Criar leitores

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C r i a r Le i to r e s



J os é Mo ra i s Universidade Livre de Bruxelas (ULB), Bélgica


nota d o auto r

Este livro tem causa remota no fato de uma editora francesa ter me convidado, no início da década de 1990, a escrever uma obra de divulgação sobre a psicologia da leitura. L’art de lire, publicado em Paris em abril de 1994 e traduzido no Brasil, em Portugal e na Espanha, veio a ter efeitos inesperados. Em 1995, o ministro francês da Educação criou o Observatoire National de la Lecture. Nele participei durante 12 anos e fui responsável por um relatório (Apprendre à lire, 1998) que influenciou consideravelmente os programas escolares oficiais e as práticas do ensino da leitura na França. Em 2003, fiz parte de um grupo de especialistas que apresentou à Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados brasileira o relatório Alfabetização infantil: os novos caminhos. Desde então tenho falado para milhares de professores, em muitas cidades brasileiras, sobre o ensino e a aprendizagem da leitura. Em Portugal, em julho de 2006, a Comissária do Plano Nacional de Leitura, Dra. Isabel Alçada, convidou-me, assim

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como à professora Luísa Araújo, a dirigir um estudo psicolinguístico sobre os níveis de leitura e de escrita das crianças portuguesas do 1o ao 6o ano de escolaridade. Esse estudo terminou em outubro de 2010 em termos de coleta de dados, e tem fornecido informações que ainda estão a ser tratadas e interpretadas. Nesse contexto, escrevi, em colaboração com Luísa Araújo e Isabel Leite (atualmente secretária de Estado para o ensino primário e secundário), Cristina Carvalho, Sandra Fernandes e Luís Querido, o presente texto destinado aos professores e educadores, nestes incluindo mães e pais. O livro, com algumas diferenças justificadas pelo contexto nacional, é publicado quase simultaneamente em Portugal e no Brasil. A edição brasileira deve muito a dois estimados colegas e amigos, a quem estou profundamente reconhecido pelas inúmeras observações que permitiram tornar o texto mais preciso e acessível: João Batista Araújo e Oliveira, do Instituto Alfa e Beto, que tem desenvolvido no Brasil uma ação em grande escala, cientificamente fundada, em prol da alfabetização; e Ana Luíza Navas, do Instituto ABCD, que tem liderado os esforços para fazer aceitar oficialmente no Brasil a ideia de que, como acontece nos países desenvolvidos, a dislexia deve ser considerada como distúrbio específico, requerendo um programa orientado de ensino e reeducação. Deixo aqui, enfim, um sinal de enorme admiração e gratidão à minha amiga Leonor Scliar-Cabral, linguista, alfabetizadora e poeta, com quem tenho tido inúmeras ocasiões de aprender. Foi ela quem, há 25 anos, convidou-me a vir pela primeira vez a este país maravilhoso, berço outrora de meu avô paterno – que tanto estimulou o meu gosto pela escrita –

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e agora de milhões de crianças que merecem, todas, ter as melhores condições de virem a ser leitoras competentes. José Morais Université Libre de Bruxelles São Paulo, 2012

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sum ár i o

Prefácio | 11 Introdução | 15 Apresentação | 23 A aprendizagem da leitura inicia-se em casa, na creche e na escola infantil | 27 Para ler muito, é necessário saber ler. Então... o que é ler e o que é saber ler? | 35 O que é o alfabeto | 45 A aprendizagem da leitura e da escrita começa, como na marcha, por um primeiro passo... | 61 Um passo depois de outro passo... é quase como andar! | 79 Andar sem cair... e até correr! | 93 Ler, ler, ler, e... escrever mais e melhor! | 115 Compreender mais e melhor | 137 Leitura, linguagem, cérebro, e o papel da escola na procura da equidade social | 153 Glossário | 163 Bibliografia recomendada | 171



p refác i o

Criar leitores é um presente que mais uma vez o professor José Morais oferece a todos os seus leitores que se preocupam com o aprendizado da leitura. Considerado um dos mais competentes especialistas em leitura em todo o mundo, José Morais tem uma habilidade invejável de traduzir o complexo em simples, de transformar as evidências científicas em conhecimento aplicado no mundo real. Em 1996, era publicado no Brasil o livro A arte de ler, também de autoria do professor José Morais; obra que com certeza influenciou positivamente uma geração de psicólogos, professores e fonoaudiólogos que embarcaram com o autor na aventura dos caminhos da alfabetização. Sempre preocupado em contribuir para a educação em geral, e em especial para a melhoria da formação do professor alfabetizador, o professor José Morais participou, no Brasil, de inúmeros congressos, palestras e simpósios, compartilhando seus achados científicos com os mais variados públicos, professores, alunos, pais e políticos.

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Criar leitores é um guia para pais e professores, publicado em parceria com o Instituto ABCD e com o Instituto Alfa e Beto, e vem preencher um espaço na literatura nacional. O autor conversa com seu público, de uma forma gentil e simples, mas ao mesmo tempo atualizada e embasada em evidências científicas acumuladas em anos de desenvolvimento da ciência da leitura. Essa parceria para a edição deste livro tem o objetivo de disseminar o conhecimento sobre os processos complexos envolvidos na leitura e na escrita. Todos nós entendemos que compartilhar essas informações é tarefa essencial para provocar mudanças no triste cenário da educação no Brasil. Outra grande contribuição desta obra é destacar o papel do educador e da família no processo de domínio da escrita, em toda sua complexidade. E mais ainda: possibilitar que pais e educadores estejam atentos às inúmeras razões para as falhas nesse processo. Pais e professores são elementos protetores do processo de aprendizagem, sobretudo quando há dificuldades. Essas dificuldades de aprendizagem podem ter causas emocionais, sociais ou, ainda, secundárias a deficiências auditivas, visuais e/ou mentais. Também podem ser o sinal de um transtorno específico de aprendizagem, como a dislexia. Em todo o mundo são estimados cerca de 4 a 8% de pessoas com transtornos de aprendizagem e a legislação de ao menos 172 países garante que esses indivíduos tenham acesso a adaptações pedagógicas para o pleno desenvolvimento de seu potencial de aprendizagem. No Brasil, ainda não há um programa nacional que reconheça oficialmente que as crianças e jovens com dislexia precisam de adaptações no sistema educacional, o que causa

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problemas sérios e muitas vezes irreversíveis para esses alunos e suas famílias. Torna-se essencial saber identificar os primeiros sinais de que algo não está bem no aprendizado da leitura e escrita para que uma intervenção adequada seja oferecida o quanto antes. O Instituto ABCD considera fundamental apoiar a formação de educadores para desenvolver boas práticas de ensino de leitura e, assim, minimizar os efeitos negativos de crianças com dislexia inseridas no ensino regular. Essas práticas de ensino da leitura e escrita, que são especialmente adequadas para a criança com dislexia, com certeza são excelentes também para todos os estudantes. Ana Luiza Navas Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Instituto ABCD

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