Anuário de Tendências
TENDÊNCIAS
TURISMO DESPORTIVO Entrevista a Pinto da Costa
CADERNO ESPECIAL
SIMPLICIDADE, NÃO SIMPLISMO Uma abordagem ao serviço em Turismo
2017 | €7,50
MERCADO EMISSOR CHINÊS
ESTAMOS PREPARADOS para o receber?
Desde 1984 que os Hotéis Solverde se destacam no turismo português. A nossa história é marcada por excelência, diferenciação e conforto. São mais de 30 anos dedicados a si, para que se sinta em casa e desfrute dos melhores momentos.
EDITORIAL
TURISMO EM 2017:
CONSOLIDAR O CRESCIMENTO ANTÓNIO JORGE COSTA Presidente IPDT
O projeto “Turismo em” comemora onze edições numa altura em que o turismo em Portugal regista um dos melhores momentos da sua história. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de hóspedes em Portugal ascendia aos 18 milhões até novembro de 2016, um número que é superior ao total de hóspedes registados em 2015 (17,4 milhões). É possível prever que 2016 tenha encerrado com um novo recorde, dentro dos 19 milhões de hóspedes. Os resultados positivos estendem-se às dormidas e receitas. Nos primeiros 11 meses do ano passado a hotelaria nacional registava 51 milhões de dormidas e 2,8 mil milhões de euros em proveitos totais, números que ultrapassam signiicativamente os registos de 2015. E ainda sem considerar o último mês de 2016... Os dados do INE indicam ainda que até novembro já tinham desembarcado nos aeroportos nacionais 20,4 milhões de passageiros, face a um total de 19,2 milhões em 2015. O êxito do turismo nacional é inegável e Portugal está a fazer um bom trabalho! No entanto, e pegando na mensagem de Sua Exa. o Presidente da República, “é preciso colocar a fasquia mais alta, sermos mais exigentes e, sobretudo, pensar no que fazer a seguir.” É esta a relexão que gostaríamos de propor. Conceitos como autenticidade, diferenciação e bem-receber foram (e são), desde sempre, bandeiras do IPDT e nessa perspetiva este ano decidimos reletir um pouco mais na questão do serviço tendo em conta os novos peris de turistas.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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4 EDITORIAL
Devemos estar preparados para receber um número cada vez maior de turistas, que chegam de todos os cantos do mundo. Nesta edição damos conta da nova ligação aérea direta que vai ligar Portugal à China a partir de meados deste ano. Sendo a China o principal mercado emissor mundial, esta ligação é estratégica para o desenvolvimento do turismo em Portugal mas será que estamos preparados para receber estes visitantes? Nesta 11ª edição destacamos igualmente algumas tendências que afetam o setor do turismo, designadamente o número crescente de pessoas que vivem sozinhas e que, consequentemente, viajam a solo. Para o efeito, traçamos o peril do viajante a solo que levanta muitos desaios aos gestores dos destinos. Na vertente da oferta procuramos compreender um pouco mais sobre o turismo desportivo nostálgico e a importância e potencial dos museus desportivos. Para tal fomos conhecer o Museu do Futebol Clube do Porto e conversamos com o presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa. Além destes temas exploramos as regiões nacionais que mais deverão crescer ao longo deste ano, assim como os principais mercados emissores e produtos turísticos na perspetiva do turismo português. Esta análise tem por base o Barómetro do Turismo, um projeto do IPDT que visa auscultar a opinião dos proissionais e responsáveis das organizações que atuam no setor do turismo. Complementamos esta pesquisa com comentários e entrevistas de especialistas nacionais e internacionais como Taleb Rifai, John Bowen, Richard Butler, entre muitos outros. Nesta edição destacamos ainda dois destinos internacionais: Brasil e Macau. Ficamos a conhecer um pouco mais sobre os luxos turísticos e os incontornáveis pontos que a eles nos ligam.
Esperando que esta edição seja do vosso agrado, desejo a todos uma boa leitura e até ao “TURISMO’18”! • TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
Anuário de tendências
TURISMO’17
DIRETOR António Jorge Costa EDIÇÃO Daniela Rodrigues DESIGN Rita Paupério EQUIPA EDITORIAL Daniela Alves, João Bastos, João Gomes, Marcília Almeida, Rui Correia. PARTICIPARAM NESTE NÚMERO Ana Bela Baltazar, Ana Mendes Godinho, António Pedro Moreira, Célia Veiga, Christof Weil, Cristina Siza Vieira, Desidério Silva, Eduardo Jesus, Eduardo Miranda, Eduardo Rodrigues, Elidérico Viegas, Gavin Eccles, Iwona Fluda, Jan Ringertz, John Bowen, Jorge Nuno Pinto da Costa, José Manuel Esteves, Luís Araújo, Marcelo Rebelo de Sousa, Margarida Custódio, Marta Guerreiro, Paulo Águas, Ricardo Pinto, Richard Butler, Rodolfo Faustino, Taleb Rifai, Vinicius Lummertz, Vítor Costa AGRADECIMENTOS Sandra Carvão, Luís Ferreira Lopes, Embratur, Turismo de Macau, Museu do Futebol Clube do Porto, The Yeatman DIREÇÃO DE MARKETING Mónica Montenegro DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO Daniela Rodrigues CONSULTOR EDITORIAL Richard Teare COPYRIGHT IPDT Rua Rainha D. Estefânia, 246, 3º 4150-303 Porto T. +351 226 097 060 ipdt@ipdt.pt www.ipdt.pt Todos os direitos reservados. Esta publicação não pode ser reproduzida, total ou parcialmente, sem prévia autorização do IPDT. Todos os artigos assinados são responsabilidade exclusiva dos autores. IMPRESSÃO Gráica MVide T. +351 256 420 930 geral@mvide.com www.mvide.com ISSN 1647-6247 Depósito Legal 253208/07 IMAGENS Direção Regional do Turismo dos Açores, Direção Regional do Turismo da Madeira, Embraetur, Fotolia, IPDT. TIRAGEM 5000 exemplares ANO XI
PUBLIREPORTAGEM
MACAU
Um ano cheio de eventos Parece um cliché já muitas vezes repetido e ouvido – que a vida em Macau nunca para, fazendo da noite dia – mas é verdade e qualquer visitante o percebe logo no primeiro dia da sua estadia, ao olhar para as suas inúmeras luzes que trepam incansavelmente alguns dos maiores e mais altos edifícios da cidade, formando padrões coloridos que parecem jóias brilhantes. O mesmo se aplica aos eventos que decorrem ao longo do ano em Macau. O seu rico calendário de eventos foi-se desenvolvendo ao longo de séculos, resultando da convivência de duas culturas distintas partilhando o mesmo espaço restrito.
de Fátima. Estas duas procissões são únicas neste canto do mundo e tradicionalmente atraem fiéis de muitos países vizinhos.
Já a primeira festividade no início do ano, a passagem para o Ano Novo, testemunha esta diferença, porque há duas festas de passagem de ano em Macau – a ocidental e a do Ano Novo Chinês, também conhecido como “Festa da Primavera”, sendo o evento mais importante no calendário chinês. As celebrações estendem-se por mais de 15 dias e deixam toda a cidade visivelmente alterada. Nas praças públicas e nas casas particulares predominam as cores vermelha e dourada, simbolizando boa sorte, alegria e fortuna. O primeiro dia do Ano Novo Chinês em 2017 é o 28 de janeiro, terminando o Ano do Macaco e iniciando o Ano do Galo.
a Maratona Internacional de Macau e o Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios de Macau (dezembro).
No primeiro fim-de-semana de março, realiza-se a centenária Procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, uma festividade católica que cabe bem fundo nas tradições antigas de Macau, em que a imagem do Senhor dos Passos carregando a cruz é levada em procissão solene da Igreja de Santo Agostinho até à Sé Catedral, passando pelas ruas do centro histórico da cidade, antes de voltar ao seu domicílio habitual no dia seguinte. Uma outra procissão, a 13 de maio, vai ter mais relevo do que o habitual este ano em Macau, porque se repete pela centésima vez o aniversário da aparição da Nossa Senhora
Mas a cidade também é palco de grandes eventos internacionais, de índole cultural, artístico e desportivo, como as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão de Macau no último fim-de-semana de maio, o Grande Prémio Mundial de Voleibol da FIVB (julho), o Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício (setembro e outubro), o Festival Internacional de Música de Macau (outubro), o Open de Golfe de Macau (outubro), o Grande Prémio de Macau (novembro),
Entre estes grandes eventos existem outros de importância local, com nomes algo enigmáticos no ouvido de visitantes, como por exemplo a “Festividade do Dragão Embriagado”, a “Festa dos Espíritos Esfomeados” e ainda o “Festival do Bolo Lunar”, os quais são particularmente interessantes para os espectadores porque dão vida e cor à cidade. Assim podemos dizer que todos os meses algo de especial acontece em Macau e que este talvez seja um dos maiores reconhecimentos de Macau, como uma cidade prodigiosa de eventos e festivais. Venha Sentir Macau ao Seu Estilo!
Para mais informações ou sugestões contacte: Centro de Promoção e Informação Turística de Macau em Portugal Av. 5 de Outubro, 115 r/c LISBOA Tel: (+351) 217 936 542 Fax: (+351) 217 960 956 E-mail: geral@turismodemacau.com.pt www.turismodemacau.com.pt
6 DESTAQUES
Mensagem do Presidente da República 008
BARÓMETRO DO TURISMO
Portugal: muito além do Sol e Mar
024
EDIÇÃO ESPECIAL
015
VIAJAR SOZINHO: EXPOENTE MÁXIMO DE LIBERDADE
047
À CONVERSA COM LUÍS ARAÚJO Turismo de Portugal
058
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
DESTAQUES
Serviço em turismo:
Simplicidade e não simplismo
TOP hostels na Europa 093
073
DESTINO
macau 103
CADERNO ESPECIAL
No fim, tudo arde 115
DESTINO
BRASIL 110
VIAGENS TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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8 INSTITUCIONAL
MARCELO REBELO DE SOUSA
Mensagem de Sua Excelência o Presidente da República
Presidente da República
O turismo em Portugal registou valores record impressionantes, em número de visitantes e em receita gerada, em 2016, representando uma fatia cada vez maior do PIB e das exportações. Os agentes económicos estão satisfeitos e, seguramente, é sempre animador termos mais e boas notícias em diversas áreas da economia, da sociedade e da política em Portugal.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
INSTITUCIONAL
Independentemente do mérito dos empresários e dos trabalhadores do turismo e, em anos muito duros, da capacidade de reinvenção dos agentes económicos, o setor terá beneiciado de uma conjuntura desfavorável, nos últimos anos, em mercados vizinhos concorrentes no norte de África e Mediterrâneo ou noutros destinos.
MAS QUANTO TEMPO IRÁ PERSISTIR ESSA SITUAÇÃO QUE CONTRIBUI PARA UMA PARTE DO ÊXITO, ATÉ AGORA, ALCANÇADO? É certo que Lisboa, Porto, Açores, Madeira, Douro, Fátima, Alentejo e, claro, Algarve, estão no roteiro das preferências de turistas, por motivos de lazer e de negócios. E, na verdade, muito se tem feito para que isso aconteça, a nível do setor privado e das entidades públicas, designadamente na aposta contínua junto de públicos-alvo que inluenciam povos de todas as partes do mundo para viajarem até ao nosso Continente e às nossas Ilhas. Foi importante, como tenho referido desde o início do mandato, que houvesse continuidade de políticas, por exemplo, no turismo ou nas TICE - Tecnologias da Informação (com a Web Summit), e essa é uma estratégia
que deve ser prosseguida, com inteligência e bom senso, mesmo que haja acertos pontuais de medidas e políticas públicas que não alterem, no essencial, o caminho que tem sido seguido com sucesso. No entanto, é preciso colocarmos a fasquia mais alta, sermos mais exigentes e, sobretudo, pensar no que fazer a seguir.
ALCANÇADOS ESTES BONS RESULTADOS, COMO GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DOS NEGÓCIOS NOS PRÓXIMOS ANOS? Há que antecipar tendências, apostar nos negócios dos segmentos e nichos certos, trabalhar mais em rede ao nível das regiões e associações e dos clusters, assim como é vital assegurar segurança e estabilidade no País.
PORTUGAL É MUITO MAIS DO QUE SOL, GASTRONOMIA RICA E BOA BEBIDA. Tem uma oferta diversiicada no turismo de natureza ou de aventura, nas experiências que exploram todos os nossos sentidos, na dinamização do património ou na qualidade do
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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serviço e da formação. Se temos boa matéria-prima (por exemplo: oferta hoteleira, praia, paisagem, pessoas) e se temos subido na cadeia de valor dos produtos e dos serviços, o desaio agora é assegurar a continuação do reconhecimento e do prestígio internacional da nossa hotelaria, da alta cozinha e da gastronomia tradicional, dos eventos culturais ou desportivos, da arte de bem receber. Isso faz-se, em boa parte, com uma estratégia de autenticidade e diferenciação. Se gostam de nós e nos procuram e visitam por aquilo que somos, há que manter esse espírito genuíno - e não desvirtuar aquilo que é único - na paisagem, no sorriso, na oferta tão diversiicada que existe em Portugal continental, nos Açores e na Madeira.
TRABALHAR AINDA MELHOR A NOTORIEDADE DO PAÍS E A PERCEÇÃO DA BOA EXPERIÊNCIA RESULTANTE DO CONTACTO COM OS PORTUGUESES É GARANTIR O CRESCIMENTO E A SUSTENTABILIDADE DOS NEGÓCIOS DESTE SETOR APAIXONANTE E É, SOBRETUDO, SERVIR PORTUGAL. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
INSTITUCIONAL
O Turismo em 2017
ANA MENDES GODINHO Secretária de Estado do Turismo
O turismo em 2016 revelou a sua capacidade de se transformar cada vez mais numa atividade sustentável ao longo do ano e de ser um motor de criação de emprego e desenvolvimento regional em Portugal. Terminamos 2016 com crescimentos signiicativos das dormidas, hóspedes, proveitos e receitas turísticas, mas essencialmente com a demonstração do aumento da atividade turística à chamada “shoulder season” e um crescimento sustentado do emprego ao longo de todo o ano. Veja-se, a título de exemplo, os números do emprego de outubro de 2016, que ilustram a criação de 30.000 novos empregos neste mês face ao mesmo mês em 2015, o que evidencia claramente o dinamismo da atividade num mês que não é um mês tradicionalmente turístico. Apesar do bom momento que o turismo vive em Portugal, os desaios são muitos e existe um amplo espaço de crescimento que temos todos de aproveitar. O principal foco em 2016 foi trabalhar em conjunto e em rede, mobilizando esforços para ganharmos escala, aproveitando o que cada um já está a fazer.
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Em 2016 apostámos prioritariamente em: • Construção de uma estratégia de longo prazo participada, envolvendo oferta e procura na identiicação dos objetivos que queremos atingir e do caminho comum a percorrer; • Aumento das acessibilidades aéreas ao longo do ano, com um programa de promoção de rotas e operações turísticas; • Dinamização do investimento, lançando instrumentos especíicos para o turismo e acelerando Portugal 2020 e alívio da tesouraria das empresas, repondo a taxa do IVA na restauração; • Aposta na valorização do património, nomeadamente através do Revive, transformando 30 monumentos em ativos económicos capazes de gerar nova atividade turística nas regiões em que se inserem; • Desenvolvimento do All for All como instrumento de capacitação dos destinos e da oferta para serem acessíveis para todos e de promoção do destino Portugal como destino para todos; • Aposta nas pessoas que trabalham no turismo, acreditando, valorizando e dando força ao papel das escolas públicas de hotelaria e turismo na qualiicação dos recursos humanos; • Diversiicação da oferta apostando claramente no património, natureza e cultura, dinamizando produtos com capacidade de atrair pessoas ao longo do ano e do território, de que são exemplo o programa Cycling and Walking que começou no Algarve e que agora dará origem ao Portuguese Trails, o 365 Algarve, que teve a capacidade de pôr os agentes culturais regionais a construir um programa com cerca de 1.000 eventos entre outubro e maio, ou ainda o alargamento do número de provas de surf, de norte a sul, continente e ilhas, passando Portugal a ter todas as provas da World SL; • Captação de eventos internacionais e corporativos ao longo do ano, com a criação de uma equipa e programa dedicados que no inal de 2016 já tinha permitido angariar meia centena de grandes eventos para 2017;
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
INSTITUCIONAL
• Digitalização no turismo, em que desencadeámos o programa Portugal Wii (wii gratuito) nos centros históricos como instrumento de promoção, mas também como ferramenta de desenvolvimento de novos negócios nos destinos; • Promoção da inovação e empreendedorismo, através do Turismo 4.0, programa agregador de iniciativas de empreendedorismo em turismo, que é aliás inalista aos prémios da Organização Mundial do Turismo; • Promoção focada e dirigida, com mensagens adaptadas aos mercados que acrescentam mais valor.
Em 2017 temos desaios imediatos a enfrentar. Se por um lado temos de trabalhar para antecipar eventuais consequências do Brexit, procurando manter um dos mais iéis e importantes mercados emissores para Portugal, por outro estaremos comprometidos em potenciar ao máximo o impacto das novas acessibilidades. O reforço das ligações aos EUA e a abertura de uma rota direta para a China trarão novos turistas que é imperioso satisfazer e idelizar.
É HOJE RECONHECIDO O EFEITO ARRASTADOR DO TURISMO SOBRE AS RESTANTES ATIVIDADES ECONÓMICAS, SEJA O COMÉRCIO, O IMOBILIÁRIO, A PRODUÇÃO DE PRODUTOS NACIONAIS, A CULTURA. Por isso, queremos também airmar o potencial multissetorial do turismo enquanto país de referência em bens e serviços para as atividades turísticas à escala mundial, construindo um hub que contribua para o desenvolvimento económico, social e ambiental ao longo de todo o território e posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo.
Temos de, continuamente, olhar para o turismo como uma atividade que interage com outras, que precisa das outras. Já vimos que o turismo pode recuperar e impulsionar produtos tradicionais através da inovação e das indústrias criativas, mas também pode ter um efeito arrastador sobre várias outras atividades, desde a cultura à indústria tradicional.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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2017 será um ano em que continuaremos a trabalhar para concretizar os objetivos estratégicos que deinimos: • • • •
valorizar as pessoas e o território; impulsionar a economia; potenciar o conhecimento; gerar conetividade e projetar Portugal.
Numa altura em que a procura é cada vez mais informada e exigente, sabemos que o futuro pertence aos destinos que conseguirem assegurar uma oferta assente na inovação em torno da autenticidade do património natural e cultural de cada destino.
TEMOS DE ESTAR ENTRE OS DESTINOS MAIS SUSTENTÁVEIS DO MUNDO. Portugal ainda é um país de contrastes e o turismo é um instrumento de coesão territorial, pelo que temos todos de continuar a trabalhar para que o turismo assuma cada vez mais este seu papel de mobilizador das economias regionais.
Através da inovação. A concorrência crescente obriga a um constante trabalho de inovação. Só assim poderemos continuar a surpreender e a idelizar quem nos visita. Em 2017, lançaremos as bases do novo Centro de Inovação em Turismo, com o objetivo de promover a geração, desenvolvimento e aplicação de ideias inovadoras para o turismo, promovendo a aproximação entre a indústria tradicional e os novos modelos de negócio no turismo. Assente numa parceria entre o Turismo de Portugal, estruturas associativas, empresas e entidades do ecossistema empreendedor, o novo Centro de Inovação será um espaço para que Portugal assuma a liderança na inovação em turismo.
O turismo tem de ser cada vez mais um instrumento para mostrar que Portugal é um destino para viver, estudar, trabalhar e investir, porque somos um País inclusivo que trabalha para derrubar muros, aberto ao mundo e capaz de fazer a ligação a “velhos” e “novos” mundos, olhando para a Europa, mas também para a Ásia ou o continente Americano.
QUE 2017 SEJA, ACIMA DE TUDO, UM ANO EM QUE TODOS OS PROJETOS QUE CONSTRUAMOS E DESENVOLVAMOS EM CONJUNTO TENHAM SEMPRE COMO FUNDAMENTO E COMO OBJETIVO VALORIZAR AS PESSOAS QUE TRABALHAM NO TURISMO, QUE SÃO DE QUEM E PARA QUEM O TURISMO EXISTE. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
BARÓMETRO DO TURISMO
BARÓMETRO DO TURISMO EDIÇÃO ESPECIAL
01. RECEITAS TURÍSTICAS
COMPARANDO COM 2016, QUAL É A PERSPETIVA DE EVOLUÇÃO DO TURISMO PORTUGUÊS PARA 2017, RELATIVAMENTE AOS SEGUINTES INDICADORES?
MELHOR
10,0%
90,0%
IGUAL PIOR
Nº DE DORMIDAS NA HOTELARIA
11,4%
88,6%
Nº DE TURISTAS
8,6%
91,4%
GASTO MÉDIO POR TURISTA
2,9% 0%
32,9% 10%
20%
64,2% 30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Para a maioria dos respondentes do painel do Barómetro do Turismo, 2017 será um ano mais positivo para o turismo português, relativamente aos principais indicadores do setor.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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16 BARÓMETRO DO TURISMO
02. FRANÇA
COMPARANDO COM 2016, QUAL É A PERSPETIVA DE EVOLUÇÃO DO TURISMO PORTUGUÊS PARA 2017, NOS SEGUINTES MERCADOS?
EUA ALEMANHA
78,3%
HOLANDA
BÉLGICA
66,7%
30,4%
2,9%
IRLANDA
70,1%
28,4%
ESPANHA
44,9%
55,1%
50,8% 47,8%
1,4%
47,0% 50,0%
3,0% 34,3%
PORTUGAL
58,2%
7,5% 33,3% 39,4% 27,3%
RÚSSIA
32,3%
JAPÃO
60,3%
7,4% 28,8%
REINO UNIDO ITÁLIA
PIOR
73,5%
26,5%
1,5%
MELHOR IGUAL
20,3%
1,4%
CHINA
82,6%
14,5%
2,9%
16,7%
54,5%
27,9%
67,7%
4,4%
BRASIL
19,1%
32,4%
48,5%
A França vai liderar o crescimento dos mercados internacionais. Bom desempenho deverão ter igualmente Estados Unidos, Alemanha, China e Espanha, cuja procura por Portugal continuará a evidenciar franco crescimento em 2017. Holanda, Irlanda e Bélgica são também mercados em que se espera crescimento em 2017, embora mais moderado. Maior cetiscismo em relação ao Brasil e à Rússia.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
BARÓMETRO DO TURISMO
03.
EM 2017, QUAL SERÁ A REGIÃO PORTUGUESA COM MAIOR POTENCIAL DE CRESCIMENTO? 35,2%
AÇORES 22,5%
PORTO E NORTE DE PORTUGAL
16,9%
LISBOA E VALE DO TEJO
12,7%
ALENTEJO
9,9%
ALGARVE CENTRO
1,4%
MADEIRA
1,4%
Os Açores são a região que mais vai crescer em 2017, na opinião de 35% dos inquiridos. Seguem-se Porto e Norte de Portugal e Lisboa e Vale do Tejo.
04. 8,9%
QUAL DEVERÁ SER A APOSTA PARA 2017, COM O OBJETIVO DE MELHORAR A COMPETITIVIDADE DE PORTUGAL COMO DESTINO TURÍSTICO?
2,2% 2,2% 2,2% Qualiicação dos RH e diferenciação da oferta turística
8,9%
46,7%
Reforço da promoção e da comunicação Qualidade do serviço/produto
8,9%
Captação de novas rotas | Acessibilidades Segurança, limpeza e recuperação urbana Redução da carga iscal e burocracia Diversiicação de mercados e preços mais baixos
15,6%
Estabilidade política Dinamização do mercado interno Criação de um destino “Verde” 17,8%
33,3%
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
17
18 BARÓMETRO DO TURISMO
05.
QUAIS OS FATORES QUE TERÃO UM IMPACTO MAIS POSITIVO NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO PORTUGUÊS EM 2017?
21,3%
SEGURANÇA E ESTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL 15,3%
QUALIDADE E DIVERSIDADE DA OFERTA TURÍSTICA
11,3%
INSTABILIDADE EM MERCADOS CONCORRENTES
10,7%
NOTORIEDADE | BOA IMAGEM DO DESTINO
8,7%
RELAÇÃO QUALIDADE/PREÇO REFORÇO DAS LIGAÇÕES AÉREAS
8,0%
CLIMA E HOSPITALIDADE
8,0% 7,3%
PROMOÇÃO CRESCIMENTO ECONÓMICO/INVESTIMENTO E SUSTENTABILIDADE OUTROS
06.
5,3% 4,0%
QUAIS OS FATORES QUE TERÃO UM IMPACTO MAIS NEGATIVO NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO PORTUGUÊS EM 2017?
34,8%
INSTABILIDADE E INCERTEZA FISCAL, ECONÓMICA, SOCIAL E POLÍTICA 11,9%
REDUÇÃO DA QUALIDADE DO SERVIÇO/PRODUTO PRESTADO
10,4%
AUMENTO DOS PREÇOS E CRESCIMENTO EXCESSIVO DA OFERTA FALTA DE REGULAMENTAÇÃO E BUROCRACIA
9,6%
DEGRADAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS E ACESSIBILIDADES
8,9%
FRACO INVESTIMENTO EM PROMOÇÃO MANUTENÇÃO DO DESTINO SEGURO
6,7% 5,9%
ESTABILIZAÇÃO DOS MERCADOS CONCORRENTES
4,4%
BREXIT | DESVALORIZAÇÃO DA LIBRA
4,4%
OUTROS
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
3,0%
BARÓMETRO DO TURISMO
07.
EM 2017, QUAL DEVERÁ SER O PRODUTO TURÍSTICO CENTRAL, A COMUNICAR INTERNACIONALMENTE POR PORTUGAL? 21,9%
TOURING CULTURAL E PAISAGÍSTICO
17,2%
SOL E MAR
14,8%
CITY-BREAKS
10,9%
GASTRONOMIA E VINHOS
10,2%
TURISMO DE NEGÓCIOS
9,4%
TURISMO DE NATUREZA
4,7%
TURISMO RELIGIOSO TURISMO RESIDENCIAL GOLFE SAÚDE E BEM-ESTAR
3,1% 2,3% 2,3%
TURISMO NÁUTICO
1,6%
OUTROS
1,6%
O touring cultural e paisagístico deverá ser o principal produto turístico de Portugal a ser promovido no estrangeiro, ultrapassando o turismo de sol e mar e os city-breaks.
FICHA TÉCNICA Universo: 173 membros | Respostas: 70 | Período de auscultação: 22 setembro a 03 outubro de 2016 | Tratamento dos dados: IPDT
MEMBROS DO PAINEL Alexandre Abade (Oásis Atlântico Holding); Alexandre de Almeida (Hotéis Alexandre de Almeida); Alves de Sousa (Hotel Britania – Hotéis Heritage); Ana Barbosa (TurAventur); Ana Ferro (Galerias Paris Porto); Ana Salazar (Universidade Fernando Pessoa); Anabela Almeida (Consolidador.com); Anabela Correia (Inatel Turismo); André Barreto (Estalagem Quintinha São João); Andrew Zino (Nature Meetings); António Belmar da Costa (AGEPOR - Associação dos Agentes de Navegação de Portugal); António Ceia da Silva (Turismo do Alentejo); António Condé Pinto (APHORT); António Diogo (Welcome Portugal - Viagens e Turismo); António Lacerda (Agência Promoção Turística do Alentejo); António Loureiro (Travelport); António Martinho; António Mota; António Trindade (Porto Bay); António Vidal (APECATE- Ass. Port. Emp. Congr. Anim. Turística e Eventos); Armando Conceição; Assis Correia (Associação Comercial e Industrial do Funchal); Bruno Pereira (Câmara Municipal do Funchal); Cândido Mendes (Federação Portuguesa de Turismo Rural); Carina Monteiro (Workmedia, Publituris); Carla Moreira (Escola de Hidroterapia e SPA); Carlos Fernandes (ESTG-IPVC); Carlos Martins (Solmelia); Carlos Paneiro (TAP Portugal); Carlos Torres (EST/APAVT); Carolina Morgado (Revista Turisver); César Gonçalves (PriceWaterHouseCoopers); Conceição Estudante; Correia da Silva (TT-ThinkTur); Cristina Ávila (Associação de Turismo dos Açores); Cristina Dias; Cristina Gouveia (Citur); Cristina Siza Vieira (Associação da Hotelaria de Portugal); Desidério Silva (Região de Turismo do Algarve); Diamantino Pereira (Agência Abreu); Diogo Vaz Guedes; Domingos Silva; Eduardo Cabrita (MSC Cruzeiros); Eduardo Jesus (Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura - Madeira); Eduardo Souto Moura (AICEP); Elidérico Viegas (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve); Emídio Gomes; Fátima Vila Maior (FIL – Feira Internacional de Lisboa); Filipe de Pina (Top Atlântico); Fernando Mendes (Montepio); Fernando Silva (Quinta das Escomoeiras); Fernando Vieira (ANA Aeroportos, S.A.); Francisco de Calheiros (Associação de Turismo de Habitação); Francisco Sampaio; Francisco Teixeira (Melair); Frèdéric Frère (Travelstore); Frederico Costa; Gama Mor (TAP Portugal); Gavin Eccles; Gonçalo Salgado (GeoStar); Hélio Loureiro (Hotel Porto Palácio); Henrique Moura; Henrique Montelobo (Onyria Resorts); Henrique Veiga (Aequitate); Humberto Ferreira (Publituris); Isabel Cardoso (Bairent); Isabel Morais (Sogrape Vinhos); Isabel Pilar (Cosmos); Jan E. Ringertz (The Yeatman); João Monteiro (Hotéis Rurais de Portugal); João Pereira de Faria (El Corte Inglés); Joaquim Ribeiro (J.A.S.E. – Empreendimentos Turísticos); João Paulo Reis (Scalivete); João Silva (Team Quatro); João Welsh (TopAtlântico Madeira); Joaquim Almeida (ARAC); Joaquim Anes Pinto (Hotel Beach & Golf); Joaquim Antunes (Instituto Politécnico de Viseu); Jorge Abrantes (Turismo de Portugal, IP); Jorge Aníbal Catarino; Jorge Gassin (Barceló Hotel Beds); Jorge Humberto (Turismo Região de Lisboa); Jorge Jesus (Andaz); Jorge Marrão (Deloitte); Jorge Osório; Jorge Rebelo de Almeida (Grupo Vila Galé); Jorge Rodrigues (Templar - Rotas e Destinos Turísticos); Jorge Umbelino (Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril); José Arimateia (Visabeira Turismo); José Bastos (Câmara Municipal de Guimarães); J. Carlos Pinto Coelho (Onyria Resorts); José Elias (Revista Turisver); José Roquette (Grupo Pestana); Júlio Meirinhos; Júlio Mendes (Universidade do Algarve); Lourenço Marçal (Grupo Continental); Luciano Gouveia (Palheiro Estate); Luigi Valle (Grupo Pestana); Luís Luz; Luís Marques (AETUR); Luís Monteiro D´Aguiar (Eurofun); Luís Patrão; Luís Veiga (Natura - IMB Hotels); Manuel Dias (MDTUR); Manuel Espírito Santo; Manuel Fialho (Restaurante “O Fialho”); Manuel Marques (Douro Azul, S.A.); Manuela Sarmento (Universidade Lusíada); Maria José Catarino (Hoti Hotéis); Maria José Silva (RAVT); Mário Ascenção (HAAGA-HELIA - University of Applied Sciences); Margarida Belém (Câmara Municipal de Arouca), Mário Ferreira (Douro Azul, S.A.); Mário Gonçalves (AHRESP); Mário Machado (Springwater); Marta Bensaude Pires (Bensaude Turismo); Marta Sá Lemos (APDL); Melchior Moreira (Turismo do Porto e Norte de Portugal); Miguel Cymbron (VIP Hotels); Miguel Júdice (Thema Hotels & Resorts); Miguel Moital (Universidade de Bournemouth); Miguel Quintas; Miguel Simões de Almeida; Miguel Sousinha; Miguel Velez; Mónica Fernandes (Lisboatur); Nazir Din (SANA Hotels Portugal); Noel Dias; Nuno Azevedo; Nuno Fazenda (Turismo de Portugal, IP); Nuno Santos (Solferias); Nuno Santos (Hotel Presidente); Orlando Carrasco (International Consultants Iberia); Paulo Águas (Universidade do Algarve); Paulo Fernandes (Grupo Lena); Paulo Lei (Ferpinta Turismo); Paulo Mendes (Airmet); Paulo Neves (Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina); Paulo Parreira (Sítios); Paulo Rita (ISCTE); Paulo S. Cunha (Casa da Música); Pedro Aires Abreu (AICEP); Pedro Advirta (Clube Viajar); Pedro Ferreira (APAVT); Pedro Gordon (GEA Portugal); Pedro Lopes (Grupo Pestana); Pedro Machado (Turismo do Centro); Pedro Pereira (Hotel Miraparque); Pedro Silva (Turismo do Centro); Raul Geraldes (Pelicano Travel); Ricardo Magalhães (CCDR-N); Rita Soares (Martins Soares); Roberto Gomes (Aeroporto de Lisboa); Rocha de Matos (Associação Industrial Portuguesa); Rodolfo Faustino (Turismo de Macau); Rodrigo Machaz (Memmo Baleeira Hotel); Rosário Torres Costa (Turismo de Portugal, IP); Rui Ochôa (Event Point); Salvador Alves Dias (Associação de Jornalistas Portugueses de Turismo); Sancho Silva (Cestur); Sandra Carvão (Organização Mundial do Turismo – OMT); Sérgio Gonçalves (ACIF-CCIM); Sónia Almeida (ADERE); Susana Ribeiro (Câmara Municipal do Porto); Teresa Vieira (Sociedade de Turismo da Feira); Tiago Raiano (New Tour Azores, SA); Susana Luz (Air Plus International); Susana Ribeiro; Valente de Oliveira (Associação Empresarial de Portugal); Vasco Malaquias de Lemos; Virgínia Trigo (ISCTE); Víctor Manique; Vítor Fraga (Secretaria Regional do Turismo e Transportes Açores); Vítor Neto (Ex-Secretário de Estado do Turismo); Vítor Silva (Turismo do Alentejo).
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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20 INSTITUCIONAL
2017 Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento:
TALEB RIFAI Secretário Geral Organização Mundial do Turismo
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
aproveitar o poder do turismo para construir um mundo melhor
INSTITUCIONAL
JUNTOS - GOVERNOS, SETOR PRIVADO, SOCIEDADE CIVIL E OS PRÓPRIOS TURISTAS - PODEMOS SER A MUDANÇA QUE QUEREMOS VER.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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22 INSTITUCIONAL
Nos últimos anos, o turismo tornou-se um dos setores socioeconómicos mais importantes e impactantes dos nossos tempos. Ganhou relevância crescente na vida de milhões de pessoas em todo o mundo, na preservação dos nossos valores comuns e numa maior compreensão entre as pessoas, em todas as esferas da vida. Nos últimos anos, também assistimos a um crescente empenho do setor para com a comunidade internacional. Muitos países perceberam o potencial do turismo como pilar de desenvolvimento. Esse compromisso é testemunhado pela inclusão do turismo nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) acordados por 193 nações em 2015. A decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas em declarar 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento não foi coincidência. O turismo é cada vez mais justamente reconhecido como um setor que pode ajudar a fundar um mundo melhor. 2017 é uma oportunidade única para promover o contributo do turismo a im de alcançar o futuro que queremos - e também para determinar, em conjunto, o papel que o turismo vai ter na agenda do desenvolvimento sustentável até 2030. 2017 vai assitir ao lançamento de um novo quadro estatístico para medir o Turismo Sustentável. Esta iniciativa, juntamente com os progressos contínuos da rede de Observatórios de Turismo Sustentável da OMT, vai permitir-nos fazer um melhor uso dos dados disponíveis, para efetivamente tomar decisões e transitar para práticas mais sustentáveis. Naturalmente, há muitos desaios que se colocam ao setor e permanecem. O clima do nosso planeta continua a ser uma séria preocupação. As emissões do turismo fazem com que o setor contribua
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
substancialmente para as mudanças climáticas, e essas emissões devem ser reduzidas - neste sentido, estamos muito satisfeitos com o acordo alcançado em setembro de 2016, por 191 governos que se uniram para encontrar uma nova solução realtivamente às emissões de CO2 dos voos internacionais. Essa medida global vai ajudar a aviação a mitigar as suas emissões de CO2, que ainda não conseguem ser reduzidas com recurso às novas tecnologias, operações simpliicadas e infraestrutura melhorada. No entanto, se há uma coisa que devemos sempre lembrar é que o turismo é um setor de esperança. O turismo não é apenas um dos setores económicos mais resilientes, como também une pessoas de diferentes culturas e continentes todos os dias. Através das viagens, ganhamos compreensão, tolerância e empatia pelo próximo - essencial na era da globalização, onde a nossa aldeia global só pode prosperar através de uma vida harmoniosa. O meu maior desejo para 2017 é que o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento sirva para lembrar que, quando todos trabalhamos juntos para promover o turismo, podemos alcançar uma mudança verdadeiramente positiva no mundo. A enorme esperança que o nosso setor proporciona deve inspirar-nos a agir para o bem das pessoas e do planeta. Juntos - governos, setor privado, sociedade civil e os próprios turistas - podemos ser a mudança que queremos ver. •
24 PORTUGAL
Portugal: muito além do Sol e Mar
SEGUNDO OS RESULTADOS DO BARÓMETRO DO TURISMO, O TOURING CULTURAL E PAISAGÍSTICO DEVERÁ SER O PRODUTO TURÍSTICO CENTRAL A COMUNICAR INTERNACIONALMENTE POR PORTUGAL ESTE ANO. O TOURING REUNIU PREFERÊNCIAS DE 22% DOS INQUIRIDOS, SEGUINDO-SE O SOL E MAR COM 17,2% E OS CITY-BREAKS, COM 14,8%.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
PORTUGAL
O Barómetro do Turismo do IPDT é um projeto que visa auscultar a opinião dos proissionais e responsáveis das organizações que atuam no setor do turismo. Atualmente é composto por um painel ixo de 175 individualidades do turismo nacional.
BAT | PREVISÕES 2017
EM 2017, O TOURING CULTURAL E PAISAGÍSTICO DEVERÁ SER O PRODUTO TURÍSTICO CENTRAL, A COMUNICAR INTERNACIONALMENTE POR PORTUGAL 21,9%
TOURING CULTURAL E PAISAGÍSTICO
17,2%
SOL E MAR
14,8%
CITY-BREAKS
10,9%
GASTRONOMIA E VINHOS
10,2%
TURISMO DE NEGÓCIOS
9,4%
TURISMO DE NATUREZA
4,7%
TURISMO RELIGIOSO TURISMO RESIDENCIAL GOLFE SAÚDE E BEM ESTAR
3,1% 2,3% 2,3%
TURISMO NÁUTICO
1,6%
OUTROS
1,6%
O touring cultural e paisagístico subiu posições no Barómetro. Nas previsões para 2016 o touring reunia 15% de respostas, icando atrás dos city-breaks (18%) e do sol e mar (15,8%). Nas previsões para 2017, o touring ganha preponderância, num Portugal que é cada vez mais múltiplo.
ligação única aos oceanos (é a maior Zona Económica Exclusiva na Europa), tem aldeias históricas, paisagens insólitas, termas, religião, uma expressão musical única e uma gastronomia incomparável, atributos que fazem de Portugal, um país com condições privilegiadas para o desenvolvimento do turismo cultural.
TOURING CULTURAL E PAISAGÍSTICO
O turismo cultural ganhou, nas últimas quatro décadas, novos e alargados signiicados fazendo hoje parte das motivações profundas de um número crescente de pessoas, sobretudo no espaço europeu.
Portugal tem um forte potencial em áreas onde a tradição, a criatividade e os recursos naturais fornecem todas as mais-valias para a criação de zonas de mercado capazes de dinamizarem a economia e de atraírem novos visitantes e novos investimentos, privados, públicos, nacionais e internacionais. Portugal tem mais do que isto: tem uma cultura rica, um património histórico/ arquitetónico muito relevante, uma
A cultura representa cerca de das motivações de viagem dos Europeus
26%
Fonte: Preferences of Europeans towards Tourism, EU 2016
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
25
26 PORTUGAL
Entre as principais razões que explicam o aumento da procura pelo turismo cultural, destacam-se as seguintes: • Maiores níveis de educação a nível mundial, que provocam um aumento geral do interesse pela cultura; • Envelhecimento da população que gera mais procura por produtos e experiências culturais; • Novos luxos turísticos de mercados emergentes (como China, Rússia ou Índia) que querem conhecer os principais recursos culturais dos destinos que visitam; • Desenvolvimento de indústrias culturais e crescimento da oferta de atividades e recursos culturais; • Auge da internet que facilitou o consumo do turismo cultural; • Maior promoção por parte das grandes instituições culturais; • Projetos de regeneração urbanística que converteram edifícios antigos em centros e espaços culturais; • Na última década, a oferta de equipamentos culturais duplicou na Europa e EUA.
SOL E MAR O surgimento do atual turismo de sol e mar iniciou-se em meados do séc. XVIII. O ambiente das cidades era, na altura, visto como insalubre e poluído. Pelo contrário, nas zonas costeiras o mar, o sol, a paisagem marítima, a salinidade e o próprio ar eram entendidos como fatores importantes para o restabelecimento físico e mental das populações mais nobres. Com o passar do tempo, já no séc. XIX, e o desenvolvimento dos direitos sociais na Europa, estes espaços começam a ser escolhidos pelas populações para passarem as suas férias, principalmente em Inglaterra, França, Itália e Espanha. Com o processo de industrialização e a melhoria das vias de acesso e redes de transporte, estes espaços deixam de ser exclusivos das classes sociais mais elevadas e popularizamse, chegando a tornar-se, ainda no séc. XIX, uma atração mundial, principalmente na região do Mar Mediterrâneo. O turismo na década de 60 transforma-se num fenómeno social de massas, crescendo exponencialmente nas regiões do litoral, deixando de ser encarado como um luxo, para passar a ser visto como uma necessidade. Hoje em dia, o turismo de sol e mar continua a ser um dos principais produtos turísticos em muitos destinos, dos quais Portugal faz parte. No entanto, face aos novos peris de turistas, o sol e mar já não chega como produto isolado,
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
e por isso temos assistido a um reposicionamento do produto e ao cruzamento com outras ofertas para captar mais turistas ou visitantes que deixem mais dinheiro.
O sol e mar representa cerca de das motivações de viagem dos Europeus
39%
Fonte: Preferences of Europeans towards Tourism, EU 2016
CITY-BREAKS Os city-breaks consistem em estadias de curta duração, a im de conhecer uma cidade e as suas atrações ao nível de património, arquitetura, cultura, gastronomia, etc. Segundo o World Travel Monitor, entre 2007 e 2014, as viagens internacionais tendo cidades como destino registaram um acréscimo de 82%, atingindo uma quota de 22% do total de viagens a nível mundial. Fatores como o surgimento das linhas aéreas de baixo custo, a descida do preço dos voos e a generalização da internet como canal de informação, reserva e compra de viagens contribuíram para este crescimento. No entanto, o surgimento de novas atrações é outro dos fatores a considerar. Os turistas valorizam o facto de poderem apreciar vistas panorâmicas, desfrutar da atmosfera das cidades, fazer compras e experimentar a gastronomia local. Estas viagens são curtas (habitualmente até 3 noites), recorrem a voos diretos, provenientes de países próximos, tendem a ser um complemento às férias de longa duração, realizam-se em qualquer época do ano e são feitas, sobretudo, por casais ou grupos de amigos. Por sua vez, os millennials são os grandes consumidores deste tipo de turismo, embora esta seja uma tendência generalizada e cada vez mais presente em todos os grupos etários. •
57,5%
das viagens dos europeus são short-breaks
19,7% 24,7% 13,1% 1 noite
Fonte: Eurostat 2014
2 noites
3 noites
PORTUGAL
Desidério Silva Turismo do Algarve
As potencialidades do touring são enormes tendo em conta que está presente em cerca de 80 milhões de viagens, motivadas por outros produtos como o sol e mar, golfe, etc., em que os viajantes complementam e enriquecem a sua experiência turística com programas culturais. O Algarve apresenta uma grande riqueza de património cultural, tanto material como imaterial, pelo que reúne as condições necessárias ao desenvolvimento deste produto estratégico, que irá permitir diversiicar a sua oferta, minimizar a sazonalidade da procura, e ainda oferecer uma experiência integrada e completa aos turistas. Para além de muitas outras ações desenvolvidas neste âmbito, o Algarve lançou recentemente, em colaboração com o Turismo de Portugal, o programa cultural “365 Algarve” que tem por objetivo complementar a oferta tradicional do Algarve, promovendo e dinamizando a época baixa através de uma programação cultural anual que irá dar vida à região. De outubro de 2016 a maio de 2017 irão realizar-se mais de mil apresentações de música, dança, teatro, exposições, animações de património, entre outras, em todos os concelhos da região. Com este programa cultural dinâmico pretende-se proporcionar experiências únicas aos turistas que nos visitam e motivar mais viagens, nacionais e internacionais, contribuindo para o desenvolvimento do destino durante todo o ano. Pretende-se, ainda, contribuir para uma forte coesão territorial através de uma oferta cultural consistente, criativa e inovadora.
O touring cultural assume-se com uma das grandes tendências do turismo mundial para os próximos anos, sendo atualmente uma das principais motivações para a escolha de um destino de férias.
Para aumentar a atratividade turística do Algarve, precisamos de complementar produtos consolidados com uma oferta cultural singular, diversiicada, de qualidade e que alie tradição à contemporaneidade. Os destinos estão conscientes de que precisam reforçar a sua identidade cultural, valorizar, diferenciar, qualiicar e diversiicar a sua criação artística, de modo a oferecer aos seus visitantes uma experiência de viagem completa. Hoje em dia, os turistas procuram fruir a cultura do povo que visitam, integrando-se nos costumes locais, e conhecer vários elementos da sua identidade cultural, desde a gastronomia, aos vinhos regionais, à arte plástica, à música, aos monumentos, às paisagens naturais, etc. Só reforçando a identidade cultural dos destinos é que estes se assumirão como destinos turísticos e culturais modernos e com futuro. A Região de Turismo do Algarve acredita que o investimento no touring será estratégico e diferenciador e que estaremos assim a melhorar a experiência turística, e a perceção internacional do destino, assim como a sua competitividade durante todo o ano. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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28 PORTUGAL
Elidérico Viegas Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve
Os vários indicadores disponíveis conirmam a capacidade do turismo para enfrentar ciclos económicos menos bons, consubstanciados em resultados operacionais positivos e, por conseguinte, numa sustentação e estabilização do setor turístico e empresarial que importa ressalvar. Porém, mais do que analisar as razões que justiicam os bons desempenhos estatísticos, importa criar condições que permitam assegurar um crescimento sustentado da atividade turística, a melhor forma de deixarmos de andar ao sabor das conjunturas internacionais e responder, eicazmente, às ameaças do futuro. E se é verdade que as instabilidades económicas, políticas, sociais ou outras, determinam sempre os comportamentos das procuras turísticas mundiais, não é menos verdade que existem técnicas disponíveis que permitem inluenciar a nosso favor as oportunidades e vantagens competitivas resultantes das adversidades alheias. O turismo assumiu-se, deinitivamente, como uma atividade indispensável à condução das políticas macroeconómicas do nosso país, o que exige a deinição de estratégias coerentes e potenciadoras do seu desenvolvimento, de forma a viabilizar as empresas e consolidar a expansão do setor turístico e empresarial. Neste contexto, é preciso terminar com um longo período de falta de entendimento da administração central sobre a substância do turismo e a sua real importância, presente e futura, na economia e na sociedade portuguesa, designadamente no que se refere à sua capacidade para gerar bens transacionáveis, o grande sustento das nossas contas externas. Na nossa perspetiva, existem quatro grandes áreas de atuação que requerem o envolvimento e a intervenção dos poderes públicos para continuar a garantir a estabilidade competitiva da nossa oferta turística e do nosso tecido empresarial. Em primeiro lugar é necessário manter uma envolvente de qualidade, nomeadamente no que respeita aos chamados serviços de apoio, (higiene e limpeza, zonas verdes, saneamento básico, saúde, segurança, vias rodoviárias, água e eletricidade, comunicações, etc.), incluindo a construção de alguns equipamentos de apoio e infraestruturas regionais que ainda não temos (Hospital Central do Algarve, Espaço Multiusos/Centro de Congressos, Policlínica Desportiva para Atletas de Alta Competição). Em segundo lugar é preciso qualiicar e valorizar zonas turísticas descaraterizadas e de elevada concentração urbanística, assim como apoios inanceiros que facilitem a remodelação e modernização de unidades hoteleiras e empreendimentos turísticos. Em terceiro lugar estabelecer parcerias entre o setor público e o setor privado, visando a implementação de estratégias de formação contínua nas empresas durantes os períodos de menor procura. Em quarto lugar, a prioridade das prioridades, comercializar a capacidade disponível, (cerca de 40%), através da implementação de estratégias ativas de promoção e marketing desenvolvidas, preferencialmente, em parceria e colaboração com a iniciativa privada. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
PORTUGAL
Vitor costa Diretor geral Associação de Turismo de Lisboa
Lisboa tem vindo a dar passos notórios na criação de uma proposta de valor cada vez mais rica em ativos turísticos, bem como na capacidade de se reinventar e melhorar a experiência de quem nos visita e aqui reside. Para além do turismo de negócios, cruzeiros e golfe, um dos produtos turísticos core de Lisboa é o city-break, intrinsecamente ligado ao diversiicado leque de motivações e tipo de turista que nos visita. Com o objetivo de elevar este produto a um novo patamar de excelência, a qualiicação do destino é feita através de uma oferta cultural muito forte, com novidades constantes a todos os níveis. O sucesso que Lisboa alcançou até hoje resulta do esforço de conjugação de investimentos públicos, institucionais e particulares, com impacto visível numa maior utilização e fruição do espaço público, mais e melhores oportunidades de negócio e emprego e maior diversidade socio-económica da comunidade. Mas é necessário continuar a ter determinação e mente aberta à mudança para fazer mais e melhor. É necessário apostar na valorização de Lisboa e na implementação de projetos que melhorem a experiência do turista e a qualidade de vida dos lisboetas. É necessário evoluir e apostar numa plataforma online que ofereça conteúdos personalizados, faça a gestão do turismo da cidade e dê vantagens reais às empresas do setor, ao nível das receitas, qualidade de serviço e eiciência das operações.
Lisboa está sempre na vanguarda de uma oferta única e diversiicada e a vontade de inovar e acompanhar as melhores práticas internacionais mantém-se dia após dia.
É necessário que Lisboa continue a crescer assegurando mais valor para os turistas que nos visitam e para os lisboetas. A criação desta simbiose passa por adaptar e alargar as zonas de atração turística a outros pontos da cidade e por criar ainda mais oportunidades de negócio. E o turismo é a chave central para que isso aconteça, pois permite estimular o dinamismo da cidade através de uma qualiicação da oferta cada vez mais diversiicada. Lisboa está num patamar de excelência turística, resultado do trabalho árduo e da dedicação contínua de todos os players do setor que se esforçam para que a história e a tradição harmonizem na conjugação perfeita com a descoberta de uma cidade reinventada. Continuar a contribuir para o êxito de Lisboa no produto city-break passa por preservar a excelência, o dinamismo e a inovação, que nos são tão caraterísticos neste contexto, sem nunca esquecer que juntos somos melhores na diversiicação e riqueza da nossa oferta turística com base na qualidade. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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Eduardo rodrigues Presidente Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
GAIA E O TURISMO DE SHORT-BREAK Se já eram tendência antes da crise, depois dela impuseram-se ainda mais. Hoje em dia, os short-breaks são um segmento de viagens consolidado e uma valiosa fonte de receitas para os destinos ao longo de todo o ano.
Fatores como o surgimento das linhas aéreas de baixo custo, a descida do preço dos voos e as maiores facilidades de reserva e compra de viagens contribuíram para que muitos turistas aderissem a esta forma de viajar. Segundo o estudo desenvolvido pelo IPDT que identiica o peril do turista que visitou o Porto e Norte de Portugal durante o Verão IATA 2016 (abril a outubro de 2016), cerca de 13,5% dos turistas que chegaram à região via aeroporto do Porto neste período izeram um short-break. De acordo com os dados mais recentes do estudo, estes turistas: 1. São maioritariamente franceses, espanhóis e ingleses 23% destes turistas são de nacionalidade francesa. Seguem-se espanhóis e ingleses, com 15,2% e 12,6%, respetivamente; 2. Organizam a viagem pela Internet 87% dos turistas em short-break organizaram a viagem com recurso à internet e com mais de seis semanas de antecedência (55%); 3. Preferem hotéis A maioria dos turistas escolheu o hotel como meio de alojamento (41,9%). Os apartamentos turísticos reuniram a preferência de 22,3% dos visitantes e 14,2% icaram alojados em hostels; 4. Ficam até quatro noites 77% dos turistas permanecem no destino até quatro noites e consomem cerca de 422 euros por pessoa; 5. Têm menos de 40 anos 65% dos turistas em short-break têm menos de 40 anos, evidenciando o peso dos millennials neste segmento. Enquanto parte integrante da oferta turística do Porto e Norte, o turismo de Gaia tem beneiciado do crescente luxo de turistas para a região. Gaia tem trabalhado no sentido de oferecer uma proposta de valor cada vez mais rica em ativos turísticos, procurando a cada passo inovar, criar e aperfeiçoar a experiência quer dos visitantes, quer dos residentes. Neste sentido, temos apostado na melhoria de infra-estruturas e no enriquecimento da nossa oferta cultural, cada vez mais diversiicada e exclusiva, que nos permite ter atrativos únicos ao longo de todo o ano. Mas mais do que quantidade e diversidade queremos ter qualidade. Por isso, vamos continuar a trabalhar para oferecer um serviço de excelência ao longo de toda a cadeia de valor do turismo, que faça o visitante partir com vontade de voltar, distinguindo-nos pela nossa singularidade e pela experiência memorável que lhe proporcionamos. Vila Nova de Gaia possui produtos turísticos exclusivos e complementares como sejam a riqueza das praias, dos parques naturais, da gastronomia, do património histórico e etnográico, que queremos potenciar como fator de atração, sendo que o sucesso do turismo tem muito a ver com esta visão e é neste caminho que devemos continuar a apostar. •
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
32 PORTUGAL
AÇORES: O sucesso pelo turismo BREVE CARATERIZAÇÃO DO DESTINO O Arquipélago dos Açores é constituído por 9 ilhas dispersas no Atlântico Norte ao longo de 600 km. Estende-se por uma área de 2322 km2, que corresponde a 2,5% da superfície total nacional, formando três grupos de ilhas: o grupo Oriental, constituído por Santa Maria e São Miguel; o grupo Central, constituído por Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial; e o grupo Ocidental, constituído por Flores e Corvo. O extremo ocidental do arquipélago situa-se nas Flores, a 3900 km da América do Norte e o extremo oriental localiza-se em Santa Maria, a 1570 km do continente Europeu. O clima do arquipélago é temperado marítimo, variando as temperaturas entre os 14º e os 25º. Em termos orográicos as ilhas são caraterizadas por um relevo acidentado, com declives acentuados. O ponto mais alto localiza-se na ilha do Pico com 2351 m. De acordo com o Censos 2011, a população dos Açores é de 246.102 habitantes, tendo aumentado relativamente ao Censos anterior realizado em 2001. Nessa altura a população dos Açores era de 241.763 habitantes, o que corresponde a um aumento populacional de 1,79%. Mais de metade da população reside na ilha de São Miguel. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Açores, em 2014, foi de 3.731 milhões de euros, o que correspondeu a 2,2% do PIB nacional. Fonte: Governo dos Açores
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PORTUGAL
TURISMO NOS AÇORES: MOMENTO ATUAL
OS AÇORES VIVEM ATUALMENTE UM DOS MELHORES MOMENTOS DA HISTÓRIA DO TURISMO DA REGIÃO, ATINGINDO NÍVEIS DE CRESCIMENTO INÉDITOS, TANTO AO NÍVEL DA OFERTA COMO DA PROCURA. Com o crescimento ao nível das dormidas crescem também os proveitos em praticamente todas as ilhas. O turismo está a contribuir de forma determinante para o aumento da rentabilidade de várias unidades, contribuindo para a sustentabilidade e para a preservação e criação de mais postos de trabalho. Esta nova realidade traz ao destino uma maior responsabilidade a im de manter o ritmo de crescimento, potenciando e preservando os seus recursos mais diferenciadores.
ESTRATÉGIA PARA O TURISMO O Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores, com o horizonte temporal 2020, que entrou recentemente em vigor, é uma ferramenta fundamental para a gestão futura do património natural e dos recursos territoriais que integram a oferta turística da região. A Estratégia tem como desiderato alcançar três importantes resultados:
• A qualiicação e o desenvolvimento sustentável do destino; • A preservação do meio ambiente; • O desenvolvimento da atividade turística, como ferramenta de dinamização da economia regional em todas as ilhas. Os contributos dos stakeholders da região permitiu a identiicação de cinco grandes desaios do destino: acessibilidades, sazonalidade, vulnerabilidade do território, qualidade do serviço e desenvolvimento equilibrado do turismo nas nove ilhas. O diagnóstico realizado evidenciou a necessidade de assentar o desenvolvimento do turismo em cinco pressupostos, designadamente: 1. O turismo de natureza enquanto principal produto dos Açores; 2. A garantia de poder visitar todas as ilhas; 3. A singularidade, autenticidade, paisagem, segurança e tranquilidade como aspetos diferenciadores; 4. O incentivo à melhoria no desempenho das áreas caraterísticas do turismo; 5. Trabalhar a sustentabilidade, preservando lugares e comunidades locais. O objetivo passa por atingir a sustentabilidade através do turismo, proporcionando aos visitantes dos Açores uma experiência de convidados especiais em ambiente natural, em que são recebidos com carinho e cortesia genuínas, para que a experiência Açores deixe saudades e os faça voltar.
BARÓMETRO DO TURISMO: AÇORES LIDERAM CRESCIMENTO Os Açores são a região que mais deverá crescer este ano, segundo os resultados do Barómetro do Turismo do IPDT, uma edição especial para o Turismo’17. 35% dos inquiridos acredita que, no panorama do turismo nacional, os Açores vão ser a região com maior taxa de crescimento, seguidos pelo Porto e Norte de Portugal e pela região de Lisboa e Vale do Tejo.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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PREVISÕES 2017
AÇORES | DORMIDAS NA HOTELARIA TRADICIONAL (milhares)
35,2%
AÇORES
1063,8 1054,1
22,5%
PORTO E NORTE
1033,5 1035 1004,8
1127,5
1184,4 1180,1
12,7%
ALENTEJO
9,9%
CENTRO
1,4%
MADEIRA
1,4%
2015
Já no Barómetro do Turismo - edição especial Turismo‘16, as previsões apontavam os Açores como a região com maior potencial de crescimento, seguindo-se o PNP e Lisboa.
2014
2013
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
AÇORES | HÓSPEDES NA HOTELARIA TRADICIONAL (milhares) 428 347,9 353,5 350,2 337,2 345,6 333,4 327,9 326,4 344,6
PREVISÕES 2016 35,9%
AÇORES 22,3%
PORTO E NORTE
19,4%
LISBOA E VALE DO TEJO ALENTEJO
954,7
16,9%
LISBOA E VALE DO TEJO
ALGARVE
1274,2
2015
2014
2013
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
6,8%
ALGARVE
5,8%
CENTRO
4,9%
MADEIRA
4,9%
AÇORES | PROVEITOS NA HOTELARIA TRADICIONAL (milhões €) 54,3
Segundo dados avançados pelo INE (Instituto Nacional de Estatística), em 2015 Portugal registou 17,4 milhões de hóspedes e 48,9 milhões de dormidas. Em 2015, 19,2 milhões de passageiros desembarcaram nos aeroportos portugueses e 1,4 milhões nos portos marítimos. As receitas turísticas ascenderam a 11,5 milhões de euros. Estes resultados correspondem a taxas de crescimento anuais entre os 7% e os 15,4%. Os Açores foram a região que mais impulsionou este crescimento recorde, ao registar taxas de crescimento elevadas em todos os indicadores turísticos. Face a 2014, os Açores registaram mais 23,8% de hóspedes, 19,8% de dormidas e 21,7% de proveitos, tornando-se a região que mais cresceu nestes indicadores. O PNP foi a região que se seguiu com taxas de crescimentos de 12% ao nível dos hóspedes, 13% nas dormidas e 19,3% nos proveitos, indo ao encontro das previsões apontadas pelo Barómetro do Turismo.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
44,6
44,7 33,6
2015
2014
2013
2012
35
35
35,8
2011
2010
2009
40,7
40,8
2008
2007
37,4
2006
Relativamente a 2016, os dados estatísticos disponíveis até ao momento, permitem constatar que, nos primeiros onze meses do ano, os Açores registaram um aumento de 22% nas dormidas e de 20% nos hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros, relativamente ao mesmo período do ano anterior. Os proveitos globais cresceram 31% e o número de passageiros desembarcados nos aeroportos dos Açores também cresceu 18% nos primeiros onze meses do ano, tornando-se a região nacional com maior crescimento no período em questão. •
PORTUGAL
MARTA GUERREIRO Secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo Açores
Há uma grande expetativa de crescimento previsto para o turismo nos Açores, o que representa para nós um motivo de satisfação. Nem a propósito e, segundo os resultados divulgados pelo Banco de Portugal em dezembro do ano passado, os Açores são a região do país com maior destaque no que diz respeito ao crescimento da atividade turística (30%) nos primeiros 10 meses de 2016, seguido da Madeira com 10 pontos percentuais de distância. Estes números são claramente positivos e, por isso, existem razões para satisfação com o crescimento do setor nos Açores, enquanto um ano recorde em todas ilhas. Queremos que a tendência se mantenha em 2017, mas, e como já tem sido reforçado em várias situações, não podemos icar deslumbrados com as estatísticas e previsões e considerar que o trabalho está feito. O nosso objetivo último é muito claro: criar condições para que o turismo assuma na atividade económica dos Açores um maior peso, quer seja pela componente de produto (direto ou indireto), quer pela criação de emprego, procurando que este seja um crescimento consolidado.
BAT | PREVISÕES 2017
Para medirmos o crescimento económico de um setor como o turismo, devemos ter sempre em conta a evolução de alguns números para percebermos quais as tendências a médio-longo prazo. Não posso deixar de referir alguns dados que retratam a situação atual e nos dão margem para acreditar que as projeções, de que os Açores serão a região nacional com maior crescimento ao nível do turismo em 2017, se irão veriicar.
Os Açores serão a região nacional com maior crescimento ao nível do turismo em 2017.
Em termos gerais, e no que diz respeito à evolução de dormidas na Hotelaria Tradicional e no TER - Turismo no Espaço Rural, foi possível alcançar 1,3 milhões nos primeiros nove meses de 2016, o que representa um crescimento de 21% face a igual período de 2015, que, por sua vez, já havia registado um crescimento considerável face a 2014. Quanto às receitas de Hotelaria Tradicional e Turismo em Espaço Rural, veriicou-se um aumento superior a 14 milhões de euros nos primeiros 9 meses de 2016 face a igual período do ano anterior, consubstanciando um crescimento de 30,2%. Queria também deixar a ressalva de que temos de ter em conta que as evoluções estão muito ligadas à dinâmica local e valorização do produto turístico, quer em termos de variedade e qualidade do alojamento, quer em termos de atividades e experiências para o turista.
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
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36 PORTUGAL
A verdade é que o Governo Regional dos Açores está empenhado em consolidar o trabalho de aumento de notoriedade do destino e de promoção e captação de luxos turísticos dos últimos anos. Não será um destino de massas, mas temos ainda ampla margem para crescimento através dos mercados potenciais. Até porque há um aumento generalizado da procura turística por destinos seguros, com beleza mística, capazes de proporcionar tranquilidade e experiências únicas, com grande preocupação pelas questões de sustentabilidade económica, cultural, social, mas sobretudo ambiental. Estas são algumas das razões que nos fazem encarar com reforçado otimismo o crescimento turístico de um destino como os Açores, que se enquadra amplamente neste fenómeno da procura turística mundial. Importa destacar que 2017 foi declarado o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento e é esta a assinatura de qualidade que queremos na região: certiicar pela natureza e posicionar o turismo nos Açores como um destino aliado ao ambiente. Neste sentido, manteremos a prioridade na proteção e preservação do património natural e cultural dos Açores, criando condições para que a qualidade de vida das nossas comunidades e a natureza pura e intacta perdurem.
É SEM DÚVIDA UM DESTINO “VERDE” E DESPOLUÍDO QUE QUEREMOS QUE CONTINUE A SER RECONHECIDO A NÍVEL INTERNACIONAL POR TODOS QUANTOS NOS VISITAM.
O empenho na concretização destes objetivos estratégicos irá aumentar a qualidade e o valor acrescentado da experiência Açores e contribuir para que o turista sinta que cuidamos dos nossos visitantes, para que o destino turístico da Região seja memorável e desperte a vontade de voltar. TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
Há ainda que manter o reforço da promoção do Destino Açores, através do incentivo a novas ligações para mercados emissores que se demonstrem adequados e enquadrados nos segmentos de mercado já sinalizados, ao mesmo tempo que asseguramos a iabilidade e sustentabilidade das acessibilidades aos Açores e dentro da região. A liberalização do transporte aéreo doméstico para os Açores, que ocorreu no inal do primeiro trimestre de 2015, a par com o aumento de oferta, mas também de procura, na América do Norte, e a melhoria das acessibilidades inter-ilhas, estão a contribuir fortemente para este crescimento. Não esquecemos, por isso, a importância do trabalho de continuidade para reforçar os mercados prioritários - nomeadamente EUA, Espanha, Holanda, Itália, Canadá, França, Alemanha e Reino Unido - tendo em conta que os luxos turísticos não se criam apenas com novos voos diretos para a Região, mas também através do tráfego de ligação, com preço e tempo de duração de viagens convenientes. A qualiicação do destino é um dos desaios mais exigentes, que só poderá ser alcançado através do aumento do foco na qualiicação, inovação e valorização de infraestruturas; na formação dos proissionais do setor, numa evolução qualitativa da oferta do alojamento turístico nas suas diversas tipologias, na informação aos turistas e na capacidade de oferta de produtos de animação turística de qualidade coerentes com a nossa vocação. Assim, o nosso objetivo é continuar a trabalhar em quatro eixos fundamentais para o desenvolvimento do setor no arquipélago: a qualiicação, a sustentabilidade do destino, a eicácia da promoção e a eiciência nas acessibilidades. É também por isso que a estratégia, a partir daqui, assentará desde logo no PEMTA - Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores, enquanto uma ferramenta de trabalho fundamental para a abordagem que será feita ao setor, nos próximos anos, para a manutenção de políticas ambientais e turísticas conciliatórias com práticas que salvaguardem a nossa identidade. •
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turismo desportivo
TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
TENDÊNCIAS
O CONCEITO DE TURISMO DESPORTIVO TORNOU-SE PROEMINENTE NOS ÚLTIMOS ANOS ENQUANTO PRODUTO TURÍSTICO CADA VEZ MAIS POPULAR. JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES EM NÚMEROS
10 568 ATLETAS DE 204 PAÍSES
21 000
MEDIA ACREDITADOS
2012
MELHOR ANO TURISMO DE LONDRES
8%
Acréscimo de visitantes entre setembro e dezembro
No entanto, viajar para participar ou assistir a eventos desportivos não é nada de novo. Já em 900 A.C. os gregos viajavam para estarem presentes nos Jogos da Grécia Antiga. Por sua vez, os romanos eram fãs de eventos desportivos e usavam esses espetáculos como manobras de diversão, para afastar o foco da população das pobres condições em que viviam. Com a revolução industrial o turismo e o desporto ganharam relevância na sociedade, como consequência de quatro fatores principais:
•
O aumento da duração do tempo de lazer;
•
A concentração das populações nos centros urbanos;
•
O desenvolvimento dos meios de transporte;
•
O aumento do poder de compra.
O turismo desportivo é uma forma especial de turismo: viajar fora do ambiente habitual para o envolvimento passivo ou ativo no desporto competitivo, onde o desporto é a principal motivação para viajar e o elemento turístico ou de lazer pode reforçar a experiência global. Segundo a Comissão Europeia, estima-se que, em média, 12 a 15 milhões de viagens internacionais sejam feitas a nível mundial a cada ano, com o objetivo principal de assistir a eventos desportivos. A taxa de crescimento anual deste nicho de mercado no turismo deverá ser de cerca de 6%. Na UE, os principais países de origem dos turistas desportivos são o Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Dinamarca, Suécia e Finlândia.
NOVOS SEGMENTOS: O TURISMO DESPORTIVO NOSTÁLGICO
9%
Aumento do gasto turístico durante o evento (agosto)
£ 925M
GASTO DURANTE O EVENTO
Perante a evolução do setor, muitos destinos perceberam a necessidade de desenvolver produtos em torno do desporto, a im de atrair mais turistas. Novos segmentos foram surgindo no turismo desportivo, e um dos mais rentáveis é o do turismo desportivo nostálgico. Os locais onde decorreram mega eventos desportivos têm sua própria mística. Visitar passeios de fama desportivos, como o Basquete Hall of Fame em Massachusetts, ou museus desportivos como o Cricket Museum at Lords, em Londres, assim como locais desportivos famosos como os Estádios Olímpicos de Atlanta ou Barcelona tornou-se uma atividade turística cada vez mais popular. O mesmo acontece com os museus desportivos de grandes clubes a nível mundial que hoje em dia contabilizam milhões de visitantes todos os anos e constituem importantes fontes de receita para os destinos.
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MUSEU OLÍMPICO Lausanne, Suíça Inaugurado em 1993, o Museu Olímpico é o maior centro de informações do mundo dedicado aos Jogos Olímpicos. Aqui é possível experimentar as Olimpíadas de perto, sentir o espírito olímpico e conhecer a história dos Jogos da Antiguidade até hoje, recorrendo à mais recente tecnologia informática e audiovisual. Desde a reabertura em 2013, o museu recebe cerca de 250 mil visitantes por ano. Em 2016, ano Olímpico, o número de visitantes ascendeu aos 300 mil.
MUSEU FC BARCELONA Barcelona, Espanha O Museu de Futebol do Barcelona situa-se nas instalações do Camp Nou, em Barcelona, e que exibe todos os troféus conseguidos por todas as secções desportivas do clube catalão ao longo da história. Com um público de 1.2 milhões de visitantes por ano, é o segundo museu mais visitado de Barcelona, perdendo apenas para o Museu Picasso, que atrai 1.3 milhões de pessoas todos os anos.
MUSEU DE WIMBLEDON Londres, Inglaterra Não é preciso ser fã de ténis para gostar deste museu. É neste palco que, desde 1877, se realiza o mais famoso e prestigiado campeonato de ténis do mundo: o torneio de Wimbledon. Propondo uma experiência sensorial e interativa o museu foi inaugurado em 1977 mas só foi aberto ao público em 2006. Conta a história do desporto e do torneio e contém mais de 15 mil objetos. Recebe cerca de 55 mil visitantes por ano.
MUSEU REAL MADRID CF Madrid, Espanha A bilheteira do museu do Real Madrid faturou mais de 16 milhões de euros durante a temporada de 2014-2015, graças a mais de um milhão de visitantes ao museu entre 1 de Julho de 2014 e 30 de Junho de 2015, tornando-se o terceiro maior da capital espanhola, atrás do museu do Prado e do Rainha Soia. O museu permite ver vídeos, fotos, documentos digitais de toda a história do clube e reviver os melhores momentos.
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MUSEU FC PORTO by BMG Porto, Portugal Inaugurado no dia 28 de setembro de 2013, data do 120º aniversário do clube, pelo Museu Futebol Clube do Porto já passaram mais de 410 mil visitantes. Tecnologicamente muito evoluído, o museu oferece uma narrativa de mais de 120 anos de história, em sete mil metros quadrados e 27 áreas temáticas, exibindo uma seleção de cerca de 200 troféus e 280 vídeos, 80 por cento dos quais em ambiente interativo. O museu proporciona ao visitante uma experiência sensitiva, complementada por espaços multidisciplinares, como a Sala de Exposições Temporárias, o Auditório Fernando Sardoeira Pinto e as iniciativas do Serviço Educativo, além do Museu Caffé e da FC Porto Store. Para além da visita ao museu é possível realizar uma visita ao estádio reveladora de espaços tão curiosos como o camarote presidencial, a área dos balneários ou o caminho que os jogadores atravessam para subirem ao relvado. Distinguido com o Prémio Inovação e Criatividade em 2015 pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) e nomeado para os EMYA 2016 - Museu Europeu do Ano é hoje uma das grandes referências culturais do Porto. O museu é ainda o mais recomendado da cidade pelo site internacional de viagens TripAdvisor, que o distinguiu com o Certiicado de Excelência 2016, também atribuído individualmente ao Estádio do Dragão. •
TENDÊNCIAS
À CONVERSA COM
JORGE NUNO PINTO DA COSTA Presidente Futebol Clube do Porto
Os museus desportivos são espaços de procura turística crescente e enriquecem a oferta dos destinos e, em alguns casos, são mesmo os principais polos de atração turística. A viagem pelo Museu FC Porto faz-se para lá do tempo e do espaço, numa dimensão emocional garantida por uma história única. Como é que nasce o Museu FC Porto? A razão de ser deste museu é uma soma de justiicações. Primeiro, há que olhar à raiz e matriz do Futebol Clube do Porto, uma referência mundial de futebol e uma organização desportiva com peso na história de Portugal e da cidade do Porto. O clube foi fundado em setembro de 1893 e depressa assumiu preponderância. Com a mesma identidade, cultura e tradições que distinguem a cidade do Porto e a Região Norte, desde o nascimento, o Futebol Clube do Porto teve sempre um impacto indiscutível no desenvolvimento e divulgação das comunidades que representa e do próprio país. Através do Desporto, o clube leva a Língua e a cultura portuguesa a todo o lado. Esse lado do património do Futebol Clube do Porto também é uma das riquezas que caraterizam a nossa instituição e pertence, igualmente, às memórias e às tradições da cidade do Porto, a partir do inal do século XIX. Por ter consciência do seu papel e importância na sociedade, e a partir do começo do século passado, o clube dispôs quase sempre de espaços próprios de partilha da memória, como salas de troféus ou a antiga Sala-Museu Afonso Pinto de Magalhães, assim designada em reconhecimento a esse nosso antigo presidente. Mas por diversos fatores, relacionados com o crescimento desportivo e com a necessidade de acompanhar a modernidade dos tempos, esses espaços tornaram-se obsoletos,
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sem condições de serem colocados à disposição dos públicos. Como é do conhecimento geral, desempenho as funções de presidente da Direção do Futebol Clube do Porto desde 1982, e eu tinha um objetivo antigo de devolver aos sócios, e a todos os portistas em geral, um grande museu do clube.
Queria para o Futebol Clube do Porto um museu tão singular e tão impactante como a própria história do clube e, em 2013, nos 120 anos do Futebol Clube do Porto, o momento surgiu. A abertura do Museu FC Porto foi a concretização do projeto ambicionado e, uma vez mais, um resultado da ação do clube em benefício da cidade, da região e do país. O museu vai além da história desportiva do Futebol Clube do Porto, também é uma narrativa de factos e memórias da cidade do Porto, do Norte português e de Portugal, acessível a todos os públicos, afetos ou não ao clube, interessados ou não no fenómeno desportivo. O Museu FC Porto foi projetado para essa inalidade e preencheu uma necessidade importante no roteiro cultural da cidade do Porto. É um museu amplo, tecnologicamente avançado e está integrado no Estádio do Dragão - já por si um equipamento de referência no país e premiado internacionalmente. O museu relete, como se desejava, a consciência pública e a função social do Futebol Clube do Porto como instituição decisiva para o desenvolvimento da cidade, da região e do país, há mais de 120 anos.
O que é que faz do Museu FC Porto um espaço tão atrativo? O Museu FC Porto é uma instituição privada com caráter de utilização pública que preserva e partilha o património do clube. A história e a dimensão mundial do Futebol Clube do Porto justiicam, indiscutivelmente, o forte interesse que temos veriicado neste Museu. Acrescenta-se a este factor decisivo o discurso da exposição: clube/cidade, mais região e país. Além disso,
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o conceito futurista do espaço também faz toda a diferença. O Museu FC Porto estabelece um cruzamento entre os tipos de museus mais clássicos e a linguagem moderna, avançada, dos museus do século XXI. Quem visita o Museu FC Porto descobre a história através de uma experiência interativa que também é forte em sensações e conteúdos. O visitante pode contemplar uma coleção cheia de exclusivos, que vão desde a arte de Joana Vasconcelos - que criou propositadamente para o nosso museu a ‘Valquíria Dragão’ -, a troféus nacionais e internacionais conquistados pelo clube, ao longo de mais de cem anos. Depois, com a ajuda das novas tecnologias, podemos partilhar a história e a memória em diferentes níveis e suportes. O discurso do Museu é bilingue, em português e inglês, e tanto podemos descobrir ou relembrar factos num texto numa parede ou numa fotograia, como é possível saber muito mais através dos conteúdos dos interativos que se podem consultar ao longo da exposição. Este tipo de suportes é um dos elementos que fazem a diferença e estão cheios de informação e imagens vivas que ajudam a levar o visitante para o interior da história. Por isto, o Museu FC Porto foi distinguido em 2015 com o Prémio Inovação e Criatividade pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) e, em 2016, esteve entre os nomeados para Museu Europeu do Ano - os consagrados prémios EMYA, que são os ‘Oscar’ europeus dos museus. Também não posso deixar de referir que o museu atrai o público através de programação e atividades pedagógicas. O Museu FC Porto, que também está equipado com um auditório, tem um calendário anual de eventos dirigidos a diferentes públicos. Também são eventos para todas as idades e não se esgotam no tema Futebol Clube do Porto. Música, teatro, artes plásticas, exposições temporárias, conferências e passeios culturais fazem parte das muitas apostas que têm contribuído para a airmação do Museu FC Porto e do Estádio do Dragão como incontornáveis pólos culturais e atrações turísticas imperdíveis na cidade do Porto e na Região Norte.
Quantas visitas regista atualmente? Qual o perfil dos visitantes? O museu foi inaugurado no dia 28 de setembro de 2013, data do 120º aniversário do Futebol Clube do Porto. À passagem dos três anos de atividade,
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celebrados em 2016, o número de visitantes acumulado ao longo desse período já superava os 410 mil. Desde 2013, registámos acentuados crescimentos anuais, e os números também são do domínio público: 120 mil visitantes no primeiro aniversário, 265 mil no segundo e mais de 410 mil no terceiro. Os registos, até 2016, dizem-nos que cerca de 60% dos visitantes são nacionais e 40% estrangeiros, sendo que nesta parcela podemos ainda destacar proveniências de cerca de 140 países. Mais difícil é fazer o peril dos visitantes pela idade ou pelo género, porque não há um grupo que se destaque signiicativamente em relação a outros. Sentimos um grande orgulho por dizer que o Museu FC Porto e o Estádio do Dragão interessam muito e atraem milhares de pessoas de todas as idades e género.
Os números correspondem às expetativas? O Museu FC Porto foi inaugurado com uma estimativa, mas a realidade surpreendeu-nos. Naturalmente, esperávamos uma forte adesão de público e considerávamos, nesse aspeto, uma predominância de visitantes afetos ao clube. Mas o que viemos a observar e a registar, com alguma surpresa, foi o forte impacto imediato junto de públicos que, no começo de atividade do museu, seriam mais inesperados. Ou seja, desde a abertura, o Museu FC Porto também tem sido capaz de captar forte interesse e satisfação de visitantes menos ligados ao fenómeno do desporto, atraídos pela temática de um museu de um clube desportivo que fala a linguagem da cidade, da região e do país e partilha história dessa cidade, dessa região e desse país. Tudo isto, num ponto da cidade menos favorecido, porque o Estádio do Dragão e o Museu FC Porto não se encontram naquela que é a área do chamado bilhete-postal do Porto turístico. Isto é, temos tido o mérito de sermos capazes de atrair, e muito, públicos mais improváveis para uma área fora do centro histórico da cidade, onde pulsa o tal coração turístico do Porto.
Como avalia o papel do Museu FC Porto no turismo da região? O museu partilha a memória e o património de uma instituição que é uma das maiores referências de sempre da cidade do Porto. Por outro lado, trata-se de um equipamento de relevo inserido num dos principais
palcos internacionais da cidade, o Estádio do Dragão, e é um projeto que implementou novas dinâmicas sociais, culturais e turísticas na área oriental do Porto, profundamente marcada por décadas de déice a estes níveis. A inauguração do Estádio do Dragão, em 2003, deu lugar ao nascimento de uma nova centralidade nesta área da cidade, mas faltava um espaço ainda mais vocacionado para a cultura e dinamização social, como é o Museu FC Porto, pioneiro, por isso, nesta zona geográica portuense. O museu e o estádio, que também são instrumentos de combate à sazonalidade, aumentam a oferta turística e cultural da cidade. Somos membros da Associação de Turismo do Porto, o que nos permite a integração nos roteiros turísticos oiciais, e participamos em importantes feiras nacionais e internacionais de turismo, onde promovemos a marca e os espaços do Futebol Clube do Porto, que concorrem para a captação de visitantes para a cidade. De resto, creio que não se pode fechar os olhos à realidade: o Futebol Clube do Porto, pela atividade desportiva, principalmente através do futebol, é um dos grandes agentes responsáveis pela deslocação massiva à cidade de novos e diferentes públicos, nacionais e estrangeiros, ao longo do ano. Neste pormenor, na cidade do Porto e na Região Norte, não é nada fácil encontrar outro agente ou instituição semelhante.
Quais são as perspetivas e projetos futuros para o Museu? Além de um novo espaço de exposições temporárias, perspetivamos a implementação de novas áreas de caráter lúdico e pedagógicas, para defendermos a nossa linha de crescimento de captação de públicos, sempre num enquadramento do benefício da área oriental da cidade, tornando-a ainda mais dinâmica social e culturalmente. Pensamos numa melhor qualidade de vida para as comunidades locais e, ao mesmo tempo, numa oferta cultural e turística ainda mais capaz de airmar esta zona urbana como um dos grandes elementos de atração do Porto, para todos os públicos. E olhando à identidade de um museu que viaja a bordo do comboio da modernidade, também está em andamento a introdução de mais soluções tecnológicas, como a aposta em audioguias, que vão melhorar as experiências do visitante no Dragão e no Museu FC Porto, tornando-as ainda mais inclusivas e acessíveis a todos. •
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VIAJAR SOZINHO: EXPOENTE MÁXIMO DE LIBERDADE A EXPRESSÃO SINGLE É ACEITE E RECONHECIDA UNIVERSALMENTE PARA IDENTIFICAR O GRUPO DE PESSOAS QUE VIAJAM SOZINHAS EM LAZER E QUE COMPÕEM UM EXPRESSIVO SEGMENTO DE MERCADO. A ideia de explorar o mundo sozinho pode ser intimidante para alguns mas a verdade é que o turismo a solo é cada vez mais popular. Viajar a solo é uma experiência de autoconhecimento, de aprender a lidar com os principais receios e inseguranças e de evoluir com as consequências deles, tornando-se mais aberto, tolerante, livre e, em última instância, mais feliz, pela concretização e pela experiência.
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TENDÊNCIAS
As tendências demográicas converteram o turista a solo num dos nichos de mercado mais apetecíveis da indústria turística. Nos últimos anos aumentou o número de pessoas que vivem sozinhas. Um fenómeno sociológico que se repercute na indústria do turismo e viagens, dando origem ao denominado turista a solo. Este turista tem interesse especial por destinos internacionais e procura experiências pouco convencionais. A cada ano cresce a percentagem de pessoas que viajam sem companhia mas aquilo que realmente aumenta é a liberdade de o manifestar e o orgulho de viajar desta forma. Os turistas encontram vantagens e desvantagens nesta forma de viajar. Segundo um estudo do TripAdvisor, entre as principais vantagens de viajar sozinho encontra-se a liberdade que oferece, evitando a necessidade de consultar aspetos da viagem com os acompanhantes. Por sua vez, permite ao turista ter mais tempo para si, desfrutando da possibilidade de conhecer e se relacionar com pessoas novas. Entre os principais inconvenientes salientam-se o superior custo de alojamento e transporte, os momentos de solidão e a impossibilidade de realizar certas atividades a solo.
Para o empreendedor que pretende investir no setor do turismo, este segmento representa um novo nicho de mercado. É importante conhecer bem o peril deste tipo de turista a im de desenvolver estratégias para o atrair, sobretudo, em ambiente digital. Para responder à procura crescente dos viajantes a solo, muitas agências e operadores estão a oferecer incentivos para este segmento, que incluem a exclusão do suplemento para quartos single nas tarifas hoteleiras. Nesta transformação, as novas tecnologias tiveram um papel fundamental. À distância de um clique está uma vasta gama de ofertas de ócio, especialmente desenhada para estes utilizadores e permite que pessoas na mesma situação possam partilhar experiências. O surgimento deste novo segmento de turistas levou ao aparecimento de várias agências especializadas neste nicho. A nível internacional surgem novas aplicações que permitem aos viajantes encontrar pessoas disponíveis para partilhar, por exemplo, quartos de hotel, a im de ter acesso a tarifas sem suplementos de ocupação individual.
APP PERMITE ENCONTRO ENTRE TURISTAS A SOLO Estar só, não signiica necessariamente estar sozinho. Os turistas a solo encontram sempre pessoas disponíveis para trocar ideias e partilhar aventuras. Foi nesta perspetiva que surgiu o Backpackr, uma aplicação mobile que permite que os turistas solitários saibam, em tempo real, quando outros viajantes, que compartilham os seus interesses, estão nas proximidades. A aplicação permite aos turistas a marcação de encontros para fazerem atividades em conjunto, conversar e procurar aconselhamento sobre as suas aventuras e experiências, dividir um guia de restaurantes ou até formar grupos de turistas com interesses comuns.
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MULHERES QUE VIAJAM A SOLO A nível mundial há cada vez mais mulheres que viajam sozinhas, seja por motivos de trabalho, lazer ou por ambos. As estatísticas quanto ao peril do turista feminino indicam que as mulheres são consumidoras muito importantes para a economia turística a nível mundial. Ganham bem, gastam mais e inluenciam a indústria a todos os níveis. Muitos especialistas em turismo acreditam que este é o segmento em maior crescimento do mercado turístico. O turista feminino tem expetativas e comportamentos de viagem diferentes face aos homens. Essas diferenças são cruciais na deinição de produtos de marketing turístico. Autores como Park, Pemberton e Sathyanarayanan airmam que as mulheres são consideradas mais aventureiras que os homens e 75% das pessoas que fazem viagens com motivações culturais, de natureza ou aventura são efetivamente mulheres. Procuram destinos novos e fora do comum, enquanto que os homens parecem preferir destinos mais previsíveis. Um estudo do Booking.com revela que 54% das turistas britânicas que viajam a solo estão hoje mais disponíveis para o fazer sem companhia do que há 5 anos atrás. Para isto muito contribui a inovação tecnológica que permite aos viajantes contactar familiares e amigos e aceder a informação turística em qualquer lugar e a qualquer momento. De acordo com o estudo referido, 62% das mulheres usou as redes sociais para comunicar com a familia.
PERFIL DO TURISTA A SOLO QUE VISITA O PORTO E NORTE DE PORTUGAL VIA AEROPORTO DO PORTO Segundo o estudo desenvolvido pelo IPDT, que identiica o peril do turista que visitou o Porto e Norte de Portugal durante o verão IATA de 2016 (abril a outubro), cerca de 36% dos turistas que chegaram à região pelo aeroporto, viajaram sozinhos. De acordo com os dados do estudo, estes turistas:
1. RESERVAM PELA INTERNET Cerca de 80% dos turistas a solo que visitam o Porto e Norte reservam a viagem pela Internet. Apenas 13% recorrem a agências de viagens/operadores turísticos.
2. POSSUEM HABILITAÇÕES AO NÍVEL DO ENSINO SUPERIOR Cerca de 41% dos turistas a solo no PNP têm habilitações literárias ao nível do ensino superior. Por sua vez, cerca de 22% concluiram o ensino secundário e a mesma percentagem tem mestrado ou doutoramento.
3. TÊM IDADES ENTRE OS 31 E OS 50 ANOS A maioria dos turistas tem entre 31 e 50 anos (47%), no entanto, é signiicativa a percentagem de jovens - entre os 19 e os 30 anos - que visitam o destino sem companhia (33%). A média de idades deste segmento é de 37,9 anos.
4. PROVÊM DE FRANÇA É de França que chega a maioria dos turistas que visitam o Porto e Norte a solo (34%). Seguem-se Suíça e Espanha, com 14% e 11% respetivamente.
Um dos grandes inconvenientes de viajar sozinho é a questão da segurança. A este nível, as mulheres enfrentam um perigo maior do que os homens. O crime sexual é motivo de medo e de ansiedade entre os turistas, sobretudo as mulheres que são alvos preferenciais.
5. FICAM ALOJADOS NA CASA DE FAMILIARES E AMIGOS
Segundo um estudo da cadeia hoteleira Hilton, o women only é uma tendência em alta, que obrigará a indústria hoteleira a adaptar os seus produtos e serviços a este nicho. Nesta perspetiva algumas unidades hoteleiras já possuem andares só para mulheres. A maioria das turistas femininas que viajam a solo privilegiam os quartos de banho e gostam de receber sugestões de locais para jantar fora sozinhas ou rotas para praticar jogging, por exemplo. São também disponibilizadas diversas comodidades como produtos de cosmética, secadores de cabelo proissionais, espelhos com iluminação, assistentes de compras, mordomos, etc.
6. GASTAM CERCA DE 720 EUROS
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A maioria dos turistas escolhem a casa de familiares e amigos como tipologia de alojamento (34%). Seguem-se a casa própria e os hostels, com 29% e 28% respetivamente.
Cada turista gasta, em média, 720 euros na visita à região. O gasto por turista e por noite é de cerca de 120 euros, icando os turistas cerca de 6 noites no destino.
7. FAZEM COMPRAS A principal atividade praticada na visita à região é fazer compras (57%), seguindo-se experimentar a gastronomia (57%) e praia (30%). • Os dados foram recolhidos utilizando um inquérito por entrevista pessoal a turistas internacionais, aplicado na sala de embarque do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, obtendo-se 1116 questionários válidos.
TENDÊNCIAS
À CONVERSA COM
NOME SOBRENOME Posição Empresa
antónio pedro moreira www.daquiali.com fb: Pedro on the Road
Entre viajar sozinho ou não viajar, escolho viajar sozinho. Numa era em que o risco e a aventura são conceitos cada vez mais comuns para os turistas, em que as viagens a solo e a busca pelo desconhecido fazem parte dos novos peris de viajantes, falámos com António Pedro Moreira - Pedro on The Road - um psicólogo de formação que decidiu mudar a sua vida para partir em busca de algo com que sempre se identiicou: viajar. Em 2011 foi de Portugal a Singapura e daí de volta a Portugal, numa epopeia de 50.000 km por terra, 20.000 dos quais à boleia. No regresso escreveu um livro, o “Daqui Ali - De Portugal a Singapura por Terra”. Em janeiro de 2014 arrancou para um novo desaio e partiu de bicicleta rumo ao Cabo da Boa Esperança. Em 15 meses atravessou 21 países da África Atlântica e trouxe um sem im de histórias para contar, que escreveu no seu segundo livro “Daqui Ali - De Portugal a África do Sul de bicicleta”. Pedimos ao Pedro que partilhasse connosco algumas das experiências que retirou destas viagens solitárias.
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Depois de decidir mudar de vida, de ter feito todas estas viagens, como se descreve e o que o motiva a viajar? Sou alguém que percebeu que só vive uma vez, que é uma coisa que toda a gente sabe mas nem todos o compreendem. Muitas pessoas, ainda que de forma inconsciente, pensam que têm dez vidas e que esta é a vida em que devemos jogar pelo seguro, porque para a frente teremos outras vidas para poder arriscar. Na verdade só temos uma vida e por isso eu isso faço o possível para ter a vida que quero ter. Acho que é isso que acaba por ser o fator mais determinante da minha personalidade e forma de estar. É exatamente esta forma de pensar que me leva a viajar, porque é aquilo que gosto de fazer.
Viajou sozinho até à África do Sul de bicicleta. O que retirou desta experiência? Retiro sempre muita coisa das minhas viagens. Desta experiência em África, particularmente, retirei algo que pode parecer um cliché: quem tem menos é quem mais está disposto a dar. Não paguei para dormir em mais de 80% das noites. Chegava com a minha bicicleta a locais onde as pessoas não tinham praticamente nada, viviam sem água e sem eletricidade e ainda assim recebiam-me com simpatia. Foi uma coisa que me tocou imenso. Fez-me querer estar ali.
O que o motiva a viajar sozinho? Há muita coisa que me motiva a viajar, como já referi, mas não existe nenhum motivo para o fazer sozinho. Pelo contrário, preiro viajar com companhia. Acontece que é difícil encontrar alguém que queira partilhar comigo os desaios a que me proponho. Entre viajar sozinho ou não viajar escolho viajar sozinho.
Que conselho daria a alguém que vai viajar sozinho pela primeira vez? Por mais simples que possa parecer diria que é ir e não deixar que eventuais receios, nossos ou daqueles que nos rodeiam, nos impeçam de estar onde queremos estar. Devemos procurar informação sobre o destino, analisar dados estatísticos e avaliar de forma lógica e racional todas essas condicionantes antes de partir.
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Daqui Ali - De Portugal a África do Sul de bicicleta
Qual a melhor e a pior experiência das suas viagens? A pior que tive foi no Laos porque fui preso. Nas duas noites em que estive preso foi terrível porque não me diziam nada, eu não sabia o que estava a acontecer e achei que tinha sido raptado. Acabou por se resolver tudo e no meu livro conto todos os pormenores dessa experiência. No Gabão também tive uma má experiência porque dei por mim numa tribo e, sem querer, voluntariei-me para ser xamã numa cerimónia que envolvia comer algumas raízes com propriedades psicotrópicas. Tive uma “bad trip” porque durante 14 horas só pensava em morte e foi exasperante. Curiosamente, dessa experiência acabou por advir algo positivo que foi ganhar um progressivo conforto com a ideia de que “sim, vou morrer”. A melhor experiência? Foram tantas que não sou capaz de eleger uma. Cada vez que me izerem essa pergunta poderei responder de forma diferente.
Qual a próxima viagem? Não tenho nada deinido nem me quero comprometer. Gostava de ir aos Estados Unidos no próximo ano. Sem cartões e ver o que acontece. Em termos de viagens mais longas, ando a fantasiar um pouco com a Ásia Central: Tajiquistão, Quirguistão, Uzbequistão, etc. Não são destinos que façam parte dos nossos ideais de viagens mas talvez por isso me despertem tanto interesse. •
INTERNACIONAL
BARÓMETRO DO TURISMO
FRANÇA, ESTADOS UNIDOS E ALEMANHA VÃO SER OS MERCADOS COM MELHOR DESEMPENHO EM 2017 França, Estados Unidos e Alemanha vão ser os mercados emissores de turistas para Portugal com melhor desempenho no próximo ano, segundo os resultados do Barómetro do Turismo - edição especial Turismo’17. França deverá ter um desempenho melhor na opinião de 83% dos inquiridos, seguindo-se os Estados Unidos, para 78% dos respondentes, com a Alemanha a fechar o pódio, na opinião de 74%. Itália, Brasil e Reino Unido deverão ser, pelo contrário, mercados com desempenho igual ou pior. Segundo dados do INE - Instituto Nacional de Estatística, em 2015, o mercado francês foi responsável por 1,1 milhões de hóspedes, 3,3 milhões de dormidas e 2 mil milhões de euros em receitas, ocupando a 4ª posição na procura externa para Portugal, com uma quota de 9,7%. Por sua vez, o mercado norte-americano registou 425 mil hóspedes, 968 mil dormidas e 531 milhões de euros em receitas, ocupando a 9ª posição na procura externa para Portugal, com uma quota de 2,8%. Quanto ao mercado alemão, em 2015 foi responsável por 1 milhão de hóspedes, 4,8 milhões de dormidas e 1,3 mil milhões de euros em receitas. Em 2015, a Alemanha ocupou a 2ª posição na procura externa para Portugal, com uma quota de 13,9%.
Nos primeiros oito meses de 2016, e face ao mesmo período de 2015, todos estes mercados registaram uma tendência de crescimento ao nível de hóspedes, dormidas e receitas. França registou um crescimento acumulado de 16,6% ao nível das dormidas, 15,9% nos hóspedes e 12,4% nas receitas. Nos primeiros oito meses de 2016, os Estados Unidos cresceram 20,6% ao nível das dormidas, 18,6% nos hóspedes e 10,8% nas receitas. Por sua vez, a Alemanha soma um acréscimo de 8,4% ao nível das dormidas, 9,8% ao nível dos hóspedes e de 14,7% ao nível das receitas. •
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52 INTERNACIONAL
ANÁLISE - TURISMO DE PORTUGAL, I.P.
MERCADO FRANCÊS Veriica-se que, no global, Portugal ocupa hoje a 4ª posição, como destino preferido dos franceses, sendo ultrapassado unicamente pela Espanha, Itália e Grécia.
O mercado francês tem registado crescimento a dois dígitos nos últimos anos. Passou dos 500 mil visitantes para 2 milhões, em 10 anos, signiicando um aumento de aproximadamente 300%. Alterou de 5º para 2º maior mercado, em número de hóspedes na hotelaria em Portugal, ultrapassando a Holanda e a Alemanha. Isto, num mercado que hoje é considerado importante em todas as sete regiões turísticas de Portugal. No caso das receitas, os dados são ainda mais surpreendentes, com uma média anual de 8,3% nos últimos dez anos, variando entre a 1ª e a 2ª posição. Já este ano, o acumulado de setembro, revela um crescimento de 12,4%, posicionando a França como o mercado que maior volume de receitas turísticas garante a Portugal. O crescimento do mercado signiicou impactos muito positivos no que se refere às vendas nas agências de viagem francesas. Nestes últimos três anos, Portugal aparece no topo, revelando um crescimento de vendas (+41% em outubro de 2016), sendo o índice mais elevado entre os diversos destinos concorrentes.
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE PASSAGEIROS DESEMBARCADOS EM OUTUBRO 2016* NOS PRINCIPAIS DESTINOS DE MÉDIO CURSO Destinos por ordem decrescente de importância
1
ESPANHA
2
ITÁLIA
3
GRÉCIA
4
5
PORTUGAL MARROCOS
80% 60%
6
REINO UNIDO
7
8
ALEMANHA TUNÍSIA
9
MALTA
10
TURQUIA
41%
40% 20% 0% -20% -40%
-5%
-6%
-7% -26%
-19%
-5% -29% -45%
-60%
-65%
-80%
* Partidas de outubro 2016 comparativamente a outubro 2015
Fonte: www.entreprisesduvoyage.org/Snav
Portugal sempre foi procurado pelos franceses, nos segmentos city-breaks e touring - as principais motivações destes turistas. Lisboa, Porto e Norte e Centro de Portugal são as regiões que mais turistas franceses recebem. Não obstante estes dados, nos últimos três anos, o Algarve tem vindo a registar uma forte progressão como nova tendência, passando para 3° destino regional dos franceses. Em 2015 e 2016, o Algarve foi o destino regional que mais cresceu (+31%, hóspedes, no acumulado de janeiro a setembro de 2016), o que se explica pelo crescimento da procura dos produtos sol e mar/famílias pelos franceses que passam férias em Portugal. De salientar também o forte crescimento do segmento turismo de negócios, com Lisboa em grande destaque. Um estudo recente dá conta disso mesmo, apontando Lisboa como o principal destino de cidade procurado pelas empresas francesas para os seus eventos, ultrapassando Barcelona e Paris.
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INTERNACIONAL
O SUCESSO DE PORTUGAL EXPLICA-SE POR DIVERSAS RAZÕES E ABRANGE MÚLTIPLOS SEGMENTOS A facilidade de acesso, com mais de 500 voos semanais entre 22 aeroportos franceses e Portugal, bem como a facilidade de acesso aos produtos através dos canais online. A crise económica/incerteza que a França atravessa tem gerado um reforço da procura de Portugal enquanto destino de excelente rácio custo/benefício. Depois, o forte aumento de operações por parte de novos operadores franceses que veem em Portugal uma alternativa a destinos do Norte de África e do Médio Oriente, nos segmentos sol e mar/famílias. Os hotéis clube fazem ainda com que Portugal se torne incontornável para os turistas franceses. Os principais operadores como a TUI France, Thomas Cook, Look Voyages/ Transat, Club Med e Fram/Promovacances, aceleraram consideravelmente os seus projetos para Portugal. Por im, assinalamos que os OTA’s apostam cada vez mais em Portugal, neste fenómeno que carateriza os mercados turísticos. Na verdade, o atual operador com maior volume de negócios para Portugal, é um operador online. Todos os indicadores das agências de viagem e dos operadores franceses conirmam que Portugal vai continuar a registar bons resultados. Os dados relativos às reservas para os próximos meses colocam Portugal no top dos destinos em termos de progressões (+29,4%, segundo os últimos dados do barómetro da SNAV).
CAPITAL: Paris POPULAÇÃO: 66,3 milhões de habitantes ÁREA: 543 965 km2 MOEDA: Euro LÍNGUA: Francês PRINCIPAIS CIDADES: Lyon, Marseille, Toulouse, Nice, Strasbourg PIB: USD$ 2,5 biliões (2016) TAXA DESEMPREGO: 10,5% (2015) POSIÇÃO GLOBAL: 5ª maior economia mundial e a 2ª da UE COMPETITIVIDADE: 22ª no Ranking Global Competitiveness Index 2015/16 TRANSPARÊNCIA: 26ª no Ranking Corruption Perceptions Index 2014 RANKING GLOBAL: 20ª no EIU, entre 82 mercados (outubro 2015) RELIGIÃO: A maioria pertence à Igreja Católica Romana RANKING OMT: 1º destino turístico do mundo Nº TURISTAS/ANO: 84,5 milhões (OMT, 2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O EMPREGO: 1,2 milhões de postos de trabalho (2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O PIB: 3,7% do PIB (2015) GASTO TURÍSTICO NO ESTRANGEIRO: 45,8 mil milhões de euros (2015) INDICATIVO INTERNACIONAL: +33 Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
Sabemos também que alguns dos maiores operadores franceses vão reforçar a programação para Portugal, em 2017. O Club Med anunciou dois novos clubes em Portugal. A TUI France projeta a abertura de um novo hotel clube. Os allotments dos principais operadores franceses preveem aumentos no próximo ano. E várias companhias aéreas já anunciaram reforço signiicativo das rotas e operações para Portugal, assim como novas rotas (Transavia, Aigle Azur, Ryanair, EasyJet, Volotea…). Este clima de coniança permite, assim, acreditar na manutenção do posicionamento favorável do mercado francês, o que lhe permitiu já atingir resultados de topo na procura turística nacional, tanto em receitas turísticas, como em número de hóspedes e de dormidas na hotelaria. •
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ANÁLISE - TURISMO DE PORTUGAL, I.P.
MERCADO NORTE AMERICANO
O mercado norte-americano apresenta uma evolução muito positiva (dados de 2014 até julho de 2016). Em 2014, registaram-se 360,1 milhares de hóspedes norte-americanos e 817,32 mil dormidas. Em 2015, estes indicadores cresceram, com os hóspedes a situarem-se nos 422,061 milhares (+17,3%) e as dormidas a registarem 961,975 mil (+18,1%). De janeiro a julho de 2016, os hóspedes já registavam 274,361 mil e as dormidas 648,801 mil, revelando que se prepara para bater novamente o recorde. De referir, ainda que de 2006 a 2015, em hóspedes, os valores têm vindo sempre a crescer. HÓSPEDES AMERICANOS EM ESTABELECIMENTOS HOTELEIROS, ALDEAMENTOS, APARTAMENTOS TURÍSTICOS E OUTROS CAGR +5,7%
258
274
240
238
266
278
303
338
CAGR +12,1% +18,0% 425 360
milhares
O crescimento dos luxos turísticos deste mercado para Portugal deve-se, sobretudo, à excelente cobertura mediática que tem vindo a ser desenvolvida decorrente das press trips regulares a Portugal em colaboração com a TAP e as diversas Regiões Turísticas, as quais têm permitido promover o destino, ao longo do ano, contribuindo para uma maior visibilidade da imagem de Portugal.
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
4,0%
3,9%
3,4%
3,7%
3,9%
3,8%
3,9%
4,1%
3,9%
4,2%
Fonte: INE
De acordo com o GPI - Global Peace Index, Portugal ainda é um dos cinco destinos mais seguros, a nível mundial (depois da Islândia, Dinamarca, Áustria e Nova Zelândia) . As motivações que levam o norte-americano a Portugal, são as mesmas que o levam à Europa em geral, nomeadamente: • • • • • • • • • • • • • •
História Cultura Monumentalidade Museus/Galerias Identidade (procurando familiarizar-se com as suas raízes) Visita a familiares e amigos Visitas a vilas e aldeias Estilo de vida Gastronomia e vinhos Experiências/participação em atividades únicas/típicas do destino Riqueza artesanal (compras) Wellness/Spas Cruzeiros luviais Turismo de aventura (com incidência no ciclismo)
O turista norte-americano considera que, na Europa Ocidental, Portugal é o destino com “Best Value for the Money” devido, em parte, à diversiicação da nossa oferta e a custos bastante acessíveis. De acordo com os últimos dados estatísticos, o Alentejo, os Açores, o Porto e Norte e Lisboa são as Regiões que mais têm beneiciando do acentuado aumento de visitantes norte-americanos. Lisboa continua a ser o seu principal destino no País, seguida do Porto e Norte, Centro, Algarve, Açores, Alentejo e, por im, Madeira.
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INTERNACIONAL
O negócio das tradicionais agências de viagens, nos EUA, está a ser reinventado, de modo a dar continuidade à sua existência numa indústria dominada/revolucionada pelas OTA’s, das quais se destacam: Expedia, Priceline, Cheapoair, Tripadvisor e Google. De acordo com a PhoCusWright, hoje em dia, as reservas online são responsáveis por 43% e 45%, das vendas de viagens nos Estados Unidos e na Europa, respetivamente. Sendo que são essencialmente constituídas por viagens de negócios da responsabilidade das agências de viagens especializadas, i.e., corporate travel agencies. Os dispositivos móveis (smartphones e tablets) estão a tornar-se a ferramenta de reservas online em crescimento, prevendo-se que, em 2017, a percentagem das mesmas atinja os 30%. Os fornecedores de viagens (operadores turísticos incluídos) estão agora perfeitamente conscientes que a publicidade nos dispositivos móveis é essencial para atingir os seus potenciais consumidores e incentivá-los a comprar os seus pacotes. Em 2015 a publicidade registou um aumento na ordem dos 50%. Quanto às plataformas de social media, as mais populares, por ordem de interesse no mercado, são: Facebook, Twitter, Linkedin, Google, YouTube, Pinterest e Instagram. A Europa continua a ser, para o mercado norte-americano (imediatamente a seguir ao México e Canadá), o seu principal destino de férias. E apesar da instabilidade e insegurança de que a Europa tem sido alvo, a sua procura registou um aumento de 6,9% (dados até outubro), comparativamente a igual período de 2015, prevendo-se que 2016 venha a ultrapassar o número de turistas norteamericanos que, em 2007 (ano recorde), viajaram para a Europa. O número total de 2015 foi de 12.598.860. Nos últimos anos, novos operadores começaram e/ou canalizaram a sua operação para Portugal, alargando rotas aéreas, non-stop, para o País, proporcionando um substancial aumento de visitantes norte-americanos. Recentemente, a Delta Airlines anunciou que, a partir de 2017, e durante o verão, passará a servir Lisboa, com saídas diárias de Newark. Entretanto, e além de Newark e Miami, a TAP passou a operar também, a partir de Nova Iorque (aeroporto de JFK) e de Boston. A United Airlines tem também partidas diárias de Newark e, durante o verão, operando também, de Washington D.C. E inalmente, a SATA, com operação sediada em Boston efetua voos para os Açores e Lisboa. A partir de Filadélia, e durante o Verão, voos diários para Lisboa, com a American Airlines. •
CAPITAL: Washington, D.C. POPULAÇÃO: 321,4 milhões (2015) ÁREA: 9.834.000 km2² MOEDA: Dólar dos Estados Unidos LÍNGUA: Inglês PRINCIPAIS CIDADES: Nova Iorque, Los Angeles, Chicago PIB: USD$ 18 biliões (2016) TAXA DESEMPREGO: 4,9% (2016) POSIÇÃO GLOBAL: Maior economia mundial COMPETITIVIDADE: 3º no Ranking Global Competitiveness Index 2015/16 TRANSPARÊNCIA: 17º no Ranking Corruption Perceptions Index 2014 RANKING GLOBAL: 7º no EIU, entre 82 mercados (outubro 2015) RELIGIÃO: A maioria identiica-se como Cristã RANKING OMT: 2º destino turístico do mundo Nº TURISTAS/ANO: 77,5 milhões (OMT, 2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O EMPREGO: 5,6 milhões de postos de trabalho (2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O PIB: 2,7% do PIB (2015) GASTO TURÍSTICO NO ESTRANGEIRO: 149,2 mil milhões de dólares (2015) INDICATIVO INTERNACIONAL: +1 Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
ASSIM, E TAL COMO JÁ REFERIDO, PORTUGAL É UM DOS PAÍSES ONDE A SEGURANÇA TEM SIDO UM DENOMINADOR COMUM, BENEFICIANDO O DESTINO E TORNANDO AS PERSPETIVAS DE CRESCIMENTO EM 2017 ANIMADORAS.
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ANÁLISE - TURISMO DE PORTUGAL, I.P.
MERCADO ALEMÃO CAPITAL: Berlim POPULAÇÃO: 81,4 milhões (2015) ÁREA: 356.970 km2² MOEDA: Euro LÍNGUA: Alemão PRINCIPAIS CIDADES: Hamburgo, Munique, Frankfurt PIB: USD$ 3,4 biliões (2016) TAXA DESEMPREGO: 4,2% (2016) POSIÇÃO GLOBAL: 4ª maior economia mundial e a maior da UE COMPETITIVIDADE: 4º no Ranking Global Competitiveness Index (2015/16) TRANSPARÊNCIA: 10º no Ranking Corruption Perceptions Index (2014) RANKING GLOBAL: 10º no EIU, entre 82 mercados (2015)
O mercado alemão tem registado ao longo dos últimos anos crescimentos consolidados que se reletem, para um período de 5 anos (2011-2015), em aumentos de 41,2% nas dormidas e 48,4% nos hóspedes. Durante o mesmo período, houve fortes oscilações por parte de alguns países concorrentes, predominando as quebras globais para a Tunísia e Egipto, um abrandamento de procura para a Turquia e uma tendência de recuperação da Grécia. Destinos como a Espanha, Itália e Croácia registaram também crescimentos consolidados no período em referência. Os alemães reletem a diversidade que carateriza Portugal. Em termos globais poder-se-á airmar que mais de 30% dos visitantes são motivados pelo produto city-breaks (Lisboa e Porto), cerca de 30% pelo sol e mar e cerca de 25% pelo turismo de natureza. Considerando as noites geradas por estes segmentos, temos o sol e mar e o turismo de natureza com cerca de 37% cada e os city-breaks com 20%. De salientar que o segmento touring está também em crescimento. Até setembro de 2016 e de acordo com o INE, os maiores crescimentos em hóspedes incidiram no Algarve (+19,1%), no Alentejo (+14,6%) e na Madeira (+13,4%) e em dormidas no Alentejo (20,5%), nos Açores (15,5%) e no Porto e Norte (12,1%).
RELIGIÃO: 35% protestantes / 34% católicos RANKING OMT: 7º destino turístico do mundo Nº TURISTAS/ANO: 35 milhões (OMT, 2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O EMPREGO: 3 milhões de postos de trabalho (2015) CONTRIBUIÇÃO DIRETA DO TURISMO PARA O PIB: 3,9% do PIB (2015) GASTO TURÍSTICO NO ESTRANGEIRO: 79,8 mil milhões de euros (2015)
O mercado mantém uma estrutura tradicional com forte componente de programação através dos operadores turísticos e vendas através de aproximadamente 10 mil agências de viagens ofline. O sucesso das reservas online, que afeta as percentagens globais, é inegável, tendo uma componente de autoférias e de city-tours. Os consumidores continuam a dar importância à relação preço-qualidade, às acessibilidades aéreas, à qualidade do alojamento, à natureza, à segurança e à forma como são recebidos nos destinos.
INDICATIVO INTERNACIONAL: +49 Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
Para 2017, com base na previsão atual da oferta em transporte aéreo e nas taxas de ocupação em 2016, estima-se um crescimento global entre os 7% e os 10%. Prevê-se que as rotas percorridas em 2016 pela Air Berlin venham a ser preenchidas, ou mesmo reforçadas, por outras companhias, embora tal só se concretize e conheça no início do ano. Para já, pode salientar-se, para o verão de 2017, o início de novas rotas para o Algarve a serem operadas pela GERMANIA de Erfurt, Dresden, Münster/Osnabrück e Nüremberg, assim como uma nova rota entre Frankfurt e Porto Santo a ser operada pela CONDOR.
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INTERNACIONAL
CHRISTOF WEIL Embaixador em Portugal República Federal da Alemanha
CADA VEZ MAIS TURISTAS ALEMÃES DESCOBREM PORTUGAL Existe um número cada vez maior de turistas alemães que descobre Portugal como destino de viagens e aprecia a beleza das suas paisagens e a notável hospitalidade do seu povo. Eu partilho do mesmo agrado e, na medida em que o exercício das minhas funções o permite, regozijo-me com a diversidade do meu novo país de acolhimento. Em 2015, o número de turistas alemães em Portugal subiu 12,4% e de janeiro a setembro de 2016 o aumento foi de 9,8%. Isso também se deve à persistente situação tensa de segurança em destinos de férias tradicionalmente populares para os alemães, como a Turquia e o Egipto, mas as razões não se cingem de todo a essa questão: além da beleza das suas paisagens e da sua relevância histórica, Portugal destaca-se pela oferta de hotéis e serviços de excelente qualidade, pelo clima ameno - comparado ao Norte da Europa durante todo o ano, pelas boas ligações aéreas, preços atrativos e, acima de tudo, pela hospitalidade magníica dos portugueses.
Portugal destaca-se pela oferta de hotéis e serviços de excelente qualidade, pelo clima ameno durante todo o ano, pelas boas ligações aéreas, preços atrativos e, acima de tudo, pela hospitalidade magníica dos portugueses.
As regiões do Algarve, Lisboa e Madeira mantêm-se como importantes destinos de viagens dos alemães. Além das habituais “férias de sol e praia” no Algarve e na Madeira e do turismo cultural em Lisboa, que continuam a atrair a maior parte dos turistas alemães a Portugal, existem outras regiões que ganham relevo no mercado alemão. Entre janeiro e setembro deste ano, a região do Alentejo registou a segunda taxa de crescimento mais elevada entre os viajantes alemães (14,6%), logo a seguir ao Algarve (19,1%). Em 2015, o número de alemães que viajaram para os Açores cresceu 24,1%. Portugal continua a ter um desenvolvimento positivo como destino de viagens e é bem-sucedido em atrair turistas para regiões até então menos conhecidas. Essas taxas de crescimento foram alcançadas, nomeadamente, através da melhoria constante de ligações aéreas para Portugal, incluindo algumas companhias de baixo custo. Nos Açores, Ponta Delgada conta agora, a partir da Alemanha, com dois voos diretos semanais no inverno e cinco no verão. As ligações aéreas para o Porto também estão cada vez melhores: atualmente, a partir de 13 cidades alemãs, existem 47 voos diretos semanais no inverno e 67 no verão.
QUEM UMA VEZ VISITOU PORTUGAL, GOSTA DE VOLTAR. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que Portugal voltou a ser galardoado este ano com uma série de prémios do setor do turismo. Nos World Travel Awards Portugal recebeu 24 distinções, a Travel+ Leisure escolheu Portugal como destino turístico do ano e nos World Golf Awards Portugal recebeu o prémio de melhor destino mundial de golfe para o ano de 2016. Isso também se torna aliciante para os turistas alemães. Porém, mais que prémios, é a diversidade do país que seduz os visitantes: Lisboa com os seus locais históricos e restaurantes e bares que estão na moda (há 21 restaurantes com uma ou duas estrelas Michelin); o Algarve e a Madeira que se destacam pelas suas praias e paisagens maravilhosas, os Açores que atraem os amantes da natureza e de caminhadas; ou a cidade do Porto que atrai turistas interessados em vinho, gastronomia e arquitetura, bem como jovens em viagens de baixo custo. •
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À CONVERSA COM
LUÍS ARAÚJO Presidente Turismo de Portugal
França, Estados Unidos e Alemanha serão os três mercados emissores para Portugal com maior crescimento esperado no próximo ano, segundo os resultados do Barómetro do Turismo - edição especial Turismo’17. Que comentário faz a estes resultados? Todos os mercados são importantes para Portugal, razão pela qual a nossa missão reside numa aposta de airmação do destino no seu todo, criando as necessárias condições para que a captação de turistas seja mais eicaz e a experiência turística proporcionada seja cada vez mais determinante na criação e consolidação dos níveis de satisfação por quem nos visita – com vista a assegurar uma procura idelizada. Recordo ainda que o Turismo de Portugal tem apostado na diversiicação e alargamento dos mercados emissores, afastando-se da dependência de mercados tradicionais. É neste contexto que estamos a apostar nos mercados americano (Estados Unidos e Canadá) e asiático (China e Médio Oriente), os quais por circunstâncias diversas poderão vir a ser tão relevantes como alguns mercados europeus. Estamos igualmente atentos aos novos segmentos de procura, com outro tipo de motivações como as tecnológicas - com grande apetência para a modernidade, numa atitude de constante acompanhamento das novas tendências da procura turística. Pelas suas caraterísticas e grau de proximidade, mantemos como mercados estratégicos, a Espanha,
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Reino Unido, França, Alemanha, Holanda, Escandinávia e Irlanda. Os últimos dados comprovam ainda o crescimento do número de turistas vindos de Itália. Bélgica, Suíça, Áustria, Polónia e Canadá. O nosso objetivo primordial é atrair mais turistas para Portugal, criar as condições necessárias para que permaneçam mais tempo, gastem mais dinheiro no destino e que tenham experiências memoráveis, idelizando-os e fazendo-os regressar.
Estas previsões vão ao encontro das perspetivas do Turismo de Portugal? Tudo indica que vai ser um ano positivo. E já temos indicadores importantes: estamos a crescer 9,2% em número de turistas nos hotéis, mas 16% em proveitos, o que signiica que estamos a conseguir aumentar a receita média por turista na hotelaria. Queremos ter crescimentos sustentáveis e ainda há muita margem para crescer. Em números redondos, temos hoje uma capacidade de 100 milhões de dormidas por ano em todo o país, e só 50% têm ocupação, variando, obviamente, de região para região. Enquanto houver camas por ocupar e estamos a falar de muitas, temos de continuar a trabalhar para as ocupar, aplicando tarifas mais altas junto dos turistas com maior capacidade inanceira e que consomem mais, incentivando esta procura a icar mais tempo no país. Concordo que crescer por crescer não basta. Tem de haver um encadeamento perfeito a montante: promover o destino, estruturar a oferta, captar turistas, proporcionar-lhes melhor experiência e idelizá-los. Só assim se consegue o crescimento sustentado que todos desejamos.
Arranca em junho de 2017 uma ligação aérea direta entre a China E Portugal com 3 a 4 frequências por semana, de
INTERNACIONAL
acordo com um protocolo assinado entre o Turismo de Portugal e o grupo HNA (Beijing Capital Airline). O que significa o mercado chinês em termos económicos e sociais para o turismo Português? A China é o maior emissor mundial de turistas, estando este mercado a crescer acima dos 20% em Portugal. Fechámos 2015 com 150 mil turistas chineses. Em 2016, devemos icar nos 180 mil, abrindo uma nova fase na promoção de Portugal junto do maior emissor mundial de turistas. No mesmo ano o nosso país elegeu a China como um dos 15 mercados prioritários. O objetivo passa por captar a cada vez mais relevante e importante procura turística chinesa (fruto da relevância das receitas que gera), indo também ao encontro da estratégia de diversiicação de mercados delineada pelo Turismo de Portugal. A questão da abertura do voo não é tanto uma relação direta com o número de lugares disponíveis, aqui a questão é ter mais visibilidade no mercado, ter mais uma rota, mais um ponto de acesso na Europa para o mercado chinês, desta vez direto, e falar-se mais de Portugal no mercado chinês.
Com o mercado chinês, a prioridade tem sido o contacto com os operadores, com os agentes de viagens, para ver de que forma podemos estimular a vinda de turistas para Portugal. O turista chinês, em média, permanece em Portugal aproximadamente duas noites, e o que se pretende é aumentar a sua estadia. O principal desaio é aumentar a duração da estadia e diversiicar os destinos dentro do país. Até agora, 74% dos turistas chineses apenas visitam Lisboa, mas é necessário encontrar formas de promover todo o país. Outro aspeto que é bastante positivo é o facto dos turistas chineses gastarem, em geral, até duas vezes
mais do que a maioria dos turistas internacionais sobretudo em gastronomia, cultura, hotelaria, como também nas lojas das grandes marcas. Lisboa já ganhou este ano dois prémios com a Ctrip, um dos maiores operadores online do mundo: o Melhor Destino de Férias e Melhor Destino de Compras da Europa. Isto decorre de trabalho desenvolvido e de algum conhecimento adquirido ao qual devemos dar continuidade, estimulando um maior conhecimento junto das demais regiões do País.
Ao nível do serviço, Portugal está preparado para receber este mercado Asiático? O país tem de preparar-se para o turista chinês e estamos focados em perceber se as empresas nos veem como potenciais parceiros. Sei que é difícil e cara a adaptação física a um mercado que, apesar de estar em crescimento, ainda não é um dos principais mercados. No entanto, estamos a trabalhar em conjunto com os vários players do mercado, no sentido de garantir pequenos estímulos que assegurem eicácia na venda. Existem questões que remetem para pequenos detalhes e que permitem proporcionar, a quem nos visita, uma melhor experiência, nomeadamente no acesso a uma série de serviços, tais como, canais de TV chineses, jornais, sinalética em mandarim dentro das unidades hoteleiras, informação dentro dos quartos traduzidas em mandarim, refeições com especialidades chinesas (ex. pequeno-almoço). Também incentivamos os operadores turísticos a encontrar e contratar intérpretes e guias turísticos chineses. Em abril, organizámos uma série de roadshows em cinco cidades chinesas (Pequim, Xangai, Chengdu, Cantão e Hong Kong) com empresas portuguesas e operadores chineses. Foi um sucesso que repetiremos no início de 2017. Em paralelo com estas iniciativas, estamos ainda a incentivar os estudantes chineses a virem para Portugal estudar, bem como a atrair chineses da segunda geração que já cá vivem. Só desta forma, e em conjunto, é que vamos conseguir captar e idelizar este que é um mercado emissor mundial muito importante. •
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APOSTA NA CHINA
CAPITAL: Pequim POPULAÇÃO: 1,371 milhões de habitantes (2015) ÁREA: 9,561.000 km2 DENSIDADE POPULACIONAL: 142 habitantes por km2 (estimativa 2015) MOEDA: Yuan Renmimbi da China (CNY) LÍNGUA: Mandarim PRINCIPAIS CIDADES: Shanghai, Guangzhou, Tianjin PIB: 11 biliões de dólares (2015) TAXA DESEMPREGO: 4,1% (2016) POSIÇÃO GLOBAL: 2ª maior economia mundial COMPETITIVIDADE: 28ª no Ranking Global Competitiveness Index 2016/17 TRANSPARÊNCIA: 83ª no Ranking Corruption Perceptions Index 2015 RANKING GLOBAL: 57ª no EIU, entre 82 mercados, 2015 RELIGIÃO: A maioria é budista e daoísta INDICATIVO INTERNACIONAL: +86
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O Turismo de Portugal e o Grupo HNA (Beijing Capital Airlines) assinaram um protocolo que vai permitir a ligação aérea direta da China para Portugal (Hangzhou - Pequim - Lisboa). Trata-se de uma parceria entre o Turismo de Portugal, a ANA Aeroportos e a Associação Turismo de Lisboa (ATL). Sendo a China o principal mercado emissor mundial de turistas, esta ligação direta é estratégica para o desenvolvimento do setor do turismo em Portugal, uma vez que garante a competitividade aérea do destino. O início das operações está previsto para junho de 2017, com três a quatro voos por semana. Além da rota em si, o grupo HNA poderá trazer outras mais-valias a Portugal e representar novos investimentos. Recorde-se que o grupo detém uma das principais agências de viagens da China, o que pode contribuir para o fomento do turismo. Além disso, controlam um dos maiores operadores de handling do mundo, a Swissport, o que poderá estimular a passagem do tráfego de carga por Portugal.
No entanto, uma das questões que devemos colocar prende-se com a gestão de expetativas destes turistas.
COMO SE COMPORTAM? O QUE PROCURAM? QUAIS AS SUAS NECESSIDADES? ESTAMOS PREPARADOS PARA OS RECEBER? Neste caderno especial procuramos dar resposta a algumas destas questões.
IMPORTÂNCIA DO TURISMO CHINÊS EM 2015 OUTBOUND
1º RANKING OMT
127,9M 215mil M TURISTAS ENVIADOS
GASTO TURÍSTICO /ESTRANGEIRO
INBOUND
4º RANKING OMT
56,9M TURISTAS RECEBIDOS
225M POSTOS DE TRABALHO
Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
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Iwona Fluda Founder “Let your creativity travel”
Turismo emissor chinês oportunidade para a Europa - a não perder! O rápido crescimento do turismo emissor chinês nas últimas duas décadas é uma nova tendência que trará consequências a longo prazo. Sendo a China a economia com mais rápido crescimento em todo o mundo, é também o maior mercado emissor de turistas. E os chineses são considerados os viajantes mais prolíicos. Gastaram o número recorde de 165 mil milhões de dólares no exterior em 2014. PORQUÊ A CHINA, PORQUÊ AGORA? De acordo com a OMT, os turistas chineses são a principal fonte de receitas na indústria do turismo e viagens a nível mundial. Nem sempre foi assim! Como é isso possível? Até há relativamente
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pouco tempo a China estava fechada para o Ocidente e hoje é um dos mercados mais promissores para o turismo emissor. Há quatro fatores responsáveis por este rápido crescimento: política, economia, urbanização e novas tecnologias. POLÍTICA: Os cidadãos chineses não puderam desfrutar da liberdade de viajar para o estrangeiro durante muitos anos. Sob o comando do presidente Mao (primeiro presidente do Comité Central do Partido Comunista da China, no cargo entre 1945 e 1976), as viagens e lazer foram censuradas. Fechada económica e politicamente durante anos, e tendo rigorosas políticas de vistos para viajantes chineses e internacionais, a China tornou-se um lugar isolado no mapa mundial das viagens. Até 1990, o turismo internacional não existia na China. O papel do país no mundo mudou radicalmente quando abriu as suas fronteiras. Graças à democratização do turismo internacional para os cidadãos chineses, agora podem fazer parte do cenário das viagens internacionais. Mais de 145 países
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assinaram acordos de cooperação bilateral com o governo chinês, o chamado Status de Destino Aprovado. ECONOMIA: Espera-se que a China se torne a maior economia mundial até 2025. A receita e a riqueza das famílias chinesas estão em crescimento, especialmente nas cidades, o que lhes permite liberdade inanceira para viajar, e por isso o número de turistas internacionais chineses tende a continuar a aumentar no futuro próximo.
EUROPA: ESTÁS PRONTA PARA ESTE DESAFIO?
URBANIZAÇÃO: As grandes cidades estão em rápido desenvolvimento e os cidadãos chineses passaram a ter liberdade de movimento dentro do país. A geração de 80, em particular, faz uso desta oportunidade e muitas vezes os cidadãos deslocam-se para as grandes cidades onde há melhores perspetivas de carreira. NOVAS TECNOLOGIAS: O rápido desenvolvimento económico e o aumento da rede digital entre a China e outros países trouxe muitas mudanças sociais, especialmente para as gerações mais jovens, que são fãs da Wechat e da Weibo (redes sociais chinesas). São usadas em conjunto com a cultura digital em expansão, para planear viagens e usar serviços de viagens online. Já se tornou uma tendência e inluencia visivelmente as decisões e escolhas feitas pelos turistas chineses.
QUEM SÃO OS TURISTAS CHINESES? A resposta a esta pergunta é muito complexa. Os fatores acima mencionados podem ajudar a compreender que o grupo de turistas chineses é muito diversiicado. Alguns investigadores enfatizam o facto de que “o turista chinês” não existe e que os chineses não podem ser tratados como um único grupo homogéneo. Embora a noção de “turista chinês” não se reira a um grupo homogéneo, é possível
reconhecer duas tendências principais: pacotes turísticos - principalmente para os turistas chineses inexperientes da geração mais velha, sem conhecimentos linguísticos. Este tipo de viagem é cada vez menos popular porque limita o número de destinos e a lexibilidade do turista. O segundo grupo é o dos turistas individuais. São, em geral, cidadãos chineses mais jovens, bem formados e viajados, geralmente com conhecimentos linguísticos. Os turistas chineses são descritos frequentemente como “carteiras ambulantes”, isto é, pessoas que gastam muito dinheiro enquanto viajam para o estrangeiro. Esta descrição não existe sem razão - a classe média chinesa (em expansão) é representada pelo grupo com rendimentos mais elevados. Nasceram depois de 1980, são ilhos únicos, o que signiica que os pais podem cuidar deles de forma mais dedicada, em termos de educação e crescimento pessoal. Existem, no entanto, muitas diferenças entre as gerações mais jovens e as mais velhas - diferentes pontos de vista e estilos de vida, como resultado das mudanças políticas desde 1990. Devido à urbanização, a liberdade de deslocação para diferentes cidades na China e a crescente independência inanceira dos cidadãos chineses, as gerações mais jovens sentem-se no direito de tomar decisões diferentes das dos pais, vendo isso como um relexo e símbolo de liberdade.
PARA ONDE VIAJAM? A Europa parece ser o destino favorito dos turistas chineses. Os EUA estão em segundo lugar. Em 2015, 12 milhões de turistas chineses visitaram a Europa. Porquê a Europa? Principalmente por causa da conveniência: podem desfrutar de passeios, compras e lazer no mesmo local. A China também beneiciou da abertura de portas ao resto do mundo,
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através do estabelecimento de parcerias com instituições académicas de prestígio e através de intercâmbios bilaterais e programas especiais para estudantes chineses na Europa. Esse facto também inluencia o planeamento das viagens. A inluência da política chinesa ainda é visível no planeamento das viagens. O chamado “turismo vermelho” é apoiado pelo governo chinês para para que os cidadãos visitem lugares que desempenharam um papel histórico importante na criação e desenvolvimento do comunismo chinês. Esta forma de organização de viagens já foi implementada e é mais visível na Rússia.
DESAFIOS PARA OS DESTINOS E OS TURISTAS O crescente número de turistas chineses que viajam para a Europa traz oportunidades e desaios para os turistas e destinos. Os principais desaios são as diferenças culturais e as barreiras linguísticas que podem levar a mal-entendidos - e ambas as partes estão conscientes disso. É importante que os turistas chineses permaneçam conectados com os seus familiares e amigos durante as viagens ao exterior, por isso estes viajantes valorizam uma ligação constante e iável à internet. O segundo desaio é o transporte, seguido pela segurança e pela saúde. A nova vaga de turistas chineses está mais focada em ganhar experiências culturais memoráveis e autênticas e quer ter oportunidade para interagir com os habitantes de cada país. Embora a geração jovem pareça ter todo o interesse em conhecer novas culturas de forma autêntica, ainda é muito importante para estes turistas encontrar algo familiar, como por exemplo um restaurante ou hotel em estilo chinês. Uma vez que muitos turistas chineses já são viajantes experientes, as diferenças culturais tendem a diminuir. No
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entanto, a singularidade e importância da cultura chinesa não devem ser subestimadas. Num futuro próximo, a nova geração de turistas chineses com destino à Europa poderá ser moldada pelas mudanças demográicas, o novo nível de individualização, a cultura digital, a globalização 2.0, os novos padrões de consumo e a urbanização. As ligações culturais e históricas entre a Europa e a China também trarão uma nova onda de turistas para o velho continente. Nos próximos anos, as necessidades dos viajantes chineses vão ser muito díspares. Os turistas chineses devem ser vistos em subgrupos, cada um com diferentes necessidades e expetativas, dependendo dos seus rendimentos e do nível de experiência em viagens. O crescimento constante da economia chinesa trará consumidores mais ricos. Quanto mais dinheiro têm, mais exclusivas serão as viagens individuais. A classe média chinesa procura prestígio e status. Isso relete-se na paixão que têm por compras de luxo e produtos caros de elevada qualidade. No entanto, a China ainda não deu a sua última palavra. Muito pelo contrário. O país e a sua economia continuam a crescer e, se os negócios europeus beneiciarem com isso, atraíndo mais visitantes desta região, devem concentrar-se na investigação e na compreensão das diferenças culturais, bem como das necessidades dos turistas chineses. A educação e os intercâmbios interculturais parecem ser as táticas comerciais mais recomendadas neste caso. O desaio para a Europa, e outros potenciais destinos, é estar preparada para satisfazer as necessidades destes turistas chineses e manter-se atualizada face aos novos desenvolvimentos. •
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José Manuel Esteves Diretor-geral Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal AHRESP
Estou convicto de que nem aos mais distraídos terá passado em branco que 2016 foi um grande ano para o turismo português. Milhões de estrangeiros e portugueses percorreram o nosso território, conquistámos novos mercados emissores, tivemos taxas de ocupação muito acima da média, obtivemos mais receitas, ou seja, crescemos em praticamente todos os indicadores. Fomos notícia em inúmeros meios de comunicação internacionais e recebemos dezenas de prémios em todo o mundo.
O TURISMO IMPÔS-SE COMO O GRANDE MOTOR DA ECONOMIA NACIONAL, GERANDO RIQUEZA E CRIANDO POSTOS DE TRABALHO COMO NENHUMA OUTRA ATIVIDADE ECONÓMICA. 2017 SERÁ, POIS, UM ANO DE GRANDES DESAFIOS. As expetativas são elevadas e cabe-nos a todos nós, portugueses - não só aos proissionais do setor - assegurar que o turismo continue a representar um papel essencial no desenvolvimento sócioeconómico do nosso país.
Estamos coniantes, mas seguros de que precisamos de continuar a trabalhar para que o turismo se mantenha como um dos principais impulsionadores das exportações portugueses e do crescimento do país.
Para já, existem alguns indicadores que nos permitem olhar com coniança para o futuro. Reiro-me, por exemplo, às políticas iscais do Orçamento do Estado para 2017 que investem no processo de devolução de rendimentos aos cidadãos e às famílias, estimulando o consumo interno, e que reforçam a coniança dos empresários para criar mais postos de trabalho. Não posso deixar de assinalar também a importância da manutenção da taxa do IVA dos Serviços de Alimentação e Bebidas na taxa intermédia (13% no continente, 9% nos Açores e 12% na Madeira), não obstante a continuidade da exclusão de algumas bebidas, que aguardam a sua reposição na taxa intermédia. Outro dado que nos possibilita antecipar um ano pleno de sucessos são as reservas já conirmadas para 2017, sobretudo as relacionadas com grandes eventos como é o caso da Web Summit que regressa a Lisboa. Da mesma forma, as novas ligações aéreas entre Portugal e a China e entre Portugal e EUA irão reforçar o nosso posicionamento como um dos maiores destinos turísticos do mundo. Há ainda muito a fazer, sendo que gostaria de destacar a urgência de uma solução para o Aeroporto de Lisboa, de mais linhas de apoio ao inanciamento e capitalização das empresas e medidas mais eicazes que visem a diminuição dos custos de contexto. Se, no inal de 2017, uma boa parte destas tarefas estiverem cumpridas, o turismo estará de parabéns e a economia portuguesa seguramente muito melhor. Tenham um excelente 2017. •
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Cristina Vieira Presidente da Direção Executiva Associação da Hotelaria de Portugal AHP
Economicamente, a China é hoje a segunda potência económica mundial, que de uma economia estatal e planiicada se virou para o mercado global; de uma economia agrícola e rural está em trânsito para uma economia urbana, baseada na indústria e nos serviços; e de uma economia fechada se airma agora como uma economia aberta às trocas internacionais de bens e de capital. E a China quer ser mais, mais na União Europeia, mais em Angola, Moçambique e Brasil, países onde tem interesses estratégicos e cujos recursos naturais são fundamentais para o seu crescimento. Por isso, assume relevância o facto de Portugal ser simultaneamente um país da União Europeia e ser uma ponte para os países de expressão portuguesa. Todos os meses, dezenas de empresas europeias são compradas por investidores chineses e Portugal foi o quarto país da Europa que mais investimento chinês recebeu na última década, à frente de economias de muito maior dimensão como as da Espanha ou Itália . E o investimento está presente não só nas “grandes” EDP, REN e Fidelidade mas também em mãos individuais, em vinhas no Douro; em resorts; campos de golfe e em imobiliária.
Falar da China é sempre falar de imensidão. De imensidão de tempo, de território, de pessoas, de recursos, de interesses económicos. E de ambição.
EM TERMOS DE TURISMO, A CHINA É ATUALMENTE O SEGUNDO MAIOR EMISSOR INTERCONTINENTAL DE TURISTAS PARA A EUROPA E, ATÉ 2023, ESPERA-SE UM CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL DE 5,1%. OS NÚMEROS E OS SEUS MULTIPLICADORES SÃO IMPRESSIONANTES. O número de viagens organizadas para turistas chineses em 2014 ascendeu a 109 milhões, representando um aumento de 16,6% relativamente ao ano anterior, e os dados de 2012 indicam que os chineses já ultrapassaram os alemães e os americanos como os que mais gastam em viagens internacionais. Em Portugal, de acordo com dados do INE, o turismo chinês multiplicou-se por seis nos últimos anos, passando de 47,1 mil dormidas em 2009 para 270,1 mil em 2015. Os hóspedes chineses nos hotéis nacionais atingiram 153,7 mil, em 2015, num aumento de 35,8%. Até junho de 2016, e face ao mesmo período de 2015, o número de turistas chineses que visitaram Portugal cresceu 26,9%, tendo passado de 70.836 em 2015 para quase 89.876 em 2016.
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milhares
Dormidas de Chineses em Estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos e outros
300 250 200 150 100 50 0
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
Fonte: INE, 2016
Só no segmento turismo de compras, o mercado chinês cresceu 73% em Portugal. De acordo com o balanço de 2015, feito pela empresa Global Blue, foram também os turistas chineses que gastaram mais dinheiro em compras, em Portugal, no ano de 2014, apresentando em outubro de 2016 uma compra média de 678€. E o potencial continuará a crescer, alimentado pelo volume de chineses que ascende à classe média e pelo expressivo e crescente número de milionários. Por tudo isto e o mais que aí vem, o Turismo de Portugal repensou e ainou a estratégia de crescimento para o mercado da China, passando por, de acordo com o seu presidente, “trazer jornalistas chineses a conhecer o país, produzir conteúdos em mandarim, reforçar a presença nas redes sociais chinesas”, estratégia que irá “envolver a rede de escolas de turismo. E a delegação do Turismo de Portugal em Xangai também está de portas abertas a servir de apoio a qualquer empresa nacional que se queira internacionalizar”. Esforços são feitos também por privados para captar e idelizar este mercado, como a implementação do sistema de certiicação Welcome Chinese criado pelo governo chinês e coordenado a nível nacional por uma consultora, com requisitos de atendimento e serviço para hotéis, restaurantes, lojas ou museus. Faltava, portanto… a ligação aérea direta da China a Portugal. As ótimas notícias são o seu arranque em força em junho de 2017, com três a quatro frequências por semana, nos termos do protocolo assinado entre o Turismo de Portugal e o grupo HNA - Beijing Capital Airline. De resto o mesmo grupo, acionista da companhia aérea Azul, e portanto parte do consórcio que detém parcialmente a TAP, obteve igualmente autorização para lançar uma rota para Portugal. Finalmente, e a fazer fé nas declarações de David Neeleman, ainda poderemos vir a contar, não com quatro, mas com sete voos semanais de China, porque, em referência à HNA: “É bom ter um tio rico”. Perante esta “ponte aérea” o que pode faltar? Pois… “pistas”. Portanto e mais uma vez, uma condicionante ao crescimento expressivo deste mercado é algo que o turismo não pode controlar, mas pode e deve pressionar para que possa deixar de o ser. •
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Gavin Eccles Consultor de turismo e aviação
ligações oriente-ocidente LISBOA É A PRÓXIMA...
Deus abençoe a China... Isto é, provavelmente, o que a Boeing e a Airbus estão a pensar, uma vez que as encomendas de aviões continuam a chegar do mercado que mais rapidamente cresce em todo o mundo. A mais recente previsão de mercado da Boeing até 2034 indica que a China vai encomendar cerca de 4.630 aeronaves de corredor único, avaliadas em cerca de 490 mil milhões de dólares. E vão mais além, estimando que serão necessários 1.500 novos aviões de grande porte, avaliados em cerca de 450 mil milhões de dólares.
NO TOTAL, SERÃO 6.100 AVIÕES (25 POR MÊS) ENTREGUES À CHINA ATÉ 2034. Garantias de procura como esta são escassas, o que explica o interesse dos
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maiores fabricantes de aviões do mundo neste mercado. E não são apenas os fabricantes de transporte aéreo que querem uma fatia deste mercado. A chave é ter estas companhias aéreas a voar direto para a Europa, tanto pelo investimento como pelos interesses do turismo. No entanto, os números apontam para uma desaceleração da economia chinesa - prevendo-se que o crescimento económico seja de apenas 6,5% a 7% em 2017, de acordo com o governo chinês. O certo é que o número de voos internacionais continua a aumentar e a ligação entre a China e a Europa (e o mundo) nunca foi tão forte. Voltando a junho de 2015, nessa altura havia 62 cidades ligadas em pares entre a Europa e a China (incluindo Hong Kong). Um ano depois, o número aumentou para 75. Dessas novas ligações, três quartos são operadas por transportadoras chinesas. A tendência do momento é os players chineses ligarem-se fora do seu território de origem - o mundo está
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aberto a tais ligações e as transportadoras chinesas estão a tirar o máximo proveito desse desenvolvimento e a colocar essas novas frotas de longo curso diretamente em rotas internacionais. A maioria destes voos estão baseados fora de hubs chineses e, estabelecer ligações a partir das grandes metrópoles chinesas é o próximo passo. Contudo, não vamos esquecer que o motor do crescimento também está relacionado com o potencial do turismo do país. Há cerca de 120 milhões de turistas chineses no exterior e a previsão é de que o número possa atingir os 150 milhões nos próximos dois anos. Esses 30 milhões de visitantes adicionais são equivalentes à população da Grécia e dos Países Baixos somadas. Na verdade, o número de turistas chineses dobrou desde 2010 e este é o 12º ano consecutivo de crescimento a dois dígitos.
chinesa - e para o mercado de aviação chinês. Novas cidades querem estabelecer ligações para além do país, e a existência de voos para cidades internacionais abriu um luxo de investimentos entre os destinos pares ligados. Os principais mercados emissores têm sido associados ao Sudeste Asiático e à Australásia (as distâncias de viagem são mais curtas). No entanto, a nova onda de rotas e desenvolvimento é com a Europa, igurando Londres, Paris e Roma no topo. No entanto, todas as cidades beneiciam e a Península Ibérica tem sido uma das principais regiões de crescimento, dentro do segmento de viagens de grupo.
O mercado turístico emissor tem sido impulsionado pela ascensão da classe média, com rendimentos cada vez mais elevados. Segundo um relatório do Credit Suisse publicado em setembro, o número de cidadãos chineses com riqueza pessoal entre 28.000 dólares e 280.000 dólares ascende a 109 milhões, representando 10% da população chinesa. Estes números superam os 92 milhões de norte-americanos que estão nessa faixa, fazendo da China o país com a maior classe média do mundo.
A alimentar este crescimento do turismo estão cerca de 25 grandes operadores turísticos em toda a China, classiicados com “classe 5A”, o que signiica que são coniáveis e proissionais. Um deles, a Caissa Touristic, uma ilial do grupo HNA, é particularmente forte para a Europa (enraizada numa longa história de fortes ligações com os investimentos alemães), e é o motor de uma nova onda de operadores “totalmente integrados” - proprietários de voos, hotéis, transfers, bem como o canal de reserva. Segue-se a Fosun, com investimento estratégico no grupo Thomas Cook. Existem projetos com vista à utilização dos aviões da Thomas Cook, que coordenará também os serviços de entrada, estando os canais de venda nas mãos da agência de viagens da Fosun.
O rendimento disponível dos cidadãos chineses tem aumentado consecutivamente, não só nas cidades de primeira linha, como Pequim, Shangai, Cantão e Shenzhen, como também em cidades chinesas ocidentais e do interior, como Kunming e Chengdu. A estratégia de “belt and road” do governo do presidente Xi começa em Xi’an, o que signiica que o oeste da China será o próximo motor da economia
O investimento em ligações à Europa não é exclusivo das três grandes transportadoras chinesas (Air China, China Eastern e China Southern) mas também de outras operadoras como a Hainan Airlines, a Beijing Capital Airlines e a Xiamen Airlines. A Hainan Airlines tem sido proativa no desenvolvimento de serviços internacionais, desde Pequim e Xi’an. Muitas vezes, a estratégia passa por ganhar os direitos
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de tráfego da Administração de Aviação Civil da China para operar essas cidades pares antes dos concorrentes. Entretanto, em setembro de 2015, a Beijing Capital Airlines lançou com sucesso a primeira rota para a Europa, partindo de Hangzhou com destino a Copenhaga, tendo o apoio da Caissa, seu parceiro turístico. Seguiram-se as ligações Hangzhou - Madrid e Chengdu - Madrid e, no verão de 2107 terá início a operação Pequim - Lisboa. Com o abrandar do crescimento da economia chinesa para menos de 7%, não é de esperar que as oportunidades de rede no país abrandem. Há cada vez mais transportadoras a avaliar ligações entre cidades. A China planeia construir mais 66 aeroportos, o que signiica que em 2020 o país vai ter 272 infraestruturas aeroportuárias. Há mais de 20 aeroportos com volumes de passageiros superiores a 10 milhões. Assistimos a uma corrida para conseguir ligações aéreas e Portugal é o próximo alvo. Assim, no verão de 2017 o Grupo HNA chega a Portugal. Num espaço de 25 anos o Grupo HNA evoluiu de uma pequena companhia aérea local domiciliada na ilha de Hainan, na província mais ao sul da República Popular da China, para se tornar numa força importante em várias indústrias e um conglomerado global da Fortune 500. Hoje, emprega mais de 113.000 funcionários, tem ativos em torno de 80 mil milhões de dólares, gera receitas superiores a 25,6 mil milhões de
LISBOA PODE AGORA CONTAR-SE ENTRE AS GRANDES CIDADES EUROPEIAS QUE BENEFICIARAM NOS ÚLTIMOS ANOS DAS LIGAÇÕES AÉREAS ORIENTE-OCIDENTE. • TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
dólares e registou lucros de 206,9 milhões de dólares no último ano iscal. Onde quer que as atividades de aviação empresarial a levem, o caminho passa pelo investimento em outros setores do turismo, como hotelaria, logística e serviços inanceiros, sendo o comércio internacional facilitado pela conetividade aérea. O Grupo HNA é sem dúvida um player em crescimento no setor aéreo, que atualmente representa pouco mais de um terço das suas atividades e engloba interesses em muitas companhias aéreas chinesas, estando em expansão para incluir marcas reconhecidas de companhias aéreas em África, Europa, América do Sul e, mais recentemente, um investimento signiicativo na Virgin Australia, na Australásia. Portugal também faz parte deste jogo de expansão. Estar ligado à China traz um grande potencial ao turismo, negócios e investimentos. Esta ligação representa novas oportunidades que vão ajudar Portugal a fazer parte das prioridades dos operadores turísticos e dos turistas chineses. Em 1513, Jorge Álvares tornou-se o primeiro português a desembarcar na China. 500 anos depois, a Beijing Capital Airlines lança o primeiro voo direto da China para Portugal. Muita coisa mudou em 500 anos, incluindo o “lançamento do voo”, mas o certo é que a aviação coloca as descobertas noutro nível, e a China vai descobrir as maravilhas de Portugal... E, como o Ano Novo chinês traz com ele o Galo, as ligações são ainda maiores.
72 CADERNO ESPECIAL
O REQUINTE ESTÁ AGORA NA SIMPLICIDADE, NO TEMPO, NA NATUREZA PRESERVADA, NAS EXPERIÊNCIAS CULTURAIS E EMOCIONAIS QUE CADA VIAGEM PODE PROPORCIONAR. Não podemos no entanto, confundir simplicidade com simplismo. O serviço para as novas gerações é uma questão fundamental e, na verdade, é tudo menos simples. O desenvolvimento tecnológico galopante obriga os prestadores de serviços a uma atualização e inovação constantes, para irem ao encontro das necessidades e expetativas dos novos consumidores. Nessa perspetiva, nada melhor do que começar por conhecer, e compreender, os turistas dos nossos tempos e como se comportam.
CADERNO ESPECIAL
Serviço em turismo: Simplicidade e não simplismo TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
CADERNO ESPECIAL
Quando pensamos em serviço e, sobretudo, em qualidade do serviço em turismo já não imaginamos quartos com camas king-size, lustres dourados, porcelanas inas ou acabamentos banhados a ouro. As novas gerações, designadamente a geração millennial, vieram mudar a forma como percecionamos o luxo, que é hoje um conceito que tem muito mais a ver com experiência, emoção, autenticidade, exclusividade, personalização e co-criação.
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74 CADERNO ESPECIAL
QUEM SÃO OS MILLENNIALS? Os millennials são frequentemente designados como a geração nascida entre 1980 e 2000. De acordo com o “Millenial Traveller Report” da Expedia, os turistas desta geração apresentam caraterísticas peculiares que estão a transformar a indústria turística. Alguns exemplos:
72%
86%
ESPERAM FAZER UMA VIAGEM DE SONHO NO FUTURO
VIAJAM PARA CONHECER NOVAS CULTURAS
56%
MILLENNIALS
VS
32%
NÃO MILLENNIALS
PARTILHAM FOTOS/VÍDEOS DAS FÉRIAS NAS REDES SOCIAIS
85% 76%
ESCOLHEM DESTINOS COM BASE NA RECOMENDAÇÃO DE AMIGOS OU FAMILIARES
74%
PROCURAM INFORMAÇÕES DE VIAGENS EM DISPOSITIVOS MÓVEIS
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PESQUISAM VÁRIOS SITES ANTES DE RESERVAR À PROCURA DO MELHOR NEGÓCIO
60%
REVELAM QUE PAGAM PARA TER WI-FI DURANTE O VOO
49%
FAZEM RESERVAS ATRAVÉS DE DISPOSITIVOS MÓVEIS
94%
USAM O FACEBOOK
CADERNO ESPECIAL
Nesta perspetiva, há uma série de tendências que importa ter em consideração quando pensamos em desenvolver uma oferta de serviços para estes turistas:
1. A AUTENTICIDADE É TUDO A autenticidade é, em última instância, aquilo que sustenta as suas perceções de valor: apreciação cultural e “viver como um local”; independência e encontrar essas jóias escondidas; originalidade e equilibrar o icónico com experiências fora do comum. Enriquecer a vida com viagens é o lema.
2. CONCIERGE IMEDIATO Os millennials dão muito valor ao serviço/apoio ao cliente prestado via mensagens instantâneas online, possibilitando que qualquer pedido possa ser cumprido com a maior brevidade, seja antes, durante ou após a estadia. Esta é já uma realidade em muitos serviços ligados ao setor do turismo.
3. PERSONALIZAÇÃO Num estudo da Mintel, 60% dos millennials confessaram-se dispostos a fornecer detalhes sobre as suas preferências e hábitos a im receber propostas adequadas ao seu budget e preferências pessoais.
4. A IMPORTÂNCIA DOS CONTEÚDOS GERADOS POR UTILIZADORES Os conteúdos publicados online por outros utilizadores são de extrema relevância para os millennials, que os consideram uma fonte idedigna de informação. Nesta perspetiva, é grande o desaio que se coloca aos prestadores de serviços, a im de conseguir feedback positivo por parte dos consumidores.
5. CO-CRIAÇÃO Para além de agentes inluenciadores, as redes sociais permitem a co-criação de experiências para o turista. O objetivo inal da co-criação é desenvolver memórias. Memórias que o turista guardará para a vida e partilhará com outras pessoas, face-a-face e nas redes sociais.
6. ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL O desejo de estar em forma e saudável é quase universal para esta geração. A vida saudável tornou-se um símbolo de status, à medida que mais consumidores optam por exibir a sua paixão pelo bem-estar, alimentação saudável e desporto, onde também se incluem as atividades em férias e momentos de lazer.
7. GERAÇÃO VERDE As preocupações com a sustentabilidade do planeta fazem parte do peril desta geração de turistas. Os millennials são sensíveis às boas práticas ambientais, destinos ecologicamente responsáveis e muitos estão dispostos a pagar mais por produtos/serviços desta natureza. •
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MARGARIDA CUSTÓDIO SANTOS CÉLIA VEIGA PAULO ÁGUAS Universidade do Algarve
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Millennials e Seniores: dois segmentos de mercado promissores para o Turismo As alterações na envolvente externa das organizações turísticas levam ao surgimento de novos peris de turistas impondo a monitorização sistemática das variáveis macro ambientais. Não obstante se consiga identiicar mudanças em todas as forças do macro ambiente, as que evidenciam um maior impacto no surgimento destes novos peris são: a recessão económica ocorrida a partir de 2008; a intensiicação e generalização da procura por experiências autênticas e memoráveis, com uma preocupação crescente com a pegada ecológica; o envelhecimento da população mundial com particular relevo nos países desenvolvidos; o aumento da insegurança devido aos atos terroristas; a crescente utilização das redes sociais para partilhar informação sobre as experiências turísticas e a possibilidade de recolha de dados comportamentais por parte dos prestadores de serviços através de recursos tecnológicos.
Decorrente das principais tendências identiicadas, os segmentos que apresentam maior atratividade para o turismo são os seniores e os millennials, pela sua dimensão e pela apetência por viajar.
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Prevê-se que o número de pessoas com idades superiores a 60 anos represente cerca de 22% da população mundial em 2050. Este segmento é ainda atrativo devido à tendência para viajar na época baixa ou média. Possui mais tempo disponível e um maior poder de compra, devido a um rendimento discricionário mais elevado e um menor nível de endividamento. Os seniores possuem um elevado grau de soisticação e uma grande experiência turística, assim como uma predisposição para viajar com maior frequência e para permanecer mais tempo no destino.
Uma análise em função de variáveis psicográicas permite a identiicação de dois subsegmentos distintos: os “Younger at heart” e os “Older at heart”. Os “Younger at heart” procuram experiências turísticas com uma maior componente ativa (aventura, prazer, divertimento) e que proporcionem enriquecimento pessoal. Acresce uma maior preocupação com a saúde, física e mental, bem como manter a juventude. Todos estes aspetos devem ser tidos em atenção nos produtos a oferecer a este segmento. Os “Older at heart” revelam constrangimentos de natureza física ou mental, real ou percecionada, apresentando uma maior preocupação com a doença, maior sensibilidade à segurança e com maior aversão ao risco, devendo os produtos dirigidos apresentar formas de lazer mais passivas, mas que estimulem a interação humana e social. Devido ao gap entre a idade cronológica e cognitiva, na comunicação devem ser evitados termos como sénior e substantivos que remetam para a idade cronológica ou associados à ideia de velhice. Os materiais devem manter uma estrutura semelhante à utilizada para segmentos mais jovens, atendendo apenas a algumas limitações e preferências, como cores, lettering e contrastes. As questões de segurança e coniabilidade do prestador devem ser salientadas. Não obstante parte do segmento já ter adquirido competências relativas à utilização das novas tecnologias, não se deve descurar a presença nos meios de comunicação e distribuição tradicionais. A simpatia e delicadeza do staff são atributos muito valorizados. Embora os seniores se percecionem como mais jovens, apresentam condicionalismos que exigem muito atenção a aspetos arquitetónicos e de design,
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nomeadamente iluminação, barreiras arquitetónicas e sinalética. Os millennials são nativos digitais, possuem elevadas competências tecnológicas e necessitam de aceder à informação de forma rápida, pois são intolerantes a atrasos e focalizados no imediato; procuram estar sempre conectados com os pares e sentem-se recompensados e validados quando os seus posts recebem likes. Necessitam de partilhar informação e experiências e recorrem a reviews como importante fonte de informação; revelam imunidade às abordagens tradicionais de marketing e são céticos à publicidade. Têm uma preocupação elevada com a proteção ambiental, as causas sociais e são sensíveis à segurança e ao risco. A crise económica de 2008 afetou-os ao nível da segurança no emprego e de restrições na obtenção de crédito. Dito de outro modo, assistiram à passagem de uma era de crescimento económico robusto para uma era de incerteza e instabilidade. Os millennials são a primeira geração a viajar de forma generalizada desde a infância, com impacto na forma como organizam as viagens, nomeadamente deinindo itinerários e reservas de forma direta e online. Privilegiam destinos que proporcionem experiências memoráveis, que os envolvam física e emocionalmente, que sejam autênticos, que proporcionem uma imersão na cultura local e um contacto direto com os residentes. Percecionam-se como exploradores e viajantes distanciando-se do conceito de turista e procuram experiências ajustadas aos seus valores e à sua individualidade, exigindo serem coprodutores das suas experiências. A comunicação deve ser personalizada e interativa, com conteúdos relevantes, um enfoque emocional e salientando a componente de entretenimento. A informação deve estar disponível em diferentes plataformas, tendo o mobile uma importância crescente. Atendendo ao caráter “impaciente” do segmento, a informação deve ser acedida de forma instantânea e imediata, como também as reservas e respetivas conirmações devem responder a esta caraterística. É ainda essencial que as componentes da viagem estejam disponíveis nas diferentes plataformas. Os prestadores de serviços devem providenciar acesso à internet de forma mais abrangente e de elevada qualidade e não apenas em determinadas áreas delimitadas.
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A elevada consciência social e ambiental do segmento exige que as empresas tenham práticas ambientalmente corretas e sustentáveis, padrões éticos e sociais de apoio à comunidade, alinhando os seus valores com os do segmento. Atendendo a que este segmento procura autenticidade, conceito relacionado com a predisposição para vivenciar a vida quotidiana dos residentes, os colaboradores devem ser provenientes da região ou conhecedores da realidade local. Os prestadores de serviços devem ainda tentar tirar partido da permanente conetividade dos millennials, tendo uma atitude pró-ativa, partilhando os registos das experiências em que os clientes intervêm e potenciando desta forma o marketing viral. Em termos conclusivos, referir que a maior preocupação com a sustentabilidade ambiental e social, o crescente enfoque na saúde e no bem-estar individuais e o domínio e utilização das novas tecnologias são suscetíveis de se assumirem como as tendências predominantes. A segmentação geracional permite a identiicação de segmentos amplos que partilham um conjunto de valores pela vivência de experiências idênticas.
SENIORES E MILLENNIALS SÃO OS SEGMENTOS MAIS IMPORTANTES, OS PRIMEIROS PELA DISPONIBILIDADE DE TEMPO E RECURSOS E OPORTUNIDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL, OS SEGUNDOS PELO FACTO DE VIAJAR FAZER PARTE INTRÍNSECA DO SEU MODO DE VIDA DESDE A INFÂNCIA. •
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Serviço ao turista na perspetiva do alojamento local
Eduardo Miranda Presidente Associação do Alojamento Local em Portugal
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CAP CADERNO ESPECIAL ÍTULO
Para contrariar o título, começo por dizer que não existe serviço ao turista na perspetiva do alojamento local. A única perspetiva de serviço ao turista que existe e conta é a do próprio turista, ou viajante, como preferimos.
Esta perspetiva que hoje parece cada vez mais distorcida é herança do historial do setor. Até há pouco tempo, sempre foi a oferta do turismo, em particular do alojamento que, com boas intenções e apoiada na regulamentação, deiniu o que era melhor para o viajante. Fez sentido numa altura, só que isto está a mudar. O alojamento local (AL) nasce justamente neste processo de mudança e, por isto, algumas discussões atuais das tendências do setor são vistas de forma diferente pelo AL. Por exemplo, muitos dos serviços tradicionais, tidos como essenciais na acomodação, nem sequer existem no AL. Para o alojamento local, a questão central não são os serviços, mas sim a satisfação do cliente. Na ótica do alojamento local, o primeiro passo para conquistar a satisfação de um hóspede é garantir que as condições de acomodação correspondam às expetativas que o cliente criou na altura da reserva. Como não há sistema de estrelas ou similar (nem deve haver), não há ideias preconcebidas do que deve ser uma oferta de qualidade.
deine o que entende por qualidade, escolhe a acomodação que apresenta as caraterísticas que procura e, ao alojamento escolhido, só cabe entregar o que prometeu. Nesta nova ordem, onde as necessidades de acomodação dos viajantes são cada vez mais personalizadas e variadas, o papel do alojamento local na estratégia do turismo é justamente alimentar a diversidade. A outra grande tendência atual do turismo é a personalização dos serviços.
TRATAR CADA CLIENTE COMO ÚNICO. Esta personalização já faz parte do AL, admito que não por visão estratégica, mas sim porque mais uma vez já está na sua natureza, o que torna esta vantagem ainda mais sólida. Há muitos fatores que incentivam esta personalização da relação com o hóspede no AL:
É O VIAJANTE QUEM DEFINE OS REQUISITOS QUE VALORIZA.
• É um setor dominado por micro-unidades de alojamento (84% dos titulares tem uma única unidade) o que facilita a relação de um para um.
O segredo está num termo chamado accuracy. Este indicador mede junto dos hóspedes se o que foi prometido no anúncio, seja o que for, foi cumprido na prática. Parece um detalhe, mas é uma mudança importante de paradigma. Não há padrões de qualidade impostos pela oferta ou por leis. É a autorregulação pura aplicada à qualidade. O cliente é quem
• Na maior parte das vezes há muita comunicação entre os viajantes e o anitrião do AL. O ambiente é mais informal. Os contactos e telefones utilizados são os pessoais. Isto humaniza a relação. Alguns dos termos usados descrevem bem o ambiente: hóspedes (guests) e anitriões (hosts).
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• Mesmo no caso dos estabelecimentos de hospedagem modernos, como a dimensão não é tão grande, acaba por haver um envolvimento maior. Prova disto é que os hostels portugueses ganham todos os prémios internacionais, as surf guest-houses são caso de estudo mundial e alguns boutique AL até ganham prémios mundiais de melhor hotel de charme. • Talvez, o mais importante, é que por ser uma atividade exigente e de muito contacto pessoal, para se manter no AL é preciso gostar e ter vocação de receber bem.
O ALOJAMENTO LOCAL NÃO VEIO SUBSTITUIR, VEIO COMPLEMENTAR, TROUXE DIVERSIDADE. MAS, PELA SUA FORMA NATURAL E PESSOAL DE TRATAR A RELAÇÃO COM OS VIAJANTES, ACABA POR REFORÇAR O QUE PORTUGAL TEM DE MELHOR NO TURISMO: OS PORTUGUESES. •
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Destino inesquecível para o seu short-break
Vigo 1h20m
Maior Renda de Bilros do Mundo Guinness World of Records
Berço e residência de personalidades da cultura e das artes
Vila do Conde
Casa de José Régio, Casa Antero de Quental
Riqueza patrimonial e arquitetónica Experiências gastronómicas ímpares Fragâncias de mar e campo Porto
20m
Ambiente de puro relaxamento Atividades náuticas e de natureza Outlet de referência na Europa Seleção das mais prestigiadas marcas nacionais e internacionais de moda
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ANA BELA BALTAZAR CEO Hands to Discover
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Portugal mais acessível
SERVIÇO AO TURISTA, NA PERSPETIVA DO TURISMO ACESSÍVEL E DOS TURISTAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS.
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De uma forma geral temos consciência que o nosso país atravessa um momento de “ouro” no que toca ao turismo, temos a noção que esta área de negócio atualmente alavanca a nossa economia nacional de uma forma substancial, trazendo mais valias importantes para Portugal. O que a grande maioria do público desconhece é que pouco se faz ainda em termos de turismo para pessoas com necessidades especiais, o chamado “turismo acessível”. Note-se que o termo “acessível” a que nos referimos vai muito para além do que é alcançável inanceiramente. Referimo-nos a um turismo que permita um verdadeiro acesso para TODOS, independentemente da sua condição/limitação física ou cognitiva. Apesar de começarmos a assistir a uma tímida evolução, muitas barreiras estão ainda “erguidas”, sendo que essas não existem apenas de forma física, no ediicado, mas também a nível comunicacional. Falamos na comunidade surda que em grande número anualmente nos visita, mas ainda de forma “invisível”, sim, porque “invisível” é a incapacidade de ouvir. Infelizmente este é um segmento na área do turismo ainda pouco explorado. Sem querermos sobre ou subvalorizar as diferentes necessidades que cada turista possa apresentar, devemos primeiramente olhar o turista como alguém que visita determinado local ou país que desconhece (total ou parcialmente) e que por tal, quer obter num breve período de tempo todas as informações, especiicidades e sensações caraterísticas diferenciadoras daquele local visitado. São essas perceções que irão icar-lhe na memória servindo de
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“convite” ou “cartão de visita” para outras pessoas que lhe são próximas. Cada vez mais o turismo é uma atividade apreciada e desenvolvida um pouco em todo o mundo, proporcionando momentos de lazer, conhecimento, partilha, novas experiências e negócios. Em particular quando nos reportamos a Portugal, país com séculos de tradição e história será importante termos a perceção de que se trata de uma atividade cada vez mais exigente, obrigando a uma dicotomia permanente entre inovação e tradição.
O TURISTA NÃO SE RESUME A ALGUÉM DE “MÁQUINA FOTOGRÁFICA AO PEITO”. Esta é uma conceção redutora nomeadamente quando se trata de nativos de outra língua e cultura. Tanto mais que o turista pretende informação para além do ediicado com história que a objetiva da câmara fotográica regista, conhecimento acerca da importância e forma de degustação de um bom vinho e entendimento de um aroma caraterístico de determinada casta. Tornar possível o conhecimento e a experiência de um local ou fenómeno é fundamental, mas para tal é necessário que todos os sentidos estejam presentes. Quando tal não sucede é necessário criar formas de eliminar as “barreiras” de que falávamos há pouco. E tal não se limita apenas ao acesso ao local, mas também o acesso à informação implícita.
SUCEDE COM OS CEGOS ATRAVÉS DO BRAILLE E COM OS SURDOS ATRAVÉS DA LÍNGUA GESTUAL. Na sociedade em geral, ao longo dos últimos anos pudemos veriicar uma maior abertura, sensibilidade e preocupação para estas questões.
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Finalmente começam a ser entendidas com um novo signiicado e relevância. Tendo sido esse o “farol” que iluminou o nosso percurso e nos levou a “bom porto” junto da comunidade surda, passando à prática; à construção e otimização de respostas para estes cidadãos que, tal como os outros, também são do mundo, também se organizam individualmente ou em grupo para percorrerem, conhecerem e explorarem novos destinos, vivências e culturas. Apenas têm necessidade de estabelecer comunicação com o meio de uma forma “menos comum”; através da língua gestual, que é a sua língua natural. Tendo por base a análise das necessidades, a procura internacional e a ausência de respostas, o primeiro passo foi dado em Portugal, em 2016, sob a responsabilidade de uma equipa experiente. Do seu know-how surge a criação de um projeto pioneiro: Hands to Discover - Turismo Acessível para Pessoas Surdas. Que, tal como o próprio nome indica, vai dar a descobrir tudo o que pode ser percecionado pelos nossos ouvidos através das mãos da equipa do Hands to Discover.
Mais uma vez queremos destacar-nos pela positiva, sendo que somos vistos como um povo genuíno, amável e que sabe receber, temos que apostar também na inovação integrando estes conceitos de forma harmoniosa e exequível. Conseguindo chegar a todos de uma forma idêntica, sempre primando pela autenticidade que nos carateriza e pela qualidade que nos orgulha. Inúmeras possibilidades existem ainda para desenvolver e implementar no âmbito do turismo, no que respeita às acessibilidades. Por isso muitos são ainda os projetos que queremos ver concretizados. Estamos cientes de que brevemente se tornarão numa inevitável realidade, de forma a alcançarmos pleno acesso à designada cidadania a que todos temos direito, apesar das especiicidades de cada um. É essa aliás a ideia basilar que tem guiado o nosso trabalho desde o início. Este é, portanto, o primeiro de muitos passos que queremos dar nesta longa caminhada, para fazer chegar o nosso país e a sua riqueza incomparável, a mais turistas de todo o mundo.
MESMO NÃO CONSEGUINDO OUVIR O NOSSO INDISSOCIÁVEL E ÚNICO FADO, PODERÃO SENTI-LO ATRAVÉS DAS MÃOS E CORPO DOS NOSSOS INTÉRPRETES DE LÍNGUA GESTUAL. •
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Evolução e sustentabilidade: equilíbrio necessário
EDUARDO JESUS
©APM MADEIRA
Secretário Regional da Economia, Turismo e Cultura da Madeira
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O DESTINO MADEIRA ATRAVESSA, ATUALMENTE, UMA FASE DECISIVA. Depois de ter vivido, em 2016, o seu melhor ano de sempre, com crescimentos consecutivos e signiicativos em todos os seus indicadores de produção, abrese agora espaço, neste destino, para a consolidação de um novo paradigma de desenvolvimento, especialmente focado na qualidade do serviço que é prestado aos turistas e assente na sua autenticidade e numa vasta oferta que pode ser desfrutada, com bom clima e segurança, ao longo de todo o ano.
UMA OFERTA QUE SE ENRIQUECE GRAÇAS AO ELEMENTO HUMANO. Há uma arte de bem-receber e acolher quem nos visita que, evidenciando a nossa cultura e genuinidade, nos distingue dos demais concorrentes e nos confere o reconhecimento internacional de quem procura, acima de tudo e mais do que conhecer ou repetir um destino turístico, uma experiência única. Porque é também disso que se trata: de uma experiência que se torna única porque vivida em conjunto, entre turistas e residentes. Falar de turismo numa região como a nossa é falar de uma cultura turística com mais de 200 anos de história que se alimenta, renova e partilha, diariamente, junto de todos os que nos fazem escolha, em complemento a toda uma oferta de qualidade que responde e corresponde a gostos e expetativas convergentes entre si.
É nesta airmação pela diferença e pela qualiicação das nossas respostas que estamos ainda mais concentrados e apostados, nesta nova fase de crescimento, conscientes de que, também aqui, existe um enorme potencial de melhoria que se assume, simultaneamente, como uma importante oportunidade para satisfazermos e idelizarmos os nossos visitantes. Esta estratégia encontra, precisamente, na requaliicação do setor, a sua maior alavanca. Na realidade, a requaliicação que defendemos é transversal e consta da nova Estratégia para o Turismo da Madeira 2017-2021, recentemente em discussão pública, como um dos três grandes objetivos a atingir. Envolve, para além da oferta, os recursos humanos e toda a cadeia de valor que, diariamente, contribui para reforçar a notoriedade e a coniança dos mercados, no produto que somos. Acreditamos que o crescimento do setor turístico regional só se cumpre, na sua plenitude, se contribuir, simultaneamente, para a preservação do ambiente e da envolvente natural que diferencia o destino Madeira no mercado e que atrai as atenções dos turistas e, também, para o desenvolvimento socioeconómico das localidades onde a oferta existe e se potencia. É neste equilíbrio entre a evolução que se projeta e a sustentabilidade sócio ambiental que se defende, que reside um dos grandes desaios para o futuro. Os resultados que têm vindo a ser atingidos deixam-nos coniantes. A responsabilidade é enorme mas, também, motivadora para continuarmos a trabalhar, com entusiasmo e ainco, na construção, junto dos nossos turistas e com todos os nossos residentes, daquele que é o melhor destino insular do mundo. •
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À CONVERSA COM
Jan-Erik Ringertz Diretor The Yeatman Hotel, Porto
Qual a importância do serviço no setor do turismo? O turismo de qualidade alicerça-se na excelência de serviço, sobretudo quando falamos em hotelaria de luxo. No The Yeatman, gostamos que os nossos hóspedes se sintam em casa e que encontrem na nossa equipa a simpatia e disponibilidade para que a sua estadia seja memorável. Portugal é um país naturalmente hospitaleiro. É importante capitalizar essa qualidade intrínseca e elevá-la à excelência, o que pressupõe proissionalismo e consistência.
Como avalia o estado atual do serviço ao turista em Portugal? A evolução do turismo em Portugal nos últimos anos tem conduzido a uma importante e positiva evolução da qualidade de serviço prestado ao turista. Assistimos não só ao surgimento de várias unidades hoteleiras de luxo, como também à soisticação da oferta turística de qualidade. É importante que a qualidade de serviço se estenda à restauração, às atividades de lazer, aos serviços de transporte e a todas as indústrias complementares ao turismo.
O The Yeatman tem na qualidade de serviço um dos seus pilares. Queremos que os visitantes tenham a melhor experiência na cidade do Porto. A qualidade de serviço está na atenção aos detalhes, na capacidade de perceber que cada hóspede é único e assegurar que superamos as suas expetativas a todo o momento ao longo da sua estadia. •
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©THE YEATMAN
No contexto do serviço ao turista, como se posiciona e distingue o The Yeatman Porto?
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92 BEST IN TRAVEL
TOP hostels na Europa Fonte: The Guardian
É possível desfrutar de uma pausa low-cost na cidade, sem comprometer o conforto e as comodidades como se pode ver nesta seleção.
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BEST IN TRAVEL
Les Piaules
Generator
Um edifício de art deco na trendy Belleville. Perfeito para jovens interessados em aproveitar a vida noturna circundante. O prédio foi inteiramente reformado e pensado para ser um albergue confortável.
Começou por ser um armazém e foi depois transformado em hostel. No seu interior encontrará luxuosos pisos em mosaico, um lustre em vidro, uma imponente lareira de pedra, sofás em pele e um bar de madeira.
Paris
Veneza
Camas dormitório a partir de 25€ Quartos duplos a partir de 90€
Camas dormitório a partir de 16€ Quartos duplos a partir de 38€
ClinkNoord
Circus Hostel
É uma enorme propriedade que tem como objetivo combinar bom design e atmosfera social. Está bem localizado, embora os quartos sejam básicos - como seria de esperar para um albergue com 750 quartos.
Este hostel, localizado no centro de Berlim, possui uma microcervejaria, oferece passeios a pé, bicicletas e iPads para alugar, e um calendário de eventos que vai desde yoga a fotograia noturna.
Amesterdão
Berlim
Camas dormitório a partir de 12€ Quartos duplos a partir de 81€
Camas dormitório a partir de 19€ Quartos duplos a partir de 75€
LaBanda Rooftop
Soul Kitchen Junior
Com vista sobre a incrível catedral de Sevilha, o terraço do hostel serve jantares todas as noites. É o local ideal para mochileiros, uma vez que não há quartos privativos, apenas dormitórios.
A decoração do hostel é maravilhosa. Os quartos estão repletos de uma mistura de móveis antigos e decorações kitsch. A pousada ocupa um enorme edifício neo-barroco no coração de uma das zonas mais bonitas da cidade.
Sevilha
São Petersburgo
Camas dormitório a partir de 15€ Quartos duplos a partir de 56€
Camas dormitório a partir de 23€
Sir Toby’s
Tattva Design
Praga
Porto
Este hostel tem um ótimo pub na adega, um belo jardim traseiro e quartos com piso de madeira, com bastante luz, espaço e mobiliário retro. Não ica no centro, mas a zona é bem servida por transportes.
Ocupando dois edifícios renovados no centro do Porto, este hostel tem quartos muito bem decorados, com casas de banho privativas. O espaçoso terraço permite banhos de sol e a realização de churrascos no verão.
Camas dormitório a partir de 10€€ Quartos duplos a partir de 32€
Camas dormitório a partir de 15€ Quartos duplos a partir de 47€
Celica Hostel
The Yellow
É difícil pensar num uso melhor para uma ex-prisão do que a transformação num hostel. Fundado na ideia do potencial do espírito criativo, mais de 80 artistas participaram na sua adaptação. Tem galeria de arte, café e restaurante.
Este é deinitivamente um hostel que tem como objetivo promover uma atmosfera agitada. Há um bar, um clube e um terraço no último piso. Tem um grande mini-cinema com projetor além de aulas de ioga.
Ljubljana
Camas dormitório a partir de 18€ Quartos duplos a partir de 24€/pessoa
Roma
Camas dormitório a partir de 15€ Quartos duplos a partir de 50€
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Transformações políticas e implicações para o Turismo em 2017 Richard BUTLER Professor, Universidade de Strathclyde Glasgow, Reino Unido
PROVAVELMENTE MAIS DO QUE QUALQUER PERÍODO DESTE SÉCULO, 2017 DEVERÁ SER UM ANO COM MAIS INCERTEZAS E QUESTÕES QUE VÃO AFETAR O TURISMO.
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INTERNACIONAL
O TURISMO ESTÁ SEMPRE SUJEITO A MUDANÇAS POLÍTICAS E, EMBORA EM 2017 NÃO VENHAM A ACONTECER TRANSTORNOS POLÍTICOS COMO A ABOLIÇÃO DO APARTHEID EM ÁFRICA OU A QUEDA DO MURO DE BERLIM E A CORTINA DE FERRO, ESPERAM-SE GRANDES SOBRESSALTOS.
Na América do Norte e Central, incluindo as Caraíbas, há muitas incógnitas. A relação em mudança entre os EUA e Cuba pode continuar a melhorar e, nesse caso, muitos americanos podem passar a ter Cuba como destino de férias, uma vez que estão autorizados a visitar o país, particularmente após a morte recente de Fidel Castro. No entanto, se o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, reverter para uma atitude de linha dura em relação a Cuba, o padrão de visitação dos EUA nas Caraíbas pode continuar a ser o mesmo que atualmente. O que Trump pode vir a fazer em relação ao México também é incerto e, também pode ter um impacto signiicativo na saída de turistas dos EUA, caso as relações se deteriorem nos próximos meses. Se isso acontecer, provavelmente o Canadá e a Europa vão beneiciar com um aumento do número de visitantes norte-americanos.
europeu e vice-versa, embora a indústria do turismo espere que o bom senso prevaleça nas negociações e os atuais acordos permaneçam. É improvável que qualquer residente da Europa, seja dentro ou fora da União Europeia, aceite restrições colocadas às suas viagens de férias. A queda do valor da libra desde o referendo do Brexit tornou o Reino Unido mais atrativo para os países do euro, o que já se traduziu num aumento do número de visitantes do continente nos cinco meses desde junho.
Na Europa também há muitas incertezas. O voto no Brexit não deverá ter consequência nas viagens na Europa em 2017, embora possa ter impactos pelo facto do Reino Unido ter terminado o seu processo da saída da União Europeia. A reinstituição dos controlos de viagem, dos vistos e das taxas de entrada de e para o Reino Unido talvez possam inibir as viagens britânicas ao continente
Em geral, é provável que menos europeus viajem para os Estados Unidos, em parte como resposta aos resultados eleitorais, mas também devido ao possível aumento das medidas de segurança nas fronteiras nos Estados Unidos e da força do dólar americano.
Por sua vez, o declínio da libra e do euro em relação ao dólar dos EUA também tornou a Europa mais atrativa para os visitantes norte-americanos, mas o luxo de turistas vai depender muito da ação do novo presidente, na perspetiva dos norte-americanos se sentirem seguros e bem-vindos nas suas visitas ao exterior.
Com as eleições nos principais países europeus nos próximos meses, a paisagem
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política e, portanto, o panorama do turismo pode mudar de forma rápida e signiicativa. Se a estabilidade se mantiver, os países do sul da Europa devem beneiciar das questões de instabilidade e segurança, reais ou percebidas, que atualmente existem no Mediterrâneo. O declínio da atratividade da Turquia, devido a questões de segurança e política interna, teve ramiicações para alguns grupos de viagens à escala europeia, e é provável que em 2017 os números sejam inferiores aos últimos anos. Os acordos de refugiados são uma das questões a ter em conta, bem como a violência interna e os problemas de segurança. A imagem negativa do destino para os turistas pode piorar no próximo ano. A redução do número de visitantes europeus na Turquia relete-se no declínio das visitas a países do Norte de África e do Médio Oriente em geral. O terrorismo na Tunísia resultou numa queda drástica do número de visitantes no destino, e a Líbia deixou de ser um destino turístico atrativo. É improvável que o Egito recupere para já dos efeitos da Primavera Árabe, da queda do avião russo em 2015, dos golpes de governo e do comportamento das forças de segurança opressivas, embora esteja a esforçar-se muito para recuperar o seu mercado. Até que as proibições impostas pela Rússia e pelo Reino Unido sejam levantadas, o que signiicaria coniança ao nível da segurança no país, é provável que os numeros do turismo se mantenham baixos. No resto do Médio Oriente, a situação não parece muito melhor. A Síria e o Iraque vão continuar a ser áreas a evitar para a maioria dos turistas e companhias aéreas, provavelmente durante todo o ano de 2017, se não mais. A Jordânia manteve o seu mercado de turistas, e se conseguir manter a segurança poderá emergir como um destino árabe favorecido em 2017. No entanto, a incógnita mantém-se devido aos acontecimentos nas fronteiras do país. Israel, como sempre, é um caso especial, e apesar dos conlitos com os seus vizinhos, deve continuar a recorrer à diáspora e aos mercados regulares. Há também um crescente mercado turístico muçulmano para a Palestina, por isso, dependendo de como as estatísticas são registadas, Israel, incluindo a Palestina, poderá veriicar aumento no número de visitantes em 2017. Os Estados do Golfo têm sido o caso de sucesso do Médio Oriente nos últimos anos e não mostram sinais de perder atratividade. A combinação entre uma promoção agressiva, companhias
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aéreas de bandeira de alta qualidade, assim como instalações e atrações únicas faz com que seja provável que o número de turistas nestes estados aumente novamente em 2017. O elemento desconhecido nesta região é o Irão, que parece estar a emergir de novo como destino turístico relevante. Os acordos com os Estados Unidos e a Europa, no que diz respeito à compra de aeronaves e aos arranjos associados para manutenção e atualização dos novos aviões, eliminam um problema que limitou o crescimento do turismo no país e os tratados políticos recentes sugerem que os antigos mercados turísticos possam ser recuperados a partir de 2017. Permanece a incerteza sobre a coerência no tratamento aos visitantes, sejam turistas ou retornados iranianos. As estatísticas vão estar dependentes da comunicação social e das decisões políticas e religiosas tomadas pelo país. Mais para leste, espera-se um crescimento contínuo, especialmente para dentro e fora da China, se não ocorrer nenhum imprevisto no Mar da China Meridional. A política interna pode dissuadir alguns potenciais visitantes para as Filipinas, mas o “Extremo Oriente” deverá permanecer tão atrativo em 2017 quanto tem sido nos últimos anos. A Austrália e a Nova Zelândia vão continuar a ser destinos turísticos atrativos, a menos que exista um aumento repentino e signiicativo ao nível do combustível, que pode afetar as tarifas aéreas, uma vez que são destinos de longo curso para quase todos os visitantes. A América do Sul continua a ser um misto. É provável que a Argentina beneicie de uma economia mais estável e outros países como o Chile e o Equador permaneçam fortes, mas o Brasil deverá registar um declínio acentuado do número de turistas por causa da má organização e dos problemas políticos que se vivem no país. O Brasil não conseguiu retirar os potenciais benefícios da organização do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos de Verão. Nos últimos dois anos o crescimento dos números do turismo não acompanhou as expetativas. Sem eventos semelhantes no futuro e face ao caos atual da política interna do país, os resultados do turismo devem registar quebra e não aumento. Relativamente aos outros países da América do Sul e Central, não são esperadas mudanças signiicativas no turismo em 2017, mas caso o novo canal das Caraíbas para o Pacíico entre em funcionamento, poderá registar-se um aumento do tráfego de cruzeiros na região.
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Na África subsariana, há boas notícias para o turismo, para além do estabelecimento da Comunidade da África Oriental. Trata-se de um grupo de seis países que fazem um esforço positivo para estimular o turismo, com acordos de visto comuns e esforços para facilitar as viagens e o comércio entre si, promovendo juntos a atratividade turística da região, que inclui o Monte Kilimanjaro, o Serengeti e outras grandes áreas de vida selvagem. A situação política na África do Sul não parece ter tido impactos negativos no turismo, até à data, mas a instabilidade e a violência interna podem vir a ter efeitos negativos se continuarem a aumentar em 2017. Em suma, como na maioria dos anos, a conclusão geral é mais do mesmo, mas com algumas ressalvas decorrentes das incertezas.
COMO AFIRMADO ANTERIORMENTE, EM 2017 O TURISMO ESTARÁ, PROVAVELMENTE, MAIS VULNERÁVEL AOS EVENTOS POLÍTICOS E AOS SEUS EFEITOS SECUNDÁRIOS, O QUE O DEVE TORNAR UM ANO INTERESSANTE, EMBORA DIFÍCIL, PARA O TURISMO EM ALGUNS PAÍSES. •
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JOHN BOWEN Professor Universidade de Houston Estados Unidos da América
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Sistemas de distribuição disruptivos
A INDÚSTRIA DAS VIAGENS TEM ASSISTIDO AO APARECIMENTO DE CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO DISRUPTIVOS A UM RITMO CADA VEZ MAIOR. Este facto deve-se à intangibilidade, à fragmentação da indústria hoteleira e à inovação através do uso da tecnologia.
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A Priceline, grupo de agências de viagens online (OTA), valia 75 mil milhões de dólares no momento em que este artigo foi escrito, o que o tornava mais valioso do que o Hilton ou o Marriott. O Priceline não precisa de se preocupar com recursos humanos, manutenção de propriedades ou pagamentos de dívidas dos hotéis. A economia de partilha, através de serviços como Uber e Airbnb também tem sido uma força disruptiva. Estima-se que a UBER, empresa de partilha de transporte, valha cerca de 68 mil milhões de dólares e a Airbnb, empresa de partilha de casas, tem um valor estimado de 30 mil milhões de dólares.
ESTE ARTIGO DESCREVE A MUDANÇA DE CENÁRIO AO NÍVEL DA DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS DE VIAGENS E SUGERE FORMAS DE ADAPTAÇÃO À MUDANÇA. INTANGIBILIDADE A distribuição de produtos de viagem implica mudar os clientes para o produto viagem. Ao contrário do que acontece com a distribuição de produtos tangíveis, não há nenhum produto físico que tenha que ser armazenado e enviado. Isto permite às empresas de base tecnológica distribuir produtos de viagem pela Internet. Os produtos de viagem são experimentais, e quem compra pela primeira vez não pode avaliar a qualidade da experiência até a ter experimentado. Esta situação implica risco para quem compra o produto pela primeira vez. Uma das formas que as marcas têm para criar valor é oferecer consistência e retirar o risco inerente à compra de um produto desconhecido. Os conteúdos gerados pelos utilizadores (UGC), que encontramos em redes sociais e agências de viagens online reduzem o risco de compra de marcas desconhecidas. Os UGC contribuíram para o aumento da coniança dos clientes no que diz respeito à compra de produtos desconhecidos
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mas que têm bom feedback dos utilizadores. O alcance global das agências de viagens online e a redução de risco possibilitada pelos UGC permitiram que cadeias menores e hotéis independentes passassem a competir, efetivamente, contra marcas multinacionais.
FRAGMENTAÇÃO Oitenta por cento das receitas da Southwest Airlines vêm das reservas no site brand.com. Recentemente, a Lufthansa Airlines adicionou uma taxa de 18 dólares aos bilhetes comprados através de uma OTA, a im de desencorajar os viajantes a usar este canal. As companhias aéreas são menos dependentes de OTAs uma vez que controlam o seu inventário. A indústria hoteleira é uma indústria muito fragmentada, em termos de propriedade. Em consequência, marcas hoteleiras como Hilton e Marriot têm pouco controlo sobre o seu stock; os proprietários dos hotéis, não a marca, controlam-no. Isto constitui uma oportunidade para as OTAs serem um canal para os hotéis que precisam de vender os seus quartos para melhorar o cash low. Acontece com frequência alguns proprietários estarem dispostos a pagar comissões elevadas para vender os seus quartos para estes não icarem desocupados. Consequentemente, cria-se um ambiente competitivo onde outros hotéis recorrem às OTAs para ganhar competitividade. As comissões e taxas pagas às OTAs podem representar um terço, ou mais, dos lucros líquidos do hotel. Para incentivar os clientes a fazerem a reserva diretamente, algumas marcas de hotéis não oferecem pontos de idelidade ou benefícios aos hóspedes que fazem reservas através de OTAs. As OTAs contra-atacam desenvolvendo os seus próprios programas de idelidade, permitindo que os viajantes iquem em várias marcas e ainda sejam recompensados.
INOVAÇÃO ATRAVÉS DO USO DE TECNOLOGIA O crescimento exponencial da tecnologia digital mudou fundamentalmente a maneira como vivemos - como comunicamos, compartilhamos informações, temos acesso a entretenimento e fazemos compras. A familiaridade das pessoas com o acesso aos meios online possibilitou às OTAs chegar aos clientes, tornando-os conscientes das opções disponíveis no destino, do custo dos quartos de hotel ou dos produtos de viagem. Os canais de distribuição para a indústria de viagens estão agora a ser desenvolvidos por especialistas em
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tecnologia, em vez de especialistas em viagens. Parece haver um esforço cada vez maior por parte de pessoas com experiência em tecnologia para ganhar dinheiro com a distribuição de produtos de viagem. Na Phocuswright do ano passado, muitos dos novos produtos de viagens de base teconológica diziam respeito à distribuição. O airmule é um serviço que propõe vender o espaço de bagagem não utilizado. Um turista de um voo de longo curso que tenha duas malas incluídas no preço do bilhete pode vender o seu espaço de bagagem não utilizado a uma transportadora autorizada, como a DHL ou a FedEx. Este serviço permite ao viajante ganhar centenas de dólares por voo, ao transportar consigo uma encomenda em vez da própria mala. A Dayuse é uma companhia francesa que vende quartos para o dia a hóspedes de hotéis. Um hotel que tenha clientes que façam checkin tardio, ao inal da noite, pode obter receitas extra ao pré-designar um número de quartos para o dia. Surgiram também empresas que vendem espaço não utilizado em restaurantes a organizadores de reuniões, a um preço menor do que custaria um espaço semelhante num hotel. A correspondência online entre compradores e vendedores torna esses modelos eicientes e eicazes. A Inteligência Artiicial (AI) é outra aplicação da tecnologia para a indústria de viagens. Está a ser usada para aumentar o envolvimento dos hóspedes e fazer referências de produtos que normalmente seriam feitas por um concierge. Com alguns modelos de negócios de concierge virtual, a comissão ganha pelas taxas de referência dos serviços de viagens compensa o custo do programa. O concierge virtual “Connie”, que tem o nome de Conrad Hilton, está em fase de testes no hotel Hilton, ao lado da sua sede em McLean, Virgínia. Este projeto resulta de uma joint venture entre Hilton, IBM e WayBlazer.
O uso inovador da tecnologia continuará a fornecer produtos que devem ser abraçados pela geração millennial (19802000). Esta geração cresceu na era digital. A escrita é uma das suas formas primárias de comunicação. O Ivy é um programa que aplica AI às mensagens de texto recebidas num hotel e permite que as mensagens sejam respondidas rapidamente sem interromper a atividade na receção. Uma das formas do Ivy criar receita é determinar que hóspedes podem desfrutar de um check-out tardio e sugerir-lhes esse serviço. A aplicação da tecnologia está a transformar a paisagem de muitas indústrias e a indústria de viagens não é exceção. À medida que os paradigmas mudam e a velha maneira de fazer negócios se torna menos relevante, quem não se atualizar pode estar em risco. É evidente que haverá sempre lugar para concierges humanos, mas nos hotéis de três e meia ou quatro estrelas, podem vir a tornar-se menos comuns no futuro.
SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO NA ECONOMIA DE PARTILHA Não há nada mais disruptivo do que os serviços criados pela associação da economia de partilha com a tecnologia. O serviço de táxi é alvo de aproveitamento por alguns motoristas, que levam os turistas por rotas indiretas, demoram mais tempo que o necessário e, em algumas cidades, é mesmo difícil encontrar um táxi ao virar da esquina. Empresas como a Uber serviram-se da tecnologia para ultrapassar os aspetos negativos do serviço de táxi. A plataforma liga passageiros e motoristas. O passageiro sabe quanto vai custar a viagem antes de a comprar e se o motorista escolher um caminho errado, o preço não aumenta. O passageiro sabe quanto tempo o motorista vai demorar a chegar, tempo esse que, muitas vezes, é superestimado para gerir as expetativas. A Uber veio trazer um
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grande serviço ao cliente mas, ao mesmo tempo, retirar o ganha-pão dos motoristas de táxi proissionais, que tinham investido em equipamento e licenças. A Uber está agora a usar a sua base de clientes para entrar no mercado da entrega de alimentos. Distribui refeições entre restaurantes e clientes, cobrando 30% por este serviço. Tal como acontece com as agências de viagens online, a Uber Eats cobra pelo seu serviço uma parte substancial dos lucros dos restaurantes. A Airbnb desenvolveu a tecnologia que permite às pessoas a partilha de casas, apartamentos ou condomínios com outras pessoas. Embora tenham existido websites de partilha de alojamento anteriores, a Airbnb criou o anitrião, dando um toque pessoal à relação entre o convidado e o proprietário, contribuindo para que o arrendamento de alojamento não utilizado trouxesse mais concorrência à indústria hoteleira. No entanto, a Airbnb também gera controvérsia. Alguns proprietários não pagam impostos, não cumprem as mesmas normas de segurança dos hotéis e não estão preparados para receber pessoas com deiciência, requisitos esses que são obrigatórios nos hotéis. Tal como a Uber, a Airbnb também usou a sua carteira de clientes para se expandir para a distribuição de outros produtos, tais como visitas a locais e refeições preparadas por residentes. O fornecimento destas experiências vai ao encontro dos turistas que procuram uma experiência local.
No entanto, também pode resultar na preferência pelos produtos adquiridos através da economia de partilha, em detrimento dos produtos tradicionais.
IMPLICAÇÕES PARA A INDÚSTRIA TURÍSTICA Alguns sistemas de distribuição disruptivos têm implicações muito positivas nas empresas do turismo. Outros podem destruir o paradigma existente, mas impulsionar a indústria para a frente, no sentido de oferecer um produto melhor ao cliente. A Uber e outras empresas de partilha são exemplo deste tipo de inovação. Outros sistemas de distribuição usarão a tecnologia para ganhar uma parte dos lucros produzidos pela indústria do turismo, capturando consumidores e cobrando uma comissão por esses clientes. Outros ainda estão à procura de formas de revender produtos turísticos não utilizados, como o espaço de bagagem. Dada a evolução na distribuição dos produtos turísticos, a indústria deve encontrar formas de incluir a distribuição disruptiva que a beneicia e reconhecer as suas vulnerabilidades, desenvolvendo sistemas mais eicazes para neutralizar os produtos que ameaçam a rentabilidade da indústria. Por exemplo, no caso das agências de viagens online, os hotéis aumentaram os benefícios da reserva direta e negociaram contratos mais vantajosos.
É IMPORTANTE PERCEBER QUE AS MUDANÇAS ESTÃO EM CURSO, E A UM RITMO CADA VEZ MAIOR. OS GESTORES TÊM DE SER PROATIVOS NA FORMA COMO LIDAM COM A ESTRUTURA EM MUDANÇA DOS SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO. •
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DESTINOS
DESTINO EM DESTAQUE
MACAU AS PLACAS NA LÍNGUA DE CAMÕES PERMANECEM, ASSIM COMO AS FACHADAS COLONIAIS, MAS A PRESENÇA LUSITANA É CADA VEZ MENOS SENTIDA. Encontrar alguém que fale português em Macau não é tarefa simples. Macau é administrado pela China desde 1999 e desde então, aproveita o seu status de região administrativa independente e explora ao máximo o seu potencial turístico.
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A ex-colónia portuguesa exibe um êxito idílico, devido em parte ao luxo inanceiro proveniente dos estabelecimentos de jogo.
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FACTOS DA REGIÃO Designação oicial: Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China Capital: Cidade de Macau População: 643,1 mil habitantes (2015) Densidade populacional: 21 224 habitantes/km2 Área: 30,2 km2 Moeda: Pataca de Macau (MOP) Língua oicial: Português e Chinês PIB: USD$ 51,8 mil milhões População que vive abaixo do limiar da pobreza: 17,5% (2014) Indicativo internacional: +853
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Clima: Subtropical húmido, inluenciado pelas monções
CONTRIBUIÇÃO DO TURISMO EM 2015
14,3M TURISTAS
129,7mil POSTOS DE TRABALHO
34,7% PIB
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Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
DESTINOS
Fortaleza do Monte Construída entre 1617-1626. Ao longo das décadas foi transformada num parque público e é muito popular entre os residentes e turistas, pela sua beleza panorâmica.
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ALGUNS PONTOS DE INTERESSE
Museu de Macau Inaugurado em 1998, é um espaço dedicado à história e cultura de Macau, que demonstra a forma de viver das várias comunidades que habitaram a região ao longo dos séculos.
Ruínas de S. Paulo
Torre de Macau Construída em 2001, tem 338 metros e é a 22ª torre mais alta do mundo. Oferece uma vista panorâmica de Macau e a partir da plataforma exterior é possível fazer um dos mais altos saltos de bungee jumping do mundo.
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As ruínas referem-se à fachada da antiga Igreja da Madre de Deus e às ruínas do Colégio de S. Paulo, que icava localizado perto da igreja, tendo estes sido destruídos por um incêndio em 1835.
Quartel dos Mouros É um edifício neoclássico com alguns elementos arquitetónicos de inluência Mughal. Construído em 1874 na encosta da Colina da Barra, tinha como função alojar um regimento indiano oriundo de Goa.
Desde sempre se assumiu como o centro urbano de Macau e é, ainda hoje, o local mais popular para eventos públicos, festejos e atividades culturais. Aqui podemos encontrar a famosa calçada Portuguesa.
Templo de Á-Ma O templo já existia antes da cidade. É composto por vários pavilhões dedicados à veneração de diferentes divindades, o que faz dele um caso único da cultura chinesa inspirada em várias religiões e crenças populares.
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Largo do Senado
Este é um dos mais luxuosos casinos de Macau. Está situado num impressionante edifício com mais de 58 andares. É composto por 430 quartos de luxo, quase 270 mesas de jogo e 800 máquinas de slots.
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Grand Lisboa Casino
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À CONVERSA COM
RODOLFO FAUSTINO Coordenador Turismo de Macau em Portugal
O turismo de Macau goza de boa saúde. Como descreve a situação atual do turismo de Macau? Acabaram de ser publicados os números de chegadas a Macau em 2016, quase 31 milhões de visitantes, representando um ligeiro aumento de 0,8% face a 2015. Perante estes números, e considerando o tamanho reduzido de Macau(31 km2), um dos objetivos principais da Direção dos Serviços de Turismo da RAE Macau é de aumentar a estadia média dos turistas. Atualmente, situa-se nas 2,1 noites, com uma taxa de ocupação média superior a 80,5%. As condições para atingir este objetivo são favoráveis - em Macau tem-se vindo a veriicar um enorme investimento, ao longo da última década, no aumento da sua capacidade hoteleira. Neste momento, dispõe de mais de 30.000 quartos, a grande maioria dos quais nas categorias de luxo e de 4* e 5*. Por vezes até nós icamos confusos acerca do número exato, porque continuam a abrir novas unidades hoteleiras e resorts com alguma regularidade. Depois, se olharmos à proveniência dos turistas, é natural os primeiros 3 lugares serem ocupados pela República Popular da China, Hong Kong e Taiwan, quer dizer, por vizinhos imediatos. De facto, os EUA são a única exceção não-asiática nos “Top 10”, situando-se no 9º lugar. Daí mais um objetivo para o turismo de Macau - o de uma maior diversiicação em termos de proveniência de turistas. É um processo moroso mas que começa a dar os primeiros frutos, em 2016 Macau recebeu mais 4,7% de turistas das Américas, mais de 5,7% da Europa e mais 1% da Oceânia. O número de turistas do Médio Oriente e da África baixaram, mas ambos os locais não são emissores tradicionalmente fortes para Macau.
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Quais as perspetivas de evolução? Com um mercado em grande expansão, como é o da República Popular da China mesmo ali ao lado e cerca de um terço da população mundial entre 3 a 5 horas de voo de distância, as perspetivas continuam a ser excelentes, creio. Com os investimentos que se têm vindo a veriicar em infraestruturas turísticas e em acessibilidades, como é o caso do novo terminal marítimo a inaugurar brevemente, e de uma das maiores pontes do mundo (55 km) que vai ligar Hong Kong - Macau - Zhuai , em fase de conclusão, para além dos novos resorts em construção e da constante valorização do produto turístico, tudo indica que o turismo continuará a ser o principal motor do desenvolvimento económico de Macau e que as perspetivas de evolução são positivas.
Quais as principais motivações para a escolha de Macau como destino turístico? Uma das motivações principais para visitar Macau continua a ser o passado comum de mais de 450 anos que partilhámos nesta terra com a comunidade chinesa, ainda visível na sua arquitetura, festividades, toponímia, gastronomia, língua, e muito mais. Uma parte desta herança foi consagrada como Património Mundial da UNESCO em 2005, denominado “O Centro Histórico de Macau”. Uma outra atração forte é o “novo” Macau que originou já no novo milénio e que alterou, de certa forma, o “destino” de Macau, acabando deinitivamente com o cliché da aldeia piscatória ao lado da metrópole Hong Kong. É o Macau dos hotéis e resorts luxuosos, dos restaurantes com 1,2, ou 3 estrelas Michelin, dos bares e espetáculos, dos centros comerciais com marcas de topo internacionais - sem esquecer, no entanto, o passado, o original por trás do luxo.
DESTINOS
Depois, Macau sempre foi uma porta para a China, e continua a sê-lo, em termos económicos e de uma perspetiva do turismo de negócios. Aqui ainda tem muito potencial de crescimento. Pela sua localização, também pode ser usada como porta de entrada para o Nordeste e Sudeste asiático ou para a Oceânia, quer dizer, fazer-se uma paragem de aclimatização à nova zona horária e ao mesmo tempo conhecer o “cantinho” de Portugal na Ásia. Obviamente, ainda existem muitos portugueses que trabalharam ou viveram em Macau e que continuam interessados pelo destino, revisitando a cidade.
Qual a posição de Portugal como destino emissor de turistas para Macau? Continua a ser um mercado apetecível? Macau continua a ser um destino apetecível para os portugueses, como costumo dizer, deveria ser “obrigatório” os portugueses visitarem Macau pelo menos uma vez na vida, julgo que nos faz muito bem conhecer um território, tão bem sucedido, onde se respira Portugal, falamos de mais de 450 anos de história conjunta, como já referi. O mercado português continua a corresponder ao nosso apelo e o número de visitantes continua a crescer, perspetivamos maior procura pelo destino e consequente crescimento com o aparecimento de voos diretos para a China, a partir de meados deste ano.
O que é que está a ser feito para captar mais turistas portugueses para Macau?
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O nosso escritório em Lisboa, representação oicial do “Turismo de Macau em Portugal”, promove Macau através de um grande leque de atividades, algumas das quais tradicionais, tais como a presença em feiras da especialidade que apelam ao público em geral, mas também em feiras ou iniciativas mais restritas que se dirigem a um público especializado, tais como as viagens de negócio ou viagens de lua-de-mel.
presentes nos media do trade e em revistas de viagens; organizamos exposições fotográicas sobre Macau com fotógrafos de renome em colaboração com câmaras municipais e universidades; vamos às escolas de turismo e gestão hoteleira falar sobre o destino Macau e a introduzir a gastronomia em Macau, que é um tema extremamente interessante e abundante devido à diversidade de cozinhas e à qualidade excecional da restauração; participamos em iniciativas e festivais que proporcionam alguma ligação a Macau; através da nossa Livraria divulgamos a produção literária em Macau e na China e estamos presentes na Feira do Livro de Lisboa e noutras feiras da especialidade, oferecemos condições para lançamentos de livros. Como vê, o nosso campo de atuação é bastante alargado e vai para além do que é habitual para uma representação de turismo.
Apelamos à geração mais nova, que nasceu pouco antes ou já depois da entrega de Macau à República Popular da China e que agora começa a viajar, para os interessar no nosso destino, mostrar-lhes a ligação ainda existente entre Portugal e Macau. •
Estamos a colaborar com o trade na realização de workshops e formação de agentes de viagem por todo o país, para os sensibilizar para o destino; estamos
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DESTINO EM DESTAQUE
BRASIL
PRAIAS PARADISÍACAS, CLIMA AMENO DURANTE TODO O ANO, PAISAGENS ÚNICAS, GASTRONOMIA, ARTESANATO E A SIMPATIA DAS PESSOAS SÃO AS PEDRAS BASILARES DA OFERTA DO DESTINO. O Brasil é atualmente o país da América do Sul que recebe mais turistas internacionais, seguido da Argentina e Chile. Pelos números é fácil perceber a importância que o turismo tem no território, no entanto, é inequívoco que o potencial turístico do Brasil ainda tem muito por explorar.
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DESTINOS
FACTOS DO PAÍS Capital: Brasília População: 207,8 milhões de habitantes (2015) Densidade populacional: 24 habitantes/km2 Área: 8,5 milhões de km Moeda: Real do Brasil (BRL) Língua oicial: Português Principais cidades: S. Paulo, Brasília e Rio de Janeiro Clima: tropical, equatorial, sub-tropical e semi-árido PIB: USD$ 1,75 biliões População que vive abaixo do limiar da pobreza: 21% (2015) Competitividade: 75º | Ranking do Global Competitiveness Index 2015/16
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Transparência: 76º | Ranking do Corruption Perceptions Index 2015 Facilidade de negócios: 116º | Ranking do Doing Business 2016 Indicativo internacional: +55
CONTRIBUIÇÃO DO TURISMO EM 2015 Argentina EUA
6,3M ©EMBRATUR
TURISTAS
2,6M
POSTOS DE TRABALHO
3,3% PIB
Chile
PRINCIPAIS MERCADOS EMISSORES
Fontes: Banco Mundial, WTTC Data Gateway, CIA, OMT, AICEP
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ALGUNS PONTOS DE INTERESSE
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Cristo Redentor (Rio de Janeiro) Inaugurado em 1931, é um dos postais mais conhecidos do Rio de Janeiro e do Brasil, atraindo mais de 1 milhão de visitantes por ano.
Cataratas do Iguaçu (Paraná) Consideradas património natural da humanidade pela UNESCO, são mundialmente reconhecidas pela sua beleza e singularidade. São um dos locais mais visitados por turistas estrangeiros no Brasil.
Pantanal (Mato Grosso) Região considerada pela UNESCO como Património Natural Mundial e Reserva da Biosfera. É uma das maiores extensões alagadas contínuas do planeta.
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Parque Estadual do Jalapão (Tocantins) Oásis cercados por cachoeiras, poços de águas verdeesmeralda, dunas gigantescas, fazem parte da paisagem deste parque selvagem e de difícil acesso, que é pouco conhecido pela maioria dos turistas.
Lençóis Maranhenses (Maranhão) Paraíso escondido no Nordeste do Brasil, os Lençóis Maranhenses são um dos principais destinos turísticos do Maranhão. O ideal é visitar entre os meses de junho e setembro, altura em que as lagoas estão cheias.
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Floresta Amazónica (Amazonas) Possui uma extensão de 7 mil quilómetros quadrados e a maior parte da loresta localiza-se em território brasileiro. Em função da sua biodiversidade, é considerada uma das mais importantes lorestas tropicais do mundo.
São Miguel dos Milagres (Alagoas) Praias quase desertas e coqueirais sem im. É um dos poucos lugares de Alagoas onde as caraterísticas sociais e naturais permanecem inalteradas. Disponibiliza pousadas de muito bom gosto e em harmonia com a natureza.
Museu Oscar Niemeyer (Curitiba)
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Pela sua grandiosidade, beleza e pela importância do acervo, é atualmente uma instituição cultural com projeção nacional e internacional. Tem como foco as artes visuais, a arquitetura e o design.
DESTINOS
À CONVERSA COM
Vinicius NOME SOBRENOME Lummertz Presidente Posição Empresa Embratur
Como descreve a situação atual do turismo do Brasil? O turismo no Brasil encontra-se num patamar nunca antes registado. A receção de megaeventos é o fator que tem fomentado a procura turística pelo país nos últimos anos, sendo que agora, no período pós-Jogos Olímpicos e Paralímpicos, veriicamos os benefícios reais deste tipo de eventos. Para além da enorme visibilidade que trouxe ao Brasil e do previsto recorde histórico na entrada de turistas estrangeiros em 2016, este período deixou um legado tanto ao nível social, quanto ao nível de infraestruturas e serviços.
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Atualmente, somos a 10ª maior economia de turismo no mundo e o debate sobre possíveis melhorias no setor continua quente, especialmente depois da estimativa do Ministério do Turismo de que 87% dos visitantes internacionais que visitaram o país durante as Olimpíadas demonstraram intenções de regressar.
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Em termos de potencial turístico, o Brasil apresenta a vantagem inegável dos seus recursos naturais, atestada pelo ranking do Fórum Económico Mundial (WEF), o que sempre ajudou a posicionar o mercado entre os principais destinos do mundo. Aproveitando essa diversidade, o setor turístico conseguiu ao longo do tempo desenvolver inúmeras ofertas, reforçando tendências como o turismo de aventura e o turismo de saúde. Isto está alinhado ao nosso desejo de promover aspetos únicos do nosso país.
Quais as perspetivas de evolução? Esperamos reforçar a competitividade do país enquanto destino turístico, fazendo com que o turismo contribua mais fortemente para o nosso desenvolvimento. A Embratur, que completou 50 anos em novembro, tem um papel fundamental nesse cenário. Entre os nossos objetivos estão o aumento da entrada de visitantes e de divisas, tendo o país posicionado como referência em inovação na promoção turística internacional. Apostamos na modernização deste instituto e no marketing digital. Queremos estar presentes em mais países estratégicos e expandir alguns segmentos, como o de cruzeiros e do turismo responsável. Atualmente, o maior obstáculo é a falta de consenso sobre a força do turismo na esfera pública e sobre normas e legislações. Os esforços da Embratur estão voltados para encontrar soluções para estes impasses. A isenção de vistos concedida a alguns países durante a Olimpíada é um dos temas que continuaremos a defender; além de dar maior atenção aos parques naturais e temáticos, procurar a liberalização de jogos de azar e investir ainda mais nas cidades históricas.
Quais são as principais motivações para a escolha do Brasil como destino turístico? O potencial do Brasil enquanto destino turístico recai sobretudo nos seus recursos naturais e na oferta turística que se desenvolveu em torno dos mesmos. As praias, as paisagens e a enorme diversidade de atrativos continuam a captar a maioria dos turistas, que encaram os destinos brasileiros como ideais para o relaxamento e lazer. A hospitalidade e alegria do povo
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são outras caraterísticas constantes na motivação dos turistas internacionais, para além da diversidade e do património cultural. Por outro lado, com uma melhor infraestrutura, o país tem desenvolvido outros nichos, como o de eventos e negócios, turismo desportivo e ecoturismo.
Qual é a posição de Portugal como destino emissor de turistas para o Brasil? Continua a ser um mercado apetecível? Portugal continua a ser um dos países mais importantes e estratégicos para o Brasil. De acordo com dados do Ministério do Turismo do Brasil, em 2015 Portugal situava-se na 10ª posição em termos de chegadas – 5º entre os europeus –, com mais de 162 mil visitantes. Já segundo o Panorama de Mercados Europeus, estudo elaborado pela Embratur, 2015 foi o melhor ano em termos de vendas de viagem e pacotes brasileiros para o mercado português.
O que é que está a ser feito para captar mais turistas portugueses para o Brasil? Temos feito um esforço para que os portugueses conheçam a diversidade de ofertas do turismo brasileiro, para além dos destinos e produtos tradicionais, como o Carnaval ou a passagem de ano no Rio de Janeiro. Segmentos como “natureza, ecoturismo e aventura” e “cultura” apresentaram crescimento em 2015. Também estamos explorando tendências, como o turismo religioso. Entre as ações que desenvolvemos este ano, destacamos a participação da Embratur numa missão empresarial cujo objetivo é a criação de uma rota turística ligando a cidade brasileira de Ourém, em Minas Gerais, com a portuguesa Fátima. •
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RICARDO JORGE PINTO Sub-diretor de Informação Lusa Comentador de Política Nacional RTP Professor Universidade Fernando Pessoa
No fim, tudo arde
UMA PLACA NO MEIO DO DESERTO DO NEVADA SURPREENDE QUEM CHEGA PELA PRIMEIRA VEZ AO BURNING MAN: “ESTÁS EXATAMENTE ONDE PRECISAS DE ESTAR”. UMA SEMANA DEPOIS DE SE VIVER ESTA EXPERIÊNCIA DE MÚSICA, SOM, POEIRA, PARTILHA E FESTA, A FRASE FAZ TODO O SENTIDO. SÓ FAZ SENTIDO.
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Quando cheguei ao Burning Man, fui recebido com um caloroso “bem-vindo a casa”. Para quem já teve a experiência, a semana passada no deserto do Nevada é o lar. O resto do ano é um exílio no mundo externo. Imaginem-se no meio de uma cidade com a população de Coimbra, onde se sentirão a viver no meio de um circo, com centenas de performances a acontecer ao mesmo tempo. Nas ruas, as pessoas mais loucas e bonitas que podem imaginar. Que vos cumprimentam sempre e pedem para vos oferecer coisas (nós retribuímos com retratos polaroide delas). Festas dia e noite. No meio do deserto, esculturas fantásticas: pirâmides, pagodes, um Boeing 747… E poeira. Muita poeira, que cria um ambiente de pós apocalipse. Poeira. A poeira entranha-se. Fica. Lava-se e logo regressa. Não vale a pena tentar resistir-lhe. Mas, na verdade, já ninguém aqui pensa nela. Logo que cheguei, no controlo dos bilhetes, fui abraçado por um ‘jovem’ de 70 anos, totalmente nu, que me sujeitou à praxe de “burner” principiante: deitarme no chão e rebolar na areia. “Isto é o mais limpo que irão icar”, prognosticou o veterano “Burner”. E tinha toda a razão: a partir daquele momento o pó foi-se entranhando. E icando. E acumulando.
É IMPOSSÍVEL DESCREVER O BURNING MAN. NÃO É UM EVENTO. NEM SEQUER UM CONCEITO. TURISMO’17 _ ANUÁRIO DE TENDÊNCIAS
E a poeira durou toda a semana. E durante esse tempo, tudo pode acontecer. Numa tenda, assisti a uma palestra sobre Michel Foucault. Ao lado, organizava-se uma corrida de homens em sapatos de salto alto (preferencialmente, embriagados), muito perto de uma outra tenda onde passavam, em contínuo, ilmes porno, para assistir enquanto se comia donuts oferecidos. E tudo isto se repete por milhares de eventos, envolvendo milhares de pessoas, vindas de dezenas de países com ininitos propósitos e nebulosos desígnios. Tudo ‘non stop’. Durante os dias que passei no Burning Man não me recordo de ter dormido mais de 20 minutos seguidos, seduzido por inúmeras solicitações, desperto por sons e luzes que nos atraem para as mais incríveis esculturas erigidas no meio do deserto. O BM não para. Nunca. 24 horas por dia. Sete dias da semana. Cada minuto acontecem centenas de eventos. A música dura todos os segundos. Em todo o lado. A RV que levei para o Burning Man está no setor 10:00 (quer dizer que está nesse sentido dos ponteiros do relógio relativamente à gigante estrutura em madeira do Burning Man que será queimado sábado) rua H. À minha volta havia cerca de seis palcos. Que nunca pararam de debitar cadenciados sons de música techno. A potência das colunas
©RICARDO PINTO
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de som abanava toda a estrutura da grande caravana. Se quisesse dormir, não seria fácil… A experiência do Burning Man remonta aos anos 90 do século passado, quando dois jovens californianos foram expulsos de um evento em que decidiram queimar um enorme boneco de madeira. Como resposta, decidiram levar a iniciativa para um recôndito lugar no estado do Nevada, onde tomaram conta de inindáveis hectares de areia do deserto, para nada, nem ninguém os incomodar. Criou-se assim a experiência Burning Man, que foi crescendo de dimensão e de reconhecimento. Hoje, atrai perto de cem mil pessoas, incluindo CEOs de grandes empresas e arrumadores de automóveis de San Francisco - todos vestidos de forma exótica, depois de terem aceite uma espécie de decálogo, onde os ‘burners’ (a designação de quem passou por esta experiência) se comprometem a tudo partilhar e nada conspurcar naquele deserto. Há uma ideia de que o BM é um espaço onde livremente se consome drogas. É um mito. As autoridades, os Rangers de Black Rock City andam por todo o lado. E são muito eicazes a detetar quem fuma substâncias ilícitas na cidade. Em várias ocasiões, vi-os prenderem quem o fazia, para lhes aplicar multas. Mas é verdade que há muita droga a circular. Consome-se dentro das RVs e nas tendas, para onde é fácil ser convidado. Mas tudo sempre com olhar atento para a porta. Para que quem consome não saia. Isto porque a propriedade privada é sagrada: só com um mandado os Rangers entram lá dentro. E percebe-se no seu olhar o desalento… E há tantos Burning Man quantos os ‘burners’ que o vivem. Cada um tem a sua própria forma de experimentar o que é este evento. E há muito para experimentar e cada experiência torna-se realmente única. Tudo pode acontecer. Um dia, falei com Deus ao telefone. Passei por uma cabina telefónica e a campainha tocou. Atendi. Era Deus. Não, não tinha fumado nada estranho. Era mesmo uma cabina telefónica onde Deus ia falando com quem passa e aceita levantar o auscultador. Perguntei-lhe se era uma “collected call”, que eu teria de pagar do meu bolso. Porque iquei assustado com a tarifa de uma “long distance call”. Deus riu. Vá lá: Deus tem sentido de humor.
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Mas também tem sentido de negócio: estas chamadas são gravadas e mais tarde vendidas a estações de rádio… Também encontrei um outro Deus. Este dava massagens nas costas. Mas apenas a mulheres bonitas. Esse Deus podia não ter sentido de humor, mas tinha bom gosto. Karen (nome ictício) já foi ao Burning Man por seis vezes. Nos últimos três arranjou sempre forma de ter sexo na Playa. “Mas o ano passado foi muito mau. Ele era demasiado cuidadoso com o sexo seguro. Quase não me deixava fazer nada…” O tema do sexo seguro nesta cidade de drogas e atitudes generosas e permissivas é relevante. Durante a noite, a Playa é um lugar de muitos encontros - a imensidão do deserto da deep Playa dá para quase tudo. E nem o frio da noite do Nevada dissuade quem se estimulou durante horas nas improvisadas pistas de dança que seguem carros saídos de ilmes do Mad Max, ou de um ilme da Disney dirigido por um realizador em Ecstasy. O sexo está também omnipresente nos temas de eventos, nos nomes de Campos, ou nos olhares que se cruzam em tendas onde se lê Tit Motor Boat (em que se pode colocar a cabeça entre as mamas de uma avantajada senhora), ou Blowjob for a drink (dispenso-me a explicar). Na verdade, no Burning Man apenas duas coisas se podem comprar: gelo e café. Um saco de gelo custa três dólares. Um café tem o mesmo preço. Tudo o resto se movimenta num circuito de troca. De generosa dádiva. Quem tem fome, encontrará comida. E sabe que deve participar no espírito de entreajuda. Mesmo na compra do café, se alguém der uma nota de cinco dólares, pode bem usar a expressão: “keep it forward”, que signiica que abdica do troco para que o próximo cliente possa apenas pagar um dólar. E este pode fazer o mesmo para o seguinte, pagando os três dólares.
milionários noivos na deep Playa (o lugar mais recôndito deste imenso espaço ocupado pelo evento). Trocaram votos, enquanto uma irrequieta personagem tirada de um ilme de Koustorika corria à sua volta, tocando um tambor e cantando mantras. Por dentro, um carro alegórico imitando um dragão ia deitando fogo pela boca. E uma bonita assistente espalhava incenso à volta dos noivos e de quem assistia, enquanto repetia: “Desculpem ser rápido, mas estou tão cansada! Viajei hoje desde Nova Iorque…” Havia prendas para todos os improvisados convidados, grupo onde me incluí. E não faltou champagne importado de França e servido em verdadeiras lutes. Para gáudio dos convidados, habituados há uma semana a sujos copos recicláveis.
O BURNING MAN É UM TERRITÓRIO DE CONTÍNUO MOVIMENTO. Há quem ique a vaguear de bicicleta (o único meio de transporte autorizado) pelo deserto; há quem passe todo o tempo a movimentar-se em improvisadas pistas de dança; há quem lá vá para conhecer pessoas bonitas (a concentração de top models, que lá se dirigem para aproveitar a fantástica paisagem, impressiona); há quem queira tirar todo o proveito do simbolismo de queimar o que ica e reavivar o que se aproxima. Procurei com muito cuidado o lugar para colocar a fotograia da minha mãe, que tinha morrido uns meses antes, dentro do Templo que será destruído no im do Burning Man, queimando com ele a foto que transportei.
Este espírito de partilha chega também ao matrimónio. Daniel e Diana casaram no Burning Man. Voaram de Nova Iorque para São Francisco e daí, numa avioneta particular, para o aeroporto do Burning Man.
O Templo é um enorme edifício, em madeira, do género de um Pagode chinês. No seu interior tem duas esguias pirâmides (uma assente no chão, outra pendurada da cúpula) cujas pontas se encontram a meio. Ao longo da semana, os burners foram lá colocando objetos simbolizando aquilo de que se querem despedir: fotos de cães que perderam, de familiares que partiram, de empregos que se foram, de amigos que se separaram, de relações que terminaram…
Com eles, vieram amigos, família e um staff de cerca de 20 pessoas. Tudo sob o olhar atento e perplexo dos pais, perdidos no meio do circo que se juntou à volta dos
Tudo irá arder, juntamente com o Homem (a igura tutelar do Burning Man) e com o Templo de madeira. Porque no Burning Man tudo arde, no im. Até ao ano seguinte. •
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