Sumário Ano I, nº 01, Agosto 2011
Nossa capa. São Miguel Arcanjo .
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Edição: Emanuel de Oliveira Costa Jr.
Pense como os Santos
04 06 07
Diagramação Emanuel de Oliveira Costa Jr.
A vida dos Santos com Ana Maria Bueno Os Santos Anjos.
08
Revista Bimestral
Nossa Equipe nessa Edição. Editorial
Design e Logos: Ellen Jordana Portilho Mendes Colaboradores Colunistas dessa Edição: Ana Maria Bueno da Cunha Bruno Dornelles de Castro Carlos Ramalhete Diego Guilherme Evelyn Mayer de Almeida Pe. Inácio José do Vale Ives Gandra da Silva Martins Kairo Rosa Neves de Oliveira Karen Mortean Lenise Garcia Lizandra Danielle Araújo da Silva Márcio Antônio Campos Marcelo Oliveira Pedro Brasilino Peres Netto Rafael de Mesquita Diehl Rafael Vitola Brodbeck
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A homilia de Pedro
Homilia do Papa João Paulo II na solenidade da Imaculada Conceição—1978 A homilia do Papa
Homilia na Jornada Mundial da Juventude, Madri - 2011
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Brasil sem Aborto Com Lenise Garcia Aborto: questão de saúde pública
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Idade Média com Rafael Diehl - O que é a Idade Média?
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Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer A segregação não interfere no progresso I ntelectual do aluno.
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Aspectos do matrimônio com Karen Mortean Fazer nascer. Uma das maiores razões pelas quais nascemos.
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Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos Entrevista: Francisco Borba, biólogo e professor da PUC-SP.
27
Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino Demos graças ao bom Deus. A próxima Jornada será no Brasil.
31
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale Não servem a Cristo .
34
Coluna do Ives Gandra O aborto no direito brasileiro .
39
Cívitas com Rafael Brodbeck O uso do tabaco .
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DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro. Reforma política: chegou a hora?
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Milagres com Lizandra Danielle Milagre Eucarístico de Lanciano
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Chesterton no Brasil com Diego Guilherme Por que Chesterton?
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Dicas e Indicações de Literárias com Igson Mendes da Silva. A busca pela normalidade sexual Gerard Van Den AArdweg
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Indicações e Dicas
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Nossa Capa São Miguel Arcanjo Como um dos primeiros, senão o primeiro e mais eminente dos espíritos celestiais, os livros sagrados nos apresentam S. Miguel. O profeta Daniel dá a S. Miguel o título de Príncipe dos Anjos, e a Igreja enumera-o entre os arcanjos. Seu nome tem o significado de “Quem é como Deus?” pois foi S. Miguel que se pôs à frente dos anjos fiéis contra Lúcifer, o chefe dos anjos rebeldes, em defesa da autoridade de Deus. S. Miguel, por tanto, é um espírito guerreiro, arauto de Deus, e Príncipe dos exércitos celestiais. A arte cristã o apresenta como tal, em armadura brilhante, com lança e espada, em vôo como de mergulho se precipitando sobre o dragão infernal, e, fortemente o investindo, fazendo-o sentir o vigor irresistível do pé vitorioso, arremessa-o às profundezas do inferno. S. Miguel pelos judeus era havido como protetor do povo eleito. Segundo o Apóstolo S. Judas o cadáver de Moisés estava entregue aos cuidados do arcanjo. Foi este mesmo arcanjo, quem apareceu a Josué antes da tomada de Jericó e lhe prometeu seu auxílio; foi S. Miguel que defendeu os israelitas contra as hostes de Senacherib, desbaratando-as; foi ainda S. Miguel, quem se opôs a Balaam, quando ia amaldiçoar o povo de Deus. Heliodoro experimentou a força vingadora do arcanjo, quando se aparelhou para praticar o roubo sacrílego do templo. (2. mac. 3, 25). Da sinagoga e do povo eleito a missão de S. Miguel se transferiu à Igreja de Cristo. Numerosas são as suas aparições registradas na história da Igreja. Seu nome é mencionado várias vezes no sacrifício da Santa Missa. No “Confiteor” o sacerdote se dirige ao arcanjo S. Miguel, e invoca sua intercessão junto de Deus. Sobre o incenso, na missa solene é invocado seu nome. Ao Santo anjo, isto é, a S. Miguel o sacerdote logo depois da consagração se dirige, com o pedido de levar o santo sacrifício ao altar sublime de Deus. Terminada a missa rezada, em uma oração especial o povo pede a S. Miguel que o defenda no combate; cubrao com o seu escudo contra os embustes e ciladas do demônio; precipite ao inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. S. Miguel é ainda o patrono dos agonizantes, o guia das almas dos defuntos para o céu, como faz lembrar o texto do ofertório da missa de “Requiem”. Na história da Igreja são mencionadas duas aparições de S. Miguel: Uma ao Papa Gelásio I no monte Gargano. Mais conhecida é a outra, de que foi dignado o Papa S. Gregório, o Grande, em ocasião de em Roma grassar a peste. S. Miguel apareceu ao Papa no Castelo de Santo Ângelo e em sinal de cessão da epidemia, meteu a espada na bainha. Realmente a epidemia imediatamente parou de fazer vítimas. Do Pequeno exorcismo de São Leão XIII temos a oração de São Miguel Arcanjo: São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e aos outros espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém
Outubro 2011 / In Guardia 03
Nossa Equipe Emanuel de Oliveira Costa Jr. - Editor Católico, casado, coordenador do Grupo de Coroinhas e Acólitos da Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia/GO, advogado militante, professor, autor de artigos científicos publicados em revistas impressas e virtuais. Mantém o Blog d o E m a n u e l J r . : www.blogdoemanueljr.blogspot.com Twitter: http://twitter.com/emanuelocjr Facebook: Emanuel Jr.
Rafael Vitola Brodbeck - Colunista Católico, casado, é Delegado de Polícia em Sta Vitória do Palmar, RS, coordena o site "Salvem a Liturgia". Colunista da "Catequese Litúrgica", na revista mensal "O Mensageiro de Santo Antônio", dos Frades Menores Conventuais, membro da Sociedade Internacional Santo Tomás de Aquino (SITA/Roma), e da Academia Marial de Aparecida. É incorporado ao Regnum Christi (1998). Palestrante de Liturgia e doutrina. rafael@salvemaliturgia.com Twitter: http:// twitter.com/rafael_brodbeck
Márcio Antônio Campos - Colunista Católico, formado em Jornalismo pela USP e passou pelo Curso Estado de Jornalismo. Jornalista do Jornal Gazeta do Povo. Desde setembro de 2010 é editor de Economia da Gazeta do Povo, e também mantém o blog Tubo de Ensaio, sobre ciência e religião.
Kairo Rosa Neves de Oliveira - Colunista Católico, solteiro, estudante universitário, cursa Engenharia Civil na UNESP de Ilha Solteira - SP. Colaborador do site "Salvem a Liturgia", na coluna de paramentos litúrgicos e dando dicas para solenizar a celebração. Atua no site Movimento Liturgico, responde dúvidas litúrgicas. Mantém, ainda, um blog de imagens litúrgicas, o Zelus. E-mail: kairo@salvemaliturgia.com
Evelyn Mayer de Almeida - Colunista Uma filha de Deus, católica, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor a deu. Professora de Língua Portuguesa, é também dona do blog Fazei o que Ele vos disser e colaboradora do site Rainha dos Apóstolos. Já foi coordenadora da Missão Kerigma Christi. Interessa por Filosofia, Educação, Política e Humanidades. Twitter: @evelynsmalmeida Facebook: Evelyn Mayer de Almeida
Ives Gandra da Silva Martins Colunista. Católico. Dispensa maiores apresentações. Ganhador de diversos prêmios, professor em diversas faculdades. Professor Emérito e honoris causa em várias universidades. Doctor Honoris Causa da Universidade de Craiova – Romênia. Um dos mais conceituados tributaristas brasileiros. Supernumerário da Opus Dei. Colar de mérito judiciário em diversos Tribunais do país, bem como medalhas e comendas de mérito cultural.
Pedro Brasilino Peres Netto Colunista Solteiro, Católico, estudante de Biomedicina na Universidade Federal de GoiásUFG, coordenar a Pastoral da Juventude na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Facebook: Pedro Brasilino.
Lenise Garcia - Colunista Católica, graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo, mestrada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e doutorada em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é professora adjunta da Universidade de Brasília, no departamento de Biologia Celular. Numerária do Opus Dei. Presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto
Outubro 2011 / In Guardia 04
Nossa Equipe Pe. Inácio José do Vale - Colunista É sacerdote católico e Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo em Resende/RJ, é especialista em Ciência Social da religião pesquisador de seitas e conferencista, é Professor de Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Volta Redonda/RJ. E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com
Ellen Jordana Portilho Mendes - Capista e desenvolvedora de logos. Católica, casada, mãe de dois filhos, professora municipal, formada em Educação Física pela UFG. Coordenadora do Grupo de Acólitos e Coroinhas na Paróquia do Imaculado Coração de Maria e Goiânia/GO.
Rafael de Mesquita Diehl - Colunista Historiador e Professor formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atualmente mestrando em História na mesma instituição. Estuda História Medieval e participa dos apostolados virtuais Reino da Virgem Mãe de Deus (www.reinodavirgem.com.br) e Salvem a Liturgia! (www.salvemaliturgia.com). Também é catequista e ministra formações na área de História da Igreja e Arte sacra.
Carlos Ramalhete—Colunista Casado, pai de dois filhos adolescentes, e licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis. Trabalha como professor de filosofia e sociologia, além de manter uma coluna no jornal Gazeta do Povo (Curitiba) e o apostolado A Hora de São Jerônimo, o apostolado de apologética católica mais antigo da internet brasileira (www.hsjonline.com).
Bruno Dornelles de Castro - Colunista Católico, solteiro, formado em Direito. Dá formações de Doutrina Social da Igreja. Mantém um blog onde escreve sobre política e filosofia (brunodornellesdecastro.blogspot.com). É incorporado ao Regnum Christi. Facebook: Bruno Dornelles de Castro
Ana Maria Bueno da Cunha - Colunista Casada, católica, Farmacêutica- bioquímica, dona de casa, mãe de dois filhos em Praia Grande/SP. Católica amante da Igreja, da Santíssima Virgem, do Santo Padre o Papa e sempre sedenta da graça de Deus. Mantém o blog Blog: É Razoáh t t p : / / v e l C r e r ? razoavelcrer.blogspot.com E-mail: anamariabcunha@hotmail.com
Karen Fernandes—Colunista Esposa, mãe, enfermeira, especializada na área da educação, instrutora do Método Billings da Ovulação pelo WOOMB/ Cenplafam-BR.
Lizandra Danielle Araújo da Silva - Colunista. Católica, solteira, estudante de Controle Ambiental no Instituto Federal de Goiás. Coroinha há 6 anos na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia.
Igson Mendes da Silva - Colunista Católico, Solteiro, analista de Sistemas do TCE-AM, graduando em Teologia, leigo católico atuando a 17 anos na Paróquia de Santa Luzia Manaus-AM, formador, colabora com alguns movimentos eclesiais ligados a Igreja, palestra na área de comunicação com ênfase em Ética nos meios de comunicações sociais. Diretor do Apostolado Spiritus Paraclitus, que se dedica em defender e promover a fé católica. Site paraclitus.com.br E-mail: smendes@paraclitus.com.br Outubro 2011 / In Guardia 05
Editorial A Igreja Católica tem em alto conceito a devoção aos Santos Anjos. Acredita na sua existência que é provada por muitas citações bíblicas, tanto no Antigo como no Novo Testamento, tem relatos históricos advindos da tradição relatando suas aparições e comemora a existência e ações dos anjos. Sabe e ensina, que os anjos, como Santos mensageiros de Deus, desempenham uma missão especial em nosso favor. São defensores, do corpo e da alma, em todos os perigos, principalmente na hora da morte. A palavra anjo significa “enviado”, ou mensageiro divino. A Igreja, para enaltecer a figura dos santos anjos da guarda, reserva o dia 2 de outubro, para que num só coração elevemos nossos corações a Deus em agradecimentos pelos nossos guardiões celestes. Até o século XVI o culto aos anjos da guarda esteve unido ao de São Miguel, e tão somente em 1615 foi introduzido no calendário romano. O Papa Paulo VI, no ano de 1970 instituiu a festa dos Santos Anjos da Guarda no dia 2 de Outubro. O próprio Senhor falou a Moises: “Vou enviar um anjo que vá à tua frente, que te guarde pelo caminho... Respeita-o e ouve sua voz”. (Ex, 23, 2021) É comum que a primeira oração que os pais ensinem aos filhos é a oração do Anjo da Guarda; é quando pequenos o “Bom amiguinho”; quando crescem o “Amigo infalível e fiel”. João XXIII, com seu jeito cheio de ternura, falou: “Confiem nos Anjos da Guarda, os amáveis mensageiros da nossa vontade. Que os anjos presentes em cada lar, falem do nosso desejo de obter harmonia social, boa moral, prática de caridade e a paz entre as nações. Aos pais de família: ensinem aos vossos filhos que nunca estão sozinhos, que um anjo esta ao seu lado... É consolador sentir este protetor especial perto de nós. Ele fomenta nossa intimidade com Deus”. E acrescentou que a idéia de convocar o Concílio Ecumênico Vaticano II, foi uma inspiração do seu Anjo da Guarda. Devemos ao anjo da guarda um afeto todo especial e temos por obrigação amá-lo, honrá-lo e invocá-lo, pois é um grande amigo que temos e que vê incessantemente a face de Deus. Do primeiro sopro de vida ao ultimo suspiro, ele está ao nosso lado, sua missão termina ao entregar nossa alma a justiça divina. “Anjo da Guarda, minha companhia, guarda minha alma de noite e de dia”. Os anjos já estavam presentes durante a criação dos céus estrelados, o que está evidenciado nas palavras de Deus a Jó: “Quando as estrelas foram criadas, todos os meus anjos entoaram cânticos de glorificação para mim”. (Jô, 38, 7) “Para todos as pessoas que vivem há um Anjo da Guarda. Por isso ninguém se encontra sozinho”. (Santo Padre Pio) Em outro momento, temos um dia especial para a celebração dos Santos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel (29/09), arcanjos esses que são conhecidos pelas ações e intercessões que acabaram por realizar juntos a humanidade e pela humanidade. O catecismo da Igreja Católica nos diz que: “A existência dos seres espirituais, não corporais, que a sagrada escritura chama habitualmente de Anjos, é uma verdade de Fé”. Santo Agostinho afirma que por todo o seu ser, os Anjos são servidores e mensageiros de Deus. No livro de São Mateus Lemos como o próprio Cristo afirmou que os Anjos contemplam “constantemente a face de meu Pai que está nos céus”. (Mt 18, 10) O concílio ecumênico de Latrão definiu que Deus criou as coisas materiais e espirituais. O diabo e os outros espíritos malignos foram criados bons por Deus porém tornaram-se maus por si mesmos. Antes de ter criado o homem, Deus criou os Santos Espíritos, os espíritos puros, isto é, não compostos de matéria, embora por vontade divina, possam às vezes apresentar-se aos homens sob formas corporais. Nas sagradas escrituras encontramos os anjos agrupados em 9 corpos, a saber: - Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potestades, Virtudes, Principados, Arcanjos e os Anjos, que por sua vez constituem três hierarquias. A primeira é dos Serafins, Querubins e Tronos têm por missão servir perante o trono de Deus; Dominações, Potestades e Virtudes, que tem por missão servir no espaço da criação. E a terceira hierarquia: Principados, Arcanjos e Anjos, tem por missão o serviço junto a humanidade.
Outubro 2011 / In Guardia 06
Pense como os Santos.
Santa Terezinha Por ti, Jesus, morra eu mártir, o martírio do coração ou do corpo, antes, de ambos.
... Compreendi que meu amor não se devia traduzir somente por palavras.
Se um suspiro pode salvar uma alma, que não podem fazer os sofrimentos como os nossos? Não recusemos nada a Jesus! Sem repouso e sem tréguas devo lutar, por meu Esposo, Senhor das Nações. O Bom Deus me dá coragem na proporção dos meus sofrimentos. Não acreditemos que exista amor sem sofrimento. Anjo da minha Guarda, cobre-me com as tuas asas, clareia com teus fogos a estrada que sigo. Os espinhos nos facilitam o desapego da terra e fazem que elevemos os olhos muito para cima deste mundo.
Não prefiro nem morrer nem viver. O que o Bom Deus prefere e escolhe para mim, eis o que me agrada mais. A Santíssima Virgem teve menos que nós, porque não teve uma Santíssima Virgem para amar! Meu caminho é o caminha da infância espiritual, o caminho da confiança e da entrega absoluta. Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas, mas que tu, meu Jesus, sejas tudo! Outubro 2011 / In Guardia 07
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno
Os Santos Anjos A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção aos santos anjos, protetores e intercessores, que do Céu vêm em nosso socorro, pois, como nos diz São Paulo, “vivemos num constante bom combate, até o dia em que prestaremos contas a Deus”. Constitui uma verdade de fé a sua existência, e a Igreja nos convida a pedir sempre sua intercessão, amá-los e venerá-los com todo respeito, já que sua perfeição e sabedoria refletem a perfeição e sabedoria de Deus, nosso Criador. Honrá-los e amálos, é honrar e amar o próprio Deus neles. Deus criou do nada e de natureza espiritual estes servidores de sua Majestade que O assistem diante de Seu trono glorioso, deu a eles a graça e poder e a perfeição, por isso os anjos estão acima dos homens, mas bem abaixo de Deus que é um só e todo poderoso. O IV Concílio Lateranense (Latrão) em 1215, cita a criação dos anjos: (Deus) “criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana que tem algo de ambas, por compor-se de espírito e de corpo”.
Dei XII 9; DU 1783) O anjos são as criaturas mais nobres que Deus criou e são por natureza espirituais, dotados de inteligência e vontade.
“Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque Eu vos digo que seus Anjos no Céu contemplam sem cessar a face de Meu Pai que está nos Céus” (Mt 18,10)
Por serem puro espírito – imortais e não tem forma alguma sensível, subsistindo portanto, sem estarem unidos a corpo algum. Se algumas vezes são representados de forma sensível, é para auxiliar a nossa imaginação, conforme nos diz o catecismo de São Pio X -, e assim apareceram muitas vezes aos homens, como lemos na Sagrada Escritura. Os santos anjos depois da batalha existente no céu, os que permaneceram fiéis foram por Deus confirmados em graça, por isso, gozam para sempre a visão de Deus, amam-No, bendizemNo, servem-No e louvam-No eternamente. Este nome designa: servo ou mensageiro de Deus, que é designação, portanto, de seu encargo, como bem nos mostra S Agostinho:“Anjo (mensageiro) é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz”.
Santo Agostinho diz a respeito: “Criou os anjos e dotou-os de boa vontade, quer dizer, com o casto amor que os unia a Deus. Em formando em natureza (angélica), infundiulhes ao mesmo tempo a graça. Daí devemos concluir que os Anjos bons nunca se viram destituídos de boa vontade, isto é, de amor a Deus”( Aug. de civit. Outubro 2011 / In Guardia 08
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno Diz o CIC, cânon1276 - “É bom e útil invocar fervorosamente os Servos de Deus, que reinam com Cristo, e venerar suas imagens e relíquias”. O Catecismo Romano nos ensina que “quando um rei decreta que nenhuma pessoa apareça como rei e consinta em receber régias homenagens, quem seria insensato se concluir, sem mais nem menos, que o rei com isso proíba as honras devidas a seus magistrados? Dizem, é verdade, que os cristãos se prostram diante dos Anjos, a exemplo dos santos varões do AT,(Gn 18,2;19,1 - Nm 22,31 - Js 5,14) todavia, não se trata da mesma veneração que eles tributavam a Deus. Se algumas vezes lemos nas Escrituras – (Ap 19,10; 22,9) que os Anjos se opuseram a que os homens os venerassem, deve estender-se no sentido de não quererem para si aquela veneração que só a Deus compete. O mesmo Espírito Santo que disse: “Só a Deus honra e glória”(I Tm 1,17), também ordenou honrássemos os pais e as pessoas mais velhas. Além disso, como narram as Escrituras, santos varões, que veneravam um só Deus, “adoravam os reis”, prostravam-se suplicantes diante de sua presença. Portanto, o mesmo primeiro mandamento que nos pede a honra e adoração devida a Deus, nos permite venerar os santos anjos e ainda invoca-los. Ora, se prestamos homenagens aos reis,
por quem Deus governa o mundo, muito maiores são as honras que devemos prestar a eles, já que são servidores de Deus e ainda excedem aos reis em dignidade. Deus se serve deles para guardar reinos, cidades, países, a sua Igreja e ainda todas as coisas criadas, como então não honralos nós, sabendo que esta é a vontade de Deus a seu respeito? Pela assistência dos anjos, embora invisível aos nossos olhos, somos cotidianamente preservados dos maiores perigos, tanto da alma como do corpo. Fora que sendo perfeitos em caridade, eles nos amam com amor especial e desejam servir a Deus através de nós. Por isso são nossos intercessores e intercessores dos lugares em que pertencemos, como as Escrituras nos mostram facilmente. Eles que diariamente, como nos diz Jesus no santo Evangelho de MaOs Santos Anjos, Servos da Rainha. teus “contemplam sem cestal invocação. Ao Anjo, com sar a Face de Meu Pai que está quem havia lutado, pediu Jacó nos Céus” que o abençoasse. Chegou até a Eles devem, portanto, ser obrigá-lo, pois disse não o largainvocados, já porque contem- ria, se não depois de ter recebido plam a Deus sem cessar, já por- a bênção. Esta lhe foi dada não que com a maior boa vontade só quando o Anjo estava à sua patrocinam a nossa salvação, vista, mas também quando não o conforme lhes foi encomendado. via de maneira alguma, pois ele Nas Sagradas Escrituras disse mais tarde: “O Anjo que apresentam-se testemunhos de me livrou os males, abençoe estes rapazes”. De dois modos pode-se dirigir a alguém um pedido, diz S. Tomás, com a convicção de que ele possa atendê-lo ou com a persuasão de que ele possa impetrar aquilo que se pede. Do primeiro modo só oramos a Deus, porque todas as nossas preces devem ser dirigidas à consecução da graça e da glória, que só Deus pode dar, como é dito no Salmo 83, 12: “A graça e a glória dá-a o Senhor”. Da segunda maneira apresentamos o mesmo pedido aos santos Anjos e aos homens; não para que, por meio deles, Deus venha a conhecer os nossos pedidos, mas para que, pela intercessão deles e pelos seus méritos, as nossas preces sejam atendidas.
O auxílio dos Santos Anjos. A Igreja confessa a sua fé nos Anjos da Guarda.
Outubro 2011 / In Guardia 09
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno teriais, citando Pseudo Dionísio que escreveu: “A tradição bíblica a respeito dos anjos dá seu número como milhares de milhares, multiplicando e repetindo os números mais altos que temos, e assim claramente mostrando que as Ordens dos Seres Celestiais são inumeráveis para nós. São tantos os Exércitos de Inteligências Celestiais que eles superam completamente o alcance débil e limitado de nossos números materiais.” (Chapter One of the book "The Angels," by Pascal P. Parente - Tradução: Sandra Katsman) Proposta também pelo teólogo Pseudo Dionísio (transição do séc. IV para o V), ficou clássica a sua angeologia, que agrupa estes seres celestes em nove coros repartidos por três hierarquias: serafins, querubins e tronos; dominações, virtudes e potestades; principados, arcanjos e anjos. (Dom Manuel Falcão) Súplica Ardente aos Santos Anjos.
Os anjos são, segundo as Sagradas Escrituras, em grande número. “Mil milhares o serviam, e miríades de miríades o assistiam.” Dan 7:10. “Eu vi Iahweh assentado sobre seu trono; todo o exército do céu estava diante dele, ‘a sua direita e ‘a sua esquerda.” 1 Reis 22:19 Imponente é a visão descrita pelo profeta Isaías: “Vi o Senhor sentado sobre um trono alto e elevado. A cauda de sua veste enchia o santuário. Acima dele, em pé, estavam serafins, cada um com seis asas: com duas cobriam a face, com duas cobriam os pés e com duas voavam. Eles clamavam uns para os outros e diziam: ‘Santo, santo, santo é Iahweh dos Exércitos, a sua glória enche toda a terra” Is 6:1 ss.
“Eu vi Iahweh assentado sobre seu trono; todo o exército do céu estava diante dele, ‘a sua direita e ‘a sua esquerda.” 1 Reis 22:19
O catecismo nos diz que os santos anjos aí estão, desde a criação e ao longo de toda a História da Salvação, anunciando de longe ou de perto esta salvação e servindo ao desígnio divino de sua realização: fecham o paraíso terrestre, protegem Lot, salvam Agar e seu filho, seguram a mão de Abraão, comunicam a lei por São Tomás mantém que a seu ministério, conduzem o povo multidão de anjos em muito ex- de Deus, anunciam nascimentos cede a multidão de criaturas ma- e vocações, assistem os profetas.
São João o Evangelista, no seu Apocalipse, descreve uma visão de muitos milhares de anjos ao redor do trono de Deus: “Ouvi o clamor de uma multidão de anjos que circundavam o trono ... E seu número era de milhões de milhões e milhares de milhares.” Ap 5:11.
Desde a Encarnação até a Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é cercada da adoração e do serviço dos anjos. Quando Deus “introduziu o Primogênito no mundo, disse: - Adorem-no todos os anjos de Deus” (Hb 1,6). O canto de louvor deles ao nascimento de Cristo não cessou de ressoar no louvor da Igreja: “Glória a Deus...” (Lc 2,14). Protegem a infância de Jesus, servem a Jesus no deserto, reconfortam-no na agonia, embora tivesse podido ser salvo por eles da mão dos inimigos, como outrora fora Israel. São ainda os anjos que “evangelizam”, anunciando a Boa Nova da Encarnação e da Ressurreição de Cristo. Estarão presentes no retorno de Cristo, que eles anunciam serviço do juízo que o próprio Cristo pronunciará. (CIC 333) Quando Jesus, triunfando sobre a morte, se levanta do sepulcro, Anjos noticiam isso às piedosas mulheres. Anjos anunciam que Ele subiu ao Céu, e prenunciam que de lá Ele voltará entre as falanges angélicas, para unir a elas as almas dos eleitos, e conduzi-las consigo para entre os coros celestes, acima dos quais “foi exaltada a santa Mãe de Deus”. Com tantos testemunhos na Escritura, aos poucos os santos anjos foram sendo invocados, capelas e templos foram construídos e dedicados a eles. Logo, as orações e os oratórios foram surgindo, e o povo entendeu então o valor destes companheiros e já no século VI já se celebrava a festa de São Miguel Arcanjo. No século IX, a Igreja instituiu a Missa em louvor dos Santos Anjos. Em 1526 o Papa Leão X, a pedido de François d’Estaing, bispo de Rodez, aprovou a festa dos Anjos da Guarda. Em 1670, o Papa Clemente X aprovou a festa universal dos Santos Anjos da Guarda para o dia 2 de outubro. E, após o Concílio Vaticano II, os Santos Arcanjos passaram a ser celebrados no dia 29 de setembro, onde continuamente a Igreja invoca a sua proteção: Alimentados na força do pão do céu, dai-nos, ó Deus, sob a proteção dos vossos anjos, progredir no caminho da salvação.
Outubro 2011 / In Guardia 10
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno Do mesmo modo, que temos a graça de termos anjos intercedendo e cuidando de nós, a vida da Igreja , como vimos, se beneficia da ajuda misteriosa e poderosa destes seres angélicos. Nos diz o CIC 334 – 335 que em sua Liturgia, a Igreja se associa aos anjos para adorar o Deus três vezes Santo; ela invoca a sua assistência (assim em In Paradisum deducant te Angeli... - Para o Paraíso te levem os anjos, da Liturgia dos defuntos, ou ainda no “hino querubínico” da Liturgia bizantina). Além disso, festeja mais particularmente a memória de certos anjos (São Miguel, São Gabriel, São Rafael, os anjos da guarda). Como os Santos anjos, de forma particular estão em volta do Verbo, podemos, com eles, celebrar todas as festas litúrgicas e participar da Santa Missa, de forma especial. Por estarem eles de forma admirável diante da face de Deus, contemplam os mistérios divinos e litúrgicos da qual nós, filhos de Deus temos a honra de participar; e como participantes da vida divina, conseguem ver os decretos do Senhor a nosso respeito e tem por isso condições de guardá-los para que com sua ajuda, façamos a Sua santa e soberana vontade. Diz o prefácio da Santa Missa em honra aos santos anjos: (MA II, 438) “O Céu é a morada digna dos anjos, Criaturas arcanas e sublimes. Não obstante a afetuosa esperança dos crentes, Que vivem na obscuridade da vida terrena, Ousa pensar que tem a luz e o conforto desses espíritos eleitos, Os quais, em tua beatificante presença, Nunca deixam o serviço de adoração e de louvor” O Santo Padre o Papa Bento XVI por ocasião da ordenação Episcopal a seis novos Bipos da festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael - 29 de setembro de 2007 - quando compara os Bispos aos anjos pela sua função tão nobre na Igreja de Cristo, nos diz especificamente dos Arcan-
jos – São Rafael, São Miguel e São Gabriel: “A Sagrada Escritura e a tradição da Igreja deixam-nos entrever dois aspectos. Por um lado, o Anjo é uma criatura que está diante de Deus, orientada, com todo o seu ser para Deus. Os três nomes dos Arcanjos terminam com a palavra “El”, que significa “Deus”. Deus está inscrito nos seus nomes, na sua natureza. A sua verdadeira natureza é a existência em vista d’Ele e para Ele. Explica-se precisamente assim também o segundo aspecto que caracteriza os Anjos: eles são mensageiros de Deus. Trazem Deus aos homens, abrem o céu e assim abrem a terra. Exatamente porque estão junto de Deus, podem estar também muito próximos do homem. De fato, Deus é mais íntimo a cada um de nós de quanto o somos nós próprios. Os Anjos falam ao homem do que constitui o seu verdadeiro ser, do que na sua vida com muita frequência está velado e sepultado. Eles chamam-no a reentrar em si mesmo, tocando-o da parte de Deus. Neste sentido também nós, seres humanos, deveríamos tornar-nos sempre de novo anjos uns para os outros anjos que nos afastam dos caminhos errados e nos orientam sempre de novo para Deus. Se a Igreja antiga chama os Bispos “anjos” da sua Igreja, pretende dizer precisamente o seguinte: “os próprios Bispos devem ser homens de Deus, devem viver orientados para Deus”
Luta diária com São Miguel Arcanjo.
rem nos fazer perdedores também. “Houve então um combate no Céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu”.
O papa Leão XIII, em 1884, nos dá uma oração de invocação, um exorcismo breve, para pedirmos a este anjo guerreiro e fiel a assistência e libertação do poder do demônio, a serpente infernal que quer fazer perder os homens. E bom e sábio Falemos um pouco sobre rezá-la sempre:
eles: São Miguel. O nome do Arcanjo Miguel, possui um revelador significado em hebraico: “Quem como Deus”, segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de Sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor, estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que que-
“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nossa proteção contra a maldade e as ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos; e vós, Príncipe da milícia celeste, pela força divina, precipitai no Inferno satanás e os outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas. Amém” Outubro 2011 / In Guardia 11
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno
Uma importantíssima mensagem transmitida por São Gabriel Arcanjo.
São Gabriel O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa “Força de Deus”, mas é muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico:
Do berço até o túmulo, o Anjo da guarda vela por nós, nos defende e desvia das ciladas do demônio. Como um leão, ruge ao nosso lado, o demônio procura de todas as formas afastar o homem do caminho da virtude. É o que nos afirma São Pedro em sua primeira carta, capítulo 5, versículos 8 e 9: “Sede sóbrios e vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda ao redor de vós, como leão que ruge, buscando a quem possa devorar. Resisti-lhe fortes na fé, cientes que vossos irmãos, espalhados pelo mundo, sofrem a mesma tribulação.”
os perigos e gozemos eternamente do seu convívio.”
Nas horas de perigo, o Santo Anjo nos incita à virtude, convida-nos à resistência e apresenta a Deus as nossas orações e nossas boas obras, apoiando-nos com sua intercessão. É preciso, portanto, que façamos a nossa
está acima deles – e que estes amam saber desta elevação, já que a perfeição da virgem só eleva e reflete a perfeição divina, o que é fonte de alegria para eles. Por isso canta a Igreja: “A Santa Mãe de Deus foi exaltada acima de todos os coros dos anjos. Sim, diz o Abade Guerrico, exaltada acima dos anjos, de modo que só tem acima de si seu Filho, o Unigênito de Deus”.
Gostaria de falar um pouco da relação da Santíssima Virgem com os anjos. Santo Afonso de Ligório, em seu livro as Glorias de Maria, diz-nos que a Virgem Imaculada ao chegar ao céu, foi honrada e homenageada por estes mensageiros de Deus: “Finalmente vieram sauda-la os anjos. A todos a excelsa Rainha agradece a assistência que lhe haviam prestado na terra. Primeiramente lhe recebe os agradecimentos o arcanjo Gabriel, o feliz mensageiro de sua ventura, ao anunciar-lhe sua escolha paCom nossas próprias forças ra a Mãe de Deus”(Pag 347) somente, jamais conseguiremos Sobre a sublimidade do trofazer frente ao demônio, que no de Maria, santo Afonso diz possui grande poder para perder, que a augusta Rainha foi por enganar e destruir as almas eter- Deus elevada acima dos anjos – namente. porque na ordem da graça ela
“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré... O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe: “Alegrate, ó tu que tens o favor de Deus” a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho, como se deu a Encarnação. São Rafael Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus, Rafael aparece no Antigo Testamento, no livro de Tobias. “ Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo São Rafael Arcanjo, o médico de Deus. Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus” (Tob 5,4) parte, invocando-o incessantemente, consultando-o diariamenAnjos da guarda. te em todas as nossas ações. “Cada fiel é ladeado por Na Liturgia da Festa dos um anjo como protetor e pastor Santos Anjos da Guarda, a Igreja para conduzi-lo à vida.” Ainda implora a sua proteção: “Ó aqui na terra, a vida cristã partiDeus, que na vossa misteriosa cipa na fé da sociedade bemprovidência mandai os vossos aventurada dos anjos e dos hoanjos para guardar-nos, concemens, unidos em Deus.“ (CIC dei que nos defendam de todos 336)
Cada vez que na recitação do Santo Rosário Mariano, nos diz o papa Leão XII em sua Encíclica Augustissimae Virginis Mariae, consideramos os mistérios de nossa salvação, de certo modo imitamos e emulamos os ofícios confiados à milícia celeste. Foram eles, os anjos, que nos tempos estabelecidos revelaram estes mistérios, nos quais tiveram grande parte e intervieram infatigavelmente, compondo o seu semblante ora segundo a alegria, ora segundo a exaltação da glória triunfal. Gabriel é enviado à Virgem para lhe anunciar a Encarnação do Verbo eterno. Na gruta de Belém os Anjos acompanham com os seus cantos a glória do Salvador, há pouco vindo à luz. Um Anjo adverte José a fugir e a dirigir-se para o Egito com o Menino. Enquanto Jesus no Horto sua sangue por causa da sua tristeza, um Anjo com a sua palavra compassiva, conforta-O.
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A vida dos Santos por Ana Maria Bueno conduzi-las consigo para entre os coros celestes, acima dos quais "foi exaltada a santa Mãe de Deus".
Santos Anjos da Guarda, mensageiros de Deus
Por isto, de modo especial aos associados que praticam a devoção do Rosário se adaptam às palavras que S. Paulo dirigia aos novos discípulos de Cristo: "Chegastes ao monte de Sião e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celeste e às miríades de Anjos" (Heb 12, 22). Que pode haver de mais excelente e de mais suave do que contemplar a Deus e rogá-lo juntamente com os Anjos? Como devem nutrir uma grande esperança e uma grande confiança de gozarem um dia no Céu a beatíssima companhia dos Anjos aqueles que na terra, de certo modo, compartilharam o ministério deles! Nossa Senhora é a rainha dos anjos e por ela podemos pedir que nos ajude com estes servos tão fieis. Eles que a reconhecem rainha e sabem de seu poder diante de Seu Filho. Sabem que honrado-a, honramos o Filho:
Quando Jesus, triunfando sobre a morte, se levanta do sepulcro, Anjos noticiam isso às piedosas mulheres. Anjos anunciam que Ele subiu ao Céu, e prenunciam que de lá Ele voltará entre as falanges angélicas, para “Augusta Rainha dos céus e seunir a elas as almas dos eleitos, e nhora dos Anjos, Vós que desde
o princípio recebeste de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás. Nós Vos pedimos humildemente, enviai vossas santas legiões, para que elas, sob o vosso poder e vossas ordens, persigam os infernais espíritos, combatendo-os por toda a parte, confundam sua audácia e os precipitem no abismo”. Enfim, só podemos louvar a Deus por estes mensageiros, intercessores tão amáveis e poderosos. “Vou enviar um anjo à tua frente para te proteger no caminho”(Ex 23,20) Que a certeza desta proteção seja para nós conforto e apoio, sobretudo nos momentos de dificuldades e provações. Que Nossa Senhora, rainha dos anjos nos ajude a caminhar em Deus, fazendo de nossas vidas um sacrifício de louvor ao Senhor, pela a salvação das almas. Luadetur Iesus Christus! Louvado seja Jesus Cristo! Agora e para sempre. Amém!
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A homilia de Pedro.
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO Sexta-feira, 8 de Dezembro de 1978
1. Ao mesmo tempo que, a primeira vez como Bispo de Roma, transponho hoje o limiar da Basílica de Santa Maria Maior, apresenta-se diante dos meus olhos o acontecimento que vivi neste lugar, a 21 de Novembro de 1964. Era o encerramento da terceira sessão do Concílio Vaticano II, depois da solene proclamação da Constituição dogmática sobre a Igreja, que principia com as palavras "Lumen Gentium" (luz das gentes).
Para o mesmo dia, tinha o Papa Paulo VI convidado os Padres conciliares a encontrarem-se aqui precisamente, no mais venerado templo mariano de Roma, para exprimirem a alegria e a gratidão pela obra ultimada nesse dia. A Constituição Lumen Gentium é o documento principal do Concilio, documento "chave" da Igreja no nosso tempo, pedra angular de toda a obra de renovação que o Vaticano II empreendeu e cujas directrizes apresentou. O último capítulo desta Constituição tem o título: "A bemaventurada Virgem Maria Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja". Paulo VI, falando nessa manhã na Basílica de São Pedro, com o pensamento fixo na importância da doutrina expressa no último capitulo da Constituição Lumen Gentium, chamou pela primeira vez a Maria "Mãe da Igreja". Chamou-Lhe assim de modo solene, e começou a chamá-l'A com este nome, com este título, mas sobretudo a invocá-1'A a fim de que participasse como Mãe na vida da Igreja: desta Igreja que durante o Concílio tornou mais profundamente consciência da própria natureza e da própria missão. Para dar maior relevo a esta expressão, Paulo VI, juntamente com os Padres conciliares, veio precisamente aqui, a esta Basílica de Santa Maria Maior, onde Maria está circundada há tantos séculos da particular veneração e amor, sob o título de
"Salvação do Povo Romano". 2. Seguindo as pisadas deste grande Predecessor, que foi para mim verdadeiro pai, também eu aqui estou. Depois do solene acto na Praça de Espanha, cuja tradição remonta a 1856, venho aqui em consequência dum cordial convite a mim dirigido pelo Eminentíssimo Arcipreste desta Basílica, Cardeal Confalonieri, Decano do Sacro Colégio, e por todo o Cabido. Julgo porém que, juntamente coro ele, me convidam para aqui todos os meus Predecessores na Cátedra de São Pedro: o Servo de Deus Pio XII, o Servo de Deus Pio IX; todas as gerações dos Romanos; todas as gerações dos cristãos e todo o Povo de Deus. Parecem dizer: Vai! Honra o grande mistério escondido desde a eternidade, no próprio Deus. Vai! Dá testemunho a Cristo nosso Salvador, filho de Maria. Vai! e anuncia este momento especial: na história o momento de viragem da salvação do homem. 3. Exulta com este mistério a Igreja Romana e eu, como novo Bispo desta Igreja, participo pela primeira vez nesta alegria. Por isso tanto desejava vir aqui, a este templo, onde há sécu-
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A Homilia de Pedro. do). Para aproximar a todos — quer dizer, cada um — do Seu Filho. Para revelar o primado do amor na história do homem. Para anunciar a vitória final do amor. Não pensa acaso a Igreja nesta vitória, quando nos recorda hoje as palavras do livro do Génesis: "Esta (a descendência da mulher) esmaga a cabeça da serpente" (Cfr. Gén. 5. 15)? 4. "Salus Populi Romani"! O novo Bispo de Roma transpõe hoje o limiar do templo mariano da Cidade Eterna, conhecendo a luta entre o bem e o mal que penetra o coração de cada homem, a qual se trava na história da humanidade e também na alma do los Maria é venerada como "Salus "povo romano". Eis o que a este pro- como servo dos servos, e todos aquePopuli Romani" (Salvação do Povo pósito nos diz o último Concílio: les que com ele servem. Confia-Lhe a Romano). Este título e esta invocação "Um duro combate contra os poderes Igreja Romana, como penhor e prinnão nos dizem acaso que a salvação cípio de todas as Igrejas do mundo, (salus) se tornou, de modo singular, na sua universal unidade. Confia-Lha herança do Povo Romano (Populi e oferece-a como sua propriedade. Romani)? Não é acaso esta a salvação "Totus Tuus ego sum et omnia mea que nos trouxe Cristo e nos traz conTua sunt. Accipio Te in mea omnitinuamente, Ele só? E Sua Mãe, que a!" (Sou todo Teu, e tudo o que tenho exatamente como Mãe, foi — de moé Teu. Sê Tu minha guia em tudo). do excepcional, "mais eminenCom este simples e ao mesmo tempo te" (Paulo VI, Credo) — remida por solene ato de oferta, o Bispo de RoEle, Seu Filho, não é acaso também ma João Paulo II deseja mais uma Ela — por Ele, Seu Filho — chamavez garantir o próprio serviço ao Poda, de modo mais explícito, simples e vo de Deus, que não pode ser coisa vigoroso ao mesmo tempo, a particidiferente da imitação humilde de par na salvação dos homens, do povo Cristo e d'Aquela que disse de si romano e da humanidade inteira? Pamesma: Eis aqui a escrava do Senhor ra todos conduzir ao Redentor. Para (Lc 1, 38). dar testemunho d'Ele, mesmo sem palavras, só com o amor, no qual se Seja este ato sinal de esperança, coexprime "o génio da mãe". Para apromo sinal de esperança é o dia da Imaximar até aqueles que opõem maior culada Conceição projetado sobre o resistência, para os quais é mais difí- das trevas atravessa, com efeito, toda fundo de todos os dias do nosso Adcil crer no amor; que julgam o mundo a história humana; começou no prin- vento. como grande polígono "de luta de cipio do mundo e, segundo a palavra todos contra todos" (conforme se ex- do Senhor, durará até ao pressou uni dos filósofos do passa- último dia. Inserido nesta luta, o homem deve combater constantemente, se quer ser fiel ao bem; e só com grandes esforços e a ajuda da graça de Deus conseguirá realizar a sua própria et unidade" (Gaudium Spes, 37). Por isso o Papa, nos princípios do seu serviço episcopal na Cátedra de São Pedro em Roma, deseja confiar a Igreja de modo particular Aquela em que se realizou a estupenda e total vitória do bem sobre o mal, do amor sobre o ódio, da graça sobre o pecado. Aquela de quem Paulo VI disse que é "início do mundo melhor", à Imaculada. Confia-Lhe a sua pessoa,
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A Homilia do Papa.
Homilia na Jornada Mundial da Juventude, Madri VIAGEM APOSTÓLICA A MADRID POR OCASIÃO DA XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 18-21 DE AGOSTO DE 2011 Base Aérea de Quatro Ventos, Madrid Domingo, 21 de Agosto de 2011 personagem religioso junto aos que já são conhecidos. Depois, dirigindo-se pessoalmente aos discípulos, Jesus pergunta-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro responde formulando a primeira confissão de fé: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo». A fé vai mais longe que os simples dados empíricos ou históricos, e é capaz de apreender o mistério da pessoa de Cristo na sua profundidade.
Queridos jovens, Com a celebração da Eucaristia, chegamos ao momento culminante desta Jornada Mundial da Juventude. Ao ver-vos aqui, vindos em grande número de todas as partes, o meu coração enche-se de alegria, pensando no afecto especial com que Jesus vos olha. Sim, o Senhor vos quer bem e vos chama seus amigos (cf. Jo 15, 15). Ele vem ter convosco e deseja acompanhar-vos no vosso caminho, para vos abrir as portas duma vida plena e tornar-vos participantes da sua relação íntima com o Pai. Pela nossa parte, conscientes da grandeza do seu amor, desejamos corresponder, com toda a generosidade, a esta manifestação de predilecção com o propósito de partilhar também com os demais a alegria que recebemos. Na actualidade, são certamente muitos os que se sentem atraídos pela figura de Cristo e desejam conhecê-Lo melhor. Pressentem que Ele é a resposta a muitas das suas inquietações pessoais. Mas quem é Ele realmente? Como é possível que alguém que viveu na terra há tantos anos tenha algo a ver comigo hoje?
cer Cristo. O primeiro consistiria num conhecimento externo, caracterizado pela opinião corrente. À pergunta de Jesus: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?», os discípulos respondem: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas». Isto é, considera-se Cristo como mais um
A fé, porém, não é fruto do esforço do homem, da sua razão, mas é um dom de Deus: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu». Tem a sua origem na iniciativa de Deus, que nos desvenda a sua intimidade e nos convida a participar da sua própria vida divina. A fé não se limita a proporcionar alguma informação sobre a identidade de Cristo, mas supõe uma relação pessoal com Ele, a adesão de toda a pessoa, com a sua inteligência, vontade e sentimentos, à manifestação que Deus faz de Si mesmo. Deste modo, a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?», no fundo está impelindo os discípulos a tomarem uma decisão pessoal em relação a Ele. Fé e seguimento de Cristo estão intimamente relacionados.
No evangelho que ouvimos (cf. Mt 16, 13-20), vemos representadas, de certo modo, duas formas diferentes de conhe-
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A Homilia do Papa. E, dado que supõe seguir o Mestre, a fé tem que se consolidar e crescer, tornar-se mais profunda e madura, à medida que se intensifica e fortalece a relação com Jesus, a intimidade com Ele. Também Pedro e os outros apóstolos tiveram que avançar por este caminho, até que o encontro com o Senhor ressuscitado lhes abriu os olhos para uma fé plena. Queridos jovens, Cristo hoje também se dirige a vós com a mesma pergunta que fez aos apóstolos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Respondei-Lhe com generosidade e coragem, como corresponde a um coração jovem como o vosso. Dizei-Lhe: Jesus, eu sei que Tu és o Filho de Deus que deste a tua vida por mim. Quero seguir-Te fielmente e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu conheces-me e amas-me. Eu confio em Ti e coloco nas tuas mãos a minha vida inteira. Quero que sejas a força que me sus-
tente, a alegria que nuca me abando- vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dáne. Na sua reposta à confissão de Pedro, lhe vida, alimento e fortaleza. Jesus fala da sua Igreja: «Também Eu te digo: Tu é Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja». Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo. Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1 Cor 12, 12). A Igreja não
Queridos jovens, permiti que, como Sucessor de Pedro, vos convide a fortalecer esta fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da vossa vida. Mas permiti também que vos recorde que seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por conta sua» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele.
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A Homilia do Papa. Ter fé é apoiar-se na fé dos teus irmãos, e fazer com que a tua fé sirva também de apoio para a fé de outros. Peço-vos, queridos amigos, que ameis a Igreja, que vos gerou na fé, que vos ajudou a conhecer melhor Cristo, que vos fez descobrir a beleza do Seu amor. Para o crescimento da vossa amizade com Cristo é fundamental reconhecer a importância da vossa feliz inserção nas paróquias, comunidades e movimentos, bem como a participação na Eucaristia de cada domingo, a recepção frequente do sacramento do perdão e o cultivo da oração e a meditação da Palavra sem dúvida, de Deus. Penso que a de Deus. vossa presença aqui, jovens vindos E, desta amizade com Jesus, nascerá dos cinco continentes, é uma prova também o impulso que leva a dar tesmaravilhosa da fecundidade do mantemunho da fé nos mais diversos amdato de Cristo à Igreja: «Ide pelo bientes, incluindo nos lugares onde mundo inteiro, proclamai o Evangeprevalece a rejeição ou a indiferença. lho a toda a criatura» (Mc 16, 15). É impossível encontrar Cristo, e não Incumbe sobre vós também a tarefa O dar a conhecer aos outros. Por isso, extraordinária de ser discípulos e não guardeis Cristo para vós mesmissionários de Cristo noutras terras mos. Comunicai aos outros a alegria e países onde há multidões de jovens da vossa fé. O mundo necessita do que aspiram a coisas maiores e, vistestemunho da vossa fé; necessita, lumbrando em seus corações a possibilidade de valores mais autênticos, não se deixam seduzir pelas falsas promessas dum estilo de vida sem Deus.
na e vos ensine e fidelidade à Palavra de Deus. Peço-vos também que rezeis pelo Papa, para que, como Sucessor de Pedro, possa continuar confirmando na fé os seus irmãos. Que todos na Igreja, pastores e fiéis, nos aproximemos de dia para dia sempre mais do Senhor, para crescermos em santidade de vida e darmos assim um testemunho eficaz de que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, o Salvador de todos os homens e a fonte viva da sua esperança. Amém.
Queridos jovens, rezo por vós com todo o afeto do meu coração. Encomendo-vos à Virgem Maria, para que Ela sempre vos acompanhe com a sua intercessão mater-
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Brasil sem Aborto por Lenise Garcia.
Aborto: questão de saúde pública Érecorrente o argumento de que é preciso encontrar solução para o aborto, porque se trata de uma questão de saúde pública. Colocado dessa forma, concordo plenamente. Não penso, entretanto, que a solução possa estar na chamada descriminalização, pois isso só faria agravar o problema, como vem ocorrendo em outros países. Diz o Ministério da Saúde que acontecem no Brasil entre 1 e 1,5 milhão de abortos por ano. Escapa-me como pode ser feita essa estatística, tratando-se de prática clandestina, mas tomemos a afirmativa como verdadeira. Uma prática que ceifa 1,5 milhão de vidas por ano é, certamente, grande problema de saúde pública. Nenhuma doença tem números tão altos. No Brasil e no mundo, o aborto é hoje a maior causa mortis. Não entra nas estatísticas, já que a criança não nascida não é registrada, não tem nome nem atestado de óbito, mas a falta de registro não muda o fato de que ela viveu - por maior ou menor tempo - e morreu, deixando uma história gravada na memória de seus pais e de outras pessoas. Essas existências truncadas trazem grande ônus social, ao qual pouca atenção se presta. O aborto também traz grandes males, físicos e psíquicos, para a mulher que aborta. Permitam-me uma comparação um pouco chocante, mas ilustrativa. Dados os males provocados pelo fumo, em alguns lugares proíbese fumar. Há quem concorde e quem discorde, quem obedeça ou desobedeça. O pulmão do fumante, entretanto, não distingue entre o cigarro legal e o ilegal. No caso do aborto, a legalização evitaria algumas complicações decorrentes das condições da prática clandestina.
Entretanto, os principais efeitos nocivos do aborto continuariam a ocorrer, como se pode demonstrar com os dados obtidos em países nos quais a prática não é considerada crime na legislação vigente. Nesse caso não se trata de suposições e extrapolações, mas de estudos científicos publicados em revistas médicas. Nos Estados Unidos, mulheres que se submeteram ao aborto provocado apresentam, em relação às que nunca fizeram um aborto: 250% mais necessidade de hospitalização psiquiátrica; 138% a mais de quadros depressivos; 60% a mais quadros de estresse pós-trauma; sete vezes mais tendências suicidas; 30 a 50% mais quadros de disfunção sexual.
do anteriormente, uma ou mais vezes. Isso demonstra a banalização da prática. El País comenta que o aborto é "percebido por muitos jovens como um método anticoncepcional de emergência, quando é uma intervenção agressiva que pode deixar sequelas Além disso, entre as mu- físicas e psicológicas". lheres que fizeram um aborto, Sobre as sequelas psicoló25% exigem acompanhamento gicas, já comentei acima. Sobre psiquiátrico em longo prazo. as físicas, há estudos que mosEm dezembro do ano pas- tram maior risco de doenças cirdoenças cérebrosado o British Journal of Psichi- culatórias, vasculares, complicações hepátiatry publicou pesquisas realizacas e câncer de mama. A gravidas na Nova Zelândia, que mosdez posterior também fica comtraram existir 30% mais problemas mentais em mulheres que prometida, com maior incidência de placenta prévia, parto premafizeram aborto induzido. turo, aborto espontâneo e esteriO coordenador do trabalho, lidade permanente. dr. David Fergusson, admite que A solução não está em faciera favorável ao aborto por livre litar o aborto, legalizando-o, escolha, mas que estava repenmas, pelo contrário, em inibi-lo. sando a sua posição em função Manter a legislação vigente, acados resultados obtidos. bar com a impunidade das clíniOutro dado preocupante é cas e da venda clandestina de que a legalização acaba por au- abortivos e, principalmente, famentar significativamente o nú- zer um trabalho educativo de vamero de abortos. A Espanha lorização da vida. É nesse contraz-nos um exemplo expressivo. texto que se situa o projeto culEm 2008, o editorial do tura, cidadania e vida, que aconjornal El País comentou que há teceu em Brasília de 27 a 30 desna Espanha "demasiados abor- te mês, encerrando-se com a 3ª tos". Entre 1997 e 2007, o núme- Marcha da Cidadania pela Vida. ro de abortos mais que dobrou. Uma marcha alegre, que se enEntre 2006 e 2007, houve incre- cerrou com show de Elba Ramamento de 10%. Além disso, uma lho, mostrando que a vida "é boem cada três mulheres que abor- nita, é bonita e é bonita taram em 2007 já haviam abortaOutubro 2011 / In Guardia 19
Idade Média com Rafael Diehl
O que é a Idade Média? Por Rafael de Mesquita Diehl Revisão de Heloísa Gusmão Quando nos referimos à época que vivemos é comum denominarmos de “época contemporânea” ou mesmo “tempos modernos”, especialmente em se tratando de uma linguagem mais coloquial, comum. Quando falamos em “Idade Média” estamos a nos referir basicamente ao período entre a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e a queda do Império Romano do Oriente ou Império Bizantino (1453). Contudo, naquela época, não se usava a expressão “época medieval” para se chamar o período em que aquelas pessoas viviam. Frequentemente se usavam termos como “os últimos tempos”, movido pela expectativa do Fim dos Tempos, especialmente se pensarmos em momentos críticos como a aproximação do ano 1000 ou as diversas calamidades no seio da Europa cristã no século XIV. Mas outra expressão bastante utilizada era a de “moderno”. Assim, por exemplo, nos séculos XII e XIII se chamava o nascente estilo arquitetônico gótico de “estilo moderno”, por exemplo. A palavra “Idade Média” é, portanto, uma denominação dada posterior-
Pertence à essência da História que a atitude do Homem perante a vida sofra variações, que alguns valores ressaltem com mais claridade numa época do que em outra, enquanto outros recebem menos atenção do que antes. Além disso, num determinado período ganham mais força certos perigos que em outros momentos eram insignificantes. Contudo, mesmo que seja importante reconhecer esse ritmo próprio da natureza da História e do Homem, seria totalmente equivocado conferir a algumas épocas um significado arbitrário no que se refere a certos problemas humanos básicos. Em comparação com o que permanece inalterado, o que muda é secundário. Uma forma peculiar de arrogância ingênua é crer que a época em que se vive é completamente diferente de todas as anteriores e que os problemas do passado já não existem.[...] Embora não se diga isso abertamente, tende-se a admitir como certo que qualquer mudança representa algum tipo de progresso. (Dietrich von Hildebrand, Filósofo, 1889-1977) mente ao próprio período medie- am elementos sociais, políticos, val. Mas afinal, o que é Idade econômicos, etc., que permita enxergar num determinado períMédia? odo de tempo certa unidade. Mas É comum nas diversas áreas de conhecimento se estabe- a História não se desvincula da lecer classificações e nomencla- Geografia e nesse sentido, a questão espacial é igualmente turas dos objetos de estudo, a importante. Nestas classificafim de facilitar e sistematizar ções, deve-se levar em conta melhor o mesmo estudo. Na biologia, por exemplo, há uma clas- também um determinado espaço sificação dos seres vivos em fa- onde em determinado período haja aspectos que permitam a mília, gênero, espécie, etc. Em História, costumamos classificar localização de uma “unidade”. o tempo em períodos que possu-
A alegria medieval.
Mas a História não é parada, bem sabemos que as coisas estão em contínua transformação. E esse aspecto não deve ser esquecido, sob o risco de passarmos a enxergar cada período histórico como um “bloco monolítico”, estático. Voltaremos a esse aspecto posteriormente. Geralmente nessas classificações gerais, estabelecem-se também alguns “marcos”, nos quais poderíamos observar a passagem de uma era para a outra. Assim, por exemplo, a historiografia tradicional identifica a Revolução Francesa de 1789 como um marco da passagem da Idade Moderna, onde vigoravam os regimes políticos absolutistas na Europa, para a Idade Contemporânea, onde predominariam os regimes liberais. Outubro 2011 / In Guardia 20
Idade Média com Rafael Diehl Como podemos notar, essas classificações estão mais relacionadas à História do Ocidente, em particular, da Europa. Isso se explica pelo fato de a historiografia ocidental ter florescido bastante a partir do século XIX e se disseminado pelo mundo, além de o fato de nosso país estar inserido em um contexto de formação sócio-cultural de tradição e influência majoritariamente européia. Interessa-nos isto para salientar que a classificação e o termo “Idade Média” são pertinentes ao uso da História ocidental e, em partes, para o mundo mediterrânico. Por isso, quando falamos em “História Medieval” estamos nos restringindo, na maior parte, à Cristandade Ocidental, no que hoje chamamos de Europa. Embora não se use mais com esse sentido, o termo “Idade Média” foi inicialmente um termo pejorativo. Os homens do Renascimento (séculos XVXVI) usavam essa palavra para designar o período entre a Antiguidade Clássica e a época em que viviam. Dessa forma compreendemos a intenção pejorativa de classificar esse período “mediano”, “do meio”, eclipsado por duas épocas que se criam então gloriosas e prósperas. Depois, veio o preconceito dos pensadores iluministas que criam ser a Idade Média um período de obscurantismo, superstição, barbárie, pelo fato de a Igreja ter possuído bastante influência na sociedade medieval, ao passo de que os Iluministas se posicionavam contrários à instituição eclesiástica. No ambiente europeu do século XIX, ao passo que alguns pensadores racionalistas cultivavam uma ideia pejorativa da Idade Média, os românticos cultivaram uma visão idealizada do pe-
A arte em vitrais da Idade Média.
A medicina na Idade média.
ríodo. Já com o advento do pensamento marxista, de caráter materialista, a visão pejorativa do período medieval se potencializa: a Idade Média passa a ser vista como um período de alienação, em que a Igreja “impedia os pensamentos” e na qual a sociedade era dominada por um “opressor sistema”, o feudalismo. O senso comum herdou em grau distinto algumas dessas concepções: hoje em dia frequentemente se tem uma visão idealizada da Idade Média, baseada nos contos de fadas e no imaginário construído pelo cinema; ou é vista como um período de alienação, em que as pessoas eram controladas e exploradas pela Igreja e pela Nobreza. Esse segundo ponto nos interessa mais: é comum vermos pessoas utilizan-
do a expressão “medieval” como sinônimo de “atrasado”... Basta pensarmos nas expressões “fulano tem uma mentalidade medieval” ou “ainda usam-se métodos medievais”. Quando se trata da Igreja, essas expressões adquirem um sabor especialmente ácido e pejorativo nos meios anticlericais.
A Arte Gótica Quase no final da Idade Média, por volta do século XII .
Outubro 2011 / In Guardia 21
Idade Média com Rafael Diehl cam melhor as transformações pela qual a sociedade cristã ocidental passou do século V ao século XV. Desta forma, o período em que se formam as monarquias romano-bárbaras, pelos povos bárbaros migrados para o desintegrado Império Romano deA universidade de Paris, criada pela Igreja na Idade Média. nominou-se Existe, pois, uma profunda “Antiguidade Tardia” (séculos ligação entre a visão pejorativa V-VII); o período de surgimento do período medieval e os pensa- da dinastia carolíngia no reino mentos contrários à Igreja Cató- dos francos, do ressurgimento de lica. Nisso, podemos ver já um uma instituição imperial no Ocielemento importante para a clas- dente (O Sacro Império Romano, sificação do período medieval: a primeiro com a dinastia carolíninfluência da Igreja na socieda- gia e depois com a dinastia otôde. Isso se deve ao fato de a I- nida), do desenvolvimento da greja ter preservado elementos aristocracia rural, denominou-se da cultura romana e ser vista co- “Alta Idade Média” (séculos VImo uma herdeira dessa tradição II-X); o período de formação dos cultural. Outros elementos im- reinos feudo-fassálicos, de matuportantes para a classificação são ração do sistema senhorial e feuas relações feudais entre os no- dal, das Cruzadas, do renascibres e o senhorialismo exercido mento do Direito Romano e da pela Nobreza no meio rural. estruturação do Direito CanôniContudo, diversamente da inter- co, do reflorescimento do meio pretação reducionista dos mar- urbano, do surgimento das unixistas, desde o século passado os versidades passou-se chamar de historiadores têm revisto a clas- “Idade Média Plena” (séculos sificação da Idade Média em vá- XI-XIII); por fim, a época caracrios “sub-períodos” que expli- terizada por uma crise do feudalismo e das instituições nobiliárquicas, do fortalecimento e centralização do poder régio, e de crise nas instituições eclesiásticas passou a denominar-se “Baixa Idade Média” (séculos XIV-XV). Essa é a classificação mais utilizada atualmente pelos historiadores, sendo que os medievalistas têm se ocupado geralmente do estudo a partir da Idade Média, enquanto os historiadores de História Antiga têm assumido em maior parte o estudo da Antiguidade Tardia. Naturalmente, o papel da Igreja nessas transformações é significativo, haja vista que os reinos bárbaros foram paulatinamente se convertendo ao cristianismo, que o Papado atuou no surgimento do Sacro Império Romano, e a Igreja influiu na instituição da cavalaria, na regulamentação social, na A espada,´grande símbolo do Medievo. Numa fundação das universidades, etc. época em que o desaparecimento da espada Contudo, por essa breve apresencomo arma chega ao seu auge, como símbolo tação desta mais recente classifiela ainda é tal, que não se compreende um cação, podemos notar que a Idaoficial sem a sua espada.
de Média não é um período estagnado, mas de intenso dinamismo e transformações. Naturalmente, não devemos esquecer que as transformações culturais, políticas, sociais, econômicas, etc. não ocorrem nos mesmos ritmos. Por fim, cumpre ficar claro que embora por convenção se continue a utilizar a expressão “Idade Média”, a historiografia não a utiliza mais no sentido pejorativo que a originou, uma vez que os historiadores têm cada vez mais compreendido a importância de se analisar cada época dentro de seu contexto e não com a anacrônica pretensão de a julgar com parâmetros posteriores.
Não é grandioso o elmo, esse claustro ambulante dentro do qual não se fala, mas sob o qual um coração pulsa forte?
SAIBA MAIS: LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru: EDUSC, 2005. PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média – Textos e Testemunhas. São Paulo: Editora da UNESP, 2000. PERNOUD, Régine. Luz sobre a Idade Média. Publicações Europa-América, 1997.
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Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer.
A segregação não interfere no progresso intelectual do aluno . Pela quarta vez consecutiva, o colégio fluminense São Bento conquistou o primeiro lugar no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A prova é aplicada pelo Ministério da Educação com o intuito de avaliar o desempenho de estudantes da rede pública e privada em todo o país, bem como, por esta avaliação, ajudar os estudantes a ingressarem em faculdades por meio de bolsas de estudos, também estas criadas pelo Governo Federal. Contudo, o colégio foi alvo de críticas. A professora da Universidade de São Paulo (USP) Cláudia Vianna, especialista em gênero e educação, afirmou que "não é possível desenvolver a personalidade integral do aluno onde há segregação". Pensamento como este também se aplica ao defender a nãoaplicação do método “Homescholling” (ensino do-
A segregação não interfere no progresso intelectual do aluno; antes, auxilia. E o Colégio São Bento provou isto no ENEM. méstico) em que os pais dedicam-se em educar os filhos, ensinando-lhes as disciplinas próprias em um ensino regular, só que em casa. Ou seja: os pais passam a ser os professores e ensinam aos filhos conforme suas próprias ideologias e concepções sobre as disciplinas. Discordo em muito da afirmação da professora Vianna por um motivo muito simples: sua afirmação é falaciosa! Em entrevista à Revista Exame (veja aqui: http:// exame.abril.com.br/ economia/brasil/ noticias/primeiro-
Homeschooling seria essa uma opção válida?
colocado-do-enem-remete-aoseculo-19-diz-professora-dausp), Vianna alegou: “É muito complicado dizer que a segregação garante qualidade. Vivemos num mundo misto que aliás, mostra que as meninas têm mais sucesso que os meninos. Que desenvolvimento é esse que só dá certo quando eu separo? Qual a mensagem que você passa? Como se propõe a prepará-los para o mundo que é misto? Que principio é esse que não trabalha com o heterogêneo?", questionou. Avaliando estas afirmações, nota-se que a professora Vianna não é clara com o que diz. Ou – pior! – não leu a própria entrevista que deu. O Colégio São Bento está, pela quarta vez consecutiva, em primeiro lugar no resultado do ENEM. A metodologia do colégio não está embasada no Anarquismo, no Positivismo, nas ideologias Freirianas ou Boffianas; ao contrário: o colégio baseia-se numa educação católica, onde a qualidade não está na interação entre meninos e meninas, mas sim, em que o menino seja formado em sua integralidade. É até injusto ver a professora dizer que a metodologia é do século XIX, haja vista a educação em que meninos e meninas interagem é “recente”. Se você questionar os seus pais – ou, talvez, os seus avós – se surpreenderão ao ver que muitos deles estudaram em escolas cujas metodologias eram de alunos separados conforme o gênero. A qualidade ou adequação ao mundo misto ficou prejudicada por isso? Você, conhecendo seus pais e avós, comunOutubro 2011 / In Guardia 23
Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer. garia da afirmação da professora Vianna? Minha mãe estudou nesta metodologia e não teve nenhum problema em socializar-se com meninos, muito menos ficou prejudicada em sua feminilidade. Minha irmã estudou em um colégio de freiras no final do século XX e também não obteve problema algum de interação ou formação integral. Pensar que a segregação impede a qualidade é o mesmo que dizer que meninos e meninas dependem um dos outros para aprenderem. Ora, isso não é verdade, afinal, meninos e meninas criam seus primeiros referenciais em casa: pai, mãe, avó, tio, irmãos... logo, ela não precisa necessariamente da escola para socializar-se. Ao contrário: indo à escola, a criança leva consigo sua noção de socialização, vivida primeiramente em casa. A professora cita que neste mundo misto em que vivemos, as meninas têm mais sucesso que os meninos. Fica vaga esta afirmação, já que a professora não mostra em qual contexto ela se aplica. Quais são as pesquisas que afirmam ou teorizam esta ‘verdade’? Contrapondo o argumento da professora da USP, a Universidade de Otago comparou o desempenho escolar de mais de 900 meninos e meninas no ensino médio de escolas mistas e separadas na Nova Zelândia http:// (ver aqui: www.ogalileo.com.br/noticias/ nacional/meninos-tem-notamelhor-se-nao-estudam-commeninas-mostra-pesquisa). Conforme a pesquisa, quando os alunos estudam em uma escola em que todos os alunos possuem o
mesmo gênero, as chances de competirem justamente são maiores. E por quê? Porque os meninos tendem, principalmente na adolescência – graças aos hormônios! – a não se concentrarem nas aulas, perdendo o tempo ‘analisando’ as colegas de classe. Quando estão em uma sala onde só há meninos, conseguem concentrar-se melhor nos estudos. Se levarmos em conta o que Vianna propõe, o sucesso das meninas de hoje não está em sua capacidade intelectual, mas pela
efervescência
masculina.
Seria isso justo? Observando o que propõe a pesquisa da Universidade de Otago, separando dá-se aos alunos de ambos os sexos o privilégio e a oportunidade de um aprendizado
mais
concentrado nas
discipli-
nas,
no
co-
nhecimento; a escola
e
professores conseguem
os
preparar devidamente seus alunos, seja na formação humana quanto na profissional e intelectual. A mensagem que se passa é a de que o aluno entende que lá ele está para aprender e não para namorar, sabotar ou exibir-se. Falaciosa também é a afirmação de Vianna que o colégio São Bento prima tão somente pela heterogeneidade. Na própria entrevista a coordenadora do mesmo (ou seja, uma mulher!) menciona sobre os benefícios de uma educação segregada. O colégio também conta com algumas professoras. Isso não é convívio com o universo feminino? O que talvez falte à professora da USP é compreender o que a Universidade de Otago já o fez: a segregação auxilia no processo de ensinoaprendizagem. Ganham todos: meninos, meninas, professores (as), sociedade. Ponto a mais para a Igreja Católica, que com tanta eloquência vem há séculos lutando por uma educação de qualidade. Qualidade esta que não se aplica em teorias modernas, mas sem consistência. Antes, sua metodologia é a formação do ser humano em sua tridimensionalidade. Esta sim é uma metodologia que ultrapassa qualquer teoria pautada em revolução. Outubro 2011 / In Guardia 24
Aspectos do matrimônio com Karen Mortean
Fazer nascer. Uma das maiores razões pelas quais nascemos. Já não é de hoje que casais se dão em matrimônio e tendem a deixar a vinda dos filhos para um segundo momento. Me parece, contudo, que a cada dia que passa, essa falta de prioridade para com a formação de uma família vai se agravando, haja visto a constante diminuição da taxa de fertilidade da população brasileira. Na realidade, todos estão cheios de bons motivos para seguirem a tendência dominante. Estão no aguardo da estabilidade financeira, da conquista da casa própria, do término de um mestrado, de um doutorado, reservando capital para aquela viagem até a Europa, e lógico, curtindo o tão sonhado da nossa espécie: “ Deus criou o homem à sua imagem e o criou casamento. homem e mulher; abençoou-os Esse comportamento tamdizendo-lhes: Procriai e multibém acompanha um outro muito plicai-vos e enchei a terra” (Gên comum, a maternidade/ Que dignidade tem o nos1,27). paternidade tardia; mulheres e so corpo e a nossa vocação mahomens que escolheram deliberadamente serem pais depois dos trimonial! 35 anos. É sabido contudo, que após os 35 anos de idade, a fertilidade feminina caí drasticamente, e por conseguinte, a fertilidade do próprio casal. Para esse comportamento, fica a pergunta: se optaram por terem filhos tardiamente, como darão a Deus uma família numerosa? Deus nos fez assim, férteis. Criou a faculdade sexual humana, planejou órgãos genitais, atração sexual, ato sexual e a geração dos filhos. E apesar de Ser poderoso o suficiente para tirar novos humanos das pedras, desejou que homem e mulher através do amor e da entrega mútua sexual (o que inclui toda sua capacidade reprodutiva) cooperassem decididamente com o seu poder criador na continuação
Ao longo das últimas décadas ideologias como o feminismo, o hedonismo e a cultura contraceptiva, foram aos poucos, desviando muitos católicos da verdade de Cristo e dos ensinamentos da Santa Igreja, minando nos casamentos cristãos o medo de dar a Deus uma família numerosa. O Catecismo da Igreja Católica recorda que “a Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da benção divina e da generosidade dos pais (cf. Gaudium et
spes 50,2)” (n. 2373). “Bemaventurados os que têm muitos filhos! Não serão confundidos” (Sl 126,4-5), Embora saibamos que uma das finalidades do ato conjugal seja a união entre os esposos, também sabemos que a capacidade geradora da vida – elemento constitutivo da faculdade sexual - não pode jamais ser posta de lado sem que existam motivos graves. A vocação matrimonial nunca pode ser compreendida como uma mera legitimação para a união sexual, mesmo se
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Aspectos do matrimônio com Karen Mortean se utiliza meios naturais para não receber possíveis filhos. Um casal pode desejar evitar a vinda de filhos numa determinada fase de seu casamento, mas sabendo que essa não é a regra cristã e que para tal, devem estar seguros de que esse desejo não provém do mero egoísmo. Para isso há que se verificar sempre a existência de motivos graves e objetivos que são as razões de ordem médica, psicológica, econômica ou social (Humanae Vitae, 16). As razões médicas se reduzem a duas: perigo real e certo de que uma nova gestação coloque em risco a saúde materna e o perigo real e certo da transmissão de doenças hereditárias aos filhos. As razões psicológicas estão focadas em estados profundos de angústia, depressão, ansiedade patológicas da mãe, diante da possibilidade de uma nova gestação. As razões econômicas e sociais dizem respeito a situações de séria dificuldade em arcar com a carga econômica de um novo filho, razões que devem ser criteriosamente e retamente avaliadas para não favorecer o egoísmo, o comodismo, a mentalidade consumista (que por exemplo, só deseja um número reduzido de filhos para poder dar a eles viagens a Disney de tempos em tempos). Os antigos filósofos da escola platônica diziam que o homem é um ser in fieri, um ser que se forma, que não está nunca, por assim dizer, acabado,
Um casal pode desejar evitar a vinda de filhos numa determinada fase de seu casamento, mas sabendo que essa não é a regra cristã e que para tal, devem estar seguros de que esse desejo não provém do mero egoísmo. Para isso há que se verificar sempre a existência de motivos graves e objetivos que são as razões de ordem médica, psicológica, econômica ou social (Humanae Vitae, 16). (...) entre os cônjuges, que assim cumprem a missão que lhes foi confiada por Deus, são dignos de menção muito especial os que, de comum acordo e refletidamente, se decidem com magnanimidade a aceitar e a educar dignamente uma prole numerosa" (Const. past. Gaudium et Spes, no 50). mas que deve lutar para chegar a sua plena potencialidade. Se os cristãos estão chamados a se tornarem perfeitos como o Pai é perfeito, os vocacionados ao matrimônio estão particularmente desafiados a não desanimarem frente as dificuldades de se abrirem a vinda de novos filhos na terra, sabendo que nesta divina missão que receberam se encontram também a graça e a paz reservadas àqueles que almejam altos e nobres ideais pela causa
do Reino de Deus : "entre os cônjuges, que assim cumprem a missão que lhes foi confiada por Deus, são dignos de menção muito especial os que, de comum acordo e refletidamente, se decidem com magnanimidade a aceitar e a educar dignamente uma prole numerosa" (Const. past. Gaudium et Spes, no 50).
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Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos
Entrevista:
Francisco Borba, biólogo e professor da PUC-SP O entrevistado é o professor Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador de projetos do Núcleo de Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e um dos organizadores do recém-lançado Um diálogo latino-americano: bioética & documento de Aparecida. Biólogo e sociólogo, com doutorado em Oceanografia, a sua resposta mais extensa vai praticamente ao centro de uma das questões que mais nos interessa: como a religião pode colaborar com a ciên- tindo do documento de Aparecicia, e por que essa colaboração é da, que é o texto mais recente da Igreja Católica na América Latinecessária. na; por isso, do ponto de vista ________________ católico, é o ponto de partida mais adequado para nossa refleQual é a proposta do livro, e xão. Em relação à bioética, o dopor que usar o documento de cumento não chega a trazer Aparecida? grandes novidades: ele reafirma a posição católica de defesa da Nosso objetivo é fazer uma pon- vida, dizendo "não" ao aborto e te entre ciência e religião usando à eutanásia, mas é importante a discussão sobre bioética par- mostrar que não se trata de uma
"Uma ética baseada apenas na ciência seria vã"
posição negativa. Os "nãos" são a consequência lógica de um "sim" maior, dado à vida, à beleza e ao amor. É uma postura de acolhida em relação às pessoas que estariam tentadas a uma opção pela morte. A peculiaridade do texto aprovado pelos bispos é que o documento mantém a opção pelos pobres – não se pode falar em bioética na América Latina sem pensar na situação de desigualdade e exclusão social, unida à discussão sobre a crise de sentido trazida pela pósmodernidade. Há diferenças sobre como a Igreja trata as questões de bioética na América Latina, na Europa ou na América do Norte? Não há diferenças na forma de engajamento. O que existe de específico na América Latina é uma situação de pobreza extremamente desafiadora. O bispo, num contexto local, se sente muito mais chamado a dar uma resposta que não apenas defenda a vida, mas também responda às dificuldades que as pessoas enfrentam por causa de sua situação social. Qual é sua avaliação sobre a ação da Igreja nos temas de bioética?
Borba explica que a ciência e a técnica, que perguntam o "como?", precisam dialogar com a Filosofia e a Teologia, que perguntam o "por quê?". Foto de Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
A Igreja no Brasil é muito ativa nos temas polêmicos, mas a mídia criou uma imagem muito reducionista da Igreja nesse aspecto. A participação da CNBB em audiências no Legislativo ou no Judiciário aparece mais que as ações concretas em prol das pessoas. Quem lê jornal fica com a impressão de que a Igreja só sabe condenar as pessoas, mas no dia a dia a grande ação da Igreja se dá, por exemplo, na experiência de acolhida a mães que conOutubro 2011 / In Guardia 27
Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos fizeram a ele uma pergunta sobre o aborto no México. Bento XVI deu uma resposta muito interessante: a questão do aborto, seja por que motivo for, sempre é uma questão de perda da esperança e da capacidade de ver a beleza da vida. Então, defender a vida significa ser capaz de retomar essa beleza e dar às pessoas uma esperança, um rumo. A atuação da Igreja é muito mais centrada, na verdade, na observação de experiências positivas de recuperar essa beleza e essa esperança. Muita gente pensa que Ratzinger se move usando princípios abstratos para censurar condutas, mas na verdade o que ele faz é o contrário: ele se baseia em experiências positivas da Igreja para propor condutas. Ele é muito mais propositivo que negativo. Se a Igreja defende a vida é porque ela vê continuamente experiências em que as pessoas se reaA conferência de Aparecida, em 2007, foi lizam muito mais tendo o filho aberta por Bento XVI. ou convivendo com o idoso do sideraram o aborto por julgarem que matando o nascituro ou o não serem capazes de criar o fi- doente. lho, mas com a ajuda da Igreja Qual a legitimidade da religião enfrentaram esse desafio e são – qualquer uma, não apenas a felizes com a criança. Em São católica – para dizer o que se Paulo temos, por exemplo, pode e o que não se pode fazer o Amparo Maternal, destinado em termos de experimentos justamente para essas mães. científicos? Mais que a discussão sobre a eutanásia, a atividade da Igreja está "Legitimidade da religião" não é na conscientização junto às fa- o melhor termo, pois para mim mílias para que aceitem seus ido- ele reflete um vício do modo de sos, seus pacientes graves, aju- pensar atual. A questão não e a dando-os a encontrar um sentido legitimidade da religião, da ciênpara continuarem vivos. Mas es- cia, da filosofia ou da política. se tipo de atuação silenciosa, que Eu prefiro falar em "legitimidade é a mais extensa, fica perdida. das ideias", seja quais forem. As Quando o Papa veio ao Brasil, ideias se definem pelo que têm
de verdadeiro e adequado à realidade, e não por quem falou primeiro. Mas as ideias sobre bioética, de modo geral, padecem de um grande problema que chamo de "tecnicismo", a noção de que a solução técnica resolve todos os problemas e de que o fato de termos a técnica para fazer algo tornaria esse algo permitido, lícito, bom ou recomendável. Suponha que um engenheiro de Fórmula 1 fizesse o carro perfeito, o mais rápido do mundo, e concluísse que não precisaria de um bom piloto – afinal, se o carro é perfeito, o próprio engenheiro poderia dirigir e venceria qualquer corrida. Na primeira curva ele estaria no muro. A técnica em si, por mais aprimorada que seja, não resolve os problemas. Ela tem de ser utilizada com sabedoria. O problema da ciência é que ela não é um conhecimento destinado a gerar sabedoria. A ciência pergunta como as coisas funcionam ou como podem ser modificadas ou utilizadas, mas não pergunta por que ou para que as coisas existem. No entanto, quando tenho de tomar uma decisão humana, não interessa em que campo, essa decisão envolve os porquês.O que eu desejo com isso? Como isso me realiza? As informações dadas pela ciência podem ajudar a responder as perguntas, mas não são a resposta. Historicamente, quem responde melhor esse tipo de pergunta são as religiões. Elas permitem que o homem comum, o que não tem tempo ou capacidade para discutir as grandes questões metafísicas, possa to-
Papa Bento XVI: defesa do aborto "trai ideais democráticos".
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Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos mar decisões que respondam a essas questões. É a contribuição que a religião trouxe ao mundo. Na encíclica Caritas in Veritate, Bento XVI diz que a ciência e a técnica não têm por finalidade responder as perguntas sobre o sentido da vida. Então, uma ética que nascesse pura e simplesmente da ciência seria totalmente vã. A ciência precisa dialogar com os campos do saber que se perguntam sobre o sentido: a Filosofia e a Teologia. Dessa discussão é que nasce realmente uma ética adequada. Mas, hoje, essa ética é contrária a muitos mecanismos de dominação na sociedade, então a forma de impedir que essa ética se organize é dizer "vamos deixar tudo na mão da ciência". Não é só a religião que está em xeque: a filosofia também está. Quase todo bom cientista faz questão de dizer que ele não quer dar regras de conduta para ninguém, apenas descrever a realidade como ela é, do modo mais fiel possível. É evidente que essa explicação e descrição nos ajudam a tomar decisões éticas, mas sozinhas elas não geram ética. Porém, a técnica gera, isso sim, pessoas dóceis à dominação, porque se vende a noção de que, se usarmos a técnica, não precisamos mais nos perguntar sobre o certo e o errado.
tencial, principalmente para os jovens. Assim acontecem episódios como o daquele casal norteamericano que recebeu o embrião congelado de outra família. Há quem ache que a ciência destruiu uma certa ética religiosa, mas não seria preciso colocar nenhuma outra no lugar, o que é complicado. Um argumento muito usado é o de que a Igreja está tentando impor suas convicções a um Estado laico... Essa crítica só é pertinente se considerarmos que, por muitos anos, a Igreja usou sua influência política para conseguir coisas
Na bioética, quais são os perigos do uso da técnica dissociado da reflexão ética? Eu vejo possibilidade de problemas no campo da relação do homem com sua sexualidade, porque a grande catástrofe já está dada: a mentalidade segundo a qual se eu posso tecnicamente fazer algo, eu estou automaticamente liberado para fazê-lo. Isso cria um grande problema exis-
na sociedade. Mas a própria Igreja viu que isso era contraproducente e abandonou essa prática. Então a crítica atinge um tipo de comportamento que não existe mais, e que nem a própria Igreja considera adequado para ela. Mas hoje se usa esse raciocínio para neutralizar a influência da Igreja no debate. Por que fazer isso, e por que as pessoas, mesmo católicas, acreditam nesse argumento? Porque a sociedade moderna se estruturou em torno de uma crença ilusória sobre a divisão entre público e privado. A sociedade moderna diz que, desde que nos comportemos segundo certas regras na arena pública, podemos fazer o que bem entendermos na esfera privada. Isso é falso porque é impossível pensar em uma liberdade que não coexista com a li-
berdade do outro, e porque assim se cria um isolamento artificial entre privado e público. Mas, na verdade, dentro de casa eu não posso ignorar o que acontece fora. Só que precisamos fingir que na esfera privada fazemos o que bem entendemos, enquanto as religiões se definem justamente por também dizer a nós o que fazer na nossa vida privada, e nos dar valores para tal. Quando a Igreja faz isso, ela fere esse mecanismo da sociedade atual e se torna incômoda. Vem a necessidade de o poder laico dizer que a Igreja está se metendo onde não é chamada. A sociedade não quer uma discussão sobre o que a realiza, e sim sobre como não atrapalhar o outro. Isso é empobrecedor. Bento XVI é muito consciente em relação ao papel da Igreja numa sociedade laica e plural – até mais consciente que muitos defensores do Estado laico. O Papa sabe muito bem que a Igreja não tem e não deve ter a autoridade política para determinar coisas na sociedade laica, mas ele também sabe que a Igreja traz a mensagem de uma tradição de 20 séculos, na qual a sociedade ocidental cresceu e se desenvolveu. A civilização ocidental é filha dessa tradição, goste-se ou não, e essa tradição tem algo a dizer. As pessoas não são obrigadas a concordar, mas não podem fazer de conta que essa herança não existe, sob pena de perder suas raízes. Nesse contexto, a Igreja tem sempre a função de propor a sua experiência, sabendo que essas proposições estão sujeitas ao debate racional no Estado democrático. O laicismo exacerbado dos nossos Outubro 2011 / In Guardia 29
Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos tempos se nega à possibilidade do diálogo racional. Se não existe essa possibilidade, caímos na censura, na postura de que a Igreja não tem o direito de se pronunciar sobre esse assunto, sem saber se o que ela tem a dizer é bom ou não. Ano passado a encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, que reafirmava a proibição à contracepção artificial, fez 40 anos. Na ocasião, um médico espanhol a classificou como"profética", em vista de estudos ligando tipos de câncer em mulheres ao uso da pílula. É possível fazer esse avaliação? Quanto à aids, o Papa causou furor com uma declaração em sua viagem à África...
Se olharmos com olhos de hoje a pertinência dos postulados da Humanae Vitae, vamos descobrir que praticamente todos esses postulados de alguma forma se confirmaram na vida social. A maioria dos métodos artificiais de contracepção mostrou efeitos colaterais muito grandes e perigosos, enquanto o método natural evoluiu e se tornou cada vez mais eficiente. A própria população mundial está mais sedenta por soluções naturais. Há uma desilusão com a solução técnica que se reflete na busca por todo tipo de terapias alternativas. E, particularmente, a epidemia de aids mostrou que o sexo casual, visto por muitos como o destino das relações afetivas, não deu certo. O problema, que não é da encíclica, foi que nessas quatro décadas a Igreja não soube falar da beleza e do amor, categorias importantes ao homem pós-moderno. Discutiu-se muito a moral e pouco o amor.
Ele disse que o uso do preservativo na África não é a solução. De fato, se existe um lugar no mundo onde a camisinha realmente não é a solução, esse lugar é a África. Em geral, trata-se de sociedades muito machistas, em que a mulher é vista como propriedade do homem – se ele tem aids, a mulher tem quase a obrigação de ter também. Além disso, o homem tem o "direito" de satisfazer sua sexualidade onde e quando quiser, com quem quiser. Ele se contamina com facilidade, e passa isso adiante para a esposa. Distribuir preservativos até pro-
tege da aids um homem não contaminado, mas é quase uma carta branca para ele continuar a ter o mesmo comportamento promíscuo. Ainda que todos usassem preservativo, o problema da aids estaria resolvido, mas não se teria avançado um milímetro na promoção da mulher. Só que nem todos usam, então a doença se espalha e a mulher continua desvalorizada. A Igreja não quer só o fim da epidemia, ela quer o respeito à mulher e à família. Em Uganda a epidemia começou a ser vencida com uma campanha que colocava a abstinência e a fidelidade em primeiro lugar. Não é à toa que o maior especialista em aids da universidade de Harvard, Edward Green, veio em defesa do Papa dizendo que ele tinha razão.
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Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino
Demos graças ao bom Deus. A próxima Jornada será no Brasil. Introdução. Demos graças ao Bom Deus, a próxima JMJ é no Brasil, no Rio de Janeiro. “Ão, Ão, Ão, no Rio tem feijão.” Esse foi um dos gritos levantados pelos brasileiros em comemoração. O sentimento é de imensa alegria, ainda que misturado com um pouco de apreensão. Apreensão essa que tem justificativa na grande responsabilidade de receber os jovens católicos depois de uma Jornada histórica em Madri. Contudo, é preciso dizer que não se passa por uma JMJ ileso. É impossível participar de uma comemoração cristã desta magnitude sem que se mude em nada. Sem que se pense em fazer algo de diferente na vida. Sem que se queira transformar as realidades à volta. As experiências que temos na vida participam daquilo que somos, portanto, é inegável que a visão de milhões de jovens professando a mesma fé não mexa com o modo como se vê a Igreja, com o modo como se enxerga a conduta como cristão, como o modo como vemos as pessoas a nossa volta.
los pais e mães que Deus nos concedeu. O amor entre eles foi a porta de entrada para esse mundo e para a missão que Deus tem para nós. Deus tem certamente um plano para cada um de nós. Ele nos conhece. Tem nosso nome gravado na palma de sua mão. “Chama-nos pelo nome e antes de sermos gerados nos ventres de nossas mães Ele já nos conhecia.”(Jr. 1,5) Participar da JMJ foi um chamado. Uma vocação antes mesmo do ventre da minha mãe. Um convite que Deus fez no íntimo do meu coração. E espero que você também esteja disposto e atento a voz de Deus na sua vida. Agora, todas as dificuldades parecem tão pequenas quando comparadas com tudo que Deus tem feito.
Os sacramentos são os sinais visíveis (palavras e ações), acessíveis à nossa humanidade atual. Realizam eficazmente a graça que significam em virtude da ação de Cristo e pelo poder do Espírito Santo. (CIC.1084). No sacramento do matrimônio, um homem e uma mulher se unem. Onde, agora, entre ele e ela o elo é Ele. Por isso, não posso deixar de citar meus pais, e assim quero também fazer uma reComo quitar com Deus a verência a todos os pais e mães dos meus amigos de peregrina- graça de ver os jovens da Igreja ção. Bendigamos ao Senhor pe- Católica fazendo dos túneis do
metro de Madri a maior e mais alegre Catedral, a ponto de converter ateus apenas com o exemplo e a atitude? Vivendo a alegria fizeram com que os descrentes se perguntassem: “Qual é a razão da alegria desses jovens? O que os fazem cantar juntos, sendo de países, línguas e culturas diferentes? Por que se vestem com a mesma camisa, mesma mochila? Por que compartilham da mesma comida?” Para aqueles que perguntaram de coração aberto, Deus já no interior de suas consciências, deve ter se encarregado de responder: “Sou Eu! Esses jovens cantam em meu Nome. Eles cantam juntos porque em meu nome são chamados de filhos, e é totalmente racional que façam tudo juntos, pois sentem parte de uma mesma família. Por isso se querem bem e se amam como irmãos.” Outubro 2011 / In Guardia 31
Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino Como ter um encontro pessoal cadeiras, os abraços e as amizacom Deus em um evento tão des feitas são evidencias de uma fé partilhada e que enraizada e grande com a JMJ? edificada em Cristo se firma em É muito difícil manter a concentração diante de uma ex- uma Igreja universal.
da JMJ. Trocamos presentes com coreanos, espanhóis, italianos, venezuelanos, indus, americanos, chineses, poloneses e outros. Isso porque é uma prática de todas as jornadas a troca de presentes entre os participantes. Nos dias de JMJ duas das palavras mais ouvidas em espanhol era: “cambio regalos” ou em bom português troco presentes. Em “Cuatro Vientos” local da vigília e da última celebração do evento os peregrinos já estavam incontidos para trocar o máximo de presentes para levar de recordação. A jornada traz consigo um legado cosmopolita. É sem dúvida uma experiência que amplia horizontes. Lugares
Como manter o foco em um evento desse tamanho? periência tão grande. Uma experiência que envolvem nosso coração e mente em uma miríade de sentimentos, imagens e vozes. “O Senhor disse-lhe: Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor” (1Reis 19,11) Como permanecer diante do Senhor? Ou melhor, onde está o monte onde se dará o encontro com o Senhor? É lógico, a Eucaristia e a Palavra são pontos de encontro com Deus. “[...] E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se a entrada da gruta.” (1Reis 19, 12b) O silêncio entre nós jovens nem sempre é fácil. Contudo é no silêncio de nossas mentes e coração o monte onde Deus nos fala, como falou a Elias.
É muito interessante ver que depois da jornada mundial da juventude meu facebook tem membros de diversos continentes e países.
Segovia será, até mais que Madri, inesquecível. Um ambiente que espero poder um dia regressar, lógico sem a beleza de uma JMJ, mas espero poder um dia voltar e recorda no lugares onde estivesse e onde santo Antonio Maria Claret e são João da Cruz tiveram como eu uma grande experiência com Deus.
Conheci o Mundo em 11 dias.
É muito interessante ver que depois da jornada mundial da juventude meu facebook tem membros de diversos continentes e países. Conversar com lituanos, espanhóis, portugueses Em Família Claretiana com a intimidade de amigo é no tivemos a graça da oportunidade mínimo algo inimaginável antes de um primeiro contato com a Frágua (Ferramenta de espiritualidade Claretiana), que nos foi apresentada nos dias em que estivemos reunidos em família claretiana, com membros do mundo inteiro. Outro ponto de encontro com Cristo é sem dúvida na relação com o outro, como disse o Papa Bento XVI: “Não se pode viver a fé sozinho.” As canções, As várias bandeiras e a diversidade cultural as orações, as conversas, as brinda JMJ 2011.
La Granja, morada de reis e rainhas, mas sobretudo, lugar onde Deus concedeu o milagre da conservação das Espécies do peito de santo Antonio Maria Claret, e que por isso tem grande apelo no coração dos claretianos.
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Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino jovem lembrar-se da existência de Deus. Como brasileiro e, agora, membro da juventude claretiana me sinto chamado a me preparar a receber o mundo no ano de 2013. A oração, permanecer na eucaristia e a vivência comunitária serão os pontos de ajuda nessa preparação.
Juventude Claretiana na Pré-Jornada
Gostaria de, também, falar mais especificamente do projeto da família claretiana do Brasil, que pretende com a intercessão do Imaculado Coração de Maria receber com alegria os claretianos do mundo em 2013. Paróquias, comunidades, seminários e de forma geral todos os que se relacionam com os missionários Filhos do Coração de Maria sintam o chamado a dar sua parcela de contribuição a esse projeto. Próxima edição:
Madrid, cidade de tantos deslumbres. É engraçado sair de tão longe para descobrir que a pessoa que se quer está em Goiânia. Em Madri imerso a tantas possibilidades encontrar a saudade de uma pessoa que ficou em Goiás, e que ao mesmo tem permaneceu comigo em intenções e pensamentos. Cidade em que eu tive uma experiência Eucarística muito forte, como nunca tinha experimentado.
que falam muito forte em mim. A jornada mundial da juventude me ensinou, por meio dos jovens, que a melhor resposta é o exemplo. É o evangelho que se pode viver nas atitudes diárias e
E agora o quê? O Papa em seus discursos se preocupou em tentar ajudar os jovens peregrinos a responder as perguntas que inevitavelmente lhes serão feitas após a visita a Madri. O Papa perguntou: “O que irá dizer aos que ficaram? Que resposta dará?” Perguntas
nos diferentes ambientes em que estou inserido. Contudo, além do evangelho vivido no cotidiano faz-se necessário ações que façam o
Na próxima edição gostaria de contar com a sua leitura, onde quero contribuir para a sua presença na JMJ do Rio. Terei, também o compromisso de aproximar todos os interessados a fazer parte do projeto da juventude claretiana. Acessem os vídeos da Família Claretiana no YOUTUBE. Até a próxima. “Senhor que eu te conheça e te faça conhecido” santo Antonio Maria Claret. Por: Pedro Brasilino Peres Netto
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Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale.
Prosperidade de Quem? Outubro 2011 / In Guardia 34
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale.
Não servem a Cristo “Porque estes tais não servem a Cristo, Nosso Senhor, mas ao próprio ventre, e com palavras melífluas e lisonjeiras seduzem os corações dos inocentes”. (Rm 16,18). Concordo plenamente com o Presidente da União dos Ministros Batistas Independentes – UMBI, pastor Jackson Jean Silva em afirmar: “Observando o universo evangélico brasileiro atual, não consigo encontrar uma expressão que melhor o caracterize, do que esta: Tempos de Confusão! Infelizmente não existe palavra que possa retratar de maneira mais adequadamente a triste e deprimente realidade evangélica da atualidade. A verdade é que a idéia bíblica de culto tem se esvaído e muito do que temos visto hoje sob o pretexto de culto, não o é. São shows, espetáculos de gente famosa, exaltação de homens. São feitos muitos sacrifícios para ver os “famosos” e nenhum sacrifícios para servir a Deus” (1). Realmente, estamos vivendo o auge da idolatria do culto à personalidade, do capitalismo religioso, da demolição da ética e da moral cristã é o último capítulo das heresias contra a verdade das doutrinas da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério Eclesiástico. “Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente etiquetado como fundamentalista. Enquanto que o relativismo, isto é, o fato de se deixar “aqui e ali por qualquer vento de doutrina”, aparece como o único comportamento à altura dos tempos atuais. Está se construindo uma ditadura do relativismo”, disse o Papa Bento XVI (2). O relativismo vem causando a destruição da dogmática cristã e a exaltação da liturgia antropocêntrica. A ditadura do relativismo ratifica a razia da teologia liberal
protestante e seus congêneres, co- sembleiano Ricardo Gondim (3). A teologia da prosperidade é a mo o humanismo secular. mais terrível heresia no meio proTEOLOGIA DA PROSPERItestante da era pós-moderna. DADE Sua prática materialista e capitalis“Na América Latina, principal- ta é blasfematória contra o Senhor mente no Brasil, a rápida expansão Deus. do pentecostalismo produziu um Na verdagrave desvio ético na compreensão de, essa do evangelho. Surgiu um novo teologia fenômeno religioso, mais comupode ser mente identificado como teologia chamada da prosperidade”, diz o pastor asde teologia de Mamom, devido à busca gananciosa de dinheiro e riquezas. Nada difere dos cultos às divindades pagãs antigas, como o comércio (Hermes ou Mercúrio), o prazer (Dionísio ou Baco), a glória e a fama (Zeus ou Júpiter), assim faziam os antigos idólatras. A teologia de Mamom, têm causado grandes escândalos no arraial neopentecostal. Verdadeiros cristãos sofrem críticas e passam por situações delicadas diante da opinião pública por causa dos vexames dos líderes neopentecostais que vivem como Faraós e na “mais valia do pensamento econômico marxista”.
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Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale. “A única força que poderia voltarse contra o deus do mercado seria a religião. E a religião deixou-se contaminar. Essa resistência hoje foi minada principalmente por um grupo chamado neopentecostal, representado no Brasil entre outras, pela Igreja Universal do Reino de Deus”, afirma Ricardo Bitun, professor de Sociologia Jurídica e Sociologia da religião na Universidade Mackenzie –São Paulo. Para o professor Bitun: “A grande utopia cristã é que haverá novos céus e uma nova terra. Essas igrejas chamaram essa utopia aqui para a terra. Por que esperar pela chegada do grande reino, pela segunda vinda de Cristo? Vamos realizar a utopia agora”. (4) Isso significa viver o pensamento epicurista: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”. A RELIGIÃO DE MERCADO A
religião existe para promover a grande fraternidade universal. No entanto, estamos vendo várias religiões envolvidas em guerras, terrorismo, cismas, escravidão e no mercado financeiro exacerbado. A revista londrina The Economist na edição da semana 04/01/2008 traz uma reportagem sobre a Igreja
Universal do Reino de Deus em nhas que obrigam o Senhor Deus que ironiza as práticas do bispo nos abençoar. Tudo isso e a nossa justiça são como trapo de imundíEdir Macedo. cia (Is 64,6). “Sacrifício é divino, ele diz para a congregação. Talvez seja, mas in- Toda essa pregação de sacrifício e ventar modelo de negócios genial de dinheiro para receber graças, é humano”, afirma a revista (5). milagres e prosperidade é de obras “Diz Macedo: Quem quiser pros- da lei, portanto, está debaixo de perar precisa pagar o dízimo e ofe- maldição (ler Gl 3,10-13 e 22). recer ofertas de fé para merecer Como somos abençoados pelo colher multiplicada. São as regras bom Deus? São Paulo Apóstolo impostas pelo próprio Deus. Quem responde: “Bendito seja o Deus e não se submeter a essas regras não Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, tem direito à colheita. São os dízi- que nos abençoou com toda sorte mos e as ofertas que ‘obrigam’ de bênçãos espirituais, nos céus, Deus a fazer a diferença na quali- e m Cristo” (Ef 1,3). dade de vida do fiel” (6). Somente em Cristo somos ricaQue terrível heresia, que tamanha mente abençoados. Por que? confusão na cabeça do povo. Isso “Porque tudo é Dele por Ele e para é uma grande engenharia da patra- Ele. A Ele glória pelos séculos! Amém”. (Rm 11,36). nha. O mercado religioso está na moda. Não são sacrifícios, dízimos, oferNa china se vê o crescimento de tas, obras, campanhas, correntes, um budismo consumista. romarias, e outras coisas mesqui-
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Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale. tituição estão presente de forma tão escancarada que dá para imaginar que todos os vícios condenados pelo islamismo recebem a bênção dos governantes (8). O consumo per capita de ouro de Dubai chega a 34 gramas por ano, o mais alto do mundo. O ouro faz parte do seu dia-a-dia (9). Petróleo, ouro, política e a prosperidade do mercado religioso, qual será o fim de tudo isso? “Ai, ai, ó grande cidade, vestias linho puro, púrpura e escarlate, e te adornavas com o ouro, pedras preciosas e Os monges budistas, na expectatipérolas: numa só hora tanta riqueva de maximizar seus lucros estão za foi reduzida a nada!” (Ap chegando a cursar programas de 18,16). MBA que oferecem aulas de administração de templos. “A comercialização é uma das mais perigosas tendências do budismo chinês” diz Xuan Fang, professor de estudos religiosos na Universidade do Povo, em Pequim (7). No Golfo Pérsico está surgindo uma nova Arábia. Uma nova geração de governantes está se libertando dos padrões de pensamento tradicionalmente nacionalista ou religioso. (...) Do Bahrein a Dubai os xeques constroem centros urbanos como símbolo do mesmo progresso que no século passado era representado por Nova Iorque e pela Califórnia. (...) A maior agitação da construção civil está em Dubai, provavelmente a cidade com o crescimento mais rápido do mundo. (...) Os xeques não conhecem a palavra “impossível”. A sua sensacional megalomania é parte de sua campanha de relações públicas. A matriz da teologia da prosperi(...) dade são os Estados Unidos. O Dubai a Bahrein ainda vão mais fundamento dessa teologia é o calonge na repressão à religiosidade pitalismo americano e a ideologia islâmica. Bares com grande varie- da auto-ajuda. Esta filosofia faladade de bebidas alcoólicas, uma ciosa adentrou em todo seguimenvida noturna pulsante e até a pros- to social, principalmente nas denominações pentecostais e neopentecostais. A morte da dogmática cristã foi definida pela teologia da prosperidade. Os novos conceitos religiosos são guiados pelo hedonismo e narcisismo. “Quanto mais rica
comunidade religiosa, maior a radicalização de seus pastores. A mistura de púlpito e política é parte fundamental da história americana”, afirma o pesquisador Timothy Nelson, da Kennedy School of Governmente, da Universidade de Harvard (10). Os pastores megalomaníacos com suas megaigrejas nos Estados Unidos, romperam com a tradição histórica da Reforma Protestante. Diz o pesquisador Dr. John Vaughan,, do Centro Internacional de Pesquisas das megaigrejas: “Os dias dos fogos do inferno e do castigo eterno acabaram. Não se pode enfiar religião goela abaixo dos fiéis. Eles só querem saber do que lhes será útil. A cruz foi retirada para não assustar as pessoas”(11). Essa gente se tornou inimiga da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição. (Fl 3,18.19). Deus não é Deus de confusão (1 Cor 14,33). Mas, por que tanta confusão doutrinária e tantas divisões denominacionais? Vejamos o que disse um dos líderes do Movimento G12 (Mudou para: Visão Celular no Modelo dos 12), René Terra Nova: “Como resultado da Visão, nasceu uma Igreja Viva para o Deus Vivo em que todos são consolidados para um só destino: Jesus, o Messias”(12). Uma pergunta, antes da Visão G12, a igreja estava morta para o Deus morto?
O falso profeta Joseph Smith, fundador dos Mórmons, disse que a Igreja de Jesus Cristo foi restauraa da por ele em 06/04/1830, e antes?
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Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale. CONCLUSÃO
nata!!!
Vivemos uma era de muitos desafios para servir a Cristo verdadeiramente. Não há tempo e nem espaço para viver como cristãos vacilantes.
Pe. Inácio José do Vale Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo Professor de História da Igreja Faculdade de Teologia de Volta Redonda
Diante da confusão denominacional, dos falsos líderes que se intitulam de apóstolos, profetas, bispos, missionários, videntes e gurus, diante de tantas seitas e heresias, podemos afirmar e reafirmar e professar com valentia, graça , fé e amor toda nossa convicção a Igreja de Deus: Una, Santa, Católica e Apostólica.
E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com REFERÊNCIAS (1) Jornal Luz nas trevas, Março de 2008,16.
(2) L’Osservatore Romano, 19/04/2005, p.5. A nossa santíssima fé é límpida CAMINHO PARA O INFERNO em Cristo e Sua Santa Igreja. Com Sem a verdade de Cristo e da pala- ela caminhamos seguros para as (3) Ultimato, Março-Abril de 2008, p.40. vra de Deus no coração e na razão, muita gente está servindo aos líde(4) Valor, sexta-feira, 30 de junho res religiosos e aos ídolos. e fim de semana, 1 e 2 de julho de Essa gente não quer saber da Teo2006, p.7. logia da Cruz de Cristo. Não quer (5) http://gazetaonline.globo.com/ a renúncia do pecado e do mundo noticias/minutoaminuto/nacional/ hedonista e narcisista. nacional-materia.php?cdEssa gente está embriagada com matia+38989&cd-site+0844. os prazeres e as soberbas ofereci(6) Folha universal, 06/01/2008, das pela teologia de Mamom. Esta p.2. teologia dá suporte ao Movimento do show gospel, as megaigrejas, (7) Valor, 17/01/2008, p.A14. aos pastores eletrônicos, ao teatro (8) Chamada da Meia-Noite, maio da fé com os espetáculos de curas de 2007, pp.8-10. e milagres. A coreografia de quinta categoria, a onda de apóstolos, (9) Valor, sexta-feira e fim de seprofetas, bispos e suas células (não mana, 15,16 e 17 de fevereiro de mais membros ou irmãos), a falsa moradas eternas, os lugares celes- 2008, p.23. conversão de artistas e a igreja cotiais, a cidade do Deus Vivo, a Je- (10) O Globo, 23/03/2008, p.39. mo um mercado financeiro. rusalém celestial, e de milhões de A teologia da prosperidade é hoje (11) Manchete, 01/08/1992, p.67. anjos reunidos em festas (Hb um dos principais caminho para o (12) Enfoque Gospel, março de 12,22). inferno. 2008, p.13. Maranata!!! Maranata!!! e MaraSão Paulo Apóstolo nos exorta: “Cuidado com os cães”. Quem são os cães? São os pastores bandidos (Is 56,11). O diabo tem levantado líderes na estirpe do rei Herodes. O Herodes de hoje está matando muita gente com falsas doutrinas e errônea interpretação da Sagrada Escritura. Ele faz de tudo para ninguém ver o Rei da Verdade. O Pilatos de hoje está lavando as mãos no jogo do poder. E a lavagem de dinheiro não pára na rede de corrupção. Todavia, ele não quer saber dos seus crucificados. Anãs e Caifás de hoje estão rejeitando o Messias revelado e fazendo da casa de Deus uma mega empresa com cafetinas e mafiosos. Realmente, essa clientela que vão aos templos em busca de bens materiais e de soluções mágicas, não serve a Cristo, junto com seus cães servem ao ventre (Fl 3,19; 2 Pd 2,2.3).
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Coluna do Ives Gandra Martins.
O aborto no direito brasileiro. Li, recentemente, parecer do Professor Eros Grau, ministro aposentado do STF, em que declara serem constitucionais os artigos 542, 1609 § único, 1779 § único e 1798 do Código Civil, visto que, sendo o nascituro sujeito de direitos, é alcançado pelo reconhecimento do direito à dignidade da pessoa humana e à inviolabilidade do direito à vida, contemplados na Constituição do Brasil. De rigor, o eminente jurista reforça a interpretação dos textos superiores (Tratados Internacionais e Constituição Federal), em que embasa suas conclusões sobre o direito infraconstitucional, a saber: o artigo 3º da Declaração Universal de Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário, segundo o qual “todo o ser humano tem direito à vida” ou a convenção sobre os direitos da criança da ONU que afirma que “a criança necessita de proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento” (grifos meus); o Pacto de São José, do qual o Brasil é também signatário, cujo artigo 1º estabelece “pessoa é todo o ser humano”, o artigo 3º que “tem o direito de reconhecimento de sua personalidade jurídica” e o artigo 4º que
esse direito deve ser protegido pela lei “desde o momento de sua concepção”. O interessante é que o artigo 4º cuida de duas formas de proteção ao direito à vida, ou seja, do nascituro e do nascido. Não abre exceção para o nascituro, mas, quanto aos nascidos: preconiza que os países que tenham pena de morte procurem aboli-la e proíbe aos países que não a tenham de adotá-la. Estabelece ainda que, se um país signatário, deixar de ter a pena de morte, não poderá mais voltar a adotar tal forma de atentado à vida do ser humano nascido. A nossa Constituição é clara ao dizer, no artigo 5º, “caput”, que o direito à vida é inviolável. Por fim, o Código Civil, no seu artigo 2º, está assim redigido: “Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” Seria ridícula a interpretação do dispositivo que se orientasse pela seguinte linha de raciocínio: “Todos os direitos do nascituro estão assegurados, menos o direito à vida”!!!!! É de se lembrar que o artigo 5º “caput” da lei suprema é cláusula imodificável, por força de seu artigo 60, § 4º, inciso IV. Como se percebe o arsenal de disposições jurídicas internacionais, constitucionais e infraconstitucionais do direito brasileiro coincidem e todos apontam para a impossibilidade da consti-
tucionalização do aborto em nosso País. Nada obstante, há os que defendem que, pelo neoconstitucionalismo, pode o Supremo Tribunal Federal legislar, nos vácuos legislativos. Não é minha posição, primeiro, porque não há vácuo legislativo e segundo, se houvesse, estou convencido de que a tese não se compatibilizaria com o texto maior, visto que, nas ações de inconstitucionalidade por omissão do Congresso Nacional, ainda quando julgadas procedentes, não pode o Supremo Tribunal Federal impor sanções, nem estabelecer prazos para que o legislativo supra a omissão. Não tem, pois, a Suprema Corte, a faculdade de legislar positivamente. Não se deve esquecer que todos os projetos para institucionalização do aborto não têm sido aprovados pelo Parlamento. “The last, but not the least”, a esmagadora maioria da população brasileira opõe-se a essa prática, conforme pesquisa da Folha em 11/03/2010, sendo 71% contra, e apenas 11% a favor. Em outras palavras, no Estado Democrático brasileiro, a população rejeita o aborto, prestigiando o respeito ao direito à vida. Como se percebe, a questão não é religiosa, mas jurídica, refletindo, de rigor, a vontade da maioria da população brasileira, que é contrária ao aborto.
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Cívitas com Rafael Brodbeck.
O uso do tabaco. Questionam alguns fiéis acerca da licitude moral da prática de certas atividades que envolvam risco de vida. De fato, o V Mandamento do Decálogo, ao proibir o assassinato, estabelece também deveres de salvaguarda para com a própria vida. São esses, aliás, que fundamentam a legítima defesa, inclusive armada, contra a injusta agressão, ainda que cause a morte dos malfeitores (cf. Catecismo da Igreja Católica, 22632267; Santo Tomás de Aquino. S. Th., II-II, q. 64, a. 7; Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Evangelium Vitae, 56; ARRIGHI, A. Não matar, Pádua, 1946). Enquadram-se no rol das ações perigosas determinadas práticas desportivas - luta, boxe, alpinismo, rapel, automobilismo -, algumas artes circenses - doma
de feras, acrobacia, trapézio -, e mesmo atividades de lazer - caminhada no mato, acampamento em local ermo, banho de mar um pouco afastado da praia ou sob "bandeira vermelha"). Também o uso de substâncias nocivas à saúde. A pergunta pode ser assim reproduzia: é imoral lutar boxe, praticar rapel, domar leões, fazer acrobacias, escalar montanhas? Ou: peca-se contra o V Mandamento desenvolvendo-se tais atividades perigosas? Ou ainda: é ressa. pecado consumir tabaco? Dentre os cuidados com a Para bem responder a instivida, tanto a nossa - objeto do gante questão, devemos prelimipresente estudo - quanto a do narmente expor algumas noções próximo, há uma série de devefundamentais implicadas com a ordem divina de não matar (cf. res elencados pelos moralistas: a) positivos: usar dos meios apO mandamento implica em tos para a preservação da vidois tipos de cuidados, uns para da, se existirem; com a vida do próximo, outros b) negativos: evitar os meios que para com a própria vida. Este ordinariamente causegundo grupo é o que nos inte- sem intencionalmente a morte Êx 20,13).
Outubro 2011 / In Guardia 40
Cívitas com Rafael Brodbeck. própria ou de outrem (cf. BAYET, A. O suicida e a moral, Paris, 1922; ODDONE, A. O respeito à vida, in "Civiltà Cattolica", nº 97, III, 1947, pp. 289299; DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. Teologia Moral, São Paulo: Paulinas, 1959, pp. 228-244). De início podemos afirmar que o ninguém é autorizado a atentar contra a próproa vida, donde a proibição do suicídio direto. Já em relação ao suicídio indireto, este é, em geral, proibido, mas pode ser permitido ocorrendo razão grave. "Mata indiretamente a si mesmo quem, conscientemente, pratica uma ação que visa a um efeito bom, compreendido o desejado, capaz, porém de também causar a morte. Neste caso, o efeito bom compensa o mau. É lícito atirar-se da janela paa fugir a um incêndio; para fugir do violador do próprio pudor; para evitar o cárcere, etc. É lícito, na guerra, fazer saltar um depósito de pólvora, uma fortaleza, uma nave etc, mesmo com perigo certo da própria vida. É lícito, por caridade ou por profissão, servir os pestilentos, os leprosos ou outros doentes infecciosos." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 229)
anos, salvo "por uma necessidade moral ou pelo exercício da virtude." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 229) - exemplo de necessidade moral: ganho honesto que faça um ferreiro estar em contato contínuo com o fogo ou um químico com produtos tóxicos; exemplo de exercício da virtude: mortificação do próprio corpo com jejuns, penitências, disciplinas. Claro que a necessidade moral será aferida caso a caso, e Também é proibido a abre- a virtude deve ser exercitada viação da própria vida por vários com o auxílio de um diretor es-
piritual, para não ocorrer excessos - que podem, aliás, ser pecado de soberba, orgulho espiritual: "vejam como sou santo, como jejuo, como etc." Se não existe perigo próximo de morte, também o consumir bebidas alcoólicas e o fumar tabaco não constituem pecado, a não ser que o uso seja excessivo, quando será pecado venial (cf. GENICOTSALSMANS, Pe. J., SJ. Institutiones Theologiae Moralis, vol. I, Bruxelas, 1951, p. 363) - havendo perigo próximo de morte, o pecado é mortal; o uso de dro-
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Cívitas com Rafael Brodbeck.
Afinal, fumar é pecado?
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Cívitas com Rafael Brodbeck. para fins recreativos, i.e., não necessários, pode ser pecado grave ou venial, havendo, no primeiro caso, perigo próximo de morte, e, no segundo, excesso sem o tal perigo próximo. Como o consumo social de álcool ou tabaco, ordinariamente, constituem, no máximo, perigo remoto de morte, não há pecado - evidentemente, se houve excesso, há pecado, e, com o perigo próximo, este é agravado (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2990). Consumir maconha ou cocaína, por outro lado, é pecado quando feito fora de uso terapêutico ou necessário, por constituir-se perigo próximo e não remoto de morte (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2991).
ativa é proibida pelos deveres para com a vida alheia), mas não da ortotanásia: "A interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima. É a rejeição da 'obstinação terapêutica'. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder imped i la." (Catecismo da Igreja Católica, 2278)
A mutilação é pecado grave, "desde que não se pratique com a finalidade de conservar a vida." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., Enfim, e aqui o objeto próprio de nosso articulado, proíbep. 230) O desejo de morrer, outros- se a exposição temerária ao perisim, é lícito, desde que haja cau- go de morte. Analisemos alguns sa justa, v.g., o gôzo de Deus, a conceitos. contemplação da bemaventurança eterna, ser libertado de uma enfermidade longa e sofrida, e quem o desejo submetase à vontade divina. Também, pelo V Mandamento do Decálogo, deve o homem conservar a "própria vida e a saúde, usando de todos os meios ordinários." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 231) Daí a proibição da eutanásia passiva (a eutanásia
lamentação da atividade, o conhecimento prévio do perigo, a habilidade e a destreza (exigidas nas ações mais perigosas, e que tornem o risco remotíssimo quando se tem fim de lucro), e a utilização de adequado equipaExposição temerária é co- mento. locar-se frente ao perigo sem a Expor-se ao perigo de mortomada das devidas cautelas. te, usando das cautelas acima Desse modo, sabendo-se que ureferidas, não é pecado se o fim ma determinada atividade repreé bom. Assim, quem faz rapel senta um perigo à própria vida movido pelo desejo de uma justa não uma certeza, pelo que seria diversão ou para admirar a criaimoral, mas um perigo, o que ção de Deus e estar em contato motiva nosso debate -, é necessária a adoção de medidas asse- mais íntimo com a natureza; quem pratica acrobacias no circo curatórias normais. Não se repara emocionar a platéia com a quer o uso de medidas extraordibeleza de sua arte, e desde que o nárias, bastando a adesão à regulucro não seja o fim exclusivo; etc, não pratica pecado, usando das medidas normais de segurança. O risco assumido não é imoral, nesses casos, havendo quem o assume pelo exercício da atividade perigosa tomado "todas as providências tendentes a evitar ou minimizar as possibilidades de dano (...)." (GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, vol. 1, 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 164) Objetarão alguns que os fins não justificam os meios. A expressão, todavia, deve ser melhor formulada: os fins não justificam os meios maus. Porém, quando os meios são neutros, i.e., nem bons nem maus em si mesmos, os fins bons estão plenamente justificados. Outubro 2011 / In Guardia 43
Cívitas com Rafael Brodbeck. Ora, os fins de contemplar a natureza, divertir-se moderadamente, descansar etc são bons, e assumir um risco de morte é um meio neutro. Pode-se, logo, desenvolver atividades perigosas à própria vida, presente o fim bom e ausente algo que transforme o meio, em si neutro, em coisa má (por exemplo, não usar equipamento adequado). Tomando, se existirem, as devidas cautelas (o que mantém o meio neutro, sem torná-lo mau) e com um fim bom, a prática de atividades que envolvam perigo para a própria vida é moralmente lícita, não constituindo pecado contra o V Mandamento. "A virtude da temperança manda evitar toda espécie de exceção, o abuso da comida, do álcool, do e dos medicamenf umo tos." (Cat., 2290) O Catecismo da Igreja Católica é claro: o pecado está no abuso do fumo, não no mero uso. E, como diz o adágio dos moralistas, "o abuso não tolhe o uso". O Catecismo não condena o uso do fumo, mas somente o abuso. Ora, se o abuso é tido como pecado, logicamente é porque não considera a Igreja que o mero uso o seja. Se a Igreja quisesse ensinar que o mero uso fosse pecado, não teria dito que o abuso o é, mas diria simplesmente que o uso já configuraria pecado. Não foi esse o ensino, porém. Por outro lado, a argumen-
tação de que todo uso do fumo é abuso não procede, dado que está objetivando algo que é subjetivo. Em sendo abuso, ok, é pecado. Mas se existe abuso é pq também pode haver mero uso. Dizer que todo uso do cigarro é abuso é desvirtuar o próprio sentido de abuso, o que contraria toda a lógica da teologia moral clássica, notadamente a ensinada por Santo Tomás. Do excelente e or t o d o x o manual "Teologia Moral", do venial, mas poderia tornar-se Fr. Teodoro da Torre Del Greco, mortal pelo dano ou escândalo OFMCap: produzido, pela tristeza que po"À gula se refere a intemperança deria causar aos pais etc. no beber até à perda do uso da Em relação ao uso dos entorperazão (embiraguez), a qual, se é centes (morfina, cocaína, heroíperfeita, isto é, se chega a impedir completamente o uso da ra- na, clorofórmio etc) valem os zão, é pecado mortal 'ex genere mesmos princípios, isto é: usados em pequenas doses por motisuo', se causada sem motivo suvo suficiente, por exemplo, para ficiente. acalmar os nervos, dores etc, Por graves razões, provavelmen- são lícitos. Sem motivo justo, pote, pode permitir-se a embria- rém, é pecado venial. guez, como por exemplo, para Mas tomá-los em doses tais que curar uma doença ou para com privem o homem do uso da ramais segurança submeter-se alzão, é pecado grave, salvo se há guém a uma operação cirúrgica. Afastar a melancolia não é moti- motivo suficiente proporcionavo suficiente para embriagar-se. do; por exemplo, uma operação cirúrgica, dar alívio a um paciA embriaguez que priva só parente de doenças muito dolorosas cialmente do uso da razão (imperfeita) é somente pecado etc."
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Cívitas com Rafael Brodbeck. A conclusão é de que: a) o uso do álcool e de drogas, em si, não é pecado; b) o pecado está em algumas condutas, dependendo da finalidade; c) a embriaguez completa com justo motivo não é pecado; d) a embriaguez completa sem justo motivo é pecado mortal;
e) a embriaguez incompleta é pecado venial;
cado se houver embriaguez; pode-se, outrossim, beber por quaisquer outros motivos nãopecaminosos - comemoração, alegria, motivos de saúde, acompanhar os amigos etc - sem embriaguez; havendo outros motivos pecaminosos - ganhar "coragem" para adulterar, para fornicar, para furtar etc -, há pecado mortal mesmo sem embriaguez, mas a causa do pecado não é o uso do álcool, e sim a intenção do ato posterior); i) o consumo de drogas em peq u e n a s d o - Noutros termos, fumar cigarro, ses, com motivo suficiente,não cachimbo ou charuto não afeta a é pecado; consciência da pessoa. Por isso, j) o consumo de drogas em pe- o juízo a ser feito em relação a q u e n a s d o - ele não deve ser o mesmo das ses, sem motivo suficiente, é drogas e do álcool. Não podemos simplesmente "colocar tudo pecado venial; no mesmo saco". Aliás, se nem k) o consumo de drogas em oumesmo o álcool e as drogas, em t r a s q u a n t i d a si, são ilícitos (pois se há um uso des, com motivo grave e prolícito, não podem ser ontologicaporcionado, não é pecado; mente ilícitos, sendo, pois, neul) o consumo de drogas em ou- tros, havendo licitude ou ilicitut r a s q u a n t i d a - de conforme o caso), apesar de des, sem motivo grave e pro- seu efeito narcótico, muito meporcionado, é pecado mortal; nos o seria o tabaco, que não é m) o consumo de drogas exige embriagante nem entorpecente.
f) a embriaguez incompleta pode tornar-se pecado mortal por outros fatores (escândalo, atos pecaminosos, em si, produzidos por força da embriaguez ainda sempre justo motivo para ser lícito, ao contrário do uso do álcoque parcial, etc); ol, porque é de sua essência o g) a embriaguez acidental não é entorpecimento, ao passo em que pecado; o álcool só o é acidentalmente. h) o consumo do álcool sem emO caso do fumo (tabaco) é briaguez não é pecado (para a- bem diverso, de vez que ele não fastar a melancolia, v.g., só é pe- é entorpecente nem embriagante.
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DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro.
Reforma política: chegou a hora? Tem tomado grande espaço nos noticiários os inúmeros casos de corrupção envolvendo pessoas do partido do atual governo e de seus aliados. Ministérios afundados em corrupção, licitações feitas às escuras, ministros e governantes tomando as dores dos acusados de desvios, enfim, o caos em meio à sociedade política, na qual a totalidade da população brasileira depende direta ou indiretamente. Em meio a tal situação, a CNBB, na pessoa de seu presidente Dom Raymundo Damasceno, iniciou uma nova campanha para discutir a reforma política e uma melhor alternativa institucional para o Brasil. Mais do que apenas um discurso qualquer pugnando pela ética, foi um verdadeiro apelo pela mudança das estruturas e falhas do Estado, no sentido de que se estamos hoje contando com pessoas com
fins corporativos ou individuais em meio à sociedade política é porque de alguma maneira a forma institucional permite que essas pessoas cheguem até lá e possam se manter. Mais do que uma mera modificação na lei eleitoral, foi demonstrada a necessidade de uma mudança profunda, de Queima das bandeiras dos Estados Brasileiros em 27.11.1937 forma com que este problema institucional seja completamente que ensina que se um ente é ineliminado e não necessite de no- capaz de fazer uma determinada vas mudanças num futuro tão função básica à sua existência, deve se dirigir ao ente superior a próximo. Ocorre que a forma de Es- ele, que deve negar essa subsídio tado brasileira tem desrespeitado quando se mostrar possível a execução dessa função pelo ente no decorrer dos tempos o chamainferior. Assim, desde a formado princípio de subsidiariedade, ção política da Velha República, o Brasil tem invertido esses papéis em relação ao princípio de subsidiariedade, ora delegando uma autonomia muito precoce aos Estados recém federados e ignorando os municípios - como ocorreu em 1889 -, ora eliminando totalmente essa autonomia com a constituição do Estado Novo de Getúlio Vargas, que centralizou o poder e impediu a auto-aplicação do princípio. As cicatrizes desses erros institucionais permanecem até hoje e são percebidas desde a centralização do sistema tributário - onde 80% dos tributos ficam nas mãos da União, bem longe dos municípios e das pessoas - até a concentração exacerbada do poder político na pessoa do Presidente da República, que sozinho detém Outubro 2011 / In Guardia 46
DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro. a chefia do Estado, do governo e da administração, o que poderíamos classificar como um verdadeiro absolutismo moderno, com roupas de democracia e legitimado pelo sufrágio universal. Agora que os problemas do Brasil estão longe de serem os econômico, devemos refletir sobre o sistema presidencialista e como ele tem se tornado insustentável para a sociedade organizada na forma federativa. Neste sentido, até mesmo a superpotência americana tem demonstrado a fragilidade e a falta de eficácia deste sistema, uma vez demonstradas as dificuldades do democrata Barack Obama em aprovar o novo teto da dívida americana em uma câmara com maioria parlamentar republicana. No Brasil, nessas situações, o presidente "compraria" a oposição com a moeda da administração pública, mas em países parlamentaristas o chefe de governo elegantemente renunciaria e seriam convocadas novas eleições, que seriam vencidas pela maioria eleita pelo povo. E então os pergunto: há sentido em haver uma votação direta para Presidente da República? Respondo: sim, desde que este presidente seja um mero chefe de Estado, guardião da soberania nacional, e não detenha funções de governo e nem de administração. A verdade é que existe um caminho muito difícil de ser percorrido sem a imposição popular, pois este atentado partidário à administração pública pode jamais cessar, visto que rende muito dinheiro a todos os parti-
Barack Obama. Os moldes do sistema presidencialista mostra seu desgaste. Áté a potência EUA se mostra em decadência política.
dos políticos e a alguns candida- de seu papel, um desvio moral tos eleitos, dependentes do atual que tira a razão da existência do sistema eleitoral. Mas como nos ente político maior. Sendo asensina o Catecismo: o bem co-
E então os pergunto: há sentido em haver uma votação direta para Presidente da República? mum, que se origina do Estado, além de ser nosso e de todos, é a razão de ser da autoridade política (a. 1910). Havendo outra sim, é nosso dever nos preocurazão de ser, é uma deturpação parmos com este bem comum através da política, formando uma nação verdadeira que seja dependente de seu povo, e nunca o contrário, como atualmente ocorre.
A faixa do Presidente Da República do Brasil. Chefe de Estado e de Governo.Correto?
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Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira
A Ressurreição da Liturgia na Vigília Pascal É sabido e muito comentado o solene declínio da liturgia na pré-páscoa, os degraus até a celebração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na forma ordinária, esses degraus iniciam-se na quarta-feira de cinzas e passa pelas várias semanas da quaresma, até chegar a semana “das dores”, entrando pelas portas da Semana Santa e do Tríduo Pascal e encontrandose, por fim com a Paixão.
caminho até a Ressurreição.
É deste segundo que trataremos nesse artigo; lembrando, naturalmente, do primeiro. O caminho até a ressurreição não se faz ao longo de um longo tempo litúrgico ou de vários deles, mas sim em uma única celebração: Vigília Pascal, a mãe de todas as vigílias, nas palavras de Santo Agostinho. No início da qual a atmosfera é praticamente a da Sexta-feira Santa, assim como eram os espíritos do cair da tarde de Sexta que levava as mulheres Na forma extraordinária, à entrada do túmulo na manhã uma escada mais completa, com- do Domingo. plexa e estratificada: com septuAo longo da celebração, o agésima, sexagésima, quinqua- júbilo aumenta, ainda que de forgésima, então o grande tempo da ma muito mais íngreme do que a Quaresma. Continua no Tempo como declinou, mas ainda assim da Paixão; tempo verdadeirapaulatinamente. A alegria pascal mente litúrgico e não apenas a preencheu as mulheres de imedipiedosa memória “das Dores” e ato, mas só depois contaram aos prefácios específicos. Tem em apóstolos e mais depois aos ouseu trecho final a Semana Santa tros discípulos. Assim na liturgie, dentro dela, o Tríduo. a, ainda que o júbilo pareça exAo fim disto, temos nossas igrejas e nossas almas despojadas e prontas para celebrar a entrega do Cristo. Louvável caminho que merece oportunamente a cada ano estudo suficiente para que o rito seja mais e mais bem vivido. Mas existe outro caminho mais curto, não um caminho de “quarenta anos”, mas sim um caminho de “três dias”, o
plosivo, é importante lembrar que não atinge seu auge junto ao início da celebração. Fixemo-nos agora, de maneira individual, nos degraus que a liturgia da Vigília Pascal nos apresenta: Imagens: As imagens cobremse desde o início da semana das dores ou mesmo desde o início da quaresma, conforme a tradição do lugar. As imagens, conforme diz a Carta “Paschalis Sollemnitatis”, elas devem permanecer cobertas até o início da vigília pascal, não dá a entender nenhum rito particular de descobrimento, podemos supor que elas simplesmente estão descobertas em seus
lugares desde antes do início da vigília. Trevas: Ainda que seja um dos últimos elementos que se unem à simbologia da paixão, apenas no Tríduo, é o primeiro que desaparece. No início da vigília abençoamos o fogo e o Círio. Com esse fogo acendemos a grande coluna que representa do Cristo Ressuscitado. Depois disso, conforme a ocasião, fazemos uma pequena procissão com o círio pascal, ao entrar na igreja imersa em trevas, durante a apresentação do “Lumen Christi”, nossas velas são acesas. Também as luzes da igreja se acendem... e houve a luz. Não se acendem nesse momento as velas do altar, essas serão acesas durante o canto do Gloria in excelsis. Outubro 2011 / In Guardia 48
Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira
O roxo: Um segundo aspecto a se considerar no início da celebração é o uso dos paramentos roxos. O roxo é a cor comum da pré-quaresma, da quaresma e também do tempo da paixão. Na forma extraordinária do Rito Romano, também se faz uso dessa cor no início da celebração. Esses paramentos só são trocados a certa altura da celebração. Um símbolo e tanto que mostra que não existe vitória sem Cruz, céu sem Penitência, salvação sem Provação. Infelizmente não é algo que pode estar presente na forma ordinária (por enquanto!). O canto: Além do tom naturalmente mais austero durante o tempo que antecede a Páscoa, é pedido que o órgão seja usado apenas para sustentar o canto, sem que os acordes se estendam além da melodia. Num primeiro momento da vigília o órgão fica calado, como ficou depois da comunhão de Sextafeira. Durante a Proclamação da Páscoa o órgão soa, mas ainda “incrédulo”, pequeno, apenas para suporte do canto. Apenas no Aleluia que o órgão volta à sua potência, à sua “fé”. A partir daí, durante toda a celebração, deve ser tocado de maneira gloriosa, para indicar quão alegre é esta ocasião. Cortina: Desde o início da quaresma não se usam flores no
altar, exceção feita à Quintafeira Santa, quando se orna o altar. Ao final desta celebração, entretanto, não apenas as flores saem, como também as velas e até a toalha. O altar fica nu, despido de suas vestes como o Cristo, antes da crucifixão. Na grande vigília, não seria exatamente prático enfeitar o altar na hora, tampouco cobrir-lhe com uma toalha maior e mais enfeitada, assim, o altar é preparado antes da celebração e coberto com uma cortina roxa. Símbolo muito antigo, comum a ambas as formas do rito, mas que por vezes fica esquecido. O altar, assim permanece até certo ponto da celebração. Ao som dos primeiros acordes do Glória, entretanto, a cortina cai e vemos o altar vestido de glória. Assim como os discípulos viram Nosso Senhor em seu corpo glorioso após sua ressurreição. Havendo ou não cortina, durante o Gloria, se acende as velas do altar a partir do fogo do círio na ordem costumeira, isto é, primeiro a central (se houver), então as da esquerda a partir da mais próxima do centro e depois as da direita,
também do centro para a periferia. Sinos: Esses que se calam após o Gloria in excelsis da Quin-
ta-feira santa, não se tocando nem durante a consagração nessa mesma missa, nem durante a transladação. Assim como têm sua última aparição durante este hino na quinta-feira, retornam du-
rante ele durante a vigília pascal. Água Benta: Ao menos na sexta-feira santa é costume que as pias de água benta sejam esvaziadas. A igreja fica desprovida da água abençoada que nos recorda o batismo. Essa água é abençoada novamente durante a vigília pascal, durante o rito batismal. É usada não apenas para batizar os catecúmenos nessa data e também durante todo o tempo pascal, mas também para aspergir o povo e para ser colocada novamente nas pias junto à portas da igreja, a fim de que o povo a use para traçar o sinal da cruz ao entrar na igreja. A água assim como o fogo é um grande símbolo da liturgia, em particular da pascal. Não forma com este um grupo de “elementos da natureza” um dueto pagão de antagonismos, mas ambos são criaturas de Deus usadas para simbolizar a purificação necessária à ressurreição da carne. Outubro 2011 / In Guardia 49
Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira
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Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira final da Vigília Pascal; este é o último degrau a subir até o máximo do Júbilo Pascal. Mas que qualquer um dos outros seis símbolos, este é a grande coroa dessa celebração, pois não se trata apenas de um símbolo, é algo real: Cristo vive, venceu a morte e habita entre nós!
Reposição do Santíssimo: O Santíssimo Sacramento que geralmente se encontra no presbiterio se retira antes da missa In coena domini, assim o sacrário está vazio ao início da missa. Ao final
dessa missa, omitindo-se a bênção, passa-se logo à transladação da Eucaristia, que não é posta no sacrário costumeiro, mas em uma capela lateral que tenha sido preparada para guardar as sagradas espécies para a comunhão do dia seguinte. Assim, o presbitério durante a Sexta-feira e o Sábado Santo, fica desprovido de presença real. Essa só vai retornar ao seu local de honra ao
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Milagres com Lizandra Danielle
Milagre Eucarístico de Lanciano. por eles como Al-Andalus (em língua árabe), onde governaram por quase 800 anos. E assim toUm grande milagre da a cultura e religião da penínacontece. sula que era quase toda cristã católica, foi sendo cada vez mais banida pelo islamismo. Situação Histórica da época Aproveitando a desordem *Invasões mulçumanas entre os governantes, por causa O século VIII é muito ca- do estabelecimento da Repúbliracterizado pelas invasões mul- ca, a abolição do Califado e a çumanas. O Islamismo ou mao- formação de pequenos estados metismo estavam se espalhando independentes rivais, os cristãos trataram de reconquistar o terripelo mundo todo: tório, o que durou toda a Idade No ano 636 na Síria e Pa- Média até o inicio da Idade Molestina, 642 na Alexandria, 646 derna e finalmente foram expulna Mesopotâmia, 697 em Carta- sos pelos reis Católicos, Fernango e 711 na Península Ibérica e do e Isabel. Talvez se a reconparte da Índia. quista não tivesse acontecido, Na península Ibérica a in- hoje seriamos mulçumanos. vasão mulçumana começou em *Iconoclastia 711, cruzaram o mar MediterrâNo século VIII a Europa neo na altura do estreito de Gicomeçou a ser rondada pelas ibraltar e venceram o último rei d é i a s d os iconoclastas visigodo da Hispânia, Rodrigo. Foram conquistando cada vez (iconoclastia), foi um movimenmais territórios na Península Ibé- to político-religioso que surgiu rica, esse território era conhecido no Império Bizantino, que era Introdução.
contra qualquer tipo de veneração à ícones, objeto ou imagem religiosa. Os imperadores da época eram os que mais utilizavam desses argumentos para acusar os Católicos por idolatria, mas na verdade a intenção real dessas idéias era destruir os obstáculos que existiam e ainda existem entre cristãos, judeus e mulçumanos, pois acabando com as diferenças entres as religiões, seria mais fácil a subordinação dos povos do império que professavam essas crenças. O segundo motivo, era a luta contra a influência da Igreja nos impérios. Sua influencia fazia com que a quantidade de propriedades da Igreja só aumentasse. Os imperadores iconoclastas queriam desviar verba da Igreja para o Estado e a maioria dessa verba vinha da venda de imagens, então foi proibida sua confecção e veneração e muitos mosteiros foram confiscados.
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Milagres com Lizandra Danielle E com isso podemos supor que a Iconoclastia também negava a presença do próprio Cristo na Eucaristia pelo simples motivo de verem ali uma imagem como outra qualquer. O Milagre. Aproximadamente no ano 700 d.C., à doze séculos atrás, no século VIII, - Idade Média – aconteceu um dos mais famosos milagres eucarísticos da Igreja. Um monge da ordem de S. Basílio que vivia em um mosteiro de São Legonciano, estava com uma grande dúvida em sua alma, duvidava que a hóstia e o vinho consagrados na santa missa, fossem realmente o corpo e o sangue de Cristo, sua fé era pequeNesse momento todos que na, não acreditava, como infeliz- estavam presentes, se aproximamente muitos católicos também ram do altar e adoraram o Sannão acreditam, nas palavras do tíssimo, muitos em lágrimas. próprio Jesus: A partir daí, o monge não “Tomou o pão e depois de ter teve mais dúvidas e isso é mais dado graças, partiu-o e deu-lho, uma prova de que Deus não faz dizendo: Isto É o meu corpo, que milagre sem ter realmente um é dado por vós;” Lucas 22: 19 propósito. “E disse-lhes: Isto É o meu sanO sangue coagulou em gue, o sangue da nova e eterna cinco pedaços, todos de aliança, que é derramado por tamanhos diferentes e pemuitos.” Marcos 14: 24 Como era de costume o monge celebrava missa toda manhã e em um dia normal igual a todos os outros, foi celebrar a santa missa atormentado como sempre por sua dúvida. Mas uma coisa foi diferente, na hora da consagração, ele e todos que assistiam a missa viram diante de seus olhos a hóstia se transformar em carne e o vinho em sangue.
sando os pedacinhos juntos é exatamente o mesmo peso que cada um possui.
Hoje a carne está guardada em um ostensório de prata e o sangue em um cálice de cristal desde 1713, como mostra as imagens.
Muitos cientistas fizeram exames e experiências, e foi Emocionado com o mila- comprovado cientificamente que gre, conta a tradição que disse a carne é verdadeira carne humana, e o sangue verdadeiro sangue essas palavras: humano. A carne e o sangue pos"Ó bem-aventuradas tes- suem o mesmo tipo sanguíneo temunhas diante de quem, (AB), um tipo que é mais comum encontrado na região onde para confundir a minha Jesus nasceu e viveu e coinciincredulidade, o Santo dentemente é o mesmo sangue Deus quis desvendar-se encontrado no Santo Sudário de neste Santíssimo Sacra- Turim.
mento e tornar-se visível aos vossos olhos. Vinde irmãos, e admirai o nosso Deus que se aproximou de nós. Eis aqui a Carne e o Sangue do nosso Cristo muito amado!"
em as mesmas características de carne e sangue de um ser humano VIVO, no sangue possui cloretos, fósforo, magnésio, potássio, sódio e cálcio. A carne foi reconhecida pelos cientistas como um tecido muscular do coração - miocárdio, endocárdio e nervo vago – impressionante não
O sangue coagulou em cinco pedaços, todos de tamanhos diferentes e pesando os pedacinhos juntos é exatamente o mesmo peso que cada um possui. O poder divino brinca com as leis naturais. Outros exames mostram que ambos os materiais, possu-
é! E o mais extraordinário é que já se passaram 12 séculos, em contato com todos os agentes biológicos e estão em perfeito estado, como se ainda estivesse fazendo parte de um corpo vivo. Esse é um de muitos milagres eucarísticos, que o poder divino, permitiu a graça de acontecer, fazendo com que todos os infelizes incrédulos do mundo, vissem diante de seus olhos o milagre que acontece todos os dias no mundo inteiro, em cada santa missa, mas que nem todos dão à importância merecida e necessária. Outubro 2011 / In Guardia 53
Chesterton no Brasil com Diego Guilherme
Por que Chesterton? Por que resgatar o pensamento de um escritor que morreu há 75 anos e mesmo tendo escrito mais de 4 mil artigos e mais de 80 livros tem poucas obras traduzidas para o português? Gilbert Keith Chesterton é, com certeza, um dos escritores mais injustiçados e esquecidos. Suas obras foram deixadas à margem e desconhecidas, diríamos sob suspeita. Tudo por um simples detalhe que não passa despercebido do leitor, como disse um periodista espanhol: Ele era católico.
e ter tentando criar, como depois ele mesmo disse uma própria ‘ortodoxia’, se deu conta de que as ideologias em voga no seu tempo não o satisfaziam, algo que santo Agostinho já dizia: “fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto Apesar de ter tido uma fase não repousa em ti” árida (ou noite escura, como poO coração daquele sujeito deria nos dizer os santos ao rela- de mais de dois metros e quase tar o vazio da ausência de Deus) 140 quilos só iria encontrar des-
tual, poderíamos dizer) foi sua adolescência. Ele mesmo nos diz isso quando escreveu no livro Ortodoxia (1908), magistral e primorosa obra de Chesterton “Eu era pagão aos doze anos de idade e um perfeito agnóstico aos dezesseis.”.
De antemão é preciso esclarecer que a doutrina católica é indissociável das obras de Chesterton. Certa vez, um professor de Literatura Inglesa me questionou se eu queria fazer um estudo sobre o catolicismo na obra de Chesterton, ele disse que isto escapava de sua competência. Eu lhe respondi que não, mas que o catolicismo era indissociável de suas obras. E de fato o é. Basta a leitura de qualquer do seus livros, artigos etc. Se Chesterton às vezes não se aprofunda explicitamente na doutrina católica, ele já dá um passo significativo ao abordar as questões sob o ponto de vista do senso comum, senso tão importante para um razão saudável aberta ao inquestionável, imutável e atualíssimo transcendente que está sempre acessível aos olhos da fé e da razão. Nascido no dia 29 de maio de 1874, Kensington, Londres, Chesterton foi batizado no Anglicanismo. A fase de sua vida mais obscura (no sentido espiriOutubro 2011 / In Guardia 54
Chesterton no Brasil com Diego Guilherme canso ao se refugiar em Cristo e estimava muito, no “lar”, na Igreja Católica, onde fato que levou Shaw a apelidáfoi batizado no ano de 1922. los de “monstro A presença de Nossa SeChesterbelloc”. nhora foi fundamental para conversão de Chesterton. Ele mesmo nos relata que quando se lembrava do catolicismo se recordava de Nossa Senhora: “Mal consigo recordar um tempo em que a imagem de Nossa Senhora não se erga muito concretamente no meu espírito [...]. Quando recordava a Igreja Católica, recordava-a a Ela; quando tentava esquecer a Igreja Católica, tentava esquecê-la a Ela”. A vida de Chesterton é um grande paradoxo. Um sujeito de dimensões gigantes possuía um coração pequeno que não conseguia bombear o suficiente para mantê-lo. Inclusive isto foi um dos motivos para seu falecimento há 75 anos, em 14 de junho de 1936. Se pequeno era seu coração físico, gigante era seu coração em generosidade, amizade e amor. Sempre apaixonado por Francês Blog, com que se casou em 1901, não puderam ter filhos. No entanto tiveram milhares de admiradores e muitos amigos. Chesterton foi grande amigo de Bernard Shaw, H.G. Wels, G.S. Street, etc. Tornou-se grande amigo de Hillaire Belloc, a quem
Seu personagem mais marcante é o famoso sacerdotedetetive Padre Brown. É curioso pensar que Chesterton, de férias, iria conhecer um padre que se tornou muito amigo, que lhe inspiraria a criar o famoso detetive Padre Brown. Pe. John O’Connor, que era de origem irlandesa e estava alocado na Igreja de St. Anne de Keighley, em Yorkshire. Segundo Maise Ward, biógrafa de Chesterton, era “talvez a amizade mais íntima da vida de Gilbert.” O primeiro conto da saga Padre Brown foi lançado em 1901, a exatos cem anos, com o título A inocência do Padre Brown. Já no primeiro conto a Cruz azul Chesterton já se apresenta e também a seus personagens. Ele demonstra como a razão e o conhecimento profundo do ser humano, em especial o fato dele ser um ser marcado pelo pecado original, será a chave investigativa do Padre Brown. Antônio Gramsci, comunista italiano disse que Chesterton “era um grande artista”, em uma de suas cartas de cárcere, e explica a fórmula como o Brown resolvia os mistérios: “O padre Brown é o sacerdote católico que através de refinadas experiências psicológicas fornecidas pelas confissões e pela traba-
lhada casuística moral dos padres, embora sem menosprezar a ciência e a experiência, mas baseando-se especialmente na dedução e na introspecção.” Apesar de ainda desconhecida sua vida e suas obras – basta ir em uma livraria e pedir livros dele para comprovar – houve, como ainda há, esforços para torná-lo conhecido no Brasil. Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, Gilberto Freire, entre outros, foram grandes admiradores de Chesterton. Com o intuito de difundir a vida e obra de Chesterton, um pequeno grupo, motivado pelo autor desse artigo, decidiu lançar a ideia de criar um site chamado “Chesterton no Brasil”. O site tem como objetivo reunir artigos, traduções, vídeos, áudios, frases e trechos de suas obras, imagens etc. com o intuito de possibilitar um contato com a vida e pensamento desse gênio e motivar a criação de sociedade Chestertoniana no Brasil. www.chestertonbrasil.org
Outubro 2011 / In Guardia 55
Dicas e Indicações de Literárias com Igson Mendes da Silva.
A busca pela normalidade sexual Gerard Van Den AArdweg Com a colaboração de um livro de autoRebeca Mendes Chaves ajuda, mas de um “autoterápico”. Escrito por Gerard Van Opiniões acerca Den AArdweg, PhD da normalidade sexual em psicologia pela se dividem. Pois há Universidade de quem diga que é algo natural e Amsterdã e exerceu não há nenhum problema, como a psicoterapia desde também há o grupo que acredita 1963 na Holanda, ser algum distúrbio de ordem além de ser especiapsicológica, social e moral. Com lista no tratamento isso, há uma camada que se acei- de homossexualidata homossexual e não busca tra- de e casamento. tamento por acreditar que não Devido ao está doente, mas há também a bombardeio das mícamada que vê a homossexualidias em querer condade como anomalia e anseia por vencerem-nos de que a homosseauxilio e orientação. O livro “A xualidade é algo natural, cheganbatalha pela normalidade sexual” é um livro que aborda de forma reflexiva a homossexualidade levando em conta os valores morais e a influencia psicológica exercida na mente de um homossexual. Como o próprio título já mostra, o livro é destinado a pessoas que sofrem com a homossexualidade e buscam reverter esta situação. Não se trata de
A homossexualidade é algo genético? A escolha sexual é determinada nos primeiros anos de vida? A homossexualidade está diretamente relacionada com os valores culturais?
Gerard Van Den AArdweg de é algo genético? A escolha sexual é determinada nos primeiros anos de vida? A homossexualidade está diretamente relacionada com os valores culturais? Vale ressaltar que as respostas fornecidas no livro são de alguém que possui valores cristãos, mas que principalmente tem o apoio da ciência e propriedade para falar sobre tal assunto. A proposta de terapia proposta pelo livro é baseada na reflexão por parte de quem lê e inicia com a homossexualidade vista de um modo geral e no decorrer da leitura vai se explicando várias dúvidas polemitizantes e a visão da psicologia sobre o assunto. Outro fator importante é a explicação de alguns fenômenos psicológicos como a questão do complexo de inferioridade, assim é provocado pelo leitor a reflexão e o desejo de mudança do pensamento e do comportamento.
do até mesmo a incentivá-la em muitas novelas, a homossexualidade está ganhando um alto número de adeptos e simpatizantes, não por tendência ou vontade, mas somente por influencia externa. E eis a questão, ou melhor, as questões - A homossexualidaOutubro 2011 / In Guardia 56
O Catecismo com Carlos Ramalhete.
O Catecismo Convidaram-me a escrever uma série de artigos, de que este será o primeiro, sobre o Catecismo. Creio ser uma boa ideia explicitar o sentido do termo, já que hoje muita gente bem intencionada parece ter problemas para entender o que vem a ser, exatamente, o Catecismo. Para grande parcela da população católica, dizer “Catecismo” pode ser uma referência às aulas que tiveram, quando crianças, que na maior parte das vezes consistiam de atividades que não deixaram grandes marcas: colorir, cantar, etc. Para os que têm uma participação mais ativa na vida eclesial, a referência é ao Catecismo do Papa João Paulo II. Raros são os que vão além, e raros são os que percebem o que vem realmente a ser o Catecismo. Muitos catecismos já foram escritos. O primeiro deles, provavelmente, é o livro conhecido como Didaquê. O mais recente deles é o Catecismo de João Paulo II. O objetivo de todos
eles é o mesmo: uma apresentação sucinta e ordenada das verdades de Fé em que o cristão deve crer. Cada Catecismo, contudo, foi escrito com um público determinado em mente, e enfatiza mais este ou aquele aspecto da Fé, procurando sanar os erros mais comuns de seu tempo. Tradicionalmente, os Catecismos podem ser de três tipos: o Primeiro Catecismo, contendo uma apresentação extremamente sucinta e abreviada dos pontos principais da Fé, frequentemente em forma de perguntas e respostas a memorizar. O objetivo deste tipo de Catecismo é a utilização em aulas de preparação para a Primeira Comunhão. Há quem diga que não seria pedagogicamente aconselhável usar este tipo de memorização; não é a minha opinião. A memorização sozinha, re-
almente, não serviria para muita coisa. Quando auxiliada por explicações, contudo, ela pode perfeitamente servir para que os pontos necessários sejam memorizados e fiquem, por assim dizer, “disponíveis” na mente da pessoa para que possam ser trazidos à memória e à consciência quando isto se fizer necessário, ao contrário de cantorias e colorações. Uma historieta que ouvi outro dia mostra bem esta função: contou um sacerdote que estava à beira da cama de um moribundo, e sua filha, chorando, murmurava contra o que ela concebia como injustiça, ao ver o pai prestes a morrer. Ela repetia que não seria para isso que o pai dela havia vindo ao mundo, para sofrer desta maneira, afirmando que Deus seria injusto. O padre perguntou-lhe “para que foi criado o homem?”; a moça respondeu, como havia memorizado muitos anos antes, que “o homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste munOutubro 2011 / In Guardia 57
O Catecismo com Carlos Ramalhete. do, e depois gozá-lo para sempre no outro mundo”. Atônita, ela se deu conta das palavras que havia pronunciado, e percebeu a resposta divina de esperança que, na sua dor, ela se havia negado a perceber anteriormente. O segundo tipo é o Segundo Catecismo, muitas vezes ainda em perguntas e respostas, mas mais aprofundado, destinado ao estudo de crianças mais velhas e adolescentes. O terceiro é o tipo em que se enquadra o Catecismo de João Paulo II: um livro que contém um resumo um pouco mais aprofundado e explicado das verdades essenciais da Fé cristã, apresentando as mesmas verdades eternas ao público de um deter- sempre numa forma mais atual, minado tempo e de uma determi- visando a eliminação dos erros nada ocasião. do século presente, pedindo que O Catecismo de João Pau- os Bispos fizessem, em suas diolo II foi concebido como uma ceses, usando-o como referência, maneira de ajudar a refrear as Primeiros e Segundos Catecisfalsas interpretações do Concílio mos. Vaticano II, que se haviam espaA parte mais rica deste lhado pelo mundo para confusão Catecismo é a sua apresentação dos fiéis. Na Holanda, chegou a do que é negado pelas escolas de ser publicado um “Catecismo” pensamento europeias mais reque negava as verdades mais bá- centes: a cristologia ortodoxa, ou sicas da Fé, apoiando-se em fal- seja, o conhecimento da humanisas interpretações dos textos – dade e divindade de Nosso Seou melhor, de um suposto nhor, e a antropologia teológica, “espírito” – do Concílio. O Papa ou seja, a percepção verdadeira Paulo VI mandou que ele fosse de quem é o homem. O “ponto” corrigido, mas isto nunca foi fei- do Primeiro Catecismo que citei to. Procurando, assim, mostrar acima encontra-se, no Catecismo que o Concílio Vaticano II apro- de João Paulo II, explicado para fundava, não negava nem modi- o homem de hoje de maneira esficava, a compreensão da Fé da pecialmente completa, sendo o Igreja, o Papa João Paulo II lan- seu início justamente esta perçou o mais recente Catecismo, cepção de que “o homem é caque apresenta a mesma Fé de paz de Deus”, por ter sido criado para amá-l’O.
romeu após o Concílio de Trento. Este Concílio foi convocado para fornecer à Igreja definições e modos de agir quanto, justamente, à então nascente heresia protestante. Assim, as partes deste Catecismo que dizem respeito à sacramentologia, ao culto dos Santos e a outras verdades de Fé negadas pelo protestantismo são extremamente úteis para o cristão brasileiro. Um sonho meu, que espero um dia realizar, é uma retradução do Catecismo Romano, numa linguagem atual, com notas e referências aos documentos mais novos da Igreja e ao novo Catecismo, para uso pastoral no Brasil. Nesta série, contudo, iremos abordando os temas principais do Catecismo de João Paulo II, complementando-os, quando útil, com a apresentação das mesmas verdades no Catecismo Romano. Assim espero poder ajudar os pacientes leitores a poder tirar mais proveito desta excelente introdução à Fé cristã que é o Catecismo de João Paulo II.
No Brasil, felizmente, os erros europeus não tiveram jamais grande alcance. Os nossos problemas vêm mais das influências nefandas do espiritismo e do protestantismo neopentecostal. Para esclarecer as pessoas cuja antropologia teológica foi contaminada pelos erros espíritas é bastante útil, ainda que não seja voltado especificamente para este tipo de erro, recorrer às explicações do novo Catecismo. Para os erros decorrentes da contaminação protestante, contudo, parece-me mais eficaz empregar o Catecismo dito Romano, promulgado por São Pio V e escrito por São Carlos BorOutubro 2011 / In Guardia 58
Blogs, Sites e páginas on line.
Indicações e Dicas Blogs e Sites http://www.reinodemaria.com/
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Outubro 2011 / In Guardia 59