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Carta ao professor

Olá, professora! Olá, professor!

O livro que chega até você conta a história de um amor proibido entre dois protagonistas que existiram de verdade! Seria possível amar alguém além da vida? Quem trocaria o poder e o prestígio da realeza para viver um amor verdadeiro em uma paisagem bucólica? Esse romance ultrapassou a fronteira entre dois reinos antagônicos e tornou-se uma lenda, segundo a qual os súditos foram obrigados a beijar a mão de uma rainha coroada… morta! Parece bem macabro, não é?

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Pedro e Inês de Castro conta a história de amor entre Pedro I de Portugal e Inês de Castro, que foi inspiração para célebres autores, dentre eles Garcia de Resende, Luís de Camões, Bocage, Alexandre Herculano e Agustina Bessa-Luís.

A história se passa na Idade Média entre os anos de 1320 e 1367. Ele, herdeiro do trono português, filho do Rei Afonso IV e da Rainha Beatriz; ela, filha de Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei D. Afonso XI do reino de Castela, e de uma dama portuguesa.

Pedro I, no entanto, já era casado com Dona Constança Manuel. O casamento entre os nobres era uma união que visava à expansão de suas riquezas; não se baseava no sentimento de amor entre os nubentes. Os filhos da nobreza tinham casamentos já decididos por seus pais desde a mais tenra idade ou, muitas vezes, antes de nascerem. Eventualmente, mudavam-se os “pretendentes”, caso outro oferecesse maior vantagem. A mulher nunca tinha poder de decisão e nem sequer podia opinar sobre questões políticas.

O infante se apaixonou por Inês desde sua chegada, na comitiva de Dona Constança, e, embora casado, tornou-se amante “ secreto ” da dama de companhia.Todo o reino comentava com alarde e reprovação.

Poderia o futuro rei de Portugal comprometer a reputação da Coroa e a confiança de seus súditos? Deveria seguir seu coração e abdicar do futuro trono? Ou reconciliar-se com a retidão que é esperada de um rei e cumprir o destino que determinaram para ele?

Pertencer à realeza significa desfrutar dos privilégios da opulência, mas também conviver com os dissabores dos jogos de interesse e da cobiça, e com o risco de morte constante. É como materializar-se em um tabuleiro de xadrez na vida real. Um jogo de estratégias que devem ser meticulosamente planejadas, no qual as jogadas do adversário devem ser previstas e, para cada movimento, é desejável um contra-ataque ainda mais pujante ou a perda de território, culminando com a derrubada do soberano.

D. Afonso IV temia que um herdeiro de Inês de Castro ameaçasse a Coroa portuguesa. Era preciso agir com rapidez.

Estava prestes a acontecer um dos episódios mais macabros da história de Portugal e uma das mais lindas histórias de amor já conhecidas. Dessa passagem, originou-se a frase “Agora Inês é morta”, usada ainda hoje em situações em que alguém insiste em uma investida quando algo já aconteceu, inoculando seu esforço.

No mosteiro de Alcobaça, há dois túmulos cuja beleza singular os coloca entre as maiores obras de arte da história da humanidade, um em frente ao outro. Entre os entalhes é possível se avistar uma inscrição, que alguns estudiosos afirmam dizer: “Até o fim do mundo”.

O livro de Helena Gomes reconstitui a história desses dois personagens históricos a partir de uma perspectiva intimista, humana e

próxima do contexto da época. Os dados foram retirados de documentos, de crônicas e de lendas criados por renomados autores, que tiveram esse episódio como inspiração.

Figuras e passagens históricas se misturam com a imaginação da autora para preencher as lacunas de dados não encontrados ou informações inconsistentes sobre algum acontecimento, mas é evidente seu compromisso com a historiografia oficial, tanto quanto possível.

Segundo Larrosa (2013, p. 19), “experiência é aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma”. O estudante do Ensino Médio é um adolescente que experimenta ou já experimentou com intensidade seus primeiros conflitos amorosos; amores impossíveis, uniões que desagradam aos seus pais, traições, corações partidos…

A narrativa de Pedro e Inês de Castro é repleta dessas experiências intensas, e convida esse jovem leitor a se colocar no lugar dos personagens e viver suas angústias e momentos de alegria em Portugal, na Idade Média. Isso faz do material um campo fértil para o desenvolvimento e aprimoramento de competências e habilidades relacionadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como, por exemplo:

compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. (BNCC, p. 484)

Esse romance histórico pode ser ponto de partida para experiências interdisciplinares, de modo a aprimorar a relação entre os estudantes, dos estudantes com os professores e também dos próprios professores entre si, e a articulação de suas estratégias de trabalho.

Como se trata de narrativa de ficção que toma por base episódios da historiografia oficial, possibilita também o trabalho com variados gêneros textuais, que vão desde o romance, a biografia, a historiografia linguística e a poesia até a pesquisa em textos científicos das diversas áreas do conhecimento.

Os professores podem, ainda, utilizar com os estudantes estratégias de diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) e oportunizar que os alunos

[exerçam], com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem ooutro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global. (BNCC, p. 481)

O romance faz referência à “peste negra”, que dizimou parte da população de Portugal e de outros países. O advento da peste coincidiu com o período de expulsão dos mouros da Península Ibérica, de modo que a epidemia foi associada à presença deles, inflamando ainda mais a população contra esse povo. Assim, é possível visualizar a articulação entre as áreas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza, relacionando esses fatos ao momento da pandemia de Covid-19, inclusive no que diz respeito ao impacto nas relações sociais e econô-

micas dos países, bem como trabalhar questões sobre preconceito e bullying.

O bullying também pode ser abordado mediante referência ao distúrbio da fluência da fala que Pedro I apresentava. A autora encontrou registros que mencionavam essa dificuldade apresentada pelo monarca. Também há referência no romance ao sentimento de “menos valia” de Pedro I, devido à forma como era avaliado pelas pessoas mais próximas quanto à sua aparência — sua obesidade é notória —, oque intensificava ainda mais sua insegurança e, por conseguinte, sua dificuldade de falar em público (EM13CHS201; EM13CHS502).

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