ZONA DE POESIA ÁRIDA - Poetry Arid Zone

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COLETIVOS A Revolução Não Será Televisionada | BijaRi | Catadores de Histórias Cia Cachorra | COBAIA | Contrafilé | Dragão da Gravura | EIA | Elefante Espaço Coringa | Esqueleto Coletivo | Frente 3 de Fevereiro | Mico Nova Pasta | ocupeacidade | Política do Impossível

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COnTRAFILé Monumento à catraca invisível [Monument to the invisible turnstile] 2004

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“a incorporação desse conjunto à Coleção MAR dá as bases para a discussão em torno dos processos de circulação pública e institucionalização da arte – e, de modo geral, das práticas de criação e resistência da sociedade –, debate essencial que exige das instituições uma renovada capacidade de autocrítica.” “the incorporation of this set into the MAR Collection forms the bases for discussion around the processes of public circulation and institutionalization of art – and, in a general sense, of the practices of creation and resistance of society – a key debate which requires a renewed capacity of self-criticism from institutions” 3

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Arid Poetry Zone presents the set of more than 55 works by 16 São Paulo art and activism collectives present in the MAR Collection. These works make up the Collective Creativity Fund/Funarte formed by means of the 6th edition of the Marcantonio Vilaça Plastic Arts Award, an initiative of great importance in the field of cultural public politics in this country. The museum is grateful to Funarte and to the artists for having chosen MAR and for the privilege of housing this unique set of artworks among the country’s public collections. This group of artworks shows that MAR is a museum of processes: The Collective Creativity Fund is a fundamental breakdown of the presence of several collectives and groups from São Paulo in the inaugural exhibition The Shelter and the Land, which debated the right to the city and to housing, as well as the relationship between public and private. In 2014, the MAR at the Academy programme presented the seminar City, Art and Architecture: Social Housing in Brazil, in partnership with PROURB/UFRJ, Instituto Casa, ETH-Zürich and Swissnex Brazil. The production of artists, activists and members of social movements is a point of inflection on Brazilian art history, which demands to be thought of critically. It becomes necessary to collect, to exhibit and to reflect upon this production, so that its pressing issues – social, aesthetical, political, economic – encounter resonance, increasing its public and the historical significance of its struggles. The incorporation of this set into the MAR Collection forms the bases for discussion around the processes of public circulation and institutionalization of art – and, in a general sense, of the practices of creation and resistance of society – a key debate which requires a renewed capacity of self-analysis from institutions. As such, the agenda of institutional critique is yet another important step for the museum, one that has been applied since The Shelter and the Land and advancing through exhibitions like Stratigraphic Turbidities – Yuri Firmeza, Eu Como Você – Grupo EmpreZa or the current exhibition Museum of the Man of the Northeast. Arid Poetry Zone demonstrates the established new practices of the 2000s, which crisscross strategies of art and an especially intense form of activism. It is, in the end, with a desire to reverberate this potential of confrontation and invention that the Collective Creativity Fund becomes consolidated. After all, the Museu de Arte do Rio, as an institution that appeared in the 21st century and that faces the challenges posed by the current cultural sociopolitical context, understands that the continued activation of this field of investigations is part of its responsibilities. Museu de Arte do Rio – MAR 4

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Zona de Poesia Árida apresenta o conjunto de mais de 55 trabalhos de 16 coletivos de arte e ativismo de São Paulo presentes no acervo do Museu de Arte do Rio. Essas propostas constituem o Fundo Criatividade Coletiva/ Doação Funarte, formado por meio da 6a edição do Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, iniciativa de grande importância no campo das políticas públicas da cultura deste país. O museu agradece aos artistas por terem escolhido o MAR e à Funarte o privilégio de abrigar este conjunto singular entre as coleções públicas do país. O conjunto evidencia que o MAR é um museu de processos, pois o Fundo Criatividade Coletiva é um desdobramento da presença de alguns coletivos e grupos de São Paulo em sua exposição inaugural O Abrigo e o Terreno, que debateu o direito à cidade e à habitação, além das relações entre o público e o privado. Em 2014, o programa MAR na Academia promoveu o seminário Cidade, Arte e Arquitetura: Habitação Social no Brasil com o PROURB/UFRJ, o Instituto Casa, a ETH-Zürich e a Swissnex Brazil. A produção de artistas, ativistas e integrantes de movimentos sociais é inflexão na história da arte brasileira que demanda ser pensada criticamente. Colecionar, exibir e refletir sobre essa produção faz-se necessário para que suas prementes questões – sociais, estéticas, políticas, econômicas – encontrem ressonância, ampliando seu público e o alcance histórico de suas lutas. A incorporação desse conjunto à Coleção MAR oferece as bases para a discussão em torno dos processos de circulação pública e institucionalização da arte – e, de modo geral, das práticas de criação e resistência da sociedade –, debate essencial que exige das instituições uma renovada capacidade de autoavaliação. A pauta da crítica institucional, que já estava posta desde O Abrigo e o Terreno e veio avançando através de exposições como Turvações Estratigráficas – Yuri Firmeza, Eu Como Você – Grupo EmpreZa ou a mostra atual Museu do Homem do Nordeste, dá agora mais um importante passo no museu. Zona de Poesia Árida demonstra que nos anos 2000 instauraram-se novas práticas que entrecruzam estratégias da arte e do ativismo de modo especialmente intenso. É, enfim, com o desejo de reverberar essa potência de questionamento e invenção que se consolida o Fundo Criatividade Coletiva. Afinal, o Museu de Arte do Rio, como instituição que surge no século XXI –, encarando os desafios colocados pelo atual contexto sociopolítico da cultura, compreende que é parte de suas responsabilidades a contínua ativação desse campo de investigações. Museu de Arte do Rio – MAR 5

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Política do Impossível Cidade luz [Light city], 2008

Frente 3 de Fevereiro Onde estão os negros? [Where are the black people?], 2005

BijaRI Cartaz gentrificado [Gentrification poster], 2005

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Nova Pasta A Revolta dos Burros [The Donkey Revolt], 2012

contra filé Monumento à catraca invisível [Monument to the invisible turnstile] 2004

Esqueleto Coletivo Passagens [Pathways], 2005

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FREnTE 3 dE FEVEREIRO Zumbi somos n贸s [We are Zumbi], 2006 foto [photo]: J煤lia Vallengo

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“constrói-se também uma Zona de Poesia Árida, que tem como topografia a cidade e suas fendas.” “An Arid Poetry Zone is also constructed, which has the city and its cracks as its topography.”

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Arid Poetry Zone In the works of Arid Poetry Zone, there is the ability of spreading that is inherent to the field of collective cultural production. There are works that, despite having been produced at the beginning of the century, become more and more relevant and assert themselves as a reference in the fields of art and of activism. The sequence of banners by Frente 3 de Fevereiro and their questioning of racism in football, for example; or even the Monument to the invisible

turnstile, by the Contrafilé collective, in which the symbol of the turnstile – and its tacit “disturnstilation” – has been upgraded to a landmark of resistance. These are works by a generation that lived and created a trajectory together, a repertoire, a singular group of actions in one of the biggest metropolises in the world. A generation that tore up institutional space right up to public life, crossing and being crossed by various social movements. It is not just the most relevant works of part of this generation of São Paulo art collectives from the start of the 21st century that are brought together. An Arid Poetry Zone is also constructed, which has the city and its cracks as its topography. Daniel Lima and Túlio Tavares, curators

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Zona de Poesia Árida Existe nos trabalhos de Zona de Poesia Árida a capacidade de espalhamento que é inerente ao campo da produção cultural coletiva. Há obras que, mesmo tendo sido produzidas no início do século, são cada vez mais atuais e se afirmam como referência nos campos da arte e do ativismo, a exemplo da sequência de bandeiras da Frente 3 de Fevereiro e seu questionamento sobre o racismo no futebol; ou ainda o Monumento à catraca invisível, do coletivo Contrafilé, em que o símbolo catraca – e sua tácita “descatracalização” – tem sido atualizado como um marco de luta. São obras de uma geração que viveu e criou junto uma trajetória, um repertório, um conjunto singular de ações numa das maiores metrópoles do mundo. Uma geração que esgarçou o espaço institucional até a vida pública, cruzando e sendo atravessada por movimentos sociais diversos. Reúnem-se não apenas os trabalhos mais relevantes de parte dessa geração de coletivos artísticos paulistanos do início do século XXI, constrói-se também uma Zona de Poesia Árida, que tem como topografia a cidade e suas fendas.

Daniel Lima e Túlio Tavares, curadores

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o nome ZonA de PoeSiA ÁridA foi originalmente criado em 2005 em performance do coletivo Cia. Cachorra. [the name Arid Poetry Zone was originally created in a 2005 performance by the Cia. Cachorra collective].

CIA CACHORRA Zona de poesia árida [Arid poetry zone], 2006 foto [photo]: Antônia Brasiliano

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“Nesse momento em que o movimento parecer perfume é que o vírus, implantado lá atrás, no primeiro instante, antes do furacão se formar, estará eternamente desequilibrando, desarrumando, desorganizando e atrapalhando.” “Right in the moment when the movement appears to be perfume is when the virus, implanted there at the back, right at the start, before the hurricane forms, will be eternally unbalancing, messing things up, disorganising and disrupting.”

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BE CAREFUL WITH THE FIRE Is A(r)tivism a joke? Is Ar(r)ivisme serious? How many belly buttons make a collective? Belly(b)uttonism? Art goes beyond the perception that we have of it in real time. In fact, what is seen isn’t exactly art, but a kind of distorted reflection. Therefore it is easy to be blinded in the moment that we want to understand it. It all began in the early 2000s. We were in a great series of transformations, trying to create survival tactics through the exchange of interests, content and affections. We produced outside the financial circuit, working collectively, creating collectives, taking part in other collectives, articulating with each other. I ended up in the middle of a hurricane, and a hurricane only happens if everything is ready for it to happen; a hurricane never comes out of nowhere, the elements were all there: the correct amount of humidity, the right amount of air, the change in temperature from here to there, wind x passes just below wind y and, boom!, a hurricane exploded. What I say is this: everything was in the air for this coming together to happen, a chaotic city and artists organised in collectives and social movements. All the logic that would cause this to happen was there, before even this hurricane, which happened freely, with no strings attached, without contracts. We knew the symbolic force that this urban network could have in the micro and macro political spheres. We radically positioned ourselves against spectacular culture and spectacularisation in general, or rather, against the non-participation, alienation and passiveness of society. We proposed the participation of individuals in all fields of social life, especially in culture. Even nowadays, many of these collectives produce actions that are practices of intervention in public spaces, combining art and activism which are spread through virtual and face to face networks. Using network communication back then, we ended up organising actions against icons of the neoliberal system. Art produces images, sounds and memory. It reverberates in society and in people, who then reverberate with even more people. Biological metaphor and

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CUIDADO COM O FOGO O A(r)tivismo é brincadeira? O Ar(r)ivismo é sério? Com quantos umbigos se faz um coletivo? Um(b)iguismo? A arte é mais ampla do que a percepção que temos dela em tempo real. O que se vê na verdade não é bem a arte, mas, sim, algum tipo de reflexo distorcido. Por isso é fácil ser cegado no momento que queremos compreendê-la. Tudo começa no início dos anos 2000. Estávamos em um grande devir tentando criar táticas de sobrevivência por meio das trocas de interesses, conteúdos e afetos. Produzíamos fora do circuito financeiro, trabalhando coletivamente, criando coletivos, participando de outros coletivos, articulando uns com os outros. Fui parar no meio de um furacão e um furacão só acontece se estiver tudo preparado para ele acontecer; não existe um furacão que surja do nada; os elementos estavam todos lá: a quantidade certa de umidade, a quantidade certa de ar, a transformação de temperatura daqui para lá, um vento x, y que vai passar ali por baixo e, pum!, explodiu um furacão. O que eu digo é: estava tudo no ar para que houvesse essa aproximação, cidade caótica, artistas organizados em coletivos e movimentos sociais. Toda a lógica do que viria a acontecer já estava lá antes mesmo desse furacão que aconteceu livre, sem amarras, sem contratos, sem 13º. Sabíamos da força simbólica que essa rede de resistência urbana poderia ter nas esferas micro e macropolíticas. Posicionávamo-nos radicalmente contra a cultura espetacular e a espetacularização em geral, ou seja, contra a não participação, a alienação e a passividade da sociedade. Propúnhamos a participação dos indivíduos em todos os campos da vida social, principalmente na cultura. Muitos desses coletivos, até hoje, produzem ações que são práticas de intervenção em espaços públicos, mesclando arte e ativismo, que se disseminam por meio de redes virtuais e presenciais. Utilizando-se da comunicação em rede, naquele momento, passaram a organizar ações contra os ícones do sistema neoliberal. A arte produz imagens, sons, memória, reverbera na sociedade e nas pessoas,

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Ocupeacidade Projeto kombi [Combi project], 2009

ELEFANTE Dignidade [Dignity], 2005

Esqueleto Coletivo Vida x propriedade [Life versus property], 2003

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MICO Chega de Mickey: 500 anos de mico! [Enough of Mickey: 500 years of faux pas!], 2000

Catadores de Histórias Ocupação Guapira [Guapira squat], 2004

Catadores de Histórias Ocupação Guapira [Guapira squat], 2004

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dissemination. Art speaks of social time, it changes the course of historic time and transforms society. We live in war in the city of São Paulo. It starts here, with the hypothesis that the art collectives using public space as the field of action all had something in common. Collective artistic projects question the relationship between art, politics and issues of life in this city, which produces a strategically excluded space. They operate in a minefield, where it might not be possible to enter without putting themselves at risk. Hence the search by grassroots movements, to go to the city, to the squats, to abandoned places, places that no one sees. We knew that new symbols could be produced, even if they were symbols that might fall out of the category of ‘art’. Because these groups stopped being an art movement and became a movement of the city, environmental, political and social, bringing the field of art closer to that of political activism, as a result of interventions in non-institutionalised spaces and with an eminently critical character. The art world didn’t understand then what was happening: the reference to art is annihilated. We weren’t better understood by theorists or even by ourselves. We ended up losing ourselves. There were symbolic barricades against the police; signs advertising real estate were stolen from the streets, repainted with forms and designs by the EIA collective. Things were never in any form of order, far from anything recognisable. How do you create a symbolic artistic barrier which interrupts the actions of the police on a day of eviction? The police would have to remove artwork from their path, to invade the squat and take people out. Those barriers made from real estate signs were being repeated, until they were repainted by the Elefante collective and ended up with the word ‘DIGNITY’. Now it was possible to understand a little better. Now it is no longer a work of art trying to block the arrival of the police, it is the word ‘DIGNITY’. They were barriers because those signs had a physical size for this, and we imagined the riot police arriving and trying to take many things from inside. But now they would mainly have to remove the word ‘DIGNITY’. The artists that produced art at that time used to manipulate information, they would manipulate how a certain group of social housing would be seen by the media. Everything very plastic, everything very imagetic.

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que reverberam em outras pessoas ainda, metáfora biológica, disseminação. A arte fala do tempo social, muda os rumos do tempo histórico, transforma a sociedade. Vivemos em guerra na cidade de São Paulo. Parte-se aqui da hipótese que existiu algo em comum entre os coletivos artísticos que se utilizam do espaço público como terreno de ação. Projetos artísticos coletivos indagam sobre as relações entre arte, política e questões da vida nessa cidade que produz um espaço estrategicamente excludente. Operam em um campo minado, onde talvez não seja possível entrar sem arriscar-se. Por isso a procura por movimentos populares, ir para a cidade, para as ocupações, para lugares abandonados, lugares que ninguém vê. Sabíamos que novos símbolos poderiam ser produzidos, mesmo que fossem símbolos que perdessem a categoria de ”arte”. Porque esses grupos deixaram de ser um movimento de arte e se tornaram um movimento da cidade, ambiental, político, social, aproximando o campo da arte àquele do ativismo político por meio de intervenções em espaços não institucionalizados e de caráter eminentemente crítico. O mundo da arte não compreendeu, naquele momento, o que estava acontecendo: acaba-se com a referência à arte. Não éramos mais compreendidos por teóricos nem por nós mesmos. Resolvemos nos perder. Eram barricadas simbólicas contra a polícia; placas de propagandas imobiliárias roubadas das ruas, repintadas com formas e desenhos pelo coletivo EIA. As coisas estavam sempre fora de qualquer ordem, fora de qualquer coisa reconhecida. Como fazer barricada simbólica de arte que interrompe a ação da polícia em dia de despejo? A polícia teria de retirar obras de arte de seu caminho para invadir a ocupação e arrancar as pessoas de dentro dela. Aquelas barricadas com placas imobiliárias foram se repetindo, até que foram repintadas pelo coletivo Elefante e ganharam a palavra “DIGINIDADE”. Agora era possível entender um pouco melhor. Já não é obra de arte tentando barrar a chegada da polícia, é a palavra “DIGNIDADE”. Eram barricadas porque aquelas placas tinham tamanho físico para isso e a gente imaginava a tropa de choque chegando e tendo de tirar um monte de coisas de dentro. E, principalmente, agora teria de retirar a palavra “DIGINIDADE”. Os artistas que faziam arte, naquele momento, manipulavam a informação, manipulavam como certo grupo social de moradia seria visto pela mídia. Tudo

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It wasn’t easy, it wasn’t simple. It was a moment of great tension. In the air was the danger of having to leave running in the middle of the night. We were there producing art, experimenting. I believe that the movement of these collectives will become famous when they no longer pose a threat, when it no longer smells like shit, when it becomes photos, films, books, master’s degrees, PhDs, post-theses, to appear in large biennales and museums in order to say why that symbolic act was important. Right in the moment when the movement appears to be perfume is when the virus, implanted there at the back, right at the start, before the hurricane forms, will be eternally unbalancing, messing things up, disorganising and disrupting. New people there at the front, even with things neatly packaged, will be coopted by this disorganising virus. They will think powerful, potent things and continue to disintegrate. That is bigger intention, that all this history is an eternal disintegrating element of absolute values. A viral process of collective agency of temporary autonomous zones, produced starting from incessant dissenting recompositions and not from a logic of consensus. They are facts that point to the limits between the power of subversions and the power of co-option within the system of art and life; a moment in which the art system and the political and economic system manage to take ownership of every critical movement of disruption. They are becomings of a historical construction, actions and absurd or surreal interferences in time and some place in the universe that is infinite. Present in this text are the voices of Sebastião de Oliveira Neto, Ricardo Rosas, André Mesquita, Fabiane Borges, Flavia Sammarone, Milena Durante, Ricardo Basbaum, Plato. Túlio Tavares

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muito plástico, tudo muito imagético. Não foi fácil, não foi simples, foi um momento de muita tensão. Estava no ar o perigo de ter de sair correndo no meio de qualquer madrugada. Estávamos lá fazendo arte, experimentando. Acredito que o movimento desses coletivos será famoso quando não oferecer mais perigo, quando não cheirar mais a merda, quando virar fotos, filmes, livros, mestrado, doutorado, pós-tese, estiver em grandes bienais e museus para dizer o quanto aquele ato simbólico foi importante. Nesse momento em que o movimento parecer perfume é que o vírus, implantado lá atrás, no primeiro instante, antes do furacão se formar, estará eternamente desequilibrando, desarrumando, desorganizando e atrapalhando. Novas pessoas lá na frente, mesmo com o negócio embrulhadinho, serão cooptadas por esse vírus desorganizante. Elas pensarão coisas poderosas, potentes e continuarão desagregando. Essa é minha grande intenção, que toda essa história seja um elemento desagregador eterno de valores absolutos. Um processo viral de agenciamento coletivo de zonas autônomas temporárias, produzidas a partir de incessantes recomposições dissensuais e não a partir da lógica do consenso. São fatos que apontam para os limites entre a potência de subversão e o poder de cooptação dentro do sistema de arte e da vida, artigo de consumo; um momento em que o sistema de arte, o sistema político e econômico conseguem apropriar-se de todo movimento crítico de ruptura. São devires de construções históricas, ações e interferências absurdas ou surreais no tempo e em algum lugar no espaço do universo que é infinito. Neste texto estão presentes as vozes de Sebastião de Oliveira Neto, Ricardo Rosas, André Mesquita, Fabiane Borges, Flavia Sammarone, Milena Durante, Ricardo Basbaum, Platão. Túlio Tavares

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BIjARI Poderes [Powers], 2011

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“Não somos o asfalto desta rua? Não somos o cimento destes muros? Não somos as janelas deste tempo que se escancara sempre, sempre e sempre?” “Aren’t we the asphalt of this street? Aren’t we the cement of these walls? Aren’t we the windows of this time that are always flung open, always and always?”

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make Escape Aren’t we the asphalt of this street? Aren’t we the cement of these walls? Aren’t we the windows of this time that are always flung open, always and always? We came to mark this territory with another poetry. To create another world. We came for the practice of a politics that is impossible and infinite. To multiply stories everywhere without words, on the streets, at home, in circles of conversation, in couples, in affection, in struggle. We allow ourselves an emergency exit. … The knot, the tangle, the path. This is not about attempting to untangle and bring order to what is chaotic. But rather, to find the ends of wires in the turmoil. To offer departures. … “To this fascism of power, we oppose the positive and active lines of flight, because these lines lead to desire, to machines of desire and to the organisation of a social field of desire: it is not about escaping “personally”, but to make escape, like when a pipe or an abscess bursts. To allow streams to flow, under the social codes that want to cannibalise, to block them.” Félix Guattari. Conversations, 1972 … The greatest danger of intervention: to cease to be an apparition and become a scene. You run the constant risk of losing your dimension of deterritorialization and simply assume a reterritorialization. An experience that instead of erasing contours, recreates them in another context, leaving only spaces for small variables. The apparition – we never know if it is completely real, there is a kind of translucence. It is possible to see through it, through the fact. The emergence of the apparition allows us to see together the continuous and discontinuous of the situation. … Where are these shortcuts, these passages to the cities behind the city? Where can we find these routes, these straight paths? In what situations can we be sucked in, taken to the other side of the mirror?

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fazer fugir Não somos o asfalto desta rua? Não somos o cimento destes muros? Não somos as janelas deste tempo que se escancara sempre, sempre e sempre? Viemos para marcar este território com outra poética. Criar outro mundo. Viemos para a prática de uma política impossível e infinita. Multiplicar histórias sem palavras em toda parte, nas ruas, nas casas, nas rodas de conversa, nos casais, no afeto, na luta. Nos damos a permissão de uma saída de emergência. ... O nó, o emaranhado, o caminho. Não se trata de tentar desembaraçar e trazer ordem ao caótico. Mas, sim, encontrar no tumulto pontas de fios. Oferecer partidas. ... “A esse fascismo do poder, nós contrapomos as linhas de fuga ativas e positivas, porque essas linhas conduzem ao desejo, às máquinas do desejo e à organização de um campo social de desejo: não se trata de cada um fugir ‘pessoalmente’, mas de fazer fugir, como quando se arrebenta um cano ou um abscesso. Fazer passar fluxos, sob os códigos sociais que os querem canalizar, barrar.” Félix Guattari. Conversações, 1972 ... O perigo maior da intervenção: deixar de ser aparição e se tornar cena. Correse o risco constante de perder sua dimensão de desterritorialização e apenas assumir uma reterritorialização. Uma experiência que, em vez de apagar os contornos, os refaz em outro contexto, deixando apenas espaços para pequenas variáveis. A aparição – nunca sabemos se é completamente real, existe certa translucidez. É possível ver através, atravessar o fato. O surgimento da aparição permite ver juntos o contínuo e o descontínuo da situação. ... Onde estão esses atalhos, essas passagens para as cidades por trás da cidade? Onde podemos achar essas veredas, esses caminhos estreitos? Em que situações podemos ser sugados, tomados para esse outro lado do espelho?

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Faced with an apparently hegemonic field, we are driven to create passages, shortcuts, emergency exits, opened by the pyrotechnics of a poetic terrorism. Self-destructive devices. In the end, man also explodes. Creative explosions of each live-concept, each idea-creature, each insect-jumper, each virus-creator. … In some areas, you dig a little and soon on the surface gush countless repressed forces. Many holes lead to an arid geology. Vibrations indicate light lands of sand, deep walls of granite, distinct porosities. We project complex mazes. We squeeze into straight tunnels in order to, occasionally, open passages to new worlds. …

- The collective organisation comes as an alternative to this extremely competitive and individualised world. It opens spaces for other ways of life, other relationships of affection and of work. - But the collective also means the exacerbation of the flexible characteristics of the contemporary subject. It means raising the power to deal with the various demands of the cultural circuit. - But collectives are a strategy of resistance. In the cultural system, collective practice enables a transversal trajectory. But, more importantly, we move in a way that brings together certain dissenting voices… - We incorporate a true critical reserve of marginal and counter-cultural positions… - To do this, we establish alliances, exchanges and frictions. We form an underground web of passages between social movements, academic research, artists, collectives, squats, institutions, networks… - This movement, as much institutional as it is non-institutional, runs a huge risk of becoming lost. Alienated from itself. We can easily not recognise what we are producing. - Our challenge is to follow our disquiet. Daniel Lima 26

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Diante de um campo aparentemente hegemônico, somos impelidos a criar passagens, atalhos, saídas de emergência, abertas pela pirotecnia de um terrorismo poético. Dispositivos autodestrutivos. Ao final, o homem se explode também. Explosões criadoras de cada conceito-vivo, cada ideia-criatura, cada inseto-pulador, cada vírus-criador. ... Em algumas áreas, cava-se pouco e logo na superfície jorram incontáveis forças represadas. Muitos buracos levam a uma árida geologia. Vibrações indicam terrenos leves de areia, paredes profundas de granito, porosidades distintas. Nós arquitetamos complexos labirintos. Nos apertamos em túneis estreitos para, às vezes, abrir passagens para novos mundos. ... - A organização coletiva vem como alternativa a este mundo extremamente competitivo e individualizado. Abre espaços para outros modos de vida, outras relações de afeto e de trabalho. - Mas, também, o coletivo significa a exacerbação das características flexíveis do sujeito contemporâneo. Significa elevar a potência de lidar com as diversas demandas do circuito cultural. - Mas os coletivos são uma estratégia de resistência. No sistema cultural, a prática coletiva possibilita uma trajetória transversal. Mas, mais importante, nos movimentamos de maneira a reunir certas vozes dissonantes... - Incorporamos uma verdadeira reserva crítica de posições marginais e contraculturais... - Para isso, estabelecemos alianças, trocas e atritos. Constituímos uma trama subterrânea de passagens entre movimentos sociais, pesquisas acadêmicas, artistas, coletivos, ocupações, instituições, redes... - Essa movimentação, tanto institucional como não institucional, traz um imenso risco de perder-se. Alienar-se de si mesmo. Podemos facilmente não reconhecer o que estamos produzindo. - Nosso desafio é seguir o nosso desassossego. Daniel Lima 27

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Dragão da Gravura Integração sem posse [Integration without property], 2005

COBAIA A inserção da dúvida no espaço público [The insertion of doubt into public space], 2012

Espaço Coringa Sem título [Untitled], 2003

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Cia Cachorra Lona rubra [Crimson canvas], 2010

EIA- Experiências Imersivas Ambientais Doc 2005 - 2008 [Doc 2005 - 2008], 2009

A Revolução Não Será Televisionada / Cia Cachorra Liberte-se: faixa [Free yourself: banner], 2003

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credits exhibition Curators Daniel Lima Túlio Tavares Concept Bijari Daniel Lima Eduardo Verderame Mariana Cavalcante Túlio Tavares Research Bia Martins Graphic Design Bijari Exhibition Design Mariana Cavalcante Production Bruna Tavares Paula Maia Carpentry Humberto de Oliveira Silva Automation Info Pantoja Rossini Maltoni Setup of Artworks Amf Igor Vidor Pablo Vieira Silvio de Camillis Borges Rio Hiking

This is a project of the Museu de Arte do Rio’s team with the collaboration of Lighting Artimanha – Julio Katona Digital Strategies Élida Lima Translation John Andrews PROOFREADING Ciça Correa Acquisition Project Concept Daniel Lima Túlio Tavares Curator Clarissa Diniz – MAR Texts Élida Lima Translation Milena Durante Production Invisíveis Produções Mariana Chaves Donations Catadores de Histórias, Daniel Lima, EIA, Guto Cintrângulo, Túlio Tavares and Fabiane Borges Radio Debate Concept and Coordination Daniel Lima, Daniela Labra, Fabiana Prado, Fabiane Borges, Felipe Brait and Túlio Tavares.

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créditos exposiçÃO Curadoria Daniel Lima Túlio Tavares Concepção Bijari Daniel Lima Eduardo Verderame Mariana Cavalcante Túlio Tavares Pesquisa Bia Martins Design GrÁFicO Bijari Projeto Expográfico Mariana Cavalcante Produção Bruna Tavares Paula Maia Cenotécnica Humberto de Oliveira Silva Automação Info Pantoja Rossini Maltoni Equipe de Montagem Amf Igor Vidor Pablo Vieira Silvio de Camillis Borges Rio Hiking

Este projeto é uma produção da equipe do Museu de Arte do Rio, com a colaboração de Iluminação Artimanha – Julio Katona Estratégias Digitais Élida Lima Tradução John Andrews Revisão Ciça Correa Projeto de Aquisição Concepção Daniel Lima Túlio Tavares Curadoria Clarissa Diniz – MAR Redação Élida Lima Tradução Milena Durante Produção Invisíveis Produções Mariana Chaves Doações Catadores de Histórias, Daniel Lima, EIA, Guto Cintrângulo, Túlio Tavares e Fabiane Boeges Rádio Debate Concepção e Coordenação Daniel Lima, Daniela Labra, Fabiana Prado, Fabiane Borges, Felipe Brait e Túlio Tavares.

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Praça Mauá, 5, Centro Rio de Janeiro, RJ, 20081-240

Special summer visiting hours tuesdays and fridays of MAR of Music > from 10 am to 8 pm (access until 7 pm) other days > from 10 am until 6 pm (access until 5:30 pm) mondays > closed Ingressos/ Admission R$ 8 (inteira/full price) R$ 4 (meia/half price) terça - gratuito/tue - free admission Programa educativo/ Educational program Informações/Information phone +55 21 3031-2742 escoladoolhar@museudeartedorio.org.br

Parceiros DESTA EXPOSIÇÃO

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Agendamento de visitas educativas/ Appointments for education visits agendamento@museudeartedorio.org.br

Doe entre R$8 e R$80 reais na bilheteria ou no site e seja um Amigo do MAR Donate from R$8 to R$80 at the ticket office or at the website become a Friend of MAR. Programa Vizinhos do MAR/ Neighbours of MAR Programme Faça a sua carteira e tenha acesso gratuito ao museu. Mais informações no site. *Bairros: Saúde, Gamboa e Santo Cristo. Get your card and gain free access to the museum. More information on our website.*Neighbourhoods: Saúde, Gamboa and Santo Cristo. Fique por dentro do que acontece no MAR/ Stay up-todate with what happens at MAR www.museudeartedorio.org.br www.twitter.com/museuarterio www.facebook.com/museudeartedorio www.instagram.com/ museudeartedorio

CONCEPÇÃO CONCEPÇÃO E E REALIZAÇÃO REALIZAÇÃO Parceiros Museu de Arte do Rio - MAR

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Distribuição gratuita, proibida a venda

Exposições/Exhibitions Horários de visitação especial de verão terças e sextas de MAR de Música >das 10h às 20h (acesso até 19h) demais dias > das 10h às 18h (acesso até 17h30) segundas > fechado

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