Sumário Ano I, nº 03, Dezembro 2011
Nossa capa. Cristo Rei do Universo. Nossa Equipe nessa Edição.
Revista Bimestral Editorial
Edição: Emanuel de Oliveira Costa Jr. Diagramação Emanuel de Oliveira Costa Jr. Design e Logos: Ellen Jordana Portilho Mendes Colaboradores Colunistas dessa Edição: Ana Maria Bueno da Cunha Bruno Dornelles de Castro Carlos Ramalhete Diego Guilherme Evelyn Mayer de Almeida Pe. Inácio José do Vale Ian Farias Ivanaldo Santos Ives Gandra da Silva Martins Jorge Ferraz Kairo Rosa Neves de Oliveira Karen Mortean Lenise Garcia Lizandra Danielle Araújo da Silva Márcio Antônio Campos Pedro Brasilino Peres Netto Rafael de Mesquita Diehl Rafael Vitola Brodbeck
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Sessão Carta do Leitor Cartas para a sessão carta do leitor poderão ser enviadas para o blof como comentário em www.binguardia.blogspot.com ou ao e-mail de contato da revista: revistainguardia@gmail.com.
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Pense como os Santos
03 04 06 07
A vida dos Santos com Ana Maria Bueno A Imaculada Conceição..
08
A homilia de Pedro Homilia do Papa João Paulo I na Tomada de posse da Diocese de Roma—1978
11
A homilia do Papa Homilia em Benim—África - Novembro 2011
14
Brasil sem Aborto Com Lenise Garcia Células-tronco: ciência e ética, verdades e falácias .
17
Idade Média com Rafael Diehl A Igreja e a preservação do saber antigo.
19
Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer A Educação na Colônia, Jesuítas e Marquês de Pombal .
21
Aspectos do matrimônio com Karen Mortean De irresistíveis a imcompatíveis.
23
Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos Entrevista: Rafael Vicuña,.
26
Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino Seu nome completo.
28
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale Espíritas e demônios.
30
Coluna do Ives Gandra Os Borgs e a Comissão da Verdade
34
Cívitas com Rafael Brodbeck O sentido da festa litúrgica de Cristo Rei .
35
DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro. Por que o socialismo é incompatível com a doutrina católica?
55
Lo Student della Liturgia com Kairo Neves As Vigílias no Rito Romano .
58
Milagres com Lizandra Danielle A Santa Casa de Loreto
61
Chesterton no Brasil com Diego Guilherme Chesterton, eterno amigo do homem
63
Dicas e Indicações de Literárias com Igson Mendes da Silva. O cérebro espiritual
65
Catecismo com Carlos Ramalhete O Catecismo.
66
Coluna do Jorge Ferraz As razões da nossa Fé
68
Exegetica Expositio com Ia Farias Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
71
Coluna do Prof Ivanaldo O Estado laico e a discriminação religiosa
75 77
Indicações e Dicas
Nossa Capa Cristo Rei do Universo. Cristo Rei é um título de Jesus baseado em várias passagens bíblicas e, em geral, usada por todos os cristãos. A Igreja Católica, a Igreja Anglicana, bem como várias outras denominações cristãs protestantes, incluindo os presbiterianos, luteranos e metodistas, celembram, em honra de Cristo sob este título. Obviamente que a Festa de Cristo Rei no último domingo do ano litúrgico, antes que o novo ano comece com o primeiro domingo do Advento, não é devidamente celebrada pelas denominações protestantes uma vez que elas sequer costumam ter um calendário próprio de festas. O título de Rei é utilizado para Cristo em diferentes formas na Bíblia: Rei dos séculos, Rei de Israel, Rei dos Judeus, Rei dos Reis, Rei dos santos, Soberano dos Reis. Pilatos escreveu e mandou colocar sobre a Cruz a inscrição INRI, da frase latina IESVS NAZARENVS REX IVDAEORVM, que se traduz como "Jesus de nazaré, Reo dos Judeus". As principais idéias sobre o reinado de Cristo estão expressas na encíclia Quas Primas do Papa Pio XI, publicada em 1925. Nessa edição teremos alguns artigos específicos sobre essa festa e esse título de fundamental que Cristo recebe por puro merecimento. Decidimos dedicar boa parte de nossa revista para apresentar exatamente essa festa, suas nuances litúrgicas e teológicas, históricas e políticas. O título "Cristo Rei" acabou por ser frequentemente usado para denominar igrejas, escolas, seminários, hospitais e institutos religiosos. Cristo Rei é Jesus Cristo de Nazaré para os protestantes. O termo também foi utilizado por movimentos políticos, como Realistas franceses durante a Rebelião de Vendeia, Cristeros mexicanos que combateram o governo anticlerical do Presidente Plutarco Calles e os guerrilheiros de Cristo Rei - organização paramilitar espanhola - que combateu o governo Franco. Colocada no fim do ano litúrgico, aparece à solenidade de Cristo Rei como síntese dos mistérios de Cristo comemorados no curso do ano, como o vértice em que resplandece com mais intensa luz a figura do Senhor e Salvador de todas as coisas. Domina nas duas primeiras leituras a majestade e o poder régio de Cristo. Contempla a profecia de Daniel (7, 13-14) seu apareci- mento nas "nuvens do céu" (ibidem, 13), fórmula tradicional que indica a volta gloriosa de Cristo no fim dos tempos para julgar o mundo. "Todo o poder lhe foi dado, toda a glória e império. Todos os povos, nações e línguas o servirão. Seu poder é poder eterno. Seu reino não terá fim" (ibidem, 14). Deus - "o Ancião" (ibidem, 13) - o constituiu Senhor de toda a criação, conferindo-lhe um poder que ultrapassa os confins do tempo. Na 2ª leitura (Ap 1,5-8), realça-se este conceito com a famosa expressão: "Eu sou o Alfa e o Omega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que vem, o Onipotente" (ibidem, 8). Cristo, Verbo eterno; é "aquele que é" e sempre foi, princípio e fim de toda a criação. Cristo, Verbo encarnado, é aquele que vem para salvar os homens, princípio e fim de toda redenção e que um dia virá para julgar o mundo. Ei-lo que vem entre as nuvens e todos os olhos o verão, também os que o traspassaram e, por causa dele, hão de se lamentar todas as tribos da terra “(ibidem, 7). Impressionante é que, no Evangelho de João - o evangelista teólogo - esteja o tema da realeza de Cristo constantemente ligado ao da Paixão. E que, na realidade, é a Cruz o trono régio de Cristo. Da Cruz abre os braços para apertar a si todos os homens, da Cruz governa com seu amor. Para que reine sobre nós, temos de nos deixar atrair e vencer pelo seu amor. Oração. *Deus eterno e todo-poderoso, dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do universo, Fazei com que todas as criaturas, libertas da escravidão do pecado, e servindo à vossa Majestade, vos glorifiquem eternamente.
Dezembro 2011 / In Guardia 03
Nossa Equipe Emanuel de Oliveira Costa Jr. - Editor Católico, casado, coordenador do Grupo de Coroinhas e Acólitos da Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia/GO, advogado militante, professor, autor de artigos científicos publicados em revistas impressas e virtuais. Mantém o Blog d o E m a n u e l J r . : www.blogdoemanueljr.blogspot.com Twitter: http://twitter.com/emanuelocjr Facebook: Emanuel Jr.
Rafael Vitola Brodbeck - Colunista Católico, casado, é Delegado de Polícia em Sta Vitória do Palmar, RS, coordena o site "Salvem a Liturgia". Colunista da "Catequese Litúrgica", na revista mensal "O Mensageiro de Santo Antônio", dos Frades Menores Conventuais, membro da Sociedade Internacional Santo Tomás de Aquino (SITA/Roma), e da Academia Marial de Aparecida. É incorporado ao Regnum Christi (1998). Palestrante de Liturgia e doutrina. rafael@salvemaliturgia.com Twitter: http:// twitter.com/rafael_brodbeck
Márcio Antônio Campos - Colunista Católico, formado em Jornalismo pela USP e passou pelo Curso Estado de Jornalismo. Jornalista do Jornal Gazeta do Povo. Desde setembro de 2010 é editor de Economia da Gazeta do Povo, e também mantém o blog Tubo de Ensaio, sobre ciência e religião.
Kairo Rosa Neves de Oliveira - Colunista Católico, solteiro, estudante universitário, cursa Engenharia Civil na UNESP de Ilha Solteira - SP. Colaborador do site "Salvem a Liturgia", na coluna de paramentos litúrgicos e dando dicas para solenizar a celebração. Atua no site Movimento Liturgico, responde dúvidas litúrgicas. Mantém, ainda, um blog de imagens litúrgicas, o Zelus. E-mail: kairo@salvemaliturgia.com
Evelyn Mayer de Almeida - Colunista Uma filha de Deus, católica, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor a deu. Professora de Língua Portuguesa, é também dona do blog Fazei o que Ele vos disser e colaboradora do site Rainha dos Apóstolos. Já foi coordenadora da Missão Kerigma Christi. Interessa por Filosofia, Educação, Política e Humanidades. Twitter: @evelynsmalmeida Facebook: Evelyn Mayer de Almeida
Ives Gandra da Silva Martins Colunista. Católico. Dispensa maiores apresentações. Ganhador de diversos prêmios, professor em diversas faculdades. Professor Emérito e honoris causa em várias universidades. Doctor Honoris Causa da Universidade de Craiova – Romênia. Um dos mais conceituados tributaristas brasileiros. Supernumerário da Opus Dei. Colar de mérito judiciário em diversos Tribunais do país, bem como medalhas e comendas de mérito cultural.
Pedro Brasilino Peres Netto Colunista Solteiro, Católico, estudante de Biomedicina na Universidade Federal de GoiásUFG, coordenar a Pastoral da Juventude na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Facebook: Pedro Brasilino.
Lenise Garcia - Colunista Católica, graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo, mestrada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e doutorada em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é professora adjunta da Universidade de Brasília, no departamento de Biologia Celular. Numerária do Opus Dei. Presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto
Dezembro 2011 / In Guardia 04
Nossa Equipe Pe. Inácio José do Vale - Colunista É sacerdote católico e Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo em Resende/RJ, é especialista em Ciência Social da religião pesquisador de seitas e conferencista, é Professor de Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Volta Redonda/RJ. E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com
Ellen Jordana Portilho Mendes Capista e desenvolvedora de logos. Católica, casada, mãe de dois filhos, professora municipal, formada em Educação Física pela UFG. Coordenadora do Grupo de Acólitos e Coroinhas na Paróquia do Imaculado Coração de Maria e Goiânia/ Rafael de Mesquita Diehl Colunista Historiador e Professor formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atualmente mestrando em História na mesma instituição. Estuda História Medieval e participa dos apostolados virtuais Reino da Virgem Mãe de Deus (www.reinodavirgem.com.br) e Salvem a Liturgia! (www.salvemaliturgia.com). Também é catequista e ministra formações na área de História da Igreja e Arte sacra.
Carlos Ramalhete—Colunista Casado, pai de dois filhos adolescentes, e licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis. Trabalha como professor de filosofia e sociologia, além de manter uma coluna no jornal Gazeta do Povo (Curitiba) e o apostolado A Hora de São Jerônimo, o apostolado de apologética católica mais antigo da internet brasileira (www.hsjonline.com).
Jorge Ferraz - Colunista Solteiro, católicos, Bacharel em Ciência da Computação, Centro de Informática / UFPE , mantém o site www.deuslovult.org/
Bruno Dornelles de Castro - Colunista Católico, solteiro, formado em Direito. Dá formações de Doutrina Social da Igreja. Mantém um blog onde escreve sobre política e filosofia (brunodornellesdecastro.blogspot.com). É incorporado ao Regnum Christi. Facebook: Bruno Dornelles de Castro
Ana Maria Bueno da Cunha - Colunista Casada, católica, Farmacêutica- bioquímica, dona de casa, mãe de dois filhos em Praia Grande/SP. Católica amante da Igreja, da Santíssima Virgem, do Santo Padre o Papa e sempre sedenta da graça de Deus. Mantém o blog Blog: É Razoável h t t p : / / C r e r ? razoavelcrer.blogspot.com
Karen Fernandes— Colunista Esposa, mãe, enfermeira, especializada na área da educação, instrutora do Método Billings da Ovulação pelo WOOMB/ Cenplafam-BR. Lizandra Danielle Araújo da Silva - Colunista. Católica, solteira, estudante de Controle Ambiental no Instituto Federal de Goiás. Coroinha há 6 anos na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Twitter: _lizdaniele
Ivanaldo Santos - Colunista. Ivanaldo Santos é filósofo, doutor em estudos da linguagem, professor do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN. Possui vários livros publicados, entre os quais destacamse: Teologia da Libertação: ensaios e reflexões e Linguagem e epistemologia em Tomás de Aquino. E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br. Ian Farias de Carvalho Almeida - Colunista Solteiro, católico, Seminarista do Seminário Papa João Paulo II, Diocese de Jequié-BA, cursa Filosofia na Instituto de Teologia de Ilhéus. http://beinbetter.wordpress.com/ ou:http://www.reflexoesfranciscanas.com.br/ Twitter: @ianfariasca Skype: ianfarias Igson Mendes da Silva - Colunista Leigo Católico, Solteiro, Analista de Sistemas do Tribunal de Contas do Amazonas, graduando em Teologia, membro da Paróquia de Santa Luzia, palestrante sobre doutrina, ética aplicada aos meios de comunicações sociais; formador, colabora com movimentos eclesiais ligados a Igreja Católica, Dirige o Apostolado Spiritus Paraclitus que se dedica em promover a fé católica. E-mail: igson.mendes@gmail.com Dezembro 2011 / In Guardia 05
Editorial Chegamos a terceira edição! Uma luta é travada a cada vez que cada edição está para sair. Colunistas que querem seus textos cada vez melhores correm para suas revisões, diagramação tentando ajustar tudo e divulgação a todo vapor. É assim que trabalhamos uma revista que pretende ser sempre gratuita, on line e ortodoxa. Sempre com Pedro e sob Pedro. Não é fácil, mas ninguém nunca nos prometeu facilidades. Pelo contrário: nos prometeram que seríamos cordeiros em meio a lobos. Nos prometeram portas estreitas e dificuldades mil. Aceitamos. Vamos em frente! Nessa edição nos atemos com especial atenção a Cristo Rei. Essa solenidade cujo significado muitas vezes acaba escondido em algum recôncavo de nossa história ou de nossas mentes. Nem sempre damos a especial atenção que ela merece, e como ela merece. Tentamos atingir o âmbito religioso, teológico, litúrgico, político e todos os mais que essa festa acaba englobando e já englobou na história do catolicismo e da humanidade. Não podemos nos esquecer também da festa da Imaculada Conceição, dia 08 de dezembro. Dia de preceito. Dia de todos irem a missa. Celebração que advém de dogma e que precisa ser aceito muito antes do que entendido. É com a mesma especial atenção que damos boas vindas aos nossos novos colunistas. São seminaristas, sacerdotes e leigos de todas as partes do Brasil que, graças à internet conseguem se encontrar e trocar ideias, conseguem se juntar e fazer de uma proposta paroquial uma revista lida e ao alcance de todos. Uma boa leitura a todos vocês.
Dezembro 2011 / In Guardia 06
Pense como os Santos.
Pe. Pio Ainda que o mundo vire às avessas, que tudo fique em trevas, fumaça ou tumulto, Deus estará sempre conosco.
A profissão de fé mais bela é a que, como um raio, dissipa as trevas da sua alma.
Quando cair, humilhe-se, proponha-se de novo a submeter-se à vontade de Deus e depois levante-se e siga adiante. A beneficência, venha de onde vier, é sempre filha da mesma mãe: a providência. Sofro muito porque não posso conduzir todos os meus irmãos a Deus! Tema o julgamento de Deus, não o dos homens.
Deus fala a quem tem um coração humilde diante dEle, e o enriquece com Seus dons. Muitas vezes o Senhor não nos escuta para não nos tornar mais ingratos.
Fique em silêncio quando puder, pois quando estamos sozinhos Deus fala livremente com nossa alma, e a alma fica mais disSe Deus permite que você vacile em alDeus nos ama; prova guma fraqueza, não é porque te abandisso é que tolera nosdonou; ao contrário, Ele está lhe fortasas ofensas com indullecendo na humildade e na vigilância. gência. Dezembro 2011 / In Guardia 07
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno
A Imaculada Conceição Somente quem recebe de Deus uma graça especialíssima, compreende, aceita e louva, o Dogma da Imaculada Conceição de Maria. O compreende quem medita sobre a extrordinária grandeza de um Deus concebido no seio de uma mulher; uma criatura que gera o divino -, mulher esta concebida de forma excepcional para nos trazer Deus que é Santíssimo, puro e poderoso – A Fé vem nos auxiliar, juntamente com a Igreja que é aquela que nos desvenda os mistéiros divinos. Maria em seu coração imaculado é o refúgio dos pecadores, porque Maria nunca cometeu a menor falta, e por isso esta mãe amada tem mais compaixão dos seus pobres filhos – do qual fazemos parte -, que não gozam, como Ela, do privilégio da isenção da concuspicência. Maria venceu o pecado, o demônio e a morte, por isso seus filhos, ao verem tão grande mãe, tem forças para vencer – com ajuda da graça, o pecado, o demônio e a morte, para a glória de Deus. Desde sempre a Igreja, atraves de seus fieis e dos santos padres, já compreendia, aceitava e anunciava a verdade da Imaculada conceição de Maria. Mas foi em 8 de dezembro de 1854, que o papa Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, fez a definição oficial do dogma da Imaculada Conceição de Maria. Assim, o Papa se expressou: “Em honra da santa e indivisa Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa, declaramos, pronunciamos e definimos a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante
“Digo com os santos: A divina Maria é o Paraíso Terrestre do novo Adão, onde Ele encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência do Altíssímo, onde Ele escondeu, como em seu Seio, o seu Filho Único e n’Ele tudo o que há de mais excelente e precioso. Que grandes e misteriosas coisas fez o Deus onipotente nesta admirável criatura, segundo ela própria é forçada a dizer, a despeito da sua profunda humildade: “ O poderoso fez em mim maravilhas, Santo é seu nome!”(Lc 1,49). O mundo não conhece estas maravilhas, porque é incapaz e indigno disso” - (São Luis Maria Grignon de Monfot – Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria – pag 18) de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus e, portanto, deve ser sólida e constantemente crida por todos os fiéis” Voltemos um pouco em nosso Credo – Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. Verbo nascido do Pai antes de todos os séculos e consubstancial ao Pai. Por Ele tudo foi feito. Encarnou por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria e se fez homem. Cremos que pelo sacrifício da Cruz, nos remiu do pecado original e de todos os pecados pessoais, cometidos por cada um de nós (Cfr Credo do Povo de Deus). Tudo isso só aconteceu porque Deus no seu eterno amor, desde toda eternidade escolheu o homem: escolheu-o no Filho. Deus escolheu o homem, a fim de que possa atingir a plenitude do bem, que é posse d’Ele mesmo, mediante a participação da sua mesma vida: Vida Divina, por meio da graça. Deus nos fez filhos no Filho. É uma escolha
irreversível. Portanto, nem o pecado orginal, nem todas as culpas humanas, todos os pecados sociais, puderam dissuadir o eterno Pai de seu plano de amor. Não anularam a escolha de nós no Filho. É assim que Deus prepara, também desde toda eternidade, prevendo a queda do homem, seu Filho para redentor. Para tanto, foi preciso se fazer homem, e foi pelo Pai constituído cabeça da humanidade, tendo agora condições de expiar perfeitamente nossas culpas. Sendo a ofensa de Adão infinitamente grande, porque foi feita a Deus e como não havia sequer um justo, Deus em Seu Filho feito homem, como nos diz Tanquerey – “conciliou os direitos de justiça, com os da bondade, reparando completamente a culpa. Efetuou a justiça perfeita que constituía a reparação adequada, igual à ofensa, oferecida por um representante legítimo. Fez isso com a Encarnação e Redenção “ Para que o Filho viesse como Homem, Deus escolheu e pré-ordenou, uma Mãe, Santíssima e pura, para conceber este Filho Santo e puro. Como nos diz o Papa João Paulo II: Dezembro 2011 / In Guardia 08
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno gi-lo pela visão beatífica, quando esta graça for transformada em glória e de o ver face a face, como Ele se vê assim mesmo. Se para nos dar condições de estar com Ele na glória, Deus nos transforma, nos eleva, nos perdoa, nos envia o próprio Filho para morrer numa cruz e nos restituir a graça, o direito à herança, o direito de ve-lo uma dia na glória celeste, -, quanto mais Ele não faria com aquela que deveria gerar o Filho santíssimo e que sem concurso de varão gerou o próprio “Escolheu-a desde o princípio, Filho feito Homem? desde o primeiro momento da conceição, tornando-a digna da Que santidade plena, que pureza, maternidade divina, para a qual que equilibrio, que formosura, no tempo estabelecido seria chaque santidade, que mãe! Não semada. Fê-la primeira herdeira ria porventura verdadeiro chada santidade do próprio Filho. ma-la: Arca da Ailança, Vaso Primeira entre os remidos pelo insigne de devoção, vaso honoríSeu sangue, d’Ela recebido hufico, conforme em sua Ladaimanamente falando. Tornou-a nha? Não seria porventura, nossa imaculada no momento mesmo obrigação ter para da conceição”(Basílica Santa com ela verdadeiMaria Maior – dia 8 de dezemra devoção? Abro de 1978 – Festa da Imaculamando-a, imitanda Conceição). do-a, louvando-a, porque em ultima Ora, pelo pecado de Adão, instância é Deus todos nós nascemos com a mancha do pecado original, ou seja, mesmo que amasem a graça que nos capacita a mos nela? Sua viver em Deus e para Deus. Por gradeza, sua hunatureza, nenhuma criatura teria mildade, sua obecondições de estar diante de diência nos leva a Deus, que é puro espírito santis- dar louvores a simo e pleno. Deus o fez dando a Deus, já que todo cumulado Adão este dom, este bem, fazen- bem nesta serva vem do-nos portanto, herdeiros d Ele de Deus. Honranmesmo, fazendo parte de sua família divina. Mas Adão rejeitou do-a, é Deus que poreste bem ao pecar, e no Filho, honramos, tanto. através dos méritos adquiridos na Cruz, recebemos o perdão e a graça perdida pelo nosso pai. Deus, então nos modifica de uma forma acidental, é certo, em nossa natureza e capacidade de ação, não nos tornando Deus – longe disso, mas nos torna como diz Tanquerey “deiformes”- semelhantes à Ele, capazes de atin-
mancha do pecado recebendo a Graça já no momento de sua conceição. Por conta disso, tinha Maria todo o equlibrio das paixões, toda sua vontade era inteiramente conformada com a santa vontade de Deus, tudo que fazia não tinha a menor sombra de pecado, justamente por conta da plenitude da graça que a cobriu, pela ação do Espírito Santo – que é o próprio Deus agindo nela e por Ela. Ora, se Deus é pleno numa pessoa, esta pessoa é, portanto, santíssima e com totais condições de gerar seu Filho. “Quem fará sair o puro do impuro? Ninguém!” (Jó 14,4). Ela, apesar de livre, não contradiziria à Deus, se sujeitou à sua vontade, tão logo o anjo lhe revela sua maternidade divina, apesar de sua pouca idade, não titubiou, sabia e confiava que em Deus tudo era possivel. Toda obra redentora estava suspensa no Fiat de Maria.E a Virgem bem disso sabia e no fundo entendeu o que lhe estava sendo proprosto. Sem condições e sem restrições, faz do desejo de Deus uma certeza e se entrega.
Maria foi concebida sem pecado, pelos méritos de Cristo. Recebeu a graça que a capacitaria a gerar o Filho do Altíssimo. Foi preservada da Dezembro 2011 / In Guardia 09
A vida dos Santos por Ana Maria Bueno São Tomás nos fala assim de Maria, que durante todo o curso de sua vida foi santissima: “Deus prepara e dispõe a quem elege para algo, de modo que se fazem idôneos para os quais são elegidos: “Nos hão feitos ministros idôneos do Novo Testamento (II Cor III,6)”. Se pois, a Bem-Aventurada Virgem foi eleita por Deus para que fosse Mãe de Deus, não deve duvidarse que Deus a fez idônea para isto por sua graça, segundo o anjo disse: “Há achado graça diante de Deus; eis que conceberás... (Lc I,30). Não havia sido, se alguma vez houvesse pecado; já porque a honra dos pais redunda nos filhos, segundo aquilo: “Glória dos filhos são seus pais (Prov. XVII,6), e pelo contrário a ignomínia da mãe redundaria no filho; já também porque teve singular afinidade com Cristo, que recebeu dela sua carne. Se diz na 2ª carta aos Corínthios (VI,15): “Que concórdia entre Cristo e Belial? O que tem em parte o fiel com o infiel? Já também, porque o Filho de Deus, que é a Sabedoria de Deus, habitou nela de modo singular, não somente em sua alma, senão também em seu seio. Mas se diz no Livro da sabedoria (I,4): “Por quanto na alma maligna não en-
Quem neste mundo gerou um Deus – Homem , pela força do Espirito Santo? Louvado seja Jesus Cristo! Contemplamos vossas maravilhas, ó Senhor. Sim, a Tota Pulchra deve salvar o mundo, o mistério da Imaculada Conceição. Louvado seja Jesus Cristo! Digamos: “Totus Tuus ego et ominia Tua sunt. Accipio Te in mea omnia! (Sou todo teu e tudo o que tenho é teu. Sê tu a minha guia em tudo trará a sabedoria, nem morará no corpo submetido a pecados”; por conseguinte, é preciso reconhecer que a Bem-Aventurada Virgem não cometeu pecado algum, nem mortal, nem venial; para que assim se cumprisse nela o que se diz: “Toda é formosa, amada minha, e mácula alguma há em ti (Cant IV,7)”- (Sum Theol. 3ª ,q.XXVII,a.IV)
Eis o que nos diz o Credo do Povo de Deus: “Certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a ela Deus Pai dispusera dar seu Filho Unigênito — gerado do seu seio, igual a si mesmo e amado como a si mesmo — de modo tal que Ele fosse, por natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o próprio Filho estabelecera torná-la sua Mãe de modo substancial; porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dela fosse concebido e nascesse Aquele de quem Ele mesmo procede”
Ilustração sobre a proclamação do dogma da Imaculada Conceição na Bula Ineffabilis Deus, de 8 de dezembro de 1854.
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A homilia de Pedro.
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO I NA TOMADA DE POSSE DA DIOCESE DE ROMA Patriarcal Arquibasílica Lateranense Sábado, 23 de Setembro de 1978 Agradeço de coração ao Cardeal Vigário as delicadas palavras com que — também em nome do Conselho Episcopal, do Cabido Lateranense, do Clero, dos Religiosos, das Religiosas e dos fiéis — quis expressar a dedicação e o propósito de colaboração prática, na diocese de Roma. O primeiro testemunho concreto desta colaboração pretende ser a soma ingente recolhida entre os fiéis da diocese e posta à minha disposição a fim de prover de igreja e de estruturas paroquiais um bairro periférico da Cidade, ainda destituído destes essenciais auxílios comunitários de vida cristã. Agradeço, sinceramente comovido. 1) O mestre de cerimónias escolheu as três leituras bíblicas para esta liturgia solene. Julgou-as a propósito e eu vou procurar explicá-las. A primeira leitura, Isaías 60, 1-6, pode ser referida a Roma. Ë de todos sabido que o Papa adquire autoridade sobre toda a Igreja porque é Bispo de Roma, isto é, sucessor, nesta cidade, de Pedro. E especialmente graças a Pedro, pode a Jerusalém, de que falava Isaías, ser considerada figura, prenúncio de Roma. Também de Roma, como sé de Pedro, lugar do seu martírio e centro da Igreja católica, se pode dizer: Sobre ti levanta-se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão para a tua luz (Is. 60, 2). Recordando as peregrinações dos Anos Santos e as que se vão realizando nos anos normais com ininterrupta afluência, pode-se com o profeta apostrofar
Roma de ste modo: Levanta os olhos e vê à tua volta:... os teus filhos chegarão de longe... para ti afluirá a multidão das gentes do mar, e as fileiras dos povos virão a ti (Is. 60, 4-5). Realizar-se isto é honra para o Bispo de Roma e para vós todos. Mas é também responsabilidade. Encontrarão aqui os peregrinos um modelo de verdadeira comunidade cristã? Com a ajuda de Deus, seremos nós capazes, Bispos e fiéis, de reali- João Paulo I e o Cardeal Karol Wojtyla, que se tornou Papa João Paulo II zar aqui as palavras de Isaías, escritas antes das supracitadas? Refiro-me a Pio X, n. 154). Roma será verdaestas: Já não se ouvirá falar de deira comunidade cristã, se Deus violência na tua terra... o teu se- for nela honrado não só com a rá um povo todo de justos(Is. 60, afluência dos fiéis às igrejas, não 18.21). Há poucos minutos, o só com a vida privada, vivida Professor Argan, Presidente da morigeradamente, mas também Câmara de Roma, dirigiu-me com o amor aos pobres. Estes — corteses palavras de saudação e dizia o diácono romano Lourenbons votos. Algumas das suas ço — são os verdadeiros tesoupalavras trouxeram-me ao espíri- ros da Igreja; devem, portanto, to uma das fórmulas que, sendo ser ajudados, por quem pode, a criança, eu repetia com a minha terem e serem mais, sem recebemãe. Eram as seguintes: "Os pe- rem humilhações e ofensas com cados que bradam ao céu são... riquezas ostentadas, com dinheiopressão de pobres..., não pagar ro esbanjado em coisas fúteis e o salário a quem trabalha". Por não investido — quando possísua vez, o pároco interrogava-me vel — em empresas de utilidade no catecismo: "Os pecados, que comum.0 bradam vingança diante de Deus, porque são eles dos mais graves 2) A segunda leitura, Hebreus e funestos?". E eu respondia se- 13, 7-8; 15-17; 20-21, adapta-se gundo o catecismo de Pio X: aos fiéis de Roma. Escolheu-a, "Porque são directamente con- como disse, o Mestre de cerimótrários ao bem da humanidade e nias. Confesso que, falando ela são odiosíssimos, tanto que pro- de obediência, me embaraça um vocam, mais que os outros, os tanto. É tão difícil, hoje, convencastigos de Deus" (Catecismo de cer, quando se põem em conDezembro 2011 / In Guardia 11
A Homilia de Pedro. tem as mais felizes iniciativas" (Ibid. 37, nota 3. ). Eis, porém, uma indicação do Concílio para o "ousado cavaleiro", isto é, para os leigos: "os fiéis devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo, e Jesus Cristo ao Pai" (Ibid. 27). Peçamos ao Senhor que ajude tanto o Bispo como os fiéis, tanto o cavaleiro como os cavalos. Foi-me dito que, na diocese de Roma, são numerosas as pessoas que se dedicam generosamente O Papa João Paulo I, nascido Albino Luciani pelos irmãos, e numefronto os direitos da pessoa hu- rosos os catequistas; muitos esmana e os direitos da autoridade peram ainda um aceno para ine da lei! No livro de Job é des- tervirem e colaborarem. O Secrito um cavalo de batalha: salta nhor nos ajude a todos para como um gafanhoto e está ofe- constituirmos em Roma uma cogante; escava a terra com o cas- munidade cristã viva e operante. co e depois lança-se com ardor; Não foi sem motivo que citei o quando a trombeta dá sinal, re- capítulo quarto da Lumen gentilincha de júbilo; de longe fareja um: é o capítulo da "comunhão a batalha, a voz atroadora dos eclesial". O que fica dito referechefes e o alarido dos guerreiros se porém, de maneira especial, (Cfr. Job 39, 15-25). Símbolo da aos leigos. Os sacerdotes, os reliliberdade. A autoridade, pelo giosos e as religiosas têm uma contrário, assemelha-se ao cava- posição particular, ligados como leiro prudente, que monta a ca- estão ou pelo voto ou pela provalo e — ora com voz suave, ora messa de obediência. Recordo, usando moderadamente as espo- como um dos momentos solenes ras, o freio e o chicote — o exci- da minha existência, aquele em ta, ou pelo contrário lhe modera que, tendo as minhas mãos entre a corrida impetuosa, o enfreia e as do Bispo, disse: "Prometo". o faz parar. Pôr de acordo cavalo Desde então sinto-me obrigado e cavaleiro, liberdade e autorida- por toda a vida e nunca pensei se de, tornou-se problema social. E tivesse tratado de cerimónia sem também problema da Igreja. No importância. Espero que os saConcílio tentou-se resolvê-lo no cerdotes de Roma pensem do quarto capítulo da Lumen genti- mesmo modo. A eles e aos recordaria São um. Eis as indicações conciliares religiosos para o "cavaleiro": "Os sagrados Francisco de Sales o exemplo pastores conhecem perfeitamen- de São João Baptista, que vite quanto os leigos contribuem veu na solidão, longe do Separa o bem de toda a Igreja. Pois nhor, embora bem desejoso aqueles próprios sabem que não de estar perto. Porquê? Por foram instituídos por Cristo para obediência; "sabia — escreve se encarregarem por si sós de o Santo — que encontrar o toda a missão salvadora da Igreja Senhor, fora da obediência, para com o mundo, mas que o significava perdê-l'O"(F. De seu cargo sublime consiste em Sales, Oeuvres, Annecy, pastorear de tal modo os fiéis e 1896, p. 321). de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos, 3) A terceira leitura, Mateus cada um segundo o seu modo 28, 16-20, recorda ao Bispo próprio, cooperem na obra co- de Roma os seus deveres. O mum" (L.G., 30). E mais ainda: primeiro é "ensinar", proponsabem também, os pastores, que, do a palavra do Senhor com "nas batalhas decisivas, é às ve- fidelidade tanto a Deus como zes da frente da hoste que par- aos ouvintes, com humildade
mas com franqueza sem timidez. Entre os meus santos predecessores Bispos de Roma, dois são também Doutores da Igreja: São Leão, o vencedor de Átila, e São Gregório Magno. Nos escritos do primeiro há um pensamento teológico altíssimo e cintila nele uma língua latina estupendamente arquitectada; não julgo poder imitá-lo nem de longe. O segundo, nos seus livros, é "como pai, que instrui os próprios filhos e lhes comunica os cuidados que toma a fim de que se salvem" (I. Schuster, Liber Sacramentorum, vol. I, Turim 1929, p. 46). Desejo fazer o possível por imitar o segundo, que dedica todo o livro terceiro da sua Regula Pastoralis ao tema "qualiter doceat", isto é, como deve o pastor ensinar. Em nada menos de 40 capítulos inteiros, indica Gregório de modo concreto várias formas de instrução segundo as várias circunstâncias de condição social, idade, saúde e temperamento moral dos ouvintes. Pobres e ricos, alegres e melancólicos, superiores e súbditos, doutos e ignorantes, atrevidos e tímidos, e assim por diante; naquele livro estão todos, é como o vale de Josafat. No Concílio Vaticano pareceu novo que fosse chamado "pastoral" não já o que era ensinado aos pastores, mas o que os pastores faziam para corresponder às necessidades, às ansiedades e às expectativas dos homens. Aquele "novo" Gregório já o fizera vários séculos antes, tanto na pregação como no governo da Igreja.
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A Homilia de Pedro. O segundo dever, expresso pela palavra "baptizar", refere-se aos Sacramentos e a toda a liturgia. A diocese de Roma seguiu o programa da Conferência Episcopal Italiana "Evangelização e Sacramentos"; já sabe que evangelização, sacramento e vida santa, são três momentos dum caminho único: a evangelização prepara para o sacramento, o sacramento leva quem o recebeu a viver cristãmente. Desejo que este importante conceito seja aplicado em medida cada vez mais larga. Desejava também que Roma desse bom exemplo em matéria de Liturgia celebrada piedosamente e sem "criatividades" destoantes. Alguns abusos em matéria litúrgica favoreceram talvez, como reacção, atitudes que levaram a tomadas de posição em si insustentáveis e em contraste com o Evangelho. Ao apelar, com afecto e com esperança, para o sentido de responsabilidade de cada um perante Deus e a Igreja, desejaria poder dar a certeza que todas as irregularidades litúrgicas serão diligentemente evitadas. E eis-me chegado ao último dever episcopal: "ensinar a observar"; é a diaconia, o serviço de guiar e governar. Embora eu tenha sido já vinte anos Bispo em
Vaticano, 26 de agosto de 1978, vinte dias após a morte do papa Paulo VI, os cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, votam o nome de um novo papa. Os votos são contados e queimados, formando uma fumaça branca. “Habemus Papam!” (Temos Papa), anunciava o deão. Na varanda principal aparecia Albino Luciani, já feito sumo sacerdote, com o seu sorriso peculiar no rosto, dando a sua benção ao mundo católico. Vittorio Véneto e em Veneza, confesso não ter ainda "aprendido o ofício". Em Roma entrarei na escola de São Gregório Magno, que escreve: "Esteja (o pastor) perto de cada súbdito com a compaixão; esquecendo o seu grau, considere-se igual aos súbditos bons, mas não tenha receio de exercer, contra os malvados, os direitos da sua autoridade. Recorde-se: enquanto todos os súbditos levantam ao céu o que ele tenha feito de bem, nenhum se atreve a repreender o que fez de mal; quando ele reprime os vícios, não deixe de reconhecer-se com humildade igual aos irmãos por si mesmo corrigidos; e sinta-se diante de Deus tanto mais devedor, quanta mais
impunes ficam as suas acções diante dos homens" (Reg Past., Parte segunda, cc.5 e 6 passim). Aqui termina a explicação das três leituras bíblicas. Seja-me permitido acrescentar uma coisa só: é lei de Deus que não se pode fazer bem a pessoa alguma se primeiro não se lhe quer bem. Por isso, São Pio X, entrando como Patriarca em Veneza, exclamou em São Marcos: "Que seria de mim, Venezianos, se não vos amasse?". Eu digo aos Romanos coisa semelhante: posso assegurar-vos que vos amo, que só desejo começar a servirvos e pôr à disposição de todos as minhas pobres forças, aquele pouco que tenho e sou.
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A Homilia do Papa.
Homilia em Benim - África VIAGEM APOSTÓLICA AO BENIM 18-20 DE NOVEMBRO DE 2011 SANTA MISSA E ENTREGA DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL AOS BISPOS DA ÁFRICA "Stade de l’amitié" - Cotonou Domingo, 20 de Novembro de 2011
gar em Roma há diversos meses. O texto evangélico, que acabamos de ouvir, diz-nos que Jesus, o Filho do Homem, o juiz supremo das nossas vidas, quis assumir o rosto daqueles que têm fome e sede, dos estrangeiros, dos que estão nus, doentes ou presos… enfim, de todas as pessoas que sofrem ou são marginalizadas. E, por conseguinte, o comportamento que tivermos com eles será considerado o modo como nos comportamos com o próprio Jesus. Não vejamos nisto uma mera fórmula literária, nem uma simples imagem; toda a vida de Jesus é uma ilustração disso mesmo. Ele, o Filho de Deus, tornou-Se homem, partilhou a nossa vida mesmo nos detalhes mais concretos, fazendo-Se servo do mais pequenino dos seus irmãos. Ele que não tinha onde repousar a cabeça, seria condenado a morrer numa cruz. Este é o Rei que celebramos!
Amados Irmãos no episcopado e go, Burquina-Faso, Níger e outros. A nossa celebração eucarísno sacerdócio, tica nesta solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do UniQueridos Irmãos e Irmãs! verso dá-nos ocasião de agradecer a Deus pelos cento e cinSeguindo os passos do meu pre- quenta anos passados do início decessor, o Beato João Paulo II, da evangelização do Benim e é uma grande alegria para mim também pela segunda Assemvisitar pela segunda vez este bleia Especial para a África do Isto pode, sem dúvida, parecerquerido continente africano, vin- Sínodo dos Bispos que teve lu- nos desconcertante! Ainda hoje, do ter convosco ao Benim para vos dirigir uma mensagem de esperança e de paz. Quero, antes de mais nada, agradecer de todo o coração a D. Antoine Ganyé, Arcebispo de Cotonou, pelas suas palavras de boas-vindas e saudar os bispos do Benim, bem como todos os cardeais e bispos vindos de vários países da África e doutros continentes. E a todos vós, irmãos e irmãs bem amados, que viestes participar nesta Missa celebrada pelo Sucessor de Pedro, dirijo a minha saudação mais calorosa. Penso naturalmente nos habitantes do Benim, mas também nos fiéis dos países francófonos vizinhos: To-
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A Homilia do Papa. como há 2000 anos, habituados a ver os sinais da realeza no sucesso, na força, no dinheiro ou no poder, temos dificuldade em aceitar um tal rei, um rei que Se faz servo dos mais pequeninos, dos mais humildes; um rei cujo trono é uma cruz. E todavia – como ensinam as Escrituras – é assim que se manifesta a glória de Cristo; é na humildade da sua vida terrena que Ele encontra o poder de julgar o mundo. Para Ele, reinar é servir! E aquilo que nos pede é segui-Lo por este caminho: servir, estar atento ao clamor do pobre, do fraco, do marginalizado. A pessoa baptizada sabe que a sua decisão de seguir Cristo pode acarretar-lhe grandes sacrifícios, às vezes até mesmo o da própria vida. Mas, como nos recordou São Paulo, Cristo venceu a morte e arrastanos atrás de Si na sua ressurreição; introduz-nos num mundo novo, um mundo de liberdade e felicidade. Ainda hoje temos muitos vínculos com o mundo velho, muitos medos que nos mantêm prisioneiros, impedindo-nos de viver livres e felizes. Deixemos que Cristo nos liberte deste mundo velho. A nossa fé n’Ele, vencedor de todos os nossos medos e misérias, faz-nos entrar num mundo novo: um mundo onde a justiça e a verdade não são objecto de burla, um mundo de liberdade interior e de paz connosco, com os outros e com Deus. Tal é o dom que Deus nos fez no nosso Baptismo.
que vos está preparado desde a criação do mundo» (Mt 25, 34). Acolhamos esta palavra de bênção que o Filho do Homem, no dia do Juízo, há-de dirigir aos homens e mulheres que tiverem reconhecido a sua presença nos mais humildes dos seus irmãos, com um coração livre e repleto do amor do Senhor. Amados irmãos e irmãs, esta passagem do Evangelho é verdadeiramente uma palavra de esperança, porque o Rei do universo Se fez solidário connosco, servo dos mais pequeninos e dos mais humildes. Daqui queria fazer chegar uma palavra amiga a todas as pessoas que sofrem, aos doentes, a quantos estão infectados pela sida ou por outras doenças, a todos os esquecidos da sociedade: Tende coragem! O Papa pensa em vós e recorda-vos na oração. Tende coragem! Jesus quis identificar-Se com os pequeninos, com os doentes; quis partilhar o vosso sofrimento e, em vós, reconhecer irmãos e irmãs para os libertar de todo o mal, de todo o sofrimento! Cada doente, cada pobre merece o nosso respeito e o nosso amor, porque, através dele, Deus indica-nos o caminho para o céu.
Hoje convido-vos também a alegrar-vos comigo. Com efeito, há «Vinde, benditos de meu Pai, 150 anos que a cruz de Cristo foi recebei como herança o Reino, implantada na vossa terra, que o
Papa Bento XVI cumprimenta o presidente de Benin, Thomas Yayi Boni
Evangelho foi anunciado nela pela primeira vez. Neste dia, damos graças a Deus pela obra realizada pelos missionários, pelos «obreiros apostólicos» originários da nação ou vindos doutros lugares: bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas… todos aqueles que, ontem como hoje, permitiram a difusão da fé em Jesus Cristo no continente africano. Queria aqui fazer memória do venerado Cardeal Bernardin Gantin, exemplo de fé e de sabedoria para o Benim e para o continente africano inteiro. Amados irmãos e irmãs, todos aqueles que receberam o dom maravilhoso da fé, este dom do encontro com o Senhor ressuscitado, sentem também a necessidade de o anunciar aos demais. A Igreja existe para anunciar esta Boa Nova. E este dever permanece urgente. Depois de 150 anos, são numerosos aqueles que ainda não ouviram a mensagem da salvação de Cristo; aqueles que se mostram reticentes em abrir o próprio coração à Palavra de Deus; aqueles cuja fé é débil, e cuja mentalidade, costumes, estilo de vida ignoram a realidade do Evangelho, pensando que a busca dum bem-estar egoísta, do lucro fácil ou do poder seja o fim último da vida humana. Com entusiasmo, sede testemunhas ardorosas da fé que recebestes! Fazei brilhar por todo lado o rosto amável do Salvador, em particular diante dos jovens que, num mundo difícil, andam à procura de razões de viver e de esperar. Dezembro 2011 / In Guardia 15
A Homilia do Papa. A Igreja no Benim recebeu muito dos missionários; deve, por sua vez, levar esta mensagem de esperança aos povos que não conhecem, ou deixaram de conhecer, o Senhor Jesus. Amados irmãos e irmãs, convido-vos a sentir esta ânsia pela evangelização, no vosso país e no meio dos povos do vosso continente e do mundo inteiro. Isto mesmo no-lo recorda, com insistência, o recente Sínodo dos Bispos para a África! Sendo um homem de esperança, o cristão não pode desinteressar-se dos seus irmãos e irmãs. Isto estaria claramente em contradição com o comportamento de Jesus. O cristão é um construtor incansável de comunhão, de paz e de solidariedade – dons estes, que nos foram concedidos pelo próprio Jesus. Permanecendo fiéis a isto, colaboramos na realização do plano de salvação que Deus tem para a humanidade.
dos vossos Pais na fé. AKLUNƆ NI KƆN FƐNU TƆN LƐ DO MI JI [O Senhor vos cumule das suas graças]! On this feast day, we rejoice together in the reign of Christ the King over the whole world. He is the one who removes all that hinders reconciliation, justice and peace. We are reminded that true royalty does not consist in a show of power, but in the humility of service; not in the oppression of the weak, but in the ability to protect them and to lead them to life in abundance (cf. Jn 10:10). Christ reigns from the Cross and, with his arms open wide, he embraces all the peoples of the world and draws them into unity. Through the Cross, he breaks down the walls of division, he reconciles us with each other and with the Father. We pray today for the people of Africa, that all may be able to live in justice, peace and the joy of the Kingdom of God (cf. Rom 14:17). With these sentiments I affectionately greet all the English-speaking faithful who have come from Ghana and Nigeria and neighbouring countries. May God bless all of you!
nio de Cristo Rei sobre toda a terra. É Ele que remove tudo o que dificulta a reconciliação, a justiça e a paz. Sabemos que a verdadeira realeza não consiste numa demonstração de força, mas na humildade do serviço; nem na opressão dos fracos, mas na capacidade de os proteger e conduzir à vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Cristo reina a partir da Cruz e, com os seus Por isso, amados irmãos e irmãs, braços abertos, abraça todos os convido-vos a reforçar a vossa fé povos da terra, atraindo-os para em Jesus Cristo, com uma autêna unidade. Pela Cruz, abate os tica conversão à sua pessoa. Só muros da divisão, reconcilia-nos Ele nos dá a vida verdadeira, e uns com os outros e com o Pai. pode libertar-nos de todos os Hoje rezamos pelos povos da nossos medos e entorpecimenÁfrica, para que todos sejam catos, de todas as nossas angústias. pazes de viver na justiça, na paz Reencontrai as raízes da vossa e na alegria do Reino de Deus vida no Baptismo que recebestes (cf. Rm 14, 17). Com estes sentie que faz de vós filhos de Deus. mentos, saúdo afectuosamente Que Jesus Cristo vos conceda a todos os fiéis de língua inglesa todos a força de viver como crisvindos do Gana, da Nigéria e tãos, procurando transmitir genedos países limítrofes. Que Deus rosamente às novas gerações a- [Neste dia de festa, compartilha- vos abençoe a todos!] quilo que vós mesmos recebestes mos a nossa alegria pelo domíQueridos irmãos e irmãs da África lusófona que me ouvis, a todos dirijo a minha saudação e convido a renovar a vossa decisão de pertencer a Cristo e de servir o seu Reino de reconciliação, de justiça e de paz. O seu Reino pode ser posto em perigo no nosso coração. Aqui Deus cruza-se com a nossa liberdade. Nós – e só nós – podemos impedi-Lo de reinar sobre nós mesmos e, em consequência, tornar difícil a sua realeza sobre a família, a sociedade e a história. Por causa de Cristo, tantos homens e mulheres se opuseram, vitoriosamente, às tentações do mundo para viver fielmente a sua fé, às vezes mesmo até ao martírio. A seu exemplo, amados pastores e fiéis, sede sal e luz de Cristo na terra africana! Amen. Dezembro 2011 / In Guardia 16
Brasil sem Aborto por Lenise Garcia.
Células-tronco: ciência e ética, verdades e falácias . Nas últimas semanas, diversas vezes as célulastronco voltaram a merecer a atenção da sociedade, por diferentes motivos. O Pontifício Conselho para a Cultura promoveu uma conferência internacional sobre o desenvolvimento científico na área e as questões éticas relacionadas: Células estaminais adultas: a ciência e o futuro do homem e da cultura. O Papa Bento XVI ali fez um discurso, no dia 12 de Novembro. Mostrando apoio à pesquisa com células-tronco adultas (que a Santa Sé inclusive financia), e restrição às embrionárias, disse o Papa:
é de grande importância para garantir que os progressos médicos nunca sejam realizados pagando um preço humano inaceitável. A Igreja contribui para este diálogo ajudando a formar as consciências de acordo com a reta razão e à luz da verdade revelada. Ao fazer isso, procura não obstacular o progresso científico mas, ao contrário, orientálo numa direção que seja verdadeiramente fecunda e benéfica para a humanidade.
Se esse posicionamento do Papa era esperado, o que surpreendeu a muitos foi a declaração da empresa Geron, pioneira nas pesquisas com células embrionárias e dona das principais patentes relacionadas a elas, que acaba de anunciar a sua desistência dos testes com voluntários. E a razão ...o diálogo entre ciência e ética não é ética, mas médica e, prin-
cipalmente, financeira. Sem querer assumir o fracasso dos experimentos, a Geron saiu pela tangente, como relata o texto do Globo: “Nos testes, pessoas paralisadas por lesões na medula receberam injeções de células nervosas derivadas de células-tronco embrionárias. Até o momento, porém, nenhum dos quatro pacientes deu sinal de melhora. Mas isso não era esperado nos testes iniciais, contou John Scarlett, presidente da Geron, destacando que eles foram idealizados para avaliar a segurança da terapia e neste ponto teriam sido um sucesso”. É verdade que os primeiros testes clínicos são sempre para avaliar segurança, mas certamente eles não estariam desistindo se
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Brasil sem Aborto por Lenise Garcia. cem de doenças graves em nosso país. Não temos receio em afirmar, com toda ênfase, que tal dilema é falso... Ao contrário do que tem sido veiculado e acriticamente aceito pela opinião pública, as células-tronco embrionárias não são a grande promessa para gerar terapias. Na verdade, são as células-tronco adultas que têm produzido expressivos resultados...”. os testes estivessem dando os bons resultados que estão sendo obtidos aqui no Brasil com células-tronco adultas, que já permitiram a um paraplégico dar os seus primeiros passos. Fica evidente que, além da falta de ética no uso dos embriões, também os doentes que eventualmente seriam tratados com essas células não foram considerados de modo ético, o que transparece claramente na fala de Daniel Heumann, integrante do conselho de administração da Fundação Christopher e Dana Reeve, ao Washington Post: Estou enojado! Deixa-me doente ver eles pegarem as esperanças das pessoas e depois tomarem essa decisão apenas por questões financeiras. Estão nos tratando como ratos de laboratório.
des cientistas internacionais. Verifica-se, do que foi exposto, que o respeito à vida e à dignidade do ser humano, que deve informar toda a pesquisa científica, não está dissociado de resultados terapêuticos positivos, mas sim a ele associado.”
Nessa declaração, na histórica audiência pública que houve no STF e no material que encaminhamos aos senhores ministros, esclarecíamos que todos os exemplos mostrados de sucesso no uso de células-tronco em seres humanos, haviam sido obtidos com o uso de células-tronco adultas. Frisamos que já havia mais de 20 mil pacientes em teste clínico, envolvendo pelo menos 73 doenças diferentes, usando células adultas. E concluíamos:
“Sendo o Brasil um país que não dispõe de grandes recursos para aplicação em pesquisa, é crucial que sejam bem empregados. No que se refere à busca de terapias, certamente o campo das células-tronco adultas é já uma realidade, e muito mais promissor para o futuro, Era previsível esse desfecho? conforme reconhecido por granVolto um pouco no tempo para mostrar que sim.
Em 5 de maio de 2008, antes do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que questionava o uso de embriões humanos para pesquisa, fiz parte de um grupo de cientistas, parlamentares, juristas e lideranças nacionais de movimentos em defesa da vida humana, que divulgou a “declaração de Brasília” sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas. Dizíamos, já àquela altura: “Pretende-se contrapor a vida dos embriões congelados... à terapia e cura de muitos que padeDezembro 2011 / In Guardia 18
Idade Média com Rafael Diehl
A Igreja e a preservação do saber antigo Uma boa quantidade de obras gregas e latinas da Antiguidade Clássica chegou para nós até os dias de hoje, embora naturalmente uma grande parte tenha se perdido devido às inclemências do tempo e outros fatores. Pois bem, a Igreja Católica teve um papel importante na preservação do saber antigo que influenciou a nossa Civilização Ocidental. Isso não significa negar que essa preservação tenha sido igualmente feita por outros grupos ou instituições, como os povos islâmicos. Significa somente reconhecer que na sociedade ocidental, foi a Igreja o principal transmissor desse conhecimento. Nossa cultura tem sido influenciada a alguns anos por uma Revolução Cultural de caráter fortemente anticristão. Desta forma, difunde-se cada vez mais a idéia de que a Igreja era avessa ao conhecimento e aos saberes. É comum aprendermos na escola que o “Renascimento” dos séculos XV e XVI teria “recuperado o saber e a arte da Antiguidade Clássica”. A verdade é que a Antiguidade Clássica nunca foi relegada à escuridão do esquecimento na Europa cristã medieval. Os povos bárbaros pagãos que ocuparam as regiões do antigo Império Romano do Ocidente desde o século III queriam se legitimar como herdeiros das tradições romanas e viam na Igreja a depositária dessa rica tradição cultural. Some-se a isso o fato que durante o longo período das migrações e invasões bárbaras, a vida social concentrou-se no meio rural e as escolas e centros de saberes das grandes cidades acabaram entrando em declínio, restando os bispos como as grandes autoridades culturais e administrativas dentro das cidades. E é por isso que o episcopado passa a ocupar um destaque político e cultural nas cidades romanas, de forma que os reis e as aristo-
“[...] a Igreja é impelida a interessar-se continuamente pelo verdadeiro bem temporal dos homens. Pois, não cessando de advertir a todos os seus filhos que eles "não possuem aqui na terra uma morada permanente" (cf. Hb 13,14), estimula-os também a que contribuam, segundo as condições e os recursos de cada um, para o desenvolvimento da própria sociedade humana; promovam a justiça, a paz e a união fraterna entre os homens; e prestem ajuda a seus irmãos, sobretudo aos mais pobres e mais infelizes. Destarte, a grande solicitude com que a Igreja, Esposa de Cristo, acompanha as necessidades dos homens, isto é, suas alegrias e esperanças, dores e trabalhos, não é outra coisa senão o ardente desejo que a impele com força a estar presente junto deles, tencionando iluminá-los com a luz de Cristo, congregar e unir a todos Naquele que é o seu único Salvador. Tal solicitude entretanto, jamais se deve interpretar como se a Igreja se acomodasse às coisas deste mundo, ou se tivesse resfriado no fervor com que ela mesma espera seu Senhor e o Reino eterno.” (Papa Paulo VI. Credo do Povo de Deus, n. 27. 1968) cracias dos bárbaros germânicos se aproximaram dos bispos. Assim, vemos, por exemplo, a presença de São Remígio, Bispo de Reims, na corte do rei dos francos Clóvis I, em finais do século V, mesmo antes da conversão do dito monarca ao Cristianismo.
simplesmente guardar os livros, mas copiá-los em materiais novos, para garantir que as informações não se perdessem quando os materiais dos livros velhos deteriorassem. Nos diversos mosteiros copiavam-se manuscritos de todo tipo: escritos latinos e traduções latinas de textos Desde o século III haviam mos- gregos sobre Filosofia, História, teiros em várias regiões do anti- Matemática, História Natural, go Império Romano. Os monges cenobitas eram cristãos que abraçavam o estado de vida religioso mediante uma regra e vida em comum sob os votos de pobreza, castidade e obediência. Foram esses mosteiros os grandes centros de preservação do saber antigo. No século IV, o mosteiro de Tours, na Gália (parte da atual França), já realizava a cópia de manuscritos antigos. O primeiro mosteiro a dotar-se de uma biblioteca para guardar escritos antigos greco-romanos foi o mosteiro de Vivarium, no sul da Itália, fundado pelo monge Cassiodoro. Nota-se que não bastava Iluminura do século XI ilustrando um monge copistas
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Idade Média com Rafael Diehl Poesia, Gramática e mesmo textos religiosos pagãos. Contudo, a preservação desse saber não deuse somente na cópia de manuscritos. Motivados pelo desejo de conservar a cultura romana, diversos monges, padres e bispos passaram a escrever a História da Igreja nas regiões onde residiam em latim, com vistas a preservar a língua latina do esquecimento. Notamos isso por exemplo em São Gregório, bispo de Tours que ao escrever a História da Igreja entre os francos lamenta-se da escassez de conhecimento letrado e confessa sua vontade de escrever, mesmo que julgando-se indigno, para que o conhecimento e a escrita latina pudessem ser preservados e passados adiante. “A multidão lamentava-se dizendo: ‘Desgraçado seja o nosso tempo, pois o estudo das letras pereceu entre nós e já não se encontra ninguém que possa traduzir por escrito os acontecimentos presentes.’ Decidi-me, movido por estas queixas e outras semelhantes, repetidas todos os dias, a transmitir aos tempos vindouros a memória do passado; e, se bem que falando uma linguagem inculta, não pude no entanto calar nem o empreendimento dos maus, nem a vida dos homens de bem. O que sobretudo me excitou foi ter muitas vezes ouvido dizer, entre nós, que poucos homens compreendem um reitor que fale como filósofo; quase todos, pelo contrário, compreendem um narrador falando como vulgar [...]” (São Gregório de Tours. Historia Ecclesiastica Francorum, lib. I, t. I. Citado em: PEDREROSÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média – Textos e Testemunhas. São Paulo: Editora da UNESP, 2000, p. 43.)
aos poucos uma nova cultura. Um exemplo disso é a produção dos livros: não somente copiavam-se os escritos como dava-se um desenvolvimento especial à caligrafia e às iluminuras que ilustravam os códices e pergaminhos, de forma que o próprio livro era concebido como que uma obra de arte. Logo também passaram a surgir novos escritos comentando e discutindo os textos clássicos. Ao mesmo tempo, os clérigos e monges usavam-se nos métodos educacionais grecoromanos para as suas próprias escolas. Também no âmbito Iluminura de cerca do ano 1000 ilustrando copistas em um "scriptorium" prático, os mosteiros desenvolveram e aprimoraram as antigas técnicas construir a Nossa Civilização. de agricultura, melhorando o Lorena: Cleófas, 2008. cultivo, algo que se tornara essencialmente importante em uma COSTA, Ricardo da; FILHO, sociedade predominantemente Orlando Paes; VENTORIM, Eliane. Monges Medievais. São rural. Paulo: Planeta, 2004. Podemos ver após essa breve exposição, a importância da WOODS Jr., Thomas E. Como a Igreja, especialmente nos mos- Igreja Católica construiu a Citeiros, para a preservação do co- vilização Ocidental. São Paulo: nhecimento antigo em seus di- Quadrante, 2008. versos aspectos. E isso nos mostra a visão positiva que a Igreja tem da produção cultural humana, quando retamente ordenada. Prova disso é que a Igreja não somente preservou o antigo saber, mas o desenvolveu segundo uma ótica cristã. Pois a Igreja não descuida das realidades temporais, mas busca iluminá-las à luz da sabedoria do Evangelho. Assim, a Igreja aproveitou-se da Filosofia grega e do Direito Romano para construir as bases de uma ordem jurídica e social de acordo com a moral cristã, como bem recordou o Papa Bento XVI em seu recente discurso do Parlamento alemão em setembro desse ano.
Essa História que observamos, contudo, não vive somente de uma passiva preservação de textos, mas também de uma ação SAIBA MAIS: criadora. Ao mesmo tempo, a cultura romana mesclava-se com AQUINO, Felipe. Uma História a cultura germânica, formando que não é contada: o Trabalho da Igreja Católica para salvar e
Afresco anglo-saxão de um abade do século VII
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Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer.
A Educação na Colônia, Jesuítas e Marquês de Pombal . Conceituando a Educação da Colonização até os dias atuais. A Reforma Pombalina foi uma resposta à Educação Jesuíta que ocorreu concomitantemente à Colonização. Para Marquês de Pombal, a educação Jesuíta era retrógrada e movida por interesses. É fato que os Jesuítas poderiam incomodar, visto que usavam da educação para evangelizar, incutindo na mentalidade dos catequisandos valores morais que assim a Igreja entendia. O advento do Iluminismo ignora claramente os ensinamentos da Igreja, pois para eles o pensamento já não é mais Teologal, mas sim Racional. Agora é o homem quem está no centro do Universo. Segundo Paulo Freire, a Educação Jesuíta inaugurou o analfabetismo no Brasil. Discordo, é claro, visto que os Jesuítas, uma das Congregações mais intelectuais da Igreja, que deu à humanidade grandes nomes da Ciência, Filosofia e História, por mais que elucidassem o ensino pelo viés da fé, nunca conseguiriam impedir a liberdade de pensamento. Mesmo que a história nos diga que para eles os índios deveriam apenas obedecer e nunca pensar, o pensamento jamais é limitado. Poderia, sim, criar naquele que reflete sentimentos de culpa, porém nunca de impedimento. Tanto isto é verdade que houve, ao longo da história brasileira, grandes homens que romperam paradigmas. E mesmo que tenham rompido com os ensinamentos católicos, devem obrigatoriamente à Igreja, pois foi por meio dela que descobriram o saber e a arte de pensar. Foi por ela que adquiriram conhecimento, e com isto, a verdadeira liberdade.
Segundo Paulo Freire, a Educação Jesuíta inaugurou o analfabetismo no Brasil. Discordo, é claro, visto que os Jesuítas, uma das Congregações mais intelectuais da Igreja, que deu à humanidade grandes nomes da Ciência, Filosofia e História, por mais que elucidassem o ensino pelo viés da fé, nunca conseguiriam impedir a liberdade de pensamento. Mesmo que a história nos diga que para eles os índios deveriam apenas obedecer e nunca pensar, o pensamento jamais é limitado. Poderia, sim, criar naquele que reflete sentimentos de culpa, porém nunca de impedimento. Tanto isto é verdade que houve, ao longo da história brasileira, grandes homens que romperam paradigmas. E mesmo que tenham rompido com os ensinamentos católicos, devem obrigatoriamente à Igreja, pois foi por meio dela que descobriram o saber e a arte de pensar. Fato é que Marquês não queria a Igreja por perto, pois os Jesuítas, além de detentores do Conhecimento, da Ciência, das Artes e da Cultura (além de conhecimentos agrários, pois os livros de História evidenciam que os padres ensinaram os índios a plantar, arar a terra e colher), os Jesuítas recebiam impostos que eram arrecadados na Colônia. Pombal queria dinheiro para reformar a Nação Portuguesa. Como o pensamento Iluminista ganhava forças, era necessário romper com o pensamento religioso para agir apenas pelo pensamento livre. Juntou, então, o advento do Iluminismo com a ganância por dinheiro, logo se deu a expulsão dos Jesuítas. A educação brasileira sofreu demasiadamente, pois não tinha estrutura física e humana para tanto. Apesar de ter criado os “Alvarás”, a Reforma Pombalina não obtinha grande êxito. O curso de Hu-
manidades, possibilitado pelos Jesuítas, foi substituído pelas “Aulas Régias” que eram mantidas por impostos coloniais. Contudo, os aspectos burocráticos não facilitaram a implantação das aulas.
Marquês de Pombal.
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Educação, Política e Humanidades com Evelyn Mayer. É notório que Marquês de Pombal, por não querer os ensinamentos católicos por perto, não pensou no futuro da educação brasileira. Ela era real em suas idéias, mas inviáveis no cotidiano. Fato é que com a expulsão dos Jesuítas, o ensino que era oferecido gratuitamente, passa a ser cobrado. Enquanto a Igreja evangelizava índios e negros, Pombal elitiza a educação. Já não existe mais educação para todos (como hoje, aliás, defende Freire), mas apenas para os latifundiários. Os professores, por terem péssima remuneração, acabam desenvolvendo outras atividades na Colônia, não tendo, assim, tempo para dedicar-se aos estudos e ao conhecimento. Brasil colônica: educação jesuítica e reforma pombalina.
Deste modo, os habitantes do Brasil – colônia passam a ser educados pela Ordem Franciscana, também pelos Beneditinos, pelas Irmãs Carmelitas e alguns leigos de outras profissões. Havia precariedade na educação, mas não porque davam continuidade ao modo Jesuíta, e sim, porque Pombal, ao expulsá-los, não deu condições físicas e humanas para a evolução do pensamento.
negros e índios, por exemplo, é dar vazão à idéia de que ainda são escravos do tempo da Descoberta, e que para tanto, não conseguem por conta própria alcançar seus objetivos, realizarem-se profissionalmente. E esta Ideologia Marxista/Socialista em que enfatiza a necessidade de igualitar o homem, esquecendo de suas peculiaridades, auxilia no retrocesso educacional. O país, assim, não avança à liberdade intelectual. Prova disto é a necessidade de “vender” diplomas. Com o advento dos cursos à distância, (criação esta do Governo atual, que está muito mais interessado em números que qualidade) além das leis que proíbem a reprovação dos alunos, tornando o ambiente escolar ainda mais deplorável, sem disciplina, faz com que os brasileiros continuem à margem do verdadeiro saber.
Deste processo reformador, surgem os cursos literários e teológicos em Olinda e no Rio de Janeiro pelo Bispo Azevedo Coutinho. Seguiam uma estrutura lógica, com planejamentos prévios das aulas pelos Professores, além dos estudantes reunidos em sala para os estudos. Isso só mudou com a chegada da Corte Real, que deu ao país um novo contexto político-econômico, além de preparar os cidadãos para assumir cargos de interesse da O acesso à educação, em alguns mesma. lugares do Brasil, ainda são inviáveis. E a formação de um MaÉ preciso enfatizar que o proces- gistério que tenha acesso a bons so educacional brasileiro pauta- livros, boas universidades e que se demasiadamente no papel do assim possam auxiliar seus aluoprimido, vitimizando o povo nos no processo de transformacom a intenção de salvá-los de ção, construindo homens livres a um passado negro. Verdade é partir do conhecimento, é quase que os mecanismos adotados na- impossível. Há, por exemplo, quela época ainda trazem resquí- professores de “boa-vontade”, cios no cotidiano. Ainda há em que dão aulas nos becos desta alguns lugares deste país escra- Terra de Santa Cruz sem ao mevidão e analfabetismo. Só que o nos terem terminado o Ensino Brasil ainda não aprendeu a ca- Fundamental. E este processo minhar rumo ao crescimento in- continuará ainda por muitos e telectual. A educação continua muitos anos, pois o Governo em caminhada ao precipício da deste país não trabalha em prol mediocridade. Criar cotas para
da massa. É também herança da Reforma Pombalina priorizar a elite e esquecer o necessitado. E não adiantará, creio eu, escrevermos livros supervalorizando o oprimido, pois quem deveria ler, não o faz, e quem lê, ignora. Aliás, creio que já passou da hora do País abandonar esta visão vitimista de si mesmo. Se temos acesso a tantas linhas de conhecimento (Arte, Música, Pecuária, Letras, Ciências), devemos grandemente aos Jesuítas. Então que façamos bom uso do que eles nos deixaram e ajamos em prol do crescimento intelectual, sem vítimas nem vitimadores.
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Aspectos do matrimônio com Karen Mortean
De irresistíveis a imcompatíveis. Antes do casamento todo casal de namorados vive a experiência intensa de um cativamento mútuo: são olhares profundos, abraços e conversas intermináveis e sensações que de tão intensas e agradáveis, mal se podem definir. Os encontros são preparados com todo zelo e esmero, sejam eles uma mera ida ao cinema, ao restaurante ou a um parque, e as suas cenas são sempre uma pintura repleta de doçura, de elogios e escutas interessadas, de ambas as partes. Então como compreender o fato de que essas mesmas pessoas, que se uniram livremente e para sempre por uma força irresistível, com apenas um, dois ou três anos após de seus solenes "sim" acabam querendo dizer "não" um ao outro, alegando para isso incompatibilidade de gênios? Estudos de profissionais de aconselhamento e orientação familiar (Dr. Harley, Jr. W.F), sugerem que a mudança de comportamentos no casamento obedecem dois motivos principais: 1) marido e mulher falham na intenção de fazer um ao outro
feliz; 2) marido e mulher fazem Quanto a primeira pergunta: sim, um ao outro infelizes por seus é possível tal mudança, contudo ela é muitíssimo improvável e comportamentos objetivos. reservada a casos extremos de Na primeira situacão o casal está falsidade e até patologia. Na frustrado porque suas expectati- maioria dos casos o que existe é vas não estão sendo atendidas, e um estado temporário de cegueina segunda situação, deliberada- ra mútua, provocada pelo foco mente já estão lutando um contra no processo de conquista alheia, o outro. Aqui cabem duas per- quando a renúncia das próprias guntas: É possível de forma tão vontades e a motivação em fazer repentina que esposos se tornem o outro feliz ocupam corpo e altão diferentes? Por que as expec- ma do pretendente na sua intentativas de ambos não estão sendo ção de fazer o relacionamento atendidas? dar certo. Nesses períodos intensos de conquista conjugal o que vale é atender expectativas e ter sucesso emocional, ficando o conhecimento mais profundo das personalidades e das naturezas intrínsecas de cada um para segundo plano, aliás, num plano quase dormente ou inexistente. Quanto a segunda pergunta: tudo é uma questão de motivação. Se na etapa pré-matrimonial o motivo para o esforço na busca pela satisfação dos desejos alheios era culminarem no "sim" definitivo (ainda que inconscientemente), na etapa seguinte, tal motivo parece escorrer pelas mãos pela simples realidade de que tiveram sucesso em suas empreitadas e de que a partir de agora não existem mais perigos de fracasso para o relacionamento (afinal, juraram-se um ao outro). E é exataDezembro 2011 / In Guardia 23
Aspectos do matrimônio com Karen Mortean plementar da masculidade da (Casais Intelifeminilidade" Com o passar do tempo, a ausên- gentes Filhos Resolvidos. Dora cia habitual daquelas renúncias Porto). orientadas a felicidade alheia, daquelas dedicações interessadas Um breve esforço mental já nos pelo outro e daqueles outros tra- recorda algumas dessas diferenços de empenho emocional po- ças entre os sexos. Fisicamente o dem ir afrouxando o zelo conju- homem é mais forte e mais cagal, e a capacidade de uma con- paz de esforços braçais, já a muvivência harmônica e feliz co- lher tem constituição mais delimeça a prejudicar-se em menor As frustrações são ou maior grau. mente aí aonde mora o perigo.
As frustrações são facilmente comentadas durante encontros entre amigos(as) e as reclamações sobre como o comportamento do outro os incomoda são frequentemente semelhantes entre os casais. E são semelhantes por uma simples e notória razão, que homem e mulher são realmente diferentes e não podem agir de outra forma.
facilmente comentadas durante encontros entre amigos(as) e as reclamações sobre como o comportamento do outro os incomoda são frequentemente semelhantes entre os casais. E são semelhantes por uma simples e notória razão, que homem e mulher são realmente diferentes e não podem agir de outra forma.
Uma estrofe musical conhecida diz o seguinte: "... o horário é que nunca combina, eu sou funcionário ela é dançarina. Quando pego o ponto ela termina". O fato é que não existe casal no mundo que não viva a realidade das diferenças. As diferenças fazem parte da natureza humana, que se fazem evidentes visualmente na distinção corpórea mas também em toda a dimensão psíquica, que aqui os distinguem na dualidade da forma de se manifestar: " ...entender a natureza humana, como sexuada de dual, é algo que com muita frequência é cada e frágil. O homem é mais deixado de lado, o que dificulta focado e objetivo enquanto a a compreensão do caráter com- mulher é mais dispersa (enquanto fala no telefone faz compras cuidando de 3 filhos) e subjetiva. A mulher fala para pensar (por isso tem tanta necessidade de falar muito), o homem pensa antes de falar (por isso a necessidade de se manter em silêncio). Além das diferenças somáticas, também cérebros masculinos/ femininos respondem ao mesmos estímulos de formas diferentes nos
campos fisiológicos e emocionais. Estas diferenças que quando analisadas com maior cuidado podem parecer triviais, estão contudo, nos bastidores de muitas discórdias, conflitos e mágoas. Quando tais diferenças são ignoradas por tempo demais acabamos vendo uma falha no gerenciamento de expectativas do casal e consequentemente a introdução de um clima de hostilidade e frustração geral entre ambos. Um tenta satisfazer o outro baseado nas suas próprias expectativas (ou na suposição das necessidades do outro) e acaba se magoando quando recebe a repulsa natural de uma necessidade não satisfeita. Um exemplo muito comum dessa dificuldade se dá na vida sexual do casal. A necessidade física dos homens em relação ao sexo é muito objetiva e direta; por sua vez as mulheres apresentam maior carência de afeto para a entrega corporal já que suas motivações com o sexo são mais subjetivas e indiretas. Quando o homem, no processo de desejo e atração por sua esposa, ignora as necessidades do envolvimento sexual da mulher, acaba sentindo-se rejeitado após perceber a menor propensão a união sexual por parte de sua esposa. É importante entender que as expectativas conjugais são sempre entrelaçadas, e quando um dos cônjuges se sente atendido em sua expectativa, naturalmente inclina-se a satisfazer o outro na expectativa correspondente.
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Aspectos do matrimônio com Karen Mortean
As necessidades emocionais de cada conjuge são tão poderosas que quando não satisfeitas induzem a infidelidade com mais frequência do que se espera. É evidente que o mais importante não é ficar na prevenção da infidelidade, mas no fomento a entrega mutúa, naquela entrega plena e feliz que um dia já viveram intensamente na fase de conquista pré-matrimonial. Ambos se sentirão mais felizes e essa felicidade se repercutirá em toda famíla.
É necessário uma decisão firme em romper com este ciclo e formar a consciência de que a entrega matrimonial é um ato de amor que deseja prioritariamente o bem do outro, a felicidade do outro e perceber que estes atos por consequência também nos fazem feliz. Um exemplo prático para uma esposa é tentar ser uma companhia agradável para o marido enquanto ele assiste ao futebol bebendo sua cerveja, e para o marido, atenciosamente auxiliar a esposa a escolher um sapato novo. Atitudes como estas repetidas com frequência predispõem o outro favoravelmente pois quem recebe amor tende a se manifestar com amor. Alguns casais
Nas promessas matrimoniais se garantem ao esposo (a) o exclusivo direito de encontrar no outro a satisfação de suas necessidades mais íntimas. A fórmula do consentimento matrimonial é um comprometer-se total com a felicidade alheia, que exige absoluta fidelidade, respeito e amor em quaisquer condições que se possa suportar, por todos os dias da vida.
Nas promessas matrimoniais se garantem ao esposo(a) o exclusivo direito de encontrar no outro a satisfação de suas necessidades mais íntimas. A fórmula do consentimento matrimonial é um comprometer-se total com a felicidade alheia, que exige absoluta fidelidade, respeito e amor em quaisquer condições que se possa suportar, por todos os dias da vida. E como essa fórmula na verdade não tem nada de mágica, mas sim de esforço e decisão, acaba gerando muitas vezes uma falsa garantia de casamento bem sucedido, aonde nada ou quase nada precisa efetivamente ser feito para sustentar o amor. A realidade é que o sucesso de um casamento depende demais de certas habilidades e capacidades que não são infundidas sobrenaturalmente diante do altar, mas que requerem o compromisso contínuo com o desenvolvimento interpessoal desta nova união. Boas intenções não são suficien- quando começam a fazer essa tes para manter-se casado, tam- nova experiência de "reprogramação" tendem a penpouco é questão de sorte. sar que esta atitude de agradar o Todos somos altamente reativos. outro com o pensamento de uma Se recebemos indiferença, possí- resposta favorável é algo desovelmente devolveremos indife- nesto, mau intencionado, mas rença. Se recebemos irritacão, saibamos que tal desconfiança se devolveremos irritacão. E de rea- faz equivocada pois como diria ção em reação, vamos nos enfi- Aristóteles: "somos o que repetiando dentro de um ciclo vicioso. damente fazemos. A excelência,
portanto, não é um feito, mas um hábito." Sabemos ainda que o esforçar para agradar o próximo é conselho cristão de dois milênios: "amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Mt. 22, 39) e não há dúvida de que o maior próximo do esposo(a) é a esposa(o). A paciência, a generosidade, a humildade são partes fundamental do matrimônio cristão porque abrangem a prática das virtudes, ou seja: "uma disposição habitual e firme para fazer o bem" (São Gregório de Nissa) Também não é gratuito relembrar sempre que o matrimônio é um sacramento que dispõem ao casal todas as graças necessárias para solucionar as dificuldades e fortalecer o amor: "esta graça própria do sacramento do matrimônio destina-se a aperfeiçoar o amor do cônjuges e a fortalecer a sua unidade indissolúvel. Por meio desta graca, eles auxiliamse mutuamente para a santidade, pela vida conjugal e pela procriação e educacnao dos filhos" (LG11). Responda agora e depois busque práticas concretas para realizar plenamente a pessoa com quem você casou: - O que faz feliz o meu esposo (a)? - Como poderia surpreender minha esposa(o)? - Há situações em que minha esposa (o) pode se sentir humilhada por minha causa? - Há quanto tempo (podem ser minutos, horas, dias, meses, ou anos) não faço um elogio sincero ao meu esposo (a)? - Gosto de estar sozinho com minha esposa? - Fazemos planos? - Como anda nosso relacionamento sexual? - Damos risada juntos? - Pense nos temas das suas conversas. Ou mesmo se há momentos de conversa.
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Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos
Entrevista: Rafael Vicuña, bioquímico: "a Pontifícia Academia de Ciências não entra em conflitos desnecessários" O entrevistado é o o bioquímico chilenoRafael Vicuña, membro e diretor da Pontifícia Academia de Ciências Vicuña foi um dos palestrantes do VI Congresso LatinoAmericano de Ciência e Religião, de que participei na Cidade do México entre os dias 19 e 21 de outubro desse ano, e tratou do tema "O que é a vida? Algumas noções a partir da Bioquímica (para um diálogo com a Teologia)". Perto do encerramento, ele me deu a seguinte entrevista, enquanto pedia para não deixar de mencionar o orgulho que sentia na semana em que seu time, o Universidad de Chile, havia goleado o Flamengo no Rio de Janeiro: ________________ Como é o funcionamento da Pontifícia Academia de Ciências? Temos dois tipos de reuniões: existem as plenárias, das quais participam todos os membros da Academia, com a presença ocasional, embora rara, de algum cientista convidado. Como aí estão todos os cientistas da Academia, que somos de variadas áreas do conhecimento, discutimos temas mais gerais, como por exemplo os valores culturais da ciência, o valor do descobrmento científico, a complexidade da ciência (que é nosso próximo tema). Assim, o astrônomo, o biólogo, o filósofo, o matemático, o químico, podem abordar esses temas dentro de sua própria perspectiva. E a Academia, três ou quatro vezes por ano, organiza pequenos workshops ou encontros sobre temas mais específi-
E a Academia, três ou quatro vezes por ano, organiza pequenos workshops ou encontros sobre temas mais específicos; nesses casos – como o dos glaciares, de que participei; ou o das células-tronco, dos transgênicos, da morte encefélica, da astrobiologia cos; nesses casos – como o dos glaciares, de que participei; ou o das células-tronco, dos transgênicos, da morte encefélica, da astrobiologia –, algums membros da Academia, os que mais estão ligados ao tema, convidam os maiores especialistas do mundo na área (mesmo que não sejam membros) para podermos analisar um tema mais a fundo. Qual o critério para a escolha dos temas? O Papa intervém na decisão sobre os assuntos discutidos pelos acadêmicos? Os próprios integrantes da Academia propõem temas à direção – como eu estou atualmente na direção, estou bem envolvido
com esse processo –; eles dizem "vejam, está havendo essa ou aquela tendência em tal área da ciência, então seria bom que convidássemos os especialistas para ter uma discussão a respeito aqui na Academia, no Vaticano". Mas ocasionalmente pode ocorrer que o Papa ou membros da hierarquia católica nos sugiram temas. Quanto discutimos a morte encefálica, eu não estava na direção, mas tive essa impressão, como se a hierarquia quisesse ter mais informação a respeito da morte encefálica e tivesse nos perguntado "por que vocês não covocam uma reunião?" E assim ocorreu, com algums membros da Academia e muitos especialistas, principalmente médicos neurologistas.
Plenária da Pontifícia Academia de Ciências: temas mais genéricos para que todos os cientistas possam participar.
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Tubo de Ensaio com Márcio Antônio Campos mais rapidamente às novidaMas nem todos os resultados des científicas e tecnológicas. das discussões da Academia Como o senhor avalia esta acabam se transformando em questão? textos pontifícios ou magisteriais. A Igreja é muito sábia, orientadora e formadora de todos os Depende. Por exemplo, o texto que pertencemos a ela, e não sobre a morte encefálica se con- pode ser precipitada. Como civerteu em documento oficial e entista, eu realmente gostaria foi publicado pela Academia; de ver a Igreja com uma atuadizer que é da Academia é, de ção mais explícita em algumas certa forma, dizer que é da Igre- áreas da ciência. No caso da ja. Tecnicamente, claro, não é a evolução, por exemplo, acho mesma coisa que um documen- que ela poderia dar um passo to, por exemplo, da Congrega- adicional. Mas, por outro lado, ção para a Doutrina da Fé, mas sei que esses assuntos não têm as pessoas entendem nossos do- a ver com o lado mais pastoral cumentos como um pronuncia- da Igreja, com os dogmas, ou mento oficial que tem a aprova- com problemas de filosofia anção do Vaticano. No entanto, tropológica. Eu gostaria – mas também há ocasiões em que nós, é uma opinião muito pessoal – da Academia, fazemos declara- que a Igreja assumisse um pações e as publicamos, mas sem pel de mais protagonismo nesse vinculá-las à Academia, especi- caso. João Paulo II deu um almente quando há conferências grande salto em 1996 e eu acho episcopais com diferentes pon- que poderia ocorrer de novo. tos de vista. Aconteceu, por exemplo, com os transgênicos; bispos de várias partes do mun- Houve uma certa polêmica no do não tinham opiniões favorá- Brasil quando o neurocientisveis e percebemos que, se fizés- ta Miguel Nicolelis foi nomeasemos uma declaração oficial a do para a Academia; católifavor, criaríamos um conflito cos se perguntaram como o desnecessário. No fim, a decla- Papa poderia nomear alguém ração foi publicada, mas não co- que defende o aborto e a unimo um documento oficial da A- ão homossexual, e esquerdiscademia; ele saiu só com a assi- tas acusaram Nicolelis de "se natura dos cientistas – inclusive vender ao Papa" por ter aceicom a minha, porque sou favorá- to a nomeação. Como ocorre esse processo na Academia? vel aos transgênicos.
membros que não são católicos por várias razões, e são todos bem vindos. A Academia é internacional; nem todos são católicos, mas é preciso que todos estejam de acordo com alguns princípios éticos básicos. Quando incorporamos um acadêmico, esperamos que continue com sua ciência e sua busca pela verdade, e o faça no espírito de tolerância e respeito, como temos feito na Academia. Um exemplo bem relevante é o de Stephen Hawking, que é membro da Academia e vem falando da falta de necessidade de um Criador; isso reflete a pluralidade da Academia e o respeito que temos pelos não religiosos. Essa diversidade traz que tipo de desafios? Há diversas opiniões de membros sobre eutanásia, célulastronco, e um lado ruim disso é que, quando queremos fazer uma declaração, nem sempre podemos ter respaldo da Igreja porque algumas vezes as declaraões têm termos de que eu particularmente não compartilho. Por exemplo, eu concordo com a Igreja que não podemos destruir embriões para tirar célulastronco; penso assim não só por fidelidade à Igreja, mas também como cientista.
E em que temas a Academia Os novos integrantes são novem trabalhando? meados por votação direta dos acadêmicos, a partir de nomes Estamos pensando num congres- sugeridos pelos próprios memso sobre educação – sempre te- bros. A Academia faz algumas mos workshops de educação averiguações porque este é um tema que nos e confia no de interessa muito. Ano que vem critério quem sugere teremos um encontro sobre células-tronco; já tratamos deste as- nomes. Como sunto antes, mas surgem novida- a Academia é des e novos desafios éticos, en- vista pelo púcomo tão é bom voltar ao tema perio- blico dicamente. Será naquele modelo um órgão do em que alguns poucos membros V a t i c a n o , da Academia convidam os me- muitos podequerer lhores especialistas do mundo. A riam que os intesessão plenária do próximo ano grantes comserá sobre a complexidade na pa rtil h a sse m ciência. dos princípios e da ética caÀs vezes se ouve uma crítica tólicas, mas de que a Igreja deveria reagir temos muitos Diretoria da Pontifícia Academia de Ciências durante sessão plenária: Rafael Vicuña é o primeiro à direita.
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Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino
Seu nome completo. Nesta edição gostaria de contribuir para uma visão do que é uma Jornada Mundial da Juventude a partir de alguns depoimentos. Para isso conto aqui com a carinhosa contribuição de duas pessoas amigas que tive a oportunidade de conhecer durante o encontro. Amizades que espero muito rever na JMJ 2013, no Brasil, a fim, também, de poder retribuir toda a acolhida que nos foi dispensada na Espanha. Mireia Planas Serradel nasceu e mora em Vic, cidade mãe da Congregação Filhos do Imaculado Coração de Maria, Espanha.
família onde o que não faltava A Jornada Mundial da Juventude foi uma experiência incrível e era alegria e louvor. única. Ajudou-me a crescer na Acho que temos que ter claro o minha fé e graças a está experisentido da JMJ. Não é um sim- ência pude ver a grandeza de ples encontro com o Papa, senão Deus e podido aprender muito de pessoas de diferentes culturas. é um encontro para comemorar o Sempre vou ter está experiência amor de Deus. Para nos encon- em meu coração. Graças a esse trar com o Cristo ressuscitado, e encontro pude ver Deus mais de tudo isso na presença da pessoa perto. que representa a nossa Igreja, o Papa. Juntos, faz-se essa come- Impressionou-me na JMJ a granmoração da alegria que sentimos de quantidade de pessoas que tinham a mesma crença. Um de sermos filhos de Deus. mesmo Espírito que não tinham O que mais me chamou a aten- fronteiras de países ou línguas e, ção na Jornada foi como jovens também, a alegria que havia por de todo o mundo, mesmo sem se todas as partes cheias do amor conhecerem, eram capazes de ter de Deus. uma união. Realmente sentíamos o Espírito conosco, nos sentía- Um dos momentos que mais mos todos apaixonados por Cris- gostei foi em “Cuatro Vientos”, o momento da Adoração da custo e por Deus. tódia. No silêncio que se fez nesQuero que chegue logo a JMJ no se momento e impressionava ver Brasil. Vai ser uma experiência como dois milhões de pessoas de reencontro com a “minha fa- ali reunidas eram capazes de permília Claretiana”, que conheci manecer em silêncio dessa maem Madrid e o poder comemorar neira. essa JMJ com o povo que tão bem me acolheu e tanto me deu. Espero estar no Brasil, se Deus quiser, pois espero pessoas muiEspe Calleja tem 17 anos, nas- to amáveis e simpáticas. Um país exótico e com muita cultura. ceu e vive em Sevilla. Uma comida, que suponho tropical como muitas frutas. “Un beso muy grande!”
A JMJ foi uma experiência muito boa. Para mim foi viver numa autêntica família. Estávamos unidos, jovens de todo o mundo, por um mesmo Espírito. Unidos no amor de Deus e de santo Antonio Maria Claret, uma pessoa que através de sua vida e das suas palavras nos ensinou a viver como pregadores do evangelho onde for preciso e através de todos os meios possíveis. Durante os dias de JMJ, senti-me numa
A juventude é um tempo da vida propício para a descoberta da vocação. É um bom momento onde se pode descobrir onde trabalhar os dons que Deus nos concedeu. A Igreja deve evidentemente ser o espaço onde o jovem deve fazer as perguntas que seguem inerentes a uma decisão em direção a vocação. Na juventude o mundo quer fazer acreditar que existem muitos caminhos, quando na verdade o Caminho único é Cristo. O discernimento dessa realidade cristã nem sempre é fácil. Contudo, os dias de preparação para uma Jornada Mundial da Juventude com as leituras das mensagens do Papa, a oração pessoal e a presença constante e devocional nas celebrações Eucarísticas, constituem Dezembro 2011 / In Guardia 28
Diário de Bordo da JMJ com Pedro Brasilino dias 26 e 29 de maio de 2012. Dias de profunda manifestação de fé da juventude de nossa arquidiocese serão muito bem preparados pelo Setor Juventude e Vocação.”
uma valorosa oportunidade de descoberta de Cristo, que assim, nos revela a nós mesmos. (Mt 16,13-17) Com o aprofundamento no conhecimento de Jesus, Ele nos revela e nossa vocação. Entretanto, esse conhecimento acerca de Jesus não deve ser feito como em uma simples leitura de uma biografia de alguém importante, mas, sim com o sentido de uma relação entre amigos, que cresce na constância em que se encontram e dialogam. Não se pode amar o que não se conhece, pois o amor toma forma com o conhecimento e com a intimidade. Sobre o amor disse, assim, são João da Cruz: "O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado." Para aqueles que viveram a maravilhosa experiência da JMJ, em Madrid, podem recordar com a frase de são João da Cruz, um dos padroeiros do evento, os dois dias em “Cuatro Vientos”. Onde primeiro os peregrinos sofreram com o sol, os poucos recursos, mínimas acomodações, comida muito dife-
Dias e momentos em que os jovens, em suas diversas dioceses, poderão ter uma bonita oportunidade de voltar seus sentidos para a Cruz de Cristo, bem como, o Ícone de Maria sua mãe e nossa. Oportunidade dos jovens colocarem suas esperanças, suas vidas, suas alegrias nas mãos do Filho do Homem. Oportunidade de fazer do Senhor um amigo próximo e sempre presente. Fazer caminhar as jovens ovelhas em direção ao Bom Pasrente, depois, forte vento, chuva, frio, mas como citou Espe Calle- tor. ja, veio o silêncio na Adoração A Jornada do Rio já coda Eucaristia e o sentimento era meçou, e isso é “#Fato”. Dessa o de que tudo havia valido a pemaneira devemos rezar e trabana. Milhões de jovens silenciosamente felizes. Felizes porque lhar (ora/ação) para que as difiestavam entre amigos. Felizes culdades, que como sabemos, porque estava na presença do são grandes; corrupção, violência, falta de infraestrutura nos Senhor. Felizes! vários aspectos não nos impeça Enquanto as lembranças e de bem receber a juventude catóa saudade ainda povoam a mente lica. Assim, o sonho de particie o coração daqueles que estive- par dessa festa da Igreja de Crisram em Madrid, a Cruz e o Ícone to deve se transformar em sede Nossa Senhora peregrinam mentes, para que sejam semeapelas diversas dioceses do Bra- das com o objetivo de que alcancem terras férteis e dêem bons sil. frutos. Jovens Conectados: “... a peregrinação começou mesmo no dia 18 de setembro, quando “Alegra-te, pois, ó jovem, na tua uma grande festa realizada em adolescência, e teu coração esteSão Paulo marcou a acolhida da ja no bem durante a tua juventuCruz dos Jovens e do Ícone de de;... pois a adolescência e a jusão vaidaNossa Senhora no Brasil. Desde ventude então os dois símbolos máximos de” (Eclesiastes 11,9b.10) da Jornada Mundial da JuventuSites recomendados: de (JMJ) já passaram por várias www.rio2013.com dioceses. Os jovens das dioceses têm participado em peso em todas as atividades. Têm, inclusi- www.arquidiceosedegoiania.org. ve, colaborados na cobertura br fazendo matéwww.jovensconectados.org.br rias, vídeos e fotos.”
Logo da Jornada Mundial da Juventude do Brasil/2013.
Arquidiocese de Goiânia: “A data de chegada da Cruz da Jornada Mundial da Juventude e o Ícone de Nossa Senhora aqui na Arquidiocese de Goiânia será entre os Dezembro 2011 / In Guardia 29
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale.
Espíritas e demônios. Uma das formas do espiritualismo enganoso é a Astrologia, cuja prática é condenada por Deus (Levítico 19:31: Isaías 47:13). O erudito filósofo e teólogo, Doutor da Igreja, Santo Agostinho de Hipona (354-430), condenou categoricamente a Astrologia e toda forma de espiritismo. Disse: “Os astrólogos pretendem que no céu se acha a causa inevitável do pecado: foi Vênus, Saturno ou Marte que nos fez executar esta ou aquela ação. Querem assim isentar de culpa o homem, que é carne, sangue e verme soberbo, e procuram transferir a responsabilidade para Aquele que criou e governa tanto o céu como as estrelas”.
Quem é o inimigo sedutor da Astrologia e de toda forma de espiritualismo enganoso?
Deus, o grande Construtor do Universo (Salmo 19.1-14; Romanos 1.19,20), criou uma multidão de criaturas espirituais muito antes de criar os seres humanos (Jó 38:4,7), uma dessas criaturas nutriu o desejo egoísta e soberbo de que as criaturas espirituais, ou seja, os anjos o adorassem em vez de adorar o único Deus Verdadeiro (Isaías 42:8; 45:5; João 17:3). Em busca desse objetivo terrível, esse anjo exaltado (Isaías 14:11-15; Ezequiel 28:11-19), opôs-se ao Criador e o caluniou, chegando a dar a entender a Eva que o bom Deus era mentiroso. A primeira sessão espírita no Jardim do Éden, foi tomada por uma catástrofe de engano (Gênesis 3.4,13; morte Vejamos a sua afirmação refe- espiritual 3:7-10; dores 3:16-19: rente a um astrólogo convertido e expulsão do Éden 3:23,24). á santa fé de Cristo Salvador: “Ele, seduzido pelo inimigo, em Por isso foi apropriado que essa virtude de sua boa fé, foi durante horrível e malévola criatura espimuito tempo astrólogo, seduzido ritual, exarcebada de rebeldia se e sedutor, enganado, e engana- tornasse conhecida como Satador. Atraiu, enganou, proferiu nás (Hebraico, Adversário, opomuitas mentiras contra Deus, sitor), o diabo (Grego, caluniaque teria dado aos homens o po- dor, enganador). Pai da mentira e der de fazer o bem, e não o de homicida (João 8.44). Os seres espirituais que seguiram a Satacometer o mal”. nás, tornaram-se demônios, ou espíritos imundos (Marcos 5:13; 6:7; Lc 10:1720). O diabo com os seus demônios são os mestres na arte de engano nos Centros Espíritas. Os médiuns são enganados pelos ditos espíritos de luz, que na verdade são espíritos das trevas (Atos 26:18; Efésios 5:11,12; 6:12). Daí São Paulo Apóstolo afirma: “Homens enganando e sendo enganados” (II Timóteo 3:13). Astrologia: um sedutor engano.
“Os matemáticos (astrólogos), constituem uma categoria de homens desleal para os poderosos, enganadora para os esperançosos”. Tácito (c.60 – c.120) Decano dos Historiadores Romanos é voltar às pessoas contra Deus. O diabo usa várias religiões, seitas e filosofias para enganar as pessoas e levar elas pelo erro a serem inimigas de Deus. Assim, esses demônios têm desencaminhado, perturbado, separando casais, causando enfermidades, assustando, atacando e matando as pessoas no decorrer de toda a história da raça humana, (João 10:10; Apocalipse 12:9). Há exemplos ocorridos na atualidade que confirmam que a violência dos demônios hoje é maior do que nunca. É só observar a tecnologia a serviço do mal. Para apanharem as pessoas numa cilada, o diabo muitas vezes usa o espiritualismo em todas as suas formas. Como o diabo usa esse chamariz? O espiritualismo enganoso é amálgama de todos as correntes filosóficas, teosóficas, esotéricas e mediúnicas, desde o Jardim do Éden até os dias atuais da Nova Era. Dentro desse contexto, está o espiritismo contemporâneo.
O que é o espiritismo? É envolvimento com os demônios, por via direta ou por intermédio de um médium. O espiritismo faz para os demônios o que o chamariz faz para o caçador: atrai presas. E, assim como o caçador usa uma variedade de chamarizes para atrair os animais para a armadilha, do mesmo modo os espíritos iníquos incentivam váO fator primordial do rias formas de espiritismo para diabo e dos demônios Dezembro 2011 / In Guardia 30
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale.
colocar os seres humanos sob seu controle. (Leia Salmo 119:110). Algumas dessas formas de espiritismo são: adivinhação, magia, presságios, feitiçaria, encantamentos, consulta a médiuns e comunicação com os mortos, passes, despachos e astrologia. O chamariz funciona, porque o espiritismo atrai pessoas do mundo todo. Quem mora em povoados na selva consulta curandeiros, e pessoas que trabalham em escritórios nas cidades consultam astrólogos. O espiritismo prospera mesmo em países que se dizem cristãos. Há pesquisas que indicam que nos Estados Unidos umas 30 revistas com circulação conjunta de mais de 10.000.000 de exemplares dedicam-se a várias formas de espiritismo. Todo ano os brasileiros gastam mais de 500 milhões de dólares em artigos espíritas. No entanto, 80% dos que freqüentam terreiros no Brasil são infelizmente católicos batizados. É nosso dever catequizar com todo ardor o nosso povo. Vamos livrar o nosso povo católico de toda forma de espiritualismo enganoso (ler Judas vv. 22 e 23).
de contatar espíritos bons, talvez, fique surpreso ao aprender o que a Sagrada Escritura diz sobre o espiritismo. O povo de Deus foi alertado. “Não vos vireis para médiuns espíritas e não consulteis prognosticadores profissionais de eventos, de modo a vos tornardes impuros por eles.” (Levítico 19:31; 20:6,27). A Palavra de Deus adverte-nos de que ‘os que praticam o espiritismo’ acabarão no “lago que queima com fogo e enxofre. Este significa a segunda morte (morte eterna)”. (Apocalipse 21:8; 22:15). Todas as formas de espiritismo são desaprovadas por Deus (Deuteronômio 18:10-12). Todas as mensagens atuais do mundo dos espíritos vêm de espíritos iníquos. A prática do espiritismo pode levar ao molestamento ás mãos dos demônios ou até á possessão demoníaca. Portanto, Deus amorosamente nos adverte de que não nos devemos envolver em nenhuma prática espírita (Deuteronômio 18:14; Gálatas 5:19-21).Além disso, se continuarmos a praticar o espiritismo depois de sabermos qual é o conceito de Deus sobre isso, estaremos tomando o lado dos espíritos imundo, rebeldes, e seremos inimigos de Deus. I Samuel 15:23; I Crônicas 10:13, Salmo 5:4.
adivinhação como passatempo inofensivo, mas a Bíblia mostra que os adivinhos e os espíritos imundos andam de mãos dadas. Por exemplo: Atos 16:16-19, menciona um “demônio de adivinhação” que habilitava uma moça a praticar “a arte do vaticínio (adivinhação)”. No entanto, sua habilidade de predizer o futuro foi perdida quando o demônio foi expulso. É óbvio que a adivinhação é um chamariz usado pelos demônios para atrair as pessoas para sua armadilha. Se você estiver chorando a morte de um familiar amado ou de um amigo achegado, poderá ser facilmente engodado por outro chamariz. Um médium espírita talvez lhe dê informações especiais ou fale com uma voz que se parece com a do falecido. Cuidado! Tentar comunicar-se com os mortos leva a uma armadilha. Por que? Porque os mortos não falam. Como sem dúvida se lembra, a Palavra de Deus diz claramente que na morte a pessoa “volta ao seu solo; neste dia perecem deveras os seus pensamentos”. Os mortos “não estão cônscios de absolutamente nada”. (Salmo 146:4; Eclesiastes 9:5,10) Além disso, na verdade os demônios é que imitam a voz do falecido e dão ao médium espírita informações sobre essa pessoa. (I Samuel 28:3-19) Portanto, quem ‘consulta os mortos’ é enlaçado pelos espíritos imundos e age contrário á vontade de Deus (Deuteronômio 18:11, 12; Isaías 8:19).
Uma forma muito comum de espiritismo é a adivinhação – tentar descobrir o futuro ou o desconhecido com a ajuda dos espíritos. Algumas formas de adivinhação são: a astrologia, a bola de cristal, a interpretação de sonhos, a quiromancia e ver a sorte com as carSe lhe ensinaram que algumas tas de tarô. Muitas formas de espiritismo, são meios pessoas encaram a Dezembro 2011 / In Guardia 31
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale. REJEIÇÃO AO ESPIRITUALISMO ENGANOSO Ao acatar os conselhos da Palavra de Deus sobre o espiritismo, você rejeita o chamariz dos demônios. (Leia Salmo 141:9,10 Romanos 12:9) Será que isso significa que os demônios param de tentar capturá-lo? Absolutamente não! Depois de tentar Jesus três vezes, Satanás “retirouse dele até outra ocasião conveniente”. (Lucas 4:13) Semelhantemente, os espíritos obstinados não só atraem as pessoas mas também as atacam. Satanás atacou Jó, o santo servo de Deus. Esse inimigo do Criador causou a perda de seus rebanhos e a morte da maioria dos seus servos. Satanás chegou a matar os filhos de Jó. A sua esposa o abandonou. A seguir, ele feriu o próprio Jó com uma doença dolorosa, seus amigos causaram perturbações, mas Jó manteve a fidelidade a Deus e foi muito abençoado. (Jó 1:7-19; 2:7, 8; 42:12). Todo sofrimento de Jô está dentro da vontade permissiva de Deus e dentro de um contexto pedagógico. Desde então, os demônios às vezes fazem com que as pessoas fiquem mudas, surdas, paralíticas ou cegas e continuam a deleitar-se no sofrimento dos seres humanos. (Mateus 9:32, 33; 12:22; Marcos 5:2-5; Lucas 13:11-16). Hoje, há relatórios que mostram que os demônios molestam sexualmente a algumas pessoas e levam ou-
tras à loucura. Claro, que tudo isso via um processo de possessão e pela prática de vícios pecaminosos. Eles incitam outras pessoas a cometer assassinatos ou suicídio, que são pecados contra Deus. (Deuteronômio 5:17; João 3:15). O diabo atenta e perturba o ser humano para que ele quebre os santos mandamentos de Deus. Dizia Santa Teresa de Ávila: “Não se deixe perturbar, nem deixar a oração – que é o que o demônio pretende”. No entanto, milhares de pessoas que já estiveram enlaçadas pelos espíritos imundos conseguiram liberta-se. Como conseguiram isso? Dando passos muito importantes para o Cristo Libertador.
aos demônios e proteger a si mesmo e a sua família das armadilhas deles? Os cristãos do primeiro século, em Éfeso, que praticavam o espiritismo antes de se tornar cristão tomaram uma atitude. Lemos que “um número considerável dos que haviam praticado artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram diante de todos” (Atos 19:19). Mesmo que você não pratique o espiritismo, livre-se de tudo que seja usado no espiritismo ou que tenha implicações com o espiritismo. Isso inclui livros, revistas, vídeos, posters, gravações musicais e objetos usados para fins espíritas. Estão incluídos também ídolos, amule-
Qual é uma maneira de opor-se
Mesmo que você não pratique o espiritismo, livre-se de tudo que seja usado no espiritismo ou que tenha implicações com o espiritismo. Isso inclui livros, revistas, vídeos, posters, gravações musicais e objetos usados para fins espíritas. Estão incluídos também ídolos, amuletos e outras coisas usadas para dar proteção, e presentes recebidos de praticantes do espiritismo. (Deuteronômio 7:25, 26; I Coríntios 10:21). O cristão não deve receber passes, presentes e convite para visitar centros espíritas. A Santa Madre Igreja não aceita a participação de católicos no espiritismo. Dezembro 2011 / In Guardia 32
Apologética da Fé com Pe. Inácio José do Vale. tos e outras coisas usadas para dar proteção, e presentes recebidos de praticantes do espiritismo. (Deuteronômio 7:25, 26; I Coríntios 10:21). O cristão não deve receber passes, presentes e convite para visitar centros espíritas. A Santa Madre Igreja não aceita a participação de católicos no espiritismo. Para a pessoa se opor aos demônios, outro passo importante é aplicar o conselho de São Paulo Apóstolo de revestir-se da armadura espiritual que está em Efésios 6:11-17. O cristão precisa conhecer a sua doutrina e o poder de Deus para vencer as forças das trevas. “Tomando sobretudo o escudo da fé com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Efésios 6:16). Qual é o meio para receber esse poder? Estudar o Catecismo da Igreja Católica, examinar sistematicamente as Sagradas Escrituras, (Mateus 22:29; João 5:39; Colossenses 1:9,10; II Pedro 3:18) e viver verdadeiramente os Sacramentos da Santa Igreja de Deus. A medida que você continuar esse santo estudo e praticar piedosamente adoração a Deus em casa e na sua igreja, sua vida será tomada pelo poder do Espírito Santo. Isso será uma poderosa arma contra as tentações dos demônios. Para fortalecer a fé, a mente e a vida espiritual são necessários: meditação, a oração, o jejum e retiros espirituais (Mateus 6:6 -16; 14:23; 17:21; Lucas 2:37). O cristão deve opor-se poderosamente aos demônios e aos seus ataques (Efésios 4:27; Tiago 4:7). Deve procurar a forte proteção de Deus. Em Provérbios 18:10: “Torre forte é o nome do Senhor; para ela correrá o justo, e estará em alto retiro”. (Ler Salmo 145:18-20).
O cristão precisa conhecer a sua doutrina e o poder de Deus para vencer as forças das trevas. “Tomando sobretudo o escudo da fé com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Efésios 6:16). os demônios (Números 23:21,23; Tiago 4:7,8; II Pedro 2:9) O poder desses espíritos é limitado. Foram expulsos da presença de Deus. (Judas 6; Apocalipse 12:9; 20:1-3,7-10,14) De fato, eles têm pavor da sua vindoura destruição. (Tiago 2:19) Portanto, quer os demônios tentem atraí-lo com algum tipo de chamariz quer o ataquem de alguma outra forma, você poderá opor-se a eles (II Coríntios 2:11). O grande mestre da fé cristã Santo Agostinho nos ensina: “O diabo é como um cão amarrado que muito pode latir e fazer estardalhaço mas só morde a quem chegar perto dele”. E a Doutora da Igreja Santa Catarina de Sena afirmava: “O demônio é fraco e nada pode além daquilo que Deus Lhe permita”.
abólicas é o poderoso nome de Jesus Cristo. É o nome sobre todos os nomes. É o nome que cura, liberta, dá vitória e salva. (Marcos 16:17,18; Atos 4:10-12; Filipenses 2:10,11; Apocalipse 19:13). O ínclito Abade de Claraval e Doutor da Igreja São Bernardo experimentava a máxima consolação em repetir o santíssimo nome de Jesus. Era como se tivesse mel na boca e sentia uma paz deliciosa no coração”. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Pe.Inácio José do Vale Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo Professor de História da Igreja Faculdade de Teologia de Volta Redonda E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.co m BIBLIOGRAFIA SOLIMÃO, Plínio Maria. Os Santos Anjos: nossos celestes protetores, São Paulo: Editora Padre Belchior de Pontes, 1998. NEE, Watchman. Autoridade Espiritual, São Paulo: Vida, 1993. LEITE Filho, Tácito da Gama. Ciência, Magia ou Superstição, São Paulo: Vida, 1987.
CONCLUSÃO
CAIRNS, Earle E. O CristianisRejeite toda forma de espiritua- mo Através dos Séculos: Uma lismo enganoso. Estude pra valer História da Igreja Cristã, São o Catecismo da Igreja Católica, Paulo: Vida Nova, 1995. comungando sempre da SantíssiSTRONG, Augustus H. Teologima Eucaristia e vivendo as doua Sistemática, São Paulo: Teolótrinas da Igreja. Cresça na graça e no conhecimento de Jesus gica, 2002. Cristo (II Pedro 3:18). Ande FRANGIOTTI, Roque. História sempre na unção e direção do das Heresias (Séculos I –VII) Espírito Santo. (Rm 8:1-16; I Co Conflitos Ideológicos Dentro do 3:16, Ef 4:27-30; 5:18; I Ts Cristianismo, São Paulo: Paulus, 5:19,20; I Pe 5:6-9; I Jo 2:13-27; 1995. Ap 22:17). É bom afirmar que temos o anjo da guarda para nos AGOSTINHO, Santo. Confisproteger ( Salmos 34:7; 91: 11: sões, São Paulo: Paulus, 1984. Atos 12:7,8 e 15).
O Criador permite que o diabo e seus demônios continuem a existir, mas ele mostra seu poder, especialmente a favor do Seu povo, e Seu nome está sendo declarado em toda a terra. (Êxodo 9:16). Se você permanecer ache- A maior vitória sobre o espiritugado a Deus, não precisará temer alismo enganoso e as legiões di-
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Coluna do Ives Gandra Martins.
Os Borgs e a Comissão da Verdade Sou um admirador das séries de “Startrek”. As cinco edições refletem muito a história da humanidade. Os Borgs são um povo de humanos robotizados, os quais respondem a um comando central único, que pretende “assimilar” todos os povos do universo. Assimilar é fazer com que pensem rigorosamente como eles e obedeçam, como uma só unidade. Senão, são mortos. Os Borgs representam as ditaduras ideológicas, que não admitem contestação e que procuram dominar os povos, eliminando as oposições e as verdadeiras democracias. Se a 1ª. Guerra Mundial foi um embate pela realocação de poderes na Europa, a 2ª. guerra já foi uma guerra entre as democracias e os regimes totalitários (alemão, italiano e russo, visto que, no início, Stálin apoiou Hitler, na invasão à Polônia). A vitória de princípios democráticos naquele conflito, que gerou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10/12/1948, nem por isto eliminou esta luta permanente entre ideologias totalitárias, que não admitem contestação e que continuam poluindo a convivência das nações , e as democracias. Rawls, em dois de seus livros “Uma teoria da justiça” e “Direito e Democracia” mostra que a democracia só pode ser vivida se as teorias políticas não forem abrangentes em demasia e possam conviver, em suas diversidades, com outras maneiras de pensar. Teorias abrangentes provocam ou a eliminação dos opositores ou a “assimilação”,
no estilo dos Borgs da conflito. Tenho fundados receios “Startrek”, daqueles que vivem de que uma pequena ala de radicais , a título de defender sob seu julgo. “direitos humanos” por um úniEstamos no início de um novo co e distorcido enfoque –e os governo, tendo a presidente sina- vocábulos permitem uma flexibilizado, mais de uma vez, que lização infinita para todos os quer fazer um governo de união, gostos-, pretenderá “assimilar” , mas com respeito aos opositores. à maneira dos Borgs na “Startrek”, todos os que não penNão creio que a Comissão da sem da mesma maneira, transforVerdade venha auxiliar muito mando uma Comissão da Verdaeste seu projeto, na medida em de em Comissão da Vingança. que, sobre relembrar fantasmas Pessoalmente, como combati o do passado e rememorar doloro- regime de então –sofri em 1969, sos momentos de uma história inclusive, pedido de confisco de em que militares e guerrilheiros meus bens e abertura de um torturaram e mataram, tende a IPM, processos felizmente arquiabrir feridas e acirrar ânimos. vados- e participei da Anistia Internacional, enquanto tinha um Como ex-conselheiro da OAB ramo no Brasil, por ser visceralda Seccional de São Paulo, du- mente contra a tortura, sinto-me rante seis anos no período de ex- à vontade para criticar a ceção, estou convencido de que “ideologização” dos fatos passacom a arma da palavra fizemos dos, a meu ver enterrados com a muito mais pela redemocratiza- lei de Anistia de 1979. ção do país do que os guerrilheiros com suas armas, que, a meu Que os historiadores imparciais ver, apenas atrasaram tal proces- -e não, o ideólogos- contem a so. verdadeira história da época, pois são para isto os mais habiliÀ evidência, sou favorável a tados. que os historiadores -e não os políticos- examinem, pela perspectiva do tempo, o ocorrido naquele período, pois não são os políticos que contam a história, mas aqueles que se preparam para estudá-la e examinam-na , sem preconceitos ou espírito de vingança. Apoio, entretanto, o entendimento do Ministro Nelson Jobim de que , se for instalada Comissão da Verdade, que deva refletir o pensamento dos dois lados do Dezembro 2011 / In Guardia 34
Cívitas com Rafael Brodbeck.
O sentido da festa litúrgica de Cristo Rei Histórico e necessidade da festa “O dever de prestar a Deus um culto autêntico diz respeito ao homem individual e socialmente. (...) O dever social dos cristãos (...) [e] xige que levem a conhecer o culto da única religião verdadeira, que subsiste na Igreja católica e apostólica. Os cristãos são chamados a ser luz do mundo. Assim, a Igreja manifesta a realeza de Cristo sobre toda a criação e particularmente sobre as sociedades humanas.”[1] Desde o Renascimento e a Reforma Protestante, foi-se projetando, na Europa católica, sua progressiva descristianização. Com efeito, o período imediatamente posterior à Idade Média caracterizou-se por uma crise sem precedentes, desembocando, pela ação dos novos filósofos dos séculos XVII e XVIII, no laicismo inaugurado pela Revolução Francesa, em 1789. Nesta, institucionalizou-se o já crescente distanciamento entre as esferas temporal e espiritual. [2] Expulsou-se, na prática e na teoria, Cristo de Seu legítimo Reinado sobre as sociedades civis. Tolerar-se-ia, no máximo, o
guardando-se a natural independência entre Estado e Igreja em suas esferas próprias d ação, o bem terreno subordina-se indiretamente ao celeste. Outrossim, a salvação conquistada por Jesus, plenamente gozada na vida porSempre foi entendimento da I- vir, inicia-se aqui no “exílio da greja que Nosso Senhor, ao dar a terra” – para usarmos uma linprimazia ao espírito e fundar um guagem mais teresiana. Reino sobretudo transcendente, não abdicou de Sua soberania Pelo liberalismo do século XIX, sobre o campo temporal, i.e., desenvolvimento político e filonão-religioso. Tanto isto porque sófico do Illuminismo e da Reos cristãos, cidadãos do céu, vi- nascença, o erro laicista, anticlevem como súditos na terra – e rical, contrário ao justo domínio não se pode servir a dois senho- de Cristo também na esfera civil res –, e também pelo fato de que, – por meio do Estado, claro, e culto na dimensão privada, no foro íntimo das consciências, o que contraria a perene doutrina católica, exposta na citação acima, por exemplo.
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Cívitas com Rafael Brodbeck. não em uma confusão teocrática de sabor islâmico –, foi reafirmado. Precisou a Igreja lembrar a todos sua doutrina tradicional. Para tanto, na esteira de tantos Papas, notadamente o Beato Pio IX, Leão XIII e São Pio X, que combateram sem cessar o inimigo da ordem social cristã e sacral, qual seja o liberalismo – e o Estado Moderno, a filosofia iluminista, a concepção juspositivista do Direito, as distorções do que sejam a razão e a liberdade etc –, o Santo Padre, Pio XI, instituiu em 1925, pela Encíclica Quas Primas, a festa de Cristo Rei. Com o pomposo título oficial de Festa – hoje Solenidade – de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, a data, na época a ser observada por ocasião do último Domingo de outubro – hoje XXXIV Domingo do Tempo Comum –, era uma proclamação do que sempre a Igreja sustentara, e uma convocação aos cristãos para que, pela oração, pela liturgia própria do dia, pela consagração a Cristo Rei, e pela ação apostólica contrária ao laicismo, ao liberalismo e à secularização, se empenhassem na restauração do Reinado do Salvador sobre os Estados e as sociedades. Além de Rei das almas e da Igreja, Cristo também o era da esfera temporal: Seu Reino era o uni-
verso! Em nossos tempos, os frutos do laicismo nós os vemos abundantes: relativização da moral; indiferença religiosa; falsificação do conceito de liberdade; diminuição dos fiéis católicos; ridicularização de símbolos sagrados; legislações incompatíveis com a Lei de Deus, as quais permitem o aborto, a eutanásia, o divórcio, o “casamento” homossexual, a eliminação dos embriões humanos, o cerceamento da propriedade privada, a violação dos direitos humanos fundamentais etc. Quando Cristo foi destronado de Seu Reino sobre o campo civil e as Nações passaram a governarse sem referência a Deus, a rea-
ção dos cristãos deveria ser mais forte. “Foi instituída esta festa para combater o indiferentismo e o laicismo e para excitar os cristãos a renovar sua homenagem de submissão a Jesus Rei, a reparar os ultrajes que recebe da parte dos súditos rebeldes e a promover os interêsses de seu reino, trabalhando para que a realeza de Jesus seja reconhecida efetivamente pelos indivíduos, pelas famílias e pelas nações.”[3] Relacionou o Papa a devoção a Cristo Rei ao culto de Seu Sagrado Coração. De fato, a espiritualidade do Reinado e Cristo, tão presente na mente da Igreja em todos os tempos, muito se
Em nossos tempos, os frutos do laicismo nós os vemos abundantes: relativização da moral; indiferença religiosa; falsificação do conceito de liberdade; diminuição dos fiéis católicos; ridicularização de símbolos sagrados; legislações incompatíveis com a Lei de Deus, as quais permitem o aborto, a eutanásia, o divórcio, o “casamento” homossexual, a eliminação dos embriões humanos, o cerceamento da propriedade privada, a violação dos direitos humanos fundamentais etc. Dezembro 2011 / In Guardia 36
Cívitas com Rafael Brodbeck. XIII consagrou o mundo ao Coração de Jesus em 11 de junho de 1899.[4] Pio XI elevou a festa ao grau de primeira classe com oitava privilegiada, em 1928. Depois do Concílio Vaticano II, com a renovação do Calendário Litúrgico, tal festa tem o caráter de Solenidade.”[5] “A devoção e culto ao Sagrado Coração de Jesus, ainda que tenha precedentes muito antigos, encontra sua forma plena por ocasião das revelações privadas recebias por Santa Margarida Maria de Alacoque (1647-1690), religiosa da Visitação. Esta espiritualidade foi abençoada com freqüência pelos Papas com o maior apreço, identifica com as revelações a Santa Margarida Maria de Ala- como síntese perfeita de toda a espiritualidade cristã. coque. “O culto o Sacratíssimo Coração de Jesus tem suas bases firmíssimas nas Sagradas Escrituras. Os Santos Padres o revelaram profusamente, sobretudo com o fato histórico da lança do soldado ao peito de Cristo. No Medievo, a meditação sobre esta passagem bíblica relembrada na liturgia levou a aprofundar-se muito a devoção ao Coração de Jesus Cristo, principalmente no mosteiro beneditino de Helfta (Alemanha), de modo especial com Santa Matilde e Santa Gertrudes. No século XVIII muito divulgou seu culto São João Eudes, que compôs um texto litúrgico para sua festa. Nesse mesmo século as revelações a Santa Margarida Maria de Alacoque levaramna a que propugnasse sua aprovação por Roma como festa litúrgica para toda a Cristandade. Esta difusão deu-se, sobremaneira, pela mediação dos Bispos poloneses, nos tempos de Clemente XIII, em 1765. O culto difundiu-se por vários lugares e em 1856 Pio IX estendeu a festa a toda a Igreja Universal. Leão
Em 1856, o Papa Pio IX instaura para toda a Igreja a festa litúrgica do Sagrado Coração. Leão XIII consagra o gênero humano ao Coração de Jesus, e prepara o ato em sua Encíclica Annum Sacrum (1899). No Magistério Apostólico sobre este tema convém recordar especialmente Pio XI, nas Encíclicas Miserentissimus Redemptor (1928) e Caritate Christi Compulsi (1932); Pio XII, nas Encíclicas Summi Pontificatus (1939) Aque Haurietis as (1956); Paulo VI, em sua Carta ApostólicaInvestigabiles Divie João tias (1965); Paulo II, na mensagem por ocasião do centenário da consagração do gênero humano ao Sagrado Coração de Jesus (1999).
moniosamente todos os valores da vida em Cristo – Amor divino, Trindade, Cruz, Eucaristia, espírito reparador de expiação, atitude sacerdotal e sacrifical, amor à Igreja etc. Aqui (...) fixar-me-ei sobretudo no valor desta devoção como eficacíssima reação orante dos cristãos e da Igreja diante dos males do mundo atual”[6], qual sejam o relativismo, a imoralidade, o desrespeito pela Lei de Deus, a recusa da ordem temporal em submeterse a Cristo Rei. Quando o Papa Pio XI instituiu a festa alusiva ao Reinado de Nosso Senhor, em 1925, não fez mais do que aplicar à já tradicional devoção do Sagrado Coração de Jesus as características próprias da Sua realeza. Enfatizou a Quas Primas o aspecto do Reinado do Coração de Cristo. Para o Papa, reconhecer Cristo como Rei é sinônimo de obedecê-Lo livre e amorosamente, pela consagração total a Seu Coração Sagrado. Notável é constatar que a imagem de Cristo Rei seja exatamente a mesma que representa o Sagrado Coração de Jesus, desta feita com trono, capa real, cetro e coroa. No dia de Cristo Rei,
A devoção ao Coração de Jesus é uma escola perfeita de vida espiritual cristã, e por isso A devoção ao Coração de Jesus é uma escola perfeita de vida espiritual cristã, e por isso mesmesmo sintetiza har-
mo sintetiza harmoniosamente todos os valores
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Cívitas com Rafael Brodbeck. outrossim, recomenda a Igreja a prática de renovar a consagração do gênero humano ao Coração de Jesus, o que é enriquecido com indulgência plenária. As duas devoções, percebe-se, estão intimamente ligadas. Falando dos séculos XIX e XX, Pio XI fortalece essa ligação entre o culto a Nosso Senhor sob as invocações de Cristo Rei e de Seu Sagrado Coração, de modo que podemos concluir ser a pretensão papal o restabelecimento na esfera civil, do Reinado do Sagrado Coração de Jesus Cristo. “Como no século precedente e no nosso, pelas maquinações dos ímpios, chegou-se a depreciar o império de Cristo, Nosso Senhor, e a declarar publicamente a guerra à Igreja, com leis e moções populares contrárias ao Direito divino e à lei natural, e até houve assembléias que gritavam: ‘não queremos que reine sobre nós’ (Lc 19,14). Por causa desta consagração [ao Coração de Cristo] a que aludíamos [realizada em 1899 por Leão XIII], a voz de todos os amantes do Coração de Jesus irrompia unânime, opondo-se com toda a força, para reivindicar sua glória e assegurar seus direitos: ‘é necessário que Cristo reine (1 Co 15,25); venha a nós o vosso Reino.’”[7] Dizer Cristo Rei equivale a rogar: “Sagrado Coração de Jesus, venha a nós o Vosso Reino”, como reza uma tradicional jaculatória. O sacerdote espanhol Pe. José María Iraburu resume esse profundíssimo nexo entre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a consciência do Reinado de Cristo não só sobre as almas, mas sobre a esfera temporal. O liberalismo dos séculos XVII, XVIII e XIX, o laicismo, a radical separação entre Igreja e Estado – “legitimando-se” que o último desobedeça a Lei d Deus e instaure um pernicioso “direito ao erro” –, e mesmo a escandalosa
Pio XI fortalece essa ligação entre o culto a Nosso Senhor sob as invocações de Cristo Rei e de Seu Sagrado Coração.
cooperação de alguns católicos a setores maçônicos e liberais, são os alvos a ser combatidos pela devoção ao Coração de Cristo e pela luta a favor de Cristo Rei. “A devoção ao Coração de Jesus, a partir sobretudo do século XIX, difundiu-se entre o povo cristão precisamente quando os ‘católicos liberais’ entram e clara cumplicidade cm o mundo. E assim, tal espiritualidade ajuda os fiéis a serem muito conscientes do pecado do mundo; a viverem livres do mundo, e conseqüentemente do diabo e de seus enganos; e a serem capazes, portanto, de atuar sobre o mundo para melhorá-lo, curá-lo e elevá-lo, consagrando-o a Cristo Rei. Neste sentido, mostrou-se nos últimos séculos como a espiritualidade mais forte e mais profundamente popular, a
mais capaz, se for o caso, de guardar fidelidade até o martírio – pensemos no México, na Espanha ou na Polônia. Daí, talvez, precisamente, a especial aversão que a ela sentem os cristãos amigos do mundo, e o empenho que fazem e falsificá-la e desprestigiá-la.”[8] Eis, sucintamente, os motivos pelos quais Sua Santidade, o Papa Pio XI, instituiu a festa de Cristo Rei: realçar a soberania do Coração de Jesus sobre o mundo com uma data distinta daquela que a Seu culto está destinada; combater o liberalismo, o laicismo, o Estado Moderno, pela oração, por uma Missa própria, e por uma espiritualidade visivelmente militante e belicosa; e reafirmar o Reinado de Cristo nas almas e na esfera tem-
O sacerdote espanhol Pe. José María Iraburu resume esse profundíssimo nexo entre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a consciência do Reinado de Cristo não só sobre as almas, mas sobre a esfera temporal. Dezembro 2011 / In Guardia 38
Cívitas com Rafael Brodbeck. – e ao leigo não habituado à recitação do breviário –, mostrar as composições litúrgicas feitas para a Missa da Solenidade. Com a reforma do Missal Romano efetuada pelo Papa Paulo VI, o próprio de Cristo Rei pouco foi alterado. De fato, o Intróito (Antífona da Entrada), a Oração sobre as Oferendas (Secreta), o Prefácio e a Antífona da Comunhão permanecem exatamente os mesmos:
poral, conforme sempre ensinaram os Papas – sobretudo a partir da crise da Cristandade e da secularização que a ela se seguiu. “Infelizmente permanecem ainda, inclusive nas sociedades democráticas, expressões de laicismo intolerante, que hostilizam qualquer forma de relevância política e cultural da fé, procurando desqualificar o empenho social e político dos cristãos, porque se reconhecem nas verdades ensinadas pela Igreja e obedecem ao dever moral de ser coerentes com a própria consciência; chega-se também e mais radicalmente a negar a própria ética natural. Esta negação, que prospecta uma condição de anarquia moral cuja conseqüência é a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, não pode ser acolhida por nenhuma forma legítima de pluralismo, porque mina as próprias bases da convivência humana.”[9]
“O cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força sus, qual seja a sexta-feira após o e honra. A ele glória e poder asegundo Domingo depois de través dos séculos.”[10] Pentecostes; iremos ver, isto sim, o formulário alusivo à Sole- “Oferecendo-vos estes dons que nidade de Nosso Senhor Jesus nos reconciliam convosco, nós Cristo, Rei do Universo, come- vos pedimos, ó Deus, que o vosmorada no último Domingo do so próprio Filho conceda paz e Ano Litúrgico, segundo o Calen- união a todos os povos. Por dário Romano, que vem a ser o Cristo, nosso Senhor.”[11] XXXIV Domingo do Tempo “Com óleo de exultação, consaComum. grastes sacerdote eterno e rei do Omitiremos os formulários da universo vosso Filho único, JeLiturgia das Horas, para a qual sus Cristo, Senhor nosso. Ele, há um ofício solene próprio, com oferecendo-se na Cruz, vítima salmos, hinos e orações específi- pura e pacífica, realizou a recas correspondentes a cada Hora denção da humanidade. SubmeCanônica – I Vésperas, Ofício de tendo ao seu poder toda criatuLeituras, Laudes, Teça, Sexta, ra, entregará à vossa infinita Nona, II Vésperas e Completas. majestade um reino eterno e uniInteressa-nos, no presente estudo versal: reino da verdade e da
A liturgia da festa Passada a breve notícia histórica que explica a criação da hoje Solenidade de Cristo Rei, e dada sua ligação com o culto o Sagrado Coração de Jesus, analisemos os textos litúrgicos para ela compostos. Importa salientar que há uma data própria para a Solenidade do Sagrado Coração de JeDezembro 2011 / In Guardia 39
Cívitas com Rafael Brodbeck. vida, reino da santidade e da Romano em sua forma tradiciograça, reino da justiça do amor nal, edição de 1962, anterior à reforma de Paulo VI. Com efeie da paz.”[12] to, em muitos lugares – princi“O Senhor em seu trono reina palmente nas igrejas da Admipara sempre. O Senhor abençoa nistração Apostólica São João o seu povo.”[13] Maria Vianney e da Fraternidade Sacerdotal São Pedro –, usa-se Já a Coleta (Oração do Dia) e a não o rito romano moderno ou Oração depois da Comunhão reformado, mas o rito romano (Post Communio) foram levetradicional, chamado também mente modificadas. Alegou-se, “tridentino” ou “de São Pio V”. para isso, certa adequação às necessidades atuais. Quanto a isso A Coleta antiga – em uso pelos é lícito aos fiéis discordar, desde que adotam a forma tradicional que o façam reverentemente, do rito romano – diz: fundamentadamente, sem escândalo nem crítica às autoridades “Deus eterno e todo-poderoso, da Igreja. Discordar – pois não que dispusestes restaurar todas se trata de questão de fé ou mo- as coisas no vosso amado Filho, ral –, mas obedecer – eis que a Rei do Universo, concedei bereforma litúrgica é obra da legíti- nignamente que todas as famíma autoridade da Igreja e a mu- lias das nações, desunidas por dança dos textos é da competên- causa da feria do pecado, subcia do Santo Padre, a quem de- metam-se ao seu poder suavíssivemos submissão quando dá or- mo. Por nosso Senhor Jesus dens não contrárias à Lei de Cristo, vosso Filho, na unidade Deus, o que é o caso. De qual- do Espírito Santo, por todos os quer maneira, mesmo alterando- séculos dos séculos.”[14] se um ou outro ponto, a doutrina que as antigas preces representa- Mantendo idêntica referência ao vam é a mesma, sempre atual – Reinado de Cristo e à restaurapois a doutrina católica é imutá- ção de tudo na Pessoa de Jesus – vel! Outrossim, é permitida ain- e “tudo” significa as esferas esda hoje a utilização do Missal piritual e civil –, a nova fórmula é menos explícita quanto ao aspecto temporal. Talvez porque, à época de Pio XI, os liberais devessem ser enfrentados com mais belicosidade e hoje, no julgamento da Igreja, o combate deva adotar táticas diferentes, em face de vicissitudes que assim o recomendam. “Deus eterno e todopoderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestada, vos glorifiquem eternamente.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.”[15] De todo modo, suprimida da fórmula litúrgica a expressão “que todas famílias das nações (...) submetam-se” a Cristo Rei, a
Mantendo idêntica referência ao Reinado de Cristo e à restauração de tudo na Pessoa de Jesus – e “tudo” significa as esferas espiritual e civil –, a nova fórmula é menos explícita quanto ao aspecto temporal. Talvez porque, à época de Pio XI, os liberais devessem ser enfrentados com mais belicosidade e hoje, no julgamento da Igreja, o combate deva adotar táticas diferentes, em face de vicissitudes que assim o recomendam. doutrina que a inspirou permanece. Ademais, com menos clareza, porque talvez assim peça a prudência eclesiástica hodierna, na Coleta reformada está presente o espírito de súplica à restauração do Reino de Cristo sobre a esfera temporal. Senão, vejamos: a) todas as criaturas devem servir a Deus, e isto inclui as sociedades e as Nações, quer porque sejam obras criadas pelo Senhor, quer porque sejam compostas de seres humanos, vocacionados ao serviço de Cristo pela graça; b) para servir a Cristo, as criaturas, no texto da Coleta, precisam estar libertas da escravidão, e esta tanto pode ser o pecado – escravidão por antonomásia –, do qual maior expressão é a insubmissão a Deus por parte dos homens, das sociedades, das Nações, dos Estados etc, quanto poDezembro 2011 / In Guardia 40
Cívitas com Rafael Brodbeck. mentação na questão disputada. Hoje, aparentemente vencedor, o laicismo liberal retirounos a própria consciência do Reinado de Cristo mesmo na esfera espiritual, de modo que é preciso resgatar primeiramente nesse campo a de ser também o conjunto das soberania de Deus. filosofias contrárias ao estabelecimento de Cristo Rei sobre o Em uma sociedade mais campo civil – o falso conceito de cristã, em que todos ou liberdade do liberalismo acaba a maioria confessa-se súdito de gerando uma limitação da que é Cristo, e o problema reside apeautêntica, por sustentar um ab- nas no tocante às relações entre surdo “direito ao erro”, por des- Estado e Igreja e ao culto que se vincular a liberdade da moral e deve a Deus pela submissão das da verdade (escravidão espiritu- leis, da família, da cultura, das al), e por desencadear regimes artes, das ciências etc, à Sua Lei, totalitários (escravidão física); c) é neste último aspecto que se deo serviço é à majestade de Deus ve centralizar a apologética e a e à Sua glória eterna, o que im- reafirmação da doutrina. E a Coplica necessariamente em reco- leta antiga reflete essa preocupanhecer o Reinado de Cristo nas ção. Quando, atualmente, nem a sociedade é mais cristã, nem a almas e nas sociedades. maioria se declara súdito de Na época em que o primeiro for- Cristo, este é o problema princimulário foi composto não se pal, e a moderna Coleta a isto questionava o Reinado de Cristo faz referência. Antes se expulsou nas almas, ao menos entre os ca- Deus das sociedades, hoje Ele tólicos. O grande debate travava- está como que expulso das próse no que se refere à esfera tem- prias almas! De nada adianta peporal: deveria Cristo também lejarmos pelo Reinado de Cristo nela reinar? Para defender a po- na esfera temporal se as almas, sição tradicional, a Coleta res- que formam esta mesma esfera pondia tal dúvida pela súplica a temporal, d’Ele estão afastadas. Cristo Rei, concentrando a argu- Conquistadas as almas, as socie-
dades em que vivem serão também conquistadas se soubermos pregar a doutrina completa. Precisamos, pois, de uma Nova Evangelização, e nela a primazia está na conquista das almas para Cristo, no apostolado explicitamente evangelizador. Tudo, porém, sem renúncia à dimensão temporal, eis que é nesta que vive o homem, alvo da misericórdia divina e da salvação merecida por Cristo na Cruz do Calvário. Urge, evidentemente, ganhar almas para Jesus, mas também é necessário reformar as estruturas temporais, tarefa que o Vaticano II, com muita propriedade, relembrou! Iremos, no decorrer deste estudo, mencionar o Reinado de Cristo nas almas, porque, no espírito do que dissemos, parece-nos, na situação contemporânea, a missão primordial. Contudo, nossa intenção está num tema por muitos esquecido e por tantos outros distorcido e até combatido: o Reinado Social de Cristo, i.e., a soberania de Nosso Senhor na esfera temporal, nas Nações, na sociedade civil, nos Estados, na vida pública. Antes, para não deixarmos incompleta a citação do próprio da Missa, as orações que faltam e breve notícia das leituras previstas pelo Lecionário. A Pós-Comunhão do Missal anterior à reforma litúrgica:
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Cívitas com Rafael Brodbeck. “Alimentados pelo pão da imortalidade, nós vos pedimos, ó Deus, que, gloriandonos de combater sob o estandarte de Cristo Rei, possamos reinar eternamente na pátria celeste com ele, que convosco vive e reina.”[16]
dito; ao que vem e a seu Reino, o louvor!” (Aclamação ao Evangelho); e) Mt 25,31-46 (Evangelho). Ano B: a) Dn 7,13-14 (Primeira Leitura); b) Sl 92 (Gradual/Salmo Responsorial); c) Ap 1,5-8 (Segunda Leitura); d) a mesma aclamação; e) Jo 18,33b-37 (Evangelho).
Reformada, a oração restou como segue, e as diferenças se devem aos motivos já explicados: “Alimentados pelo pão da imortalidade, nós vos pedimos, ó Deus, que, gloriandonos de obedecer na terra aos mandamentos de Cristo, Rei do universo, possamos viver com bre as almas – obedecer aos ele eternamente no reino dos mandamentos, i.e., não pecar –, céus. Por Cristo, nosso Sepelos motivos já elencados, há nhor.”[17] implícito o comando quanto ao do domínio Note-se que, entre os manda- estabelecimento temporal do Salvador. Além, é mentos de Cristo, tomados em seu sentido lato, encontram-se, claro, da doutrina, essencialmenpela voz de Sua Igreja, todo o te perene. ensinamento social, o Reinado de Nosso Senhor sobre o campo temporal, e o respeito aos direitos de Deus. Ainda que a ênfase da prece esteja na soberania so-
Sobre as leituras, o Lecionário “tridentino” dispunha: a) Cl 1,12-20 (Epístola); b) Sl 71 (Gradual/Salmo Responsorial); c) “O seu poder é um poder eterno, que não lhe será tirado: e o seu reino é tal, que não será jamais corrompido”. (Aclamação ao Evangelho); d) Jo 18,33-37 (Evangelho).
Ano C: a) 2 Sm 5,1-3 (Primeira Leitura); b) Sl 121 (Gradual/Salmo Responsorial); c) Cl 1,12-20 (Segunda Leitura); d) a mesma aclamação; e) Lc 23,35-43 (Evangelho). Fundamentos teológicos Reinado de Cristo
do
A lógica aponta para o Senhorio de Jesus. Sendo Cristo Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo inefável, o Logos eterno, o Filho do Altíssimo, haveria de ser Senhor e Rei. “Aleluia! Eis que reina o Senhor, nosso Deus, o Dominador!” (Ap 19,6) Quanto a Seus inimigos, os que se opõem a Seu Reinado sobre as almas e as sociedades, “[c]ombaterão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque é Senhor dos senhores e Rei dos reis. Aqueles que estão com ele são os chamados, os escolhidos, os fiéis.” (Ap 17,14)
Com o novo Missal Romano, em 1969, assim apresentou os Le- A Tradição Apostólica é unânicionário no que toca às me em proclamar Cristo Rei do leituras: Universo, concordando com ela a Sagrada Escritura. Cumpre noAno A: a) Ez 34,11tar que o Reino é espiritual, não 12.15-17 (Primeira material: “O meu Reino não é Leitura); b) Sl 22 deste mundo.” (Jo 18,36) Já e(Gradual/Salmo Resxiste pela Igreja e tornar-se-á ponsorial); 1 Co 15,20pleno quando Jesus vier em gló26.28 (Segunda Leituria. Todavia, Seu Reinado espirira); d) “É bendito atual comunica-se com as realidaquele que vem vindo, des temporais, uma vez que nós, que vem vindo em noSeus súditos, não somos puro me do Senhor; e o Reiespírito, e também porque viveHans Memling, Cristo rodeado por anjos (porm.) (1480-81) no que vem, seja benDezembro 2011 / In Guardia 42
Cívitas com Rafael Brodbeck. Jesus Cristo foi eleito Rei por Deus Pai em benefício dos homens: “Olhai que dias virão – oráculo de Javé – em que suscitarei de Davi um gérmen justo: reinará um rei prudente, praticará o direito e a justiça na terra.” (Jr 23,5) “Ele edificará o Templo de Javé[19] e levará as insígnias reais, sentar-se-á e dominará em seu trono.” (Zc 6,13) mos no mundo, na matéria, criada igualmente por Deus. O Reino é espiritual, mas domina todas as coisas criadas e deve influenciar as várias obras temporais: a política, o Direito, a ciência, a cultura, as artes. Impossível que alguém se afirme cristão em sua vida privada, e atue publicamente em contradição à Lei de Deus. Absurdo um médico católico que interrompa uma gravidez, mesmo amparado por uma legislação permissiva, alegando que a fé é meramente espiritual e de foro íntimo. Como igualmente errôneo um político que se diga seguidor de Cristo e que aprove uma lei autorizando o “casamento” homossexual, invocando a autonomia do Estado frente a Igreja para “justificar” sua ação.
poral ao espiritual, como o corpo à alma, sob pena de dar vazão à vida de sentidos e ao descontrole passional – como vemos hoje –, ou à própria morte do tecido social. Cristo é Rei espiritual, mas Seu Reinado reflete-se na terra, na matéria, na esfera temporal. O Reino é no céu, porém na terra deve haver seu reflexo. Apontaremos algumas noções sobre Cristo enquanto Rei, tomadas das lições de Enrico Pardo Fuster:[18]
A realeza de Jesus Cristo foi profetizada no Antigo Testamento: “Fui eu quem me consagrei rei em Sião, meu monte santo.” (Sl 2,6) “Exulta sem medidas, filha de Sião, e lança gritos de alegria, filha de Jerusalém! Eis que vem a ti o teu rei, o justo Nesse diapasão, o Reino é espiri- e vitorioso, humilde e montado tual, mas relaciona-se com o em um jumento, no potro, filho mundo material, assim como a de uma jumenta.” (Zc 9,9) alma está no corpo, animando-o. As qualidades de Jesus Cristo Espiritual e temporal são esferas como Rei também foram profetidiferentes, mas a primeira ilumizadas no Antigo Testamento: na e anima a segunda. A independência de ambas não implica defensor da verdade, da piedade em ruptura da natural e necessá- e da justiça (cf. Sl 45,4); ria subordinação indireta do temporal ao espiritual. Quando o prudente e justo (cf. Jr 23,5). corpo não se sujeita à alma, sucumbe às paixões e vilezas mais Jesus Cristo foi eleito Rei por torpes. Se, ao radicalizar, rompe- Deus Pai em benefício dos hose o laço que une corpo e alma, o resultado é a morte. Da mesma maneira, o terreno religioso e o civil, como a alma e o corpo, têm suas funções próprias e distintas, são independentes as autoridades que os regulam em seu próprio campo: mas devem colaborar nas questões mistas, subordinando-se indiretamente o tem-
mens: “Olhai que dias virão – oráculo de Javé – em que suscitarei de Davi um gérmen justo: reinará um rei prudente, praticará o direito e a justiça na terra.” (Jr 23,5) “Ele edificará o Templo de Javé[19] e levará as insígnias reais, sentar-se-á e dominará em seu trono.” (Zc 6,13) Deus constituiu a Cristo Homem como Rei Supremo de toda a humanidade: cf. Nm 24,17; Sl 2,78;44,7;71,7-8; Is 9,5-6; Jr 23,5; Dn 2,44;7,13-14; Zc 9,9; Mt 25,31.34.40;28,18; Lc 1,31-33; Jo 18,37; 1 Co 15,25; Hb 1,2; Ap 1,5;19,16. Jesus Cristo foi constituído Rei de todo o Universo pela União Hipostática:[20] “Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele. Ele é a Cabeça da Igreja, Seu Corpo. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos, tendo, por isso, o primeiro lugar em tudo. Pois a Deus aprouve fazer habitar nele toda a plenitude, e reconciliar por ele e para ele todas as coisas, pacificando, mediante o preço do próprio sangue na Cruz, tudo o que há na terra e nos céus.” (Cl 1,17-20) Jesus Cristo mesmo afirma que é Rei: “‘És tu o Rei dos judeus?’ Respondeu Jesus: ‘Tu o dizes.’” (Mt 27,11) “Então Pilatos lhe disse: ‘Logo, tu és Rei?’ Respondeu Jesus: ‘Sim, sou Rei.’” (Jo 18,37) Jesus Cristo, como homem[21], é Rei por direito próprio, nativo: “(...) tudo foi feito por ele e para ele.” (Cl 1,16)
Jesus Cristo mesmo afirma que é Rei: “‘És tu o Rei dos judeus?’ Respondeu Jesus: ‘Tu o dizes.’” (Mt 27,11) “Então Pilatos lhe disse: ‘Logo, tu és Rei?’ Respondeu Jesus: ‘Sim, sou Rei.’” (Jo 18,37) Dezembro 2011 / In Guardia 43
Cívitas com Rafael Brodbeck. Jesus Cristo, como homem, é também Rei de todos os homens por direito de conquista, por ser a Cabeça da Igreja, e por direito de herança:
profetizada no Antigo Testamento: “Pede-me e dar-te-ei por herança todas as Nações, e por propriedade os confins da terra.” (Sl 2,8) “Vou colocar-te como luz para as Nações, para que por direito de conquista: cf. 1 Co minha salvação alcance até os 6,20; 1 Pe 1,18-19; confins da terra.” (Is 49,6) por ser a Cabeça da Igreja: cf. Sl 8,6-7; Cl 1,17-20;
tendeu estabelecer um Reino que fosse material e terreno: cf. Jo 6,54;18,36. O Reino de Cristo é: espiritual: cf. Jo 18,36; eterno: cf. Lc 1,33; universal: cf. Mt 28,18;
Jesus Cristo, como homem, foi por direito de herança: cf. Hb feito verdadeiramente Rei de to1,2. da a terra, tanto das coisas temporais quanto as espirituais, e Jesus Cristo, enquanto homem, é tem domínio direto sobre todas Rei da Igreja[22]: “Ele será as criaturas:“(...) o fizeste Segrande e será chamado Filho do nhor de todas as obras de tuas Altíssimo, e o Senhor Deus lhe mãos. Tudo foi posto por debaidará o trono de seu pai, Davi. E xo de seus pés.” (Sl 8,7); cf. Mt reinará sobre a casa de Jacó por 28,18; Ap 19,6. todos os séculos e seu reino não terá fim.” (Lc 1,32-33) Jesus Cristo, enquanto homem,
de verdade: cf. Jo 14,6;18,37; de vida: cf. Jo 10,10;14,6; de santidade: cf. Cl 2,9-10; de graça: cf. Jo 1,15.16; de justiça: cf. Rm 2,6; de amor: cf. Jo 15,9.13;
de paz: cf. Is 9,6; Lc 2,14. teve domínio direto sobre todos Jesus Cristo não foi feito Rei por O Reinado de Cristo não terá os reinos do mundo e sobre tofim: cf. Mt 16,18. hereditariedade, por ainda que das as coisas criadas: tenha descendido de família real, O poder executivo de Cristo, conão descendeu da linha de Salo- teve domínio direto “em ato pri- mo homem, foi profetizado no mão, à qual se aderia a sucessão meiro”, que é a potestade consi- Antigo Testamento: cf. Is 9,6. hereditária ao trono, mas da li- derada em si mesma: cf. Mt O poder legislativo de Cristo, nha de Natã: cf. Lc 3,23-31. 28,18; At 10,36; 1 Co 15,27; Ap como homem, foi profetizado no 1,5;19,16; Antigo Testamento: cf. Is 2,3. Jesus Cristo não foi feito Rei por eleição, pois quando as massas não teve domínio “em ato segun- O poder judiciário de Cristo, copretenderam fazê-lo Rei, não a- do”, i.e., não exerceu a potestade mo homem, foi profetizado no ceitou: cf. Jo 6,15. em nenhum reino do mundo[24]: Antigo Testamento: cf. Is 2,4. cf. Jo 18,36.
Jesus Cristo, como homem, constituído Rei, exerce Seus poJesus Cristo destruiu o império deres: de Satanás com Seu poder sobre os demônios, inaugurando o Reino Messiânico: cf. Mt 12,28; Lc Jesus Cristo anunciou que havia 10,17-20. chegado Seu Reino, o mesmo predito pelos profetas: cf. Mt Jesus Cristo exerce 3,2;6,33. Seu poder de Rei soJesus Cristo não feito Rei por aquisição do trono, exceto enquanto esta se fundamentava na União Hipostática: cf. At 20,28. [23]
Jesus Cristo afirmou a chegada do Reino: cf. Mt 3,2; Lc 9,12;10,8-9. “Ide proclamar que o Reino dos céus está próximo.” (Mt 10,7)
bre as coisas espirituais: cf. Jr 23,5; Lc 1,32-33.
Jesus Cristo não exerce diretamente [25] Seu poder admiJesus Cristo cumpriu a promessa nistrativo de Rei sobre de um Reino Eterno: cf. Lc 1,32as coisas temporais: 33. cf. Lc 12,13; Jo 18,36.
A extensão do Reino de Cristo Jesus Cristo não prepor todas as Nações da terra foi Dezembro 2011 / In Guardia 44
Cívitas com Rafael Brodbeck. legislativo, promulgando a Lei evangélica: cf. Mt 28,20; Jo 2,3;13,34;14,15; 1 Co 9,21; executivo, regendo os destinos dos homens para que triunfem os planos do Reino de Seu Amor sobre todos eles: cf. Ap 1,18; judiciário, com a potestade recebida do Pai e por ter sido constituído juiz dos vivos e dos mortos: cf. Jo 5,22.27; At 10,42;17,31; 2 Ts 1,7-8;4,1. Jesus Cristo, como homem, constituído Rei, exerce também Seu poder judiciário: sobre os anjos: cf. 1 Co 6,3[26]; pelo ministério que exercem os pela União Hipostática e pela santos sobre os anjos: cf. Mt Redenção. 4,11;8,21. Na segunda parte, fala do caráter O poder de Jesus Cristo como da Realeza de Cristo: no campo Rei é fonte e origem de todo po- espiritual e no campo temporal, der civil, i.e., poder do Estado dando provas da mesma no Masobre as coisas temporais: “Por gistério dos Papas, na Tradição e mim é que os reis reinam e os na Sagrada Escritura. magistrados administram a justiça. Por mim os príncipes gover- Terceiro ponto é a festa de Jesus nam e os grandes julgam toda a Cristo, Rei do Universo, destinaterra.” (Pr 8,15-16) da a celebrar a Realeza de Jesus, principalmente nos tempos em O conteúdo da Quas Primas de que esta é negada – notadamente Pio XI no campo temporal. A Encíclica de Pio XI sobre o Reinado de Cristo foi publicada por ocasião do Ano Santo de 1925. Foi uma excelente oportunidade de manifestar, solenemente, a atualidade do domínio de Nosso Senhor sobre o mundo, nas esferas espiritual e temporal. Na introdução, o Papa fala que a Cristandade nada mais é do que a paz de Cristo no Reino de Cristo. Após, desenvolvendo o tema do jubileu de 1925, inicia as partes da Encíclica em si. Primeiro trata da Realeza de Cristo, em seus aspectos teológicos, dando fundamentos do Antigo Testamento e do Novo Testamento, bem como da Liturgia: e mostra o Reinado do Salvador
“E se agora mandamos que Cristo Rei seja honrado por todos os católicos do mundo, com isso proveremos também as necessidades dos tempos presentes, e poremos um remédio eficacíssimo à peste que hoje infecciona a sociedade humana. Julgamos peste de nossos tempos o chamado laicismo, com seus erros e abomináveis intentos; e vós sabeis, veneráveis irmãos, que tal impiedade não amadureceu em um só dia, senão que fora incubada desde muito antes nas entranhas da sociedade.”[27]
ceu Seu Reino nas coisas do espírito. É nos Céus que ele se realiza, e quando do Juízo Final estará consumado. Na terra este Reino espiritual é construído e dilatado na Igreja e através da Igreja. Com efeito, ser cristão é reconhecer-se súdito de Cristo, tributar-lhe a honra devida ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Trono de Cristo é, portanto, também a nossa alma. Não basta dizer-se seguidor de Jesus. É preciso que Ele reine sobre nós (cf. 1 Co 15,25), e isso consubstancia-se em mudarmos nossa mente pela de Cristo, nossos pensamentos e sentimentos pelos d’Ele, tudo submetendo a Seu império.
No acertado ensino de Sua Santidade, o Papa Pio XI, é “necessário que Cristo reine na inteligência do homem, que, com perfeito acatamento, há de assentir firme e constantemente às verdades reveladas e à doutrina de Cristo.”[28] O Reinado de Jesus sobre as almas efetivase por darmos nosso intelecto a Ele pela fé, que vem a ser justamente, nesse sentido, o ato atraO Reinado de Cristo na esfera vés do qual a inteligência, moviespiritual da pela vontade, adere à verdade Sobretudo, Jesus Cristo estabele- por Deus revelada, que é mantida, preservada, guardada, pregaDezembro 2011 / In Guardia 45
Cívitas com Rafael Brodbeck. da, explicitada e defendida pelo po ser desprezado, num conceito Sagrado Magistério da Igreja. novamente platônico e, por isso mesmo, estranho à Fé da Igreja, A vontade, logo, também deve mas submetido à alma de forma ser submissa à realeza do Salva- a demonstrar o senhorio de Jesus dor. Por isso continua o Santo sobre o homem todo. Padre: “É necessário que reine na vontade, que há de obedecer Sinal da relação entre alma e às leis e preceitos divinos. É ne- corpo, ambos de domínio de cessário que reine no coração, Cristo, é a ligação das realidades que sobrepondo os afetos natu- espirituais com as temporais, terais, há amar a Deus acima de ma do próximo tópico. todas as coisas. É necessário que reine no corpo e em seus Por ora, ressaltemos que o Reimembros, que, como instrumen- nado espiritual de Jesus não se tos, devem servir para a interna dá somente em cada cristão individualmente. Como formamos santificação da alma.”[29] um Corpo, a Igreja, do qual, aliO Reinado de Jesus Cristo sobre ás, é Ele a Cabeça, temos que o homem, em suma, manifesta- Cristo é Seu Rei. se na alma e no corpo. Reina Jesus na alma quando a inteligên- Jesus é Rei da Igreja por ser Rei cia, a vontade e o coração a Ele de cada um de seus membros, e estão submetidos, nos termos do também por direito próprio, eis exposto acima. Tal domínio so- que ela é obra Sua, fundada por bre a alma deve refletir-se neces- Ele mesmo em São Pedro e nos sariamente no corpo, sob pena Apóstolos, continuada nos sude sacrificarmos em nome de um cessores destes. platonismo a própria antropologia cristã, que vê no homem uma unidade fundamental só dissolvida temporariamente pela morte e refeita na ressurreição da carne.
Esta Igreja, da qual Cristo é Rei, anuncia e prepara a plenitude do Reino, que, longe de uma perspectiva gnóstica e milenarista, chegará, no fim dos tempos, por A inteligência na qual Cristo rei- especial intervenção de Deus, na é aquela que, pela fé, adere à quando dos novos céus e da nodoutrina pela Igreja pregada. A va terra. vontade na qual Cristo reina é O Reinado de Cristo na esfera aquela que obedece à Lei de temporal Deus, fazendo o bem, evitando o mal e mantendo a comunhão “(...) erraria gravemente quem com a autoridade – o Papa e os subtraísse a Cristo-Homem o Bispos. O coração no qual Cristo Seu poder sobre todas as coisas reina é aquele que ama a Deus humanas e temporais.”[30] sobre todas as coisas e enxerga n’Ele o princípio da caridade Alma e corpo têm independência com a qual deve amar o próximo em seu campo próprio de atuação. Em sua esfera, porém, ainda como a si mesmo. que livre, não pode o corpo conO império de Nosso Senhor so- trariar a alma, e nos conflitos bre o corpo, por sua vez, é o re- com questões mistas, esta última flexo de Seu Reinado nas potên- deve prevalecer. cias da alma. O corpo no qual Cristo reina, por isso, é aquele Da mesma maneira, ensina Leão que serve de instrumento à santi- XIII na Immortale Dei, o goverficação, não se deixando escravi- no do gênero humano foi repartizar por paixões desordenadas e do entre Estado e Igreja. Na esapegos carnais. Não deve o cor- fera temporal, cuidando dos ne-
gócios civis, atua o Estado livremente, independente e soberano. “A autoridade não é força incontrolável, é sim faculdade de mandar segundo a sã razão. A sua capacidade de obrigar deriva, portanto, da ordem moral, a qual tem Deus como princípio e fim.”[31] Na esfera espiritual, cuidando dos negócios religiosos, atua a Igreja livremente, independente e soberana. Ambos são instrumentos de Deus para a ordenação do bem comum: temporal e espiritual. Como, todavia, o bem temporal é transitório e subordina-se ao espiritual, temos que a Igreja, segundo o Magistério dos Papas, tem uma supremacia sobre o Estado. As duas autoridades não se confundem, tampouco se separam. Não pode, outrossim, o Estado ter supremacia sobre a Igreja, nem esta o ter de maneira direta em relação àquele. A supremacia da Igreja sobre o Estado é indireta: mesmo em seu campo de ação, a esfera temporal, o Estado não pode gerir os negócios civis em desrespeito à Lei de Deus e à lei natural; e nas questões mistas, havendo conflito, prevalece a vontade da Igreja, pois a regra máxima é a salvação das almas. De tal maneira, Cristo reina sobre o Estado. Este, como súdito de Jesus, não pode desoimoral bedecê-Lo.[32]Assim, uma lei que permita o aborto, pois contraria as Leis de Cristo, Rei do Universo. Pio XI pontifica que “o dever de adorar publicamente e obedecer a Jesus Cristo não somente obriga aos particulares, senão também aos magistrados e governantes.”[33] As pessoas das quais Cristo é Rei vivem em uma sociedade, em uma Nação, sob um Estado. Também nestes Jesus deve reinar. O Papa São Pio X, em seu lema – inspirador da Coleta da Missa de Cristo Rei –, pretendia restaurar todas as coisas em Cristo. Ele é Senhor não só das Dezembro 2011 / In Guardia 46
Cívitas com Rafael Brodbeck. realidades espirituais, mas também das temporais; deve-se a Ele obediência privada e pública. “Quando o cristianismo não constitui a alma da vida pública, do poder político, das instituições públicas, então Jesus Cristo tratará a tal país como este país trata a Ele. Reservará sua graça e suas atenções para os indivíduos que o servem, mas abandonará a sua sorte as instituições e poderes que não o servem.”[34] Como Cristo reina sobre a esfera temporal? Considerado o Reinado em si mesmo, Jesus Cristo reina diretamente sobre a sociedade civil, sobre as Nações, sobre todos os reinos do mundo. O exercício desse Reinado, entretanto, não é direto, mas através das autoridades políticas, os Estados, que a Ele se submetem. Também através da Igreja, que os auxilia, segundo o princípio da supremacia indireta formulado pelo Beato Pio IX, por Leão XIII, e por São Pio X, e dos leigos, os quais têm por vocação própria ordenar as estruturas temporais segundo Deus.[35] É doutrina católica que, sendo Cristo o Rei do Universo – e, portanto, também da esfera temporal –, as leis positivas civis não podem contrariar os preceitos da Lei de Deus e da lei natural. Antes, devem promo-
vê-los, explicá-los, e livremente legislar no campo que lhes é próprio, nunca contradizendo os direitos divinos. “Não menos nocivo se mostra o erro contido naquelas concepções que não hesitam em dispensar a autoridade civil de toda e qualquer dependência do Ente supremo, causa primeira e Senhor absoluto tanto do homem como da sociedade, e de todo liame de lei transcendente, que deriva de Deus como de fonte primária, e lhe concedem uma ilimitada faculdade de ação, abandonada à onda inconstante do arbítrio ou tãosomente aos ditames de exigências históricas contingentes e de interesses relativos. Renegada assim a autoridade de Deus e o império da sua lei, o poder civil, por consequência inevitável, ten-
de a atribuir a si aquela absoluta autonomia que compete ao Autor Supremo, a substituir-se ao Onipotente, elevando o estado ou a coletividade a fim último da vida, a critério sumo de ordem moral e jurídica, e interdizendo todo o apelo aos princípios da razão natural e da consciência cristã.”[36] Em razão desse Reinado sobre as sociedades, as Nações e os Estados – ainda que estes não o aceitem –, é dever do cristão “militar pelo restabelecimento do Reino de Jesus Cristo na Nova Evangelização, (...) trabalhar intensamente, sem demoras nem repousos, para ajudar a Igreja a forjar em nossas sociedades a civilização da justiça e do amor cristãos. (...) Unicamente procuramos fazer com que os homens, e por conseguinte as sociedades, qualquer que seja sua organização e seu regime, encontrem em Cristo e em Seu Evangelho a inspiração profunda de toda a sua vida.”[37] O laicismo liberal contaminou de tal maneira o mundo que os Estados hoje querem fazer a vontade da maioria – liberalismo democrático –, a vontade do soberano – monarquia absolutista – , a vontade da raça – nazismo –, a vontade do proletariado ou do partido que diz representá-lo – Dezembro2011 / In Guardia 47
Cívitas com Rafael Brodbeck. comunismo e demais sistemas socialo-esquerdistas –, a vontade da Nação – fascismo –, mas se esquecem de fazer a vontade de Deus! Quando o Fundador do Regnum Christi e dos Legionários de Cristo foi à Europa pela primeira vez, em 1946, constatou esse triste espetáculo de secularização, começado no Renascimento e vitorioso na Revolução Francesa e na filosofia iluminista. Mais tarde, diria: “deime conta de que as ideologias laicistas e materialistas atéias queriam enfraquecer o dinamismo apostólico da Igreja, procurando limitar sua ação à esfera privada ou às práticas de culto, favorecendo a reclusão dos sacerdotes nas sacristias e adormecendo a consciência missionária dos leigos.”[38] Sustentando o Reinado de Cristo sobre a esfera temporal, discursava o Papa: “É inaceitável, bem como contrária ao Evangelho, a pretensão de reduzir a religião ao âmbito estritamente privado, esquecendo paradoxalmente a dimensão essencialmente pública e social da pessoa humana. Saiam, pois, às ruas, vivam sua fé com alegria, façam chegar aos homens a salvação de Cristo, que deve penetrar na escola, na cultura, na vida política!”[39] O Reino de Cristo, pois, espiritual, deve ser refletido em todos os âmbitos e estruturas da esfera temporal, na política como nos demais: a cultura, a filosofia, os meios de comunicação, as artes, o lazer, o esporte, a educação, a família, o pensamento jurídico, as ciências etc. As leis humanas devem servir e favorecer o cumprimento da Lei de Deus, e a lei positiva civil nunca contrariar a divina, a eterna e a natural. Os costumes humanos precisam ser coerentes com a Moral revelada. Toda ação e pensamento dos homens são terreno propício para a sua santificação. “O Reino de
Cristo não é deste mundo, mas leis, as instituições, os costumes se encontra neste mundo. Deve dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade levedar toda a massa.”[40] civil.”[43] A reforma das estruturas temporais – as quais, na Idade Média e Tudo, portanto, deve ser submeem certos ambientes da moderni- tido à sadia influência de Cristo dade, estavam submetidas a e Sua doutrina. Somos cidadãos Cristo Rei – identifica-se com a do céu, mas vivemos na terra, e expansão do Reinado de Jesus aqui nossa luta é pelo Reino de sobre a sociedade civil, e é, na Jesus nas almas e por tudo o que prática, um projeto que vi- puder favorecer esta causa. Nissa “chegar a atingir e modificar, so, o reflexo do Reinado na esfepela força do Evangelho, os cri- ra temporal é conseqüência natutérios de juízo, os valores que ral da universalidade do Senhoridecidem, os centros de interesse, o ed Jesus Cristo, e também uma as linhas pensamento, as fontes obra de apostolado que impulsiinspiradoras e os modelos de ona a salvação de todos, a glória vida da humanidade que se a- de Deus e o respeito aos direitos presentam em contraste com a da Igreja. Impregnando a sociePalavra de Deus e os desígnios dade civil, as leis, o Estado, com de salvação.”[41] Causa dos os valores do Evangelho, não só problemas contemporâneos é a Deus será amado e obedecido Revolução cultural anticristã, de como serão possibilitados mecaráter gnóstico, laicista, liberal, lhores instrumentos para que as antropocêntrico e igualitário, que almas se salvem. Se, pois, o Reidesvincula fé e razão, sociedade nado de Cristo na esfera temporeligiosa e sociedade civil, Igreja ral é reflexo do Reinado sobre a e Estado, esfera espiritual e tem- esfera espiritual, podemos dizer, poral, culto privado e culto pú- por outro lado, que este último é blico. Negando-se à benéfica ajudado e expandido pelo prisubmissão a Jesus Cristo, Rei do meiro. Como Cristo usou de Sua Universo, o mundo afunda na natureza humana para a Redenloucura em que tudo passa a ser ção dos homens, e nós precisapermitido e a natureza é violen- mos do corpo para a santificação tada, com leis abortistas e pró- da alma, o Reino, substancial e gay, v.g.. “A ruptura entre a or- fundamentalmente espiritual, dem espiritual e a ordem racio- serve-se das realidades temponal é o maior problema que o rais para a sua expansão. Cada mundo moderno tem a enfren- qual dos membros da Igreja tem seu papel nessa obra grandiosa. tar.”[42] Somos levados pelos inimigos da Igreja a criticar o período em que a doutrina de Cristo inspirava toda a sociedade. A falsificação da História é das manobras aquela que mais ajudou a que tantos “torçam o nariz” quando se fala na Idade Média.
Na contemporânea conjuntura social, os Estados, as Nações, as leis, a cultura, não estão mais submetidos ao Reinado de Cristo. A filosofia moderna, inclusive, tratou de separar radicalmente a Igreja do Estado, o que sempre gerou protestos dos Papas. O mundo de hoje, impregnado de laicismo, não reconhece sua dependência ao império de Jesus, Nosso Senhor, e, por isso, os católicos têm de:
A Igreja, contudo, da Idade Média diz palavras as mais elogiosas. “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época a influência da sabedoria cristã e a sua tolerar – mas não aprovar! –, sevirtude divina penetravam as gundo as ordens da Igreja, e em
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Cívitas com Rafael Brodbeck. estrita fidelidade ao Santo Padre, o Papa, o Estado Moderno, laico, liberal, como único existente na atualidade; condenar o mesmo Estado Moderno, enquanto princípio, por sua obstinada recusa em submeter-se a Cristo Rei, crendo tal realidade, no máximo, mal menor; lutar pela restauração do Reinado de Cristo na esfera temporal, igualmente em fidelidade ao Romano Pontífice, o que constitui verdadeiro apostolado de recristianização da sociedade, tarefa própria dos leigos, segundo ressaltou o Vaticano II. “Por outra parte, erraria gravemente quem negasse a CristoHomem o poder sobre todas as coisas humanas e temporais, posto que o Pai lhe confiou o direito absolutíssimo sobre as coisas criadas, de tal sorte que estão submetidas a seu arbítrio. (...) Portanto, a todos os homens se estende o domínio de Nosso Redentor, como afirmam as palavras de nosso predecessor, de feliz memória, Leão XIII, as quais fazemos nossas com muito gosto: ‘O império de Cristo se estende não só sobre os povos católicos e sobre aqueles que tendo recebido o Batismo pertencem de direito à Igreja, ainda que o erro os tenha extraviado ou o cisma os separe da caridade, senão que compreende também aos que não participam da fé cristã, de sorte que sob a potestade de Jesus se acha todo o gênero humano.’ (...)
que a felicidade da Nação não procede de fonte distinta daquele que dá a felicidade aos cidadãos, pois a Nação não é outro coisa que o conjunto concorde dos cidadãos. Não se neguem, pois, os governantes das Nações a dar por si mesmos e pelo povo mostras públicas de veneração e de obediência ao império de Cristo se querem conservar incólume sua autoridade e fazer a felicidade e a fortuna de sua pátria.”[44]
quarta etapa, com a total dessacralização da sociedade e a exclusão completa do Reino de Deus – vide a União Européia sem referência a suas raízes cristãs, o movimento homossexual, a terceira via do socialismo, a Nova Era, o progressismo teológico, o relativismo moral (condenado por João Paulo II na Veritatis Splendor, em reiteração de condenações anteriores), certas tendências panteístas e igualitárias na idéia ecológica, o aborto, o feminismo etc.
O combate pela restauração do Reinado de Cristo na esfera O pensador católico brasileiro, Plínio Corrêa de Oliveira, estutemporal dando o processo histórico e fi“Já nos dizia Leão XIII: Nós losófico que se inicia com a devenceremos com o sinal do Co- cadência da Cristandade Medieração de Cristo. É na riqueza val, demonstra em várias de suas desta devoção e nas promessas obras como tal evento foi guiado que ela guarda para os seus a- por desordens humanas, especipóstolos que está fundamentada almente o orgulho e a sensualitoda a minha esperança de que, dade, que favoreceu o estabelecialgum dia, Cristo reinará no mento gradual de uma ordem de mundo inteiro por meio dos ho- coisas antagônica à noção católimens do Reino.”[45] ca de civilização. O referido processo – secularizante, igualitário, A Cristandade foi progressivaliberal, anárquico – foi considemente sendo atacada desde o fim rado pelo escritor “a” Revolução da Idade Média. Com o Renasci[46], por antonomásia, a qual mento, pagão, gnóstico, caracteprecisava ser combatida pela rizado pelo humanismo autônoContra-Revolução.[47] mo – tão condenado pelos Papas e pela Gaudium et Spes –, e a Quando a Revolução adquire feiReforma Protestante, a primeira ções violentas, por vezes é neetapa de um mesmo processo cessário, em legítima defesa, serevolucionário. guindo as diretrizes da Moral
Segunda etapa será a Revolução Francesa, com todas as funestas teorias iluministas sendo aplicadas e um novo passo igualitário inaugurado. Este estado de coisas conduz ao liberalismo do século XIX e às grandes perseguiEle é, com efeito, a fonte do bem ções do início do século XX. público e privado. Fora d’Ele não há que se buscar a salvação Por fim, terceira etapa inauguraem nenhum outro; pois não foi se na Revolução Russa de 1917, dado aos homens outro nome quando o comunismo – transpodebaixo do céu pelo qual deve- sição das idéias igualitárias da mos nos salvar. Ele somente é Reforma e da Revolução Francequem dá a prosperidade e a feli- sa ao campo social e econômico cidade verdadeira, tanto aos in- – saiu-se vitorioso. A mesma e divíduos como às Nações: por- única Revolução prepara sua
Católica quanto á guerra justa, contrapor-lhe uma ContraRevolução também armada. Assim, os franceses católicos que se opuseram à revolta de 1789; os cristeros, os quais comandaram a luta militar conhecida como Cristiada, para defender a fé e a liberdade religiosa contra o governo liberal e maçônico mexicano; os monarquistas espanhóis que combateram os comunistas na Guerra Civil.[48] “Se as leis do estado discrepam abertamente com o direito divino, se impõem um agravo à Igreja ou contradizem aos que são deveres da religião, ou violam a Dezembro2011 / In Guardia 49
Cívitas com Rafael Brodbeck. autoridade de Jesus Cristo no Pontífice Máximo; então, em verdade, resistir é um dever, e obedecer, um crime.”[49] É a realização prática da resistência armada legítima, conforme ensinada pela Igreja: “A resistência à opressão do poder político não recorrerá legitimamente às armas, salvo se ocorrerem conjuntamente as seguintes condições: 1) em caso de violações certas, graves e prolongadas dos direitos fundamentais; 2) depois de ter esgotado todos os outros recursos; 3) sem provocar desordens piores; 4) que haja uma esperança fundada de êxito; 5) se for impossível prever razoavelmente soluções melhores.”[50] Todavia, mesmo em “tempos de paz”, a Revolução anticatólica avança intelectual e culturalmente. Para combatê-la, cabe um autêntico apostolado contrarevolucionário. Ao lado da evangelização explícita, para mudar os corações e submetê-los a Cristo Rei, é urgente a recristianização da sociedade, uma Contra-Revolução Cultural. Esta se faz pela impregnação das realidades temporais com o Evangelho, pela evangelização da cultura, pela defesa da família, pela cristianização das artes e das ciências, pela ação política e jurídica – no governo, na elaboração das leis, na filosofia jurídica (revitalização do jusnaturalismo tomista, e estudos no constitucionalismo católico) –, pela formação de uma elite tradicional nos valores cristãos, pela divulgação da causa entre os católicos. “É porém específico dos leigos, por sua própria vocação, procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenandoas segundo Deus. Vivem no século, i.e., em todos e em cada um dos ofícios e trabalhos do mundo. (...) A eles, portanto, cabe de maneira especial iluminar e or-
denar de tal modo todas as coisas temporais, às quais estão intimamente unidos, que elas continuamente se façam e cresçam segundo Cristo, para louvor do Criador e Redentor.”[51] “É porém plano de Deus acerca do mundo que os homens, em espírito de concórdia, construam a ordem temporal e sem cessar a aperfeiçoem. Todas as realidades que constituem a ordem temporal, como sejam os bens da vida e da família, a cultura, economia, artes e profissões, instituições políticas, relações internacionais e outros assuntos deste teor, junto com a evolução e o progresso deles, não constituem apenas subsídios para o fim último do homem, mas possuem valor próprio por Deus nelas colocado, seja quando consideradas em si mesmas, seja como partes de toda uma ordem temporal: ‘e viu Deus que tudo quanto realizara era mesmo bom’ (Gn 1,31). (...) É tarefa de toda a Igreja colimar este objetivo, a saber, capacitar os homens para instruírem com retidão a ordem universal das coisas temporais e para orientála por Cristo a Deus. Aos pastores compete enunciar claramente os princípios acerca do fim da criação e do uso do mundo, prestar assistência moral e espiritual, para renovar-se em Cristo a ordem das coisas temporais. Faz-se porém mister que os leigos assumam a renovação da ordem temporal como sua função própria e nela operem de maneira direta e definida, guiados pela luz do Evangelho e pela mente da Igreja, e levados pela caridade cristã. Cooperem como cidadãos com os cidadãos, com sua competência específica e responsabilidade própria. Procurem por toda a parte e em tudo a justiça do reino de Deus. De tal sorte deve ser reformada
a ordem temporal, que, conservando-se integralmente suas leis próprias, se conforme aos princípios mais altos da vida cristã e se adapte às condições diferentes dos lugares, tempos e povos.”[52] Na Encíclica Redemptoris Missio, o Papa João Paulo II expõe o lamentável estado dos países cristãos, conseqüência da Revolução, da descristianização social, política e cultural. As Exortações Apostólicas Ecclesia in América e Ecclesia in Europa retomam o assunto, convidando os leigos à tarefa da Nova Evangelização e da reforma da sociedade sob Cristo Rei. Pensadores como Joseph de Maistre, Ortega y Gasset, e Juan Donoso Cortés analisaram profundamente o processo revolucionário, dando pistas a uma coesa ação contra-revolucionária, a qual deve ser guiada pela Moral e pela Fé. Denunciar os erros nas legislações positivas civis, mormente quando agridem a vida, a família e os direitos de Deus, é um excelente modo de pelejar por Cristo Rei. Também o é a divulgação da doutrina da Igreja sobre o tema, e dos valores tradicionalmente vinculados à ordem social católica, através de palestras, livros, escritos, eventos. A conquista das almas para Cristo, outrossim, não só é obra do Reinado de Jesus sobre a esfera espiritual, mas contribui para que se efetive sobre a esfera temporal. Aliás, mais correto é dizer que o Reinado sobre a esfera temporal contribui para o Reino espiritual. Importa ao católico, além disso, pautar sua ação política baseado nos princípios da doutrina social da Igreja. Defender a subsidiariedade, a solidariedade, a desigualdade harmônica, a propriedade privada.
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Cívitas com Rafael Brodbeck. Sobre a solidariedade como prin- tos de amigos.”[56] cípio social da doutrina católica, Sobre a subsidiariedade: o Magistério é claríssimo: “Ninguém, com efeito, é tão rico que não careça dos outros; ninguém é tão pobre que não possa, em alguma coisa, ser útil a outrem.”[53] “Sobretudo em nossos dias, urge a obrigação de nos tornarmos o próximo de todo e qualquer homem, e de o servir efetivamente quando vem ao nosso encontro, quer seja o ancião, abandonado de todos, ou o operário estrangeiro injustamente desprezado, ou exilado, ou a criança ilegítima que sofre injustamente por causa de um pecado que não cometeu, ou o indigente que interpela a nossa consciência, recordando a palavra do Senhor: ‘cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’ (Mt 25, 40).”[54] “A solidariedade ajuda-nos a ver o ‘outro’ – pessoa, povo ou nação – não como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalho e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim, como um nosso ‘semelhante’, um ‘auxílio’ (cf. Gen 2,18.20), que se há de tornar participante, como nós, no banquete da vida, para o qual todos os homens são igualmente convidados por Deus.”[55] “Mais do que qualquer outro, aquele que está animado de verdadeira caridade é engenhoso em descobrir as causas da miséria, encontrar os meios de a combater e vencê-la resolutamente. Artífice da paz, prosseguirá o seu caminho, ateando a alegria, e derramando a luz e a graça no coração dos homens, por toda a terra, fazendo-lhes descobrir, para lá de todas as fronteiras, rostos de irmãos, ros-
“Deve-se respeitar o princípio de subsidiariedade: uma sociedade de ordem superior não deve interferir na vida interna de uma sociedade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve antes apoiá-la em caso de necessidade e ajudála a coordenar a sua ação com a das outras componentes sociais, tendo em vista o bem comum.”[57] “Permanece, contudo, imutável aquele solene princípio da filosofia social: assim como é injusto subtrair aos indivíduos o que eles podem fazer com a própria iniciativa e esforço, para o confiar à coletividade, do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades menores e inferiores, podiam conseguir, é uma injustiça, um grave dano e perturbação da boa ordem social. O fim natural da sociedade e da sua ação é coadjuvar os seus membros, e não destruí-los nem absorvê-los.”[58] “Não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apóie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda.”[59] “A comunidade política está obrigada regular as próprias relações com comunidade civil de acordo com o princípio de subsidiariedade: é essencial que o crescimento da vida democrática tenha início no tecido social. As atividades da sociedade civil ? sobretudo voluntariado e cooperação n o âmbito do privado-social, sinteticamente definido como ‘setor
terciário’ para distingui-lo dos âmbitos do Estado e do mercado ? constituem as modalidades mais adequadas para desenvolver a dimensão social da pessoa, que em tais atividades pode encontrar espaço para exprimir-se plenamente. A progressiva expansão das iniciativas sociais fora da esfera estatal cria novos espaços para a presença ativa e para a ação direta dos cidadãos, integrando as funções atuadas pelo Estado. Tal importante fenômeno tem sido freqüentemente atuado por caminhos e com instrumentos largamente informais, dando vida a modalidades novas e positivas de exercício dos direitos da pessoa, que enriquecem qualitativamente a vida democrática.”[60] “À atuação do princípio de subsidiariedade correspondem: o respeito e a promoção efetiva do primado da pessoa e da família; a valorização das associações e das organizações intermédias, nas próprias opções fundamentais e em todas as que não podem ser delegadas ou assumidas por outros; o incentivo oferecido à iniciativa privada, de tal modo que cada organismo social, com as próprias peculiaridades, permaneça ao serviço do bem comum; a articulação pluralista da sociedade e a representação das suas forças vitais; a salvaguarda dos direitos humanos e das minorias; a descentralização burocrática e administrativa; o equilíbrio entre a esfera pública e a privada, com o conseqüente reconhecimento da função social do privado; uma adequada responsabilização do cidadão no seu ‘ser parte’ ativa da realidade política e social do País.”[61] Embora concentremos nossos esforços na dilatação do Reino sobre as almas, sabemos que tal ação reflete-se necessariamente na economia, na política, na cultura e em todos os aspectos da ordem temporal. Dezembro 2011 / In Guardia 51
Cívitas com Rafael Brodbeck. [1] Catecismo da Igreja Católica, [16] Missa Romano, ed. 1962; Festa de Nosso Senhor Jesus 2105 Cristo, Rei do Universo; Oração [2] Veremos melhor o assunto depois da Comunhão; trad. livre num próximo estudo. do original em latim [3] Missal. Para Domingos e Festas, São Paulo: FTD, 1952, p. 528 [4] Tal consagração não foi apenas uma manifestação piedosa do Papa, sem efeitos práticos, mas uma profunda demonstração da submissão do mundo temporal ao Reinado de Cristo. [5] BONAÑO, D. Manuel Garrido, OSB. Año Litúrgico Patrístico, vol 3 – Pascua, Pamplona: Fundación Gratis Date, 2002, p. 84 [6] IRABURU, Pe. José María. Oraciones de la Iglesia en Tiempos de Aflicción, Pamplona: Fundación Gratis Date, 2001, pp. 56-57 [7] Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Miserentissimus Redemptor, de 8 de maio de 1928, nº 4 [8] IRABURU, Pe. José María. De Cristo o del Mundo, Pamplona: Fundación Gratis Date, 1997, p. 121 [9] Pontifício Conselho Justiça e Paz. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 572 [10] Missal Romano; Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo; Intróito [11] Missal Romano; Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo; Oração sobre as Oferendas
va da União Hipostática.” (FUSTER, Enrico Pardo.op. cit., p. 264)
[24] Cristo tem o Reinado sobre a esfera temporal, mas não o e[17] Missal Romano; Solenidade xerce por Si mesmo, e sim atrade Nosso Senhor Jesus Cristo, vés do Estado, o qual livremente Rei do Universo; Oração depois deve reconhecer-se Seu súdito. da Comunhão [25] O exercício do Reinado de [18] FUSTER, Enrico Par- Cristo sobre as realidades temdo. Fundamentos Bíblicos de la porais é indireto, ainda que o doTeologia Católica, vol. II, Pam- mínio, o Reinado em si mesmo, plona: Fundación Gratis Date, seja direto. 2001, pp. 262-266 [26] “Se os santos julgarão os anjos com a autoridade de Cris[19] Ou seja, a Igreja. to, é evidente que Cristo tem a [20] Ou seja, pela união em uma potestade judicial sobre esó Pessoa divina entre a natureza les.” (FUSTER, Enrico Pardivina de Cristo, gerada desde a do. op. cit., p. 266) eternidade pelo Pai, e Sua natureza humana, gerada no ventre [27] Sua Santidade, o Papa Pio da Santíssima Virgem por obra XI. Encíclica Quas Primas, de 11 do Espírito Santo em um tempo de dezembro de 1925, nº 23 histórico determinado, por ocasião da Encarnação. Cristo, por ser [28] Sua Santidade, o Papa Pio Deus, é Rei. Sua Realeza decorre XI. Encíclica Quas Primas, de 11 da natureza divina: é Rei porque de dezembro de 1925, nº 34 é Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Mas tam- [29] Sua Santidade, o Papa Pio bém, enquanto homem, é Rei, XI. Encíclica Quas Primas, de 11 seja pelos méritos adquiridos na de dezembro de 1925, nº 34 Cruz, seja pela União Hipostática, uma vez que de Maria não [30] Sua Santidade, o Papa Pio nasceu apenas o homem Cristo, XI. Encíclica Quas Primas, de 11 mas o Cristo Total, eis que as de dezembro de 1925 duas naturezas unem-se em uma [31] Sua Santidade, o Papa João só Pessoa. Nossa Senhora é Mãe XXIII. Encíclica Pacem in Terde Cristo – uma só Pessoa! – e ris, de 11 de abril de 1963, nº 47 não mãe da Sua natureza humana apenas. É certo que não foi [32] “Sob o aspecto social, a Iela quem gerou a natureza divi- greja reafirma a disposição de na, existente desde sempre e a trabalhar conjuntamente com as ela superior, mas ambas as natu- forças da sociedade livremente rezas – a divina gerada pelo Pai, organizada e dos poderes tempoe a humana pelo Espírito Santo rais constituídos para promover em seu ventre – unem-se em u- ações capazes de erradicar defima única Pessoa. Por isso dize- nitivamente a miséria. Do ponto mos que Maria é Mãe de Deus. de vista moral, a Igreja considera
[12] Missal Romano; Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, [21] Cristo, vimos, é Rei porque é Deus. Mas também pe Rei enRei do Universo; Prefácio quanto homem: os motivos fo[13] Missal Romano; Solenidade ram descritos na última nota de de Nosso Senhor Jesus Cristo, rodapé e iremos explicitar no Rei do Universo; Antífona da texto. Comunhão [22] Dizemos “enquanto ho[14] Missal Romano, ed. 1962; mem” porque a Realeza de CrisFesta de Nosso Senhor Jesus to sobre a Igreja por virtude de Cristo, Rei do Universo; Coleta; Sua Divindade é evidente. Temos aqui a intenção de demonstrad. livre do original em latim trar a mesma Realeza em razão [15] Missal Romano; Solenidade de Sua humanidade. de Nosso Senhor Jesus Cristo, [23] “O valor da Redenção deriRei do Universo; Coleta
o subjetivismo e o individualismo exacerbado, o consumismo ilimitado, o utilitarismo pragmático, o imediatismo irresponsável, a cultura do descartável e, principalmente, o hedonismo, a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, a supremacia de um povo sobre outro, a escravidão dos mais pobres aos mais ricos, a corrupção ativa e passiva, como práticas que ferem os princípios éticos, distanciando as pessoas umas das outras, acirrando o egoísmo e os ódios incontáveis, enfim, afastando os seres Dezembro 2011 / In Guardia 52
Cívitas com Rafael Brodbeck. [humanos da solidariedade e do afeto, necessários para uma convivência menos aterradora. Finalmente, sob o prisma espiritual, a Igreja reforça a fé na salvação do homem, quando cada um de nós for capaz de se libertar dos condicionamentos que nos amesquinham diante do próximo e de Deus, e quando o mandamento maior de Cristo for vivenciado por todos com verdadeira intensidade. Por defender os valores que dignificam a vida humana é que a Igreja permanece viva e atuante. ‘O respeito pela pessoa humana implica que se respeitem os direitos que decorrem de sua dignidade de criatura. Estes direitos são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São eles que fundam a legitimidade moral de toda autoridade. Conculcando-os ou recusando-se a reconhecê-los na sua lei positiva, uma sociedade mina sua própria legitimidade moral.’ (Catecismo da Igreja Católica nº 1930).” (Sua Eminência, Dom Geraldo Magella, Cardeal Agnelo, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil. A Igreja se posiciona. Comunicado da CNBB, em 17 de julho de 2004, reproduzido por Zenit, ZP04070517) [33] Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Quas Primas, de 11 de dezembro de 1925, nº 33 [34] PIE, Cardeal Louis. Apud CATTA, E., La doctrine polítique et sociale du Cardinal Pie, P a r í s : 1 9 5 9 , p . 85 [35] cf. Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium,de 21 de novembro de 1964, nº 31 [36] Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Summi Pontificatus, de _____, nº 38 a 39 [37] MACIEL, Pe. Marcial, LC. A Caridade Evangélica [38] MACIEL, Pe. Marcial, LC. Apóstolos da Nova Evangelização [39] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Homilia na Santa Missa pela Consagração da Catedral de Almudena, em ______
[40] GRINGS, D. Dadeus. Dialética da Política. História Dialética do Cristianismo, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994, p. 313 [41] Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, de 8 de dezembro de 1975, nº 19 [42] DAWSON, C. Religione e Cristianesimo nella Storia della Civiltà, Roma: Paoline, 1984, p. 152 [43] Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Immortale Dei, de 1º de novembro de 1885
[44] Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Quas Primas, de 11 de dezembro de 1925, nsº 15-16 [45] MACIEL, Pe. Marcial, LC. Carta de 2 de julho de 1946 [46] Essa idéia de Revolução como uma doutrina, um sistema, já foi demonstrada por Joseph De Maistre, para quem ela era não um acontecimento, mas uma época. Outros pensadores, todos muito católicos e autorizados, sustentam o mesmo. “A Revolução foi um vasto empreendimento premeditado de descristianização e de hostilidade ao Reinado Social de Cristo Rei e de sua Igreja. E os dois séculos que se seguiram continuaram esta obra nefasta: revolta contra Deus e contra os verdadeiros direitos do homem.” (RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113) “Ela é uma doutrina, ou, se se preferir, um conjunto de doutrinas, em matéria religiosa, filosófica, política, social.” (FREPPEL, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 113). “A Revolução é o ódio de toda ordem social que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e deus ao mesmo tempo. Ela é a proclamação dos direitos do homem sem preocupação com os direitos de Deus. É a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do homem no lugar da
vontade de Deus. Ela é a Revolução, quer dizer, destruição, desordem.” (GAUME, Mons. Apud RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, pp. 113-114) “Em outros termos, a Revolução é uma revolta contra Deus e contra Jesus Cristo. Em conseqüência, é revolta contra a Igreja, contra seus ministros, contra o Rei. Como disse o Cardeal Pie, ela tende ‘para uma completa secularização, isto é, para uma ruptura absoluta entre a sociedade leiga e o princípio cristão.’ (...) E porque ela não foi apenas um acontecimento do passado mas um certo estado de espírito, uma doutrina ainda presente nos espíritos e instituições, o combate continua ainda entre a verdadeira Igreja e a Revolução.”(RIFAN, D. Fernando Arêas. Bicentenário da Revolução Francesa, in “Quer Agrade, Quer Desagrade”, Campos: ed. do autor, 1999, p. 114) [47] “Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da Ordem. E por Ordem entendemos a paz de Cristo no Reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal.” (OLIVEIRA, Plínio Corrêa de. Re voluçã o e ContraRevolução, 2ª ed., São Paulo: Diário das Leis, 1982, p. 42) [48] Tanto na Cristiada quanto na Guerra Civil, os católicos combatiam bradando “Viva Cristo Rei!”, significando que desejavam o Reinado de Jesus na esfera temporal, coisa que não estava acontecendo com governos liberais e comunistas. Também os que morriam – mártires! – gritavam “Viva Cristo Rei!” antes de encontrar o Senhor no Céu. Muitos cristeros mexicanos e contra-revolucionários espanhóis foram beatificados por João Paulo II. [49] Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Sapientiae Christianae, de ____ [50] Catecismo da Igreja Católica, 2243 [51] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição DogmátiDezembro2011 / In Guardia 53
Cívitas com Rafael Brodbeck. ca Lumen Gentium, de 21 de novembro de 1964, nº 31 [52] Concílio Ecumênico Vaticano II. Decreto Apostolicam Actuositatem, de 18 de novembro de 1965, nº 7 [53] Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Graves de Communi, de _____, nº 22 [54] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, de 7 de dezembro de 1965, nº 27 [55] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Sollicitudo Rei Socialis, de ____, nº 39 [56] Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Encíclica Populorum Progressio, de ____, nº 75 [57] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Centesimus Annus, de _____, nº 48 [58] Sua Santidade, o Papa Pio XI. Encíclica Quadragesimo Anno, de ____, nº 79 [59] Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est, de 25 de dezembro de 2005, nº 28 [60] Pontifício Conselho Justiça e Paz. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 419 [61] Pontifício Conselho Justiça e Paz. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 187
Dezembro 2011 / In Guardia 54
DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro.
Por que o socialismo é incompatível com a doutrina católica? Não é raro vermos sacerdotes e pessoas que se dizem parte da Igreja Católica confundirem o objetivo da Doutrina Social da Igreja, que busca integralmente o bem comum, da doutrina socialista que finaliza um bem estritamente coletivo. Isso ocorre em razão da tentação que se oferece através do texto marxista, no qual é possível, para os que nele tem fé, uma nova salvação. Para o socialismo é possível "transcender" na terra, e assim, aliado à metafísica do Evangelho, economiza-se a paciência humana no sentido de não ser mais necessário esperar o tempo de uma vida para adentrar à perfeição plena do Reino dos Céus. Certamente, da forma que estou expondo soa como um desequilíbrio patológico, e é. Vejamos: quais são os requisitos para que isso ocorra? Se executa a "justiça social" na terra e se im-
Marx e Engels: o início de uma nova etapa no pensamento socialista.
põe à todas as pessoas condições materiais de forma completamente igual, para que assim se distribuam os bens dos que já os possuem aos que não possuem, independentemente da vontade dos seus proprietários de fato. Porém, isso é moralmente correto? É este o sentido da busca do "bem comum" enfatizado pela Doutrina Social da Igreja? A resposta é clara e simples: absolutamente não. A Igreja Católica jamais defendeu uma forma coletiva e totalmente equiparada de bens meramente materiais, uma vez que esses bens, apesar de necessários para a realização da pessoa são meramente transitórios à transcendência divina. Outro argumento é que a total igualdade
desses bens não produzem qualquer justiça, pois se exclui gravemente o mérito corolário a cada pessoa humana. O que a Santa Igreja defende, diferentemente do que a Teologia da Libertação defende, é uma forma prudente e perfeita de subsidiariedade, no sentido de que apenas um bem material deve ser procurado: o bem comum, que é o bem de um (no sentido individual) e o de todos (no sentido coletivo), naquilo em que todos temos em comum: a dignidade. Não obstante, esse bem se divide sim no sentido individual e coletivo do ser, mas para ser realizado necessita produzir um reconhecimento pessoal de que não há bem próprio sem haver um bem coletivo. Em outras palavras: minha felicidade, seja terrena ou transcendente, está condicionada à felicidade do próximo. Dezembro 2011 / In Guardia 55
DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro.
Sendo assim, é desse reconhecimento pessoal que a dignidade de cada um vai sendo contemplada, amando e perdoando ao próximo como se dele dependesse toda a nossa felicidade, é esse o verdadeiro sinônimo de vida em comunidade. O Papa João Paulo II foi mais além, afirmando que sem essa participação social da pessoa e sem este reconhecimento em relação ao próximo, o ser está fadado ao comportamento antissocial e assim renuncia à sua própria dignidade na medida em que seu desinteresse pelo bem vai levá-lo a comportamentos que somente se remetem à sua falta de reconhecimento social, o que podemos aplicar, por exemplo, a uma situação em que um criminoso, por razão desnecessária, fútil ou ma-
terial, comete um crime mediante ameaça ou tira a vida de outrem. Não há, portanto, que se falar em plena dignidade de quem comete delitos de forma natural e sem consciência, uma vez que à essa pessoa foi dada uma noção relativa - mas potencialmente inteligível - do que é certo e errado, principalmente no sentido do mal que pode ser feito ao próximo. Isso quer dizer que a dignidade não se recupera após renunciada? Certamente se recupera, visto que após a pena terrena pode haver o perdão, se o criminoso assim desejar. Já a prática coletivista, assim como a individualista (que se remete às doutrinas liberais), é totalitária e impositiva, pois mede apenas o bem coletivo sem qualquer consi-
deração à individualidade de cada um, que também é formadora da pessoa humana. Essa doutrina marxista pode ser traduzida como socialismo ou, embora seus praticantes neguem, de comunismo. A diferença de ambas é traduzida apenas pela impopularidade da palavra comunismo, após o desastre humano que culminou na morte de mais de 200 milhões de pessoas nos países que adotaram seu sistema desumano. Ademais, independente da forma etimológica, o Papa Pio XII publicou em 1949 o ''Decreto contra o comunismo'' proibindo desde a filiação de católicos em partidos comunistas até qualquer defesa da doutrina materialista, sob pena de excomunhão latae sentenciae - no momento em que se praticou a conduta delituosa. Anteriormente, em 1937, já havia sido publicada por Pio XII a encíclica Divini Redemptoris, que também havia condenado fortemente o comunismo. Porém, como o socialismo chegou dentro da Igreja Católica após inúmeras condenações dos romanos pontífices a essa doutrina? Através da Teologia da Libertação, influenciada pelo método de dominação (ou adequação) cultural de Antonio Gramsci para promover o marxismo sem necessitar uma nova guerra de classes. É certo que nos dias de hoje Leonardo Boff, o fundador da Teologia da Libertação, tenta se afastar de sua imagem de comunista, mas não pode negar o que declarou no livro ''Manifesto Comunista comentado por Chico Alencar'', verbis:
Pio XII.
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DSI—Doutrina Social da Igreja com Bruno de Castro. des, mas todas devem ser equilibradas visando o amor ao próximo - no sentido de procurar não ofender a pessoa e nem de vedála a uma emenda após um suposto repúdio gerado - e à prudência - sabendo quando agir, como agir e, o mais importante, se devemos de fato agir.
Li o Manifesto comunista pela primeira vez em 1962, quando estudava filosofia em Curitiba. (...) Ele representa um sonho, a construção de uma humanidade reconciliada consigo mesma, com a natureza, a apresentação do caminho para essa reconciliação final, que é o socialismo como maneira de construir o comunismo para todos [grifo nosso]. E aí eu percebi grande força, eu diria judaicocristã, do Manifesto, que é o sonho do cristianismo originário, de colocar tudo em comum e não haver pobres entre os seres humanos[grifo nosso].
res que correm os ricos no sentido da soberba, do apego material e da busca intensa por prazeres terrenos. Sendo assim, como agir em face de doutrinas humanas coletivistas dentro da Igreja Católica? Deus nos pede que sejamos promotores da verdade, mas não exige que todo apostolado vinculado à nossa pessoa tenha de ser destruído em razão de uma situação reprovável. Todos os momentos tem as suas peculiarida-
A Igreja também já reprovou diversas vezes a Teologia da Libertação por seu teor materialista, e a publicação do Catecismo tem amenizado essa formação marxista dentro dos seminários, o que prova que a corrente herege está cada vez a perder mais praticantes. O marxismo eclesiástico está a acabar, mas deixou presente uma ênfase forte em dar preferência ampla aos pobres nas ações apostólicas, o que não é de todo errado, desde que não estejamos falando de pobres no sentido meramente material, mas também no sentido espiritual. Em relação aos ricos, condenados pela Teologia da Libertação, o próprio Evangelho fala que Cristo não fechou o Reino dos Céus a eles, mas sim apenas os alertou dos perigos maioDezembro 2011 / In Guardia 57
Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira
As Vigílias no Rito Romano Na última edição, falamos sobre a vigília pascal, tendo como ponto de vista a “desquaresmação” da liturgia e do júbilo próprio dessa celebração. Hoje, porém, falamos das vigílias como um todo. O simbolismo comum a todas elas e as principais vigílias do Rito Romano.
"...Porquanto vós todos sois filhos da luz, e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas." 1 Ts 5,5 explicação simples: as trevas en- escuridão. Pois só na presença cobrem os atos. Quem trai anoite da luz a Verdade poderá ser contem menos chances de ser visto; templada, os criminosos serão quem mata, melhores chances de punidos e os justos recompensase esconder. Verdadeiramente a dos. noite sempre foi “a hora do poder das
Na liturgia latina, várias solenidades possuem um formulário
trevas”.
próprio para as celebrações de Nesse sentido, nas- vigília, entre elas citamos a Pásce a oração de vigí- coa, o Natal, Pentecostes, que lia com forte signi- possuem missa com vigília com ficado, sendo este s liturgia da palavra ampliada, e relacionado com o São Pedro e São Paulo, Imaculasímbolo da luz. A da Conceição, Assunção de Nosluz que nasce entre sa Senhora, São João Batista, as trevas e as dis- que não possuem em sua estrutusolve. Não por aca- ra nenhum rito que difere essenso, foi em meio à cialmente das vigílias. Introdução Desde muito cedo a Igreja de Roma iniciou a prática das vigílias, orações noturnas na qual se clamava a Deus. Não é de se estranhar que a Igreja, não apenas no ocidente, mas também no oriente adotasse essa prática de oração, dada que ela tem raízes bíblicas. A mais notável das passagens é a noite que antecedeu a paixão de Nosso Senhor, na qual ele próprio vigiou e pediu para que os apóstolos orassem também por Ele, até o momento de sua entrega. A noite sempre teve uma conotação de pecado; e considerando as atividades humanas, não poderia ser de outra maneira. Os ladrões preferem a noite, os adúlteros preferem essas horas, também os assassinatos são mais comuns a essas horas. Eis um fato praticamente universal que tem uma
noite que Cristo ressuscitou. O mais
luminoso
dos
mistérios,
Vigílias – Ofício das Leituras
teve seu lugar cercado de trevas. O primeiro caso notável de vigília é no Ofício Divino, o ofício Como em toda a história da saldas leituras, mesmo com a possivação, nosso divino mestre mos- bilidade de ser feito a qualquer tra que o médico é útil aos doen- momento do dia, conserva-se tes, a graça aos pecadores e a luz como uma forma diária de vigília. àqueles que vivem entre as trevas.
O rito apresenta sempre um hino
Como símbolo de nossa fraqueza humana e da necessidade da busca
da
força
Cristo,
mais apto à celebração noturna da vigília de grande utilidade pa-
de
somos
convidados à oração
noturna,
não para, como as gãs,
religiões festejar
paa
noite e seus mistérios, mas para buscarmos a claridade em meio à Dezembro 2011 / In Guardia 58
Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira ra as comunidades, mormente as monásticas, que conservam o costume de sua celebração durante a noite ou às primeiras horas o dia, antes do nascer do sol. E não apenas isso, os apêndices trazem ainda um conjunto de cânticos a serem usados nas vigílias de celebração mais longa. Há ainda a possibilidade da leitura evangélica em ocasiões especiais, como domingos e solenidades, com trechos do evangelho diferentes do da Missa. O Ofício das Leituras é, sem dúvida a mais ordinária e presente celebração em formato de vigília que temos no rito romano. Essa celebração nos lembra a cada dia que devemos vigiar sem cessar, nossa senhora, segundo as rubripois o dia do senhor chegará não cas. sabemos o dia nem a hora. Essa missa tem de diferente em Missas Rorate relação às outras, a ausência de iluminação abundante e o uso de No tempo do advento, grande velas para iluminar toda a igreja. escatológico. Um tipo particular O símbolo da luz, grande símbode celebração pode ser encontra- lo das vigílias, está maciçamente do são as missas “Rorate”. Seu presente nessas celebrações que nome deriva do introito da missa são uma antecipação da grande “Rorate coeli...”. Essas celebra- vigília natalina, vigília esta mais ções na forma extraordinária plena de luz, que está por vir no consistem da memória facultati- tempo certo. va de nossa senhora no sábado. Na forma ordinária, podem-se Vigília de Natal usar os textos de missa votiva de
A solenidade do Natal foi, desde muito cedo, munida de uma missa de vigília. Esse uso, advindo da narração bíblica de que Nosso Senhor nasceu durante a noite. Mais uma vez, escolhendo a noite para manifestar a luz. A solenidade do natal de nosso senhor possui o formulário mais rico que qualquer outra celebração, até mesmo que a páscoa. Embora a páscoa possua uma grande vigília, consta apenas de três formulários: A vigília pascal e a missa do dia, esta última com uma pequena variância no evan-
Dezembro 2011 / In Guardia 59
Lo studente della liturgia com Kairo Rosa Neves de Oliveira gelho para a missa da aurora. A missa do natal apresenta quatro formulários distintos: missa da vigília, missa da noite, missa da aurora e missa do dia.
Na forma extraordinária a bênção da água se faz nesse primeiro momento, ainda dentro da liturgia da palavra, na ordinária, após a homilia. Em ambos os casos a água é abençoada merguA grande missa de natal que aqui lhando-se nela o círio pascal. tratamos, conhecida como “Missa do Galo” é a segunda. A vigília possui ainda outros imPodemos dizer que essa seja a portantes símbolos: o canto do segunda vigília mais importante Glória, a volta dos enfeites, desdo ano, perdendo apenas para a coberta dos santos, a volta da Vigília Pascal. A missa de natal, água benta à pias, etc. assim como sua irmã mais importante, possui um rito de ex- Vigília de Pentecostes tensão. Esse rito é naturalmente retirado do ofício das leituras. Dentre as solenidades que possuAcrescenta-se, segundo as rubri- em vigília, é notável a de Pentecas, os salmos e leituras no iní- costes. Embora, a vinda do Espício da celebração. Pode-se ajun- rito Santo, sustenta a tradição, tar ainda a este rito a leitura das veio sobre os Apóstolos e Nossa Senhora na hora nona; desde Kalendas de natal. muito cedo, a igreja se reuniu No Vaticano esses salmos e lei- para vigiar e pedir a Deus a vinturas são feitos não dentro do da do Espírito Santo. rito da missa, mas antes dela, como forma de preparação e O que geralmente não se conhetambém para evitar estender ce é que o rito romano prevê a muito o tempo do papa na cele- possibilidade de uma vigília esbração, dado que no outro dia há tendida para Pentecostes, à semelhança da Vigília Pascal e da a bênção Urbi et Orbi. Vigília Natalina. O rito, que se encontra no apêndice do Missal Vigília Pascal Romano, à página 997. Após o É, de longe, a mais conhecida e início da missa o missal propõe mais importante vigília do Rito uma monição inicial que introRomano. Do uso da igreja pri- duz uma liturgia da palavra ammitiva de se vigiar, herdamos o pliada. uso das velas na liturgia. Não é por acaso que o principal símbo- As leituras seguem uma ordem lo da Mãe de todas as vigílias é, semelhante à da vigília pascal, ainda hoje, um grande círio mar- isto é, leitura, salmo e oração. As cado com as marcas do Cristo e leitura são as apresentadas como opções. As orações ditas pelo aceso com fogo abençoado. celebrante tem conclusões breAs bênçãos do círio e do fogo ves: “per christum dominum são o rito inicial da Vigília Pas- nostrum”. Esse ciclo se repete, cal. Esse é o símbolo máximo e entretanto, apenas 4 vezes; 3 a constante em toda a vigília e menos que as 7 leituras do antimesmo em todo o tempo. O círio go testamento lidas na vigília é o símbolo do Cristo que em pascal. Então tem-se o Glorimeio às trevas se faz luz. a, terminando Essa celebração possui na se- com a oração quencia o belo canto do Exultet, do dia. proclamação da Páscoa. Esse canto tem relação direta com a Por fim, diz-se simbologia da luz, sendo canta- a oração do do enquanto se acendiam as lâm- novo testamenpadas da Igreja. A seguir tem-se, to e segue-se à à semelhança do Ofício das Lei- leitura do eturas, uma longa sequencia de vangelho, preleituras e salmos. Não é atoa que cedido pelo quem participa da vigília pascal Aleluia, como omite o ofício das leituras, uma de costume. vez que essa celebração é a ora- Permite-se ainda dizer ao fição noturna por excelência. nal dizer a des-
pedida e sua resposta seguidos por “aleluia, aleluia” como na oitava da páscoa. Conclusão Como vimos, o rito romano preza muito pelas celebrações noturnas, possuindo diferentes ritos para fazê-lo. Temos na liturgia das horas, ofício das leituras, que se faz diariamente e possui formas mais ricas para celebrações especiais. As principais celebrações também possuem missas de vigílias, algumas delas também com rito ampliado. A primeira delas a vigília pascal, com um rito de 7 leituras do antigo testamento, intercaladas com salmos e orações. Seguindo o mesmo esquema temos a Vigília de Pentecostes, que possui apenas 4 leituras. A vigília de natal estendida tem uma estrutura um pouco diferente, consta da união do ofício das leituras à missa da noite. Todas essas celebrações de grande diversidade em formas e ritos, incluindo celebrações da santa missa e liturgia das horas, são uma riqueza inestimável do rito romano, fundamentado na tradição apostólica da oração noturna e do simbolismo da luz que se faz presente nas trevas para dissipá-las. Devem, todas elas ser preservadas a fim de que possam estar presentes nas paróquias, auxiliando as almas que vivem num mundo de trevas a buscar a luz que vem do alto.
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Milagres com Lizandra Danielle
A Santa Casa de Loreto No século III, quando a imperatriz Santa Helena foi até Nazaré (Galiléia), mandou construir uma igreja onde se encontrava a casa que Maria Santíssima viveu com seus pais Santa Ana e São Joaquim, onde disse SIM à Deus com a notícia do Arcanjo Gabriel que seria a mãe do Verbo encarnado: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo;” Lucas 1, 26),
via e atualmente na Croácia, por sinal era muito diferente para sua região chamando assim muita atenção dos moradores que não sabiam como ela poderia ter parado ali, no interior da casa tinha um altar e ao lado uma imagem de Maria segurando no colo o E também onde Maria e José Menino Jesus. moraram com Jesus quando voltaram do Egito. Tersats ficava aproximadamente 2.000 km de Nazaré onde a casa Com a invasão e a conquista se encontrava dois dias antes. mulçumana no reino franco da Terra Santa (Jerusalém) muitas Com o alvoroço o governo local igrejas cristãs católicas e monu- pediu ao bispo Alexandre de mentos religiosos foram destruí- Modruzia para que verificasse se dos. Em 1291, dia 8 de maio, a realmente aquela era a casa da casa da Sagrada Família também Sagrada Família. O bispo estava foi demolida pelos mulçumanos. enfermo e de cama a três anos. Ele pediu a intercessão de Maria Passado dois dias, dia 10 de mai- para que ela o curasse da enfero, foi encontrada uma casa total- midade se essa fosse realmente a mente sem alicerces em um ter- casa onde o Verbo tinha se Enreno desigual, e com as mesmas carnado, segundo a tradição, foi características da Santa Casa de a própria Maria que havia apareNazaré, em Tersats próximo ao cido a ele dizendo ser aquela a mar Adriático na antiga lugoslá-
casa onde viveu quase toda a vida e como prova iria curá-lo. No dia seguinte o bispo estava curado e foi até o local onde a suposta casa teria pousado. Tempos depois foi reunida uma comissão de homens, para ir até Nazaré onde a Casa da Sagrada Família deveria se encontrar, para verificar se a casa realmente teria desaparecido do local. Não foi encontrado nenhum vestígio de escombro da casa. No lugar onde foi demolida havia somente os alicerces da casa que coincidiam com os da casa que estavam em Tersats. A partir daí foi afirmado que realmente aquela era a casa de Nazaré que milagrosamente foi transportada pelos ares por anjos, até Tersats. No dia 10 de dezembro de 1294 três anos depois da transportação da santa casa para Tersats, de repente a casa começou a flutuar Dezembro 2011 / In Guardia 61
Milagres com Lizandra Danielle e ficou toda iluminada como se estivesse enfeitada com luzinhas brancas e douradas, foi um espetáculo no céu ao mesmo tempo assustador para quem via aquele acontecimento sobrenatural. A casa desapareceu novamente e foi encontrada em Recanati uma cidadezinha Italiana, próximo a um bosque de loureiros, vindo daí o nome de Casa de Loreto e Nossa Senhora de Loreto. Várias testemunhas tanto do primeiro quanto do segundo lugar (Tersats- Recanat) deram depoimentos espantados por terem
visto uma casa muito iluminada voando pelo céu com a ajuda dos anjos do Senhor. Os aviadores se identificaram com o fato de que a casa voou pelos ares, uma missão cumpridas pelos anjos, assim adotaram Nossa Senhora de Loreto como
sua padroeira, pois sua casa de algum modo e em algum momento se fez voadora, como um lindo avião ilumidado. Esses acontecimentos foram ficando cada vez mais famosos e atraindo mais romeiros e curiosos, a Casa de Loreto é conhecida mundialmente e recebe milhares de visitantes por ano. Muitos santos já passaram por lá, como Santa Terezinha do Menino Jesus, o Beato João Paulo II, Santa Helena, São Luiz IX (rei da França), etc.
Curiosidades
Estudos arqueológicos feitos pelo arquiteto Nanni Monelli, confirmaram a veracidade desse milagre, pelo fato de que as pedras do altar da santa casa, possuem a A casa foi se transformando em mesma origem das que são enuma linda igreja, começada pelo contradas na gruta da AnunciaPapa Paulo II e cada sucessor fez ção em Nazaré. uma parte. O Papa Leão X colocou mármore branco para desta- Depois de séculos, a casa ainda car os relevos contornando assim permanece em pé sem nenhum as paredes da casa, o Papa Sixto apoio ou alicerce, podendo até V pediu que gravasse uma ins- mesmo passar uma barra de ferro crição feita á ouro: “Casa da por baixo da casa de um lado paMãe de Deus. Onde o Verbo se ra o outro. fez carne.” Grandes transformações foram sendo feitas até che- As pedras que formam toda a gar nessa magnífica construção, casa, são encontradas em Nazaré uma igreja que possui forma de e não na Itália, utilizadas comucruz latina. A casa tem 8,9 me- mente nas construções da Galitros de comprimento por 3,8 me- léia. tros de largura. Não possui nenhum alicerce e se encontra so- As dimensões da casa são idêntibre um terreno desigual, fazendo cas com as fundações que ficacom que um dos lados da casa ram em Nazaré. não toque o chão. As paredes são feitas de pedras avermelhadas Vários estudos provam que os com algumas rajadas amarela- tijolos com que a casa foi construída, foram mesmo fabricados das. na Palestina à mais de 2000 anos.
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Chesterton no Brasil com Diego Guilherme
Chesterton, eterno amigo do homem Nosso amigo Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) sempre surpreendeu seus adversários pela suas respostas paradoxais entrelaçadas de genial senso comum. Sua visão da realidade era aguçada a tal ponto que a comparação com Tomás de Aquino (1225, 1274) não poderia ficar apenas no porte físico. Chesterton tinha a alegria angelical de saber que se Deus criou todas as coisas, Ele, portanto, mandaria e controlaria tudo. Não o preocupava as teorias evolucionistas efervescentes em sua época, e que ainda hoje é dogma nas escolas. Sua descrença em relação ao evolucionismo se dava pelo simples fato dele saber que "se a evolução simplesmente significa que algo positivo chamado macaco transformou-se lentamente em algo positivo chamado de homem, então ela é inofensiva para o mais ortodoxo; pois um Deus pessoal poderia muito bem criar coisas de modo lento ou rápido, especi-
almente se, como no caso do Deus cristão, ele estivesse situado fora do tempo."1 A fé estava indissociável da vida dele. Como de fato está em todos nós. Temos ou não temos fé. Mas sua ausência faz toda a diferença. A ausência de fé é uma característica marcante do homem moderno. Entorpecido e doutrinado pelo ceticismo, materialismo e hedonismo. Desde criança os homens têm perdido o sentido de suas vidas. O relativismo, característica que marca tanto o tempo de Chesterton quanto o nosso, tem escravizado os pensamentos impossibilitando-os de navegarem por mares que, apesar de tempestuosos, possuem um - somente um - porto seguro que é visível ao longe por sua Cruz e pelo estandarte de Nossa Senhora eternamente fixados que servem como farol aos navegantes. Chesterton sempre retornava à analogia do navegante que no afã de descobrir novas terras voltava ao mesmo território. No desejo de descobrir novos e refres-
cantes ares retornava ao mesmo lar. Ou, ao caso do homem que cansado de sua casa, vida e família, decide procurar um local melhor para viver e, ao dar a volta ao mundo, descobre o seu antigo lar. “Todo lugar na terra é o começo ou o fim, segundo o coração do homem.”2 Chesterton utilizava dessas analogias para nos demonstrar que somos muitas vezes esses homens que saem em busca do lar quando muitas vezes estamos nele e nem nos damos conta. Essas analogias tão recorrentes nas obras de Chesterton expressam com clareza o percurso espiritual deste ‘grande’ homem. Sua vida foi marcada pelo sincero e apaixonado desejo pela verdade. No bonde (peço a licença para me expressar assim) dos anglocatólicos Chesterton não titubeou ao pedir parada em frente à Igreja Católica. Ele foi pelas trilhas deixadas pelo grande beato Dezembro2011 / In Guardia 63
Chesterton no Brasil com Diego Guilherme Newman que apesar de todas as críticas e perseguições largou tudo, inclusive um futuro (garantido) promissor no Anglicanismo. Que mistério é este que orienta a vida dos grandes homens? Se analisarmos bem, veremos que o desejo sincero pela Verdade e a Humildade são como a Porta e Fechadura para um novo lar. “Chesterton é um verdadeiro homo religiosus. Suponho que inumeráveis de seus leitores não se importem com religião. Sei que a qualidade “literária” de suas obras não se mudou depois de sua conversão ao catolicismo. Que desde então o olhar que ele deita ao mundo se tornou ainda mais profundo, mais alegre e mais seguro, que o seu coração e seu espírito foram ungidos e acesos pelo mistério da graça que sacramentalmente penetrou em sua vida. Eis aí uma coisa que só o cristão “interior” percebe, e que percebem, sobretudo aqueles que pessoalmente são atingidos pelo fluido sobrenatural de renascimento, irradiado pelo Chesterton católico.”3
1
CH ESTERT O N , G . Ortodoxia. K. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 58-59 2
C o n to Homesick at do lihome, vro The Colour e d Lands, Londres, 1938. Tradução de F ra n c i sc o Barbosa de Rezende. 3
PFLEGER, Karl. Chesterton o aventureiro da Ortodoxia. Tradução de O. Durieux, O.F.M.. Rio de Janeiro: Stella editora, 1943. p. 25
4
Ibdem, (43)
5
Foi publicado pela primeira vez em português pela editora Ecclesiae. Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo e MárOs escritos de Chesterton são cia Xavier de Brito. para nós hoje um remédio. São 6 Confira a matéria ‘Iniciativa como um fôlego de racionalidabrasileira recorda os 75 anos do de e bom senso que podemos falecimento de Gibert Keith nos servir para curar e proteger Chesterton’, publicado no site nossa razão dos tantos absurdos ChestertonBrasil.org que vemos. “Nos seus livros pululam todas as coisas do mundo, 7 Leia o artigo ‘O Centenário da mas em dança harmônica, no eobra A Inocência do Padre’, auquilíbrio divino reconquistado, toria de Diego Guilherme da Silque só é possível em torno do va, publicado no site Chesterton4 centro místico da vida”.“ Brasil.org Neste ano se encerram excelentes novidades que apareceram para os admiradores das obras de Chesterton. Pela primeira vez foi publicada a tradução de Hereges5; relembramos os 75 anos de falecimento de Chesterton6 e o centenário da obra Sabedoria do Padre Brown7, publicado em 1911. Comemoramos também o primeiro aniversário do site Chesterton Brasil8. São fatos que demonstram claramente que Chesterton é e será um eterno amigo daqueles que desejam a Verdade. NOTAS
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que foi o fundamento de seu incessante trabalho, aquela esperança que nascia de sua perene gratidão pelo dom da vida humana, aquela caridade para com todos os homens, particularmente em relação aos seus adversários; faz com que sua inocência e seu riso, sua constância em combater pela fé cristã em um mundo descrente, sua devoção de toda a vida pela Santíssima Virgem Maria e seu amor por todos os homens, especialmente pelos pobres, concedam alegria a aqueles que se encontram sem esperança, convicção e ardor aos crentes tíbios e o conhecimento de Deus àqueles que não tem fé.
Site brasileiro dedicado a promover a divulgação da vida e obra de Gilbert Keith Chesterton. O site foi inaugurado em dezembro do 2010 e completa um ano de existência. Os saldos são muito animadores, a contar pelo número de visitas de aproximadamente 40 mil neste 1º aTe rogamos que nos outorgue os no. favores que te pedimos por sua Oração pela beatificação de intercessão, (e especialmente por....), de maneira que sua sanChesterton em português tidade possa ser reconhecida Deus Nosso Pai, por todos e a Igreja possa proclamá-lo Beato. Tu que enchestes a vida de teu Servo Gilbert Keith Chesterton Tudo isto te pedimos por Cristo com aquele sentido de assombro Nosso Senhor. e alegria, e lhe destes aquela fé Amém. Dezembro 2011 / In Guardia 64
Dicas e Indicações de Literárias com Igson Mendes da Silva.
O cérebro espiritual Mario Beauregard e Denyse O’Leary É de conhecimento que o homem é um animal racional, isto é, um ser pessoal composto de corpo e alma. O corpo e alma do homem são distintos entre si, mas se unem intimamente para formar um único ser. A alma humana é o princípio vital que comunica ao corpo vida, sensitividade e pensamento. Sabemos, efetivamente, que a simples matéria não vive, nem sente, nem pensa. Nós vivemos, sentimos e pensamos. Logo, devemos ter um princípio que está acima da matéria, a alma. Infelizmente, as correntes materialistas: epicurismo, positivismo, marxismo, niilismo, freudismo, existencialismo, desconstrutivismo francês acabou por contaminar o meio científico, contribuindo para o que se conhece hoje por materialismo cientifico. O materialismo científico afirma só existir matéria em evolução. A mente humana é resultado meramente de inúmeras atividades cerebrais. Segundo essa teoria, tudo que vivenciamos é perfeitamente explicável por causas materiais e o mundo físico é a única realidade possível. Desta forma, a visão sobrenatural em relação ao homem é excluída. Porém, é bom salientar que, não é de competência da ciência emitir pareceres a este respeito, e se isto acontece, é em função da visão materialista aplicada por trás dos conceitos científicos.
de trás do campo de estudo da mente humana - que visa não só excluir a Deus, mas também, as experiências religiosas, espirituais ou místicas. No livro, O cérebro espiritual, do neurocientista Mario Beauregard e da jornalista Denyse O’Leary há a contestação da ciência convencional, além de apresentarem provas que desafiam o pensamento materialista. Baseado em um estudo com freiras carmelitas, Beauregard defende a existência de um estado de consciência mística, no qual seria possível vivenciar aspectos da realidade não acessíveis em outros estados, explica como os neurônios atuam durante esse processo. Os autores analisam os recentes esforços para localizar um “gene de Deus” em alguns de nós – visão que tenta reduzir os fenômenos e as praticas espirituais a meras atividades cerebrais, ou seja, materiais – e mostram como o desenvolvimento do cérebro humano tornou propenso a atestar a verdade religiosa. O livro trata de temas como: a) Existe um programa de Deus? b) Para uma neurociência espiritual. c) Mente e cérebro são idênticos? d)Para uma ciência não materialista da mente. e) Quem vive experiências místicas e o que as provoca. e) Foi Deus quem criou o cérebro ou foi o cérebro que criou Deus? f) Os estudos carmelitas: uma nova direção. e etc...
O que nos impressiona na leitura é a grande complexidade que é o cérebro humano, demonstrando rastros de um ser perfeitíssimo. Afinal de contas, só um Ser absolutamente perfeito, pode criar coisas perfeitas. Nada menos do que a perfeição pode vir de um Ser absolutamente perfeito, e é próprio de um Ser perfeito criar somente coisas perfeitas. Diante da perfeição do cérebro humano, composto de vários mecanismos complexos, funcionamento composto de detalhes incríveis, só nos resta crer em um Designer Criador. Designer este que em hipótese alguma seja o acaso, ou até mesmo, “o nada”; Pois do nada, nada se cria. Excluindo também a própria matéria em evolução, tendo em vista a mesma não ser inteligível. Assim, para os que ainda resistem em reconhecer o Ser perfeito por de trás de tão grande obra, a atitude mais nobre seria rever os próprios conceitos e reconhecer um Deus que a tudo criou!
Será mesmo a mente humana Como explicar os efeitos da viresultado meramente de inúme- vência da fé, a ação da mente A todos que tiverem a oportunisobre a matéria, a intuição as ex- dade de ler a obra indicada, ótiras atividades cerebrais? periências místicas? Ao refutar ma leitura! Como resposta a pergunta, indi- as respostas da ciência tradicioco um ótimo livro escrito por um nal tomada pelo materialismo, O profundo conhecedor da área cérebro espiritual, busca desvenneurocientífica. Nele é desmas- dar as verdadeiras origens de tocarada a visão materialista por dos esses mistérios. Dezembro 2011 / In Guardia 65
O Catecismo com Carlos Ramalhete.
O Catecismo O Catecismo de João Paulo II começa com uma afirmação curiosa: “O Homem é ‘capaz’ de Deus” (aspas no original). A afirmação é curiosa por várias razões: a primeira delas é que ela poderia ser lida, de maneira extremamente heterodoxa, como significando que o homem, sozinho, sem auxílio da graça, poderia se salvar. Evidentemente, não é este o sentido do texto; daí as aspas. Outra coisa curiosa é perceber que esta afirmação inicial não encontra correspondência em catecismos mais antigos, que começam diretamente tratando da em seu lugar, a “sabedoria deste virtude da Fé, dom de Deus. mundo [, que] é loucura diante de Deus” (1 Cor III,19). O que fez com que o Santo Padre houvesse julgado convenien- A “sabedoria deste mundo”, no te começar seu catecismo com Século XX, consiste na negação tal afirmação? Para responder a de Deus, na negação de Sua preesta pergunta, é necessário per- sença ou, ao menos, de Sua ação. ceber as circunstâncias em que Dizem os “sábios deste mundo” foi escrito este catecismo, radicalmente diferentes das circunstâncias dos catecismos anteriores. Como já dissemos no artigo inicial desta série, cada catecismo procura responder às demandas, aos problemas e às questões de um determinado momento histórico da vida da Igreja e de sua relação com o mundo em que seus filhos vivem, exilados. A primeira edição deste catecismo foi lançada em 1992, quando ainda estava tremendamente viva uma percepção, depois condenada repetidamente por João Paulo II e por Bento XVI, de que a Igreja seria hoje “outra coisa”, que o Concílio Vaticano II teria mudado a doutrina, jogando ao lixo a Fé de sempre e abrindo as portas para que fosse pregada,
que se Deus existe, Ele Se mantém afastado do mundo, como alguém que tenha criado um mecanismo de relojoaria e deixado com que ele funcionasse sozinho. Ora, isto é flagrantemente falso: a Graça divina age a cada instante no mundo, hoje como há mil anos, e é o próprio Deus que mantém em existência tudo o que há. Quem se afasta, nesta relação de Deus e do homem, não é Deus, mas o próprio homem, que O nega e finge que Ele não existe. Este afastamento foi facilitado tremendamente pelos desenvolvimentos técnicos da sociedade ocidental, que fizeram com que a sociedade, pela primeira vez na história, pudesse garantir a todos os seus membros condições de subsistência confortável quase sem esforço. Enquanto em qualquer outro momento da história era necessário fiar para ter roupas e plantar para ter comida, na sociedade ocidental de hoje a industrialização da produção de gêneros alimentíDezembro 2011 / In Guardia 66
O Catecismo com Carlos Ramalhete. cios e da tecelagem fez com que roupas e comida se tornassem praticamente gratuitas. Hoje é possível nunca repetir uma roupa e sempre comer até se empanzinar, vivendo apenas de esmolas e vestindo apenas roupas doadas por pessoas caridosas. Do mesmo modo, as casas de hoje, dotadas de luz elétrica, água encanada, sistemas de esgoto e outras maravilhas tecnológicas ausentes até mesmo no passado próximo fazem com que o conforto físico seja considerado por todos algo natural. Os remédios, especialmente os analgésicos, fazem com que as mazelas físicas pareçam ter desaparecido. A própria morte é quase ignorada, sendo os moribundos trancados em hospitais para que morram sem testemunhas. O que temos, portanto, é uma sociedade que procurou, e em grande medida conseguiu, esconder algumas das consequências mais evidentemente desagradáveis do Pecado Original. Foge-se da dor, tem-se pouco trabalho e muitos bens, escondese a morte. Outras consequências, outras desordens, são abraçadas pela sociedade como se fossem bens: é o caso da luxúria, da gula, do orgulho e de todos os outros pecados capitais. Numa tal sociedade, a impressão que se tem é que o homem não necessita de Deus. Para quê recorrer a Deus, se a farmácia entrega em casa 24 horas por dia?
uma porta que nos leva a sair do tempo e do espaço e mergulhar na Eternidade para a qual fomos criados. O início do Catecismo de João Paulo II, que continuaremos a examinar nesta série de artigos, aponta que o espetáculo permanente de luzes e cores, de prazeres e passatempos da nossa sociedade é que é a verdadeira distração, a verdadeira prisão. A liberdade verdadeira, de que somos, sim, capazes pela graça de Deus, não está nos bens externos, não está nas preocupações do mundo, mas na re-ligação (re-ligio) do homem a Deus, que só pode ocorrer plenamente na religião verdadeira, pois Deus é Para quê recorrer a Deus, se a Verdade. quando as preocupações se tornam demasiadas é sempre possí- Os catecismos anteriores, escrivel tomar um calmante e assistir tos em tempos mais civilizados, não precisavam apontar este faa novela? to. Não era necessário lembrar É por isso que o Beato João Pau- que Deus criou o mundo quando lo II viu a necessidade de come- o que se via era a obra magnífica çar seu catecismo com a afirma- da Criação, ao invés de paredes ção de que Deus não está suma- de cimento e pisos de asfalto. mente distante; Deus não se reti- Não era necessário lembrar que rou do mundo. Foi o homem que existe a Providência Divina, construiu um mundo em que quando o normal era plantar para Deus parece ausente e desneces- comer e tecer para vestir. Não sário. O homem, ensina-nos a era necessário lembrar que o hoIgreja, tem inscrito em seu cora- mem é chamado por Deus, que o ção um desejo de Deus. Este de- homem é, sim, “capaz” de Deus. sejo, que a nossa sociedade tenta Deus está aí, e nos chama. A nós desviar para o sexo, o dinheiro, o cabe atender ao Seu chamado. prazer, as drogas, a diversão ou o consumo de bens efêmeros, aponta para o único modo em que o homem pode, realmente, ter vida plena. A vida plena, ao contrário do que quer a sabedoria deste mundo, não é ter um carro novo a cada ano, uma casa num condomínio fechado e centenas de canais de televisão para evitar que se tenha qualquer pensamento ou preocupação. Vida plena é ser o homem que Deus nos criou para ser, ser em Deus, numa “união íntima e vital” com Ele. Dentro de nós, lembra-nos o Catecismo, está uma porta que somos insistentemente chamados a abrir; uma porta que leva muito além de si mesmo, e mais além ainda do mundo criado. Este chamado incessante de Deus, no coração de cada homem, é um chamado à abertura de uma porta para a Graça da Fé, à abertura de Dezembro 2011 / In Guardia 67
Coluna do Jorge Ferraz.
As razões da nossa Fé A Fé é a virtude teologal por cujo meio nós damos a nossa adesão intelectual a tudo aquilo que Deus revelou e a Igreja propõe para crer, e o fazemos por conta da autoridade de Deus que, sendo Perfeitíssimo, não pode enganar-Se e nem nos enganar. Esta é uma definição que consta nos catecismos clássicos e que, aparentemente, o homem moderno conhece pouco e entende menos ainda. Dela decorrem as respostas a muitos dos lugares-comuns errados que infelizmente abundam no nosso século XXI, como por exemplo “religião não se discute”, “Fé é uma coisa subjetiva” ou “eu até que queria acreditar, mas não consigo”. Podemos distinguir aqui três elementos importantes: Fé é “adesão intelectual”; o conteúdo da Fé é “o que Deus revelou e a Igreja propõe”; e damos o nosso assentimento a este patrimônio intelectual “por conta da autoridade de Deus”. Detenhamo-nos com um pouco mais de calma sobre cada um destes aspectos. I - Fé é “adesão intelectual”
O ser humano possui uma alma racional com potências intelectiva e volitiva; ou seja, é capaz de conhecer as coisas e é capaz de querêlas. Para a adesão intelectual da Fé concorrem estas duas potências: o homem se depara com um conhecimento e emite sobre ele um juízo de valor que diz “sim, isto é verdadeiro”. Não se trata de um sentimento que se recebe passivamente (como “frio”, “medo” ou “euforia”) e cuja existência independe por completo das ações que tomemos ou deixemos de tomar. Ao contrário, para a virtude da Fé concorrem por um lado a Verdade do Deus que Se revela e, por outro, o homem que toma contato com esta Verdade e diz “sim, Senhor, eu creio”. Diferentemente da dor ou da empatia, a Fé passa pelo crivo do julgamento humano e compete ao homem decidir-se por ela ou pela descrença. Fé não é sentimento, e sim conhecimento; não é algo que se “sente”, e sim algo que se “sabe”. Ora, disto decorre que a Fé pode ser transmitida por meio do ensino, como Cristo mandou aos Apóstolos «Ide, pois, e ensinai a todas as nações; (...) Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi.» (Mt 28, 19a.20a) - e a Igreja sempre obe-
deceu. E, se é por meio do ensino, tratase de um conteúdo que pode ser racionalmente expresso, avaliado e assimilado. Fé não é uma “imposição” cega de uma coisa “absurda” (a Fé, diz-se, supera a razão humana mas não a contraria), mas ao contrário: é a aceitação racional das respostas às questões últimas que a Igreja apresenta ao homem que A interroga a respeito de si mesmo e do mundo. E o que é racional é, por definição, passível de avaliação intelectual. O que é racional está sujeito às regras da lógica e da razão humana e, portanto, à luz destas a Fé Verdadeira pode ser comparada com as outras crenças, pode ser provada, pode ser indagada e discutida. Se a Fé é um conjunto de verdades, estas estão sujeitas às mesmas exigências racionais de qualquer outro conhecimento: não podem ser contraditórias ou irracionais de nenhuma maneira. Assim a Fé, enquanto modalidade de conhecimento, é passível de ser ensinada, argumentada, discutida, argüida e comparada, até que o homem se convença de sua razoabilidade frente às objeções que porventura se levantem contra ela.
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Coluna do Jorge Ferraz. Disto decorre também, como dizíamos, que Fé não é sentimento. Ora, o sentimento não pode ser “ensinado” e nem ninguém pode propriamente “produzir” sentimento algum em si ou em outrem. Se a Fé pode ser racionalmente transmitida - e já vimos que ela o pode -, então ela é de natureza racional. É possível ir mais além e dizer que Fé é o contrário mesmo de algo que se “sente”. Tomemos, p.ex., a Santíssima Eucaristia: n’Ela está presente Nosso Senhor em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. E isto, convém repetir, não se “sente”; isto se sabe. Os sentidos, ao contrário, enganam, e só são capazes de perceber as aparências do pão e do vinho. É por isto que a Igreja canta: Praestet fides supplementum sensuum defectui. Ou seja, a Fé vem justamente suprir a deficiência dos sentidos. Trata-se de uma iluminação da inteligência que lhe confere um conhecimento que, pelos sentidos, ela não é capaz de obter.
lou aos Apóstolos quando esteve neste mundo e, desde então, a Igreja preserva e transmite. Tratamse de verdades acessíveis a todos os homens e que são iguais para dos séculos sem acréscimos nem todos os que crêem. Só existe a supressões. “minha Fé” enquanto esta exÉ importante notar que há um pressão se refere à Fé da Igreja. nexo inseparável entre aquilo A Fé, naquilo que lhe é próprio, “que Deus revelou” e o que “a exclui todas as opiniões: nela Igreja propõe para crer”. Não não há espaço para “eu acho as- são duas coisas opostas ou messim”, “eu penso diferente”, “é mo complementares: trata-se de questão de ponto de vista”. A uma só e a mesma coisa. Aquilo legítima guardiã da Sã Doutrina que Deus revelou é exatamente o é a Igreja Católica com o Seu que a Sua Igreja, «Coluna e Sustentáculo da Verdade» (1Tm 3, 15), propõe para que seja crido; e aquilo que a Igreja de Cristo propõe à crença dos fiéis é exatamente o que Deus revelou. A infalibilidade da Igreja garante que, no tocante à Revelação, nada será suprimido (e, portanto, tudo o que foi revelado a Igreja propõe para crer) e nem nada será acrescentado (de modo que tudo o que a Igreja propõe para crer foi de fato revelado). Esta garantia é o que nos confere a segurança de sabermos, sem possibilidade de erro, exatamente em quê devemos acreditar. Sem ela, esvaziar-se-ia a Fé de toda a objetividade e estaria reduzida à miséria das limitações intelectuais de cada um de nós.
A Praça de São Pedro pretende ser grandes braços que abraçam todos os católicos em torno da única e verdadeira fé. Unidade: a proposta de Cristo seguida pela Igreja.
III - Nós acreditamos “por conta da autoridade de Deus”
II - Tem-se Fé naquilo “que Magistério: é portanto o Papa em Deus revelou e a Igreja pro- união com os bispos quem tem autoridade para dizer o que faz põe” parte da Fé e o que não faz, bem Também o conteúdo da Fé não é como em que sentido tal ou qual “qualquer coisa”, nem muito me- ponto deve ser entendido. Este é nos uma coisa “pessoal” e um dos fins próprios da Igreja “subjetiva”, uma “experiência de fundada por Nosso Senhor: gavida” nem nada do tipo. A Fé é rantir a correta transmissão da uma Doutrina, cujo conteúdo é Verdade revelada, assegurar-se objetivo e se resume àquilo que de que a Sã Doutrina seja transNosso Senhor Jesus Cristo reve- mitida com integridade ao longo
Um outro aspecto precisa ser considerado porque, sem ele, correríamos o risco de transformar a Fé em algo exageradamente humano, demasiadamente natural, perigosamente horizontal. A Fé, não o podemos jamais esquecer, trata-se de uma resposta do homem a Deus; portanto, a razão de crermos não está no fato de que as verdades apresentadas à nossa inteligência são lógicas, plausíveis ou agradáveis. Dezembro 2011 / In Guardia 69
Coluna do Jorge Ferraz. tempos; portanto, é por meio da Igreja que nós temos contato com a Doutrina legada por Cristo aos Apóstolos, e é a esta Doutrina que nós temos que dar a nossa adesão para que se complete assim o nosso ato de Fé, através do qual nós podemos entrar em contato com o Deus que é nosso Criador e nosso Redentor.
Ora, o que é verdadeiro é sem dúvidas lógico e plausível, e a história da Salvação contada pelo Cristianismo é indubitavelmente agradável; enganar-se-ia, no entanto, quem achasse que basta isso para produzir um verdadeiro ato de Fé. Se tal fosse assim, a Fé seria algo de “automático”: todos os que tivessem conhecimento sobre o catolicismo teriam ipso facto a Fé Verdadeira, e isto não é verdade. A Fé não basta ser conhecida; precisa ser acreditada e, com isso, queremos afirmar a imperiosa necessidade de se dizer “Senhor, eu creio que é assim, porque assim Tu revelaste”. A Fé nos fala de muitas coisas que, embora perfeitamente coerentes, não são objeto de intuição imediata, de raciocínio dedutivo ou de experimentação pelos sentidos: coisas como a Redenção ou os Novíssimos, por exemplo, não são evidentes por si mesmas. Não basta, portanto, conhecê-las: é preciso responder a Deus que se tem tais coisas por verdadeiras porque Ele disse que elas eram assim, em sujeição à autoridade d’Aquele que é a própria Verdade. Assim se completa a resposta do homem a Deus, assim a Fé transcende a simples razão e põe a natureza humana em contato com o Deus Altíssi-
mo: Senhor, tu és a Verdade. Senhor, tu disseste que é assim. Senhor, eu acredito que é assim. IV - Conclusão Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para revelar uma série de coisas aos homens. Ele próprio disse que era «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6) e, sendo Deus, Ele não pode mentir. Estas coisas que Ele ensinou foram confiadas à Igreja Católica para que Ela as ensinasse a todos os homens de todos os
Não estamos sozinhos neste mundo, nem estamos perdidos num mar de opiniões duvidosas ou impressões particulares sem que nos seja possível saber onde está a Verdade. Ela pode ser encontrada no ensinamento público da Igreja fundada por Nosso Senhor, e a sua veracidade pode ser posta à prova pelo testemunho dos cristãos de todos os tempos. E, como sustentáculo deste edifício intelectual, nós podemos encontrar o Deus que é Criador do mundo e que nos revela todas estas coisas; o Deus que nos chama a Si e ao Qual é imperativo darmos uma resposta. Oxalá possamos permanecer cada vez mais firmes nesta Fé que Nosso Senhor nos deixou para que pudesse conduzir-nos a Ele; e oxalá possamos responder-Lhe a cada dia mais convictamente: “Sim, Senhor, Tu és a Verdade, e eu creio em Ti!”.
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Exegetica Expositio com Ian Farias.
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. No domingo último do Tempo Comum, a Igreja convida-nos a celebrarmos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, instituída pelo Papa Pio XI, de venerável memória. Este convite é propício em um período histórico singular, onde mais do que nunca somos chamados a reafirmarmos o primado e a soberania do reinado de Jesus Cristo sobre todos os homens e todas as coisas. Toda a história tem início em Deus, e nEle terá o seu fim, e a vida do homem só tem verdadeiro sentido se estiver subordinada a seu salvífico desígnio. Na hodierna sociedade que tende a endeusar o que é próprio do homem, e até mesmo o homem em si, este reconhecimento da realeza de Nosso Senhor, faz-nos recordar que sem Deus o homem perde o seu sentido existencial, e cai em um
profundo vazio, um nada pelo qual será tomado. Recorda-nos isso o Sumo Pontífice Bento XVI, de feliz reinado, na sua Carta Encíclica Spe Salvi, sobre a esperança cristã (cf. nº 2). Somente há esperança, somente há vida, onde Deus se fizer presente. Por outro lado, onde os homens excluem Deus nada poderá gerar senão morte e destruição. E tudo isso tem como consequência a queda do homem em um abismo do qual não sairá sem que antes reconheça a necessidade de Deus. Nesse sentido é que a oração nos convida a rezarmos para que “todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente” (Oração da Coleta na Solenidade de Cristo Rei). De nossa parte, bons ou maus, somos súditos. Aos que agem corretamente serão chamados a compartilharem com o Senhor de uma eterna alegria.
Na primeira leitura do livro de Ezequiel, vemos a censura que o profeta faz aos crimes dos pastores, reis e chefes leigos do povo. O Senhor, diante de toda aquela situação, ordena que Ezequiel clame contra esses “pastores de si mesmo”, que visam apenas o seu bem estar, a sua comodida-
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Exegetica Expositio com Ian Farias. mo 23: Aquele que guia as ovelhas, que as faz repousar nas verdes pastagens, que as guarda de todos os perigos seja na mesa com os inimigos, seja ainda no trânsito pelo vale da sombra da morte e, enfim, vem a certeza de que quem possui o Senhor, possui a verdadeira felicidade.
de, e desta forma quebram os laços de relacionamento com o próximo e afastam-se dEle por descumprirem uma promessa. Avisa o Senhor que tirará, destes, o pastoreio e apascentará Ele mesmo o Seu rebanho: “Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas” (v. 11). Gostaria de debruçar-me por um momento sobre a figura do pastor. Esta figura está presente, segundo as Escrituras, desde o começo do mundo, quando Abel apresenta ao Senhor o fruto de seu trabalho: as ovelhas; Caim, por sua vez, apresenta os frutos da terra que cultivava (cf. Gn 4, 34). O Senhor olha com maior agrado para a oferta de Abel, o que acaba por gerar uma inveja em Caim, que mata o seu irmão. Essa história reflete uma atitude de hostilidade perpétua entre pastores e camponeses. “O cultivo da terra restringe o direito de livre pastagem de rebanhos, e o pastoreio danifica as terras e colheitas do campo. O camponês pensa que o pastor é um bandido faminto; o pastor pensa que o camponês é um cavador mesquinho” (McKenzie, Jhon L., Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983, p. 697). Também o Senhor é caracterizado como o pastor por excelência, e de várias formas nos é apresentada seu modelo, por assim dizer, de pastoreio. A mais conhecida é a representação israelita, descrita na forma clássica do sal-
No Novo Testamento a figura do pastor reduz-se em relação ao Antigo, porém um dos textos que por nós é conhecido e tão caro é o do Evangelho de São João, capítulo 10. Jesus mesmo apresenta-se como o “Bom Pastor”, que vem indicar o caminho às ovelhas e alertar contra os falsos pastores. Alguns exegetas afirmam que essa passagem não teria sido dita pelo próprio Cristo, mas fora ali acrescentada pela comunidade joanina. É preciso que tenhamos em mente, porém, que ainda que essas palavras não tenham sido ditas pelo próprio Cristo, elas são também pertencentes da Revelação e não menos são Palavra de Deus.
pelo início do Ano Acadêmico, 4 de novembro de 2011). Aos meus irmãos seminaristas peço, com a santa humildade, que meditem na figura do Bom Pastor, capaz de doar-Se sem reservas por suas ovelhas. Devemos dar alegria a Cristo pelo serviço que prestaremos a Ele e a Igreja. Abandonemos a busca pelos prazeres e busquemos a verdadeira felicidade, que tem um nome: Cristo Jesus. Nosso protótipo é Ele, e um padre que nEle não fixa o Seu olhar, não conhece o verdadeiro sentido do sacerdócio. Qual seriam as atitudes do sacerdote, que deveriam condizer com a sua missão? A primeira leitura apresentar-nos-á: “Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascenta-la conforme o direito” (Ez 34, 16). Eis o modelo ideal! Cristo é por excelência este pastor. Duas coisas a indicar e que são essencialmente significativas para uma boa vida presbiteral: O zelo pastoral, firmado pelo cuidado com as ovelhas e a unidade com a Igreja, que poderíamos associar ao Direito.
Os pastores da hodierna sociedade, chamados por Cristo para apascentar o Seu rebanho, precisam configurar-se a Cristo, e tal qual ouvira os pastores da época de Ezequiel, precisam pastorear o povo de Deus, e não buscarem conforto e privilégio. Aliás, cabe aqui recordar a frase do Santo Padre Bento XVI: “Jamais devemos esquecer – como sacerdotes – que a única ascensão legítima em direção ao ministério pastoral não é aquela do sucesso, mas da Cruz” (Celebração das Vésperas com os estudantes da Universidade Pontifícias de Roma, Dezembro 2011 / In Guardia 71
Exegetica Expositio com Ian Farias. Na segunda leitura São Paulo, para falar do Reino de Cristo faz antes uma referência à sua morte e ressurreição. Tal referência leva-nos imediatamente a pensar que Cristo deveria sujeitar-se à morte para manifestar a plenitude de sua realeza. Isso não seria necessário Àquele que é Deus, mas Ele, por vontade do Pai e em comunhão com o Pai, quis sujeitar-se à morte, não para apossar-se da Sua realeza, pois desde sempre a teve e para sempre a terá, senão para manifestála aos homens. Desta forma torna-se compreensível que o reinado de Cristo não é da matéria e do poder, mas da humildade e do serviço, do amor e da misericórdia. E aqueles que acham que a salvação depende apenas disso estão enganados, pois é de convir que haja ricos humildes e que sabem o valor do amor, mas há também pobres orgulhosos e presunçosos. Por isso bem diz São Tiago: “Fides sine operibus mortua est – A fé sem obras é morta” (Tg 2, 26). A profundidade teológica pela qual esta exortação paulina vem amparada é belíssima. A morte não deve ser motivo para desesperarmos, mas ao contrário, se confiarmos na certeza da nossa ressurreição em Cristo ela tornar-se-nos-á motivo de alegria e esperança, a ponto de já agora sermos chamados a configurar nossas vidas a Ele. Assim o Reino de Deus, mais do que realidade escatológica, fala aos homens agora, é, de certa forma, uma realidade já manifesta.
(primitiae, do latim), designa tudo o que precede a alguma coisa. Essas primícias são de certa forma relacionadas à sua primogenitura. Ele é o “primogênito de toda a criação” (Cl 1, 15), que ressuscita para que um dia também nós possamos ressuscitar. Devemos, no entanto, entender que a primogenitura de Cristo não se converge para a mentalidade de que Ele também tenha sido também criado. De fato, não fora Ele criado, mas gerado, e possui a mesma substância do Pai, como comumente professamos no Credo NicenoConstantinopolitano. Daí que sua primogenitura seja conferida pelo Pai, dando-Lhe supremacia entre os homens. O seu Sacrifício é uma oferta agradável a Deus, e Neste encontram-se a Redenção e a salvação.
ção anterior, daí que ao se falar do trono de glória o Rei é Deus, e tenha apenas sido inserida com alguns ajustes por Mateus, inclusive da realeza de Jesus. Em nenhum momento Jesus se identifica como rei e nunca reivindicou para Si esses títulos. Mas diz Ele: “Quando o Filho do Homem vier em sua glória” (Mt 25, 31). Não diz: “Quando Eu vier em minha glória”, mas usa um termo com o qual referia-Se a Si próprio: Filho do Homem (ben Adam, בן .(אדםE este Filho é retratado na parábola como Aquele que ocupa o trono do Rei: Deus.
Esta expressão, apesar de ser misteriosa, é utilizada comumente no judaísmo quando denota um ser humano, uma pessoa. Quando usado no plural (bnei Em segundo vêm a ressurreição Adam, (בני אדםfaz-se referência final, que dar-se-á no advento a humanidade. definitivo de Nosso Senhor, em sua Parusia, pela qual todos pas- O Papa Bento XVI, em seu livro de Nazaré afirma: saremos, e quando Jesus entrega- Jesus “Distinguem-se normalmente rá a “realeza a Deus-Pai”. Interessante essa afirmação paulina, três grupos de palavras sobre o pois entra em sintonia com a Filho do homem. O primeiro passagem evangélica desta Sole- grupo consiste em palavras sobre nidade, que é sobre o Juízo uni- o Filho do homem que vai cheversal. Esta situa-se na conclu- gar, nas quais Jesus não se desão do discurso escatológico em signa a si mesmo como sendo Mateus e ele descreve-a como a este Filho do homem, mas, congloriosa vinda do Senhor, rei- trariamente, distingue-se dele. O messias. Também está em um segundo grupo é formado por intrínseco relacionamento com a palavras sobre a ação terrena do primeira leitura, já meditada. É Filho do homem; o terceiro fala bem provável que também esta dos seus sofrimentos e da sua parábola não tenha sido contada ressurreição” (Ed. Planeta, p. por Jesus, mas venha da Tradi- 274).
“Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda. A seguir, será o fim, quando ele entregar a realeza a Deus-Pai, depois de destruir todo principado e todo poder e força” (1Cor 15, 22-24). A morte vem pelo pecado. O pecado entrou no mundo por meio dos nossos primeiros pais e também foi herdado por nós, quebrando os nossos laços com Deus. Cristo, reconciliador de todas as coisas (cf. Cl 1, 20), é tido como “primícias”. Primícias Dezembro 2011 / In Guardia 73
Exegetica Expositio com Ian Farias. traz o Reino de Deus consigo; Ele é o próprio Reino (autobasiléia). O segundo aspecto, também apresentado por Orígenes, vê o Reino de Deus situado no interior do homem. O homem traz consigo o Reino de Deus. E o terceiro e último ponto é o Reino de Deus eclesiológico, ou seja, o Reino de Deus que é prefigurado já na Igreja. Se por um lado estes são distintos em certos aspectos, por outro são muito ligados.
Vindo então o Filho do homem, acompanhado de todos os anjos e sentado em seu trono glorioso, “todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa a ovelha dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda” (Mt. 25, 32).Todas as nações serão julgadas, fica-se claro isto! E todos receberão a sentença merecida. Aos bons é dado o Reino celestial, aos maus é dado o “fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos” (Mt 25, 41). Sobre esta vinda, afirma o Padre Julien Thiriet: “Eles verão o Filho do Homem vindo com grande poder e majestade. Ou seja, com força invencível, para confundir e castigar Seus inimigos, mas também com uma glória resplandecente, uma majestade divina, para recompensar e coroar Seus eleitos. Assim, depois de ter aparecido sob uma forma humilde e desprezível na Sua primeira vinda, aparecerá na última vinda como poderoso Rei e soberano Senhor do Céu e da terra. Todos os homens verão em Seu Corpo as gloriosas cicatrizes de Suas chagas, e os pecadores, conforme disse o profeta Zacarias, reconhecerão Aquele que transpassaram” (Explication des Evangelis du dimanche. Hong Kong: Société des Missions Étrangères, 1920, p.2).
As novas mentalidades teológicas que estão em desacordo com a Doutrina da Igreja, afirmam que o Reino de Deus é uma utopia e que ele deve ter uma consumação agora, visível. Ora, os que assim pensam esvaziam e deturpa o verdadeiro sentido deste Reino. O Reino de Deus não é instrumento de revolução social e não pode ser pensando assim.
Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo... ’” (Mt 25, 34). A seguir Jesus enumera as obras de misericórdia corporais pelas quais foram salvos. O con- Em contrapartida o Rei dirá aos vite é feito apenas aos da direita da esquerda: “Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos” (Mt 25, 41). Terrível hora, caríssimos! Queira Deus que dela sejamos opositores! Não deixemos os pequeninos de Nosso Senhor à margem do nosso trabalho cristão. Não nos hesitemos das práticas de misericórdia corporais. Lembremo-nos da frase insistente e salutar de Jesus: “Todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes” (v. 45).
No entanto, cabe-nos aqui a pergunta: Que Reino é este preparado aos eleitos?
para participarem com Cristo das eternas alegrias, não a todos, pois muitos preferiram se ausentar de sua missão. Também a nós o Senhor dirige-se: Vinde! E nós, iremos? Se também tivermos praticado as obras de misericórdia e tivermos humildade para reconhecermos o quão indigno somos não seremos menos dignos de entrar com Ele para as eternas alegrias.
No entanto, cabe-nos aqui a pergunta: Que Reino é este preparado aos eleitos? Existem três dimensões desta contemplação do Reino. Em primeiro lugar vemos “O Rei dirá aos da direita: a dimensão cristológica, caracte‘Vinde, benditos de meu Pai! rizada por Orígenes. Jesus Cristo Dezembro 2011 / In Guardia 74
Coluna do Prof. Ivanaldo
O Estado laico e a discriminação religiosa Nos últimos tempos tem se falado muito em Estado laico. É como se o Estado tivesse se transformado em laico a poucos meses ou a apenas alguns anos atrás. No entanto, a laicidade do Estado vem sendo construída desde a Idade Média. Oficialmente ela consiste no fato do Estado não ter uma religião oficial. Com isso, o Estado deve ser acessível a todos os indivíduos e a todas as confissões religiosas. É preciso deixar claro que Estado laico não significa, em hipótese alguma, Estado ateu, antirreligioso e perseguidor da liberdade de culto e da expressão religiosa. O Estado laico não tem uma religião oficial, mas ele deve, em tese, respeitar todas as religiões. O problema é que atualmente a expressão “Estado laico” está sendo interpretada de forma diferente. Está sendo amplamente divulgado que o Estado laico representa a completa separação entre os direitos do cidadão – o exercício da cidadania – e a prática religiosa. Essa divulgação é feita, por exemplo, na mídia, na universidade e até
mesmo dentro do judiciário. Nada mais preconceituoso do que afirmar que o Estado laico representa a completa separação entre os direitos do cidadão e a prática religiosa. Imaginem a seguinte situação. O Estado chega para uma pessoa e pergunta: você tem alguma religião? Se a pessoa dizer “Sim”, então ela não terá qualquer direito como cidadã. Com isso, o direito a cidadania está reservado a uma minoria de aproximadamente 3% da população que não seguem uma religião ou não acreditam em Deus. Uma minoria que oficialmente é ateia ou agnóstica.
sa, é rotulado de conservador e fundamentalista. Atualmente uma elite que se alto proclama de esclarecida e revolucionária, está querendo que a grande maioria da população seja sistematicamente retirada do exercício da cidadania. Tudo porque a população crer em Deus e prática alguma religião. Trata-se da tirania de uma elite de ateus e antirreliEssa história de que o Esta- giosos. do laico representa a completa separação entre os direitos do Infelizmente a atual sociecidadão e a prática religiosa não dade não está dando um passo passa de uma rumo ao aprimoramento da deforma de dis- mocracia e da cidadania. Pelo criminar a contrário, estamos voltando à grande maio- época da revolução francesa, no ria da popula- século XVIII, onde os jacobinos ção que crer desejavam, a qualquer custo, em em Deus e nome da razão, destruir toda e não está satis- qualquer manifestação religiosa. feita com os Os jacobinos eram radicais que rumos que a acreditavam que a razão era a elite política única a guiar o homem. Por cauestá dando a sa disso não haveria a fé ou qualsociedade. quer outro valor religioso. Eles Trata-se da perseguiram duramente a religigrande maio- ão, especialmente os cristãos, e ria do povo estabeleceram um regime de oque, de forma pressão e autoritarismo. preconceituoDezembro 2011 / In Guardia 75
Coluna do Prof. Ivanaldo O problema é que os velhos jacobinos estão de volta. Eles voltaram disfarçados de nova esquerda, de esquerda cultural, de esquerda light e outros adjetivos. No entanto, ninguém deve se enganar com a nova esquerda, a esquerda light. Ela tem os mesmos ideais e os mesmos preconceitos dos jacobinos. Para a nova esquerda a grande maioria da população, que crer em Deus e tem alguma prática religiosa, não passa de uma massa de alienados e conservadores, uma massa de incultos que não são guiados unicamente pela razão. O que fazer com a grande maioria da população que tem vida religiosa? Para a nova esquerda, assim como para os jacobinos, a resposta é simples: negar qualquer direito de cidadania. Para a nova esquerda a cidadania é para quem rejeitou qualquer vinculação religiosa. O Estado que a nova esquerda quer construir, assim como o Estado construído pelos jacobinos durante a revolução francesa, é essencialmente antirreligioso. É por causa disso que atualmente anda-se espalhando, em diversos ambientes sociais, esse mito de que o Estado laico representa a
O Estado que a nova esquerda quer construir, assim como o Estado construído pelos jacobinos durante a revolução francesa, é essencialmente antirreligioso. É por causa disso que atualmente anda-se espalhando, em diversos ambientes sociais, esse mito de que o Estado laico representa a completa separação entre os direitos do cidadão e a prática religiosa. completa separação entre os direitos do cidadão e a prática religiosa. Se isso realmente acontecer estaremos revivendo a época do terror que os jacobinos estabeleceram na França no século XVIII, onde, por exemplo, realizar uma demonstração pública de fé (orar, ler Bíblia ir a igreja, etc) era proibido.
dentro de suas políticas a ações. Ao invés de ficar rotulando a grande maioria da população de “conservadora” e “fundamentalista”, a nova esquerda deveria ver que essa população tem o direito de crer em Deus e ter uma vivência religiosa. Esse direito tem que ser respeitado. Numa sociedade verdadeiramente democrática não se Ao invés da nova esquerda elimina direitos, mas se convive tentar recriar os velhos precon- com o diferente. ceitos dos jacobinos, ela deveria lutar para que o Estado laico O Estado laico, em hipótepossa incorporar as religiões se alguma, é uma negação dos direitos sociais dos crestes, mas, pelo contrário, representa a real possibilidade de participação social e política dos fiéis. É por causa disso que, dentro do Estado laico, os fiéis podem ir para as ruas e protestarem contra o aborto, a eutanásia e outras práticas contrárias a dignidade da vida humana. Também é por causa disso que os fiéis podem votar e, com isso, eleger políticos que tenham profundas convicções religiosas. O Estado laico é para ser uma porta para a participação social dos fiéis e não o contrário, ou seja, uma forma de eliminar, de proibir a participação dos fiéis.
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Blogs, Sites e páginas on line.
Indicações e Dicas Blogs e Sites http://www.reinodemaria.com/
www.paraclitus.com.br
www.salvemaliturgia.com
http://blogdoemanueljr.blogspot.com http://www.reinodavirgem.com.br/
http://www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio
http://www.movimentoliturgico.com.br
http://sociedadecatolica.com.br
http://www.zelusdomustuae.com
http://www.vatican.va/phome_po.htm
http://www.chestertonbrasil.org
http://www.inguardia.blogspot.com
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