Sumário
Ano II, nº 07, Agosto de 2012 Revista Bimestral Edição: Emanuel de Oliveira Costa Jr. Diagramação Renan da Silva Cunha Revisão Silvia Elizabeth Design e Logos: Ellen Jordana Portilho Mendes Colaboradores Colunistas dessa Edição: Ana Maria Bueno Cunha Bruno de Castro Carlos Ramalhete Evelyn Mayer D. Fernando Arêas Rifan Igson Mendes da Silva Ives Gandra Ian Farias José Nivaldo Cordeiro Kairo Neves Lenise Garcia Lizandra Danielle Paulo Cremoneze Pe. Inácio José do Vale Pedro Brasilino Prof Ivanaldo Pe. Mateus Maria Rafael Brodbeck
Sumário - 3 Nossa Equipe - 4 Apresentação - 6 Entrevista com Olavo de Carvalho - 7 O “espanto” e a filosofia A homilia do Papa - 11 A homilia de Pedro - 13 Democracia paraguaia - 15 Ives Gandra Martins Quem pode dizer não - 16 José Nivaldo Cordeiro Avanço do Satanismo - 17 Pe. Inácio do Vale Legítima defesa: direito natural da pessoa - 20 Bruno Dornelles de Castro São João Batista Maria Vianney - 21 Ana Maria Bueno Cunha Assunção de Maria: Prefiguração da estadia humana com Deus - 24 Ian Farias O censo do IBGE e a Igreja Católica - 26 Ivanaldo dos Santos Top 10 In Guardia - 28 O Catecismo: Conhecimento de Deus na filosofia e na revelação - 29 Carlos Ramalhate A Santa Sé na Rio+20 - 31 Lenise Garcia
revistainguardia@gmail.com
Contato:
A falácia do “ambientalismo” e o fiasco da Rio+20 - 32 Paulo Cremoneze
Sessão Carta do Leitor
As celebrações litúrgicas na ausência do presbítero - 33 Kairo Neves
Opiniões, sugestões ou comentários podem ser encaminhados para www.inguardia.blogspot. com ou para o e-mail: revistainguardia@gmail. com. Os artigos aqui publicados podem ser reproduzidos desde que citada a fonte.
Página no Facebook https://www.facebook.com/InGuardia Os artigos dessa revista poderão ser reproduzidos desde que se indicada a fonte. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. Essa revista tem o cunho essencialmente católico apostólico romano, não devendo ser entendido sob outro prisma ou filosofia.
O pai e o mundo moderno - 36 Evelyn Mayer de Almeida Nossa Senhora de La Salette - 37 Lizandra Silva Pastorear é dar a vida - 39 Pe. Mateus Maria Igreja, porta voz da palavra de Deus junto ao jovem - 40 Pedro Brasilino Tristeza e Alegria - 41 Dom Fernando Arêas Rifan Pensando alto sobre a oração em línguas - 42 Rafael Brodbeck Igreja: Carisma e Poder - 43 Igson Mendes da Silva
Nossa Equipe Emanuel de Oliveira Costa Jr. - Editor Católico, casado, coordenador do Grupo de Coroinhas e Acólitos da Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia/GO, advogado militante, professor, autor de artigos científicos publicados em revistas impressas e virtuais. Mantém o Blog do Emanuel Jr: www.blogdoemanueljr.blogspot.com Twitter: http://twitter. com/emanuelocjr Facebook: Emanuel Jr.
Rafael Vitola Brodbeck - Colunista Católico, casado, é Delegado de Polícia em Sta Vitória do Palmar, RS, coordena o site “Salvem a Liturgia”. Colunista da “Catequese Litúrgica”, na revista mensal “O Mensageiro de Santo Antônio”, dos Frades Menores Conventuais, membro da Sociedade Internacional Santo Tomás de Aquino (SITA/ Roma), e da Academia Marial de Aparecida. É incorporado ao Regnum Christi (1998). Palestrante de Liturgia e doutrina. rafael@salvemaliturgia.com Twitter: http://twitter. com/rafael_brodbeck Ana Maria Bueno da Cunha - Colunista Casada, católica, Farmacêutica- bioquímica, dona de casa, mãe de dois filhos em - Praia Grande/SP. Católica amante da Igreja, da Santíssima Virgem, do Santo Padre o Papa e sempre sedenta da graça de Deus. Mantém o blog Blog: É Razoável Crer? http://razoavelcrer. blogspot.com/ E-mail: anamariabcunha@hotmail.com
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Kairo Rosa Neves de Oliveira - Colunista Católico, solteiro, estudante universitário, cursa Engenharia Civil na UNESP de Ilha Solteira - SP. Colaborador do site “Salvem a Liturgia”, na coluna de paramentos litúrgicos e dando dicas para solenizar a celebração. Atua no site Movimento Liturgico, responde dúvidas litúrgicas. Mantém, ainda, um blog de imagens litúrgicas, o Zelus. E-mail: kairo@salvemaliturgia.com
Evelyn Mayer de Almeida Colunista Uma filha de Deus, católica, esposa e mãe desejosa em cumprir a doce missão que o Senhor a deu. Professora de Língua Portuguesa, é também dona do blog Fazei o que Ele vos disser e colaboradora do site Rainha dos Apóstolos. Já foi coordenadora da Missão Kerigma Christi. Interessa por Filosofia, Educação, Política e Humanidades. Twitter: @ evelynsmalmeida Facebook: Evelyn Mayer de Almeida Ives Gandra da Silva Martins Colunista. Católico. Dispensa maiores apresentações. Ganhador de diversos prêmios, professor em diversas faculdades. Professor Emérito e honoris causa em várias universidades. Doctor Honoris Causa da Universidade de Craiova – Romênia. Um dos mais conceituados tributaristas brasileiros. Supernumerário da Opus Dei. Colar de mérito judiciário em diversos Tribunais do país, bem como medalhas e comendas de mérito cultural. Pedro Brasilino Peres Netto Colunista Solteiro, Católico, estudante de Biomedicina na Universidade Federal de Goiás - UFG, coordenar da Pastoral da Juventude na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Facebook: Pedro Brasilino. Lenise Garcia - Colunista Católica, graduada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo, mestrada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e doutorada em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é professora adjunta da Universidade de Brasília, no departamento de Biologia Celular. Numerária do Opus Dei. Presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto
Nossa Equipe Pe. Inácio José do Vale - Colunista É sacerdote católico e Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo em Resende/RJ, é especialista em Ciência Social da religião pesquisador de seitas e conferencista, é Professor de Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Volta Redonda/RJ. E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com
Ivanaldo Santos - Colunista. Ivanaldo Santos é filósofo, doutor em estudos da linguagem, professor do Departamento de Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERN. Possui vários livros publicados, entre os quais destacamse: Teologia da Libertação: ensaios e reflexões e Linguagem e epistemologia em Tomás de Aquino. E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br. Pe Mateus Maria Colunista. Sacerdote e Prior do Mosteiro Menino Jesus Visite: http://www.mosteiroreginapacis.org.br/
Paulo Cremoneze - Colunista Advogado (especializado em Direito do Seguro e Direito dos Transportes), Pós-graduado “lato sensu” em Direito. Defendo os valores morais, as tradições sociais e religiosas, a família e a vida humana desde a concepção. Procuro viver conforme as virtudes cardeais e as teologais
Niveldo Cordeiro. Colunista. José Nivaldo Cordeiro é economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP. Cristão, liberal e democrata. Articulista do site Mídia Sem Máscara.
Carlos Ramalhete—Colunista Casado, pai de dois filhos adolescentes, e licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Petrópolis. Trabalha como professor de filosofia e sociologia, além de manter uma coluna no jornal Gazeta do Povo (Curitiba) e o apostolado A Hora de São Jerônimo, o apostolado de apologética católica mais antigo da internet brasileira (www. hsjonline.com). Bruno Dornelles de Castro - Colunista Católico, solteiro, formado em Direito. Dá formações de Doutrina Social da Igreja. Mantém um blog onde escreve sobre política e filosofia (brunodornellesdecastro.blogspot.com). Facebook: Bruno Dornelles de Castro Lizandra Danielle Araújo da Silva - Colunista. Católica, solteira, estudante de Controle Ambiental no Instituto Federal de Goiás. Coroinha há 6 anos na Paróquia do Imaculado Coração de Maria em Goiânia. Twitter: _lizdaniele
Silvia Elizabeth - Revisora Formada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina e aluna de Especialização em Literatura Brasileira pela mesma Universidade. Atualmente trabalha no site Christo Nihil Praeponere como redatora e presta serviços para a Editora Ecclesiae como revisora. Renan da Silva Cunha Diagramador Estudante de Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina. Editor do Blog Porta Fidei.
Igson Mendes da Silva - Colunista Analista de Sistemas do Tribunal de Contas do Amazonas, graduando em Teologia, palestrante sobre doutrina, ética aplicada aos meios de comunicações sociais; Dirige o Apostolado Spiritus Paraclitus que se dedica em promover a fé católica. E-mail: igson.mendes@gmail.com Ian Farias de Carvalho Almeida - Colunista Seminarista do Seminário Papa João Paulo II, Diocese de JequiéBA, cursa Filosofia na Instituto de Teologia de Ilhéus. http://beinbetter.wordpress.com/ ou : http://www. reflexoesfranciscanas.com. br/Twitter: @ianfariasca Skype: ianfarias In Guardia - 05
In Guardia
Edição de aniversário
Apresentação A
Igreja Católica tem muitos e muitos santos. Muitos oficiais, outros desconhecidos. Dentre os muitos que foram reconhecidos – canonizados – alguns de destacam e ganham do povo um reconhecimento especial. Porém, existe um santo que, além de ser amado pelo povo é venerado também por outros santos. Assim é São João Maria Vianney, um homem que quase não conseguiu se ordenar sacerdote por absoluta incompetência nos estudos, não porque não quisesse, mas porque não tinha capacidade intelectual. Um homem que foi ordenado graças a uma “forcinha” de um padre amigo seu e, principalmente graças a uma profunda humildade e sentimento de amor e fidelidade pela Santa Igreja Católica. Esse homem, que por pouco não consegue ser ordenado sacerdote, é hoje o padroeiro de todos os assim ordenados. É exemplo a ser seguido! Tem sua festa no dia quatro de agosto, Dia do Padre e é como sinal de simples agradecimento e devoção que oferecemos a capa dessa edição para São João Maria Vianney. Ele terá ainda um belo artigo na coluna sobre a Vida dos Santos. Sua vida exemplar, milagres e atitudes estarão narrados em nossas páginas. Em direção diametralmente oposta teremos o primeiro de uma série de artigos sobre o livro “Carisma e poder” de In Guardia - 06
Leonardo Boff, ex-frei cuja obra teve o efeito de uma bomba herética dentro de nossa Santa Igreja. Assim como uma bomba seus estilhaços feriram mortalmente alguns, seriamente outros e levemente outra parcela. Indiferentes, poucos ficaram. Assim como uma bomba, continuou a surtir seus efeitos como uma onda, mas, felizmente também vai perdendo, aos poucos, sua força destrutiva. Teremos mais uma série de artigos para ótima leitura: Milagres de Nossa Senhora de La Sallete, mais um artigo da série sobre o Catecismo da Igreja Católica, como devem ser as celebrações na ausência de um sacerdote, os temas das JMJ’s que já tivemos até aqui, legítima defesa, os livros mais vendidos no mês e suas sinopses pela Editora Ecclesiae e tantos outros que já nos acostumamos a acompanhar. Temos ainda, nessa edição de aniversário, já que estamos completando um ano de trabalho, a participação de ilustres convidados: Dom Fernando Rifan e Nivaldo Cordeiro, aos quais agradecemos a presença em nossa edição. Ainda em comemoração ao aniversário da Revista In Guardia, temos a primeira parte da entrevista com o filósofo Olavo de Carvalho, que discorre sobre temas atuais do Brasil e do mundo. Desejo a todos uma boa leitura e um santo mês das vocações.
Entrevista com Olavo de Carvalho
Emanuel Jr. e Fabio Florence
O “espanto” e a filosofia In Guardia: Com a intenção de conhecer mais a pessoa Olavo de Carvalho, seria interessante saber o que levou o Sr. a trilhar o caminho da filosofia e – uma vez que boa parte de sua obra é composta de reflexões sobre temas políticos – como o Sr concebe a ação política do intelectual? Mais ainda, sabendo que na sua reflexão o conhecimento é a experiência mais individual que existe, como o Sr diferencia sua forma de ação política daquela preconizada por setores da esquerda, como o intelectual orgânico de Antonio Gramsci ou o intelectual engajado de Jean Paul Sartre? Olavo de Carvalho: São duas perguntas, primeiro o que me levou à filosofia e segundo como eu concebo a ação política do intelectual especificamente a minha mesma e no que ela se diferencia de outras concepções a respeito. Então, o que me levou à filosofia foi o que sempre levou as pessoas à filosofia que é o que Aristóteles já dizia: “a filosofia começa com o espanto”; é a perplexidade diante de algumas questões que a vida mesma foi me colocando, foi despertando em mim o interesse por uma série de leituras – em primeiro lugar – e depois quando as leituras já não respondiam mais o que eu tinha necessidade de saber, então, naturalmente fui levado a filosofar por minha própria conta. Em nenhum momento me ocorreu a ideia de ser um filósofo no sentido profissional da coisa como se entende hoje, como carreira universitária, quando eu tinha 17 anos eu entrei para o jornalismo e me considerei muito feliz porque o salário que eu ganhava era muito bom e naquela época o jornalismo era meio período – 5 horas de trabalho – então eu disse para mim “eu nunca mais vou sair daqui”, porque eu precisava de tempo para estudar e a profissão me dava exatamente isso; então não tinha porque eu me interessar pela filosofia como carreira acadêmica, então isso quer dizer que eu nunca fui estudar nada em filosofia por algum interesse escolar (cumprir algum programa ou devesse cumprir um currículo), não, eu fui estudar tudo porque era realmente importante para mim, eram perguntas que eu tinha na minha própria vida. Não perguntas de ordem pessoal, não se tratava de autoajuda ou de orientação para a vida, não era isto, mas as perguntas sobre como me posicionar perante as questões que estavam presentes na própria sociedade em torno, particularmente as questões de ordem polí-
Acho que na história espiritual do ocidente aconteceram três coisas no século XX: a primeira foi o milagre de Fátima, a segunda foi São Padre Pio de Pietrelcina e o terceiro são os visionários de Kibeho, Ruanda. Não prestar atenção a esses três acontecimentos é uma cegueira imperdoável tica. A breve experiência que eu tive na militância esquerdista despertou em mim uma série de perplexidades que levei 20 anos para resolver e eu não podia ter feito nada disso sozinho, precisava de muita ajuda e muita informação. Lembro-me que depois que eu abandonei a militância eu passei 20 anos praticamente sem dar palpite nenhum em matéria de política (só estudando, estudando, estudando) e naturalmente aí houve a necessidade de me abrir também para o lado antagônico, quer dizer, eu ainda me considerava um homem de esquerda, ainda que não estivesse mais oficialmente na militância, então fui ler os autores que pareciam estar à direita; isso abriu todo um outro continente e tornou as perguntas mais complexas e mais interessantes. Então foi
assim que eu comecei e entrei nessa história. Quanto à concepção da ação política do intelectual: a figura do intelectual moderno foi inventada por Dante Alighieri. Ele foi o primeiro indivíduo que, na história do ocidente, se aventura a julgar o estado inteiro da sua sociedade e da civilização em que está a partir apenas da sua visão individual das coisas, partindo do princípio de que a alma humana tem um potencial de se ordenar de acordo com a vontade de Deus e, a partir daí, ela pode entender o que está acontecendo em torno e, inclusive, julgar os governos, as instituições etc. Mas julgar é uma coisa e reformá-las é outra. Acho que a consciência individual tem força suficiente para entender o estado de coisas na sociedade até com mais profundidade, mais In Guardia - 07
certeza, mais clareza e mais confiabilidade do que qualquer instituição tem; mas isso não quer dizer que esse indivíduo esteja dotado por isto mesmo da capacidade e do mérito para conquistar o poder e reformar as coisas à sua imagem e semelhança. Você vê que Dante não deixou escapar nada, ele julgou tudo, até papas, ele botou seis papas no inferno; um total desrespeito pelos prestígios de gentes, julgando tudo implacavelmente. Então, acho que ele inventou a figura do intelectual como um juiz da situação, não como um governante, não como um revolucionário e acho que é essa exatamente a função do intelectual e isso só o indivíduo pode fazer, quer dizer, uma assembleia não pode ter a acuidade e a visão organizada e integral que o indivíduo pode ter; você vê que em todos os campos do conhecimento são sempre os indivíduos que descobrem as coisas, sempre os indivíduos que vão na frente, a comunidade depois vai atrás, entendendo pedaços. Sempre dou um exemplo: se você está dando uma aula é possível que um ou dois alunos entendam tudo e o resto da classe não entenda nada, o que não é possível é a classe como tal entender tudo sem que nenhum deles individualmente entenda nada; então, a atividade cognitiva revela o melhor de si somente na escala da consciência individual e, curiosamente, acredito que a atividade intelectual de um indivíduo isolado acaba tendo uma força incomparável pelo simples fato de ser um testemunho individual e não alguém que está falando em nome de alguma coisa. Dante não falava em nome de ninguém, falava em nome dele mesmo, eu também falo em nome de mim mesmo. Se a pessoa me pergunta: “quem é você para dizer isso”, eu respondo “eu sou o sujeito que disse isso”. Pronto, quem mais eu precisaria ser além desse?
In Guardia: Em vários de seus programas de áudio e vídeo, especialmente o True Outspeak que pode ser visto semanalmente no Youtube, o Sr. inicia invocando a proteção de Padre Pio (São Pio de Pietrelcina). Explique-nos qual o motivo e a importância de sua devoção ao Pe. Pio? OdeC: Acho que na história espiritual do ocidente aconteceram três coisas no século XX: a primeira foi o milagre de Fátima, a segunda foi São Padre Pio de Pietrelcina e o terceiro são os visionários de Kibeho, Ruanda. Não prestar atenção a esses três acontecimentos é uma cegueira imperdoável, é puro preconceito. Os fatos de ordem miraculosa são abundantes na história, eles estão aí à disposição de todo mundo que queira conhecê-los e não tem o menor sentido você recusar reconhecer um fato porque você não tem a explicação dele; se você tivesse que ter primeiro a explicação para In Guardia - 08
depois conhecer o fato, nós jamais teríamos conhecido coisíssima nenhuma, essa atitude é incompatível com a própria existência do conhecimento humano, quer dizer, nós buscamos uma explicação porque um fato chegou ao nosso conhecimento; aceitar os fatos é o primeiro item. No caso do Padre Pio de Pietrelcina o número de milagres operados por Jesus Cristo através dele é uma coisa assombrosa, eram vários por dia e, de certo modo, os mais chocantes da história humana, como a história da menina que enxerga sem pupilas: a menina estava cega, mas não apenas cega, ela não tinha pupilas e Padre Pio orou sobre ela e ela enxerga perfeitamente sem pupilas, o que é anatomicamente impossível e, no entanto, está acontecendo. Ao sujeito que recusa isso porque não tem uma explicação científica, eu digo: para ter uma explicação científica você precisa primeiro aceitar o fato, ele aconteceu e, segundo, esses fatos de ordem miraculosa têm uma importância excepcional dentro do cristianismo porque o cristianismo se constitui de milagres e não de uma doutrina; isso é importantíssimo. A vida de Jesus Cristo, se somarmos tudo o que Jesus Cristo disse e que está no Evangelho, não dá quinze páginas, mas o tempo todo ele está fazendo milagres (fazendo o paralítico andar, fazendo o cego enxergar, limpando a pele de leprosos etc..) e quando João Batista, da cadeia, manda alguns emissários perguntar a Jesus Cristo: “é você o Messias que estamos esperando ou devemos esperar por um outro?” (isso está em Mateus 11, 1-6) e Jesus responde: “vão e digam a João o que vocês viram e ouviram: vocês viram os paralíticos andando, viram os cegos enxergando, viram os leprosos aparecerem com a pele limpa”. O que Jesus Cristo fez? Ele deu um critério científico. As pessoas misturam as coisas e acham que a religião é uma questão de fé; eu digo que sim, a fé é um componente da religião, mas não é tudo. Quando Cristo diz ao paralítico “tua fé te salvou”, muito bem, a fé dá um motivo a Jesus para que ele opere o milagre, mas e a eficácia do milagre, é matéria de fé? O paralítico saiu andando ou apenas teve fé de que saiu andando? Então o terreno da discussão não é a fé, mas os fatos e o cristianismo é uma sucessão de fatos. Você achar que tudo isso é apenas ma-
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A breve experiência que eu tive na militância esquerdista despertou em mim uma série de perplexidades que levei 20 anos para resolver e eu não podia ter feito nada disso sozinho
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Olavo de Carvalho e sua esposa, Roxane filho, Pedro e a filha, Leilah
téria de fé é loucura porque o que é matéria de fé na doutrina cristã são cinco ou seis itens, o resto é tudo matéria que pode ser discutida e provada e deve ser discutida e provada. E se você quer fatos ninguém forneceu ao mundo mais fatos no século XX do que São Padre Pio de Pietrelcina, à base de cinco, seis, dez por dia; inclusive Padre Pio era confessor, mas era um confessor sui generis porque as pessoas não precisavam confessar os pecados, ele os confessava (a pessoa chegava para se confessar e ele dizia: “você fez aquilo mais aquilo mais aquilo”). Confessou o próprio pai no leito de morte, o pai tinha morado um tempo nos Estados Unidos e Padre Pio disse “então tem o caso daquela americana com quem você teve um caso” e o pai disse “tive mesmo”. Então, é a vida mais importante e mais bonita do século XX; quem quer que não seja sensível a isso é um idiota completo.
In Guardia: Em seu artigo “A inversão revolucionária em ação” (http://www. olavodecarvalho.org/semana/080721dc. html ), o Sr. fala em delírio de interpretação e a trata como doença psiquiátrica. Olhando para o Ocidente sob o prisma do delírio da interpretação, quais são os principais sintomas desse mal e quais os seus efeitos sobre a alta cultura e sobre a vida cotidiana do homem moderno? Qual seria a forma mais adequada de profilaxia? OdeC: O delírio de interpretação foi uma sintomatologia descoberta no começo do
e, o
século XX, mais ou menos em 1910, pelo psiquiatra francês Dr. Paul Serieux. Ele define o delírio de interpretação dizendo que se distingue das outras patologias mentais por não implicar distúrbios sensoriais, são apenas distúrbios ideacionais, ou seja, o sujeito não está vendo coisas, não vê vacas voando, não vê duendes, não está conversando com sapos, nada disso, ele vê os fatos sensorialmente como são, porém ele os monta num esquema fictício. O delírio de interpretação surge, em primeiro lugar, da perda da noção da estrutura da realidade, uma noção que é comum a todas as épocas e civilizações – não digo que isso seja fácil de verificar, mas é verificável que aquilo que Heráclito dizia que os homens acordados vivem todos no mesmo mundo e quando eles dormem vai cada um para o seu mundo – então é fácil de ver que todas as culturas e civilizações viveram no mesmo mundo, tinham a mesma noção da estrutura da realidade e esta noção se baseava essencialmente na distinção entre o que nós hoje chamaríamos de natural e sobrenatural ou entre o mundo visível e o que está para lá do mundo visível ou o mundo sensorialmente acessível e o que está para além dele. No instante em que você perde essa noção e quer limitar o conhecimento humano só à esfera do que é visível você já está fora da estrutura da realidade e, a partir daí os efeitos, claro que isso começa nas altas esferas da filosofia, da ciência, mas isso acaba tendo efeito nas mentes individuais, elas são educadas nesse
padrão deformado, mutilado, nas suas próprias vidas individuais desenvolvem uma concepção também mutilada do espaço do tempo, de sua própria pessoa, da escala da realidade, quando você abole a noção de infinitude e eternidade e começa a achar que aquele mundinho que você conhece é tudo, já está fora dela, vivendo uma escala falsa e, portanto, o delírio de interpretação se espalha de maneira epidêmica por toda civilização do ocidente, sobretudo, à partir do séc. XIX, pois foi no séc. XIX que as ideias positivistas, materialistas se impuseram no ensino. Antes disso havia essas ideias, mas elas se limitavam aos intelectuais e, a partir do séc. XIX elas se tornam obrigatórias nas escolas, então, como se diz, é a imbecilização programada, na qual todo mundo é obrigado a achar que o mundo, tal como ser construído pelas ciências presentes é “o mundo”. Mas, se você somar tudo que as ciências sabem num determinado momento, você não compõe um mundo. Entre as várias ciências, tem-se a remotíssima pos-
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Ser um escritor é participar da tradição literária, ter incorporado séculos de técnica literária e prosseguir representando, se conseguir inová-la ótimo, mas pelo menos, tem que manter o nível
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sibilidade da intercomunicação entre as ciências, pois, por exemplo, como é que se faria a ligação entre a trigonometria e a fisiologia, as duas falam de realidades que existem num mesmo mundo, mas não há linguagem em comum entre elas. Isso quer dizer que os vários recortes da realidade estudados pelas várias ciências não compõe um mundo, compõe submundos ou pequenos mundos, “o cosmos”, como disse Eric Voegelin. E nós não podemos viver nesses pequenos mundos, nós temos que viver no mundo real, que é um mundo único. Então, “concepção científica do Universo”, que eu saiba não existe nenhuma, pois, se somar tudo o que a ciência sabe, não é possível formar um Universo, no entanto, nós vivemos num Universo cuja unidade é patente a um mundo só e é nesse mundo que nós vivemos, só que o padrão de unidade desse mundo não é objeto de nenhuma ciência e nem pode ser, pois o mundo como unidade é um fato concreto, não é uma teoria e não existe nenhuma ciência que possa estudar nenhum fato concreto porque a ciência só pode estudar, por definição, um recorte abstrativo; e somando vários recortes abstrativos não é possível formar um único fato concreto, portanto, a unidade do mundo é um pressuposto da existência das ciências e não objeto de nenhuma delas. Não existe nenhuma forma de profilaxia, cada um tem que se virar.
In Guardia: Ao longo dos últimos anos, o Sr se envolveu em polêmicas com umasérie de autores de esquerda (Marilena Chauí, Emir Sader, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho etc.) e até mesmo liberais (como na recente polêmica com Rodrigo Constantino). Sabendo que o debate atual – pelo menos como exposto na mídia – se resume a discordâncias epidérmicas e sempre “respeitosas”, explique-nos a importância de sua adoção de um tom mais combativo e qual o efeito que o Sr espera exercer sobre o público? OdeC: Em primeiro lugar, “polêmica” talvez não seria a palavra exata, pois, pelo gênero literário a que pertence esses intercâmbios verbais são polêmicas, mas pela sua substância não são, porque a polêmica subentende, no mínimo, uma unidade de objeto, quer dizer, você tem um determinado objeto, uma pessoa tem uma determinada teoria sobre ele, outra tem uma teoria contrária e eles se confrontam. Eu nunca tive uma discussão deste tipo com nenhuma dessas pessoas, nem Marilena Chauí nem Emir Sader nem Leandro Konder nem Carlos Nelson Constantino. Tudo o que eu fiz foi denunciar empulhações, isso é completamente diferente; pode-se dizer que eu tive agora uma polêmica com o Julio Lemos e Joel Pinheiro, pois houve um conjunto de
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fatos de ordem histórico-filosóficas, eles interpretam de um jeito e eu interpreto do jeito contrário, aí sim eu estou tentando provar que as ideias deles estão erradas, mas, eu nunca vi a D. Marilena Chauí, o Sr. Emir Sader, o Sr. Leandro Konder tendo ideia nenhuma, mas apenas empulhação, Rodrigo Constantino também não tem ideia nenhuma. Portanto, o que eu estou fazendo é um serviço de saneamento básico, então, eu acho que remover os empulhadores da vida intelectual é obrigação estrita de quem tem a capacidade para fazê-lo. A presença de certas pessoas, como, por exemplo, Carlos Nelson Constantino, que é um sujeito que até tem algum trabalho respeitável e a própria Marilena Chauí, que é uma das pessoas que já fez algum trabalho que vale ou que justifica a sua presença ali, mas o Sr. Emir Sader e o Sr. Rodrigo Constantino, eles não podem estar presentes na vida intelectual do país, eles têm de ser removidos e devolvidos “revertere ad locum tuum”, vão pra cozinha, vão limpar banheiro, vão lavar chão, vão fazer alguma coisa que está na sua competência, não dê palpite em algo que está infinitamente acima de sua capacidade, nós não podemos permitir. Eu não acredito que ao denunciar essas empulhações eu esteja fazendo polêmica, pois esse pessoal não tem capacidade para polemizar comigo, nem um deles, contudo, pode-se chamar de polêmica sim, se quiser só pelo gênero jornalístico, não pela substância. Por exemplo, tudo o que eu escrevi sobre o Dicionário Crítico do Pensamento da Direita, que reúne 140 professores pagos com subsídios estatais e privados e você lê o Dicionário inteiro e não tem os pensadores fundamentais do conservadorismo anglosaxônico nem francês nem coisa nenhuma, em suma, o título que eu dei quando escrevi a esse respeito: “tudo que você queria saber sobre a Direita e vai continuar não sabendo”, ou seja, não tem nada, é empulhação. Não há polêmica aí, é uma denúncia jornalística gravíssima. Eu acho que isso é malversação de dinheiro público e pessoas deveriam perder os seus cargos por causa do que fizeram. Como chamar isso de polêmica? E isso não tem nada a ver com posições políticas. O problema do pseudo-intelectual é um problema crônico no Brasil e que se agravou enormemente nos últimos anos, mas não dá pra dizer que seja crônico porque em outras épocas a elite intelectual do Brasil até os anos 50 não tem comparação como que se tem agora. Na época, os escritores que estavam em circulação (nos anos 50 até os anos 60), Antonio Olinto, Josué Montello, Herberto Salles, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, todos eles tinham uma cultura literária universal, eles conheciam a literatura do mundo e, portanto, tinham referência de onde eles In Guardia - 10
estavam, sabiam onde estavam historicamente na tradição literária, hoje em dias as pessoas não sabem nada, estão soltas no ar, o sujeito tem uma opinião aqui outra ali, se apega a ela e acha que por isso é um intelectual. Veja só, esse Rodrigo Constantino é tão burro que acha que pelo fato de ocupar um espaço na mídia, opinando, o torna um intelectual, mas não torna, de maneira nenhuma. Outro dia, esse sujeito estava usando a expressão reductio ad absurdum e dizia “o reductio ad absurdum”, ora não faça citação em outra língua que você não conhece. Essa expressão é feminina, portanto, é “a reductio ad absurdum”, então, isso é coisa de moleque de ginásio que quer mostrar uma cultura que não tem e onde ele pegou essa expressão “reductio ad absurdum”? Num livro meu, pois é, o sujeito pega um livro, copia as palavras sem saber usar e fica tentando botar banca com isso, é uma coisa ridícula de ginásio, ninguém faria isso nos anos 50, 60, nenhum escritor faria isso nunca. A marca número um de um intelectual é ele reconhecer a limitação de sua cultura, saber quando ele estava entrando num terreno que não era o dele e, note bem, que o terreno que cada um deles ocupava era imenso. Eu estava falando de Josué Montello. Eu não conheço nenhum escritor importante que Josué Montello não tenha lido, então, o que é ser um escritor? Ser um escritor é participar da tradição literária, ter incorporado séculos de técnica literária e prosseguir representando, se conseguir inová-la ótimo, mas pelo menos, tem que manter o nível. Hoje em dia as pessoas não fazem questão disto, por exemplo, o sujeito é um jornalista, eu digo muito bem, agora você me diga o que estudou sobre os limites e possibilidades da profissão de jornalista? Eu sou capaz de citar pelo menos dez ou vinte trabalhos que li exatamente sobre isso, então, isso quer dizer que você está exercendo o jornalismo com a consciência do que está fazendo. Aí você pergunta para esses caras: o que você estudou a respeito, por exemplo, sobre a possibilidade cognitiva do jornalismo? Onde termina a inves-
tigação histórica e começa a investigação jornalística? Qual a diferença entre investigação jornalística e investigação policial, judicial, histórica, científica? Eles nunca pensaram nisso, não têm a menor ideia, não conhecem o próprio terreno que estão andando. Então, para marcar diferença entre o que é esta confrontação que eu faço com essa gente e o que seria uma polêmica de verdade, eu adotei outra linguagem para falar desses camaradas. Eu tenho que mostrar o meu total desrespeito por eles, eu não posso respeitá-los como interlocutores. Vamos supor, se é para discutir com marxista, muito bem, eu posso discutir com Antonio Negri, posso discutir até com um porta-voz do marxismo, como Immanuel Wallerstein, Itsvan Meszaros, mas eu só posso discutir com esses, agora, eu vou discutir com Emir Sader? Não. Eu vou discutir com um homem que escreve Getúlio com “lh”? Eu tenho que dizer um palavrão e mandá-lo pra casa. Então, discutir com uma pessoa implica que você o aceita como interlocutor e eu não aceito essa gente como interlocutores. Eles não são interlocutores, não estão debatendo comigo, eu estou denunciando a presença de vigaristas empulhadores, não são ladrões no sentido “material” da coisa, mas fazem empulhação intelectual para a qual não existe punição judicial, infelizmente.
A Homilia do Papa Homilia do Papa Bento XVI, na Basílica de São João de Latrão, Quinta-feira, 7 de Junho de 2012 Prezados irmãos e irmãs! Esta tarde gostaria de meditar convosco sobre dois aspectos, ligados entre si, do Mistério eucarístico: o culto da Eucaristia e a sua sacralidade. É importante retomálos em consideração para os preservar de visões incompletas do próprio Mistério, como aquelas que se relevaram no passado recente. Antes de tudo, uma reflexão sobre o valor do culto eucarístico, em particular da adoração do Santíssimo Sacramento. É a experiência que, também esta tarde, nós viveremos após a Missa, antes da procissão, durante a sua realização e no seu encerramento. Uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo. Com efeito, foi muito importante reconhecer a centralidade da celebração, no qual o Senhor convoca o seu povo, o reúne ao redor da dúplice mesa da Palavra e do Pão de vida, o alimenta e o une a Si no ofertório do Sacrifício. Esta valorização da assembleia litúrgica, em que o Senhor age e realiza o seu mistério de comunhão, permanece obviamente válida, mas ela deve ser recolocada no equilíbrio justo. Com efeito — como acontece com frequência — para ressaltar um aspecto termina-se por sacrificar outro. Neste caso, a justa evidência conferida à celebração da Eucaristia prejudicou a adoração, como gesto de fé e de oração dirigido ao Senhor Jesus, realmente presente no Sacramento do altar. Este desequilíbrio teve repercussões inclusive na vida espiritual dos fiéis. Com efeito, concentrando toda a relação com Jesus Eucaristia unicamente no momento da Santa Missa, corre-se o risco de esvaziar da sua presença o resto do tempo e do espaço existenciais. E assim compreende-
se menos o sentido da presença constante de Jesus no meio de nós e conosco, uma presença concreta, próxima, no meio das nossas casas, como «Coração vibrante» da cidade, do povoado, do território com as suas várias expressões e atividades. O Sacramento da Caridade de Cristo deve permear toda a vida quotidiana. Na realidade, é errado opor a celebração à adoração, como se uma com a outra estivessem em concorrência. É precisamente o contrário: o culto do Santíssimo Sacramento constitui como que o «ambiente» espiritual em cujo contexto a comunidade pode celebrar bem e na verdade a Eucaristia. A ação litúrgica só pode expressar o seu pleno significado e valor se for precedida, acompanhada e seguida por esta atitude interior de fé e de adoração. O encontro com Jesus na Santa Missa realiza-se verdadeira e plenamente quando a comunidade é capaz de reconhecer que no Sacramento Ele habita a sua casa, nos espera, nos convida à sua mesa e depois, quando a assembleia se dissolve, permanece conosco, com a sua presença discreta e silenciosa, e acompanha-nos com a sua intercessão, continuando a receber os nossos sacrifícios espirituais e a oferecê-los ao Pai. A este propósito, apraz-me sublinhar a experiência que juntos viveremos também esta noite. No momento da adoração, nós estamos todos no mesmo plano, de joelhos diante do Sacramento do Amor. O sacerdócio comum e o ministerial encontramse unidos no culto eucarístico. É uma experiência muito bonita e significativa, que vivemos várias vezes na Basílica de São Pedro e também nas inesquecíveis vigílias In Guardia - 11
com os jovens — recordo, por exemplo, as de Köln, London, Zagreb e Madrid. É evidente para todos que estes momentos de vigília eucarística preparam a celebração da Santa Missa e predispõem os corações para o encontro, de tal modo ele seja ainda mais fecundo. Estarmos todos em silêncio prolongado diante do Senhor presente no seu Sacramento é uma das experiências mais autênticas do nosso ser Igreja, que é acompanhado de maneira complementar pela celebração da Eucaristia, ouvindo a Palavra de Deus, cantando, aproximandonos juntos da mesa do Pão de Vida. Comunhão e contemplação não se podem separar, pois caminham juntas. Para me comunicar verdadeiramente com outra pessoa devo conhecê-la, saber estar em silêncio ao seu lado, ouvi-la e fitá-la com amor. O amor autêntico e a ami-
zade verdadeira vivem sempre desta reciprocidade de olhares, de silêncios intensos, eloquentes e repletos de respeito e de veneração, de tal maneira que o encontro seja vivido profundamente, de modo pessoal e não superficial. E infelizmente, se falta esta dimensão, também a própria comunhão sacramental pode tornar-se, da nossa parte, um gesto superficial. No entanto, na comunhão autêntica, preparada pelo diálogo da oração e da vida, nós podemos dirigir ao Senhor palavras de confiança, como aquelas que há pouco ressoaram no Salmo responsorial: «Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; / quebraste as minhas cadeias. / Hei-de oferecer-te sacrifícios de louvor / invocando, Senhor, o teu nome» (Sl 115, 16-17). Agora gostaria de passar brevemente ao segundo aspecto: a sacralidade da Eucaristia. Também aqui ressentimos, no passado recente, de um determinado desentendimento a respeito da mensagem autêntica da Sagrada Escritura. A novidade cristã em relação ao culto foi influenciada por uma certa mentalidade secularista dos anos sessenta e setenta do século passado. É verdade, e permanece sempre válido, que o centro do culto já não se encontra nos ritos e nos sacrifícios antigos, mas no próprio Cristo, na sua pessoa, na sua
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vida e no seu mistério pascal. E todavia, desta novidade fundamental não se deve concluir que o sagrado já não existe, mas que ele encontrou o seu cumprimento em Jesus Cristo, Amor divino encarnado. A Carta aos Hebreus, que ouvimos esta tarde na segunda Leitura, fala-nos precisamente da novidade do sacerdócio de Cristo, «Sumo Sacerdote dos bens futuros» (Hb 9, 11), mas não afirma que o sacerdócio terminou. Cristo «é Mediador de uma nova aliança» (Hb 9, 15), estabelecida no seu sangue, que purifica «a nossa consciência das obras mortas» (Hb 9, 14). Ele não aboliu o sagrado, mas completou-o, inaugurando um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que no entanto, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e de ritos, que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum (cf. Ap 21, 22). Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa e, como acontece no caso dos mandamentos, também mais exigente! Não é suficiente a observância ritual, mas exigem-se a purificação do coração e o compromisso da vida. Apraz-me ressaltar também que o sagrado tem uma função educativa, e inevitavelmente o seu desaparecimento empobrece a cultura, em particular a formação
das novas gerações. Se, por exemplo, em nome de uma fé secularizada que já não precisa de sinais sagrados, fosse abolida esta procissão urbana do Corpus Christi, o perfil espiritual de Roma ficaria «nivelado» e por isso a nossa consciência pessoal e comunitária seria debilitada. Ou então, pensemos numa mãe e num pai que, em nome de uma fé dessacralizada, privassem os próprios filhos de toda a ritualidade religiosa: na realidade, acabariam por deixar este campo livre aos numerosos sucedâneos presentes na sociedade consumista, a outros ritos e sinais, que mais facilmente poderiam tornar-se ídolos. Deus, nosso Pai, não agiu assim com a humanidade: mandou o seu Filho ao mundo não para abolir, mas para levar a cumprimento também o sagrado. No ápice desta missão, na última Ceia, Jesus instituiu o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, o Memorial do seu Sacrifício pascal. Agindo deste modo, Ele pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos, mas fê-lo no âmbito de um rito, que ordenou aos Apóstolos que perpetuassem como sinal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele mesmo. Caros irmãos e irmãs, é com esta fé que nós celebramos hoje e cada dia o Mistério eucarístico e que O adoramos como Centro da nossa vida e âmago do mundo! Amém.
A Homilia de Pedro «... E o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador. Porque olhou para a humilde condição da Sua Serva» (Lc. 1, 47). Com Maria assim canta a Igreja que está em Roma, redescobrindo quotidianamente a sua fragilidade e as maravilhas que Deus realiza n’Ela.
Homilia do Papa João Paulo II na Solene Celebração do Te Deum de Ação de Graças «Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher... para que recebêssemos a adopção de filhos» (Gál. 4, 4-5). Chegamos ao termo de um ano solar: dentro de algumas horas 1996 cederá a passagem ao novo ano, depois de ter atingido, para assim dizer, a sua plenitude cronológica e o ápice do caminho iniciado há 366 dias. A expressão «plenitude dos tempos» tem um valor, podemos dizer, histórico, porque nos recorda que o ano já a terminar nos aproxima, a grandes passos, do início do terceiro milênio. Contudo, com essa expressão São Paulo, na Carta aos Gálatas, quer evocar uma dimensão mais profunda que faz referência a quanto se realizou na gruta de Belém: «Deus enviou» ao mundo «o Seu Filho, nascido de mulher» (Gál. 4, 4). Nestas palavras revive o evento misterioso da Noite Santa: o unigênito e eterno Filho de Deus, «por obra do Espírito Santo encarnou no seio da Virgem Maria e fez-Se homem» (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). Entrou na história dos homens e como que a superou. Com efeito, pode-se definir doutro modo o ingresso de Deus n a história,
senão como superação da própria história? Quando Deus Se fez Homem, o tempo no seu cadenciar de anos, de séculos e milênios foi introduzido na dimensão da eternidade divina: de fato, vindo ao mundo, mediante o Seu Filho Unigênito, Deus quis unir entre si as dimensões do tempo e da eternidade. Ao referir-se a isto, a liturgia hodierna torna- nos conscientes duma perspectiva nova: com a Encarnação do Verbo o tempo do homem é chamado a participar da eternidade de Deus. Como acontece tudo isto? À pergunta dá resposta a leitura da liturgia hodierna das Vésperas: «Deus enviou» ao mundo «o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que se encontravam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. 4, 4-5). Por isto o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, para que nós, acolhendo-O, recebêssemos a adoção de filhos. O apóstolo João, no Prólogo do seu Evangelho, proclama com admiração: «O Verbo fez-Se homem e habitou entre nós... A todos os que O receberam... deu-lhes o poder de se tornar filhos de Deus» (Jo. 1, 14.12). O Unigênito, consubstancial ao Pai, veio ao mundo a fim de, mediante
a graça santificante, serem regenerados todos os homens, chamados ao alto privilégio de se tornarem, por adoção divina, «filii in Filio», filhos no Filho. A Igreja professa esta verdade acerca da plenitude do tempo e quer proclamála hoje dum modo muito singular. Como Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, cuja missão é anunciar o Evangelho Urbi et Orbi, tenho razões especiais esta tarde para louvar a Deus pela «plenitude do tempo» e pela salvação que se actua no mundo, mediante o ministério eclesial. Tenho singulares motivos de agradecimento ao Senhor por aquilo que a nossa comunidade eclesial, centro da Igreja universal, faz de modo particular ao serviço da cidade de Roma: com efeito, ela é em primeiro lugar enviada aos cidadãos romanos, como outrora lhes foram enviados os apóstolos Pedro e Paulo. Desde aquela época passaram-se cerca de dois mil anos e, no arco destes dois milênios, o mandato conferido à Igreja de Roma produziu inúmeros frutos de bem. Esta tarde, neste magnífico templo situado no centro da Urbe, na nossa ação de graças queremos fazer menção de todo o benefício operado por Deus, através do ministério apostólico tanto na Igreja universal como na nossa Cidade. Desejo dar graças ao Senhor, de modo especial, pelos resultados alcançados no ano que está para terminar, durante o qual, ao aproximar-se a conclusão do segundo milênio, iniciamos a preparação próxima para o Grande Jubileu. Tenho ainda diante dos olhos o magnífico espetáculo da última Vigília de Pentecostes. Naquela circunstância a Igreja que está em Roma, nas suas diversas componentes — Bispos, Sacerdotes, Famílias reIn Guardia - 13
ligiosas e fiéis leigos, em representação de todo o Povo de Deus — deu solenemente início à preparação imediata do Ano Santo, com o lançamento da grande Missão da Cidade. O meu pensamento dirige-se, além disso, às paróquias e às comunidades que viveram no ano corrente a graça da Visita pastoral: Santo António de Pádua na Circunvalação Ápia; São Cleto, São Júlio, São Vicente Pallotti, Santa Maria «Causa Nostrae Laetitiae», Santa Bibiana, Beato José Maria Escrivá, Santa Madalena de Canossa, na primeira parte do ano, e, recentemente, São Jerônimo Emiliano e Nossa Senhora de Valme. O número das paróquias até agora visitadas são assim 251; faltam ainda 77. Por todos estes eventos e pelo serviço prestado à Igreja de Roma, estou grato ao Cardeal Vigário e a vós, caros Irmãos Bispos Auxiliares, juntamente com os párocos, os vigários paroquiais e os sacerdotes que trabalham na nossa Cidade. Agradeço aos Religiosos e às Religiosas, assim como aos leigos empenhados nas várias atividades apostólicas e a todos dirijo uma cordial e fraterna saudação. Desejo, além disso, exprimir a minha gratidão a todos os fiéis da Diocese de Roma. Obrigado, Irmãos e Irmãs! Obrigado, famílias romanas, «igrejas domésticas » (cf. Lumen gentium, 11), primeiras e fundamentais células da sociedade! Obrigado,
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membros das muitas Comunidades, Associações e Movimentos empenhados em animar a vida cristã da nossa Cidade! Saúdo com vivos sentimentos de gratidão o Padre Peter-Hans Kolvenbach, Prepósito-Geral da Companhia de Jesus, e os Padres Jesuítas que trabalham nesta igreja. Apresento, também, uma saudação cordial às Autoridades Civis presentes e, de modo especial, ao Presidente da Câmara Municipal de Roma, agradecendo-lhe o dom do cálice que, segundo uma bonita tradição, cada ano se renova. De coração faço votos por que jamais falte o empenho de todos para dar à Cidade uma feição mais de acordo com os valores de fé, de cultura e de civilização que promanam da sua vocação e da sua história milenária, também em vista do Grande Jubileu do Ano 2000. Caríssimos Irmãos e Irmãs, haurindo inspiração e encorajamento das palavras do apóstolo Paulo aos Gálatas, recordadas nesta liturgia das Vésperas, sirvamos juntos a única causa da Redenção: a partir do momento em que Deus enviou o Seu Filho unigênito, para que nós pudéssemos obter a filiação adoptiva (cf. Gál. 4, 5), não pode existir para nós maior tarefa do que a de estarmos totalmente ao serviço do projeto divino. «A minha alma glorifica ao Senhor!» (Lc. 1, 46). Este cântico, brotado do coração de Maria por ocasião da visita à Santa Isabel, possa tornar-se hoje expressão da
nossa ação de graças. A Igreja repete-o cada dia, recordando-se de todos os benefícios de que se sente colmada. «... E o meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador. Porque olhou para a humilde condição da Sua Serva» (Lc. 1, 47). Com Maria assim canta a Igreja que está em Roma, redescobrindo quotidianamente a sua fragilidade e as maravilhas que Deus realiza n’Ela. «Desde agora todas as gerações me hão-de chamar ditosa, porque me fez grandes coisas o Omnipotente. É Santo o Seu nome e a Sua misericórdia vai de geração em geração para aqueles que O temem» (Lc. 1, 48-50). Estamos aqui para anunciar as misericórdias realizadas pelo Senhor no arco do ano que está a terminar. Estamos aqui para, com a alma repleta de gratidão, nos dispormos a cruzar, à meia-noite, o limiar do ano de 1997. Te Deum laudamus... A Vós, ó Deus, louvamos, a Vós, Senhor, cantamos. Eterno Pai, adora-Vos toda a terra... Tende piedade de nós, Senhor, tende piedade de nós. Vós sois a nossa esperança, jamais seremos confundidos. Amém!
Ives Gandra Martins
Democracia Paraguaia Em 1991, fui convidado pelo Ministro da Justiça do Paraguai, com outros constitucionalistas de outros países latino-americanos, para proferir palestras sobre a Constituição Brasileira. À época, o Paraguai se encontrava em processo constituinte, em vias de promulgar a Constituição que hoje rege os destinos da nação. Entre os temas que abordei, expliquei-lhes que toda a Constituição brasileira fora formatada para um regime parlamentar de governo, só na undécima hora tendo se transformado numa Lei Maior presidencialista. Talvez, por esta razão, o equilíbrio de Poderes foi realçado, ao ponto de, apesar de nossas crises políticas (“impeachment” presidencial, crise do orçamento, dos anões, superinflação, alternância do poder, mensalão etc.) jamais ter-se falado em ruptura institucional. Lijphart, em seu livro “Democracies”, de 1984, detectou, em todo o mundo, apenas 20 países em que não houvera ruptura institucional depois da 2ª. Guerra. Dezenove eram parlamentaristas e um presidencialista (EUA). Ulisses Guimarães pediu-me o livro emprestado, mas preferi enviar-lhe um exemplar - lembrando da advertência de Aliomar Baleeiro, que dizia ter amigos que fizeram sua biblioteca com livros emprestados. Sou parlamentarista, desde os bancos acadêmicos, e sempre vi no parlamentarismo um sistema de “responsabilidade a prazo incerto” – eleito um irresponsável para a chefia do governo, pode ser afastado, sem traumas, tirando-lhe o Parlamento o voto de confiança — e no presidencialismo, um regime de “irresponsabilidade a prazo certo”, pois, eleito um irresponsável, só pode ser afastado pelo traumático processo de “impeachment”. O Paraguai adotou o regime presidencial, mas, no artigo 225
de sua Constituição, escolheu instrumento existente no sistema parlamentar para afastar presidentes que: a) tenham mau desempenho; b) cometam crimes contra o Poder Público; c) cometam crimes comuns. Tendo tido um voto na Câmara dos Deputados e quatro no Senado, Lugo foi afastado do governo, NOS ESTRITOS TERMOS DA CONSTITUIÇÃO, por mau desempenho. É de se lembrar que o Parlamento tem representantes da totalidade da Nação (situação e oposição), enquanto o Executivo, só da maioria (situação). Tanto foi tranqüilo o processo de afastamento no Paraguai, que não houve manifestações de expressão em defesa do ex-presidente. As Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua e Lugo continuou com toda a liberdade para expressar suas opiniões e até para montar um governo na sombra. Processo digno das grandes democracias parlamentares, mas difícil de ser compreendido pelo histriônico presidente venezuelano, que usa de todos os meios para calar a oposição e a imprensa; pela aprendiz de totalitarismo, que é a presidente argentina, que tudo faz para eliminar a imprensa livre em seu país; ou pelos dois semi-ditadores da Bolívia e do Equador. O curioso foi o apoio da presidente Dilma a esta “rebelião de aspirantes a ditadores”, pisoteando a democracia e a Lei Suprema paraguaia, a fim de facilitar a entrada no MERCOSUL de um país, cuja monoeconomia só permitirá a seu conturbado presidente permanecer no poder, enquanto o preço do petróleo for elevado. Decididamente, a ignorância democrática na América Latina tem um passado fantástico e um futuro deslumbrante.
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José Nivaldo Cordeiro
Quem pode dizer não É certo que o Brasil, conduzido por Dilma Rousseff e o PT, está a caminho do desastre. Na economia já fizeram soar os clarins do apocalipse. No plano das liberdades, as ameaças são antigas e continuadas. No da moral e dos bons costumes, temos assistido à criminalização das virtudes e a autorização legal (quando não a compulsoriedade) para a prática dos vícios,tresvalorando todos os valores. Ontem vi pela TV a cabo a fantasia cinematográfica do Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios. Belo filme, a crônica do que poderia ter sido se quem podia dizer não o tivesse feito em tempo hábil. Toda gente sabia o que viria. Em 1929 Thomas Mann proferiu seu famoso discurso contra o nazismo. Raymond Aron, em 1932, também escreveu contra a loucura. Ortega y Gasset, Eric Voegelin, e Joseph Strauss também, mas nenhum deles tinha poder para tornar seu não efetivo. Todos que poderiam dizer não e tinham poder tornaram-se sócios da empreitada nazista. Nos primeiros anos tiveram lucros certos e espetaculares. Depois veio o mergulho no abismo. Quem pode dizer não ao PT hoje? Alguém diria: os eleitores. Ora, depois da propaganda maciça, da anestesia injetada no sistema educacional, da adesão interesseira das elites econômicas (os banqueiros em primeira hora, mas estes já estão purgando seus pecados), a classe política inteira e até mesmo o estamento militar não têm como dizer não ao aprofundamento da loucura política. Eu reconheço a extrema competência com que os revolucionários petistas estão conduzindo a coisa. Em oito anos de Lula, por exemplo, não ousaram mexer nos fundamentos da política monetária. Agora estão à vontade para ditar aos bancos regras draconianas, mesmo que sejam contra as leis econômicas. Os eleitores não dirão não porque não têm senso crítico e a propaganda utilitarista recomenda mesmo é a troca de votos pelo benefício imediato oferecido pelos governantes. Vivemos a falsificação plena da democracia. Perdeu-se o medo coletivo da tirania. Nem mesmo os exemplos históricos das experiências tiranas parecem acordar a massa, que adormeceu letargicamente. Os políticos são sócios maiores do butim, assim como os grandes empresários. Nenhum deles se colocará como oposição ao PT e sua loucura. Fazer oposição custa caro e empobrece. A elite intelectual menos ainda. Não apenas é sócia, ela é In Guardia - 16
quem pôs o PT no poder e é a gestora de sua aventura governante. Está no poder. Não há dissenso quanto ao gosto com que vê o PT no poder. O mesmo vê-se na imprensa, cevada com verbas publicitárias e com as redações entregues aos militantes partidários. Nunca dirão não. E a Justiça? Bem vimos as recentes decisões do STF. Os ministros deixaram a majestade da toga para envergarem a bandeira partidária e agora deliberam como resignados e obediente militantes partidários. O Ministério Público também está grandemente tomado pela militância do PT, bem como a magistratura de primeira e segunda instâncias. A Justiça não é mais órgão de Estado, mas órgão partidário. Quem pode dizer não, então? Ninguém. Alguns podem até ver com clareza o desastre que se aproxima e saber exatamente o que se passa. Mas gente assim está politicamente e economicamente isolada e não tem como influir no processo. E, se tentar, entrará na condição de alvo dos chefes do regime. Como aconteceu com a fraca e quase inexistente resistência ao nazismo, na Alemanha. O Brasil terá que viver integralmente seu destino trágico, cujos acontecimentos são de difícil previsão. Beberá, até a última gota, do cálice preparado pelas esquerdas.
Avanço do Satanismo
“No mundo, há um mal agressivo, que Satanás guia e inspira. Vivemos dias tenebrosos e somos assaltados pelo mal”, Papa João Paulo II In Guardia - 17
Por Pe. Inácio José do Vale Em entrevista á Rádio Vaticano, Aldo Bonaiuto, do serviço anti-seitas da Associação João XXIII, alertou para o aumento de seitas satânicas na Itália e indicou que seu crescimento afeta e especialmente os jovens.”Segundo estatísticas recentes, pelo menos meio milhão de pessoas tem contato mais ou menos freqüente com tais organizações ,conhecidas geralmente através da musica, dos filmes e dos sites da internet “, explicou. “Os jovens estão rodeados por estas mensagens, que falam mais do mal que do bem, mais da morte do que da vida, mais do diabo do que de Deus. Não esqueçamos que, dentro destas seitas, quase sempre há consumo de drogas, assim como ritos muitos particulares com presença da sexualidade, pelos quais os jovens se deixam influenciar. Normalmente tais associações são criadas com fins lucrativos, para submeter e manipular as pessoas e depois obter lucro”, afirma Bonaiuto. Assim, é necessária uma maior sensibilização e formação nas escolas, especialmente através dos professores de religião, e nas paróquias. Para isso, concluiu Aldo Bonaiuto, “é fundamental a correta formação dos sacerdotes” (1). Diante desse mundo tenebroso requer sacerdotes santos e sábios para informar e formar na verdade do Evangelho libertador o povo de Deus. O grande “Doutor Angélico”, Santo Tomás de Aquino disse muito bem que o padre deve pregar e ensinar com autoridade, porque ele é o instrumento e ministro de Deus. Portanto, ele tem autoridade, está revestido da autoridade do Senhor Deus para este ofício. Desejo do demônio: tornar possessos empresários e políticos O Padre Gabriel Amorth, exorcista oficial da diocese de Roma, explicou á revista “Maria Mensageira” que Satanás “gosta de apossar de pessoas que exercem cargos de responsabilidade, empresários, políticos”. E acrescentou que Hitler e Stalin foram possessos, em virtude de “uma aceitação total e voluntaria das sugestões do diabo, que trabalha em toda parte. [...] E com toda segurança age também no Vaticano, no próprio centro do cristianismo”. Essas impressionantes revelações tornam imperiosa a necessidade de recorremos com maior empenho e confiança às armas sobrenaturais, que põem em fuga o pai da mentira (2). O jornalista e historiador americano Timothy W.Ryback em seu livro Hitler’s private liberary: the books that slrped his life, escreve que o ditador nazista gostava de ler: guias de turismo, romances baratos de caubói e livros de ocultismo. Adolf Hitler disse: “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmanIn Guardia - 18
Cena do filme “O Ritual”
do-a, e eventualmen- Padre Gabriele Amorth, exorcista do Vaticano te todos acreditarão nela”. Realmente, Hitler foi um fiel discípulo do pai da mentira. “O diabo é homicida desde o principio e não permanece na verdade, porque nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Estima – se que existam hoje na Rússia cerca de 800mil curandeiros. O fato é que os curandeiros fazem parte da cultura Russa há muito tempo e ninguém deixou de acreditar neles , nem mesmo durante os 70 anos de zado a declarar sua religião como satanista comunismo ateu. O presidente Leonid Brejnev cercou-se sem- pelo capitão do navio HMS Cumberland. pre de curandeiros e consultores espiritu- Agora, ele tem permissão até para realizar rituais satânicos a bordo do navio. De ais (3). “Britânico recebe autorização para pra- acordo com o jornal Sunday Telegraph, “Cranmer percebeu que era um satanista ticar satanismo na Marinha” Chris Cranmer, de 24 anos, foi autori- há nove anos”. Ele disse que, na época, se
nas Forças Armadas. A igreja de Satã foi estabelecida em San Francisco , nos Estados Unidos, em 1966. La Vey foi o principal sacerdote até a sua morte, em 1997 (4). No Reino Unido muitos templos evangélicos foram transformados em estabelecimentos comerciais ou menos em locais de ocultismo (5). Na Itália, a Igreja Católica perdeu mais de 10 milhões de fiéis para as filosofias da Nova Era, para as seitas e para o ocultismo e secularismo. Estima-se que haja 100.000 magos de tempo integral, que oferecem consultas: quase três vezes o número de sacerdotes católicos. O satanismo é forte no Norte, e Turim é um dos centros globais destas atividades (6). A pesquisadora e professora Grace Davie da Universidade de Exeter, na Grã – Bretanha, num estudo sobre religião européia, disse: “As pessoas simplesmente escolhem e misturam o que encontram na várias religiões disponíveis. A religião, como tantas outras coisas, entrou para o mundo das opções, estilos de vida e preferências”. Ação diabólica O Papa Paulo VI, na audiência pública de 15 de novembro de 1972, fala sobre sinais da presença da ação diabólica: “Podemos admitir a sua ação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda; onde o engano se revela hipócrita , contra a evidencia da verdade ; onde o amor é acumulado por um egoísmo frio e cruel ; o nome de Cristo é empregado com ódio consciente e rebelde: onde o espírito do Evangelho é falsificado e desmentindo; onde o desespero se manifesta como a última palavra”. Satanás não foi criado com esse nome. Esse é um nome descritivo que significa “Adversário; Inimigo; Acusador”. Ele passou a ser chamado de Satanás porque faz oposição a tudo que é direcionado á Deus. (Mt 13,19. 25; 1Pd 5, 8 ; Ap 12,10). O termo “diabo”, significa no grego “caluniador”, “tentador”. Também foi acrescentado á descrição desse ser como homicida e pai da mentira (Mt 4 , 1 – 4 ;Jo 8 ,44). Satanás – diabo, o chefe dos demônios (Mt 12,22-28 ;MT 25,41; Lc 10,17-20;Ap 12,9). Jesus Cristo inaugurou o Reino de Deus neste mundo e veio pôr fim ao reino de satanás (Mt 12, 28 : Lc 10,17.18; Jo 12, 31). O santíssimo nome de Jesus faz os demônios estremecerem e serem expulsos (Mc 16,17;Lc 10 ,17;At 16,16 -18).
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica descreve: “Jesus acompanha a sua palavra com sinais e milagres para atestar que o reino está presente nele , o Messias. A expulsão dos demônios anuncia que a sua cruz será vitoriosa sobre o “príncipe deste mundo” (Jo 12,31)(nº108)”. A ação diabólica é derrotada pelo sangue do Cordeiro Imaculado e pala Palavra de Deus (Ef 6,17; Ap 12,11). Não temos medo de Satanás e seus demônios. Escreve São João Apóstolo: “Vós, filhinhos, sois de Deus e vós os vencestes. Porque o que está em vós é maior do que aquele que esta no mundo”(1 Jo 4,4). “O demônio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus”, afirma o Doutor da Igreja e grande místico São João da Cruz. Conclusão Grande é a nossa responsabilidade de anunciar a verdade do Cristo libertador num mundo tomado pela Nova Era e pelas seitas satânicas. Evangelizar é enfrentar os desafios da sociedade materialista e capitalista, da intolerância e do terrorismo religioso, do relativismo e da banalidade do homem pós-moderno. O ser humano vive hoje um vazio terrível e aventuras mortais. Oprimido e escravo da superficialidade ideológica. Torturados pelos vícios e sem chegar a lugar algum: perdido e humilhado. O homem sem a graça de Deus esta morto em seus delitos e pecados (Ef 2,1-8). Sem o Cristo libertador, ele está preso nos laços do diabo (2 Tm 2,26). Sem a luz do Espírito Santo, ele vive na escuridão do príncipe das trevas (Ef 5,12). A nossa missão é impactar o mundo com pregação do Evangelho de poder e com o nosso testemunho cristão. Proclamar ao homem que ele só pode ter paz “no Príncipe da Paz “(Is 9,5). Vida, só com o “Príncipe da Vida” (At 3,15) e salvação eterna, só com o “Salvador, que é o Cristo-Senhor” (Lc 2, 11). Somente no Salvador Jesus Cristo o ser humano tem a felicidade de viver aqui e a certeza da vida eterna nos beatitudes celestiais. Notas: (1) Mundo e Missão, nº126, p.9. (2) Catolicismo, nº692, p.13. (3) O globo, 07/09/2008, p.49. (4) Vida e Religião, nº 2, p.7. (5) Graça / show da Fé, outubro de 2003, p. 72. (6) Revista Alcance, 3º trimestre de 2005, p. 25. Veja-Edição Especial, abril de 2005 p. 6.
“Podemos admitir a sua ação sinistra onde a negação de Deus se torna radical, sutil ou absurda”, Papa Paulo VI sobre a influência do Mal
deparou com uma cópia da Bíblia Satânica, escrita pelo fundador da igreja de Satã, Anton Szandor La Vey . O oficial da marinha, que é de Edimburgo, na Escócia, agora esta fazendo lobby junto ao Ministério da Defesa para fazer do Satanismo uma religião oficializada
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Bruno Dornelles de Castro
Legítima defesa: direito natural da pessoa Não é de hoje que a democracia é desrespeitada pelos governantes petistas no Brasil. Após uma imensa propaganda pelo desarmamento da população, o governo se viu derrotado pela mesma, em 2005, no chamado “Referendo do Desarmamento”. Uma imensa maioria da população (63,94%) disse não à retirada do seu direito de possuir uma arma para se defender. Mas, a vontade da maioria, em face à praxe do PT das minorias derrotadas e fundadas no “coitadismo” histórico, não foi novamente respeitada. Atualmente, o acesso ao porte de arma para o cidadão de bem é mínimo - para não dizer raro -, enquanto os bandidos continuam se armando das mais diferentes e criativas maneiras possíveis. A mídia afirma que no ano de 2009 em São Paulo foram concedidos somente 47 portes de armas para civis, uma verdadeira vergonha para um Estado de quase 42 milhões de habitantes e altos índices de criminalidade. Quando se clama por armar a população, não se trata, caro leitor, de uma causa unicamente relacionada à segurança pública como um todo, mas da garantia à vida do senhor e de sua família em um hipotético e muito possível caso de grave ameaça. Em termos ainda mais específicos, trata-se de um direito natural de toda a pessoa: o de legítima defesa. O argumento politicamente correto dos desarmamentistas padece nas suas indiferenças em debaterem um fato muito simples e claro: armas, por si só, não matam pessoas; pessoas matam pessoas. Além do mais, como afirmar arbitrariamente que cada cidadão brasileiro não é inocente e idôneo para possuir uma arma em casa? Não obstante, pessoas relativamente inocentes, sem qualquer forma de defesa proporcionais às ameaças comuns dos criminosos, possuem muito mais chances de saírem de tais situações com graves danos ou mesmo sem vida. Eis a verdade do desarmamento: a única garantia concedida é exclusiva aos que praticam esses delitos, que, com a segurança de não serem surpreendidos ao atentarem contra o bem-jurídico pessoal, se tornam livres para praticarem as mais brutais e cruéis ameaças à vida dos brasileiros. O resultado da garantia dada pelo PT aos bandidos, de que todo cidadão brasileiro estará indefeso no momento em que tiver a vida ameaçada, está tatuada nas estatísticas de aumento de homicídios. Os grupos desarmamentistas ligados ao governo já conseguiram o que desejavam, que era desarmar a população,
mas porque seus planos se mostraram errados - no sentido de conter a criminalidade - agora procuram alternativas que atingem diretamente a liberdade da pessoa, como a imposição da proibição do comércio de álcool noturno, a negociação com criminosos para a manutenção da paz local ou até mesmo a liberação de todo e qualquer tipo de drogas para “quebrar” o tráfico. O Catecismo da Igreja Católica expõe o conceito de legítima defesa em seu §2263: “A legítima defesa das pessoas e das sociedades não é uma exceção à proibição de matar o inocente, que constitui o homicídio voluntário. ‘Do ato de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida; outro, a morte do agressor’ ‘Nada impede que um ato possa ter dois efeitos, dos quais só um esteja na intenção, estando o outro para além da intenção’.” Ainda neste sentido, em casos extremos, nos quais nada mais pode ser feito para impedir uma agressão - com a absoluta certeza acerca da responsabilidade do agente -, a Doutrina da Igreja afirma ser válida a possibilidade da aplicação da pena de morte, conforme o §2267 do Catecismo, visto que a dignidade daquele que agride outra pessoa dotada de dignidade é renunciada no ato em que se consumou a agressão. São Tomás Morus, no seu livro “A Utopia”, foi mais além: opinava - para seus tempos - que o Estado, em face de um homicida, possuiria todo o direito de condená-lo à morte por este ter este tirado a vida de um inocente, e, alternativamente, de torná-lo um escravo público, assim conciliando a justiça e a utilidade pública em face do agressor. Enquanto o governo do PT desobedece a população e promove campanhas para desarmá-la periodicamente, centenas de brasileiros, no momento que protegem suas vidas de uma ameaça real, exercendo a legítima defesa, são acusados de crime por porte ilegal de arma. De fato, como registrar uma arma de forma legal, urbana e responsável, se o governo, além de não conceder o porte, irá se apossar do único meio de defesa proporcional a essas ameaças? O caso da anarquia gerada pelo desarmamento no Brasil somente reflete o problema de ideologias de esquerda, contrárias aos direitos fundamentais da pessoa, manterem-se no poder: o eterno discurso politicamente correto e a retórica populista, à custa incontável de vidas inocentes. Até quando teremos de conviver com estes ditadores disfarçados de “pais dos pobres”?
Enquanto o governo do PT desobedece a população e promove campanhas para desarmá-la periodicamente, centenas de brasileiros, no momento que protegem suas vidas de uma ameaça real, exercendo a legítima defesa, são acusados de crime por porte ilegal de arma
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Por Ana Maria Bueno Cunha
São João Batista Maria Vianney - O santo Cura d´Ars A vida, o sacerdócio, os milagres e a paixão deste grande santo da Igreja Católica In Guardia - 21
“Conta-se que, ao aproximar-se a ordenação de João Batista, o Vigário Geral de Lyon, reunido com alguns padres, ponderaram a inconveniência em concederlhe o sacramento da Ordem, porque “era muito burro”, conforme comentaram entre si num momento de reunião, não com maldade, mas com a sinceridade de quem estava convencido da incapacidade intelectual de quem iria assumir tão elevado cargo. Nesse momento, João Batista estava a chegar e ouviu ainda na sala de espera, o constrangedor comentário. Aguardou a saída dos padres e foi ter com o Vigário. Antes de iniciar a conversa, o Santo pediu licença para falar e disse: “Padre, se com uma fisga feita da mandíbula de um burro, David conseguiu derrubar Golias, imagine o que o Senhor poderá fazer tendo nas mãos um burro inteiro!” Estas palavras foram suficientes para revogar a intenção do vigário que, logo de seguida, o enviaria para a comunidade de Ars. Apesar da história se parecer a princípio engraçada, e para alguns digna de comiseração, ela só nos mostra como Deus age através de quem Ele quer, como e quando Ele quer. São João Maria Vianney é um santo, que pelo menos a mim, causa compunção e desejo de ser humilde, simples e oculta. Sua vida instigante, aos olhos do mundo até medíocre, nos faz ver com absoluta certeza a ação divina nesta terra. São João Maria Vianney nasceu em 1786 e morreu em 1859 - Sua memória é comemorada em 4 de agosto. Foi canonizado em 1925 e é considerado Patrono dos sacerdotes, porque soube ser um sacerdote exemplar, por ter amado e se desgastado pelo seu ofício. Sua vida retrata o poder da graça divina que o lapida a ponto de tudo perder para o mundo, para ganhar almas de Deus para Deus. Sua humildade, suas lutas contra o demônio, sua luta para a santidade, seu ardor pela Igreja e, sobretudo, pela Santa Eucaristia e pelo
Sacramento da Confissão devem ser sublinhadas e retratam bem este santo maravilhoso. Nascido de família humilde, mas muito devota, teve nos pais camponeses um exemplo de amor a Deus e serviço aos mais necessitados. Em sua época, o terror imperava por conta da Revolução Francesa; padres eram exilados, muitos eram mortos, Igrejas eram fechadas, havia, portanto, uma verdadeira perseguição aos cristãos. E foi exatamente neste cenário que São João Maria sente o chamado de Deus para o sacerdócio, aliás, desde garotinho gostava de se afastar para rezar. Queria se desgastar, e este foi sempre o seu lema. Recebeu a primeira comunhão aos 13 anos e a Crisma aos 20 anos, onde recebeu o nome “Batista”.
“Quem coloca Jesus no Sacrário? O padre. Quem acolheu nossa alma na entrada da vida? O padre. Quem alimenta nossa vida na peregrinação terrestre? O padre. É o padre quem dá continuidade a obra da redenção na terra”, São João Maria Vianney Após receber o consentimento dos pais para ingressar no Seminário, enfrentou muitas dificuldades nos estudos, pois não conseguia entender o latim e filosofia. Sua dificuldade era tal que chegou a ser despedido do Seminário de Lyon. Deus então lhe envia um santo sacerdote que o ajuda,
Corpo incorrupto de São João Maria Vianney e foi somente com esta ajuda amorosa do incansável do Pe. Balley, que o ensinou em francês , pode, então, completar seus estudos. Ordenado sacerdote aos 29 anos, em 1815, foi vigário de Ecully durante três anos, mas não obteve permissão para ouvir confissões, pois não era considerado capaz de guiar consciências, o que muito o entristeceu; mas como estava disposto a obedecer e tudo fazer pelas almas, a mortificação e a obediência foram por ele escolhidas como meio. Somente três anos depois conseguiu a liberação para confessar; seu carisma de santidade já o fazia especial diante de alguns. Deus então o envia a Ars – e foi ali onde ficou por 42 anos que pode exercer seu papel de santo sacerdote. Santo no sofrimento, santo nas injúrias, santo no desapego, santo no amor incondicional. Ao chegar em Ars, a Igreja estava praticamente vazia e as tabernas lotadas. A população distante de Deus precisou ser chamada pelo Santo para reconhecer em Deus o Senhor. São João percorria a cidade, visitava as pessoas, chamava-os ao Banquete do Cordeiro – a Missa -, e sua pobreza e cuidados tocavam a todos.
Cidade de Ars, França, onde viveu São João Maria Vianney
Indo para sua paróquia, após o garotinho dizer-lhe onde ficava Ars, o santo respondeu-lhe: “Você me ensinou o caminho para Ars, agora eu vou te ensinar o caminho para o céu”
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Sua chegada a Ars em fevereiro de 1818 foi totalmente especial, numa carroça, transportando alguns pertences e o que mais precisava: seus livros; sem saber como chegar, encontra um menino que sem demora o ajuda. Conta a tradição que na estrada ele se dirigiu a este menino pastor dizendo: “Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu”. Hoje, um monumento na entrada da cidade lembra esse encontro. Por quatro vezes tentou a fuga da cidade, por se considerar inapto para o serviço sacerdotal, mas a população que já o amava e se opunha ferrenhamente a sua transferência e a sua fuga, não permitiu. Passava horas rezando, se mortificava até o limite de seu físico, se extenuava no Confessionário. Em resposta a sua fidelidade e luta, o Senhor derramava suas graças copiosas fazendo daquele lugar um reduto de santidade e conversão. Suas homilias eram simples e fortes e focavam que muito na conversão exigida pelo reino de Deus e no juízo final. No início, São João Maria tendia a incutir o medo nos seus paroquianos, mas depois superou o rigor e cheio de misericórdia exalava em
suas pregações e atos, brandura e amor. Sua pregação simples e objetiva chamava à vida e como ele mesmo dizia: “ Não eram mais que a união com Deus”. Por conta do grande número de conversões, as tabernas esvaziaram, os fiéis aprenderam a amar a Igreja, a Deus, os Sacramentos, a Santa Missa e com elas vieram as calúnias ao Bispo, as perseguições sem tamanho, tanto das pessoas como do demônio. Sofreu amargamente as cruzes, mas ao pedir a Deus que desse a ele amor por ela, aprendeu a ser feliz no meio de toda esta tribulação. Ele dizia: “Precisamos pedir amor das cruzes; então as cruzes passam a ser suaves. Eu fiz essa experiência durante quatro ou cinco anos. Fui bastante caluniado, bastante desmentido. Oh! Como tinha cruzes; mais do que
“O que nos impede de sermos santos, a nós, os padres, é a falta de reflexão. Nós não encontramos em nós mesmos, não sabemos o que estamos fazendo. O que nos falta é a reflexão, a oração e a união com Deus”, São João Maria Vianney poderia carregar. Comecei a pedir o amor das cruzes e fui feliz” (Mensagem dos Santos – Paulus – Pedro Teixeira Cavalcante – pag 223) São João fundou a Confraria do Rosário para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens. Resultado: perseguições e mais perseguições. Mas, ao contrário de que queriam estes perseguidores, Ars virou centro de peregrinações e o Santo mais rezava, mais se mortificava, mais fazia do Confessionário seu lugar. Chegava a ficar 14 horas confessando os paro-
quianos e peregrinos. Chegou a confessar mais de 200 pessoas num só dia. São João viveu o que pregou e soube ganhar as almas de Deus para Deus, servo fiel no pouco de si e no muito de Deus. Muitas e muitas vezes, dizia: “Deixai uma paróquia sem padre durante vinte anos e seus habitantes adorarão animais” e isto o impulsionava a servir, ele sabia o valor de um sacerdote nas mãos de Deus. Sabia de suas limitações, mas também sabia do poder da graça. Seu lema: orar sem cessar, se desgastar, morrer para que muitos possam viver. Criou orfanatos, escolas para pobres, catequese, ajuda aos necessitados, tudo isso fez o santo com a ajuda da Divina Providência. Um simples homem, sem nada, materialmente falando, e, no entanto, tão cheio de graça. Deus de fato, estava presente em Ars. Sua catequese englobava três pontos: a luta contra o trabalho nos dias de festas e guarda, contra o hábito das blasfêmias para ele sinais de ateísmo prático, e a luta contra as tabernas e contra os bailes, considerados por ele como obra diabólica que leva à imoralidade. No dia 2 de agosto de 1859, aos 73 anos, recebe a unção dos enfermos, no dia 3 assina seu testamento deixando seus bens aos missionários e seu corpo à paróquia. Falece no dia 4 - mais de trezentos padres e uma multidão veio despedir-se, bem diferente daquele dia em que chegou a cidade. Foi proclamado venerável pelo Papa Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo Papa Pio XI em 1925 e por ele foi declarado padroeiro de todos os párocos, em 1929. Sua vida confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus wescolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29). “ Para a honra de Deus e para o bem dos fiéis , o santo Cura restaurou a igreja e edificou várias capelas, dedicando-se ao Ecce Homo, aos santos anjos, a são João Batista e a santa Filomena, à qual atribuía seus milagres, para encobrir sua fama de santidade. Sua vida foi, pois , não só penitente e mística, mas também cheia de obras de zelo pelo próximo: foi a plenitude da vida apostólica desse herói do ministério sacerdotal paroquial que realizou uma de suas palavras: “ É belo morrer depois de ter vivido na Cruz” ( Os santos do Calendário Romano – Paulus – pag 293) São Cura D’Ars – Rogai por nós! In Guardia - 23
Assunção de Maria: Prefiguraçã Por Ian Farias No dia 15 de agosto é celebrada solenemente a Assunção da Virgem Maria ao Céu. Esta festa remete ao Dogma proclamado pelo Papa Pio XII, em 1950, mas que há vários séculos constituiu parte de uma teologia mariana, na qual se professava que Maria fora elevada em corpo e alma aos céus. Dentro desta perspectiva, este estudo pretende centrar-se, não tanto na análise histórico-teológica do dogma, mas, sobretudo, na visão bíblica que faz da Mãe de Deus, aquela que com seu sim soube manifestar em sua vida a potencialidade do amor divino e o desapego dos bens aparentemente satisfatórios deste mundo. A primeira leitura constitui uma narrativa que, como em todo o livro do Apocalipse, merece uma interpretação aprofundada devido aos significados dos símbolos usados pelo autor. “Abriu-se o Templo de Deus que está no céu e apareceu no Templo a arca da Aliança” (Ap 11, 19a). A arca da Aliança indica os tempos iminentes nos quais tudo será restaurado. O Templo de Deus é o templo
celeste, a nova visão da Igreja triunfante, que sofreu as perseguições e demais consequências pelo anúncio do Evangelho. “Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Então apareceu outro sinal no céu: um Dragão, cor de fogo” (Ap 12, 1.3). Esta narração, devido ao seu contexto simbólico e complexo, tornou-se suscetível à várias interpretações errôneas. A visão apocalíptica não se refere em primeiro instante à mulher enquanto Maria, mas sim ao povo de Deus, o antigo Israel, pelo qual nos vem Jesus; em seguida representa o novo Israel, a Igreja, que oferece Cristo ao mundo, que porta o Messias como Senhor da salvação, Corpo de Cristo. Tanto esta segunda como a primeira, são representações da mulher, perseguida pelo dragão, símbolo de Satanás e da sua escravidão. O vestido de sol, usado pela mulher, indica a predileção de Deus por ela; um vestido de transcendência e formosura. Ela está envolvida em Deus, é escolhida por Ele para que assuma a alta dignidade de esposa e mãe do Messias. Ela vence a barreira do tempo, sinal da lua na qual está pisada (Sl 88, 38). A coroa faz alusão aos doze apóstolos e as doze tribos de Israel, simbolizando o prêmio que lhe fora concedido. Assim, podemos ver a descrição da Igreja enquanto esta “mulher”. A aplicação deste trecho à Virgem Maria foi feita por Santo Agostinho e São Boaventura, que mediante o contexto em que outrora fora escrito, seria estranho ao autor sagrado. Mas, se aplicado à Virgem Maria, poderíamos também fazer uma correlação entre os dois. Maria é, por excelência, aquela que se disponibilizou na escuta atenta da palavra e na constante prática, evidente, sobretudo, por ter acolhido em seio a Palavra de Deus, Jesus Cristo encarnado. In Guardia - 24
Na narrativa da primeira leitura podemos contemplar que a vitória vem para todo aquele que se confia a Cristo, que nele deposita sua esperança e não se deixa entorpecer nos caminhos da morte. Enquanto o dragão perseguia a mulher no deserto, mas inutilmente, ela é assistida pela providência de Deus e é nutrida com o maná – símbolo da Eucaristia. Ainda que a Igreja seja perseguida na hodierna sociedade, ainda mais agora que deparamo-nos com uma realidade tão contrastante aos valores éticos e morais, somos chamados a confiar-nos, também nós, à graça de Deus que nunca falha. Quem confia em Deus, como Maria, quem se despoja de tudo por amor de Cristo, não o faz em vão, mas leva a certeza de que Deus está conosco, de que o Amor de Cristo é uma força propulsora na caminhada e que somente sob o poder de Deus poderemos encontrar sentido em nossa vida. Várias são as tentativas de sucumbirem a Igreja, também começando a miná-la em seus fundamentos. Mas Deus, aquele que, como retrata o Salmo, não dorme nem cochila (cf. Sl 120,4), não a deixa ser entregue ao poder dos inimigos. Na segunda leitura, Paulo fará uma exposição teológica da escatologia e todos os acontecimentos que, com ela, dar-se-ão nos últimos dias. “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram – escreve ele. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada” (1Cor 15, 20-23a). Paulo nos recorda que a ressurreição de Cristo é também a prefiguração e garantia da nossa ressurreição. No entanto, dirá ele que a ressurreição de Cristo é primícias para os que estavam mortos. Cabenos aqui pensarmos em que sentido se aplica tal termo. As primícias (do hebraico bikkurim) eram os recolhimentos feitos antecipadamente sobre os “primeiros” frutos produzidos pela terra e que eram considerados os melhores da colheita. Mas não apenas os frutos da terra eram doados, como também os primogênitos dos animais e dos homens, em agradecimento a bondade divina que lhes concedera. Com estas primícias da ressurreição de Cristo, Paulo não quer indicar que Jesus fora um caso esporádico, o único a fazê-lo, mas que é Ele o primeiro a fazê-lo e, como tal, em seguida poderemos fazer também
ão da estadia humana com Deus nós. Entretanto o fato de ser o primeiro não é meramente por uma ordem cronológica. Por meio de Sua ressurreição Ele, que é o primogênito dentre os mortos (Cl 1,18), abre, por assim dizer, as portas da eternidade a todos os que serão chamados a participarem do eterno convívio. Todos são convidados a ressuscitarem para sentarem-se com Ele em sua glória.Sua ressurreição não acontece apenas na carne, mas transcende as perspectivas humanas, aliás, é um fato que nem mesmo os homens poderiam prever. Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, escreve: “As primícias constituem um gênero de oblação, pois, oferecemo-las a Deus acompanhando-as de um certo juramento, como se lê na Escritura... E as primícias eram oferecidas por uma razão especial, isto é, em reconhecimento de um benefício divino: como se confessassem ter recebido de Deus os frutos da terra e, por isso, estarem obrigados a lhe oferecer as primícias dele, conforme aquilo da Escritura: O que recebemos da tua mão, nós isso te oferecemos” (q. 86, a. 4). As primícias por excelência já não são mais oferecidas a Deus, senão que oferecidas por Deus para a salvação do gênero humano, isto é, o Seu Filho Cristo Jesus. Por Ele todos os outros sacrifícios e oferecimentos não serão mais necessários. Ele é primícias dos que morreram e dos que ressuscitarão na Nova Aliança, que não é outra, mas está em continuidade com a aliança feita a Moisés e concretizar-se-ia n’Ele. O cristão, configurado a Cristo, com Ele vê sua vida renovar. Com o Senhor ele encontra um sentido existencial para a sua vida, que não se encontra no mundo, mas além dele. Contemplamos assim a figura de Maria, que sempre se depositou nas mãos do seu Senhor e jamais se desesperou nas suas maiores dores. Ela viveu a radicalidade do “sim” a Deus; soube fazê-lo sem temor, como um lírio entre os espinhos. Dizia Adão de São Vitor, monge e poeta medieval: “Salve, pois, ó Mãe do Divino Verbo, Flor que brotou entre os espinhos, sem espinho; glória do jardim dos espinhos. O espinheiral somos nós; fomos ensanguentados pelos espinhos dos pecados. Mas, para tua pessoa, não existe espinhos” (SÃO VÍTOR, Adão de. Prosa per l’Assunzione dela B.V.M.). Paulo ainda nos deixa claro que: “É preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”
O Papa Pio XII foi o pontífice que proclamou o dogma da Assunção (1Cor 15,25-26). Tratamos aqui de Cristo em dos aspectos: Rei e combatente, que destrói a morte. Ao sentir que seu reino será atacado o rei monta guarda juntamente com seu exército e lutam para que
Maria é, por excelência, aquela que se disponibilizou na escuta atenta da palavra e na constante prática, evidente, sobretudo, por ter acolhido em seio a Palavra de Deus, Jesus Cristo encarnado nenhum dos seus seja ferido. A morte, que pelo pecado entrou no mundo, será extinguida dele pela vitória definitiva de Cristo em sua Parusia e os que em Adão morreram, em Cristo reviverão para a vida eterna. É nesta relação do Deus que defende, que salva, que nós encontramos o amor enquanto sentido existencial da vida humana, manifestado nas palavras do Magnificat, recitadas por Maria. Na narração evangélica de São Lucas vemos presente a visitação de Maria a sua prima Isabel. A fi-
gura de Maria contrasta-se com a de Zacarias, que duvidou no primeiro instante. Ela recebe a notícia do anjo e vai a Isabel às pressas, portando o Salvador em seu seio. O encontro das duas simboliza também o encontro das crianças: João e Jesus. João simbolizando a passagem do Antigo para o Novo Testamento e Jesus que representa a Nova Aliança. Maria entoa o seu famoso Magnificat, que na verdade é um salmo de ação de graças composto por citações e alusões ao Antigo Testamento, visando bem o canto de Ana, mãe de Samuel (1Sm 2, 1-10). Deus não faz uso do poderio e da riqueza humana para manifestar a sua onipotência, mas usa-se essencialmente da humildade. O poder de Deus diverge do poder dos homens. Os homens fazer deitar seus tesouros nos cofres, mas Deus faz repousar seu tesouro no ventre de uma pobre mulher de Nazaré. Os homens sentam em tronos e, quando morrem, repousam em belíssimos caixões adornados; Deus, por meio de seu Filho, pende na cruz, sofre torturas, é renegado, humilhado. Por isso, “o Pai das misericórdias e o Deusde toda a consolação” (2Cor 1,3) não renega nem ricos nem pobres, mas a todos Ele pede que apenas uma coisa os cerquem: O amor e a bondade, estarem desprovidos dos apegos aos bens materiais e, como Maria, se abrirem a graça de um sim renovado, cotidianamente, na fidelidade e no amor. In Guardia - 25
O censo do IBGE e Por Ivanaldo dos Santos Nos últimos dias do mês de junho de 2011 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do governo federal brasileiro responsável em fazer levantamentos estatísticos da vida sociocultural do Brasil, revelou alguns dados do censo realizado em 2010. Entre esses dados encontram-se os dados referentes à vida religiosa do brasileiro. Vale salientar que as informações colhidas pelo IBGE referemse apenas a filiação religiosa e não se os cidadãos possuem, ou não, uma vida mística e se seguem realmente alguma doutrina religiosa. Apenar desse fato, alguns dados fornecidos pelo IBGE são surpreendentes. Por exemplo, o número de cidadãos que se dizem católicos caiu drasticamente. Há quarenta anos quase toda a população brasileira era católica, agora um pouco mais 60%, ou seja, praticamente 50 milhões de pessoas deixaram a Igreja em menos de quatro décadas. É preciso observar, por exemplo, que Portugal, dados fornecidos pelo governo português, tinha, em 2000, uma população de um pouco mais de dez milhões de habitantes. Fazendo uma comparação é como se a Igreja Católica tivesse perdido, em apenas quatro décadas, o equivalente a cinco vezes a população de Portugal. Além dos dados sobre o número de católicos no Brasil, o IBGE demonstrou que houve, nos últimos dez anos, um pequeno crescimento do número de protestantes e um significativo crescimento dos cidadãos Sem Religião (SR) e de membros de Outras Religiões (OR), como, por exemplo, muçulmanos, religiões orientais e coisas semelhantes. Não se trata de ficar fazendo questionamentos sobre as informações prestadas pelo IBGE serem verdadeiras ou falsas. No entanto, é preciso, diante dos números apresentados, fazer três reflexões. A primeira reflexão é que houve por parte de membros da hierarquia católica
no Brasil alguns questionamentos sobre o censo do IBGE. Entre esses questionamentos citam-se, por exemplo, o fato de a pergunta, feita pelo censo, sobre a filiação religiosa católica ser ambígua ou duvidosa. A pergunta realizada pelo IBGE colocava várias opções para o cidadão, como se existissem diversas “igrejas” católicas e não apenas uma. A pergunta confundia filiação religiosa com algum rito litúrgico (rito latino, rito grego melquita, rito de São Pio V etc.) ou então filiação com algum movimento pastoral (movimento caris-
Não é nenhuma novidade que, no Brasil, a Igreja deixou, um tanto quanto de lado, a missão, dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, de Evangelizar mático, movimento de casais etc.). Muita gente pensa que essa confusão, feita pelo IBGE, foi feita de propósito para “forçar” a diminuição do número de católicos no Brasil. É público e notório que a Igreja Católica ainda é uma das maiores forças políticas do país e se o número estatísticos dos católicos diminuíssem, mesmo que fosse apenas por uma “erro” do IBGE, esse fato agradaria a muitos segmentos políticos, como, por exemplo, grupos pró-aborto, pró-casamento gay e semelhantes. A segundo reflexão é que o Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS), um órgão ligado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou no mês de junho, portanto, no mesmo período da divulgação dos dados do IBGE, os dados oficiais do censo anual da Igreja Católica no Brasil. Esses dados apresentam uma Igreja bem viva, com grande crescimento da vida liturgia, da presença dos fiéis nos movimentos pastorais e nas paróquias. Houve nos últimos anos um grande crescimento do número de seminaristas, de ordenações de padres, da vida religiosa masculina e feminina, da criação de paróquias e coisas semelhantes. Em certos aspectos, os dados apresenIn Guardia - 26
tados pelo CERIS entram em choque com os dados apresentados pelo IBGE. O CERIS apresenta uma Igreja viva e em crescimento, já o IBGE apresenta, a mesma Igreja, em decadência e com grande perda de fiéis. Quem está certo? O CERIS ou o IBGE? Esses questionamentos abrem espaço para a terceira e mais importante reflexão, ou seja, o papel evangelizador da Igreja no Brasil nas últimas quatro décadas. De um lado, não se pode negar o crescimento dos movimentos espirituais católicos. A consequência desse crescimento é o aumento das vocações sacerdotais, da vida religiosa, do aumento das novas comunidades e outras coisas. Todo esse amplo movimento é retratado no censo realizado pelos CERIS. Do outro lado, não se pode negar que milhões e milhões de brasileiros deixaram as fileiras do catolicismo nas últimas décadas. São cidadãos que ou eram católicos apenas por nominação, conhecidos justamente como “católicos do IBGE”, ou não tinham uma sólida formação doutrinária ou, pior ainda, não encontraram dentro da estrutura eclesial, onde estavam inseridos, uma sólida formação espiritual e doutrinal. Seja como for, a verdade é que a Igreja Católica no Brasil perdeu grande parte do seu rebanho e, entre outras coisas, o Brasil pode perder o “título” de maior país católico do mundo. São muitos os fatores que conduzem a essa realidade. Entre esses fatores é possível citar, por exemplo, o secularismo, a programação neopagã apresentada pela grande mídia, o discurso antirreligioso presente nas universidades e a pregação fácil de muitas igrejas protestantes, conhecida como teologia da prosperidade, que fala abertamente que se o cidadão mudar de religião vai ganhar dinheiro, ter cartão de crédito, carro novo e muitos outros objetos de consumo. Todos esses fatores são parte da verdade. No entanto, tem uma parte da verdade que não está sendo lembrada. Essa parte é justamente a culpa da própria estrutura católica, no Brasil, ser responsável pelo fenômeno da grande perda de fiéis vividos pela Igreja. Não é nenhuma novidade que, no Brasil, desde o final da década de 1960, passando pelo período da década de 1970 até meados da década de 1990, a Igreja deixou, um tanto quanto de lado, a missão, dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo, de Evangelizar. Essa missão é sintetizada pelo
e a Igreja Católica mandado de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 18, 15). Por causa dessa missão o Apóstolo Paulo afirma que “porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (I Coríntios 9, 16) e, por isso, conclui que o “viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1, 21). O problema é que no Brasil a Igreja, no último quarto do século XX, resolveu adotar uma postura moderna, progressista e que chegou ao ponto de se autointitular de libertadora. Era uma Igreja que não pregava o evangelho, que só falava em social, que pregou e, até mesmo, engajou-se na luta política, especialmente na luta dos partidos políticos de esquerda. Uma Igreja que dizia que o pecado era apenas social, que, de certa forma, o Reino de Deus é comida e bebida e, com isso, quase negou a pregação bíblia que afirma que o “reino de Deus não é comida nem bebida” (Romanos 14, 17). Era uma Igreja que participava de invasões de terras e de empresas públicas, de greves e de piquetes em frente de fábricas. No entanto, essa mesma Igreja, tão moderna e libertadora, não usava hábito religioso, não ouvia confissões, não orientava espiritualmente os fiéis. Era, em síntese, uma Igreja que não cumpria sua missão, ou seja, de evangelizar. Era uma Igreja próxima, até de mais, do mundo, do secularismo, das reivindicações sociais. É claro que a Igreja deve dialogar com o mundo, com o secularismo e com as lutas sociais. Muitas dessas lutas são justas e encontram fundamento no Evangelho. Entretanto, a grande missão da igreja é a pregação do Evangelho e, por conseguinte, a santificação das almas. Sem isso não existe libertação política e social. A consequência dessa postura pastoral da Igreja no Brasil, muitas vezes chamada de “opção preferencial”, é o que o teólogo Clodovis Boff (irmão de Leonardo Boff) classifica, no artigo Teologia da Libertação e a volta aos fundamentos, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira, um dos porta-vozes, no Brasil, da Igreja progressista, moderna e libertadora. Segundo ele, isso aconteceu porque no Brasil se tentou
transformar a Igreja em uma simples organização de caridade social, um braço instrumentalizado do movimento social. Esse grave equívoco conduziu a Igreja a ficar destituída de suas funções missionárias e do anúncio da Verdade Salvadora. Por sua vez, os fiéis ficaram perdidos, sem direção e orientação espiritual, muitas vezes sendo obrigados a recorrem a ajuda das seitas protestantes e de religiões neopagãs, a sociedade e principalmente os pobres deixam de ser assistidos pelos organismos da Igreja ligados a doutrina social católica. Diante de um quadro tão problemático e tão desestimulador, apresentado por Clodovis Boff, não admira que milhões e milhões de brasileiros tenham deixado as fileiras do catolicismo e entrado em diversos outros segmentos religiosos, como, por exemplo, as igrejas protestantes, o espiritismo, as religiões neopagãs e até mesmo no indiferentismo religioso e em alguma forma de ateísmo. Para usar um ditado popular é como se, no Brasil, a Igreja Católica não tivesse “feito o dever de casa”. Nas últimas décadas a Igreja fez um nobre trabalho social, o qual deve ser reconhecido e até mesmo elogiado. No entanto, quase não cumpriu sua missão específica, para a qual foi instituída pelo próprio Jesus Cristo, ou seja, pregar o Evangelho e santificar as almas. Se a Igreja tivesse feito a denúncia social e, com isso, transformado as estruturas injustas da sociedade e, ao mesmo tem-
po, pregado o Evangelho e santificado as almas, é possível que ela tivesse até perdido alguns fiéis. Afinal até mesmo Cristo foi abandonado e renegado. No entanto, a perda de fiéis, a grande sangria, seria bem menor. Faltou a Igreja no Brasil ser autenticamente católica. Por fim, é preciso observar que a grande missão da Igreja é o anúncio do Evangelho. Justamente o Evangelho que está acima de todas as ideologias e doutrinas políticas e sociais. O Evangelho que santifica, que obriga a mudança de vida, que une o fiel a Cristo, o Salvador, que transforma o mundo e a sociedade. A opção preferencial da Igreja tem que ser sempre por Jesus Cristo e pelo Evangelho. Foi essa opção que fez a Igreja completar 2.000 anos de existência. É por essa opção que temos que viver e morrer. Bibliografia Consultada: BOFF, Clodovis. Teologia da Libertação e a volta aos fundamentos. In: Revista Eclesiástica Brasileira, v. 67, n. 28, outubro de 2007, p. 1001-1022. PAPA BENTO XVI. Discurso do Papa Bento XVI aos prelados da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil dos Regionais Sul 3 e Sul 4 em visita «Ad Limina Apostolorum» em 05 de dezembro de 2009, n. 3. In: Repórter de Cristo. Disponível em http://reporterdecristo.com/papa-condena-outravez-a-teologia-da-libertacao. Acessado em 26/03/2012. In Guardia - 27
TOP 10 In Guardia Os mais vendidos da Editora Ecclesiae A metodologia para determinar os 10 mais vendidos foi a observação das vendas no período indicado nos seguintes sites: ecclesiae.com.br, livrariatradicao.com. br, artigocatolico.com.br. Nós computamos também as vendas feitas para distribuidoras e livrarias católicas que totalizam 72 pontos de venda.
Poder Global e Religião Universal
Autor: Monsenhor Juan Cláudio Sanahuja Editora: Ecclesiae Descrição: O livro do Monsenhor Juan Cláudio Sanahuja fala da atual crise da Igreja que é muito grave principalmente nos aspectos que afetam o respeito à vida humana e à família. Citando Michel Schooyans, este afirma que a Nova Ordem Mundial, “do ponto de vista cristão, é o maior perigo que ameaça a Igreja desde a crise ariana do século IV”, quando, nas palavras atribuídas a São Jerônimo, “o mundo dormiu cristão e, com um gemido, acordou ariano”. Soma-se à tudo isso a atitude vacilante de muitos católicos perante a ditadura do politicamente correto, muito mais sutil que as anteriores e que reivindica a cumplicidade da religião, uma religião que por sua vez não pode intervir nem na forma de conduta nem no modo de pensar. A nova ditadura corrompe e envenena as consciências individuais e falsifica quase todas as esferas da existência humana. A sociedade e o estado excluíram Deus, e “onde Deus é excluído, a lei da organização criminal toma seu lugar, não importa se de forma descarada ou sutil. Isto começa a tornarse evidente ali onde a eliminação organizada de pessoas inocentes – ainda não nascidas – se reveste de uma aparência de direito, por ter a seu favor a proteção do interesse da maioria”.
3) Consagração à Nossa Senhora Autor: Pe. Paulo Ricardo Editora: Ecclesiae
4) Tratado da Verdadeira Devoção Autor: São Luís Maria Grignion de Monfort Editora: Arca de Maria 5) Todos os Caminhos levam a Roma Autor: G. K. Chesterton / Editora: Oratório 6)Batismo Autor: Pe. Paulo Ricardo / Editora: Ecclesiae 7) O Inferno Autor: Monsenhor Louis Gaston de Ségur Tradução: Diogo Chiuso / Editora: Ecclesiae 8) Os Padres da Igreja I Autor: Bento XVI / Editora: Ecclesiae 9) As Virtudes Morais Autor: São Tomás de Aquino Tradutores: Dr. Paulo Faitanin e Bernardo Veiga / Editora: Ecclesiae 10) Em busca de sentido Autor: Viktor Frankl Editora: Vozes
Autor: Olavo de Carvalho Editora: VIDE Editorial Descrição: O que é pensar? O que une Kant às decisões da ONU em favor de um governo global? Por que o culto da ciência “começa na ignorância do que seja a razão e culmina no apelo explícito à autoridade do irracional”? Essas e outras questões são respondidas por Olavo de Carvalho neste livro que reúne alguns de seus textos produzidos nos últimos anos. Mas devemos ler Olavo de Carvalho? Há duas respostas possíveis: a dos seus detratores, sempre negativa. E a dos que se recusam a aceitar o doutrinamento da Weltanschauung pós-moderna, que, amealhando adeptos entre liberais e esquerdistas, baseia-se num tripé corruptor: relativismo, hedonismo e ateísmo. Olavo sabe que, para uma efetiva In Guardia - 28
resistência cultural, os que desejam se manter lúcidos devem possuir um corpo teórico consistente, capaz de apresentar respostas persuasivas ao mundo de falso desvanecimento do homem contemporâneo e de advogar em defesa da verdade, o valor mais vilipendiado nos dias atuais. Assim, frente aos ideólogos cujo objetivo é nos convencer de que princípios e valores são obstáculos à liberdade, Olavo denuncia a ditadura do relativismo – a arma que restou à esquerda diante do fracasso da ditadura do proletariado. E o faz com seu estilo característico, que lhe permite, como ele mesmo diz, “transitar livremente entre o discurso acadêmico e a voz do coração”, movido por seu objetivo “quase obsessivo: a busca do Supremo Bem”. Nada é pequeno neste livro. A resposta
a certos polemistas transforma-se nos degraus que Olavo transpõe para ensinar arquitetura gótica ou recolocar a lógica como elemento acessório da produção filosófica. Desmonta Martial Guéroult, presta tributo à inesquecível figura de Stanislavs Ladusãns, rebate Peter Singer, Richard Dawkins e outros pseudoluminares. E o faz seguindo o método que propõe a seus alunos: espantar-se frente à realidade da experiência. Mas não só. Olavo de Carvalho nos recorda que não esquecer nossa condição mortal é o ponto de partida da investigação metafísica. Aqui, ele ultrapassa a filosofia – e assemelha-se aos mestres da espiritualidade monástica, que recomendam a reflexão sobre a própria morte para curar uma das mais nocivas doenças da alma: a acídia.
Carlos Ramalhete
O conhecimento de Deus na Filosofia e na Revelação Continuando esta série sobre o Catecismo, trataremos agora do conhecimento de Deus na Filosofia e na Revelação. São dois conhecimentos de naturezas absolutamente diversas, ainda que ambos apontem, em última instância, para o mesmo Deus. Diz a sabedoria popular que um tatu no alto de uma árvore foi posto lá por alguém. Em outras palavras: se vemos um tatu no alto de uma árvore, em boas condições de saúde, sabemos que alguém passou por aquele lugar há pouco tempo. O tatu não sobe sozinho nem desce sozinho. Se ele está lá, podemos deduzir que alguém lá o colocou; pelo seu estado de saúde podemos saber se está lá há pouco tempo ou se a fome e a sede já colocaram sua vida em risco. O conhecimento de Deus que se pode ter pela filosofia é semelhante, em muitos aspectos, ao conhecimento do colocadorde-tatu desconhecido. Sabe-se que ele existe, sabe-se que ele age, sabe-se que ele se move. Mas não se pode saber muito mais. Pela razão, apenas, é possível afirmar com certeza a existência de Deus, mas não Sua Encarnação, não ser Ele Uno
e Trino, não ser Ele o Deus amoroso e justo que na Revelação nos é dado contemplar. Não existe mudança que não tenha uma causa: tudo o que ocorre pode ser
Pela Revelação, nos é dado ser plenamente, ou seja, ser em Deus. Conhecer Deus, amá-l’O e glorificá-l’O por nossas próprias vidas, sendo, assim, aquilo que somos chamados a ser percebido como decorrência de algo que ocorreu antes. O que ocorreu antes, por sua vez, decorre de algo ainda anterior. Esta regressão não pode, contudo, ir ao infinito; é necessário que haja algo (ou Alguém) que não muda, mas que muda as outras coisas: este Alguém é Deus. A este Deus, que pode ser discernido pela razão, São Paulo chamou de “Deus desconheci-
do” ao ver um altar com esta inscrição em meio aos altares dedicados aos deuses pagãos. Do mesmo modo, podemos perceber que uma Lei nos é natural, que uma certa ordem existe todo o universo. As leis da física continuam sempre as mesmas, e sabemos que todos os dias nascerá o sol. Sabemos, também, e reconhecemos em nossas vidas, que há uma Providência Divina, há um meio pelo qual Alguém muito acima de tudo o que vemos coordena sincronicamente os acontecimentos. Esta percepção já nos leva a reconhecer que o Deus desconhecido dos filósofos é um Deus pessoal, não um mero argumento retórico. É esta percepção que nos prepara para que possamos aceitar a Sua Revelação. Deus, tendo-nos preparado para aceitá-l’O e reconhecê-l’O, revelou-Se progressivamente aos homens, d’Ele esquecidos devido ao pecado de nossos primeiros pais. Fez Ele aliança com Noé, e por Noé com todos os homens, deixandonos o arco-íris como sinal. Fez Ele, em seguida, aliança com Abraão e sua descendência física, o povo hebreu. Este povo foi In Guardia - 29
por Ele conduzido e separado, servindo como testemunha por seus atos e por sua presença da existência e da força do único Deus verdadeiro. Na descendência de Abraão segundo a carne, na plenitude dos tempos, a Revelação se completou, ao fazer-Se carne o Verbo de Deus. Ou seja: Deus correspondeu plenamente ao anseio dos homens por conhecê-l’O, fazendo perfeito uso das capacidades por Ele criadas no homem, dos desejos do Infinito que marcam cada um de nós. Assim se tornou possível, pela primeira vez, um conhecimento de Deus que vai muito além do conhecimento que apenas a Razão pode nos dar. O conhecimento de Deus pela Revelação – que nos é transmitida pela Igreja e na Igreja – completa o conhecimento obtido apenas pela razão, e nos dá meios para que entendamos, sem mistura de erro e com certeza, as Verdades que podem nos levar à Salvação. Pela Revelação, sabemos que Deus é Uno e é Trino. Pela Revelação, sabemos a que somos chamados, a que leva, auxiliada pela graça, esta natural “capacidade de Deus” que o homem tem. Sem ela, o homem não tem como encontrar perfeitamente o seu destino. Sem ela, o homem é como uma ferramenta ignorada, cujo objetivo não pode ser dis-
Aula de catequese de Dom Bosco aos jovens de seu oratório
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cernido. É por isso que quem a ignora, no mais das vezes, torna-se escravo dos próprios sentidos. Sem a Revelação, é fácil convencer-se que o prazer vale mais que a justiça, que o orgulho vale mais que a retidão e a verdade. Com ela, contudo, temos como levar a cabo o nosso fim último, o objetivo de nossa criação. Fomos criados por Deus para glorificá-l’O, o que fazemos sendo santos, sendo plenamente e totalmente
Sem a Revelação, é fácil convencer-se que o prazer vale mais que a justiça, que o orgulho vale mais que a retidão e a verdade quem Deus nos criou para ser. Deus nos criou diferentes, deu-nos talentos diversos e vocações variadas. E cada um de nós é chamado a fazer com que estes talentos prosperem, que estas vocações sejam ouvidas e atendidas, que as diferenças entre os homens sejam causa não de discórdia, mas de harmonia. Com o que nos é dado saber pela Revelação – expressa na Tradição Oral e Escrita e definida pelo Magistério da Igreja – podemos encontrar, assim, o caminho
para algo que vai muito além do mero reconhecimento da existência de Deus. Com ela, podemos perceber o sentido de todos aqueles sinais que nos apontam para Deus, e elevar a Ele não só nosso olhar, mas nosso próprio ser. Pela Revelação, nos é dado ser plenamente, ou seja, ser em Deus. Conhecer Deus, amá-l’O e glorificá-l’O por nossas próprias vidas, sendo, assim, aquilo que somos chamados a ser. A Igreja, que nos dá acesso a este tesouro maravilhoso, expressa-se em palavras humanas, e nos fornece, na Pessoa d’Aquele que é Deus verdadeiro e homem verdadeiro, o caminho para alcançar a Deus. Da Criação, podemos, assim, discernir que Há Deus. Na Revelação de Deus a nós, podemos ir muito além disso; podemos discernir o homem e toda a Criação à luz de Deus, identificando o caminho a seguir para que possa ser efetuada esta re-ligio, esta “re-ligação”, ou “religião”, que finalmente nos pode unir a nosso Criador. Ele, fazendo-Se homem, veio ao nosso encontro. Nós, acolhendo-O no Seu Corpo Místico, que é a Igreja, podemos, finalmente, responder a este chamado, saciando plenamente o anseio que todo homem sempre teve de sair do finito para a eternidade, do imanente para o transcendente, do mesquinho ao Sumo Bem.
Lenise Garcia
A Santa Sé na Rio+20 Foi bastante comentada a intervenção da Santa Sé que, juntamente com algumas delegações de países, conseguiu que se omitisse do texto final da Conferência Rio +20 a referência a “direitos sexuais e reprodutivos”, o já conhecido disfarce da palavra “aborto”. Em outro momento, pretendo também voltar-me sobre esse assunto, mas gostaria primeiro de destacar as propostas positivas da Santa Sé na mesma Conferência, que foram bem menos divulgadas. Em síntese, o documento apresentado pela delegação oficial destacou que a busca de soluções à problemática ambiental não pode ser separada da compreensão do ser humano, que é “importante chegar a combinar a técnica com uma forte dimensão ética baseada na dignidade da pessoa humana”. Esses princípios levam à centralidade do ser humano no desenvolvimento sustentável. Para se conseguir isso, foram elencados 4 pontos principais, “que têm claras repercussões éticas e sociais em toda a humanidade”: 1. A Rio +20 poderia dar uma contribuição para a redefinição de um novo modelo de desenvolvimento, que tenha um foco especial nas pessoas em situações mais vulneráveis. Para isso seria preciso levar em conta vários princípios, entre os quais: a. - A responsabilidade, com a necessária mudança no estilo de vida e de padrões de produção e consumo; b. - A promoção e a partilha do bem comum; c. - O acesso aos bens primários, como a nutrição, a educação, a segurança, a paz, a saúde; “neste último caso, deve ser sempre lembrado que o direito à saúde decorre do direito à vida: o aborto e a contracepção são ferramentas que se opõem gravemente à vida e não podem ser consideradas questões de saúde”; d. - O cuidado da criação, conectada com a equidade entre gerações; e. - O destino universal não somente dos bens, mas também dos frutos da atividade humana.
2. O princípio de subsidiariedade, intimamente ligado ao princípio da solidariedade, reconhecendo e valorizando o papel da família e colocando no centro da vida econômica a dignidade humana, o bem comum e a salvaguarda da criação. 3. A conexão entre o desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento humano integral, tendo em conta os valores éticos e espirituais que orientam e dão significado às escolhas econômicas, dado que cada decisão econômica tem uma consequência de caráter moral. Isso sinaliza para uma mudança dos indicadores de desenvolvimento. 4. Uma definição de “economia verde” que tenha como foco principal o desenvolvimento humano integral, com modelos de consumo e de produção apropriados, respeitando não apenas o ambiente, mas também a dignidade do ser humano. Como se vê, são propostas totalmente harmônicas com a Doutrina Social da Igreja, muitas delas já explicitadas em documentos anteriores, como a Caritas in Veritate e a mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2.010. Essa centralidade do ser humano contrapõe-se a duas tendências opostas, que equilibra, e serve inclusive para facilitar a convergência de grupos que sempre se defrontam quando se fala em desenvolvimento sustentado. Por um lado, temos os grupos que tendem a defender os “direitos da natureza” em si mesma, com uma perspectiva que pode se aproximar de um esoterismo panteísta. No lado oposto, os adoradores da “deusa Economia”, que se recusam a admitir que a atual crise evidencia a necessidade de uma mudança de estilo de vida que envolve não poucos valores morais. Por mais que sejam importantes os debates e acordos internacionais, a chamada “Economia verde” só terá sucesso se acompanhada por uma mudança de mentalidade, por uma – por que não dizê-lo? – conversão, no que se refere aos valores que orientam a vida social. Além de verde, ela é da cor de todas as etnias humanas.
Delegação da Santa Sé, chefiada por Dom Odilo Scherer, na Rio+20 In Guardia - 31
Paulo Cremoneze
A falácia do “ambientalismo” e o fiasco da Rio+20
Tenho visão cética relativamente a Rio+20. E alerto: não porque é no Rio, Brasil, mas pela temática mesmo. Se fosse Roma+20 minha visão seria a mesma. É óbvio que é preciso cuidar do meio-ambiente, mas acredito existir muitas mentiras e exageros em torno do assunto. O tal aquecimento global, já está demonstrado, não é tão quente como os primeiros prognósticos acusavam. Os estragos também não são tão horríveis e irreversíveis assim… Penso que essa festa internacional para alimentar ONGs e edulcorar cientistas do segundo time não levará ninguém a lugar algum e tem por pano de fundo desfocar a opinião pública da crise financeira mundial. A crise econômica é muito mais importante do que a suposta crise ambiental. Aliás, alguns especialistas sérios, não engajados politicamente, acusam a “fobia” ambiental de ser um dos elementos do cadinho da alquimia da crise financeira. Ninguém duvida da importância de se proteger o meio-ambiente. Quem é religioso como eu encara a tutela da natureza como dever imposto pelo próprio Deus ao homem. Todavia, é
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o homem o centro do meio-ambiente e suas necessidades imediatas, com todo respeito, são mais importantes do que a proteção do mico-leão-dourado ou o ciclo reprodutor das baratas do antigo Ceilão. Ê preciso discutir produção de bens, circulação de riquezas, tributação, geração de empregos, fornecimento de alimentos, educação, incremento das cadeias de consumo. Depois, o meio-ambiente, os índios, etc, esses assuntos “politicamente corretos” que tanto agradam os pseudo-intelectuais, os ativistas político-ambientais, os que vivem de bolsas, incentivos, projetos, os que não produzem, enfim, os que formam o rebotalho do mundo. O desabafo contundente e que tangencia a deselegância é imperioso porque estou literalmente farto de ver enganações como esta desfilarem diante dos meus olhos e inteligência. Não aguento mais observar o casuísmo político usado para temas tão importantes como este, o ambiental. Impossível não ver em tudo isso as mãos obscenas do marxismo cultural e do relativismo moral.
Por Kairo Neves
As Celebrações Litúrgicas na Ausência do Presbítero
Os ministros ordenados exercem grandes ministérios junto à liturgia, seja na administração dos sacramentos, seja na pregação da sã doutrina. Seu ministério é indispensável para a vida da igreja. Desde o ministério petrino, vínculo da unidade da Igreja, passando pelo ministério episcopal, sumo sacerdócio, até o serviço dos padres e diáconos que, em cooperação com o Bispo, exercem o pastoreio de todas e cada uma das almas. Ocorre por vezes, que a presença de um ministro ordenado, em particular de um presbítero não é possível a uma ou outra comunidade. A Igreja tem consciência dessa situação e se preocupa com a vida sacramental dessas almas. Para isso, tanto o Código de Direito Canônico, quanto os livros litúrgicos apresentam ritos a serem utilizados nessas situações. Não se deve, porém, abusar de tais permissões. Criando comunidades subparoquiais, com o simples objetivo de “descentralizar” as celebrações dos templos. Esse erro é uma traição às comunidades primitivas que sempre tiveram seu fundamento na presidência do Bispo e, depois, de seus representantes, os presbíteros. A comunidade deve se esforçar por estar na presença do sacerdote, seja se unindo a igrejas maiores por ocasião das celebrações mais solenes do ano, seja por uma maior flexibilidade nos horários das missas dominicais que permita ao sacerdote celebrar. Persistindo a impossibilidade da presença do ministro ordenado, a comunidade cristã celebre a palavra de Deus e, se for o caso, também os sacramentos que lhes são permitidos. Os sacramentos que validamente se celebra na ausência do presbítero são o Batismo, o Matrimônio e ainda a distribuição da Sagrada Eucaristia, previamente consagrada. Batismo Os ministros ordinários do Batismo são o Bispo, os presbíteros e os diáconos. Ocorre, porém, que o ordinário local pode designar um catequista ou outra pessoa para conferir o batismo, segundo o cânon 861 §2. Esse leigo confere, de acordo com o ritual do batismo, o sacramento da iniciação cristã consoante a orientação do Bispo. Em função da importância deste sacramento, em casos de verdadeira necessidade, qualquer pessoa, mesmo não batizada, pode conferir validamente o batismo, utilizando matéria, forma e intenção válidas. Matrimônio Os ministros do matrimônio são os nubentes. Apesar disso, a Igreja considera válidos apenas os matrimônios realizados na presença de um ministro autorizado, In Guardia - 34
normalmente o Bispo ou Pároco ou outro clérigo designado por um deles. Nas regiões de escassez de clérigos, o Bispo diocesano, obtida a permissão da Santa Sé, pode designar leigos idôneos para assistir matrimônios e receber, em nome da Igreja, o consentimento dos nubentes. Celebração da Palavra (com comunhão eucarística) Os casos anteriores ocorrem, naturalmente, apenas em situações extremas em que os sacerdotes ficam um período longo sem se fazer presente na comunidade. O
É natural que as celebrações litúrgicas tendam a ser presididas por clérigos, de maneira marcante por presbíteros, até por conta do ministério de dispensar os sacramentos, em particular consagrar a Santíssima Eucaristia que leva a necessidade de se designar leigos para administrar esses sacramentos. Entretanto, há de se considerar também celebrações na ausência do presbítero em casos menos raros. Por exemplo, em uma paróquia com muitas igrejas, onde o sacerdote não pode celebrar no domingo em todas as igrejas. É natural que, de acordo com a situação pastoral, o sacerdote consagre a eucaristia a ser distribuída durante a celebração da palavra realizada naquela igreja no domingo. Essa celebração deve-se realizar com alguns cuidados. O primeiro deles é que os fiéis devem ser avisados que não se trata de missa. Muitas vezes ocorre confusão, por um horário de missa ser substituído ocasionalmente por Celebração da Palavra. Os fiéis têm o direito de serem informados, uma vez que, havendo possibilidade, é dever deles ir à Santa Missa. A Santa Sé diz, ainda, que não se deve fazer tal celebração numa igreja em que a missa já foi celebrada ou vai ser em horários posteriores no mesmo domingo, ou ainda em que foi celebrada no sábado anterior. Tais celebrações são presididas por um, e um único, leigo. Este age como “um entre os iguais”. Em se tratado de um seminarista, pode usar batina e sobrepeliz ou alva e cíngulo. Antes da celebração devese preparar o lecionário. Se for o caso de
se distribuir a comunhão também o corporal, a galheta com a água, a chave do sacrário e a patena. Sendo necessário, também cibórios. Sobre o altar ou perto dele estejam dois castiçais com velas acesas. Não se acende o círio pascal, e não se admite o uso de incenso. O rito aprovado para esta celebração é muito diferente do Rito da Missa. Deve-se descontruir urgentemente a ideia de que a celebração da palavra é uma adaptação da missa. As expressões “o Senhor esteja conosco” ou “abençoe-nos o Deus todo poderoso...”, por exemplo, simplesmente não existem. O ritual com todas as fórmulas a serem usadas são descritas no ritual “Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa”. É um rito bem mais simples que o da Missa. Pode-se iniciar o rito com uma pequena procissão. Para ressaltar que a importante figura do sacerdote não se encontra presente, aquele que preside pode levar nas mãos uma estola da cor da liturgia que se celebra e colocá-la sobre a cadeira do sacerdote; ou realizar outro gesto simples que seja inteligível aos fiéis. Na cadeira do sacerdote, não se assentem os leigos, sob nenhuma circunstância. Os ministros fazem reverência ao altar e sobem ao presbitério. Ninguém beija o altar. Os ritos iniciais constam de uma saudação simples “Irmãos e Irmãs, bendizei a Deus...”. Pode parecer estranho ao cos-
tume das comunidades, mas o ritual não diz que se deva começar a celebração com “Em nome do Pai...”. O ato penitencial é feito como na Santa Missa, com uma das três fórmulas do Missal. Entretanto, não se acrescenta depois do ato penitencial o Kyrie. De igual maneira, o Glória e a Coleta não existem nessa celebração. Passa-se então à liturgia da Palavra. Aquele que conduz a celebração, bem como os que lhe auxiliam toma lugar em cadeiras preparadas junto da assembleia fora do presbitério. Sendo domingo, fazem-se as leituras do Lecionário Dominical, de forma habitual; em outros casos, podem-se usar os textos do dia ou outros mais apropriados. O evangelho é lido por um leitor, omitindose a saudação “O Senhor esteja convosco”. Como não é permitido aos leigos fazer homilia, esta se deve omitir. Entretanto, por concessão do Bispo local, pode-se autorizar àquele que preside a celebração que leia uma homilia escrita pelo pároco ou outro clérigo. Não se diz o Credo, mesmo em domingo ou festa; faz-se a Oração dos Fiéis. É uma ocasião importante para se rezar, entre outras coisas, pelo clero, pelas vocações às ordens sagradas e pelo pároco. Se não há distribuição da comunhão, reza-se o Pai Nosso e a oração conclusiva. Executam-se os ritos finais e os ministros
se retiram. Havendo distribuição da Sagrada Comunhão, passa-se à segunda parte da celebração. Se os ministros foram se sentar junto da assembleia, voltam ao presbitério nesse momento. Abre-se o corporal sobre o altar. Aquele que preside, se for o caso, acompanhado por alguém que o auxilie, vai ao sacrário, tomam os cibórios e os coloca sobre o altar. Genuflete. Nesse momento pode-se fazer um ato de adoração, uma oração de ação de graças ou algo semelhante. É conselhável inclusive cantar um hino litúrgico como o Glória ou Magnificat; mas devese evitar qualquer tipo de adaptação de oração eucarística. Aquele que preside e os que o auxiliam pode colocar-se nesse momento de frente para o altar, todos se ajoelham ao menos por alguns instantes diante da Santíssima Eucaristia. Depois disso, reza-se o Pai Nosso, excluindo-se o embolismo, passa-se ao beijo da paz, se for o caso. Então, é feita a apresentação da hóstia e a comunhão. Todas as orações silenciosas que ocorrem na missa não aparecem nesse rito, com exceção da que aquele que preside reza antes de comungar “Que o Corpo de Cristo me guarde para a vida eterna”. Diferentemente das outras ocasiões, é permitido ao leigo que preside, e somente a ele, comungar pelas próprias mãos. A comunhão é distribuída como de
costume. Depois da comunhão, guarda-se certo tempo de silêncio sagrado. Aquele que preside pondo-se de pé, diz “Oremos” e conclui com a oração depois da comunhão. Os ritos finais, a serem usados tanto quando há distribuição da comunhão, quanto no outro caso, constam da fórmula “O Senhor nos abençoe, nos livre de todo mal...”, a mesma do final de Laudes e Vésperas; e a despedida costumeira “Ide em paz que o Senhor vos acompanhe”. Liturgia das Horas Não poderíamos deixar de falar, é claro, da oração que a Igreja eleva aos céus durante todo o dia. A liturgia das horas, um conjunto de orações distribuída ao longo do dia, é um tipo de liturgia que a igreja realiza ininterruptamente. Os clérigos e os religiosos são obrigados a rezá-la, ao menos individualmente. Aqueles que vivem em clausura, os cônegos e alguns outros a fazem sempre em comunidade. Também os leigos são convidados a rezar a liturgia das horas, principalmente as horas mais importantes, Laudes e Vésperas _ oração da manhã e da tarde. Essa oração se pode fazer de maneira individual ou de maneira comunitária e esta última pode ser ainda de forma cantada. Nessa celebração, as partes próprias do presidente da celebração podem ser feitas por um leigo, de seu próprio lugar na assembleia. As leituras e preces podem ser feitas do ambão, sendo os leitores os únicos a subir ao presbitério. Incenso e homilia estão, naturalmente, fora de cogitação. Todos ficam de pé durante o hino, as preces, o cântico evangélico e as orações e sentados durante a salmodia e as leituras. A liturgia das horas pode, ainda, ser celebrada diante do Santíssimo Sacramento exposto. Conclusão É natural que as celebrações litúrgicas tendam a ser presididas por clérigos, de maneira marcante por presbíteros, até por conta do ministério de dispensar os sacramentos, em particular consagrar a Santíssima Eucaristia. Entretanto, a Igreja olha com atenção também aquelas comunidades que não dispõem de clérigos, autorizando-as a celebrar os sacramentos que se pode confiar aos leigos, a distribuir a Santíssima Eucaristia, celebrar a Palavra de Deus e oferecer o sacrifício de seus lábios. A Igreja, enquanto Mãe e Mestra, é também sábia ao lembrar constantemente essas comunidades da importância do sacerdócio e de seu valor indispensável à salvação das almas, de modo que essas comunidades não se queiram tornar “republicanas”, mas estejam sempre à espera do Rei Jesus que vai ao encontro delas na humilde figura do sacerdote. In Guardia - 35
Evelyn Mayer de Almeida
O pai e o mundo moderno Quando nos perguntamos sobre o papel de pai no mundo moderno, as respostas que se nos dão são as de que este papel mudou: hoje, o pai saiu do papel de “opressor, tirano e totalitário” para um baby-sitter moderno. Dezenas, diria até centenas de matérias, vídeos, reportagens e afins mostram – orgulhosos! – os homens que decidiram realizarem-se (cof!) no papel de “donos de casa”. São tão generosos, tão homens-beta que, a fim de demonstrarem sua sensibilidade à realização da esposa, ficam em casa e viram a “Amélia”. Mal sabem estes pais (e mães) que colaboram absurda e ingenuamente para com este programa ideológico e partidário feminista vigente em nossos tempos. Com a ascensão do feminismo, colocar a mulher como dona de casa é mantê-la em submissão ao esposo. Ser submissa é viver sob a opressão machista. Qual a forma “lógica” em “oprimir” o homem, fazendo-o sentir física, emocional e socialmente o que as mulheres sentiram por séculos? Fadá-los ao serviço doméstico. E, assim, os filhos crescem sem compreenderem o que, de fato, representam pai e mãe na sociedade, bem como eles mesmos. Quer dizer então, Evelyn, que você é contra o homem fazer o serviço doméstico? Não. Meu marido, por exemplo, me ensinou a fazer grandes coisas quanto a isto. Mas, depois de ensinado, não tocou mais a mão, porque compreendeu que agora eu sei, logo domino o mesmo. Entretanto, quando ele nota que estou apurada e/ou sobrecarregada, prontifica-se em auxiliar-me sem que eu peça. Quanto a isso, sou favorável. Contudo, jamais aceitaria que meu esposo viesse a desempenhar o trabalho de dono de casa. E o motivo é simples: não foi para isso que ele foi criado. Os homens, por mais caprichosos que sejam (e o são!) não têm a delicadeza das esposas em pensar nos detalhes mínimos para a casa: enxoval, louça, decoração, flores... Evidenciar isso não é desmerecer os homens. Ao contrário: é dizer que homens têm papéis diferentes das mulheres. Do mesmo modo, não sou favorável que a mulher deva assumir uma profissão de autorrisco, que exija dela uma força descomunal apenas para provar que pode fazer tudo semelhante ao homem. Por qual motivo? Competição?! Que absurdo! Qual a necessidade em perder toda a feminilidade para mostrar-se “tanto quanto” competente ao homem? Sendo o homem mais forte por natureza, que seja ele a fazer o que a Natureza lhe incubiu. Enquanto isso, nós – mulheres – lhes satisfazemos e completamos com a doçura que nos cabe. E, me desculpem as feministas, mas não encontro nisso machismo, e sim, realidade. Verdade! Em uma sociedade como a nossa, é fato que a mulher está praticamente vetada ao serviço doméstico. Com uma renda apertada, pouco tempo e/ou condições para formar-se, o homem tem necessitado do apoio de sua companheira
para que os filhos tenham comida à mesa. A mulher tem saído de casa mais do que deveria. Não acredito que isso seja culpa dela ou dele (somente), e sim, de uma sociedade que se descristianizou. Retirando Deus do centro do universo, racionalizando todo e qualquer pensamento e paradigma (leia-se “tabu”), nossa sociedade passou a ver cada ser humano como um ser “unissexualizado”. Logo, homens e mulheres devem ter direitos e deveres como se, naturalmente falando, fossem iguais, o que não procede. Não é de hoje que a mulher trabalha para auxiliar o marido nas rendas de casa. A mulher citada em Provérbios 31, 10-31, mostra que, além de cuidar do marido e da casa, ela faz trabalhos artesanais para auxiliá-lo na renda. E a alegria desta mulher está em saber que o coração de seu marido a ela está confiado (cf. PV 31,11). E isso só foi possível porque esta é temente ao Senhor. Temer ao Senhor, algo quase que inexistente em nossos dias. Cabe a nós, cristãos, lembrar que neste dia dos pais devemos exaltar o real papel do homem na família: chefe. Devemos, como aqueles que desejam imitar o Cristo, fazer valer o modelo de família que, antes, exortou-nos Paulo: “as mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador [...] Maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo e pela palavra [...] Em resumo, o que importa é que cada um ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.” (Efésios 5, 22-23; 25-26; 33).Ora, dar ao homem o papel de chefe não é dar-lhe o mastro de prepotente, mas de zelador. Note que Paulo compara a vocação de esposo ao de Cristo, evidenciando quão duríssimo é ser esposo quanto espera o Senhor. Zelar pela esposa, santificá-la, fazer de sua casa um lar que bendiga ao Senhor (cf. Js 24, 15) é algo possível àquele que em Deus confia. Cabe a nós, também, esposas, observar se não estamos “castrando” os nossos maridos. Com o advento feminista, muitas de nós procuramos tanto nos autorrealizarmos (como se o fato de sermos donas de casa, esposas e mães fosse um sacrilégio) que acabamos por impedir, e até mesmo castrar os nossos esposos. Não lhes damos mais o direito de advogar em nosso favor, não lhes pedimos conselhos tanto quanto deveríamos fazer, colocamos nossas vontades e direitos acima das deles que estes acabam perdidos quanto o seu papel neste núcleo familiar. Submissão não é viver à sombra, mas auxiliar os maridos que nos guiam para Deus. É fazer com que o marido brilhe e o brilho dele seja também o da mulher, que o apoia, que o consola e serve de suporte para toda a vida. Nenhuma mulher que faça valer o seu papel de esposa se sente triste, como pintam as ‘feminazis’. Todas elas sabem que honrar o seu esposo é papel primordial no caminho da salvação. Sabem que, honrando seus maridos, seus filhos terão alegria ao ver que o pai é o reflexo de Deus, da esperança em suas vidas. Que São José, pai adotivo de Jesus e benditíssimo esposo da Virgem Santíssima possa abençoar todos os pais neste dia. Que ele também ensine os homens e as mulheres de nosso tempo viver o sagrado sacramento do matrimônio como ensinou-nos São Paulo, pois é isto que de nós espera o Senhor.
“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” Mt 7,11
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Por Lizandra Silva
Nossa Senhora de La Salette “A Mensagem que Eu comuniquei em La Salette é urgente e deve ser obedecida por vós e dada a conhecer por vós também aos Meus filhos do mundo todo.” Na tarde do dia 19 de setembro de 1846, na montanha de La Salette, localizada num povoado de mesmo nome nos Alpes Franceses, estavam Maximin Girald, então com 11 anos e Mélanie Calvat, 15, pastoreando o gado de seu patrão. De repente, Mélanie avistou uma luz muito forte que vinha de dentro da mata, uma luz que dava a impressão de serem duas em uma. A luz dividiu-se: uma parte sumiu e a outra permaneceu em uma pedra. A menina chamou Maximin, com um pouco de receio foram ao encontro daquela luz não identificada. A luz era muito intensa, como o sol, mas não queimava os olhos. Ao chegarem mais próximos, perceberam que a luz formava a silhueta de uma mulher, vestida como uma camponesa (um longo vestido, touca, um lenço que se cruzava na frente e nas costas). O que mais chamou a atenção das crianças foram as correntes pesadas que a mulher trazia nos ombros e uma outra corrente mais leve no pescoço, onde havia um incomum crucifixo: nele era possível ver Jesus crucificado, contorcendo-se de dor e de um lado da cruz havia um martelo e do outro um alicate. A cabeça da mulher estava adornada com lindas flores igualmente a seus pés. A mulher estava sentada na pedra, com as mãos cobrindo o rosto. Ela chorava. Cho-
rou durante todo o tempo que permaneceu com as crianças. Mesmo assim, olhou para elas e disse: - Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade! - Se Meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar cair o braço de Meu Filho. É tão forte e tão pesado que não o posso mais suster. Há quanto tempo sofro por vós! Dei-vos seis dias para trabalhar, reservei-me o sétimo, e não mo querem conceder! É isso que torna tão pesado o braço de Meu Filho. E também os carroceiros não sabem injuriar sem usar o Nome de Meu Filho. São essas as duas coisas que tornam tão pesado o braço de Meu Filho. Se a colheita se estraga, não é senão por vossa causa. Eu vo-lo mostrei no ano passado com as batatas, e vós nem fizestes caso! Ao contrário, quando encontráveis batatas estragadas, injuriáveis usando o Nome de Meu Filho. Elas continuarão assim, e neste ano, para o Natal, não haverá mais. A bela senhora então continuou falando, mas somente para Maximin, Mélanie não podia escutar. Algum tempo depois a senhora começou a falar com Mélanie, e Maximin não escutava, eram segredos confiados a cada um, que só depois foram
revelados. E mais uma suplica foi feita a eles em relação à oração: -Fazeis bem vossa oração, meus filhos? - Ah! Meus filhos, é preciso fazê-la bem, à noite e de manhã, dizendo ao menos um Pai Nosso e uma Ave-Maria quando não puderdes rezar mais. Quando puderdes rezar mais, dizei mais. Durante o Verão, só algumas mulheres mais idosas vão à Missa. Os outros trabalham no Domingo, durante todo o Verão. Durante o Inverno, quanto não sabem o que fazer, vão à Missa zombar da religião. Durante a Quaresma vão ao açougue como cães. Depois de conversar com Mélanie e Maximin, ainda com lágrimas no rosto, a Bela Senhora despede-se e sai andando até um ponto do bosque. As duas crianças relataram que seus pés deslizavam sobre a relva. Ela então começa a subir lentamente, ao chegar em uma altura de aproximadamente quatro metros, olha para sua direita onde se encontra Roma e logo para sua esquerda onde está França, volta o olhar para as crianças e se ofusca em meio uma luz muito forte. As crianças voltam para casa e contaram aos patrões a aparição. Muito surpresos escreveram tudo que eles contaram, as características da Senhora, suas palavras e, In Guardia - 37
principalmente, sua mensagem. O Crucifixo de Nossa Senhora de La Salette A cruz chama muito atenção. Mélanie relata que o crucifixo brilhava muito e o Crucificado às vezes parecia morto e outras parecia vivo com os olhos abertos e dando a impressão de estar ali por Sua vontade própria. O martelo do lado esquerdo de Jesus Cristo é um símbolo daqueles que O crucificam todos os dias , com seus pecados, com seu desprezo às leis divinas e com seu ódio pela perfeição. O alicate representa aqueles que o amam e que com suas boas obras diminuem as dores de Jesus, tentando despregá-lo da Cruz. Mensagens e segredos de Nossa Senhora de La Salette Mensagens e segredos importantes, contados a duas crianças pobres, nos fazem entender que o mundo é governado por homens que não possuem a pureza e a inocência necessária e digna para receberem tamanhos tesouros da Virgem Santíssima. Podemos perceber que nas aparições mais importantes de Nossa Senhora está a figura de crianças que acreditaram no que viram e não mediram esforços para transmitir ao mundo as mensagens. Nossa Senhora permitiu a revelação das mensagens endereçadas a Mélanie apenas no ano de 1858, quando ela aparece também em Lourdes. Aos Sacerdotes Ela cita as irreverências e a crise moral dos sacerdotes, ministros de Jesus Cristo, que possuem má vida e celebram os Santos Mistérios de forma indigna principalmente o Santo Sacrifício da Missa. Tornam cada vez mais impuros, por causa do amor ao dinheiro, amor à honras e aos prazeres. “ Ai dos sacerdotes e das pessoas consagradas a Deus que, pelas suas infidelidades e a sua má vida, crucificam de novo o meu Filho!” Previsões Ela prevê grandes desastres na humanidade. A divisão entre aqueles que reinam em todas as sociedades e em todas as famílias. Por tamanhos pecados, Maria diz que seu Filho mandaria grandes castigos que durariam 35 anos. “A sociedade está nas vésperas dos mais terríveis flagelos e dos maiores acontecimentos; serão governados por uma vara de ferro e beberão o cálice da cólera divina”. Ela prevê ainda os desastres causados por Napoleão Bonaparte. Pede para que o Papa Pio IX que “desconfie de Napoleão, o seu coração é duplo e quando quiser ser ao mesmo tempo imperador e papa, em breIn Guardia - 38
ve, Deus o abandonará.” Os Apóstolos dos Ultimos tempos Como para São Luiz de Montfort, a Virgem Santíssima falou na aparição em La Salette para Mélanie sobre os apóstolos dos últimos tempos. Esse foi um dos segredos contados à menina. Maria pediu para que fosse fundado uma ordem religiosa que seguisse os seguintes propósitos : 1º – Padres, que serão os Missionários da Santíssima Virgem e os Apóstolos dos Últimos Tempos; 2º – Irmãs religiosas que dependerão dos Missionários; 3º – Fiéis de vida secular que se queiram associar à obra. A finalidade desta nova ordem religiosa é a de trabalhar-se mais eficazmente na santificação do clero, na conversão dos pecadores e a de propagar o reino de Deus na terra inteira. As religiosas, tal como os missionários, são chamadas a trabalhar com zelo na salvação das almas pela oração e pelas obras de misericórdia corporais e espirituais. Quanto ao espírito da ordem, este deve ser o espírito dos primeiros apóstolos. A Santíssima Virgem caracterizou suficientemente este espírito, seja na regra que Ela me deu, seja no apelo aos Apóstolos dos Últimos Tempos em que finda o segredo”. (Mélanie) “Eu dirijo um urgente apelo à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo que reina nos Céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, aqueles que já se me consagraram a fim de que vos conduza ao meu Divino Filho; os que, por assim dizer, levo nos meus braços, os que têm vivido do meu Espírito; finalmente, chamo os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que têm vivido no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e no desconhecimento do mundo. Já é hora de que saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como filhos queridos meus. Eu estou convosco e em vós sempre que a vossa fé seja a luz que alumie, e nesses dias de infortúnio, que o vosso zelo vos faça famintos da glória de Deus e da honra de Jesus Cristo.” Tempos depois, Mélanie recebe uma visão: “Vejo os Apóstolos dos Últimos Tempos com os seus hábitos. Ele parece-se mais ou menos ao dos sacerdotes dos seus tempos. Numa extremidade da cinta encontram se estas três letras em encarnado: M.P.J. (Mourir pour Jesus – Morrer por Jesus), na outra extremidade as seguintes três letras
em azul: E.D.M. (Enfant de Marie – Filho de Maria)”. Espiritismo Outra profecia que se concretizou tempos depois, foi a previsão de uma religião que seria comandada pelo inimigo, o Espiritismo. A Virgem Santíssima diz em palavras duras que assustam ao ser lidas: ela diz que depois de alguns anos de sua aparição em La Salette, em 1864, Lúcifer e seus anjos seriam soltos na terra. Com suas artimanhas iriam abolir rapidamente a fé de muitas pessoas, até mesmo aquelas que eram consagradas á Deus. Essas pessoas iam ser dominadas por espiritos maus e muitas casas religiosas seriam devastadas pela má fé, fazendo com que suas almas se perdessem. Disse ainda que um mau livro se multiplicaria no mundo, pregando um evangelho contrário ao de Jesus Cristo, negando a existência do Céu e do Inferno, fundando uma igreja para servir à esses espíritos. O demônio se passaria por espíritos de justos já mortos, pregando um outro evangelho, diferente do evangelho do Deus verdadeiro, negando a existência de almas condenadas. E todas essas almas pareceriam unidas ao seu corpo. Ela ainda diz que haveriam prodígios extraordinários feitos por homens. Ainda há dúvida de que Maria falava do Espiritismo? Em 1846, as crianças Mélanie e Maximin descreveram todas essas palavras vindas da boca de Nossa Senhora. Na época eram profecias que não possuíam muita lógica. Mas, 18 anos depois tudo se cumpriu! Por incrível que pareça, exatamente no ano de 1864 no mês de abril em Paris acontece o lançamento do livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allen Kardec, comprovando a profecia falada às duas crianças de La Salette. Devoção O culto a Nossa Senhora de La Salette passou a ser mais intenso no século XX, juntamente com Nossa Senhora de Lourdes em 1858 e Nossa Senhora de Fátima em 1917 que são as três aparições mais famosas da idade moderna. O dia de Nossa Senhora de La Salette é comemorado 19 de setembro. O Santuário está localizado nas montanhas de La Salette (Alpes Franceses) a uma altitude de cerca de 1800m. Sua construção começou em 1852 e foi concluída em 1865. Perto da basílica está o local onde aconteceu a aparição, foram erguidas estátuas de bronze no local que se chama Vale da Aparição.
Padre Mateus Maria
Pastorear é dar a vida Irmãos, precisamos de santos sacerdotes, pastores interessados em se doar para a santificação do povo, precisamos de bispos que seja mais pastores que mercenários interessados no dinheiro e na fama, precisamos de pastores que não estejam interessados apenas em aparecer na mídia, dando o mau exemplo para o clero e o povo de Deus com as bobeiras que às vezes dizem, com a falta de comprometimento com a radicalidade evangélica, com a falta de comportamento clerical, precisamos de pastores que tenham a coragem de erguer as vozes nas catedrais proclamando profeticamente a boa nova, que automaticamente denuncia o pecado, denunciando o abuso de crianças, denunciando o aborto, denunciando a violência urbana, denunciando a prostituição de crianças, jovens e mulheres, denunciando o tráfico de drogas, denunciando a imoralidade sexual, e as mentiras pregadas na mídia em relação às questões bioéticas referentes à inseminação artificial, e etc..., não precisamos de pastores que aparecem na televisão dizendo: ‘O nome de Jesus é doce’ ou de medíocres direções espirituais na tv que nada mais são que autoajuda. Precisamos sim de Pastores que tenham em uma mão o bastão com pregos na ponta, para defender o seu rebanho dos mercenários, dos animais ferozes, e na outra tenham o cajado, para ritmar o passo das ovelhas, e puxar as que estão se extraviando do caminho ou caindo no precipício, por isso devemos rezar, rezar com o coração, rezar com força de Deus, rezar no espírito, rezar com um amor profundo pela igreja, para podermos receber santas e perseverantes vocações, vocações proféticas para os nossos tempos impregnados pela oposição silenciosa ao Papa e ao seu magistério petrino. O Sacerdote é chamado a seguir o modelo de Cristo, a ser fiel a vontade do Pai, como Cristo o foi, devendo “ser”, a imagem visível do próprio Cristo para os homens, sinal do amor que doa a vida levando à solidariedade autêntica com aqueles que sofrem, com os pobres espirituais e materiais. O sacerdote chamado por Deus a celebrar os mistérios da salvação, os sacramentos, a Santa Missa, não de qualquer jeito, não como um evento feito em um placo de teatro ou um show, não como alguém que está dando qualquer coisa ao povo, mas deve, viver intensamente cada um destes mistérios, com a oração, para como Cristo, doar-se, se deixar partir, vivendo o seu sacerdócio no escondimento danoite, como aquele agricultor que sai a semear, e lança a palavra, a qual cresce na terra, cresce no coração do homem, no silêncio da noite, vivendo também a Eucaristia, orando e se entregando por aqueles que participam do banquete e do sacrifício, vivendo a dor do abandono, como Jesus a viveu na Agonia no horto, mas, sobretudo, vivendo a alegria da ressurreição e do encontro com os seus, como viveu com os discípulos a margem lago de Tiberíades, onde eles o reconheceram:
‘É o Senhor!’. Na verdade, o bispo, o padre, o papa, não importam, o que importa é Cristo, é crer em Cristo, pois os homens decepcionam, e estes pastores instituídos por Cristo a cuidar do rebanho da Igreja e do mundo, nada mais são que instrumentos frágeis, que levam o tesouro da presença de Deus, dentro de seus corações, em suas vidas, nos vasos frágeis de barro de sua humanidade, para o bem comum, e quando pensamos a imagem de pastor, a associamo-la a um líder. Contudo, não é pelo simples fato que alguém se ocupe de ovelhas, de pessoas, que deve constituir um pastor. Olhando a figura do mercenário e do pastor, a primeiro momento, não há uma diferença, ambos são líderes, olham o rebanho, se ocupam das ovelhas, e muitas vezes não se percebe a diferença em uma olhada rápida, mas observando o agir e a vida de ambos, nota-se pelos seus interesses quem é quem. Alguns trabalham por amor, outros por dinheiro, e aqui temos a diferença, quem faz por amor e por amor a Deus, e ao que trabalha por interesse financeiro, os outros para ele não interessa, porque “as ovelhas não lhes pertencem!” Em João 10, 1-18, Jesus se define como o bom Pastor, que em grego “Egoimeinopoimem o kalos”, que quer dizer literalmente “Eu sou o Belo pastor”, porque a ideia fundamental é que o belo dá-nos a ideia do perfeito, e por ser belo, perfeito, é bom, é belo por dentro, assim a beleza e a perfeição estão em Jesus como realidades juntas, inseparáveis, onde uma complementa a outra. Esta deve ser a figura dos Pastores da Igreja, ser com Cristo o “Bom, o Belo Pastor!”, dando a sua vida, e não extrair a vida das ovelhas. O pastor oferece a sua vida, em grego não é a sua vida, mas a sua psique, a sua alma. Jesus, fala do Bom Pastor, para expressar a si mesmo como aquele que se assemelha com as suas ovelhas, vive com elas, sofre com elas, se alegra com elas, e assim diz: “Por isso o Pai me ama, porque ofereço a minha vida, ninguém me tira, mas sou eu que a ofereço”. No cenáculo na ultima ceia, Jesus disse “Ninguém tem maior amor que este, dar a vida pelo seu amigo!” Todos nós somos ovelhas e pastores, mas é Jesus o nosso único modelo. E para nos amodelar a ele, devemos estar em sintonia com ele, dispostos a morrer para nós mesmos, a doar a vida, para nãos sermos mercenários que trabalham apenas pelo dinheiro. Falamos muito em dar a vida, mas na realidade, se prestarmos atenção, todas as vezes que damos a vida a ganhamos, todas as vezes que morremos para nós mesmos, é que vivemos a verdadeira vida, e abrimos as portas para Deus escrever em nós, abrirmos as portas para uma nova vida que nasce em nós. Que o Senhor faça de nós ovelhas dóceis a sua palavra e pastores sábios e fortes para os nossos irmãos. In Guardia - 39
Igreja, porta voz da Palavra de Deus junto ao Jovem Por Pedro Brasilino Deus sempre quer falar ao homem, por isso o Verbo se fez carne e habitou entre nós... (Jo 1,14). Deus continua falando por meio da Igreja, seu corpo místico. De forma específica a Igreja, como é o seu papel, é a porta voz da Palavra de Deus. Assim, junto aos jovens durante as edições das Jornadas Mundiais da Juventude pode formar e ensinar com o uso dos lemas. Todos os anos, as jornadas acontecem em âmbito diocesano, sendo celebrada no Domingo de Ramos e recebem sempre um lema a ser meditado, são as chamadas Jornadas Diocesanas da Juventude. Entre intervalos que podem variar de dois e três anos, são feitos os grandes encontros internacionais. No Rio de Janeiro, em julho de 2013, teremos a décima terceira em âmbito internacional e a vigésima sétima contando todos os eventos. Num rápido passeio pelos lemas selecionados pela Santa Sé, nas edições em que o evento teve âmbito internacional, não é difícil perceber uma vontade de oferecer ao jovem um novo e real sentido para a vida. Para isso, os lemas giram em torno de passagens bíblicas que convidam ao conhecimento de Deus e à missão evangelizadora. Nesse sentido, para ajudar os jovens frente a esse desafio, em duas oportunidades, em Czestochowa (1991) e Sydney (2008), a Igreja por meio do lema clamou o Espírito Santo. Ela quis, também, durante esses anos de lemas nas JMJ favorecer o relação entre o jovem e a Pessoa de Jesus Cristo, sem o qual é impossível a vocação missionária. Os lemas até hoje foram todos retirados do Novo Testamento, e em oito vezes as citações extraídas foram do Evangelho, sendo na sua maioria do evangelista São João. Mas, o mais importante é o caminho que se pode fazer na leitura e reflexão de cada lema. Desse modo, realiza-se a feliz e santa inspiração de que, dentro da relação amorosa com Deus, Ele revela-se, revelanos a nós mesmos e convida-nos para a plenitude de nossas vocações. Estabelecer um verdadeiro diálogo com o Senhor que compreenda uma esIn Guardia - 40
cuta verdadeira é uma necessidade sempre atual dos filhos de Deus. A Santa Mãe Igreja quer favorecer esse diálogo de vida e amor eternos. Louvado seja Deus, por sua eterna vontade de relacionar-se com seus filhos. De maneira concreta, a meditação dos lemas refaz o convite eterno de amor que Deus tem pela humanidade, por isso fica aqui o convite de fazer durante os meses que antecedem a Jornada do Rio um caminho de escuta usando como motivação as citações bíblicas usadas nos eventos passados e da próxima JMJ. 1986
Os lemas até hoje foram todos retirados do Novo Testamento, e em oito vezes as citações extraídas foram do Evangelho A primeira JMJ, realizada em Roma, teve como lema “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês” (1Pd 3, 15). A celebração aconteceu em âmbito diocesano. 1987 A primeira fora de Roma ocorreu em Buenos Aires, na Argentina, com o lema “Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele.” (1 Jo 4, 16). Um milhão de pessoas participou do evento. 1989 Em Santiago de Compostela, na Espanha, com o lema: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”(Jo 14,6). 1991 Na Polônia, terra natal de João Paulo II. Foi a primeira reunião dele com milhares de jovens em um país do Leste Europeu. Em Czestochowa, com o lema “Vocês receberam o Espírito que os adota como filhos” (Rm 8,15).
1993 Em Denver, nos Estados Unidos, como lema “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (Jo 10,10). 1995 A maior jornada em número de participantes, cerca de quatro milhões, aconteceu em Manila, nas Filipinas, com o lema “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). 1997 Paris, na França, o lema foi “Mestre, onde moras? Vinde e vereis” (Jo 1,38-39). 2000 “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) foi o lema da grande Jornada, o ano do Jubileu da Juventude. Em Roma, na Itália se reuniram quase três milhões de jovens. 2002 Toronto, Canadá, com o lema “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14). Foi a última JMJ com a presença do Papa João Paulo II. 2005 A juventude acolheu de braços abertos a primeira jornada conduzida pelo Papa Bento XVI, realizada em sua terra natal, a Alemanha. Colônia foi a cidade sede e teve como lema “Viemos adorá-lo” (Mt 2, 2) e recebeu aproximadamente um milhão e meio de peregrinos. 2008 “Recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1, 8) foi o lema da JMJ da Austrália. Na cidade de Sydney milhares de jovens cruzaram os continentes. 2011 Em agosto, cerca de dois milhões de jovens se reuniram para realizada em Madri, Espanha, com o lema “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé” (cf. Cl 2, 7). 2013 Em julho o Brasil terá a oportunidade de demonstrar toda sua vocação em receber pessoas. O maior país católico fará o maior evento católico, com o lema “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28, 19).
Dom Fernando Arêas Rifan
Tristeza e Alegria Psiquiatras e psicólogos estão alarmados com o crescimento do suicídio entre os jovens, uma das principais causas de morte entre eles, sinal de sua profunda tristeza e infelicidade. Em sua mensagem para o XXVII Dia Mundial da Juventude de 2012 cujo tema é a frase de São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor!” (Fl 4,4), o Papa Bento XVI lembra que “a alegria é um elemento central da experiência cristã”. Eis alguns belos trechos: “A Igreja tem a vocação de levar ao mundo a alegria, a alegria autêntica e duradoura, aquela que os anjos anunciaram aos pastores de Belém na noite do nascimento de Jesus (cfr Lc 2,10)... No difícil contexto atual, tantos jovens em torno de nós têm uma grande necessidade de sentir que a mensagem cristã é uma mensagem de alegria e de esperança! Gostaria de refletir com vocês, então, sobre as estradas para encontrá-la, a fim que possam vivê-la sempre mais em profundidade e que vocês possam ser mensageiros entre aqueles que estão à sua volta”. “O nosso coração é feito para a alegria... E cada dia são tantas as alegrias simples que o Senhor nos oferece: a alegria de viver, a alegria diante da beleza da natureza, a alegria de um trabalho bem feito, a alegria do serviço, a alegria do amor sincero e puro..., os belos momentos de vida familiar, a amizade partilhada, a descoberta das próprias capacidades pessoais e o alcance de bons resultados, o apreço por parte de outros, a sensação de ser úteis ao próximo... Cada dia, porém, nos deparamos também com tantas dificuldades e nos corações existem preocupações para com
o futuro... Como distinguir as alegrias realmente duradouras dos prazeres imediatos e enganosos? Como encontrar a verdadeira alegria na vida, aquela que dura e não nos abandona também nos momentos difíceis?” “Deus é a fonte da verdadeira alegria. Na realidade, as alegrias autênticas, aquelas pequenas do cotidiano ou aquelas grandes da vida, encontram toda sua origem em Deus, mesmo se não parece à primeira vista... Deus quer fazer-nos participantes de sua alegria, divina e eterna, fazendo-nos descobrir que o valor e o sentido profundo da nossa vida está no ser aceito, acolhido e amado por Ele: eu sou querido, tenho um lugar no mundo e na história, sou amado pessoalmente por Deus. E se Deus me aceita, me ama e eu me torno seguro, sei de modo claro e certo que é bom que eu seja, que eu exista.” “Este amor infinito de Deus por cada um de nós se manifesta de modo pleno em Jesus Cristo. Nele se encontra a alegria que buscamos... E, de fato, do encontro com Jesus nasce sempre uma grande alegria interior. Um cristão não pode ser jamais triste porque encontrou Cristo, que deu a vida por ele. Queridos jovens, não tenhais medo de arriscar vossa vida, abrindo-a a Jesus Cristo e seu Evangelho... Gostaria de exortar-lhes a serem missionários da alegria. Não se pode ser feliz se os outros não são: a alegria, portanto, deve ser compartilhada. Vão e contem aos outros jovens a alegria de vocês por terem encontrado aquele tesouro precioso que é o próprio Jesus”.
“A Igreja tem a vocação de levar ao mundo a alegria, a alegria autêntica e duradoura”
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Rafael Brodbeck
Pensando alto sobre a oração em línguas O modo como a RCC entende a oração em línguas é, sim, algo novo na teologia mística. Não há um só caso, que eu saiba, sobre tal fenômeno. Os maiores especialistas do assunto (Tanquerey, por exemplo) não o citam. Isso não quer dizer que a oração em línguas não exista nem que a RCC esteja errada. Apenas que nos dá o direito de, como católicos, em um ponto controverso, ter uma posição distinta da RCC. A oração em línguas e mesmo a contemporaneidade dos dons extraordinários NÃO são verdades de fé. Pode-se acreditar ou não. Ninguém é menos ou mais católico por crer na oração em línguas tal qual praticada na RCC. O fato de ser nova essa manifestação da oração em línguas (ou, pelo menos, se ter dúvidas a respeito da prática da RCC quanto a ela) é exatamente o motivo pelo qual a Santa Sé ainda não se pronunciou. Prudente como é, está estudando, meditando, vendo os frutos. Enquanto não se pronuncia, somos livres. A RCC talvez tenha o direito de crer que a prática dos grupos de oração é a oração em línguas, o direito de achar que os “gemidos inefáveis” são a oração em línguas, o direito de diferenciar oração em línguas de falar em línguas. Outros temos o direito de não sustentar nada disso. Podem os carismáticos citar milhares de passagens bíblicas, mas serão sempre a SUA interpretação pessoal. Como nós, ao citarmos outras e também a teologia mística, daremos a NOSSA interpretação. Ambas são válidas até que o Magistério dê a SUA interpretação infalível. No essencial unidade, no disputado diversidade, em tudo caridade. Pode-se duvidar que a prática que a RCC chama de oração em línguas seja realmente um fenômeno místico? A resposta: sim, pode-se, dado que o Magistério ainda não se pronunciou sobre a questão. Muito melhor do que eu, define esses termos a Catholic Encyclopedia: http://www.newadvent.org/cathen/14613a.htm Tem mais aqui: http://www.freaknet.org/martin/libri/Compendio/ - O melhor livro sobre o assunto!!! O clássico Tanquerey! Para quem quiser comprá-lo em português, tem na Quadrante. www.quadrante.com.br E a tradução para o espanhol do artigo da Catholic Encyclopedia que postei antes: http://www.enciclopediacatolica.com/t/teologiaascetica.htm Mais um sobre teologia mística e ascética: http://www.gratisdate.org/nuevas/directorio/default.htm In Guardia - 42
“Il dono delle lingue, detto anche con termine greco glossolalia, che in S. Paolo è il dono di pregare con santo entusiasmo in ignota lingua straniera; secondo i teologi invece è il dono soprannaturale di parlar varie lingue.” Ou seja, o dom das línguas é o dom de orar (“pregare”) com santo entusiasmo em língua estrangeira e de falar várias línguas. Vemos aqui que é tanto o orar quanto o falar em línguas. Ambos são manifestações (diversas) do mesmo dom. Todavia, não indagamos a respeito da existência do dom. Todos aqui sabemos que ele existe. A questão é: o que a RCC chama habitualmente de dom de línguas, de orar em línguas e de falar em línguas, é, de fato, o dom de línguas? Noutros termos: o dom de línguas (tanto faz se rezar ou falar) descrito por São Paulo e explicado no Tanquerey (maior autoridade em teologia ascética e mística) é aquilo que a RCC diz que é? A RCC diz que sim. Outros, entre os quais me incluo, digo que não, ou, no mínimo, que nem sempre. Pode haver, na RCC (e fora dela) um autêntico rezar em línguas e um autêntico falar em línguas. Acredito, entretanto, que nem sempre as línguas praticadas na RCC sejam reais manifestações desse dom, e sim sugestão psicológica. É lícito ao católico acreditar que nem sempre o que a RCC chama de dom de línguas é verdadeiro dom? É, porque o Magistério ainda não se pronunciou. É lícito acreditar que as línguas da RCC são sempre o dom? É, pelo mesmo motivo. Entretanto, chamo a atenção para o fato de que o verdadeiro dom (rezar ou falar) é, para Tanquerey e todos os outros autores de mística e ascética, um dom extraordinário. Ora, a prática da RCC é de um rezar em línguas comum e ordinário, o que contrasta com esse ensino mais tradicional. Alguns poderiam invocar os tais vídeos em que dois padres da RCC ensinam a orar em línguas. À luz de Tanquerey, que inclui a oração em línguas como um dos nove carismas de 1 Cor 12 e os chama de FENÔMENOS MÍSTICOS e DONS EXTRAORDINÁRIOS, acho, sim, um total absurdo ensinar a orar em línguas. Um fenômeno místico não pode ser aprendido. A pessoa recebe um dom, manifestando um fenômeno místico, e reza em línguas. Não se aprende a rezar em línguas, como não se aprende a ter visões, nem se aprende a ter os estigmas. E Tanquerey explica todos esses fenômenos no MESMO capítulo! Pouco importa se é o Pe. Jonas ou o Pe. Léo quem está no vídeo ensinando a orar em línguas. A despeito da veneração que nutro por tais sacerdotes, eles estão errados, sim.
Por Igson Mendes
A partir desta edição será feita uma breve avaliação em várias partes do livro “Igreja: Carisma e Poder”, de Leonardo Boff. Contudo, é necessário que se percorra o caminho traçado pelo referido autor a fim de melhor compreendermos um pouco de sua vida e obra
Igreja: Carisma e Poder Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, 1938. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique, na Alemanha, em 1970. Foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior. Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro “Igreja: Carisma e Poder”, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de silêncio. Permanecendo desobediente, em 1992, de novo ameaçado com uma segunda punição por Roma, renunciou às suas atividades de padre e se autopromoveu ao estado leigo. Atualmente é escritor, professor universitário, expoente da Teologia da Libertação(Marxista e herética) no Brasil onde é reconhecido por sua história em defesa das causas sociais e questões ambientais. Após breve comentário sobre a vida do autor, vamos aquela que foi uma de suas obras de grande repercurssão e erros grotescos. A obra “Igreja: Carisma e Poder” teve algumas edições e sofreu algumas mudanças: reeditada no Brasil pela Record, teve sua primeira edição em 1981 (Editora Vozes), uma segunda edição em 1994 (Editora Ática). No decorrer das edições foi
retomando o texto original e acrescentando um longo apêndice contendo a documentação do processo doutrinário que se seguiu à publicação do livro. Hoje, seguese o padrão anterior, com a adição de um novo prefácio do autor e um sucinto balanço final sobre o significado do livro. O livro “Igreja: carisma e poder”, na verdade, recolhe uma série de ensaios elaborados pelo ex-frei Leonardo Boff, ao longo dos anos 70 e início de 80, época em que foram publicados vários de seus ensaios em revistas teológicas nacionais e internacionais. Dos treze artigos que acompanham a coletânea de ensaios, apenas dois eram inéditos na ocasião da publicação do livro, e um deles parte da tese de doutorado do autor defendida na Alemanha em 1970. Logo após a publicação do livro, em 1981, surgem os primeiros questionamentos e críticas. Algumas reações partiram de notaveis teólogos, drente eles o franciscano Boaventura Kloppenburg, antigo professor e colega de cátedra de Leonardo Boff. Outras resenhas foram também desfavoráveis, como as de Ubano Zilles e Estevão Bettencourt. A polêmica ganha grande proporção e, então, entra em ação o Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Após grande debate referente a questão da Verdadeira Igreja de Cristo (amplamente abordada no livro), o cardeal Ratzinger publica em 1985 uma notificação sobre o livro e submete o autor a
um “silêncio obsequioso”. É possível notar na obra de Boff a influência do pensamento marxista, como também, da exegese protestante liberal. A Igreja, do ponto de vista marxista, é comparada a autoridade do partido comunista onde haveria entre ambas um paralelismo de estruturas e de comportamentos. É por isso que se percebe uma forte crítica à Igreja, como se a mesma fosse opressora e manipuladora. Já da parte protestante liberal, herdamse ideias (antigas), dentre elas, destaca-se o fato de Jesus mesmo não ter fundado uma Igreja, mas que esta, simplesmente, se deriva da vontade dos apóstolos inspirados pelo Espírito Santo. Com isso, é empregada a ideia que Jesus Cristo fundou um reino exclusivamente interior, espiritual. Só que tal visão protestante liberal foi condenada por Pio XII nos seguintes termos: “Estão longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja por forma que se não pode tocar nem ver, mas apenas, como dizem, uma coisa pneumática que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs, embora separadas na fé.” Em síntese: o livro é constituído de XI capítulos e um apêndice, na sua edição mais atual (1994), tudo sob a responsabilidade de um único autor: Leonardo Boff. Tudo começou a ser escrito com base no contexto eclesial entre os anos 70 e 80, período em que foi se firmando a Teologia da Libertação
e a ramificação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Talvez a intenção maior do autor fora favorecer uma participação mais efetiva dos leigos e pobres nas “decisões” da Igreja. Pena, que “de boas intenções o inferno está cheio”. Sua famosa expressão teológica conhecida como eclesiogênese, foi na verdade um ato de completa falta de discernimento e demonstração de total rompimento com a Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Vejamos um fragmento de como o autor, pobre em seu poder de persuasão, e totalmente desesperado por glórias efêmeras de poder através dos meios de comunicação e, quem sabe, até tentado ao possível ganho de lucro autoral com vendas de tamanhas asneiras e idiotices, escreve: “Evidentemente a velha Igreja olhará com certa desconfiança para a nova Igreja na periferia e para com as liberdades evangélicas que ela se toma. Poderá ver nela uma concorrente; gritará em termos de Igreja paralela; magistério paralelo, falta de obediência e lealdade para com o Centro! A Igreja nova deverá saber usar de uma inteligente estratégia e tática: não deverá entrar no esquema de condenações e suspeitas como o Centro poderá fazer. Deverá ser evangélica, compreender que a instituição enquanto é poder somente poderá usar a linguagem que não ponha em risco o próprio poder, que sempre temerá qualquer afastamento do comportamento ditado pelo Centro e verá isso como deslealdade. Apesar de poder compreender tudo isso, a Igreja nova deverá ser fiel ao seu caminho; deverá ser lealmente desobediente*.” Afirmam ainda outros mercenários e pseudo-teólogos que um fato marcante no livro “Igreja: carisma e poder” é a linguagem profética, que vem retomar um gênero que tem larga tradição teológica. A verdade é que em em todo o livro respira-se a fumaça do demônio. Com um léxico eloquente e “lindas” falsas profecias. Já vimos isso antes povo de Deus! Já sentimos o reflexo dessas barbaridades em nossas paróquias, comunidades e grupos de autênticos membros da Igreja. O teólogo é, pois, chamado a decifrar a linguagem das diversas situações — os sinais dos tempos — e a abrir esta linguagem à inteligência da fé (cf. Enc. Redemptor hominis, n. 19). Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico — aqui apenas brevemente assinalados — certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis. Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo. Podemos concluir que o presente arIn Guardia - 44
tigo analisa a obra eclesiológica do ex-frei Leonardo Boff, mostrando tratar-se de estudo tendencioso e ambíguo. A partir do esquema, preconcebido, de que a cobiça do poder inspirou o comportamento dos pastores da Igreja através dos séculos, o autor propõe uma Igreja “carismática”, em que não haja docentes e discentes, mas se adotem os critérios de comportamento de uma democracia humana. O estilo do autor é quase que ridículo, chegando à sátira; hipóteses são propostas como teses (principalmente quando o autor recorre à exegese bíblica protestante); falta por vezes ao autor a akribia (senso de exatidão) necessária a um estudo científico para matizar os respectivos dizeres, dando a posições discutidas o atributo de discutidas. Tal akribia se impõe de modo especial numa obra que não é destinada apenas a especialistas, mas se volta para o grande público, o qual muitas vezes está despreparado para discernir o certo do incerto e do errado. As afirmações do autor são empalidecidas ou sufocadas pela veemência das acusações feitas à Santa Igreja. No decorrer da leitura do livro têm-se não raro a impressão de estar diante de uma obra inspirada por protestantismo e marxismo. E também pelo próprio demônio, autor e pai da mentira. Considerações importantes a fazer: 1. A Obra é sem estilo Quem lê a obra em pauta, observa de imediato algumas características significativas: o autor aborda questões importantes de história da Igreja ou de doutrina de fé, fazendo afirmações generalizadas, sem explicitar matizes. Propõe hipóteses como se fossem teses firmes e indiscutíveis – o que ilude o leitor despreparado. Aliás, é curioso que desejando combater o autoritarismo, L. Boff, use de linguagem extremamente autoritária, caricatural, sarcástica. O autor é irônico, cínico e ignorante. Um nazista e preconceituoso que ignora as próprias raízes. 2. Linguagem cheia de contradições L. Boff usa vocabulário e linguagem que frequentemente têm o sabor da ambiguidade – o que não se admite nem num livro científico nem num livro de ampla divulgação. Seria ele uma espécie de novo Lutero no século XVI? Um exemplo bem direto está em todo o cap. VII que é uma exaltação do sincretismo! O que até hoje inúmeros padres pregam na Igreja. E influenciam um falso ecumenismo. 3. Influência marxista O leitor não pode deixar de perceber certa influência do marxismo (ou de aspectos tendenciosos e discutíveis do marxismo) nas expressões e nas categorias as-
sumidas pelo autor. O então Cardeal O autor compara a Joseph Ratzinger autoridade na Igre- (Bento XVI) foi ja com a autorida- quem condenou de no Partido Co- as teses marxismunista da União tas de Leonardo Soviética antes da Boff, contidas revolução chinesa! no livro “IgreHaveria entre am- ja: Carisma e bos um paralelismo Poder” de estruturas e de comportamento? Esta afirmação é, no mínimo, estranha e d e s p ro p o s i ta d a . Um bom teólogo não ignora quanto é artificial ou falsa a tese de L. Boff (ou do marxismo) quando aplicada à Igreja. O autor, portanto, recorre às categorias de análise marxista da sociedade, categorias que são materialistas e ateias e, por conseguinte, jamais poderão servir para construir uma autêntica teologia; de resto, o uso das mesmas foi explicitamente condenado pelo S. Padre João Paulo II em discurso proferido aos Bispos do CELAM aos 2/07/80: “A libertação cristã… não recorre… à práxis ou análise marxista, pelo perigo de ideologização a que se expõe a reflexão teológica, quando se realiza partindo de uma praxis que recorre à análise marxista. Suas consequências são a total politização da existência cristã, a dissolução da linguagem da fé na das ciências sociais e o esvaziamento da dimensão transcendental da salvação cristã”. 4. O papel da exegese protestante liberal O autor confia plenamente nas sentenças dos exegetas protestantes mais liberais, que tentam interpretar os Evangelhos e a figura de Cristo segundo referenciais racionalistas e assaz duvidosos (porque subjetivos). Por isso L. Boff julga que Jesus mesmo não fundou a Igreja, mas que esta se deriva da vontade dos apóstolos inspirados pelo Espírito Santo (págs. 222s 216). A bibliografia citada por Boff é, em grande parte, protestante liberal, ficando as clássicas obras da teologia católica relegadas para o plano do superado. Breve Conclusão Leonardo Boff não deixa de reconhecer que na Igreja há elementos divinos e elementos humanos (pág. 221) e que a Igreja é sacramento (pág. 130s)… Todavia tais afirmações são raras e pálidas no conjunto do livro, onde a Igreja é geralmente tratada como sociedade meramente humana, na
a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal magistério evidentemente não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido …; com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela Palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe” (Dei Verbum nº 10). Assim vemos que carisma e autoridade (= poder, na linguagem do livro em foco) não se opõem entre si. Numa palavra, a autoridade na Igreja é serviço (diakonía), e não exercício de poder arbitrário. Se não se admite esse carisma indefectível da verdade (que está acima da erudi-
É curioso que desejando combater o autoritarismo, L. Boff, use de linguagem extremamente autoritária, caricatural, sarcástica qual teriam prevalecido os abusos de homens gananciosos e prepotentes. De modo especial a secção das págs. 60-76 é caricatural, com veste de aparato científico. Tem-se a impressão de que, segundo Boff, a Igreja autêntica seria governada pelo povo de Deus, que deveria ter nos bispos e no Papa os seus representantes, de tal modo que não se justificaria a distinção entre Igreja discente e Igreja docente: “A hierarquia se sente membro da Ecclesia discens e o leigo membro da Ecclesia docens. Cada qual é mestre e discípulo um do outro e todos seguidores do Evangelho. Na coexistência e simultaneidade das duas funções, deve-se entender o apelo de Jesus para que ninguém se deixe chamar de mestre, pai ou diretor espiritual, pois todos somos irmãos (cf. Mt 23, 8-10)” (pág. 215). Pergunta-se então: qual o critério para discernir verdade e erro se todos são mestres e discípulos? Seria o Espírito Santo, que falaria no íntimo dos fiéis? Tal critério está sujeito a ser manipulado pelo subjetivismo, como demonstra a história do Protestantismo, cujas últimas denominações não reconhecem mais a Divindade de Cristo (cf. Mórmons, Testemunhas de Jeová, Estudiosos da Bíblia …). Seria desejável a menção, muito mais importante, do “carisma seguro da verdade”, que o Concílio do Vaticano II atribui aos Bispos para guardarem e transmitirem autenticamente a mensagem da fé (cf. Constituição Dei Verbum nº 8). Se alguém quer dizer que os carismáticos devem governar a Igreja, não esqueça tal carisma peculiar dos Bispos. Diz explicitamente o Concílio: “O ofício de interpretar autenticamente
ção dos teólogos, embora precise desta), é natural que se caia no Protestantismo e, muito especialmente, no Protestantismo congregacionalista (onde a congregação dos fiéis se governa na mais autêntica forma democrática). Na verdade, a autoridade na Igreja vem de Cristo, que prolonga sua tríplice função sacerdotal, profética e pastoral nos ministros que Ele escolhe e ordena e que exercem suas funções não por delegação dos fiéis, mas por disposição do próprio Cristo (cf. discurso de João Paulo II aos ordenados no Maracanã aos 2/07/80); mesmo que haja eleição de Bispos, o eleito não recebe do povo a sua autoridade, mas de Cristo mediante os eleitores. Compreende-se até certo ponto que deva haver autoridade forte na Igreja, pois esta não é obra humana. Se fosse criação de homens, logicamente poderia ser retocada e re-criada por homens, as suas decisões seriam tomadas simplesmente por maioria de votos; deveria prevalecer exclusivamente o bom senso fundamentado sobre razões filosóficas ou científicas. Acontece, porém, que a Igreja não é sociedade meramente humana; é, sim, sacramentum, ou seja, realidade sensível que assinala e transmite uma realidade divina, isto é, a presença e a graça de Cristo. Por isto, os pastores da Igreja têm o dever de preservar a mensagem da fé e as autênticas expressões desta não segundo critérios puramente humanos, mas segundo os critérios que a S. Escritura, colocada dentro da Tradição viva da Igreja, aponta ao povo de Deus; para realizar esta função, o magistério da Igreja goza de especial assistência do
Espírito (cf. Mt 16,16-19; Lc 22,31s; Jo 21, 15-17; 14,26); tal assistência não depende da santidade ou das faltas dos pastores da Igreja, mas se exerce sempre que a Igreja se deva pronunciar oficialmente em matéria de fé e de costumes. Houve, sem dúvida, no passado da Igreja atitudes de Papas e Bispos fortemente autoritárias, que não correspondem ao modo de pensar e agir nem dos eclesiásticos nem do mundo de hoje. Observe-se, porém, que não se pode julgar o passado à luz das categorias de pensar e agir do presente. Os antigos praticavam de boa fé o que nos pode parecer hoje inaceitável; a geração que hoje acusa o passado, será um dia veementemente acusada pelas futuras gerações. Não se pode esquecer, por exemplo, que São Francisco de Assis, Santa Clara, S. Tomás de Aquino, S. Alberto Magno, S. Boaventura e outros santos e sábios viveram em pleno século XIII, que foi um século de Inquisição, e não deixaram uma palavra de protesto contra esta. Aliás, sempre houve santos entre os Papas e pastores da Igreja através dos seus vinte séculos; viveram o amor a Deus e o serviço aos irmãos tão generosamente quanto lhes sugeriam as circunstâncias de sua época. Todo fiel católico deve reconhecer que entre os pastores da Igreja de Cristo confiada a Pedro houve e há falhas intelectuais e morais. Mas isto não o impede de afirmar que, através das mãos humanas dos clérigos (às vezes, manchadas e poluídas), passou e passa incólume o ouro de Deus para todos os fiéis. Ainda poderíamos citar numerosas passagens do livro de L. Boff merecedoras de observações. O livro está, de ponta a ponta, inspirado pelos princípios que assinalamos até aqui. Tais princípios e as aplicações que dos mesmos faz L. Boff, se tomados a sério, levar-nos-iam a dizer que a eclesiologia de Boff é camufladamente protestante. As considerações propostas neste artigo permanecem no plano dos estudos, onde é lícito (e, às vezes, necessário) discordar; principalmente quando se trata das verdades da fé, o dever de fidelidade aos autênticos mananciais (no caso, ao Senhor Jesus) é duplamente imperioso. Cremos que as hipóteses e as afirmações de Boff, entregues à ampla divulgação num estilo de sátira e caricatura “científica”, são destinadas a destruir mais do que a construir, pois o autor não oferece ao leitor a ocasião de ver outros aspectos que ele aborda; ele não ajuda o leitor a criticar e a matizar as posições assumidas no livro; ao contrário, o autor da obra usa de estilo que parece dirimente … ou mesmo esmagador de qualquer tese contrária (quando na verdade se trata de um conjunto, em grande parte, subjetivo, oscilante e vulnerável). In Guardia - 45
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