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CEU aborda John Knox: o grande reformador da Escócia

Estátua de John Knox no antigo Instituto John Knox Memorial, em Haddington-Reino Unido

CEU abordaJohn Knox: o grande reformador da Escócia

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Importante para o estabelecimento da Reforma Protestante em toda a Europa, Knox ficou conhecido pelo ministério de oração e pregação, e pelo suporte teológico na implantação do presbiterianismo

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IPN na Reforma

Coube ao Conselho de Evangelismo Urbano (CEU) da Igreja Presbiteriana Nacional falar sobre a Reforma Protestante na Escócia. Para isso, a vida do reformador John Knox foi abordada em 10 de setembro de 2017. Nascido entre 1505 e 1515, Knox liderou uma reforma religiosa na Escócia seguindo a linha calvinista. Influenciado pelos reformadores da igreja primitiva, o escocês se converteu em 1540 e começou a pregar nas cidades ao redor da Inglaterra e da Escócia, como Berwick e Newcastle, onde se tornou capelão real do Rei Eduardo VI.

Após a morte do Rei Eduardo, Maria Tudor, conhecida como Maria Sanguinária, assume o trono inglês, dando início a uma grande perseguição aos pregadores da época. Um dos mais respeitados da época, Knox teve que fugir para Genebra, onde conheceu João Calvino, que lhe apresentou a Teologia Reformada e o governo presbiteriano. Iniciava-se, assim, a Reforma Protestante na Escócia. Durante esse período, o ministério de oração e de pregação de John Knox ficou tão conhecido que a rainha Maria Sanguinária dizia temê-lo mais que um exército de 10 mil homens. De 1559 até a data de sua morte, foi ministro da Alta Igreja de Edimburgo, tendo importante papel em 1560 na introdução do protestantismo pelo Parlamento reformista. Os manifestos datados desse ano têm maior contribuição de Knox do que de qualquer outro, e a Confissão teve grande importância para a nova igreja em suas declarações sobre a fé.

A partir daí, o culto mudou pela liturgia de Knox, que ordenava que os serviços religiosos fossem feitos na língua local, tendo a Palavra como elemento litúrgico central. Instruções para a comunidade protestante foram dadas em seu Livro de Disciplina (Book of Discipline), que incluía tópicos sobre educação geral, providências para ajudar os pobres, idosos, doentes, e a relação entre a Igreja e o Estado. ◆

Knox era conhecido por seu trabalho em nome da igreja. Na imagem, ele persegue aqueles que não concordavam com sua pregação

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Jantar alemão faz uma viagem gastronômica pelos sabores da Reforma Protestante

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O evento, que contou com a participação de aproximadamente 500 convidados, foi aberto pela Orquestra Brasilianca, especializada em músicas alemãs e tchecas

Cerca de 500 pessoas fizeram uma viagem gastronômica pelos sabores da Reforma Protestante em 03 de dezembro de 2016. O jantar, realizado na Igreja Presbiteriana Nacional, resgatou um pouco do contexto histórico, político, econômico, social e religioso vivenciado pelos reformadores, associado à tradicional culinária alemã e suíça de 1517.

O evento foi aberto com a apresentação da Orquestra Brasilianca, especializada em músicas alemãs e tchecas. A banda trouxe

Gastronomia reformada

Orquestra Brasilianca (esq.) abriu a noite. Jantar passeou pelos sabores da Reforma

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um pouco das músicas vivenciadas a partir da ruptura com o pensamento ideológico da Igreja Medieval. Sempre com a preocupação de aproximar o homem da liturgia, fazendo com que cada um participasse e compreendesse a língua e o texto usados nos cultos, o coral luterano passa a escrever novas melodias em que a inteligibilidade do texto é central e a música se torna mais elaborada com a participação de solistas e coros. O cardápio trouxe um paralelo entre a gastronomia e os sentimentos vividos no período da reforma. Pratos como Batatas e Confissões; Salsichas e a Bíblia; Mostarda, Vitamina e Fé; Pão e Paz em Vestfália; e Receitas e Bênçãos em Família deram a tônica da viagem gastronômica. Para o professor de história e da Escola Bíblica Dominical, e membro da Comissão da Reforma Protestante, Gustavo Santos, o jantar foi uma celebra-

Banda Brasilianca resgatou o contexto melódico vivenciado a partir da ruptura com o pensamento ideológico da igreja medieval

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ção da Reforma e da Alemanha, já que foi lá onde foram assistidos os eventos que culminaram nesse movimento religioso. “Foi um resgate de muitas coisas esquecidas na Idade Média, da leitura da Bíblia popular, na língua do povo, das doutrinas da graça, da comunhão com Jesus Cristo. Então, este evento está acontecendo para celebrarmos os 500 anos da Reforma Protestante, iniciada com Lutero pregando suas 95 teses na Catedral de Wittenberg”, analisou. ◆

A Comissão IPN de Eventos e Gastronomia ficou responsável pela criação do cardápio e produção dos pratos servidos no jantar

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Estátua de João Calvino em Genebra-Suíça

Lutero e a Reforma Protestante - 500 anos

Drys Dantas de Oliveira

Membro da Comissão da Reforma 500

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Artigo

Em 1517, a Igreja Católica Romana estava longe de ser considerada a Igreja verdadeira de Cristo. Quando Constantino (280-337) se tornou cristão, a Igreja deixou de ser uma organização secreta de perseguidos para se tornar popular. Junto com a fama, novos desafios se apresentaram: novos membros interessados na proximidade com o poder e na ascensão social começaram a infiltrar seus bancos. Esses membros, longe de estarem preparados para entregar sua vida em nome de Cristo, estavam frouxamente comprometidos com a verdade. Em 593, o papa Gregório oficializou o purgatório. Em 995 o papa João XV inicia a canonização de santos mortos. O celibato (1079), a inquisição de hereges (1184), a venda de indulgências (1190), a transubstanciação (1215) e a afirmação dos 7 sacramentos (1439) seguiram em rápida sucessão.

A Igreja da Idade Média era cercada por pessoas mundanas, impiedade e política. O povo via os sacerdotes realizarem rituais enigmáticos, em uma língua estranha. Muitos deles não entendiam latim e apenas recitavam as fórmulas aprendidas. O povo era, em sua grande maioria, analfabeto. Os livros eram caros e as Bíblias artigos raros, e muitas igrejas nem sequer tinham um exemplar completo. Após a queda do Império Bizantino, com a pilhagem de Constantinopla em 1453, a Europa recebeu ondas de imigrantes e refugiados (um tema moderno) que trouxeram nova luz ao entendimento da Bíblia, com seu conhecimento da língua e da filosofia grega. Nessa época, a Bíblia que todos usavam era a tradução latina de Jerônimo, de 382, conhecida como Vulgata. O novo interesse no estudo da língua grega possibilitou a leitura dos textos direto do grego.

Um ponto crucial é a passagem que sustenta o sistema penitencial adotado pela Igreja Romana, que se baseia na tradução de Jerônimo do texto de Mateus 4.17, em que a palavra grega metanoeite foi traduzida para o latim como poenitentiam agite, ou “façam penitências”. Lendo direto do grego, Lutero pôde pensar diferente: metanoia tem o significado clássico de uma “mudança da mente” (Concordância de Strong) e colocou o dedo na ferida na primeira e na segunda tese (das famosas 95 teses) quando afirmou: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... não pode ser interpretado como referindo-se ao sacramento da penitência”. Ou seja, a mudança de significado era fatal: a Bíblia não comandava que os fiéis fizessem algo como penitência, mas que se arrependessem em seu íntimo e na sua mente.

Uma das questões mais antigas da filosofia é a questão de movimento e mudança. Aristóteles considerava que, para que haja alguma mudança, é necessário um conjunto de causas. Ele afirma que a causa instrumental é o objeto (instrumento) usado para produzir a mudança. Essa mesma linguagem foi usada pela Igreja para definir a salvação: a Igreja Católica Romana diz que a causa instrumental para a mudança das pessoas de não salvas para salvas é o Batismo e o sacramento da

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penitência. Os reformados dizem que a única causa instrumental para a salvação é a fé.

Lutero mesmo relata que teve esse entendimento quando meditava sobre Romanos 1.17. Quando Lutero lia “a justiça de Deus”, ele cria que Paulo se referia à justiça que Deus exige dos homens: justiça perfeita, cuja falha em produzir enseja julgamento e punição dos pecadores. Finalmente, relacionando com a segunda parte do verso, onde se lê: “O justo viverá por fé”, ele percebeu que essa “justiça de Deus” é, na verdade, a justiça que Deus concede, pela graça, aos que creem no Evangelho, e não a justiça que nós produzimos por meio da vida santa e do pagamento de penitências.

Se é pela fé, a tradição, os concílios e o papa podem estar errados? Lutero responde a isso na Dieta de Worms em 1521, quando foi chamado a se retratar por seus escritos: “A menos que se me convença por testemunho da Escritura ou por razões evidentes – posto que não creio no papa nem nos concílios somente, já que está claro que eles têm se equivocado com frequência e têm se contradito entre eles mes-

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mos -, estou acorrentado pelos textos escriturísticos que tenho citado e minha consciência é uma escrava da palavra de Deus. Não posso nem quero retratar-me em nada, porque não é seguro nem honesto atuar contra a própria consciência. Que Deus me ajude”.

As pistas de que essa é a interpretação correta da fórmula da salvação está por toda parte na Bíblia. A Epístola de Paulo aos Efésios diz claramente que “pela graça sois salvos, mediante a fé” (Ef 2.8), que temos a redenção e a remissão dos pecados pelos sangue de Jesus (Ef 1.6-7), “a fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef 1.12), os que ouviram e creram no “evangelho da salvação” (Ef 1.13). Dessa forma, reunimos em duas páginas os pilares da Reforma Protestante: Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Sola Scriptura, Soli Deo Gloria.

Essa ideia, esse caminho de salvação, esteve perdido, mas foi achado. É por isso que esse tempo é conhecido como Idade das Trevas. É por isso que o lema de Calvino é Post Tenebras Lux (após as trevas, luz), e é por isso que comemoramos os 500 anos da Reforma Protestante. ◆

Martinho Lutero afixando as 95 teses na porta da capela de Wittemberg. Reprodução artística: Daniel Carlos

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Sola Fide – Romanos: A carta que mudou a História da Igreja

Rev. Marcos Alexandre Rev. Geraldo Ferreira

Pastores da IPN

Artigo

Em comemoração aos 500 anos da Reforma Protestante, no decorrer de 2017, a Igreja Presbiteriana Nacional desenvolveu, em suas diversas classes da Escola Dominical e nos cultos devocionais, temas interessantes e fundamentais concernentes ao movimento Reformador do século 16, cujo personagem principal foi o monge alemão Martinho Lutero (10 de novembro de 1483 – 18 de fevereiro de 1546). A comemoração culminou na apresentação, em 28 e 29 de outubro, de um grande e significativo musical denominado “Um Renascer – A Saga dos Reformadores no Retorno à Palavra de Deus”, com a participação de mais de 200 irmãos da Igreja, representando vários personagens da Reforma, caracterizados em trajes das respectivas épocas. Na classe da Escola Dominical “Sola Fide – Romanos: A carta que mudou a História da Igreja”, foi dada ênfase, por nós professores, ao estudo de vários temas teológicos contidos na Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos, que serviu de inspiração e iluminação ao monge Martinho Lutero para desencadear a grande reforma do século 16, cujos frutos chegaram até nós, presbiterianos aqui no Brasil.

A declaração de Lutero sobre essa carta é muito interessante quando ele disse: “Esta Epístola é a parte principal do Novo Testamento, e o mais puro Evangelho, que certamente merece a honra de um cristão não apenas conhecê-la de memória, palavra por palavra, mas de também dedicar-se a ela

Carta do apóstolo Paulo aos Romanos serviu de inspiração a Lutero para desencadear a grande reforma do século 16

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diariamente, como alimento para a sua alma. Pois ela nunca será exaustivamente lida ou entendida. E quanto mais é ela estudada, tanto mais agradável se torna, e melhor parece”. João Calvino considerava Romanos como o principal livro das Escrituras, ao dizer: “Se porventura conseguirmos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da Escritura”. Romanos é “uma introdução ao Antigo Testamento”.

Tivemos a oportunidade de fazer uma abordagem introdutória, demonstrando a centralidade de Cristo nessa importante carta, bem como tratamos do tema básico e fundamental para nós cristãos, que é a doutrina da justificação pela fé, desenvolvida pelo apóstolo, com base no capitulo 1 versos 16 e 17, que assim se expressa: in verbis: “Pois não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.

Seguindo o conteúdo programático do curso, foram tratados, ainda, os seguintes temas: “A condenação de todos os homens e a necessidade de todos os homens serem justificados” (Rm 1.18 - 3.20); “Os meios para se alcançar a justificação” (Rm 3.21 - 4.25); “A vida daqueles que são justificados pela fé” (Rm 5 a 8); “A soberania de Deus na justificação: e a incredulidade humana e a graça divina” (Rm 9 a 11); “O modo de viver do cristão, exortações práticas e a liberdade cristã” (Rm 12 a 15); Recomendações e saudações finais (Rm 16.) A Rosa de Lutero representando a mensagem do evangelho

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Foram utilizados para desenvolver os temas do conteúdo do curso comentários do livro de Romanos escritos por vários teólogos reformados e puritanos conhecidos, como: João Calvino, Hernandes Dias Lopes, R.C. Sproul, John Murray, D.Martyn Lloyd-Jones, John Owen e outros.

O objetivo geral do curso foi contribuir na consolidação da fé em Jesus Cristo, nosso salvador e único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5) e contribuir no fortalecimento do caráter cristão dos irmãos, relembrando as doutrinas básicas da nossa fé, defendidas inicialmente pelos reformadores do século 16 e posteriormente por vários outros teólogos de linha reformada mencionados neste artigo.

O objetivo específico do curso visou, também, o fortalecimento espiritual dos irmãos conduzindo-os a entender perfeitamente o significado e a necessidade da doutrina da justificação pela fé somente em Cristo; mostrar que o cristão verdadeiro deve ser uma pessoa consciente de que foi completamente transformada em uma nova criatura por meio da regeneração ou novo nascimento ensinado por Jesus a um dos mestre dos judeus chamado Nicodemos (2 Co 5.17; João 3.1-15), por meio unicamente da obra de Cristo Jesus em nosso favor; orientar os irmãos a agirem em todas as áreas da vida e em todos os seguimentos da sociedade, como uma pessoa verdadeiramente cristã, de forma santa e irrepreensível como resposta e gratidão pela nossa salvação. Finalmente, ouvir a admoestação do apóstolo Paulo quando escreveu sua primeira carta ao jovem Timóteo no capítulo 4 verso 16, dizendo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes”. ◆

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