Turismo'17 - Caderno Especial - Serviço em Turismo

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O REQUINTE ESTÁ AGORA NA SIMPLICIDADE, NO TEMPO, NA NATUREZA PRESERVADA, NAS EXPERIÊNCIAS CULTURAIS E EMOCIONAIS QUE CADA VIAGEM PODE PROPORCIONAR. Não podemos no entanto, confundir simplicidade com simplismo. O serviço para as novas gerações é uma questão fundamental e, na verdade, é tudo menos simples. O desenvolvimento tecnológico galopante obriga os prestadores de serviços a uma atualização e inovação constantes, para irem ao encontro das necessidades e expetativas dos novos consumidores. Nessa perspetiva, nada melhor do que começar por conhecer, e compreender, os turistas dos nossos tempos e como se comportam.

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Serviço em turismo: Simplicidade e não simplismo TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS


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Quando pensamos em serviço e, sobretudo, em qualidade do serviço em turismo já não imaginamos quartos com camas king-size, lustres dourados, porcelanas finas ou acabamentos banhados a ouro. As novas gerações, designadamente a geração millennial, vieram mudar a forma como percecionamos o luxo, que é hoje um conceito que tem muito mais a ver com experiência, emoção, autenticidade, exclusividade, personalização e co-criação.

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QUEM SÃO OS MILLENNIALS? Os millennials são frequentemente designados como a geração nascida entre 1980 e 2000. De acordo com o “Millenial Traveller Report” da Expedia, os turistas desta geração apresentam caraterísticas peculiares que estão a transformar a indústria turística. Alguns exemplos:

72%

86%

ESPERAM FAZER UMA VIAGEM DE SONHO NO FUTURO

VIAJAM PARA CONHECER NOVAS CULTURAS

56%

MILLENNIALS

VS

32%

NÃO MILLENNIALS

PARTILHAM FOTOS/VÍDEOS DAS FÉRIAS NAS REDES SOCIAIS

85% 76%

ESCOLHEM DESTINOS COM BASE NA RECOMENDAÇÃO DE AMIGOS OU FAMILIARES

74%

PROCURAM INFORMAÇÕES DE VIAGENS EM DISPOSITIVOS MÓVEIS

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PESQUISAM VÁRIOS SITES ANTES DE RESERVAR À PROCURA DO MELHOR NEGÓCIO

60%

REVELAM QUE PAGAM PARA TER WI-FI DURANTE O VOO

49%

FAZEM RESERVAS ATRAVÉS DE DISPOSITIVOS MÓVEIS

94% USAM O FACEBOOK


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Nesta perspetiva, há uma série de tendências que importa ter em consideração quando pensamos em desenvolver uma oferta de serviços para estes turistas:

1. A AUTENTICIDADE É TUDO A autenticidade é, em última instância, aquilo que sustenta as suas perceções de valor: apreciação cultural e “viver como um local”; independência e encontrar essas jóias escondidas; originalidade e equilibrar o icónico com experiências fora do comum. Enriquecer a vida com viagens é o lema.

2. CONCIERGE IMEDIATO Os millennials dão muito valor ao serviço/apoio ao cliente prestado via mensagens instantâneas online, possibilitando que qualquer pedido possa ser cumprido com a maior brevidade, seja antes, durante ou após a estadia. Esta é já uma realidade em muitos serviços ligados ao setor do turismo.

3. PERSONALIZAÇÃO Num estudo da Mintel, 60% dos millennials confessaram-se dispostos a fornecer detalhes sobre as suas preferências e hábitos a fim receber propostas adequadas ao seu budget e preferências pessoais.

4. A IMPORTÂNCIA DOS CONTEÚDOS GERADOS POR UTILIZADORES Os conteúdos publicados online por outros utilizadores são de extrema relevância para os millennials, que os consideram uma fonte fidedigna de informação. Nesta perspetiva, é grande o desafio que se coloca aos prestadores de serviços, a fim de conseguir feedback positivo por parte dos consumidores.

5. CO-CRIAÇÃO Para além de agentes influenciadores, as redes sociais permitem a co-criação de experiências para o turista. O objetivo final da co-criação é desenvolver memórias. Memórias que o turista guardará para a vida e partilhará com outras pessoas, face-a-face e nas redes sociais.

6. ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL O desejo de estar em forma e saudável é quase universal para esta geração. A vida saudável tornou-se um símbolo de status, à medida que mais consumidores optam por exibir a sua paixão pelo bem-estar, alimentação saudável e desporto, onde também se incluem as atividades em férias e momentos de lazer.

7. GERAÇÃO VERDE As preocupações com a sustentabilidade do planeta fazem parte do perfil desta geração de turistas. Os millennials são sensíveis às boas práticas ambientais, destinos ecologicamente responsáveis e muitos estão dispostos a pagar mais por produtos/serviços desta natureza. •

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MARGARIDA CUSTÓDIO SANTOS CÉLIA VEIGA PAULO ÁGUAS Universidade do Algarve

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Millennials e Seniores: dois segmentos de mercado promissores para o Turismo As alterações na envolvente externa das organizações turísticas levam ao surgimento de novos perfis de turistas impondo a monitorização sistemática das variáveis macro ambientais. Não obstante se consiga identificar mudanças em todas as forças do macro ambiente, as que evidenciam um maior impacto no surgimento destes novos perfis são: a recessão económica ocorrida a partir de 2008; a intensificação e generalização da procura por experiências autênticas e memoráveis, com uma preocupação crescente com a pegada ecológica; o envelhecimento da população mundial com particular relevo nos países desenvolvidos; o aumento da insegurança devido aos atos terroristas; a crescente utilização das redes sociais para partilhar informação sobre as experiências turísticas e a possibilidade de recolha de dados comportamentais por parte dos prestadores de serviços através de recursos tecnológicos.

Decorrente das principais tendências identificadas, os segmentos que apresentam maior atratividade para o turismo são os seniores e os millennials, pela sua dimensão e pela apetência por viajar.

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Prevê-se que o número de pessoas com idades superiores a 60 anos represente cerca de 22% da população mundial em 2050. Este segmento é ainda atrativo devido à tendência para viajar na época baixa ou média. Possui mais tempo disponível e um maior poder de compra, devido a um rendimento discricionário mais elevado e um menor nível de endividamento. Os seniores possuem um elevado grau de sofisticação e uma grande experiência turística, assim como uma predisposição para viajar com maior frequência e para permanecer mais tempo no destino.

Uma análise em função de variáveis psicográficas permite a identificação de dois subsegmentos distintos: os “Younger at heart” e os “Older at heart”. Os “Younger at heart” procuram experiências turísticas com uma maior componente ativa (aventura, prazer, divertimento) e que proporcionem enriquecimento pessoal. Acresce uma maior preocupação com a saúde, física e mental, bem como manter a juventude. Todos estes aspetos devem ser tidos em atenção nos produtos a oferecer a este segmento. Os “Older at heart” revelam constrangimentos de natureza física ou mental, real ou percecionada, apresentando uma maior preocupação com a doença, maior sensibilidade à segurança e com maior aversão ao risco, devendo os produtos dirigidos apresentar formas de lazer mais passivas, mas que estimulem a interação humana e social. Devido ao gap entre a idade cronológica e cognitiva, na comunicação devem ser evitados termos como sénior e substantivos que remetam para a idade cronológica ou associados à ideia de velhice. Os materiais devem manter uma estrutura semelhante à utilizada para segmentos mais jovens, atendendo apenas a algumas limitações e preferências, como cores, lettering e contrastes. As questões de segurança e confiabilidade do prestador devem ser salientadas. Não obstante parte do segmento já ter adquirido competências relativas à utilização das novas tecnologias, não se deve descurar a presença nos meios de comunicação e distribuição tradicionais. A simpatia e delicadeza do staff são atributos muito valorizados. Embora os seniores se percecionem como mais jovens, apresentam condicionalismos que exigem muito atenção a aspetos arquitetónicos e de design,

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nomeadamente iluminação, barreiras arquitetónicas e sinalética. Os millennials são nativos digitais, possuem elevadas competências tecnológicas e necessitam de aceder à informação de forma rápida, pois são intolerantes a atrasos e focalizados no imediato; procuram estar sempre conectados com os pares e sentem-se recompensados e validados quando os seus posts recebem likes. Necessitam de partilhar informação e experiências e recorrem a reviews como importante fonte de informação; revelam imunidade às abordagens tradicionais de marketing e são céticos à publicidade. Têm uma preocupação elevada com a proteção ambiental, as causas sociais e são sensíveis à segurança e ao risco. A crise económica de 2008 afetou-os ao nível da segurança no emprego e de restrições na obtenção de crédito. Dito de outro modo, assistiram à passagem de uma era de crescimento económico robusto para uma era de incerteza e instabilidade. Os millennials são a primeira geração a viajar de forma generalizada desde a infância, com impacto na forma como organizam as viagens, nomeadamente definindo itinerários e reservas de forma direta e online. Privilegiam destinos que proporcionem experiências memoráveis, que os envolvam física e emocionalmente, que sejam autênticos, que proporcionem uma imersão na cultura local e um contacto direto com os residentes. Percecionam-se como exploradores e viajantes distanciando-se do conceito de turista e procuram experiências ajustadas aos seus valores e à sua individualidade, exigindo serem coprodutores das suas experiências. A comunicação deve ser personalizada e interativa, com conteúdos relevantes, um enfoque emocional e salientando a componente de entretenimento. A informação deve estar disponível em diferentes plataformas, tendo o mobile uma importância crescente. Atendendo ao caráter “impaciente” do segmento, a informação deve ser acedida de forma instantânea e imediata, como também as reservas e respetivas confirmações devem responder a esta caraterística. É ainda essencial que as componentes da viagem estejam disponíveis nas diferentes plataformas. Os prestadores de serviços devem providenciar acesso à internet de forma mais abrangente e de elevada qualidade e não apenas em determinadas áreas delimitadas.


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A elevada consciência social e ambiental do segmento exige que as empresas tenham práticas ambientalmente corretas e sustentáveis, padrões éticos e sociais de apoio à comunidade, alinhando os seus valores com os do segmento. Atendendo a que este segmento procura autenticidade, conceito relacionado com a predisposição para vivenciar a vida quotidiana dos residentes, os colaboradores devem ser provenientes da região ou conhecedores da realidade local. Os prestadores de serviços devem ainda tentar tirar partido da permanente conetividade dos millennials, tendo uma atitude pró-ativa, partilhando os registos das experiências em que os clientes intervêm e potenciando desta forma o marketing viral. Em termos conclusivos, referir que a maior preocupação com a sustentabilidade ambiental e social, o crescente enfoque na saúde e no bem-estar individuais e o domínio e utilização das novas tecnologias são suscetíveis de se assumirem como as tendências predominantes. A segmentação geracional permite a identificação de segmentos amplos que partilham um conjunto de valores pela vivência de experiências idênticas.

SENIORES E MILLENNIALS SÃO OS SEGMENTOS MAIS IMPORTANTES, OS PRIMEIROS PELA DISPONIBILIDADE DE TEMPO E RECURSOS E OPORTUNIDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL, OS SEGUNDOS PELO FACTO DE VIAJAR FAZER PARTE INTRÍNSECA DO SEU MODO DE VIDA DESDE A INFÂNCIA. •

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Serviço ao turista na perspetiva do alojamento local

Eduardo Miranda Presidente Associação do Alojamento Local em Portugal

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CAP CADERNO ESPECIAL ÍTULO

Para contrariar o título, começo por dizer que não existe serviço ao turista na perspetiva do alojamento local. A única perspetiva de serviço ao turista que existe e conta é a do próprio turista, ou viajante, como preferimos.

Esta perspetiva que hoje parece cada vez mais distorcida é herança do historial do setor. Até há pouco tempo, sempre foi a oferta do turismo, em particular do alojamento que, com boas intenções e apoiada na regulamentação, definiu o que era melhor para o viajante. Fez sentido numa altura, só que isto está a mudar. O alojamento local (AL) nasce justamente neste processo de mudança e, por isto, algumas discussões atuais das tendências do setor são vistas de forma diferente pelo AL. Por exemplo, muitos dos serviços tradicionais, tidos como essenciais na acomodação, nem sequer existem no AL. Para o alojamento local, a questão central não são os serviços, mas sim a satisfação do cliente. Na ótica do alojamento local, o primeiro passo para conquistar a satisfação de um hóspede é garantir que as condições de acomodação correspondam às expetativas que o cliente criou na altura da reserva. Como não há sistema de estrelas ou similar (nem deve haver), não há ideias preconcebidas do que deve ser uma oferta de qualidade.

define o que entende por qualidade, escolhe a acomodação que apresenta as caraterísticas que procura e, ao alojamento escolhido, só cabe entregar o que prometeu. Nesta nova ordem, onde as necessidades de acomodação dos viajantes são cada vez mais personalizadas e variadas, o papel do alojamento local na estratégia do turismo é justamente alimentar a diversidade. A outra grande tendência atual do turismo é a personalização dos serviços.

TRATAR CADA CLIENTE COMO ÚNICO. Esta personalização já faz parte do AL, admito que não por visão estratégica, mas sim porque mais uma vez já está na sua natureza, o que torna esta vantagem ainda mais sólida. Há muitos fatores que incentivam esta personalização da relação com o hóspede no AL:

É O VIAJANTE QUEM DEFINE OS REQUISITOS QUE VALORIZA.

• É um setor dominado por micro-unidades de alojamento (84% dos titulares tem uma única unidade) o que facilita a relação de um para um.

O segredo está num termo chamado accuracy. Este indicador mede junto dos hóspedes se o que foi prometido no anúncio, seja o que for, foi cumprido na prática. Parece um detalhe, mas é uma mudança importante de paradigma. Não há padrões de qualidade impostos pela oferta ou por leis. É a autorregulação pura aplicada à qualidade. O cliente é quem

• Na maior parte das vezes há muita comunicação entre os viajantes e o anfitrião do AL. O ambiente é mais informal. Os contactos e telefones utilizados são os pessoais. Isto humaniza a relação. Alguns dos termos usados descrevem bem o ambiente: hóspedes (guests) e anfitriões (hosts).

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• Mesmo no caso dos estabelecimentos de hospedagem modernos, como a dimensão não é tão grande, acaba por haver um envolvimento maior. Prova disto é que os hostels portugueses ganham todos os prémios internacionais, as surf guest-houses são caso de estudo mundial e alguns boutique AL até ganham prémios mundiais de melhor hotel de charme. • Talvez, o mais importante, é que por ser uma atividade exigente e de muito contacto pessoal, para se manter no AL é preciso gostar e ter vocação de receber bem.

O ALOJAMENTO LOCAL NÃO VEIO SUBSTITUIR, VEIO COMPLEMENTAR, TROUXE DIVERSIDADE. MAS, PELA SUA FORMA NATURAL E PESSOAL DE TRATAR A RELAÇÃO COM OS VIAJANTES, ACABA POR REFORÇAR O QUE PORTUGAL TEM DE MELHOR NO TURISMO: OS PORTUGUESES. •

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Destino inesquecível para o seu short-break

Vigo 1h20m

Maior Renda de Bilros do Mundo Guinness World of Records

Berço e residência de personalidades da cultura e das artes

Vila do Conde

Casa de José Régio, Casa Antero de Quental

Riqueza patrimonial e arquitetónica Experiências gastronómicas ímpares Fragâncias de mar e campo Porto

20m

Ambiente de puro relaxamento Atividades náuticas e de natureza Outlet de referência na Europa Seleção das mais prestigiadas marcas nacionais e internacionais de moda


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ANA BELA BALTAZAR CEO Hands to Discover

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Portugal mais acessível

SERVIÇO AO TURISTA, NA PERSPETIVA DO TURISMO ACESSÍVEL E DOS TURISTAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS.

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De uma forma geral temos consciência que o nosso país atravessa um momento de “ouro” no que toca ao turismo, temos a noção que esta área de negócio atualmente alavanca a nossa economia nacional de uma forma substancial, trazendo mais valias importantes para Portugal. O que a grande maioria do público desconhece é que pouco se faz ainda em termos de turismo para pessoas com necessidades especiais, o chamado “turismo acessível”. Note-se que o termo “acessível” a que nos referimos vai muito para além do que é alcançável financeiramente. Referimo-nos a um turismo que permita um verdadeiro acesso para TODOS, independentemente da sua condição/limitação física ou cognitiva. Apesar de começarmos a assistir a uma tímida evolução, muitas barreiras estão ainda “erguidas”, sendo que essas não existem apenas de forma física, no edificado, mas também a nível comunicacional. Falamos na comunidade surda que em grande número anualmente nos visita, mas ainda de forma “invisível”, sim, porque “invisível” é a incapacidade de ouvir. Infelizmente este é um segmento na área do turismo ainda pouco explorado. Sem querermos sobre ou subvalorizar as diferentes necessidades que cada turista possa apresentar, devemos primeiramente olhar o turista como alguém que visita determinado local ou país que desconhece (total ou parcialmente) e que por tal, quer obter num breve período de tempo todas as informações, especificidades e sensações caraterísticas diferenciadoras daquele local visitado. São essas perceções que irão ficar-lhe na memória servindo de

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“convite” ou “cartão de visita” para outras pessoas que lhe são próximas. Cada vez mais o turismo é uma atividade apreciada e desenvolvida um pouco em todo o mundo, proporcionando momentos de lazer, conhecimento, partilha, novas experiências e negócios. Em particular quando nos reportamos a Portugal, país com séculos de tradição e história será importante termos a perceção de que se trata de uma atividade cada vez mais exigente, obrigando a uma dicotomia permanente entre inovação e tradição.

O TURISTA NÃO SE RESUME A ALGUÉM DE “MÁQUINA FOTOGRÁFICA AO PEITO”. Esta é uma conceção redutora nomeadamente quando se trata de nativos de outra língua e cultura. Tanto mais que o turista pretende informação para além do edificado com história que a objetiva da câmara fotográfica regista, conhecimento acerca da importância e forma de degustação de um bom vinho e entendimento de um aroma caraterístico de determinada casta. Tornar possível o conhecimento e a experiência de um local ou fenómeno é fundamental, mas para tal é necessário que todos os sentidos estejam presentes. Quando tal não sucede é necessário criar formas de eliminar as “barreiras” de que falávamos há pouco. E tal não se limita apenas ao acesso ao local, mas também o acesso à informação implícita.

SUCEDE COM OS CEGOS ATRAVÉS DO BRAILLE E COM OS SURDOS ATRAVÉS DA LÍNGUA GESTUAL. Na sociedade em geral, ao longo dos últimos anos pudemos verificar uma maior abertura, sensibilidade e preocupação para estas questões.


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Finalmente começam a ser entendidas com um novo significado e relevância. Tendo sido esse o “farol” que iluminou o nosso percurso e nos levou a “bom porto” junto da comunidade surda, passando à prática; à construção e otimização de respostas para estes cidadãos que, tal como os outros, também são do mundo, também se organizam individualmente ou em grupo para percorrerem, conhecerem e explorarem novos destinos, vivências e culturas. Apenas têm necessidade de estabelecer comunicação com o meio de uma forma “menos comum”; através da língua gestual, que é a sua língua natural. Tendo por base a análise das necessidades, a procura internacional e a ausência de respostas, o primeiro passo foi dado em Portugal, em 2016, sob a responsabilidade de uma equipa experiente. Do seu know-how surge a criação de um projeto pioneiro: Hands to Discover - Turismo Acessível para Pessoas Surdas. Que, tal como o próprio nome indica, vai dar a descobrir tudo o que pode ser percecionado pelos nossos ouvidos através das mãos da equipa do Hands to Discover.

Mais uma vez queremos destacar-nos pela positiva, sendo que somos vistos como um povo genuíno, amável e que sabe receber, temos que apostar também na inovação integrando estes conceitos de forma harmoniosa e exequível. Conseguindo chegar a todos de uma forma idêntica, sempre primando pela autenticidade que nos carateriza e pela qualidade que nos orgulha. Inúmeras possibilidades existem ainda para desenvolver e implementar no âmbito do turismo, no que respeita às acessibilidades. Por isso muitos são ainda os projetos que queremos ver concretizados. Estamos cientes de que brevemente se tornarão numa inevitável realidade, de forma a alcançarmos pleno acesso à designada cidadania a que todos temos direito, apesar das especificidades de cada um. É essa aliás a ideia basilar que tem guiado o nosso trabalho desde o início. Este é, portanto, o primeiro de muitos passos que queremos dar nesta longa caminhada, para fazer chegar o nosso país e a sua riqueza incomparável, a mais turistas de todo o mundo.

MESMO NÃO CONSEGUINDO OUVIR O NOSSO INDISSOCIÁVEL E ÚNICO FADO, PODERÃO SENTI-LO ATRAVÉS DAS MÃOS E CORPO DOS NOSSOS INTÉRPRETES DE LÍNGUA GESTUAL. •

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Evolução e sustentabilidade: equilíbrio necessário

EDUARDO JESUS

©APM MADEIRA

Secretário Regional da Economia, Turismo e Cultura da Madeira

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O DESTINO MADEIRA ATRAVESSA, ATUALMENTE, UMA FASE DECISIVA. Depois de ter vivido, em 2016, o seu melhor ano de sempre, com crescimentos consecutivos e significativos em todos os seus indicadores de produção, abrese agora espaço, neste destino, para a consolidação de um novo paradigma de desenvolvimento, especialmente focado na qualidade do serviço que é prestado aos turistas e assente na sua autenticidade e numa vasta oferta que pode ser desfrutada, com bom clima e segurança, ao longo de todo o ano.

UMA OFERTA QUE SE ENRIQUECE GRAÇAS AO ELEMENTO HUMANO. Há uma arte de bem-receber e acolher quem nos visita que, evidenciando a nossa cultura e genuinidade, nos distingue dos demais concorrentes e nos confere o reconhecimento internacional de quem procura, acima de tudo e mais do que conhecer ou repetir um destino turístico, uma experiência única. Porque é também disso que se trata: de uma experiência que se torna única porque vivida em conjunto, entre turistas e residentes. Falar de turismo numa região como a nossa é falar de uma cultura turística com mais de 200 anos de história que se alimenta, renova e partilha, diariamente, junto de todos os que nos fazem escolha, em complemento a toda uma oferta de qualidade que responde e corresponde a gostos e expetativas convergentes entre si.

É nesta afirmação pela diferença e pela qualificação das nossas respostas que estamos ainda mais concentrados e apostados, nesta nova fase de crescimento, conscientes de que, também aqui, existe um enorme potencial de melhoria que se assume, simultaneamente, como uma importante oportunidade para satisfazermos e fidelizarmos os nossos visitantes. Esta estratégia encontra, precisamente, na requalificação do setor, a sua maior alavanca. Na realidade, a requalificação que defendemos é transversal e consta da nova Estratégia para o Turismo da Madeira 2017-2021, recentemente em discussão pública, como um dos três grandes objetivos a atingir. Envolve, para além da oferta, os recursos humanos e toda a cadeia de valor que, diariamente, contribui para reforçar a notoriedade e a confiança dos mercados, no produto que somos. Acreditamos que o crescimento do setor turístico regional só se cumpre, na sua plenitude, se contribuir, simultaneamente, para a preservação do ambiente e da envolvente natural que diferencia o destino Madeira no mercado e que atrai as atenções dos turistas e, também, para o desenvolvimento socioeconómico das localidades onde a oferta existe e se potencia. É neste equilíbrio entre a evolução que se projeta e a sustentabilidade sócio ambiental que se defende, que reside um dos grandes desafios para o futuro. Os resultados que têm vindo a ser atingidos deixam-nos confiantes. A responsabilidade é enorme mas, também, motivadora para continuarmos a trabalhar, com entusiasmo e afinco, na construção, junto dos nossos turistas e com todos os nossos residentes, daquele que é o melhor destino insular do mundo. •

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À CONVERSA COM

Jan-Erik Ringertz Diretor The Yeatman Hotel, Porto

Qual a importância do serviço no setor do turismo? O turismo de qualidade alicerça-se na excelência de serviço, sobretudo quando falamos em hotelaria de luxo. No The Yeatman, gostamos que os nossos hóspedes se sintam em casa e que encontrem na nossa equipa a simpatia e disponibilidade para que a sua estadia seja memorável. Portugal é um país naturalmente hospitaleiro. É importante capitalizar essa qualidade intrínseca e elevá-la à excelência, o que pressupõe profissionalismo e consistência.

Como avalia o estado atual do serviço ao turista em Portugal? A evolução do turismo em Portugal nos últimos anos tem conduzido a uma importante e positiva evolução da qualidade de serviço prestado ao turista. Assistimos não só ao surgimento de várias unidades hoteleiras de luxo, como também à sofisticação da oferta turística de qualidade. É importante que a qualidade de serviço se estenda à restauração, às atividades de lazer, aos serviços de transporte e a todas as indústrias complementares ao turismo.

O The Yeatman tem na qualidade de serviço um dos seus pilares. Queremos que os visitantes tenham a melhor experiência na cidade do Porto. A qualidade de serviço está na atenção aos detalhes, na capacidade de perceber que cada hóspede é único e assegurar que superamos as suas expetativas a todo o momento ao longo da sua estadia. •

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©THE YEATMAN

No contexto do serviço ao turista, como se posiciona e distingue o The Yeatman Porto?


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