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carta de agradecimento
- CARTA DE AGRADECIMENTO por Yasuko Saito
em nome da família morita e da Associação Hibakusha Brasil pela Paz, gostaria de fazer algumas menções e alguns agradecimentos especiais às pessoas sem as quais este livro e muitas das histórias contidas nele não chegariam à apreciação dos leitores.
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Primeiramente, gostaria de agradecer ao professor André Lopes Loula, diretor cultural da Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que possibilitou que a história de Takashi Morita fique registrada para as futuras gerações. E agradecemos também a toda a equipe da editora Universo dos Livros, que colocou esse projeto em prática. Gostaria de agradecer também à jornalista Denise Bertola, que, com muito conhecimento, dedicação e entusiasmo, ajudou-me na revisão dos textos.
Queria também deixar um registro especial sobre as lembranças de minha mãe, Ayako, parceira inseparável de meu pai, que vieram à tona ao reler toda a história que viveram juntos. São preciosas recordações dos momentos que vivemos como família. Gostaria que o leitor conhecesse também o lado humano de Takashi Morita, como pai e marido dedicado à família. Sua história é muito intensa.
O destino sempre lhe trouxe obstáculos difíceis, mas ele enfrentou tudo com muita sabedoria e humildade. Como filha, o que mais admiro nele é o amor que compartilhava
com minha mãe. Eles formavam um casal perfeito aos meus olhos. Como japoneses da geração antes da Segunda Guerra Mundial, não eram de demonstrar afeições aparentes, mas, mesmo assim, muitos vizinhos percebiam o carinho que existia entre os dois. Trabalhavam juntos e discutiam sempre, pois ela tinha uma personalidade forte e opiniões próprias, as quais ele respeitava muito. Quando o assunto da conversa eram lembranças da época da guerra e da bomba atômica, os dois representavam verdadeiros companheiros sobreviventes. Compartilhavam experiências, lembranças, temores e, sobretudo, esperanças.
Acredito que foram pessoas ideais para presidir a nossa associação e ajudá-la a chegar ao patamar em que chegou, com ajuda de muitos colaboradores. É uma pena que minha mãe não esteja conosco agora. Não conseguiu ver muitas das vitórias e conquistas que chegaram após seu falecimento. Na época da fundação, era ela quem escrevia, à mão, todas as cartas e petições às autoridades do governo japonês; não havia máquina de escrever em japonês naqueles tempos. Nos anos 1990, ela fez questão de adquirir um processador de texto em japonês e o dicionário eletrônico, uma tecnologia nascente na época. Ayako gostava muito de acompanhar a evolução da era digital. Seus olhos brilhavam quando encontrava novidades como uma agenda eletrônica, ela a adquiria e tentava aprender a utilizar o equipamento com muita alegria. Seu espírito era muito jovial – o casal era muito parecido nesse aspecto.
Uma lembrança em especial sempre me traz muita emoção. Na época em que estavam comemorando as bodas de ouro, ela fez uma descoberta maravilhosa! Quando contou esse episódio para mim, mamãe parecia uma garota apaixo-
nada, radiante. Uma noite, conversando com meu pai, como de costume, o assunto foi sendo desenvolvido em torno dos acontecimentos da juventude, da época em que moravam em Hiroshima. Ela contava sobre o colégio onde estudava e se lembrou do dia em que foi à cerimônia de inauguração do novo estádio poliesportivo da cidade, quando todos os estudantes de Hiroshima foram convocados a comparecer. Acontece que isso foi um dia antes do ataque japonês a Pearl Harbor, que desencadeou a guerra contra os Estados Unidos. Por isso, a ocasião ficou ainda mais gravada em sua memória. Ela perguntou ao marido se ele havia comparecido ao evento e também se ele se lembrava de um jovem que, em nome de todos os estudantes da cidade, fez um belo discurso para o público presente. A resposta do meu pai foi imediata e simples: “Lembro, sim! Lógico que me lembro dele. Esse rapaz era eu!”. Imagino a surpresa e a felicidade dela ao saber que a imagem de um jovem que ficou em sua memória na mocidade era a do próprio marido com quem vivia junto havia tanto tempo! E como aconteceu de nunca terem comentado sobre esse evento antes daquele dia!
Senti como se estivesse ouvindo um conto de fadas, fiquei muito feliz em saber desse episódio romântico da vida de meus pais. Mas o destino começou, aos poucos, a tirar as lembranças de minha mãe. Pouco a pouco, ela foi se retirando da vida terrena, talvez para que a família aceitasse a sua ausência aos poucos, tornando nosso sofrimento um pouco menos doloroso. Desde então, meu pai sempre carrega uma foto dela, esteja onde estiver: nas palestras, nas viagens, ela sempre o acompanha. E, com certeza, seu espírito está sempre conosco, principalmente com Takashi.
Hoje, com 96 anos muito bem vividos, papai parece estar em paz com sua vida, apesar das conturbações da sociedade. A felicidade estampada em seu rosto quando interage com jovens brasileiros que lhe transferem a energia de estar vivo traz uma certeza para mim: foi o destino que o trouxe ao Brasil. Aqui ele tem uma missão a cumprir!
Aqui, do outro lado do planeta, muito longe de onde ele nasceu, é o seu lugar!
Cercado pelo carinho da juventude brasileira, recebendo muitas homenagens da sociedade, Takashi ainda tem muita motivação para viver. Os amigos, os hibakushas, a família, todos precisam dele, e ele ainda está firme, conosco! Muito obrigada a todos que se envolveram neste livro e na vida de Takashi Morita. São tantas as pessoas que tornaram sua vida especial, não consigo citar todos os nomes, pois estaria sendo injusta com muitos. Por isso, em nome da família Morita, deixo aqui registrado os nossos sinceros agradecimentos a todos!