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Aprofundamento

O livro Os inconfidentes: uma história de amor e liberdade reúne aspectos de um gênero a que chamamos romance. Não se trata, portanto, de uma obra dos gêneros poesia, conto ou novela. O romance se caracteriza, em geral, por apresentar uma narrativa de fôlego, ou seja, de longa extensão, de modo que sejam muitas as ações narradas e variados os conflitos retratados. Ao contrário do gênero conto, no qual uma única ação acompanha a trajetória de poucos personagens, no romance são vários os conflitos que acometem os vários personagens do livro.

O romance moderno nasceu no contexto do Renascimento, quando novas perspectivas a respeito da humanidade e da religião surgiram, dando ao ser humano uma nova dimensão de seus limites, de suas obrigações e de sua posição no mundo e na história. Miguel de Cervantes, com o livro Dom Quixote, é considerado precursor do gênero, ao compor uma obra parodiando os romances de cavalaria medievais. Esse herói cavalheiresco e medieval não era um indivíduo lutando por sua felicidade emocional e profissional, e sim o representante de uma comunidade guardando em si os valores fundamentais da sua nação. Dom Quixote, por outro lado, abriu a perspectiva de se ver o homem como indivíduo, com seus problemas pessoais e dificuldades diante da sua realidade histórica e social. Nesse ambiente, o personagem da triste figura luta por um mundo ideal enquanto caminha por uma realidade que não existe mais, ou existe apenas em sua imaginação, e tal descompasso é gerador de um triste sorriso dos leitores, que, enquanto se divertem com as suas loucuras, não conse-

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guem deixar de sentir pena dele, ao mesmo tempo que se identificam com a sua incapacidade de alcançar os ideais almejados.

Com o passar do tempo, o gênero romance se tornou o meio de divulgação dos ideais burgueses, bem como de suas crises. Nesse contexto, o herói romanesco é essencialmente problemático, sempre disposto a contestar os ideais impostos pela sociedade, criando, por sua experiência e reflexão, os seus próprios valores e ideais. Assim, diferentemente do que acontecia com as narrativas de cavalaria medieval, o personagem do romance não é mais um reflexo dos valores da comunidade e sim o contestador deles e, nesse sentido, é um personagem em formação, em constante desenvolvimento diante das suas próprias experiências.

Consequentemente, o romance é um gênero aberto, já que não há limitações de temas, visões de mundo, posicionamentos críticos e de interesses. Na modernidade, não há mais espaço para valores estratificados que sirvam de modelos de conduta para o indivíduo; esses valores devem ser descobertos pelo próprio personagem diante de sua aventura de viver. Na tentativa de atender, então, às necessidades individuais, o romance moderno também mostrou a abertura como essência da escrita literária, com amplitude e capacidade de se atualizar e renovar as novas configurações da sociedade.

Lembre os alunos de que são várias as maneiras de narrar, tanto em relação ao gênero literário escolhido como quanto à maneira como os eventos serão narrados. Os Inconfidentes: uma história de amor e liberdade, por exemplo, não apresenta uma sequência linear dos eventos, pois a narrativa se inicia em um momento posterior à Conjuração Mineira, quando a heroína, à beira da morte, tem uma visão de Maria Ifigênia, sua filha com o poeta e inconfidente Alvarenga Peixoto.

Bárbara Heliodora é a protagonista desta novela histórica. Ela luta ativamente para fazer valer a sua participação familiar, social e política, em uma sociedade marcada pelas baixas taxas de alfabetização e mobilidade social femininas e com o agravante do clima de tensão que antecedeu a Inconfidência Mineira (1789).

Procure situar a obra cronologicamente em uma roda de conversa informal com os alunos, extraindo deles a visão que têm sobre os movimentos revoltosos do país, tanto passados quanto presentes. Encaminhe o bate-papo com os estudantes de modo a fazer com que criem empatia pelos personagens da obra, pelo enredo e por sua estrutura.

Relacionar as atividades do livro com a matéria em aplicação de sua disciplina é uma maneira de motivar e situar os estudantes, para que todos possam apreciar sua leitura leve e ágil, que certamente irá cativar um público bastante distinto e, por isso, mais amplo. Estamos vivendo novos tempos: a discussão sobre os direitos das mulheres não se concentra mais em grupos específicos e a luta feminista amplia seu debate na sociedade. Da violência contra a mulher à cultura do assédio, uma série de questões é tema de conversas frequentes na mídia e nas redes sociais. Por fim, lembre-se de que a intermediação entre o livro e os estudantes, além do encaminhamento da conversa sobre ele, é tarefa do professor, então proponha questões que possibilitem a ampliação das percepções a partir da leitura e que contribuam para o estabelecimento de relações entre a obra e o contexto atual: Qual é o papel da mulher na sociedade? O que foi necessário para chegarmos até aqui? Qual a importância de mulheres como Bárbara Heliodora nessa trajetória? Quem são as mulheres que influenciaram e influenciam o empoderamento feminino no Brasil e no mundo?

Porém, é importante que o estudante também assuma para si o discurso, pois é assim que poderá se apropriar da obra literária. Escrever significa expressar algo por meio da escrita. Mas, muitas vezes, só é possível se manifestar após uma provocação. Proponha uma produção escrita, incentivando o protagonismo conforme previsto na BNCC, orientando a produção de um conto em que o estudante possa apresentar, como na obra lida, o protagonismo inovador de uma mulher de seu convívio pessoal. Como provocação para a escrita, antes de iniciar a produção textual, proponha a leitura do texto “O que é empoderamento feminino”, da autora Djamila Ribeiro (disponível em https://www.ceert.org.br/noticias/genero-mulher/19280/o-que-e-o-empoderamento-feminino)

O texto apresenta muitas questões sobre os porquês e a importância de a mulher conquistar seu espaço e lutar por seus direitos. A leitura pode ser compartilhada, realizada em sala de aula, envolvendo todos os estudantes. No decorrer da leitura podem ser feitas pausas para identificar ideias centrais ou comentar pontos de destaque. Ao final da leitura os estudantes poderão manifestar seus pontos de vista, desenvolvendo um debate a partir do texto.

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