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Leitura
Eu amo as leis do império, e ela me oprime Nesta vil masmorra. [...]
(Lira XXVI, Marília de Dirceu, Tomo II)
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Nessa passagem, o poeta maldiz a Fortuna, o Destino, que permite que tenha cetro — ou seja, poder — aquele que não tem virtudes, não tem talentos. A última estrofe do poema revela ainda a condição de injustiça em que o Eu lírico se encontra: a infame sorte, o infame destino, permite que quem fere, quem rouba, corra atrás do vício — ou seja, da ganância — em liberdade. Já o poeta, ao apelar para as “leis do império” — as quais ele diz amar, por ser ele mesmo, o poeta, uma figura do poder judiciário —, protesta por estar mantido na masmorra durante o processo de julgamento dos inconfidentes.
Por fim, aproveite os vários registros da língua portuguesa, do mais popular ao erudito, do estilo elevado da poesia árcade ao registro linguístico mais presente, para ressaltar que a dinâmica da língua é o que a mantém viva, sendo ela, ao mesmo tempo, transformadora e agente de transformações de seus falantes. Não se prenda apenas ao resumo do livro ou ao seu enredo, mas procure chamar a atenção também para o aspecto formal da obra: seu aspecto polivalente, sua cronologia fragmentada, seus vários registros linguísticos e as suas múltiplas possibilidades de leitura: literária, histórica e social.
LEITURA
Estimule os estudantes a se lembrarem dos conceitos aplicados nas aulas expositivas de Língua Portuguesa: a que gênero literário perten-
ce o livro? Por que a escolha do romance como forma para tratar de um assunto histórico? No livro, retratam-se vários personagens, traço caraterístico do romance, mas por que optou-se por colocar uma mulher como protagonista da história? Isso revela também um sinal do nosso tempo? Por quê? É possível comparar o mundo do livro com a estrutura social hoje? Sendo assim, orientamos que, durante a leitura, o professor estimule a conversa entre os alunos, para que eles participem e sejam agentes da própria leitura.
Lembre os estudantes da estrutura geral do livro, pois, se por um lado eles são capazes de reconhecer, por exemplo, a estrutura geral de uma série televisiva, com seus “ganchos” que prendem a atenção entre um episódio e outro, não têm ainda muita familiaridade com a forma de um romance. Por isso, é importante ressaltar, durante a leitura, em que momento do livro se está. Assim, o estudante começa a ter mais familiaridade com a estrutura da obra e passa a reconhecer também a forma da obra literária. Desse modo, ele pode se identificar com ela e, durante a leitura, formular hipóteses de saída para o enlace da trama. A intenção é que ele não seja apenas um leitor passivo, mas também um coautor da obra literária.
A estrutura geral do livro Os inconfidentes: uma história de amor e liberdade pode ser definida da seguinte forma:
• Prefácio: apresentação da heroína Bárbara Heliodora, já em idade avançada, sendo cuidada pela irmã, Maria Cândida.
Destaque para a intimidade no tratamento entre as irmãs (Josefa trata Bárbara Heliodora por “Bá”) e o ambiente familiar criado pelo narrador, que é um ambiente de paz e de encerramento de um ciclo.
• Primeira parte: é o início da trama. Aqui, temos a protagonista, ainda jovem, sendo apresentada em sociedade. Ocorrem as apresentações entre Bárbara e seu futuro marido, José de
Alvarenga Peixoto, e o desenrolar do romance entre ambos, abordando-se a gravidez e o casamento, nessa ordem. Além disso, é nesta parte que se discorre sobre a entrada de ambos os personagens na Inconfidência Mineira. Apresentam-se várias personalidades históricas. Uma marca importante nesta primeira parte são as tentativas de maior participação social e política da heroína.
• Segunda parte: o momento de maior tensão do enredo. Os inconfidentes são delatados, presos, julgados. Joaquim José da
Silva Xavier, juntamente com os demais revoltosos, são sentenciados, e ocorre a separação dos casais antes formados: Bárbara
Heliodora e Alvarenga Peixoto, Maria Dorotéia e Tomás Antônio Gonzaga.
• Epílogo: formado por apenas um capítulo, situa-se temporalmente entre os momentos decisivos da repressão à Inconfidência e a velhice de Bárbara Heliodora, retratada no prefácio. A ligação entre momentos distintos da narrativa ocorre pela incidência da chuva sob a protagonista, símbolo de renovação e liberdade. Ela recebe a chuva como antes recebera, ainda muito jovem, desafiando os costumes da época.