improvisação que os alimenta, o fato que as transformações desses personagens em movimento não são externas, porém internas, a imprevisibilidade das histórias e das filmagens, tudo isso explica minha fascinação por essa forma de cinema. Os road movies não enfocam aquilo que é dito, e sim o que deve ser sentido. Abbas Kiarostami fala do cinema como o invisível que completa o visível, e é isso que às vezes sinto vendo um road movie. Acabei ter esta sensação com Era uma vez em Anatólia (Bir zamanlar Anadolu’da, 2011) de Nuri Bilge Ceylan, um filme de uma amplitude singular.

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Hudson: o carro é realmente um personagem à parte, como «La Poderosa”, a moto Norton de 1947 de Alberto e Ernesto, de Diários de motocicleta. O interior do Hudson é suficientemente amplo para acolher uma pequena equipe de filmagem. Com esse carro, rodamos 7.000 quilômetros sem parar, percorrendo os Estados Unidos, durante a filmagem com a segunda unidade. No caminho, as pessoas o reconheciam e vinham conversar com a gente… Existe um culto dos Hudson, graças a isso fizemos encontros únicos - entre os quais vários mecânicos que nos salvaram, e eram verdadeiras figuras. Sempre gostei dos filmes em que Steve McQueen atua por causa de sua interpretação contida e minimalista, sua grande inteligência, mas também sua destreza no volante. Garrett tem essas qualidades, é um ás do volante, o que nos permitiu fazer algumas cenas com os atores em velocidade – como dizer? – pouco regulamentares.

Montagem de depoimentos de Walter Salles em seguida à primeira exibição pública de Na estrada, em maio último, no Festival de Cannes

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Isso faz parte dos incidentes felizes dos road movies: Jake La Botz, um ator e cantor que Steve Buscemi me apresentou para Na estrada, fez um show em Nova Orleans dois dias antes da filmagem. Uma de suas canções me impactou. Parecia que ele a havia composto para a personagem de Marylou... Pedi que ele a cantasse no filme... essa busca vem de longe: a canção no final de Terra estrangeira não estava no roteiro, foi um acidente: Fernanda Torres, com a sensibilidade única que tem, a cantarolou cinco minutos antes de rodarmos a última cena. Eu a escutei por acaso, e mudamos o final na última hora... Pedi que Jake cantarolasse a canção no Hudson, sem avisar Kristen. Ela reagiu instintivamente àquilo que ouvia pela primeira vez. E um dos meus momentos preferidos no filme foi feito assim, em uma derrapagem mais ou menos controlada, em uma só tomada. A canção de Sal no início do filme tampouco estava no roteiro. É uma música sobre os dissabores da estrada composta por Kerouac e da qual gosto muito. Sam Riley a canta num rasgo, e mantivemos os “erros” dessa tomada. Isso equivale a dizer: “Veja, é a nossa versão desse texto, está cheia de erros, mas não importa, é assim que a vimos.”


EXPERIMENTAÇÃO NO CINEMA ÁRABE

A partir de 1960, estimulados pela experimentação poética nas artes, na literatura, no cinema e no teatro que tomou conta da Europa, da América do Sul e da América do Norte, os cineastas árabes começaram a se expressar numa linguagem liberta das convenções e das fórmulas comerciais do cinema industrial, preparando terreno para a expressão cinematográfica autoral do mundo árabe de hoje. Muito da inventiva observada nos filmes de agora tem sua origem nas experiências pioneiras dos diretores que começaram a fazer cinema há mais ou menos cinquenta anos nos países árabes. Um mapa dessa trajetória de invenção do cinema árabe foi traçado numa série de três amplas mostras no Museu de Arte Moderna de Nova York e na Tate Modern de Londres – Um mapa da subjetividade: experimentação no cinema árabe (Mapping Subjectivity: Experimentation in Arab Cinema). Experimentação no cinema árabe é uma seleção de filmes das três mostras apresentadas em Nova York e Londres. São filmes recentes e exemplos de clássicos do cinema árabe em cópias restauradas, vários deles jamais exibidos fora da região, exemplos do cinema do Egito, do Iraque, Líbano, Palestina, Síria e Argélia – entre eles Crônica dos anos de brasa de Mohamed Lakhdar-Hamina, Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1975. O objetivo, mapear o patrimônio em grande parte desconhecido do cinema do mundo árabe. A curadoria procurou ressaltar o diálogo da experimentação iniciada na década de 1960 com os novos cinemas que surgiram em quase todo o mundo depois da Segunda Guerra Mundial – em especial com o Neorrealismo italiano, o Cinema Novo brasileiro, a Nouvelle Vague francesa, o cinema soviético, e o cinema indiano – para estimular um reexame da história do cinema árabe. Experimentação no cinema árabe realiza-se no Instituto Moreira Salles, graças ao apoio da escritora libanesa Rasha Salti, curadora das mostras do MoMA (em colaboração com Jytte Jensen, do Departamento de Cinema) e da Tate Modern, e à participação da Sétima Mostra Mundo Árabe de Cinema, organizada por Nagila Guimarães e Soraya Smaili, e do Instituto de Cultura Árabe, ICArabe.

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DIÁRIOS DE MOTOCICLETA | NA ESTRADA DO AUTO-DESCOBRIMENTO

Diários de motocicleta começa e termina com uma fala extraída do prólogo do livro Mi primer gran viaje, relato da viagem de Ernesto Che Guevara e Alberto Granado, da Argentina até a Venezuela, em 1952. Primeiro, o esclarecimento de que o diário não traz o relato de façanhas impressionantes, es un trozo de dos vidas tomadas en un momento en que cursaron juntas un determinado trecho, con identidad de aspiraciones y conjunción de ensueños; depois, a confissão de que este vagar sem rumo por nossa maiúscula América o havia transformado: ao fim da viagem, anota Ernesto, ele não era mais o mesmo eu do começo: el personaje que escribió estas notas murió al pisar de nuevo tierra Argentina, el que las ordena y pule, “yo”, no soy yo; por lo menos no soy el mismo yo interior. O eu que começou a viagem não existe mais. Em declarações feitas na época do lançamento do filme, Walter Salles disse que o livro sugere uma narração “construída em camadas”, com “uma qualidade episódica”. Como no processo descrito no livro “a realidade social e política da América Latina assume o controle pouco a pouco, em camadas subsequentes de gravidade”, o filme procura mostrar que “não existe um momento definido em que tudo se modifica. Em vez disso, as camadas vão se sobrepondo, e no final você entende que Ernesto e Alberto foram modificados pela jornada. Na narrativa, é preciso o silêncio para se ouvir o caos, e é preciso respeitar o tempo interior dos personagens. Nós não queríamos impor um ritmo artificial à história, mas deixá-la de fato evoluir gradativamente até o fim.” Baseado em experiências reais, mas filme de ficção, Diários de motocicleta se inspira em fatos realmente acontecidos (tal como relatados no livro de Guevara e no de Granado, Con el Che por Sudamérica). Não pretende uma reconstituição documental desta aventura, mas

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“manter-se fiel ao espírito original da jornada empreendida com La Poderosa. A viagem de Alberto e Ernesto foi modelada pelos encontros que tiveram na estrada, e eu tentei manter essa qualidade viva no filme. Em lugares como Cuzco ou Machu Picchu, por exemplo, nós estimulamos os atores a se misturarem com as pessoas que encontrávamos na estrada, tal como Alberto e Ernesto teriam feito 50 anos atrás. Esse material improvisado foi então combinado com o roteiro mais estruturado de José Rivera”.


No livro Ernesto esclarece que el viaje en todo momento fue seguido de acuerdo con los lineamentos generales con que fue trazado: improvisación. Uma viagem distante do rigor científico, reafirma Ernesto no resumo da passagem pelo Chile: Al hacer estas notas de viaje, en el calor de mi entusiasmo primero y escritas con la frescura de lo sentido, escribí algunas extravagancias y en general creo haber estado bastante lejos de lo que un espíritu científico podría aprobar. O filme procura guardar este entusiasmo primeiro do método usado para conduzir a viagem, a improvisação. Camadas: numa narração e noutra, no livro e no filme, uma cena se sobrepõe a outra, a ficção mistura-se ao documento. As notas não são um relato redigido a posterior, mas uma caderneta de campo apenas polida para a publicação em livro. O filme segue a estrutura por fidelidade ao que de verdade se relata no livro e ao que de verdade se passou na filmagem. “Reconstituímos a jornada da motocicleta através da Argentina, Chile e Peru, viajamos pela Patagônia, cruzamos os Andes e o deserto de Atacama, entramos na bacia Amazônica, chegamos finalmente à colônia de leprosos de San Pablo, perto de Iquitos, no Peru”. A impressão, diz o diretor, “foi a de que os problemas estruturais e sociais que chamaram atenção em 1952 ainda estão, em sua maioria, presentes”. No filme, como no livro, pequenos incidentes: o cavalo mais rápido que La Poderosa, o sorriso no mercado de peixe, a comparação entre os incas e os incapazes, o pato no meio do lago de água gelada, o índio firme no caminho que parece humanamente impossível, o jogo de futebol no leprosário. Interessa não tanto o incidente fotografado quanto a fotografia – como acentua Walter: “A jornada de descobrimento de uma geografia humana e física, torna-se também uma jornada de auto-descobrimento. Não só uma viagem para descobrir a identidade de uma pessoa e o lugar dela no mundo, mas uma busca do que acho que poderíamos chamar de identidade latino-americana. Eu fiquei interessado nesse entrelace entre a busca pessoal e aquilo que tinha um significado maior para todos nós que nascemos neste continente. Procuramos, assim, a partir do livro, fazer um filme sobre as escolhas emocionais e políticas que temos que fazer na vida. Sobre a margem do rio que elegemos – e pela qual vale a pena lutar”.

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OS FILMES DE JULHO De sexta 29 de junho até a quinta-feira 5 de julho Shame de Steve McQueen. Em sessão única às 20h00 Pina de Wim Wenders. De sexta-feira 6 até a quinta-feira 12 a mostra Experimentação no cinema árabe Não serão realizadas sessões noturnas na quarta-feira dia 10 e na quinta feira dia 11. A partir de sexta-feira 13, Na estrada (On the Road) de Walter Salles, baeado no livro de Jack Kerouac A partir da sexta-feira 27, Diários de motocicleta (Motorcicle Diaries) de Walter Salles, baseado no livro de Che Guevara, em programa duplo com Na estrada. Em sessão única às 11h30 na sexta 13, sábado 14 e domingo 15, e de novo na sexta 20, sábado 21 e domingo 23, e ainda na sexta 27, sábado 28 e domingo 29 A era do gelo 4 de Steve Martino e Mike Thurmeier Programa sujeito a alterações. Veja a programação completa em www.ims.com.br

DOMINGO 1 14h00, 16h00 e 18h00 : Shame (Shame) de Steve McQueen (Inglaterra, 2011. 101’) Brandon, pouco mais de 30 anos, profissional bem sucedido em Nova York, solitário, com frequência conectado em websistes de pornografia, tem seu cotidiano transtornado com a inesperada visita de sua irmã Sissy. Shame, para o diretor, “é um exame da natureza do desejo, uma reflexão sobre como vivemos nossas vidas e que acontecimentos são realmente marcantes para cada um de nós”. 20h00 : exibição em 3D | Pina (Pina) de Wim Wenders (Alemanha, 2011. 103’) “Uma obra de risco e entrega, como era de risco e entrega a arte de Pina Bausch (1940-2009). Wenders consegue mostrar o que há de único na coreógrafa e dançarina alemã: o rigor mesclado com a intuição; a capacidade de extrair de cada bailarino sua linguagem corporal pessoal e intransferível: o talento para criar, mediante o movimento, uma representação precisa da vida tal como ela é e como deveria ser”. ( José Geraldo Couto, em www.ims.com.br) TERÇA 2 14h00, 16h00 e 18h00 : Shame (Shame) de Steve McQueen (Inglaterra, 2011. 101’) 20h00 : exibição em 3D | Pina (Pina) de Wim Wenders (Alemanha, 2011. 103’)

QUARTA 4 14h00, 16h00 e 18h00 : Shame (Shame) de Steve McQueen (Inglaterra, 2011. 101’) 20h00 : exibição em 3D | Pina (Pina) de Wim Wenders (Alemanha, 2011. 103’)

QUINTA 5 14h00, 16h00 e 18h00 : Shame (Shame) de Steve McQueen (Inglaterra, 2011. 101’)

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20h00 : exibição em 3D | Pina (Pina) de Wim Wenders (Alemanha, 2011. 103’)


Shame, de Steve McQueen

OK, basta, adeus, de Rania Attieh e Daniel Garcia

SEXTA 6 14h00 : Cinema árabe | Tango do desejo (Tango of Yearning) de Mohamed Soueid (Líbano, 1998. 70‘) O título do filme é baseado numa canção de Nur AL-Huda. Na produção, o cineasta procura reconstruir os traços dispersos de várias paixões – relacionamentos amorosos, cinema, a cidade de Beirute – à sombra da guerra civil. Extremamente subjetivo e sentimental, o filme discute os paradoxos da vida e da memória e propõe uma reflexão sobre a dor e o perdão. 16h00 : Cinema árabe | Meu coração só bate por ela (My Heart Beats Only for Her) de Mohamed Soueid (Líbano, 2008. 87‘) Através da história de um filho que tenta reconstruir o passado do pai por meio de um diário, um retrato de duas gerações de homens que foram revolucionários nos anos 1970. Este é um vôo poético, que sai do passado em que os jovens libaneses sonhavam em mudar o mundo com suas próprias mãos para o presente em que os jovens querem apenas a segurança de um trabalho assalariado. 18h00 : Cinema árabe | OK, basta, adeus (Okay, Enough, Goodbye) de Rania Attieh e Daniel Garcia (Líbano / EUA / Emirados Árabes Unidos. 2011. 93‘) Um homem solteiro, quase o 40 anos, vive na dependência de sua mãe. Um dia, sem qualquer aviso, ela desaparece e ele se vê forçado a construir sua vida sozinho. Tentando se adaptar, ele se sente incapaz de estabelecer qualquer tipo de

relacionamento. O filme é uma incisiva desconstrução da masculinidade e uma meditação graciosa sobre a inércia, a solidão e a covardia. Primeiro longa-metragem de Daniel Garcia e Rania Attieh, Okay, Enough, Goodbye recebeu o prêmio Pérola Negra no festival de cinema de Abu Dhabi em 2010 . Rania nasceu em Trípoli, Líbano, em 1977. Reside e trabalha em Nova York. Tem pós-graduação em Produção de Mídia Arte no City College de Nova York. Seus filmes foram exibidos no MoMA, em Nova York, e em vários festivais internacionais de cinema. Daniel nasceu no sul do Texas (EUA) e formou-se em cinema na Universidade de Nova York. 20h00 : Cinema árabe | A miragem (The Mirage) de Ahmed Bouanani (Marrocos, 1979. 110‘) Ao tentar trocar o dinheiro encontrado em um saco de farinha, um jovem camponês vive uma aventura pelos labirintos das áreas mais escuras e hostis da cidade. O filme é permeado de alusões à literatura e ao cinema, à história e à tradição oral marroquinas, e ao fantasma sempre presente do colonialismo. É o único longa-metragem de Ahmed Bounani, cineasta que teve papel fundamental ao trazer a experimentação para o cinema do Marrocos. Ele nasceu 1938. Ajudou a fundar o grupo Sigma 3 e na metade da década de 1960 começou a fazer curtas-metragens. Na década seguinte trabalhou como editor e roteirista de vários filmes. Faleceu em 2011. Um outro filme co-dirigido por Bouanani faz parte do programa, 6 ou 12

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SÁBADO 7 14h00 : Cinema árabe | Éramos comunistas (Sheoeyin Kenna) de Maher Abi Samra (Líbano, França, Emirados Árabaes Unidos, 2009. 85‘) O trágico legado da guerra civil, a assustadora realidade da paisagem dilacerada do Líbano, através dos destinos cruzados de amigos que dividiram a mesma ideologia e ainda permanecem unidos. Quatro homens narram suas histórias de campo de batalha, seus sonhos despedaçados e desilusões em meio à crise política. O diretor, Maher Abi Samra, nasceu no Líbano em 1956. Cursou Artes Dramáticas em Beirute e Estudos Áudio Visuais em Paris. Trabalhou como fotógrafo em periódicos libaneses e agências internacionais. Dirigiu diversos documentários, entre eles Chatila Roundabout (2006) e Mulheres do Hezbollah (2000). 16h00 : Cinema árabe | Eu quero ver (Je veux voir ) de Joana Hadjithomas e Khalil Joreige (Líbano, França - 2008. 75‘) Julho de 2006: a guerra explode no Líbano. Juntos, um homem (Rabih Mroué) e uma mulher (Catherine Deneuve) percorrem as áreas devastadas pelo conflito. É o início de uma aventura inesperada e imprevisível. Os diretores, Joana Hadjithomas e Khalil Joreige nasceram em Beirute em 1969 e têm trabalhado juntos como cineastas, produzindo filmes de ficção e documentários. Em 1999, escreveram e dirigiram seu primeiro longa-metragem de ficção, Ao redor da casa rosa (Autour de la maison rose, 1999). Ambos também atuam como professores universitários. Dos mesmos diretores, na sessão seguinte, O filme perdido.

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Crônica dos anos de brasa, de Mohamed Lakhdar-Hamina

17h30 : Cinema árabe | 6 ou 12 (Six ou Douze) de Ahmed Bouanani, Abdelmajid R’chich e Mohamed Abderrahman Tazi (Marrocos, 1968. 18‘) “Escolhemos imagens de uma cidade: a ausência e a solidão de paralelepípedos molhados em uma festa sem graça que já terminou”, diz um dos diretores, Ahmed Bouanani. “Uma sombra, um gesto, um passo, o mar ou o silêncio, o choro ou a espera, o temor, o sono, a insônia. Nossos rostos na tempestade, duas figuras brilhantes, olhos, corpos a girar como ímãs na tempestade”. De Bouanani, um outro filme no programa, A miragem. Abdelmajid R’chcich nasceu no Marrocos em 1942. Começou no cinema como operador de câmera, diretor de fotografia, produtor e diretor. Mohamed Abderrahman Tazi nasceu em Fez, Marrocos, em 1942, e estudou em universidades na França e nos Estados Unidos. Foi diretor de produções no canal de televisão marroquino 2M. Cinema árabe | O filme perdido (The Lost Film) de Joana Hadjithomas e Khalil Joreige (Líbano/França, 2003. 42‘) Uma exploração da imagem e do status do cinema e dos cineastas do Oriente Médio. Hadjithomas e Joreige viajam para o Iêmen depois de saberem que alguém roubou o roteiro do primeiro filme deles, Ao redor da casa rosa (Autour de la maison rose, 1999). Os dois se aventuram em uma viagem de Sanaa a Aden e contratam um guia que considera o cinema um pecado. No caminho encontram um cinema ao ar livre exibindo filmes de Brigitte Nielsen (atriz, entre outros, de Guerreiros de fogo de Richard Fleischer, 1985, e Rocky IV, de Sylvester Stallone, 1986). Dos mesmos diretores, na sessão anterior, Eu quero ver. 19h00 : Cinema árabe | Crônica dos anos de brasa (Chronique des années de braise) de Mohammed Lakhdar-Hamina (Argélia, 1975. 177‘) Este relato dos eventos que levaram à guerra de independência da Argélia foi o primeiro filme árabe premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Conta a história de um camponês argelino que luta ao lado das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial e, ao retornar para casa, junta-se à resistência contra o domínio colonial. Lakhdar Hamina é argelino, nasceu em 1934 em M’Sila. Depois de estudos de Agronomia e de Direito em universidades francesas, desertou do exército francês em 1958 e juntou-se à resistência pela independência da Argélia. É uma das figuras mais proeminentes do cinema árabe contemporâneo.


DOMINGO 8 14h00 : Cinema árabe | A China ainda está longe (La Chine est encore loin) de Malek Ben Smaïl (Argélia, França, 2008. 120‘) Em 1º de novembro de 1954, em uma pequena cidade perto de Ghassira, nas montanhas Aures, dois professores franceses e um argelino foram as primeiras vítimas civis da guerra pela independência da Argélia, que durou sete anos. O diretor Malek Ben Smaïl retorna a ese lugar simbólico para relatar o cotidiano de seus habitantes. “A China ainda está longe” é uma expressão argelina que significa que o caminho a percorrer é muito longo. No filme, Ben Smaïl, que estudou cinema na Escola Superior de Estudos Cinematográficos de Paris, se refere ao caminho da reconciliação dos argelinos com eles próprios. 16h15 : Cinema árabe | Filmado no verão de 70 (Summer 70) de Nagy Shaker e Paolo Isaja (Egito, Itália, 1970 -71. 63‘) Para este projeto os diretores escalaram uma enfermeira americana de ascendência italiana. O filme, uma meditação sobre a liberdade na virada dos anos 70, utiliza uma linguagem experimental para tratar das novas experiências da juventude abandonada. Nagy e Paolo se conhecerem na Escola de Cinema de Roma. Ela estudava cenografia e ele frequentava um cine-clube para se especializar em cinema experimental. Decidiram trabalhar juntos, e com a ajuda de amigos, iniciaram a produção desse seu primeiro longa-metragem. 18h30 : Cinema árabe | Em pedaços (Ashlaa) de Hakim Belabbes (Marrocos, 2009. 91‘)
 Uma crônica do cotidiano da família do cineasta, no Marrocos, feita a partir de imagens recolhidas ao longo de mais de uma década. Um relato poético o filme registra como a maior mudança social e política afeta – ou não – sua modesta família. Narrado em um tom híbrido de primeira pessoa no singular e no plural, o filme se desloca graciosamente entre ficção e não ficção. Nelabbes nasceu no Marrocos em 1961. Após se formar em Literatura Americana e Africana, na Universidade Mohamed V, em Rabat (Marrocos), e em Literatura Africana, pela Universidade de Lyon (França), Hakim viajou para os Estados Unidos, onde estudou Cinema e Vídeo no Columbia College (Chicago). Entre 1993 e 1994, liderou o Departamento de Áudiovisual na Fundação Hassan II, no Marrocos, onde produziu e dirigiu documentários sobre a experiência dos imigrantes marroquinos na Europa.

Filmado no verão de 70, de Nagy Shaker e Paolo Isaja

20h00 : Cinema árabe | Oh, os dias! (Alyam! Alyam!) de Ahmed el-Maânouni ( Marrocos , 1978. 80 ‘ )
 Primeiro filme marroquino selecionado para o programa “Un Certain Regard” do Festival de Cannes, Oh, os dias! é um retrato da vida rural no Marrocos através da história de um jovem camponês que sonha em imigrar para a França e conquistar um futuro brilhante. Sua mãe, recentemente viúva e criando sete filhos, se opõe ao desejo do filho mais velho de ir embora. Ahmed El-Maânouni, nasceu em Casablanca, Marrocos. Estudou economia, teatro e cinema na Sorbonnne (Paris). Trabalhou como diretor de fotografia, roteirista e diretor de vários filmes. Sua filmografia inclui a trilogia intitulada “Marrocos, França, uma história em comum” (La Fiction du Protectorat: Maroc-France, une historie Commune, 2005-2006) e Corações queimados (Les coeurs brûlés, 2007)

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TERÇA 10 15h00 : Cinema árabe | O atirador (The Shooter) de Ihab Jadallah (Palestina, 2007. 8 ’) A violência está implícita nas formas de se representar a Palestina. Esse curta-metragem trabalha a questão de forma satírica e crítica. É uma paródia onde palestinos representam, de forma consciente, personagens relacionados ao que são na vida real. Jadallah nasceu em 1980 na Palestina, onde vive e trabalha. Estudou cinema na Espanha e dirigiu diversos filmes e documentários. É co-fundador da Aanat Filmes, criada para fomentar uma nova geração de cineastas palestinos. Cinema árabe | Luz e sombras (Light and Shadows: the Last of the Pioneers, Nazih Shahbandar) de Omar Amiralay, Mohammad Malas, Oussama Mohammad (Síria, França, 1991. 41‘ ) O pioneirismo de Nazih Shakhbandar na produção do cinema árabe, nos anos 1930 e 1940. Ele escreveu roteiros, montou um estúdio com equipamentos de filmagem quase que de fabricação própria, produziu e dirigiu o primeiro filme sonoro da Síria e perseguiu o sonho de fazer um filme 3-D. Este documentário é uma ode a este homem e aos primeiros anos do cinema árabe feita por três diretores: Mohamad Malas nascido em 1945 na Síria e formado no Instituto de Cinematografia Gerasimov, em Moscou, em 1974. Oussama Mohamad, nascido na Síria, em 1954, e formado também no Instituto de Cinematografia Gerasimov. E Omar Amiralay nascido em 1944 e falecido em setembro de 2011, deferente dos dois outros, estudou cinema em Paris e ficou conhecido pelo teor crítico de seus documentários. De Oussama Mohamad, tambem no programa, Estrelas à luz do dia. De Omar Amiralay, também no programa, Amor interrompido e O infortúnio de alguns.

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16h00 : Cinema árabe | Meu pai ainda é um comunista (My Father Is Still a Communist) de Ahmad Ghossein (Líbano, Emirados Árabes, 2011. 32‘) O que resta da amizade entre Rachid Ghossein e Hamade Maream são as cartas, gravadas em fitas de áudio, que eles enviaram um ao outro ao longo de 10 anos durante a guerra civil no Líbano. Ao longo de sua infância, o filho de Ahmad inventou histórias sobre seu pai ser um herói de guerra no Partido Comunista no Líbano. Gossein é formado em Artes Cênicas pela Universidade Libanesa. Ganhador do Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cinema Internacional de Beirute (2004) com o curta Operação N. Ahmad também é intérprete e é um dos fundadores da Maqamat Dance Theatre - companhia de dança contemporânea em Beirute.

A China ainda está longe de Malek Ben Smaïl

Cinema árabe | Procurado (Wanted) de Ali Essafi (Marrocos, Emirados Árabes, 2011. 27’) A década de 1970 no Marrocos, conhecida como os “anos de chumbo”, foi marcada por severa repressão policial sobre os dissidentes do regime, com prisões arbitrárias, torturas e prisões secretas. Para sobreviver, diversos ativistas viveram clandestinamente. Essafi se utiliza de imagens de arquivo para contar a história de Aziz, um ativista de 23 anos que sonha com a liberdade da democracia. O protagonista vive sob uma identidade falsa por dois anos até ser descoberto e preso. Essaf é marroquino, nascido em 1963 e formado em psicologia na França. Um dos documentaristas mais premiados de seu país, trabalhou como conselheiro para o canal da Televisão Pública Marroquina por três anos. Atualmente vive e trabalha entre o Marrocos e o Brasil. Do mesmo diretor, também no programa Ouarzazate.


QUARTA 11 15h00 : Cinema árabe | Amor interrompido (Love Aborted) de Omar Amiralay (França, 1983. 52‘) No que ano que antecede a conferência de igualdade de gênero em Pequim, realizada em 1985, cineastas ao redor do mundo participaram da produção de documentários que tratavam da mudança de relacionamento entre homens e mulheres. Amiralay, convidado a explorar a mudança do status social e econômico da mulher no Egito, escolheu protagonistas femininas de diferentes classes – advogadas, atrizes, empregadas domésticas – e desafiou-as a revelarem a complexidade de seus mundos. Omar Amiralay (1944 -2011) tem dois outros filmes no programa, Luz e sombras e, na sessão seguinte, O infortúnio de alguns. 16h00 : Cinema árabe | O infortúnio de alguns (The Misfortunes of Some…) de Omar Amiralay (França/Líbano, 1981. 52‘) Cópia com legendas em inglês e em francês Hajj Ali ganha a vida como taxista durante o dia transportando pessoas em segurança por toda a cidade. Mas, ele também administra uma casa funerária, esperando “clientes” diariamente. Enquanto documenta a existência de um homem durante a devastadora guerra civil em Beirute, Amiralay cria um retrato tragicômico de uma sociedade prisioneira de um conflito. Omar Amiralay (1944 -2011) tem dois outros filmes no programa, Luz e sombras e Amor interrompido.

QUINTA 12 15h00 : Cinema árabe | Quarzazate (Ouarzazate, the Movie) de Ali Essafi (Maroccos, França, 2001. 57’) Um retrato cômico da pequena cidade Ouarzazate, ao sul do Marrocos. Nela o sol brilha o ano inteiro e sua paisagem, com um exótico deserto, compõe o estereótipo que se faz do Oriente Médio. Em razão dessas qualidades, o lugar passou a atrair produções cinematográficas de todo o mundo, com grandes elencos e grandes equipes de produção, causando forte impacto na economia do local. Nesse cenário, Essafi volta sua câmera para os diretores mal-humorados, figurantes e para um charmoso ator veterano que uma vez trabalhou com Pier Paolo Pasolini. Dessa forma, ele revela a estranha realidade da indústria cinematográfica internacional e a disparidade entre o cinema mágico e sua realidade econômica. Do mesmo diretor, também no programa, Procurado

16h30 : Cinema árabe | Os 3 desaparecimentos de Soad Hosni (Les trois disparitions de Soad Hosni) de Rania Stephan (Líbano / Emirados Árabes, 2011. 70‘) 
Um sentimento melancólico e arrebatador remete a uma era rica e versátil da produção cinematográfica no Egito, através do trabalho de uma de suas mais reverenciadas estrelas, Soad Hosni. Hosni é uma artista excepcional que desde o início dos anos 1960 até o final da década de 1990 personificou a mulher árabe moderna com toda sua complexidade e paradoxos. Além da história da atriz, o filme retrata também, o cinema e a sociedade do Egito e documenta a mudança de clima na sociedade, quando a violência e opressão contra a figura feminina passam a dominar. A diretora, Rania Stephan, é libanesa. Estudou cinema na Austrália e na França e trabalhou como engenheira de som, editora, assistente de direção e produtora com cineastas de renome, como a documentarista Simone Bitton (entre outros de L’attentat, 2000) e Elia Suleiman (entre outros, realizador de Intervenção divina). 18h00 : Cinema árabe | Estrelas à luz do dia (Stars in Broad Daylight) de Oussama Mohammad (Síria, 1988. 115‘)
 Um casamento duplo em uma pequena aldeia se transforma em drama quando uma noiva foge no meio da cerimônia e outra recusa-se a casar. Cheio de humor e forte crítica política, o filme mostra como a violência do poder arbitrário em uma sociedade patriarcal se infiltra na unidade familiar. Do mesmo diretor, no programa, Luz e sombras. 20h00 : Cinema árabe | O quanto eu te amo (How Much I Love You) de Azzeddine Meddour (Argélia, 1985. 105‘) A questão central é uma afirmação à primeira vista contraditória para um documentário: os fatos não são necessariamente importantes, mas a linguagem sim. é importante. Baseado numa grande quantidade de material de arquivo, incluindo fragmentos de reportagens francesas, o filme é um olhar crítico ao colonialismo e ao poder que estão por trás do discurso diário. Essa amarga visão da política francesa na Argélia, mostra como fatos históricos são postos de lado em favor de um patriotismo beligerante que resulta na repressão de uma população inteira. Azzeddine nasceu na Argélia em maio de 1947, e faleceu em maio de 2000. Estudou literatura francesa na Universidade de Argel e cinema em Moscou. Para a televisão argelina, produziu filmes curtos e documentários.

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SEXTA 13

TERÇA 17

11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012, 94’) Sid, Manny e Diego são empurrados para alto mar e, usando um iceberg como navio, terão de enfrentar um bando de piratas. Os heróis terão de passar por cima deles e achar o caminho de volta para casa. Versão dublada em português com as vozes de Márcio Garcia, Diogo Vilela, Tadeu Mello, Vinicius Nascimento.

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) Nova York, final dos anos 40: a vida do jovem escritor Sal Paradise (Sam Riley) é inteiramente transformada pela amizade com Dean Moriarty (Garret Hedlund), um jovem libertário e contagiante, recém-chegado do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou (Kristen Stewart). Juntos, Sal e Dean cruzam os Estados Unidos em busca da última fronteira americana e à procura deles mesmos. A viagem é também a história de um bando de jovens extraordinários, Bull (Viggo Mortensen), Camille (Kirsten Dunst), Carlo (Tom Sturridge) e Jane (Amy Adams), que se libertaram do conformismo conservador de sua época para seguir seus próprios caminhos, impactando gerações até os dias de hoje. Baseado em On the Road, de Jack Kerouac,.

QUINTA 19

SÁBADO 14

SÁBADO 21

11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

DOMINGO 15

DOMINGO 22

11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

QUARTA 18 14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

SEXTA 20 11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012, 94’) Versão dublada em português 14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)


Sam Riley: Na estrada Gael GarcĂ­a Bernal: DiĂĄrios de motocicleta

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TERÇA 24 14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) QUARTA 25 14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) QUINTA 26 14h00, 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) SEXTA 27 11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

SÁBADO 28 11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português 14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’) 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) DOMINGO 29 11h30 : exibição em 3D | A era do gelo 4 (Ice Age 4: Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier (EUA, 2012. 94’) Versão dublada em português

14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’) On the Road ainda não havia sido publicado na América do Norte quando, em janeiro de 1952, dois estudantes de medicina saíram da Argentina para percorrer a América do Sul de motocicleta. Ernesto e Alberto, observa o diretor, são “o ponto de partida de uma transformação social e política que afetou o continente sul-americano”; Sal e Dean, “o início de uma ruptura no comportamento, nos costumes de uma sociedade”.

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16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)

14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’) 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’) TERÇA 31 14h00 : Diários de motocicleta (Motorcycle Diaries) de Walter Salles (EUA, Brasil, Argentina, Chile, Peru, 2004. 126’) 16h45 e 19h30 : Na estrada (On the Road) de Walter Salles (França, Brasil, 2012. 137’)


Ingressos Shame, Na estrada e Diários de motocilceta Terça, quarta e quinta: R$16,00 (inteira) e R$8,00 (meia) Sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 18,00 (inteira) R$ 9,00 (meia) Pina e A era do gelo 4 | exibição em 3D. Terça, quarta e quinta: R$ 25,00 (inteira) R$ 12,50 (meia) Sexta, sábado e domingo: R$ 28,00 (inteira) R$ 14,00 (meia) Mostra do Cinema árabe R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia)

Sessão para crianças Nos fins de semana do mês de julho, a partir do dia 13, um filme para crianças em sessão única às 11h30: o desenho animado A era do gelo 4 (Ice Age : Continental Drift) de Steve Martino e Mike Thurmeier, será exibido às sextas sábados e domingos, cópia em 3D dublada em português A quarta aventura do mamute Manfred, o Manny, do tigre de dentes de sabre, Diego, e do bicho preguiça Sid, é o segundo filme feito em três dimensões e o primeiro que não conta com a direção do brasileiro Carlos Saldanha – ele prepara a produção do segundo filme da série Rio (2011). Os três primeiros filmes da série foram: A era do gelo (Ice Age, 2002), de Chris Wedge e Carlos Saldanha, A era do gelo 2 (Ice Age: the Meltdown, 2006), de Carlos Saldanha, e A era do gelo 3 (Ice Age 3D: Dawn of te Dinosaurs, 2009), de Saldanha e Mike Thurmeier.

Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Telefone: (21) 3284-7400 www.ims.com.br De terça a domingo das 11h às 20h Acesso a portadores de necessidades especiais. Estacionamento gratuito no local. Café WiFi. Como chegar as seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS: 158 – Central-Gávea (via Praça Tiradentes, Flamengo, São Clemente) 170 – Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, Largo do Machado, São Clemente) 592 – Leme-São Conrado (via Rio Sul, São Clemente) 593 – Leme-Gávea (via Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre) Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea

O programa de cinema de julho tem o apoio da Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, da Cinemateca da Embaixada da França, do Arquivo Nacional. e do Instituto Goethe. O programa conta ainda com a parceria do Espaço Itaú de Cinema, do Instituto de Cultura Árabe, da Sétima Mostra Mundo Árabe de Cinema, da Videofilmes, da www.revistacinetica.com.br e da Associação Brasileira de Cineastas.

Capacidade da sala: 113 lugares.

Curadoria: José Carlos Avellar. Coordenação do IMS - RJ: Elizabeth Pessoa. Assessoria de coordenação: Laura Liuzzi.

Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com

Capa : Na estrada de Walter Salles Quarta capa : Crônica dos anos de brasa de Mohamed Lakhdar-Hamina

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Cinema Árabe

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INSTITUTO MOREIRA SALLES | CINEMA

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JULHO 2012


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