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Carta da diretoria Caro(a) amigo(a), Recentemente assumi a Diretoria Administrativa e Operacional do Inhotim com um grande desafio: materializar o sonho dos nossos profissionais - que atuam em nove áreas - de melhorar ainda mais a experiência do visitante, ao conhecer um dos lugares mais extraordinários do mundo. Isso significa investir continuamente em inovações e melhorias para a estrutura de serviços, de atendimento, de suprimentos, de tecnologia da informação e de manutenção, garantindo assim a qualidade e a excelência que o Inhotim deve oferecer às pessoas.
Vocês, Amigos, são grandes responsáveis por realizar esse sonho. Graças à sua contribuição trabalhamos, dia após dia, para continuar crescendo. Isso significa aumentar o acervo artístico e cultural, incentivar projetos de preservação e educação ambiental e desenvolver parceiros e as comunidades que são nossas vizinhas. Nesta edição, você encontra tudo isso e um pouco mais. Boa leitura! Sérgio Viana Diretor Administrativo e Operacional
No final de junho e no início de julho, um encontro com o filmmaker tailandês Apichatpong Weerasethakul abriu a exposição do Inhotim Escola em Belo Horizonte, no Memorial Minas Gerais - Vale, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. A exposição foi inteiramente dedicada à exibição dos trabalhos do cineasta. A programação incluiu a exibição de três longas-metragens de Apichatpong: “Tio
Cinema contemporâneo Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” (2010), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2010, “Mal dos Trópicos” (2004) e “Eternamente sua” (2002).
Durante o mês de julho, o artista ganha destaque nos domingos do Memorial Minas Gerais - Vale, onde seus curtas-metragens serão exibidos sempre às 19h30. Está
prevista, inclusive, a exibição de vídeos curados pelo próprio Apichatpong para a 11ª Bienal de Sharjah, realizada em maio deste ano, nos Emirados Árabes. Apichatpong nasceu em 1970, em Bangcoc. Ele é formado em arquitetura, mas revelou seu processo criativo no campo audiovisual. O cineasta começou a produzir filmes e curtas em 1994,
completando seu primeiro longa seis anos depois. Reconhecidas por uma linguagem não linear e peculiar, suas obras são construídas de forma experimental e independente, abordando questões, como a memória, os problemas sociais e a política tailandesa.
Inhotim Escola O Inhotim Escola integra o Circuito Cultural Praça da Liberdade e traz para Belo Horizonte o mesmo conceito dos projetos desenvolvidos em Brumadinho: ampliar o acesso à arte e ao meio ambiente como forma de promover a cidadania e o conhecimento. O projeto de restauro e a adaptação
arquitetônica da sede nos prédios do Palacete Dantas e do Solar Narbona estão em desenvolvimento. O espaço será um equipamento de rica programação cultural, encontros, trocas e convivência. Até a conclusão das obras, as atividades são promovidas em parceria com instituições culturais da cidade. Mais informações em www.escolainhotim.com.br.
Memória e criatividade
Uma semana em homenagem aos museus Quando as tranças rastafári e os óculos de diferentes formatos e cores entram no palco, o que está por vir é algo muito além do convencional. O músico paulista Itamar Assumpção, conhecido como Nego Dito por um público seleto durante a década de 1980, inovou a MPB com um conceito musical ousado, marcado por sua voz imponente e o jeito teatral de se apresentar.
Dono de uma obra intensa e original, a trajetória desse gênio incompreendido inspirou a criação do documentário “Daquele instante em diante”, dirigido por Rogério Velloso. Por meio desse longa-metragem, o vozeirão do artista retumbou em Inhotim e foi uma das principais atrações da Semana Nacional dos Museus, que ocorreu de 13 a 19 de maio com o tema “Museus (Memória + Criatividade) = Mudança Social”.
A exibição foi aberta a 210 pessoas, com lugares reservados para os Amigos do Inhotim nas primeiras fileiras. O filme apresentou lembranças de amigos e familiares sobre a passagem do cantor pela vanguarda paulista até a sua morte aos 53 anos, ocorrida em 2003. Tudo isso se deu intercalando imagens raras e arquivos particulares de ensaios, apresentações e reuniões pessoais, expondo vários e desconhecidos “Itamares”: do compositor e performer ao homem caseiro e amante de orquídeas.
Programação diferenciada No Inhotim, a programação da Semana Nacional dos Museus teve o envolvimento de milhares de visitantes em diversas oficinas e exposições patrocinadas pela Vale.
Mulheres quilombolas das comunidades vizinhas ao Inhotim se reuniram para realizar um ritual de adoração em latim. A tradição está sendo recuperada na região com o apoio do Instituto.
Qual a utilidade das plantas medicinais, aromáticas e tóxicas presentes no Jardim de Todos os Sentidos? Quem esteve no Viveiro Educativo pôde conhecer um pouco mais sobre as espécies e vivenciar experiências que estimulam as percepções auditivas, visuais, olfativas, táteis e palatais.
Indumentárias e adereços típicos da Folia de Reis de Brumadinho foram expostos na Capela de Santo Antônio. A produção das peças em oficinas teve a proposta de fortalecer a cultura local. Visitantes produziram pinturas rupestres de diferentes tipos de folhas presentes na flora do jardim botânico, utilizando técnicas aprendidas na oficina “Pintando a flora com arte rupestre”.
Uma ação educativa propôs um olhar sobre a obra “A origem da obra de arte”, da artista Marilá Dardot, com a criação de desenhos da paisagem no entorno da obra.
EMPRESA AMIGA É EMPRESA CIDADÃ No Inhotim, responsabilidade social se traduz em inúmeros programas de democratização do acesso à arte contemporânea, de preservação da natureza e de promoção da educação e do desenvolvimento local. Mais do que isso: é sinônimo de parceria com as pessoas, fruto inclusive de doações do Amigos do Inhotim. O Instituto agora também recebe aportes de empresas interessadas em participar ativamente de um dos lugares mais impressionantes do planeta. Como Empresas Amigas do Inhotim, organizações de todos os portes fazem doações anuais de acordo com a categoria escolhida. Com isso, elas contribuem para a sustentabilidade do Instituto e fazem jus a benefícios exclusivos. Todo o valor doado pode ser deduzido do Imposto de Renda. E se a empresa é tributada com base no lucro real, a dedução pode chegar a 4% do IR, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Ruanet).
Para ser uma Empresa Amiga do Inhotim, clique aqui e envie um e-mail para a nossa equipe ou ligue para o telefone (31) 3194-7333. Valor da Categoria
R$ 2 mil
R$ 10 mil
R$ 20 mil
R$ 40 mil
R$ 60 mil
R$ 80 mil
Nome da Categoria
Antúrio
Imbé
Ipê
Nolina
Palmeira Azul
Palmeira Imperial
4
10
20
30
40
50
(2 pessoas)
(4 pessoas)
(20 pessoas)
(20 pessoas)
(20 pessoas)
(20 pessoas)
(24 pessoas)
(24 pessoas)
Certificado Cortesias Menção da empresa no site Menção da empresa no Relatório Anual do Inhotim Desconto para a empresa de 10% na locação de espaços Desconto para a empresa de 10% na loja Convite inaugurações Almoço de Encontro Anual de Empresas Amigas Newsletter (Especial Patrocinadores e Empresas Amigas) Possibilidade de Isenção fiscal Publicações Inhotim (livros e DVDs) Acesso à programação especial Uso de espaço para reunião Direito à visita mediada Auditório (60 pessoas)
Meio ambiente que a gente cuida Quem esteve em Inhotim entre os dias 26 de maio e 2 de junho pôde vivenciar a natureza mais do que o de costume. A IX Semana do Meio Ambiente agitou todos os espaços do Parque com uma programação para todos os gostos e idades. Os visitantes participaram de palestras, oficinas, trilhas ecológicas, apresentações culturais, plantio de mudas e acompanharam o lançamento de projetos de formação e recuperação ambiental. Confira algumas novidades: 1. O Instituto Inhotim e o Governo de Minas firmaram parceria para a realização do Programa Jovens Agentes Ambientais Brasil. O JAA Brasil vai despertar o olhar crítico de 2,3 milhões de estudantes da rede estadual sobre qualidade de vida e conservação da biodiversidade na escola, em espaços públicos e em áreas preservadas.
2. A Escola de Jardinagem do Inhotim abriu as portas para formar profissionais além de suas fronteiras. Por meio de oficinas, os participantes aprenderam a reproduzir paisagens em miniatura, a criar hortas urbanas com bambu para estimular o consumo sustentável de hortaliças, grãos e frutas, e a reciclar resíduos orgânicos, transformando-os em um composto rico em nutrientes.
3. Durante a Semana do Meio Ambiente, a Trilha dos Guigós esteve aberta ao público. Os visitantes fizeram uma agradável caminhada de 1,06 quilômetro. Foi uma oportunidade para quem gosta do contato com a natureza e quis aprender um pouco mais sobre conservação da biodiversidade, proteção do patrimônio natural e seu uso sustentável.
4. No Circuito Entre Borboletas, os visitantes apreciaram cerca de 200 espécies encontradas na região e aprenderam sobre o processo de captura dos insetos, identificação das espécies e a técnica de montagem das borboletas para arquivo ou exposição.
5. O Espaço Ciência mostrou um pouco da investigação que é feita sobre a interação de animais e plantas. Parte do relevante acervo de plantas aquáticas e semiaquáticas da IV Mostra Botânica ficou exposta fora da Estufa Equatorial.
6. Lançamento do Programa Semeando Paisagens, que traz para o público apresentações e debates sobre projetos de proteção da biodiversidade e de restauração da paisagem natural da APA Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte, do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, da APE Rio Manso e da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Inhotim.
7. No Jardim de Todos os Sentidos, hortelã, camomila e erva-cidreira foram colhidas para a produção de deliciosos chás. A atividade ocorreu após uma oficina de confecção de hortas suspensas.
8. Os visitantes assistiram ao emocionante espetáculo Travessia, do grupo Ponto de Partida: um verdadeiro passeio pela música popular brasileira, com canções de Villa Lobos, Tom Jobim, Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso.
9. Em parceria com a Plantar Carbon, o Inhotim decidiu elaborar um inventário de emissão de Gases de Efeito Estufa para reduzir os impactos das atividades do Instituto no meio ambiente. O plantio de mudas de espécies nativas, ação exclusiva dos Amigos do Inhotim, foi a primeira compensação simbólica com créditos de carbono certificados pela ONU. 10. As pessoas que visitaram o Parque puderam calcular sua emissão anual de Gases de Efeito Estufa e comprar créditos de carbono certificados para compensar suas emissões.
Reduto de biodiversidade Os jardins do Inhotim têm funções que vão muito além da contemplação. Há dois anos, os espaços receberam a chancela de Jardim Botânico pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB). O título é um reconhecimento pelas atividades desenvolvidas no Instituto de catalogação, conservação, pesquisa, educação ambiental e sensibilização sobre a importância da biodiversidade vegetal para a humanidade.
Jardim Botânico Inhotim
A coleção botânica do Jardim Botânico Inhotim é formada por cerca de 4,8 mil espécies que representam mais de 28% das famílias botânicas conhecidas no planeta. Entre elas, são destaques as famílias Arecaceae, com mais de mil espécies de palmeiras, e a Araceae, somando 400 espécies de Imbés, antúrios e copos-de-leite. Novas espécies chegam ao acervo por meio da compra de sementes e mudas de viveiros, do resgate da flora na natureza e
da autopropagação das plantas do Parque. Outra forma é a troca de espécies entre jardins botânicos. A introdução de espécies pouco conhecidas nos jardins é intencional e representa uma oportunidade. Ao apresentá-las em projetos paisagísticos, o Inhotim faz a sua parte para sensibilizar os visitantes a respeito da importância da biodiversidade. Pessoas sensibilizadas estão um passo à frente para fazer a diferença.
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Pessoas sensibilizadas estão um passo a frente para fazer a diferença.”
Entrevista: Quincas Por trás do jardim Joaquim de Araújo Silva, o Quincas, assumiu a Diretoria de Jardim Botânico e de Meio Ambiente em janeiro de 2012. Além do Jardim Botânico Inhotim, o diretor atua em diversas frentes, como na criação e implantação da política ambiental do Instituto, no desenvolvimento de programas e projetos voltados à conservação da diversidade biológica e na geração de oportunidades de negócios em sustentabilidade. A revista Amigos do Inhotim conversou com ele sobre a relevância do Jardim Botânico Inhotim para a sociedade. Qual a função de um Jardim Botânico como o Inhotim? Os jardins botânicos desempenham papéis fundamentais para a conservação botânica in situ (seu ambiente) e ex situ (fora do seu ambiente). Conhecer e documentar a flora local, regional e nacional, organizar as informações e disponibilizar esse conhecimento contribui para o progresso da ciência, o bem-estar da sociedade e o desenvolvimento do país. E em um contexto global? Já no cenário mundial, os jardins botânicos transformam-se em verdadeiros bancos de dados, armazenando plantas de outros países, garantindo a base genética de espécies ameaçadas, a difusão do conhecimento e o contato do público com
plantas de vários lugares do mundo em um só lugar. Existem diretrizes que regulamentam os trabalhos dos jardins botânicos? No Brasil, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos é a entidade exclusiva e legítima para representar os jardins no Sistema Nacional dos Jardins Botânicos e na Comissão Nacional de Jardins Botânicos, instituída pela Resolução Conama nº 339. Essa mesma resolução estabelece as diretrizes para a criação de jardins botânicos, normatiza o funcionamento e define seus objetivos.
serem cumpridas pelos países até 2020: a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a divisão de benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos. A CDB fundamenta as Normas Internacionais de Conservação em Jardins Botânicos, tendo como pilares a atuação na conservação, pesquisa, educação e no desenvolvimento sustentável.
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Conhecer e documentar a flora local, regional e nacional, organizar as informações e disponibilizar esse conhecimento contribui para o progresso da ciência, o bem-estar da sociedade e o desenvolvimento do país.” Isso acontece no mundo todo? Sim. Em 1992 foi firmada a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), da ONU, por 162 países, incluindo o Brasil. O tratado determina três obrigações a
Como o Inhotim contribui para alcançar essa meta? A permuta entre Jardins Botânicos é uma forma importante de conservar
a biodiversidade das espécies e, principalmente, preservar espécies ameaçadas de extinção. Durante a Rio +20, o Jardim Botânico Inhotim, em parceria com a Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RBJB), lançou o Sistema Nacional de Conservação Ex Situ da Flora. Trata-se de uma plataforma interativa (www.inhotim.tv.br/exsitu) na qual 46 instituições brasileiras registram e compartilham as espécies ameaçadas de seus acervos, além de acompanhar a Meta da Estratégia Global de Conservação de Plantas estabelecida pela ONU, durante a Convenção da Diversidade Biológica.
testes com cem frutos dessa espécie doados pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, três indivíduos estão em pleno desenvolvimento, com cerca de um metro de altura. O que esperar do Jardim Botânico Inhotim daqui para frente? Mesmo com sua riqueza, o Jardim Botânico Inhotim é recente e carece de políticas e de um sistema de gestão da coleção. Como o Instituto está inserido em meio a uma relevante porção florestal remanescente de Mata Atlântica e de Cerrado - dois dos biomas
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A permuta entre Jardins Botânicos é uma forma importante de conservar a biodiversidade das espécies e, principalmente, preservar espécies ameaçadas de extinção.” Há resultados positivos nesse sentido? Atualmente, o Jardim Botânico Inhotim registrou 22 espécies no Sistema e recebeu sete espécies ameaçadas de extinção, inclusive algumas extintas, como é o caso da Terminalia acuminata (Combretaceae). Após
mais ricos em biodiversidade e, ao mesmo tempo, ameaçados do planeta -, o trabalho visa aprimorar cada vez mais a conservação da biodiversidade local e o desenvolvimento de projetos ambientais em âmbito regional para engajar as comunidades sobre o tema.
Palavras de Amigo, por Renato Janine Ribeiro *
A experiência da sedução Uma vida alcança significado, em boa parte, graças às revelações de que ela é feita. Provavelmente a primeira epifania que temos – pelo menos, enquanto não conhecemos mais sobre a vida intrauterina, que deve ser riquíssima – é a do nascimento. Nascer é uma experiência difícil, quase certamente sofrida, ainda mais porque se perde um ambiente acolhedor, cálido, molhado, protegido, para ingressar num vasto mundo que vai demorar muito para se constituir como bom; e não poucas vezes jamais chega a ser bom, nunca chega, sequer, a fazer sentido, a encontrar, este vasto mundo, uma rima que o redima. Mas, depois disso, vamos tendo revelações. Uma das peças publicitárias mais celebradas de nossa cultura – isso, sendo o Brasil um país que tem publicitários de primeira linha – é a do primeiro soutien que “a gente nunca esquece”: o rosto do menino iluminado, entre fascinado e chocado, ao ver pela primeira vez uma mulher somente de soutien, numa revelação talvez precoce, talvez não, da beleza feminina como sendo de ordem sexual. O erotismo surge assim como efração, como surpresa, como deslumbramento – e, como tudo o que deslumbra, como algo que eclipsa, ofusca, muda para sempre o modo de olhar as coisas. Toda grande revelação é assim. Ela retira o véu que encobre o mundo, ela desvela, portanto, e ao mesmo tempo ela mostra a verdade, o que estava por trás do véu, o que
se achava escondido. Seu primeiro efeito é o de preencher os olhos tanto, que nada mais sobra. Por alguns instantes, que podem parecer demasiado longos, a vista está tão cheia que somem os objetos; em seu lugar, aparece – o quê? Uma luz? Objetos novos? Uma chance de viver a vida de um modo diferente? Vivo numa cidade que deve o nome a ter sido fundada no dia em que se festeja um cegamento. Pois seu patrono, Saulo de Tarso, perdeu a vista numa viagem a Damasco. Ele até então vivia perseguindo os cristãos, implacável. De repente, em plena estrada, fora de toda urbs, de toda civitas, de todo espaço urbano que protege e resguarda, uma luz o cega e uma voz o interpela. O episódio é conhecido, e não vou recontá-lo. A revelação de Cristo a seu perseguidor ofusca Saulo. Ele convalesce e se converte. Toda grande revelação só vale, pois, se ela opera uma conversão. Nada será como antes. O perseguidor se torna pregador. Saulo se torna Paulo. Perde o gentílico e se abre aos gentios. São Paulo nada mais tem a ver com Tarso. Ele deixa o local e se torna global. Provavelmente foi o primeiro grande globalizador da religião. O cristianismo, que poderia não ter passado de uma seita do judaísmo, quando muito de uma mudança no judaísmo, graças a ele sai da Terra Santa e parte para o mundo. Não será mais a religião de um único povo, mas uma
que se dirige a toda a humanidade. Por isso, foi essa a mais célebre das conversões, seguindose à mais célebre das epifanias.
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O erotismo surge assim como efração, como surpresa, como deslumbramento – e, como tudo que deslumbra, como algo que eclipsa, ofusca, muda para sempre o modo de olhar as coisas.” Inhotim é uma revelação. Não conheço ninguém que tenha visitado o centro de arte e não tenha saído – a palavra que empregam
é geralmente uma destas – deslumbrado, impressionado. Eu tive o privilégio de ser apresentado ao centro por Cláudio de Moura Castro, que me trouxe um catálogo que, a cada imagem, causava essas impressões – marcas fortes que ficam na alma e, por vezes, no corpo – que não são deléveis. Ficam. Fui assim seduzido pelas imagens, antes de conhecer o lugar que celebra, justamente, imagens, pois que arte é isso, são imagens. Falei em “seduzir”, e a palavra é correta – pois seduzir é desviar (ducere) do caminho certo. Mas o que é certo, quando se trata de arte, de criação? O certo geralmente é o menos bom. O que vai gerar futuro começa geralmente por ser errado. As obras que estão em Inhotim, sejam as que cabem no conceito usual de imagem em duas dimensões, sejam as que se abrem para mais dimensões, inclusive a sonora, rompem com a doxa, com a ortodoxia, isto é, com a opinião dita correta. Elas desviam-se e desviam quem as frequenta. Esse convite ao torto, ao diferente, é uma das contribuições mais importantes que a arte contemporânea oferece a quem a vivencia (por isso mesmo, em Inhotim não há espectadores, que manteriam com os objetos a distância mais ou menos tranquila que vige entre um sujeito e o objeto que em nada o modifica). Inhotim não é feito para os Bourbons da legenda, que voltam ao poder na França em 1814, depois de um quarto de século exilados, “não tendo esquecido nem aprendido nada”. É uma experiência de vida que faz aprender muita coisa e, sem dúvida, esquecer outras – porque talvez não haja aprendizado sem essa faculdade, que
Nietzsche dizia ser extremamente ativa, extremamente necessária para a criação, que é o esquecimento. A cultura que vale a pena é esta: a que modifica quem a frequenta. Lembro Freud, num artigo de 1916, em que deplorava a Grande Guerra então em curso, recordando com nostalgia os tempos imediatamente anteriores, quando o homem culto viajava pela Europa como se cada país, cada cultura, fosse uma sala diferente de um grande museu. Nada define melhor a concepção do que não é Inhotim. O Centro de Arte Contemporânea não é um museu feito para as pessoas apenas se deleitarem apreciando objetos variados, que em nada as interpelem. É uma série de perguntas, quase um questionário que se dirige a cada um de nós, contestando-nos, oferecendo-nos prazer – sem dúvida –, mas também sucessivas dúvidas. E com isso temos revelações que são diferentes das que inspiraram o apóstolo, pois elas não trazem certezas, não entregam uma nova fé, uma ortodoxia que suplante as anteriores, mas questões, perguntas. Não é por acaso que Inhotim muda a cabeça de quem se acostumou a apenas se deleitar ante as obras de arte, retirando-os do mundo possivelmente blasê do connoisseur, ao mesmo tempo que fascina os jovens, aqueles de olhar virgem. Termino com uma anedota veraz. Certa vez, encontraram-se os dois maiores filósofos que a França proporcionou ao mundo na segunda metade do século XX. Era por volta de 1970. Foucault disse a Deleuze: “Um dia, o século será deleuziano”. Queria dizer que os pensamentos tradicionais, os que remetem
a Aristóteles, Descartes e Kant, não davam conta do que despontava entre os mais novos. Ora, é o que presenciamos desde pelo menos aquela época imediatamente posterior a maio de 1968. O mundo muda em alta velocidade e mal damos conta de entender, quanto mais teorizar, o que nasce diante dos olhos. Inhotim faz parte desse novo mundo. Podemos ter escassa teoria a respeito, mas nós o enxergamos. Por isso, certamente, os jovens aqui encontram tanto prazer.
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A cultura que vale a pena é esta: a que modifica quem a frequenta.”
Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de S. Paulo, pesquisador 1-A do CNPq e membro do Conselho Consultivo de Inhotim.
Roberto Lima, Amigo do Inhotim desde junho de 2013. “Inhotim é um desses lugares únicos no mundo por conseguir mostrar uma coleção de arte contemporanea ampla e de alta qualidade no meio de um projeto paisagístico e arquitetônico de primeiríssima linha. Estamos felizes por poder participar desta história.”
Flávio, Amigo do Inhotim desde julho de 2011. “Eu e meus filhos frequentamos o Inhotim desde a sua abertura, há cerca de nove anos. Adoramos o Inhotim e frequentamos muito! Fazemos parte do grupo dos Amigos do Inhotim há três anos. Recebemos periodicamente a programação e somos sempre muito bem recebidos e atendidos. Adoramos ir ao Inhotim para ver novas mostras, rever as instalações permanentes ou mesmo curtir o dia passeando pelos jardins e brincando.
EXPEDIENTE Conselho Administrativo
Equipe Programa Amigos do Inhotim
Bernardo de Mello Paz (Presidente)
Renata Salles Diretora
Paulo de Tarso de Almeida Paiva (Vice-Presidente)
Daniela Machado Coordenadora
Cláudio de Moura Castro
Marina Rolim Analista Administrativo
Deborah Shamash José Carlos Carvalho Marcos Coimbra
Júlia Xavier Promotora
Roberto Brant
Daniela Araújo Promotora
Diretoria
Maria Luíza Parreiras Promotora
Ricardo Gazel
Marcela Aguiar Assistente Administrativo
Diretor Executivo Bruno Diniz Andrade de Oliveira Diretor Jurídico Eungie Joo Diretora de Arte e Programas Culturais Joaquim de Araújo Silva Diretor de Jardim Botânico e de Meio Ambiente Ricardo Leite Diretor Financeiro Renata Salles Diretora de Projetos e Captação Roseni Sena Diretora de Inclusão e Cidadania
Edição-Geral Jornalismo Fotografia