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Em 1957, W. Eugene Smith vivia um impasse. Fotógrafo consagrado, via fracassar o projeto de dissecar em imagens a cidade de Pittsburgh. Aos 38 anos, instalou-se num decadente loft na Sexta Avenida, entre as ruas 28th e 29th. Dali, exerceria sua fúria documentária até 1965, registrando em imagens e fitas as noitadas de um ponto obrigatório para músicos de jazz, intelectuais e artistas. Sua câmera apontava para a rua, sempre fotografada do quarto andar, ou para as jam sessions, ensaios e conversas. Em oito anos, 40 mil fotos foram registradas em 1.447 filmes e 4 mil horas de gravação em 1.740 rolos de fita, com imagens, sons e referências a 597 pessoas. Thelonious Monk, Zoot Sims, Jim Hall e Jimmy Giuffre eram assíduos nas sessões por onde passaram Salvador Dalí, Norman Mailer, Anaïs Nin e Henri Cartier-Bresson. Para frequentar o loft, o critério era ter algo inteligente a dizer, ou ser bom músico. A catalogação deste material custou sete anos a Sam Stephenson, que desde 1997 se dedica aos arquivos de Smith na Duke University. As pesquisas já resultaram em uma exposição, no livro The Jazz Loft Project e no site www.jazzloftproject.org, onde se pode ver e ouvir a experiência radical da qual a serrote selecionou alguns momentos. Nas quatro caixas de fitas hoje nos arquivos da Duke, uma boa amostra da catalogação caótica de W. Eugene Smith: poucas datas, nomes de músicas (“The way you look tonight” vira waylooktonite) e observações como “Ronnie Free faz muitos solos”