1
O Projeto Rede Lusa é promovido pela ACISB - Associação Comercial Industrial Serviços Bragança e enquadrado no âmbito do aviso de concurso n.º NORTE-02-0752-FEDER-000044 do Sistema de Apoio às Ações Coletivas - “Internacionalização das PME” inserido no Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020). Tem como principal objetivo fomentar a internacionalização nas empresas da região de Bragança, através da disponibilização de informação pertinente sobre a temática e da sensibilização para o potencial inovador das comunidades portuguesas emigrantes (neste caso, as residentes em França, Reino Unido e EUA) na exportação e internacionalização das empresas. O presente documento tem como propósito servir de ferramenta de apoio às PME e apoiá-las no seu processo de internacionalização.
Índice 1. Introdução ....................................................................................................................... 3 2. O que é o “Mercado da Saudade”? ................................................................................... 3 2.1. França ................................................................................................................................. 4 2.2. Reino Unido ........................................................................................................................ 4 2.3. Estados Unidos da América ................................................................................................ 5 3. Produtos Endógenos Transmontanos ............................................................................. 6 4. Conclusão.................................................................................................................... 15 Webgrafia ......................................................................................................................... 17
2
1. Introdução As comunidades emigrantes portuguesas no estrangeiro são uma excelente oportunidade para o fomento da internacionalização das empresas. Estas comunidades mantêm fortes ligações a Portugal, e em particular aos produtos portugueses, sendo por isso um potencial a explorar pelas empresas nacionais. Segundo dados do Relatório Estatístico 2015 do Observatório da Emigração (OE), o número de emigrantes portugueses supera os 2 milhões, o que significa que mais de 20% dos portugueses vive fora do país em que nasceu. O Reino Unido é o país para onde emigram mais portugueses: 31 mil em 2014. Seguem-se, como principais destinos, a Suíça (20 mil em 2013), a França (18 mil em 2012) e a Alemanha (10 mil em 2014). Já no que respeita aos Estados Unidos, a entrada de emigrantes portugueses, em 2016, aumentou 17%, revela o mesmo Observatório. No entanto, a emigração de portugueses para os EUA não é muito significativa, representando apenas 1% do total de portugueses que emigraram em 2016. Em 2017, o OE registou mais de 2,2 milhões de portugueses emigrados, sendo que 358,564 viviam na América do Norte. Ora, o facto de existir uma forte presença da comunidade portuguesa nestes países constitui, conforme já referido, uma ótima oportunidade para a internacionalização das empresas e dos seus produtos, tão procurados pelos nossos emigrantes “lá fora”. O conjunto destes produtos constitui um nicho de mercado designado por “Mercado da Saudade” que, de acordo com dados revelados pela AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, tem vindo a crescer em países como o Reino Unido e França e a ganhar importância nestes territórios.
2. O que é o “Mercado da Saudade”? “Mercado da Saudade” é um termo utilizado em economia para definir o mercado de trabalho especializado em comercializar produtos típicos de um país para as comunidades desse país que vivem no estrangeiro. Neste caso, pretende-se exportar produtos endógenos transmontanos, especificamente para França, Reino Unido e EUA.
3
De acordo com Ricardo Simões, antigo Diretor Executivo da Câmara do Comércio e Indústria Franco-Portuguesa (CCIFP), neste tipo de mercado “a procura dos produtos portugueses é feita por ligação emocional e não empresarial”. E desta forma, o “Mercado da Saudade” representa uma excelente oportunidade para aumentar o volume de negócios internacional das empresas brigantinas.
2.1. França Segundo a AICEP, a França constitui um mercado com grande potencial de crescimento para as empresas portuguesas, pelas seguintes razões:
É um grande mercado, de cerca de 60 milhões de consumidores com um elevado rendimento per capita anual;
A economia francesa tem vindo a desindustrializar-se deixando de produzir internamente muitos produtos que passa a importar, sendo as empresas portuguesas reconhecidas pela qualidade da sua produção;
O processo de ajustamento da economia portuguesa tem sido acompanhado com muito interesse e admiração por parte dos agentes económicos franceses que em número crescente procuram o nosso país para investir;
Há cada vez mais empresas portuguesas que participam em Feiras e Exposições em França, como é o caso do Salão Alimentar de Paris, a Maison et Objets (casa e decoração) a BATIMAT (construção), a MIDEST (subcontratação industrial) o salão Le Bourget (aeronáutica) ou a VINEXPO (vinhos) que constituem instrumentos de promoção eficazes para as empresas portuguesas.
No período de 2013-2014, de acordo com a mesma entidade, as exportações portuguesas, relativamente à indústria agroalimentar, para França aumentaram, sendo que as exportações de vinhos representam mais de 80%. O 2.º produto alimentar português mais exportado para França são as “Preparações de carnes, peixes ou crustáceos”, sendo que as “Preparações e conservas de peixes” representam cerca de 92%.
4
2.2. Reino Unido Segundo a AICEP, o Reino Unido é um mercado com grande potencial de crescimento para as empresas portuguesas, pelas razões que se apresentam de seguida:
O Reino Unido é a 5.ª economia mundial e a 2.ª da União Europeia, segundo o Banco Mundial. O país foi o 4.º importador mundial de bens (2.º europeu) e o 6.º de serviços (4º europeu) em 2016;
O país foi o 4.º cliente de bens e serviços de Portugal em 2016, representando 9,9% das exportações, e o 6.º fornecedor, com uma quota de 4,6% das importações. No período janeiro-setembro de 2017, o mercado representou 7,9% das exportações portuguesas de bens e serviços e 4,3% das importações;
No que se refere ao comércio de bens, em 2016, o Reino Unido manteve o 4.º lugar enquanto cliente de Portugal (7,1% do total exportado), e o 6.º lugar como fornecedor (3,1% do total importado).
Entre 2013 e 2017, estiveram envolvidas na exportação de bens para o Reino Unido 5.354 empresas portuguesas, das quais 1.584 o fizeram em todos os anos do período. Em 2017, de modo geral, as empresas que exportaram para o Reino Unido, representaram 17,8% do tecido empresarial nacional exportador de bens, constituído por 21.762 empresas (11,6% d total em 2013).
Em 2016, as exportações de produtos alimentares para o Reino Unido atingiram o valor de 220,3 milhões de euros, cerca de 6,2% do total vendido por Portugal. O Reino Unido é um mercado importante para as exportações de produtos agroalimentares portugueses como o azeite, as frutas e hortícolas e o vinho – encontrando-se entre os principais importadores de vinho do Porto.
2.3. Estados Unidos da América Os Estados Unidos, à semelhança dos anteriores, também constituem um mercado com grande potencial de crescimento para as empresas portuguesas, pois de acordo com dados revelados pela AICEP:
5
Os EUA são o terceiro maior país do mundo, com uma população que representa cerca de 4,4% da mundial e com uma taxa média anual de crescimento de 0,7%, sendo o 3.º mais populoso do mundo;
Em termos de poder de compra per capita, os EUA foram ainda, em 2016, a economia mais rica com um PIB per capita de 57,3 mil USD, valendo o consumo total das famílias 12,8 biliões de USD e prevendo-se que possa atingir 15,5 biliões, em 2021 (EIU1);
Os EUA desempenham um papel fundamental nas relações comerciais internacionais, ocupando o 2.º lugar no ranking de exportadores, em 2016, e o 1.º lugar no ranking de importadores, respondendo por 13,9% das importações mundiais;
Em 2016, 18,9% dos bens importados pelos EUA teve origem em países da União Europeia (UE). Destacaram-se como principais fornecedores a Alemanha, o Reino Unido e a França. Portugal foi o 58.º fornecedor dos EUA em 2016, representando 0,15% das importações norte-americanas.
Os EUA representam um importante mercado para o comércio internacional português de bens e serviços. Em 2016, a quota dos EUA foi de 5,1% enquanto cliente, e de 2,6% como fornecedor. No período de 2012-2016 verificou-se um reforço da quota dos EUA enquanto cliente (aumento de 6,2% em 2016 face a 2012) e fornecedor (+4%). A estrutura das exportações portuguesas para os EUA sofreu, nas duas últimas décadas, alterações substanciais. Em 2016 as principais exportações foram de combustíveis minerais, que representaram 21,5% do total, seguindo-se os produtos químicos, as máquinas e aparelhos, a madeira e cortiça e as matérias têxteis. No que toca aos produtos alimentares, estes representaram 4,6% do total. Apesar dos EUA apresentarem uma economia de mercado aberta ao exterior são, ainda, muitas as dificuldades de acesso ao mercado, sobretudo quando falamos de determinadas mercadorias como, por exemplo, bebidas alcoólicas, animais vivos e seus produtos, medicamentos, vegetais, frutos frescos e secos e lacticínios, sujeitos à emissão de licenças por parte dos organismos governamentais competentes.
1
The Economist Intelligence Unit
6
3. Produtos Endógenos Transmontanos Trás-os-Montes é um dos um dos principais territórios do país ao nível da produção de azeite, mel, vinho (produz o famoso vinho do Porto e os vinhos do Douro) e castanha. Também se criam os bovinos da raça mirandesa. Todos estes são produtos de excelência obtidos através de modos de produção singulares, que lhes conferem características únicas. Com eles confecionam-se pratos e iguarias de alta cozinha, reconhecidos por grandes chefs e consumidores mais exigentes. Um dos produtos que melhor representa a região é, sem dúvida, a carne mirandesa, o expoente máximo da produção da Raça Bovina Mirandesa que, em harmonia com as condições edafoclimáticas, e aliada ao know-how de quem a produz, resulta num produto de referência nacional e internacional. A Raça Bovina Mirandesa possui características genéticas próprias que associadas a um sistema de alimentação natural conferem à carne qualidades organoléticas singulares. Destaca-se a excecional tenrura e suculência, aromas e sabores que a diferenciam de qualquer outra carne de bovino. A região de produção é composta por seis concelhos do Distrito de Bragança, designados pelo solar da raça, sendo eles os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Vinhais, Bragança e Macedo de Cavaleiros. Embora possua Denominação de Origem Protegida (DOP) e seja comercializada em duas categorias: vitela e novilho, a categoria de vitela assume praticamente a totalidade da carne comercializada. A partir deste tipo de carne, fazem-se outros produtos, entre os quais podemos encontrar, por exemplo, os patês, as espetadas, hambúrgueres, almôndegas, entre outros, tão conhecidos e apreciados. A carne mirandesa e seus derivados estão há algum tempo introduzidos em mercados, como o francês e inglês, onde se inserem as maiores comunidades emigrantes portuguesas. Importa também referir os famosos enchidos (onde se inserem os chouriços, as alheiras, as salsichas, a chouriça de bofes, a chouriça de sangue, a chouriça doce, o salpicão, o butelo – “rei gastronómico do Carnaval”, que dá nome ao conhecido Festival do Butelo e das Casulas,) feitos a partir da carne de Porco Bísaro. De modo geral, os suínos de raça bísara caracterizam-
7
se como sendo animais de grande porte, pouco rústicos, mas bem-adaptados ao sistema tradicional. A carne de Porco Bísaro distingue-se pelo sabor inconfundível e pela fina textura da gordura intramuscular que a torna marmoreada, macia e suculenta. Qualidades estas que, tal como a raça referida primeiramente, têm a ver com o facto deste porco ser criado livremente no campo e alimentado a castanha. Trás-os-Montes é uma região de montanha, com uma fauna diversificada, que reúne também excelentes condições para a criação de gado caprino, sendo o cabrito uma das grandes referências da riquíssima gastronomia transmontana. Tradicionalmente, o Cabrito Assado à Transmontana é uma das receitas mais procuradas em Portugal, sobretudo na altura no Natal, na qual o cabrito assado é acompanhado com batatas e castanhas. A carne de Cabrito Transmontano DOP, obtida a partir de animais da raça Serrana, diferenciase pelas suas propriedades organoléticas, nomeadamente a sua palatibilidade, tenrura e suculência. A excelente qualidade da carne do Cabrito Transmontano está diretamente ligada à sua alimentação, feita sobretudo à base da vegetação espontânea existente nos baldios, incultos e pousios. O leite das progenitoras é utilizado na produção do Queijo de Cabra Transmontano DOP. Este é um queijo curado, semiduro a extraduro, resultante do esgotamento lento da coalhada, após coagulação do leite de cabra cru, com coalho de origem animal. Desde os tempos mais remotos que o leite e o queijo de cabra desempenham um papel fundamental na alimentação da população transmontana e na economia da região. Este queijo é produzido em variados concelhos, tais como: Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Mogadouro. O Queijo de Cabra Transmontano possui uma forma de cilindro baixo, regular, sem bordos definidos, com um diâmetro de 12 a 19 centímetros. O peso varia entre as 600 e as 900 gramas. Possui aroma forte e um sabor típico dos queijos de cabra, com um ligeiro travo picante, sendo muito apreciado com pão de centeio e bom vinho, antes ou depois das refeições. E quando falamos em gastronomia transmontana não podemos deixar de referir também a carne de javali, protagonista da afamada Feijoada de Javali, um prato de caça que existe em diferentes regiões de Portugal, mas que apresenta algumas variantes na receita de acordo com
8
as tradições gastronómicas de cada região. Tipicamente, este prato é oriundo do distrito de Bragança, com grande incidência na Serra de Montesinho, onde se pratica a caça ao javali. E é neste sentido que são realizados alguns eventos, como é o caso das montarias ao Javali, sendo uma das mais conhecidas a Montaria anual realizada pela Casa do Pessoal da RTP. A carne de javali é escura e muito apreciada por quem a prova e carateriza-se por não ter muita gordura, ser praticamente isenta de colesterol e bastante rica em proteínas e sais minerais. Contudo, se for do macho, a carne tem, geralmente, um sabor muito mais intenso, sendo recomendada uma boa preparação e aplicação de temperos. Relativamente à castanha, outro dos produtos mais afamados, bastante representativo da região, e de acordo com investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o castanheiro é uma espécie da qual dependem economicamente muitas famílias da Terra Fria Transmontana e das terras altas da Beira Interior. Para além disso, só na região de Trás-os-Montes, o castanheiro ocupa 30.000 hectares, sendo responsável por 85% da produção nacional, o que a torna na maior região produtora nacional e numa das principais da Europa. Em 2013 as exportações atingiram os 17,5 milhões de euros importando, ainda, sublinhar que grande parte da produção se destina a mercados como França, Itália, Alemanha e Bélgica. As Castanhas da Terra Fria são frutos obtidos a partir do castanheiro Castanea sativa Mill, das variedades Longal, Judia, Côta, Amarelal, Lamela, Aveleira, Boa Ventura, Trigueira, Martaínha e Negral. Qualificada com a Denominação de Origem Protegida (DOP), esta castanha apresenta uma forma elíptica alongada, cor castanha avermelhada, brilhante com linhas escuras e longas, apresentando um sabor intenso. A castanha é um fruto que está bastante enraizado na gastronomia transmontana, sendo bastante apreciada pela sua versatilidade. Para além de ser utilizada como acompanhamento em pratos típicos, como o Cabrito Assado à Transmontana, referido anteriormente, a castanha pode ainda ser transformada e dar origem a outros produtos, nomeadamente: compotas, licores, chouriça de castanha, puré de castanha, entre outros. Atualmente, e de modo combater a sazonalidade do fruto, é possível consumir castanha o ano inteiro através do seu congelamento. Segundo a Sortegel, a maior empresa de transformação de castanha em Portugal, “todos os anos são congeladas entre seis a sete mil toneladas de castanha. O fruto é sujeito a descasque e despelagem por um processo industrial de calor e é congelado”.
9
A recolha destes frutos é feita do chão, não podendo ser usado nenhum método mecânico ou outro que force a queda dos frutos da árvore a fim de se completar a maturação, tarefa trabalhosa e morosa feita, muitas vezes, com recurso à família e vizinhos. Todavia, as terras transmontanas também dispõem de outros frutos secos, como é o caso da amêndoa, possuindo atualmente “a maior mancha de amendoais do país”. A plantação de amendoal tem despertado cada vez mais o interesse dos produtores do nordeste transmontano, de acordo com André Vaz, gerente da Cooperativa Soutos os Cavaleiros, dedicada aos frutos secos, que justifica este crescimento com uma melhor adaptação da cultura ao clima da região. No final do final do século XIX a amêndoa foi uma das principais exportações portuguesas do setor agrícola. A amendoeira estava abundantemente distribuída no país sobretudo nas regiões mais quentes do interior norte e no Algarve. Presentemente, Portugal importa amêndoa. O mercado é fortemente dominado pelos Estados Unidos, que produz cerca de 80% da produção mundial, seguindo-se a Austrália e a Espanha. Para além de a amêndoa americana ser mais barata, segundo Joana Araújo, representante da Amendouro (Alfândega da Fé), a verdade é que em Portugal a amêndoa ainda não integra os hábitos de consumo dos portugueses. No entanto, nos últimos anos, tem-se assistido a algumas alterações de hábitos. A alimentação saudável engloba o consumo de frutos secos “e se há 10 anos a amêndoa só se vendia por altura do Natal, agora o consumo é constante ao longo do ano”, dados os benefícios comprovados para a saúde, a amêndoa é um fruto de elevado valor nutricional e com inúmeros benefícios para a saúde, o que tem feito aumentar o consumo um pouco por todo o mundo. Para Joana Araújo “não temos a amêndoa como snack, vai mais para a confeitaria e doces”. O sabor, bastante dissolvido nas produções intensivas dos EUA, não interessa, porque se carrega com açúcar - “Amêndoas de Páscoa, chocolates e bolos corresponde a dois terços do consumo português.” Em compensação, nos países nórdicos o consumo como fruto seco é muito maior: para esses mercados, a Amendouro exporta mais amêndoa nacional (o que nem sempre é fácil, salienta Joana, já que existe desconfiança: “Ninguém associa Portugal a amêndoas”). Para além dos produtos referidos anteriormente, a região transmontana também é próspera em cogumelos silvestres, que surgem com o tempo húmido - normalmente em outubro, altura em que se inicia a sua apanha para consumo e venda. No entanto, os cogumelos são também atração turística, cultural e gastronómica, sendo frequentemente organizadas iniciativas como
10
caminhadas com apanha e identificação de cogumelos, encontros micológicos ou mostras gastronómicas. A aposta neste tipo de iniciativas visa atrair visitantes, mas a importância dos cogumelos está no impacto que estes têm na economia da região, sobretudo em Boticas, Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Alfândega da Fé, Moncorvo. No entanto, é em Vila Flor, Bragança, que se encontra o maior produtor de cogumelos frescos da Europa. O grupo Sousacamp, que iniciou a sua a atividade em 1989, na freguesia de Benlhevai, concelho de Vila Flor, dedica-se à produção, comercialização e distribuição de cogumelos. Atualmente é detentor de várias unidades de produção, tanto em Portugal (Vila Flor, Mirandela, Vila Real, Sabrosa, Paredes) como em Espanha. No que respeita ao azeite, Portugal consome anualmente 78 mil toneladas de azeite e exporta 58 mil. Mais uma vez, na produção de azeite no nosso país destaca-se uma lista de produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), na qual se insere o Azeite de Trás-os-Montes, azeite virgem extra e azeite virgem produzido a partir das variedades de azeitona Verdeal transmontana, Madural, Cobrançosa e Cordovil. Este azeite caracteriza-se por ser de baixa e muito baixa acidez, de cor amarela esverdeada. Possui aroma e sabor a fruto fresco, por vezes amendoado com uma sensação notável de doce, verde, amargo e picante. À semelhança dos produtos já referidos, estas particularidades devem-se às características edafoclimáticas da região e das suas variedades tradicionais de azeitona. A cultura da oliveira e a produção de azeite também assume especial importância para a região, tendo sido objeto de vários investimentos nos últimos anos e do reconhecimento da sua qualidade, tendo sido atribuídos já alguns prémios a azeites do Alto Tâmega e de Terras de Trás-os-Montes. Na campanha 2015/2016 foram produzidas 100 mil toneladas de azeite e, em 2016, as exportações atingiram 434 milhões de euros, tendo o setor atingido um excedente da balança comercial no valor de 170 milhões de euros, com o aumento de 400% da produção de azeite e em 300% do volume de exportações. Também na produção de mel em Portugal se destaca uma lista de produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), na qual encontramos o Mel Transmontano, que possui um aroma único e particular. No entanto, existem vários tipos de mel produzido na região transmontana: Mel de Rosmaninho, Mel Silvestre (rosmaninho, esteva, urze, eucalipto), Mel de Outono (carvalho, castanheiro, silveiras), Mel de Urze e Mel de Inverno (cristalizado).
11
A apicultura tem vindo a afirmar-se como uma atividade cada vez mais importante para Portugal, devido à sua vertente económica direta, através da comercialização e exportação. A procura é muita e normalmente, excede as expectativas dos produtores. Em Portugal existem mais de 10 mil apicultores sendo que, nos últimos anos, o número médio de colmeias por apicultor aumentou para quase o dobro, segundo dados da Federação Nacional de Apicultores de Portugal (FNAP). Em entrevista ao Semanário Regional do Algarve – barlavento, João Casaca, da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, referiu que «no nosso país, atendendo às condicionantes edafoclimáticas e ambientais (clima, flora e respetiva época de floração, subespécie de abelha), bem como as características do mercado (venda a granel a baixo preço), para uma exploração apícola gerar rendimentos que permitam remunerar o empresário em exclusivo, ou seja, apicultura a título principal – aquilo que se entende por profissional terá que ter uma dimensão mínima de 400 a 500 colmeias. Só assim se consegue atingir um volume de produção capaz de gerar economias de escala com interesse comercial. Facilmente se verifica, pelas estatísticas gerais, que a grande maioria dos produtores nacionais fazem apicultura como atividade complementar a uma outra, de onde obtêm a sua principal fonte de rendimento». A França e a Alemanha são os dois maiores mercados de consumo e compra de mel na Europa e são ambos apetecíveis para os produtores de mel nacionais, tanto pelo lado da procura como pelo preço que pagam. Contudo, uma empresa agroindustrial de Vimioso (distrito de Bragança), dedicada à produção, extração, embalamento e comercialização de mel, já exportou três toneladas de mel biológico de Trás-os-Montes diretamente para a China. No que respeita ao vinho, o cultivo da vinha e a produção de vinho na região de Trás-osMontes tem origem secular, sendo que a existência de vinhas velhas com castas centenárias marca também de uma forma muito peculiar a qualidade reconhecida dos vinhos desta região. Apesar das características muito próprias, na região verifica-se a existência de vários microclimas, que aliados às diferenças existentes na constituição dos solos, normalmente graníticos com manchas de xisto, bem como à maior adaptabilidade de certas castas, permitem obter vinhos muito distintos. Tais características permitiram definir três sub-regiões2 para a produção de vinhos de qualidade com direito a Denominação de Origem (DO) Trás-osMontes. 2
Sub-Região de Chaves, Sub-Região de Valpaços e Sub-Região do Planalto Mirandês
12
No que se refere aos vinhos com Identificação Geográfica (IG) Transmontano, estes podem ser produzidos em toda a região. As empresas de vinhos portuguesas exportaram um total de 777,9 milhões de euros em 2017, num total de quase três milhões de hectolitros, retomando assim a trajetória de crescimento nas vendas ao exterior que tinha sido interrompida no ano anterior. Segundo dados publicados pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), o setor registou um aumento homólogo de 7,5% tanto em quantidade como em valor, dado que o preço médio por litro se manteve nos 2,61€. Os franceses continuam a ser os melhores clientes estrangeiros, com uma quota de 14% apesar de um ligeiro recuo (-0,5%), enquanto os efeitos do Brexit parece que não se fizeram sentir em 2017, tendo as empresas faturado lá mais 7,1%. Igual peso (10%) tem o mercado norte-americano depois de ter aumentado as compras em 5,6%. Portugal ascendeu ao primeiro lugar do ranking de vendas de vinho do Porto em 2017, com as vendas no mercado interno a subirem 6% em valor e 0,2% em quantidade, compensando assim as descidas em alguns mercados de exportação. O vinho do Porto, também produzido na região transmontana, continua a ser o principal baluarte dos vinhos portugueses no estrangeiro. Segundo dados disponibilizados pela aicep Portugal Global, em 2018, Portugal é já o 11.º produtor mundial e o 8.º maior exportador, afirmando-se, cada vez mais, como um produtor de “vinhos diferentes”, mas de grande qualidade. A Região Demarcada do Douro (RDD) é a principal região vitivinícola do país com 39% da produção com DOP e 22% da produção total de vinho, representando 75% das exportações de vinho com DOP e 50 das exportações portuguesas de vinho. A doçaria de região de Trás-os-Montes também é alvo de destaque quanto falamos em produtos endógenos da região. Para além de refletir a gastronomia transmontana, dado que na sua confeção são utilizados, muitas vezes, produtos típicos, a doçaria é simplesmente única e repleta de sabores, sendo que podemos destacar: Folar de Izeda, Bolos Económicos ou Azeiteiros de Trás-os-Montes, Pão de Ló de Castanha, Papos de Anjo de Mirandela e Pastéis de Castanha. Embora seja um folar salgado com carnes, o Folar de Izeda (oriundo da Vila de Izeda, concelho de Bragança) é considerado um ex-libris da região, sendo reconhecido pela sua qualidade de
13
excelência. Bastante típico da região de Trás-os-Montes, é pretensão da Associação de Desenvolvimento da Região de Izeda (ADRI), bem como da autarquia de Bragança, a sua certificação, embora este não seja um processo fácil. Este folar tradicional pode encontrar-se à venda todo o ano em pastelarias e superfícies comerciais da região. Mirandela é uma das localidades onde este produto mais se vende, no entanto, é no Porto que estão alguns dos seus maiores consumidores. Importa referir que se realiza anualmente a Feira do Folar e do Azeite, em Izeda, um certame histórico do concelho que visa promover os produtos típicos da região e dinamizar a economia local. Os Papos de Anjo de Mirandela são também uma iguaria bastante apreciada na gastronomia de Trás-os-Montes. Normalmente em forma de queque, é possível provar este doce em várias pastelarias da região. Um dos ingredientes que leva é compota, no entanto, não se especifica de quê, podendo ser utilizado qualquer doce de fruta, pelo que cada Papo de Anjo é uma surpresa. Os Bolos Económicos ou Azeiteiros de Trás-os-Montes são de confeção muito simples (azeite, água ardente, ovos, bicarbonato de sódio e pouco mais) e, por serem secos e fofinhos, recomenda-se que sejam consumidos ao lanche ou simplesmente a acompanhar uma chávena de chá. Aguentam-se vários dias guardados, daí o nome peculiar. Em termos de exportações, a doçaria regional tem pouca representatividade, contudo, é muito rica e diversificada, contemplando desde bolachas, biscoitos e bolos secos até aos doces conventuais ricos em ovos e açúcar, tão tradicionais e caraterísticos, não só da região como de Portugal podendo, assim, constituir uma excelente oportunidade a internacionalização das empresas. Entre 2012 e 2015 os indicadores de comércio internacional do subsetor português dos produtos de pastelaria mantiveram-se relativamente estáveis. A Espanha, a França e o Reino Unido foram os principais destinos das exportações portuguesas do subsetor dos produtos de pastelaria no ano de 2015. A posição de Espanha no contexto das exportações portuguesas de produtos de pastelaria tem vindo a ser reforçada. De facto, entre 2012 e 2015, o volume de exportações para o mercado espanhol aumentou cerca de 6,2 milhões de euros, o que representa um incremento de 8,8%. Salienta-se, por outro lado, o crescimento significativo das exportações para o Reino Unido, tendo o volume de negócios aumentado mais de 200% ao longo dos últimos 4 anos (ocupando este país já o terceiro lugar entre os parceiros comerciais portugueses).
14
A performance positiva dos produtos de pastelaria portugueses no mercado britânico é particularmente encorajadora face à sua significância no contexto internacional. Efetivamente, em 2015, o Reino Unido importava o segundo maior volume de produtos de pastelaria a nível mundial, num total de 2.184,5 milhões de euros, ficando apenas aquém das importações dos EUA, cujo fluxo de compras ascendia a 3.640,8 milhões de euros.
4. Conclusão Conforme referido anteriormente, as comunidades emigrantes portuguesas no estrangeiro são uma excelente oportunidade para o fomento da internacionalização das empresas. E quando falamos em comunidades emigrantes portuguesas, inevitavelmente surge o conceito de “Mercado da Saudade” em que “a procura dos produtos portugueses é feita por ligação emocional e não empresarial”. O Reino Unido e a França estão entre os países europeus para onde emigram mais portugueses, no entanto, não podemos esquecer os Estados Unidos, cuja a entrada de emigrantes portugueses tem vindo a aumentar. Como tal, o facto de existir uma forte presença da comunidade portuguesa nestes países faz com que exista também uma grande procura de produtos portugueses, o que vai ao encontro do objetivo principal deste projeto que passa pela internacionalização das empresas da região de Bragança, através da exportação de produtos endógenos da região para os países referenciados. Grande parte da informação alusiva a França, Reino Unido e EUA, nomeadamente relativa aos aspetos económicos, foi retirada das Fichas de Mercado desenvolvidas e publicadas pela aicep Portugal Global no seu website e, nestas fichas, foi possível encontrar informações relevantes que expõem o porquê de estes três países constituírem mercados com grande potencial de crescimento para as empresas portuguesas. Trás-os-Montes um dos principais territórios do país ao nível da produção da castanha, do azeite, do vinho, do mel e dos enchidos. Feita uma análise destes produtos, percebeu-se que muitos deles já estão de alguma forma presentes nos mercados englobados pelo projeto. No entanto, pretende-se reforçar a exportação desses produtos, de modo a internacionalizar as empresas da região de Bragança, e levar o que de melhor a região tem para oferecer, alémfronteiras.
15
Também pode destacar-se o facto de que nos EUA as comunidades emigrantes portuguesas não são tão representativas quanto nos outros dois países, logo a procura pelos nossos produtos acaba por não ser muito significativa. Ainda assim, por todas as razões mencionadas, os EUA apresentam-se com um elevado potencial para a aposta numa maior diversificação dos destinos das exportações nacionais.
16
Webgrafia http://www.portugalglobal.pt/EN/Pages/Index.aspx https://www.diariodetrasosmontes.com/noticia/emigracao-crise-da-geracao-milenio https://www.publico.pt/2018/01/30/sociedade/noticia/emigracao-de-portugueses-nos-euaaumentou-17-em-2016-1801272 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_da_Saudade https://expresso.pt/economia/ultrapassar-o-mercado-da-saudade=f403393 http://www.mirandesa.pt/conteudo.php?idm=2 http://www.mirandesa.pt/conteudo.php?idm=9 https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/carne/carne-de-bovino/235-carne-mirandesa-dop https://bomdia.eu/doenas-nos-castanheiros-reduz-produo-de-castanha-transmontana/ https://www.facebook.com/131961653543109/videos/520140954662939/?v=520140954662 939 https://www.facebook.com/131961653543109/videos/520140954662939/?v=520140954662 939 https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/frutos-secos-secados-e-similares/915-castanha-daterra-fria-dop https://brigantia.pt/noticia/marron-oficina-da-castanha-espaco-em-braganca-celebra-pura-eexclusivamente-o-fruto-de https://www.vidarural.pt/insights/sortegel-reforca-negocio-da-castanha-diversifica-producao/ https://www.publico.pt/2019/03/16/fugas/noticia/amendoa-solar-florido-1864980 https://ondalivrefm.net/2019/01/10/produtores-do-nordeste-transmontano-estao-a-apostarna-plantacao-de-amendoais/ http://vozdocampo.pt/2018/11/12/a-amendoeira-estado-da-producao/ https://www.tsf.pt/economia/interior/producao-de-amendoa-com-grandes-perdas-em-trasos-montes-5060311.html https://eco.sapo.pt/2017/08/29/mapa-transmontano-com-componentes-automoveis-azeitee-cogumelos/
17
https://www.publico.pt/Local/portugal-pode-produzir-muito-mais-azeite-o-suficiente-paranao-importar-1545514 http://fitosintese.pt/portugal-os-7-maiores-produtores-mundiais-azeite/ http://barlavento.pt/destaque/maior-empresa-exportadora-de-mel-portugues-tem-sede-emaljezur https://www.rtp.pt/noticias/economia/mel-transmontano-a-caminho-da-china_v633058 https://www.clubevinhosportugueses.pt/vinhos/regioes/tras-os-montes/doc-tras-os-montes/ https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/agricultura-e-pescas/vinho/detalhe/vinhosportugueses-voltam-a-encher-o-copo-nas-exportacoes https://www.e-konomista.pt/artigo/gastronomia-tras-montes-alto-douro/ https://www.bisaro.pt/ http://www.rotaterrafria.com/pages/137 https://www.dn.pt/lusa/interior/reportagem-quase-ninguem-comia-butelo-o-enchido-quevirou-rei-gastronomico-do-carnaval-de-braganca-9066224.html http://www.cozinhatradicional.com/cabrito-assado-a-transmontana/ https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/cat/carne/carne-de-caprino/70-cabrito-transmontano-dop https://www.facebook.com/AldeiasPortugal/photos/a.386289878607/10151476234393608/? type=1&theater https://ondalivrefm.net/2018/03/23/dffddfdjjfolar-e-azeite-em-destaque-este-fim-desemana-em-izeda/ http://www.mediotejo.net/o-folar-por-armando-fernandes/ https://www.cm-braganca.pt/frontoffice/pages/547?news_id=2408 https://www.jornalnordeste.com/noticia/folar-de-izeda-chega-todo-o-pais http://www.cozinhatradicional.com/feijoada-de-javali-tras-os-montes-e-alto-douro/
18
19