cinema 1.2018
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12:30 1395 Days without Red
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14:00 Jovem mulher
16:15 No intenso agora
16:30 Jovem mulher
16:00 Os iniciados
16:00 Os iniciados
16:00 Desmond e a armadilha
18:00 Pela janela
14:00 Jovem mulher 19:00 Jovem mulher
21:00 No intenso agora
14:00 No intenso agora
19:00 Os contos de Hoffmann
14:00 Jovem mulher 18:00 Pela janela
20:00 Os iniciados 21:50 Pela janela
14:00 Jovem mulher 18:00 Pela janela
20:00 Ex libris - A Biblioteca Pública de Nova York
14:00 Jovem mulher
do monstro do brejo
18:00 Pela janela
16:00 Os iniciados
20:00 No intenso agora
20:00 Os iniciados 21:50 Pela janela
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12:30 1395 Days without Red
14:00 Visages, villages
16:00 Os iniciados
16:00 Os iniciados
16:00 Os iniciados
16:00 Os iniciados
16:00 Desmond e a armadilha
20:30 Os iniciados
14:00 Jovem mulher
18:00 Terra deu, terra come
20:00 1395 Days without Red 21:30 No intenso agora
14:00 Pela janela 18:00 Pela janela
20:00 No intenso agora
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12:30 1395 Days without Red
12:30 1395 Days without Red
16:00 Os iniciados
17:00 Visages, villages
14:00 Visages, villages 18:00 Pela janela
20:00 Visages, villages 22:00 Os iniciados
14:30 No intenso agora
19:30 Sessão Cinética: Canto do mar
14:00 Pela janela
18:00 Visages, villages 20:00 Os iniciados
14:00 Visages, villages 18:00 Pela janela
20:00 Visages, villages 22:00 Os iniciados
14:00 Visages, villages
do monstro do brejo
18:00 Ex libris - A Biblioteca Pública de Nova York 21:50 Os iniciados
18:00 No intenso agora
destaques de janeiro 2018
Entre os destaques da programação de janeiro, estão a sessão da animação sueca Desmond e a armadilha do monstro do brejo, de Magnus Carlsson, e a projeção em DCP do mais recente documentário de Frederick Wiseman, Ex libris: Biblioteca Pública de Nova York. A Sessão Cinética exibe em 35 mm O canto do mar, de Alberto Cavalcanti, seguida de debate com os críticos da revista. Em paralelo à exposição
Anri Sala: o momento presente, o cinema apresenta o filme 1395 Days without Red, e, junto à abertura da exposição do fotógrafo Chichico Alkmim, será exibido Terra deu, terra come, de Rodrigo Siqueira. Em cartaz: Os iniciados, de John Trengove; Jovem mulher, de Léonor Serraille; Pela janela, de Caroline Leone; No intenso agora, de João Moreira Salles; e Visages, villages, de Agnès Varda e JR.
Jovem mulher (Jeune femme), de Léonor Serraille (França | 2017, 97’, DCP)
O canto do mar, de Alberto Cavalcanti (Brasil | 1953, 124’, 35 mm)
Visages, villages, de Agnès Varda e JR (França | 2017, 90’, DCP)
No intenso agora, de João Moreira Salles (Brasil | 2017, 127’, DCP)
Mapa da miséria
O canto do mar (1953), de Alberto Cavalcanti Marcelo Miranda
“Premiado em Karlovy-Vary, o filme interessou ao público europeu; de um ponto de vista formativo para o cinema brasileiro, é um destes enganos que devem ser estudados a fim de que não se repitam.” O diagnóstico cruel de Glauber Rocha em relação a O canto do mar (1953), registrado na Revisão crítica do cinema brasileiro e publicado pela primeira vez em 1963, colaborou para certo apagamento do filme de Alberto Cavalcanti na historiografia mais séria e relevante do cinema brasileiro. A virulência de Glauber surgia como intervenção política à produção industrial radicada em São Paulo e baseada na importação de profissionais estrangeiros e em modelos narrativos de Hollywood. A estrutura mastodôntica dos grandes estúdios surgidos a partir da fundação da Vera Cruz em 1949 seria rapidamente desmontada por ambições econômicas hiperbólicas, mas, para o então crítico e futuro cineasta baiano, O canto do mar era representante do olhar de um realizador que, “evidentemente interessado num filme que exprimisse o complexo nacional daquela
região [Recife]”, acabava por “indisciplinadamente” se encantar pelo exotismo terceiro-mundista. Isso estaria explicitado não apenas nas escolhas narrativas, mas especialmente no tratamento visual, que, para Glauber, sofria do “grave erro da estetização do social, do elogio das grandezas da miséria”. As palavras de Glauber reverberaram por décadas e colaboraram para O canto do mar ficar relegado a cantos de página ou a referências em meio a análises mais amplas sobre a produção industrial do país, muitas vezes sendo apenas relacionado à ascensão e queda dos estúdios paulistas (Vera Cruz, Maristela, Multifilmes, Sacra e Kino) ao longo dos anos 1950. Francisco Luiz de Almeida Salles foi dos poucos críticos de cinema a olhar para o filme, à época, como uma pequena epopeia poética, de “sentido sinfônico”, que retratava um país “pobre e triste, ingênuo e patético, Brasil de beira de cais”. Em 1966, Paulo Emílio Sales Gomes fez uma breve e favorável citação ao trabalho de Cavalcanti no ensaio “Panorama do cinema brasileiro: 1896- 1966”, anotando que o cineasta,
“patrício que se ilustrara no cinema francês e inglês”, fizera de O canto do mar e de Simão, o caolho (outro de seus longas-metragens brasileiros, lançado em 1952) “trabalhos que não comprometem a sua filmografia e enriquecem a nossa”. O canto do mar, único filme dramático dirigido por Cavalcanti no Brasil, chega-nos, no século XXI, carregado com a maldição de ser um projeto “academizante” que armou terreno e potencializou a reação explosiva do Cinema Novo na década seguinte. Mas, assim como retrata um espaço de transição entre o sertão nordestino castigado pela seca e a promessa de uma vida de mais oportunidades no sul do Brasil (São Paulo, especialmente), o filme de Alberto Cavalcanti também se localiza historicamente numa espécie de fronteira. Apesar de ser uma refilmagem (de En rade, realizado pelo próprio Cavalcanti na França em 1927), utiliza elementos do neorrealismo italiano (com fortíssimas semelhanças com A terra treme, de Luchino Visconti, de 1948, como apontou a pesquisadora Luciana Corrêa de Araújo num texto de
2005 para a revista Contracampo), ao mesmo tempo que desenvolve os vários núcleos narrativos com uma rigidez de mise en scène que involuntariamente denota seu artifício. Se filma em locações (a região portuária do Recife), Cavalcanti mantém resquícios das experiências em estúdio, principalmente na utilização exacerbada da trilha sonora incidental de Guerra-Peixe e num certo “luxo” dos figurinos e maquiagens do elenco. Entre o acadêmico e o espontâneo, o
neorrealismo e o controle de estúdio, a representação de uma suposta fatia da realidade e o artificialismo dos meios cinematográficos mais tradicionais, O canto do mar mostra-se, hoje, como exemplar típico de um cinema brasileiro em franco movimento de alteração de status quo, no caminho de uma revolução que se anunciava logo à frente, mas que não conseguiria avançar contra os combatentes adversários se não passasse pelo campo minado.
Cavalcanti, possivelmente traumatizado pela debacle da Vera Cruz e da Multifilmes (nas quais ele teve importância fundamental desde o princípio), assumiu para O canto do mar outra forma de fazer cinema. Não exatamente novidade a ele mesmo – vindo de bem-sucedida trajetória na Europa, onde trabalhou com a vanguarda experimental francesa nos anos 1920 e com documentários ingleses ao lado de John Grierson nos 1940 –, aplicando elementos de suas obras pregressas
na abordagem social e política de um Nordeste de pobreza idealizada. O prólogo de O canto do mar aponta o determinismo imposto aos personagens: sob um mapa do Brasil desenhado na tela, a imagem se aproxima das curvas referentes ao estado de Pernambuco e se transfigura, por fusão, no chão batido e seco do sertão. A voz em off repete insistentemente “Não chove”, enquanto a narração acompanha a saída de uma família para o litoral, na ânsia pela embarcação que a levará a São Paulo. Curiosamente, o filme não se fixa nessa família, mas em outra, já residente na área portuária palco do enredo. Dividindo-se nas desventuras de quatro pessoas (mãe, pai, filho e filha), todas desestruturadas pela pobreza, pela fome, pela doença e pela desesperança, O canto do mar opera a partir da utopia de uma vida digna e na tentativa dos personagens jovens de não repetirem o ciclo de miséria e loucura dos pais. O “canto do mar” proposto pelo filme tem, assim, dupla acepção. Num sentido geográfico, é o espaço que se localiza à margem de um centro, ocupado por
uma gente deixada de lado que precisa se movimentar para escapar em direção à outra ponta. Num sentido poético, é a música das águas, que aciona, tal como o canto da sereia, a sedução do indivíduo litorâneo pelas maravilhas de um novo mundo e de uma vida longe dali. A renovação desejada pelos jovens protagonistas será impossibilitada pela matriarca conservadora e resignada (interpretada pela excelente Margarida Cardoso), que, ao seu modo, manipula a todos para que cada um permaneça nos lugares em que as circunstâncias lhes impuseram. Ela é a manifestação dramática do determinismo adiantado pelo mapa de Pernambuco incrustado na terra batida, conforme mostrado no prólogo. Essa mulher – cujo marido enlouqueceu, o filho mais novo morreu, a filha quer se prostituir e o primogênito ameaça ir embora na calada da noite – é a imagem do fracasso de um país, é a representação de que nem a utopia pode salvar e de que avistar o horizonte para além do “canto do mar” não é algo que deva ser estimulado. Se refletirmos a posição histórica do filme
de Cavalcanti na cronologia do cinema brasileiro, tem-se a selvagem ironia de uma personagem que surge como o superego às ambições mais liberais do diretor no trato com o material audiovisual que tinha em mãos. O breque do status quo se fazia presente por dentro da narrativa do filme. Entre a apresentação do nervo narrativo a acionar personagens que não conseguem escapar do que os prende (metaforizados, um tanto rusticamente, pelos pássaros engaiolados na casa da jovem atendente da mercearia, que os liberta tão logo ela mesma consegue ir embora) e o desfecho desesperançado, Alberto Cavalcanti põe à prova duas de suas vocações estéticas. A primeira é a de documentarista. Além do prólogo (de caráter mais sociológico e didático), o filme contém cenas no miolo que, deslocadas das ações principais, funcionam de respiro à estrutura rígida de encenação. São registros de manifestações identificadas ao imaginário popular e religioso do Recife, como o frevo, o maracatu, o bumba meu boi, a cantoria e o xangô. Há um descompasso entre o
documentarismo de Cavalcanti e a tentativa de uma ficção de apreensão rápida. A incursão dos personagens aos ambientes documentados tornam-se pretextos do diretor para usar a câmera na captação de imagens e sons que, se não se integram totalmente à dramaturgia (“Para isso, será necessário esperar uns dez anos por Barravento [Glauber Rocha, 1961]”, anota Luciana Corrêa Araújo na Contracampo), guardam um fascinante sentido de performance e de evocação de ritos e mitos caros ao ambiente apresentado. Na outra ponta das vocações de Cavalcanti, aparece uma longa sequência de sonho, quase nunca citada por quem se dispôs a escrever sobre O canto do mar. O adolescente que quer ir embora do Recife dorme e é acometido por uma série de manifestações inconscientes representativas de suas inquietações. Numa montagem bem mais livre, simbólica e associativa, Cavalcanti insere, em chaves variáveis de interpretação, praticamente todo o referencial dramático desenvolvido no enredo. O filme, ali, mescla a individualidade do protagonista com o
desejo coletivo de escape. Entre ecos do surrealismo de Luis Buñuel e do experimentalismo de Marcel L’Herbier (com quem trabalhara na França), o cineasta desloca o pretenso senso de realismo social que domina o filme quase por inteiro para as incongruências típicas de uma mente perturbada, pressionando a forma convencional adotada na narrativa para caminhos imprevisíveis de percepção. O sentido limítrofe de O canto do mar encontra nestas duas abordagens – a documental, espalhada pelo filme, e a onírica, concentrada na sequência do pesadelo – seus pontos mais intensos, fazendo deste trabalho de Alberto Cavalcanti um objeto de inegável valor histórico e estético. Se afastadas as agendas do período (compreensíveis, ainda que por vezes exageradas) que o atacavam como mantenedor de um cinema industrial, empolado e de influências estrangeiras, o filme pode ser visto sob novas luzes, para enxergar um momento delicado e de grandes mudanças nos (des) caminhos da produção audiovisual brasileira – ainda hoje um tanto mal resolvidos.
Em 1974, duas décadas depois de O canto do mar, e tendo em perspectiva a realização de títulos posteriores como Rio, 40 graus (1955) e Vidas secas (1963), de Nelson Pereira Santos, O grande momento (1958), de Roberto Santos, e Barravento (1961), de Glauber Rocha, Cavalcanti fez uma provocação, em entrevista à revista chilena Écran: “Desde que deixei o Brasil [nos anos 1950], começaram a fazer filmes brasileiros como os que eu concebia. Engraçado, não é?” Na amargura e no ressentimento de um exilado artístico, o cineasta reivindicava para si alguma influência no que viria a ser a aproximação do Cinema Novo à realidade sociopolítica brasileira. Tal como Anselmo Duarte (que fez O pagador de promessas no começo dos anos 1960 acreditando se inserir no movimento capitaneado por Glauber, mas acabou afastado pelos colegas e passou a vida “culpando” a vitória da Palma de Ouro em Cannes por seu isolamento), Cavalcanti se via, talvez, como um tipo de precursor do Cinema Novo. Nas cambalhotas irônicas da história, teria ele alguma razão?
Entrevista com John Trengove, diretor de Os iniciados a intensidade das trocas físicas e emocionais que são possíveis nesses espaços e como a repressão de sentimentos fortes leva a um comportamento tóxico e violento. Como um estrangeiro a essa cultura, era importante que eu abordasse essa história de uma perspectiva de personagens que eram, eles mesmos, “estrangeiros”, que tivessem dificuldades para aceitar o status quo do qual fazem parte. Ukwaluka é um rito tradicional de iniciação e circuncisão de jovens sul-africanos da etnia Xhosa. O filme Os iniciados, que estreia 18 de janeiro no IMS Paulista, trata da relação de Kwanda, um desses jovens, e Xolani, seu cuidador. Esta entrevista com o diretor John Trengove está disponível em inglês no site oficial do filme: www. inxeba.com. O que te levou a filmar esse assunto? Eu estava interessado no que acontece quando um grupo de homens se junta e se organiza fora da sociedade e de seus códigos diários. Eu queria mostrar
Como foi o processo de escrever Os iniciados? Começamos com muita pesquisa. Passamos um tempo em Cabo Oriental (província da África do Sul), onde o ritual é mais praticado. Ouvimos muitos relatos e conversas dos Xhosa, homens que passaram pelo ritual. Homens gays, homens héteros, alguns homens cosmopolitas e poderosos, outros de áreas rurais remotas. Essas histórias dispararam nossas primeiras ideias sobre a narrativa. Pesquisar o ritual trouxe sentimentos conflituosos em mim. Você ouve histórias sobre como isso pode ser um espaço fértil para um comportamento homofóbico
e hipermasculino. Ao mesmo tempo, eu pude ver em primeira mão o efeito transformador que o ritual tem sobre alguns homens. Em um mundo que sofre da ausência de figuras paternas, há algo de profundo sobre um ritual que mostra a um jovem garoto seu lugar no mundo dos homens. Tendo em vista a controvérsia que o ritual gera na África do Sul, como você acha que o filme será recebido? O ritual Ukwaluka é um tabu, e representá-lo da forma que fizemos é controverso. Estávamos cientes, desde o início, que o filme provocaria uma reação forte nos tradicionalistas. Contudo, tivemos muito apoio de uma geração mais jovem de Xhosas, que parece obstinada em romper o silêncio em torno desse ritual de iniciação; silêncio que parece perpetuar alguns dos perigos associados a essa tradição. É uma prática ampla e cheia de nuances, e há muito ainda a dizer sobre o ritual, mas não cabe a mim falar sobre isso. Essa fala deve vir de dentro dessa cultura. Com sorte, Os iniciados pode disparar
algo nesse sentido. Talvez um garoto gay Xhosa olhe este filme um dia e diga: “Na verdade, isso não tem nada a ver com minha experiência”. E, então, ele pode se inspirar a escrever sua própria história. Como você lida com as questões políticas de ser um cineasta branco retratando realidades diferentes da sua? Tanto quanto possível, eu tentei me desfazer dos meus próprios preconceitos. Como a maior parte do público de classe média que assiste ao filme, seria fácil para mim olhar Xolani e dizer: “Aqui há um personagem gay reprimido que merece ser emancipado de sua comunidade opressiva e se expressar como um indivíduo”. Eu resisti a esse tipo de resolução e tentei apresentar seu problema por aquilo que é: amplo e difícil, sem respostas imediatas. O personagem de Kwanda chega mais perto de expressar esses valores, mas ele é também o problema. Suas preconcepções criam perigos e crises para os outros que têm muito mais a perder do que ele. Essa era a minha forma de dizer
que eu não tenho respostas e que os meus próprios valores não necessariamente se aplicam aqui. Como você passou a trabalhar com Thando Mgqolozana? Eu me aproximei de Thando depois de ler seu primeiro romance, A Man Who Is Not a Man [em tradução livre, O homem que não é um homem], que fala sobre o ritual. Conhecê-lo foi um momento decisivo, pois ele entendeu muito bem o que eu queria fazer. Não sei se ele estava de fato interessado em trabalhar em um projeto sobre o ritual novamente, mas ele respondeu positivamente à ideia de retratar a masculinidade africana de outras formas. Thando escreveu sua própria versão do roteiro, filtrando minhas ideias com sua própria experiência e abrindo a narrativa sob uma perspectiva do ritual. Você pode descrever seu processo no set? Nós tínhamos algumas regras para nos manter conectados à realidade. Todos os personagens, mesmo os figurantes,
deveriam ter o isiXhosa como primeira língua. Era necessário que tivessem também suas próprias experiências com o ritual. A única exceção era Niza Jay Ncoyini, que interpreta Kwanda, o que fez sentido, pois seu personagem desafia e se opõe ao ritual. A comunidade de homens e anciões Xhosa no filme é composta por não atores. Nós pedimos a eles para interpretar os diferentes aspectos do ritual, como eles fariam normalmente, e reagir aos ensaios da maneira que achassem correta. Se eles não aprovassem o comportamento de um personagem, eles deveriam dizer isso entre as tomadas. Por vezes, nós não cortávamos; as cenas continuavam por mais tempo, e nós seguíamos rodando enquanto esses homens ofereciam o mais incrível material, completamente sem roteiro. Bongile Mantsai, que interpreta um dos cuidadores, é um ator experiente de teatro e era particularmente bom em encorajar essas interações livres entre o grupo. Era muito interessante de observar, nos mantinha atentos. Filmamos as cenas de grupo cronologicamente, na ordem que elas aconteceriam no ritual.
filmes Em cartaz Os iniciados
Inxeba John Trengove | África do Sul, Alemanha, Holanda, França | 2017, 88’, DCP
O pai de Kwanda está preocupado com o filho, “ele é sensível demais”. Por isso, pede ajuda a Xolani, um operário de Queenstown, na África do Sul, que organiza o Ukwaluka: um rito de passagem no qual adolescentes são circuncidados e vivem acampados em uma montanha durante a recuperação. Eles devem passar por provações enquanto aprendem os códigos masculinos da cultura Xhosi. Kwanda, ao contrário dos demais iniciados, questiona todos os aspectos dessa tradição. “Os iniciados nasceu do desejo de enfrentar os estereótipos sobre a masculinidade do homem negro perpetuados dentro e fora do cinema africano”, conta o diretor John Trengove, no site do filme (www.inxeba.com). “Como homem branco, representar a realidade do negro marginalizado, uma realidade que não é minha, é algo complicado. Até problemático. Era importante que a história espelhasse esse problema. O personagem de Kwanda é um estrangeiro no mundo tradicional, que de alguma forma expressa as minhas próprias ideias sobre direitos humanos e liberdades individuais. Ele é também o problema. Suas preconcepções representam um perigo àqueles que têm muito mais a perder do que ele.” Em 2017, o longa fez parte da seleção oficial do Festival de Berlim, na mostra Panorama, e de Sundance, na mostra competitiva World Cinema Dramatic. É o representante sul-africano no Oscar em 2018.
Jovem mulher
Jeune femme Léonor Serraille | França | 2017, 97’, DCP
Desempregada, sem dinheiro, dona apenas de um gato e repentinamente abandonada pelo namorado, Paula retorna a Paris após um longo período ausente da cidade. Terá de reconquistar sua integridade e independência. “O que a personagem vive no filme tem muito em comum com coisas que eu vivi: fazer trabalhos estranhos, chegar numa cidade grande onde você pode se sentir perdida... Eu quis revisitar esses elementos, mas com uma personagem completamente diferente de mim”, disse a diretora Léonor Serraille ao site Cineuropa. “Eu queria uma personagem completamente não convencional, mas cujas reações fossem, ao mesmo tempo, bastante sadias, muito normais diante dos desafios que se pode viver ao chegar sem muito dinheiro numa nova cidade. Além disso, eu também estava marcada por filmes que retratam mulheres solteiras e dignas, como Claire Dolan, de Lodge Kerrigan, ou Sue, de Amos Kollek.” [Íntegra da entrevista, em francês: bit.ly/jf-serraille] Jovem mulher estreou no Festival de Cannes, em 2017, na mostra Un Certain Regard, e levou o prêmio Câmera de Ouro, dado ao melhor filme de realizadores estreantes em longa-metragem.
Pela janela
No intenso agora
Rosália é uma operária de 65 anos que dedicou a maior parte de sua vida ao trabalho em um fábrica de reatores, na periferia de São Paulo. Ao perder o emprego, seu irmão a leva para uma viagem de trabalho até Buenos Aires. Segundo a diretora Caroline Leone, o filme parte da “vontade de falar sobre uma mulher que se encontra em uma encruzilhada da vida e recebe a oportunidade de se enxergar de fora, de entender a morte e o renascimento por uma óptica mais ampla, sem romantismos ou idealizações, mais ampla, simplesmente.” Vencedor do Prêmio da Crítica da seção Bright Future do Festival de Roterdã, em 2017. [Íntegra da entrevista da diretora para o site Salada de Cinema em: goo.gl/wDPkbD]
Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.” [Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: goo.gl/CD8]
Caroline Leone | Brasil | 2017, 87’, DCP
João Moreira Salles | Brasil | 2017, 127’, DCP
Visages, villages
Visages, villages Agnès Varda, JR | França | 2017, 90’, DCP
A cineasta Agnès Varda e o fotógrafo e muralista JR têm em comum o fascínio pelas imagens e pela forma como elas são criadas, exibidas e compartilhadas. Quando JR, um fã de longa data, vai à casa de Agnès, na rue Daguerre, os dois decidem trabalhar juntos em um documentário. Nas palavras da diretora, a proposta partia do interesse em juntar o trabalho do parceiro, “colar grandes fotos de pessoas em muros, empoderando elas por meio do tamanho, e o meu hábito de escutá-las e destacar o que elas dizem”. “E queríamos pegar a estrada juntos”, completa JR, “nem a Agnès nem eu nunca havíamos codirigido um filme antes”. O longa documenta a viagem dos dois artistas pelo interior da França e a amizade que construíram ao longo do caminho. “Às vezes, um de nós conhecia alguém numa aldeia ou tinha uma coisa específica em mente”, conta Varda. “Então íamos ver. Como sempre, em documentários – e eu fiz muitos –, você tem uma ideia, mas logo o acaso entra em jogo – quem você encontra e quem você conhece –, e, de repente, as coisas se concentram numa determinada pessoa ou lugar. Na verdade, nós abraçamos o acaso, ele é nosso assistente!”
filmes Sessão Cinética
Sessão infantil
Sessões especiais
Festival Ópera na Tela
Ex libris: Biblioteca Pública de Nova York Ex Libris: The New York Public Library Frederick Wiseman | EUA | 2017, 197’, DCP
Desmond e a armadilha do monstro do brejo Desmond & träskpatraskfällan Magnus Carlsson | Suécia | 2006, 68’, 35 mm | dublado em português | recomendado para crianças de 4 a 7 anos
O canto do mar
Alberto Cavalcanti | Brasil | 1953, 124’, 35 mm
No litoral nordestino, que acolhe migrantes do sertão à espera de viagem para o sul, a miséria leva uma família à desestruturação financeira e psicológica. Por O canto do mar, Alberto Cavalcanti ganhou o prêmio de melhor direção no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary (República Tcheca) em 1954 e concorreu ao Grande Prêmio do Festival de Cannes no mesmo ano.
A vida dos moradores de Framboesópolis nunca mais foi a mesma desde que as coisas começaram a desaparecer. Sumiram as maçãs do Desmond, os esmaltes de unha da Bessie, a guitarra elétrica do Willie e as luvas de boxe do Sebastian. O culpado só poderia ser o terrível monstro do brejo – se bem que ninguém pode provar que ele realmente exista. A solução é fazer uma armadilha. O filme é dirigido por Magnus Carlsson, que também assina o videoclipe da música “Paranoid Android”, do grupo Radiohead.
Depois de mais de 50 anos voltando seu olhar documental para instituições da sociedade norte-americana, o cineasta Frederick Wiseman (Crazy Horse, Em Jackson Heights) retrata a Biblioteca Pública de Nova York, entre suas diversas filiais, seus frequentadores, palestras, encontros de clubes do livro, aulas de braile, coquetéis para levantamento de fundos e reuniões administrativas. Filmado entre setembro e dezembro de 2015, o processo de edição de Ex libris foi concomitante ao período eleitoral dos EUA, em 2016. Sobre isso, Wiseman comenta, em entrevista ao site MUBI: “Eu não acho que o clima político tenha afetado a montagem, mas eu acho que o filme se beneficia da estupidez que se passava em Washington no período. Porque as atividades da Biblioteca Pública de Nova York e o ponto de vista da biblioteca com relação à educação, à imigração, aos imigrantes e às pessoas pobres são completamente opostos ao que a administração Donald Trump representa. Então, eu acredito que há um enorme contraste, e eu estava interessado em ajudar e representar os melhores aspectos da democracia, enquanto a administração Trump representa o possível estabelecimento de um governo autoritário ou mesmo fascista.” [Entrevista na íntegra em bit.ly/exlibris2, em inglês]
Terra deu, terra come
1395 Days without Red
O Instituto Moreira Salles inaugura, no dia 23 de janeiro, a exposição Chichico Alkmim, fotógrafo. Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura do IMS, a mostra apresenta mais de 200 imagens produzidas pelo fotógrafo mineiro na primeira metade do século XX. Em paralelo à abertura da exposição, o Cinema do IMS fará uma exibição especial de Terra deu, terra come, que se passa no quilombo Quartel do Indaiá, em Diamantina, na região onde Chichico Alkmim passou sua infância e juventude. No filme, Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, morto aos 120 anos, num ritual em que vêm à tona as raízes africanas de Minas Gerais.
1395 Days without Red faz parte da exposição Anri Sala: o momento presente, em cartaz no IMS Paulista até o dia 25 de março. O filme mostra a Orquestra Filarmônica de Sarajevo praticando o primeiro movimento da Sinfonia patética, a sexta e última composta por Tchaikovsky, em 1893. Ao mesmo tempo, uma musicista atravessa a cidade sitiada a caminho do ensaio. O filme faz referência aos 1395 dias do cerco de Sarajevo, entre 5 de abril de 1992 e 29 de fevereiro de 1996, durante a guerra da Bósnia-Herzegovina, quando vestir roupas vermelhas e brilhantes era extremamente perigoso por atrair a atenção dos franco-atiradores. Um filme de Anri Sala em colaboração com Liria Bégéja, a partir de um projeto de Šejla Kamerić e Anri Sala em parceria com Ari Benjamin Meyers © Anri Sala, Šejla Kamerić, Artangel, SCCA/2011
Rodrigo Siqueira | Brasil | 2010, 88’, digital
Bósnia-Herzegovina, Reino Unido | 2011, 44’, DCP
Os contos de Hoffmann
Hoffmanns Erzählungen Uma ópera de Jacques Offenbach, dirigida por Robert Carsen e regida por Philippe Jordan | França | 2016, 305’, DCP
Relato das decepções amorosas do poeta alemão Hoffmann, narrador e herói. Três épocas, três paixões, três mulheres: Olympia, Antonia e Giulietta. O cinema do IMS recebe o festival Ópera na Tela. Uma série de programas organizados pela Bonfilm Audiovisual, com filmagens de encenações realizadas na Ópera de Paris, na Ópera do Estado da Bavária, no Teatro Antigo de Taormina, no Grande Teatro do Liceu de Barcelona, no Teatro Real de Madri e no Teatro alla Scala de Milão.
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12:30 1395 Days without Red
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14:00 Jovem mulher
16:00 Os iniciados
16:00 Desmond e a armadilha
14:00 Jovem mulher
14:00 Jovem mulher
18:00 Pela janela do monstro do brejo Curadoria de cinema Os filmes de janeiro 20:00 Ex libris - A Biblioteca Pública de Nova York 18:00 Pela janela Kleber Mendonça Filho O programa de janeiro tem o apoio 20:00 da Cinemateca do MAMOs doiniciados Rio de Produção de cinema e DVD Janeiro, do Festival Ópera Tela, 21:50 Pelanajanela da revista Cinética, da Zipporah Barbara Alves Rangel Films, da The Jolly Patron AB, do 26 27 de Cinema Festival Internacional Assistência de produção Infantil e das distribuidoras 12:30 Gallego 1395 Days without Red 12:30 1395Bonfilm, Days without Red Thiago e Ligia Gabarra Fênix Filmes, Supo Mungam Films, 14:00 Visages, villages 14:00 Visages, VideoFilmes, Vitrine Filmes, Zeta villages Projeção 16:00 Os iniciados 16:00 e a armadilha Filmes e do Espaço ItaúDesmond de Cinema. Ana Clara Costa e 18:00 Pela janela Miciano Manoel da Silva 20:00 Visages, villages
22:00 Os iniciados
Desmond e a armadilha do monstro do brejo (Desmond & träskpatraskfällan), de Magnus Carlsson (Suécia | 2006, 68’, 35 mm dublado em português)
16:00 Os iniciados Cineteatro 18:00 Pela janela
20:00 No intenso agora Ingressos Cliente Itaú 1395 Days without desconto para o titular Red e Terra deu, terra ao comprar o ingresso come: exibição gratuita. com o cartão Itaú (crédito ou débito). O canto do mar, Ex
libris: Biblioteca Ingressos e senhas 28 de Nova Pública sujeitos à lotação York e Desmond ea 14:00 Visages, villages da sala. armadilha do monstro 18:00 No intenso agoraCapacidade da sala: do brejo: R$ 8,00 145 lugares. 20:30e R$ Os4,00 iniciados (inteira) (meia). Ingressos disponíveis do monstro do brejo Pela janela: R$ 12,00 também em 18:00 Ex libris - A Biblioteca Pública de Nova York (inteira) e R$ 6,00 (meia). ingresso.com.
21:50 Os iniciados
Demais sessões: terça, quarta e quinta: R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26,00 (inteira) e R$ 13,00 (meia). Meia-entrada com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes e maiores de 60 anos.
Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso. com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Confira a programação completa do Instituto Moreira Salles em nossas redes sociais e no nosso site ims.com.br.
Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 21h.
Visitas mediadas quintas‑feiras, das 12h30 às 13h30. Visitas em grupo com agendamento prévio, de terça a sexta, às 10h e 14h; quintas, às 19h. Biblioteca, de terça a sexta, das 10h às 20h; sábados e feriados, das 10h às 18h. Entrada gratuita.
Ex libris: Biblioteca pública de Nova York (Ex Libris: New York Public Library), de Frederick Wiseman (EUA | 2017, 197’, DCP) InstitutoMoreiraSalles
Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista - São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br
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