Ed 75

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ano XV | nº 75 | dezembro 2014 | www.construirnordeste.com.br

arquitetura | Infraestrutura | tecnologia | negócios | urbanismo

15 anos

DE VENTO EM POPA

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ENCARTE

A energia eólica está se tornando uma opção interessante para geração de energia elétrica no mundo. No Brasil, ela ganha ainda mais espaço no Nordeste, que já é o principal polo de investimento do setor no País.

ENTREVISTA

Presidente do Sinduscon/PE, José Antônio de Lucas Simon, fala sobre construção e traça panorama do setor

ARQUITETURA

O conceito de arquitetura de conteúdo e o projeto Acquario Ceará, em Fortaleza

VIDA SUSTENTÁVEL Projeto de reabilitação do Centro Histório de Salvador (BA) foca em mobilidade


Pelo terceiro ano consecutivo empresa líder do segmento no ranking da revista O Empreiteiro. Liderança para a ISOESTE não é apenas uma posição. É a soma de ação e inovação.

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ano IV | nº 25 |dezembro 2014

DE VOLTA À VIDA

Novas alternativas de transporte e estimulo à moradia são estratégias do projeto de reabilitação do Centro Histórico de Salvador (BA) para atrair novos investidores

ENTREVISTA Protagonista do documentário Lixo Extraordinário, Tião Santos conta a sua trajetória como catador de lixo até se tornar referência no mundo da reciclagem

48

EU DIGO

BOAS PRÁTICAS

Doutora em Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie, Constance Jacob discute política pública e a democratização da gestão urbana

A ONG love.fútbol cria campos de futebol comunitários no Brasil e Guatemala, estimulando mudanças sociais sustentáveis

77 CONSTRUIR VIDA

SUSTENTÁVEL

sumário 15

ENTREVISTA Construir e refletir | José Antônio

18

PALAVRA comissão ou reserva técnica: das estranhezas da atuação do arquiteto | Vera Ferreira

22 PAINEL CONSTRUIR 28 15 anos com homenagens e premiação 37 Ser mais vale mais

59

40 À PRIMEIRA VISTA 42 VITRINE ESTILO 44 ESPAÇO ABERTO | PEC - Infraestrutura sob uma perspectiva pública: instrumentos para o seu desenvolvimento - Estacas mistas: uma solução inovadora 48 CAPA De vento em popa 59 ARQUITETURA Projetando magia 62 TECNOLOGIA Proteção e resistência a longo prazo

62 CONSTRUIR

DRYWALL

85 NEGÓCIOS - Complan 2014: um recorde de público - Feiras no Nordeste movimentam economia brasileira - Perfil empresarial: Francisco Marcos Lima da Cunha Colunas

ACÚSTICA – FIXAÇÃO – FLEXIBILIDADE - LIGHT STEEL FRAME

PRIVACIDADE E CONFORTO Sistema garante desempenho térmico e acústico superior ao da alvenaria

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12 SHARE 20 CONTEÚDO DIGITAL | Walmir Scaravelli 72 ISSO É DIREITO | Anna Carolina Cabral 73 NEGÓCIOS: OPNIÃO | Mônica Mercês



caro leitor

COMPLETAMOS 15 ANOS, COM PRÊMIO E HOMENAGEM!

Parece óbvio — e é —, mas a arquitetura constrói experiências inovadoras. E isso é mais do que óbvio na arquitetura do conteúdo. No projeto Acquario Ceará, os recursos sensoriais interativos do marketing e do entretenimento são a tônica da proposta. Confira na página 55. E tem mais inovação! O Professor Alexandre Gusmão fala sobre estacas mistas, uma solução que foi recentemente usada nas fundações do trecho elevado da Via Mangue, no Recife. Outro assunto que nos fascinou foi a eficiência das técnicas contra corrosão de peças em aço e ferro fundido. Elas promovem resistência e economia a longo prazo e evitam desperdício de recursos públicos. Os números são impressionantes. (Pág. 62). Bem no comecinho da edição você confere a entrevista com José Antônio Lucas Simon, presidente do Sinduscon Pernambuco. Ele conversou com a gente sobre o panorama da construção civil no País e, em particular, na Região Nordeste. Destacou a falta de mão de obra qualificada, o programa Minha Casa Minha Vida, a aplicação real dos parâmetros sustentáveis na construção civil e muito mais. Em Espaço Aberto (Pág. 44), o tema é infraestrutura sob o olhar do direito e com foco na eficiência e no desenvolvimento. André Castro Carvalho, bacharel, mestre e doutor pela faculdade de direito da Universidade de São Paulo, apresenta sua premiada tese de doutorado. O tema aborda a infraestrutura sob uma perspectiva pública. Falando em infraestrutura, o Engenheiro e Conselheiro da revista Construir NE, Luiz Priori Jr., nos presenteia com o artigo sobre Sustentabilidade Urbana nas Áreas de Morros. Fala que as vulnerabilidades na infraestrutura do Recife corroboram o aumento do risco de desastres urbanos na cidade. A cidade também é foco na matéria de capa do Caderno Vida Sustentável. Mostramos a reabilitação do Centro Antigo de Salvador, uma das cidades mais antigas do Brasil. A Doutora em Arquitetura e Urbanismo Constance Jacob fala sobre o Orçamento Popular. Diz que a ferramenta elimina a prática do clientelismo na decisão sobre os recursos públicos municipais. Veja na página 84. O ano se despede com celebrações na Construir Nordeste. Brindamos os 15 anos da Revista, os premiados da primeira edição do Prêmio Construir Nordeste e o homenageado, professor Joaquim Correia, um profissional respeitado e referência no Nordeste do Brasil. É daqueles seres humanos com enorme bagagem intelectual, com quem se tem vontade de conversar sempre. Você vai conhecer nas próximas páginas os entusiasmados ganhadores. Mire esses exemplos e participe você também da edição do Prêmio Construir 2015. Chegou 2015! Bem-vindo! Grande abraço,


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expediente DIRETORIA EDITORA E DIRETORA RESPONSÁVEL | Elaine Lyra elainelyra@construirnordeste.com.br diretora executiva | Tatiana Feijó tatiana@construirnordeste.com.br | +55 81 9284.4883 Diretor de eventos | Caetano Pisani caetano@construirnordeste.com.br MARKETING e planejamento | Emelly Linhares emelly@construirnordeste.com.br | +55 81 9958.5761 Administrativo, financeiro e logística | Heude França heude@construirnordeste.com.br

REDAÇÃO DIRETORA DE REDAÇÃO | Elaine Lyra elainelyra@construirnordeste.com.br Editora EXECUTIVA | Renata Farache renata@construirnordeste.com.br EDITOR DE ARTE | Michael Oliveira michael@construirnordeste.com.br Reportagem Chloé Buarque | Juliana Chaves | Manoela Siqueira Pablo Braz | Tory Oliveira | William Maia Fotografia Adriana Noya | Adenilson Nunes | Eduardo Simões Ivan Andrade | Jadilson Clemente | Mamoru Itimura | Rodrigo Moreira Colunistas Anna Carolina Cabral | Constance Jacob | Mônica Mercês Vera Ferreira | Walmir Scaravelli Revisão de texto Claudia Oliveira e Igor Morais

CONSELHO EDITORIAL E TÉCNICO Ângelo Just, Adriana Cavendish, Alexana Vilar, Bruno Ferraz, Carlos Valle, Alberto Casado, Alexandre Gusmão, Arnaldo Cardim de Carvalho Filho, Béda Barkokébas, Cezar Augusto Cerqueira, Celeste Leão, Clélio Morais, Daniela Albuquerque, Eduardo Moraes, Elka Porciúncula, Eder Carlos Guedes dos Santos, Eliana Cristina Monteiro, Emília Kohlman, Fátima Maria Miranda Brayner, Francisco Carlos da Silveira, Gustavo Farache, Inez Luz Gomes, Joaquim Correia, José Antônio de Lucas Simon, José G. Larocerie, Kalinny Patrícia Vaz Lafayette, Luiz Otavio Cavalcanti, Luiz Priori Junior, Mário Disnard, Mônica Mercês, Néio Arcanjo, Otto Benar Farias, Renato Leal, Risale Neves, Rúbia Valéria Sousa, Sandra Miranda, Serapião Bispo, Simone Rosa da Silva, Stela Fucale Sukar, Yêda Povoas Representantes para publicidade São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio grande do Sul Vando Barbosa | +55 11 975798834 | +55 11 996142513 vando.barbosa@raizesrepresentacoes.com.br

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A CARA DA CONSTRUIR NORDESTE

Renata farache editora executiva

pablo braz repórter

Pernambucana, jornalista e consultora

Jornalista graduado pela UFPE, é aficionado por

de imagem, ama gente, gastronomia,

cinema, música e café. Curioso e tranquilo, preza

arquitetura e construção.

pela leveza na hora de experimentar a vida.

michael oliveira editor de arte

tory oliveira rePÓRTER

Cinéfilo desde pequeno, designer gráfico

Paulista crescida no Amazonas, hoje circula por

antenado e aquariano no mundo da lua

São Paulo em busca de boas histórias para contar.

com suas séries e seus livros favoritos.

É jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero.

patrícia félix repórter

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Recifense, jornalista, boa ouvinte,

Sediada em Salvador, é formada em jornalismo

observadora, é apaixonada por cultura

pela PUC/SP e videasta. Trabalhou em diversos

e tudo o que é ligado à comida.

veículos impressos, televisivos e assessorias.

Isabela Morais repórter

patrick Selvatti repórter

Graduada em jornalismo pela ECA-USP.

Jornalista mineiro radicado em Brasília,

Gosta de ciência, natureza e literatura. Acha que

fala pouco, ouve muito e escreve bastante

Capitu não traiu Bentinho, mas que deveria.

sobre tudo que o intriga.

elane GOMES repórter

claudia oliveira revisora

Jornalista e Mestre em Comunicação.

Graduada em letras pela UFPE, fascinada

Adora decoração e culinária. Vive a vida como se

pelas 7 artes. Adora ser a “menina do interior”

estivesse em um jogo de perguntas e respostas.

e não perde a oportunidade de olhar o céu.

tatiana feijó DIRETORA EXECUTIVA

Emelly Linhares MarketinG E PLANEJAMENTO

Acompanhou todo o nosso crescimento. Pós-graduada

Adora achar soluções para os nossos desafios.

em pedagogia empresarial, tem como hobbie a

Dançarina contemporânea por paixão e

fotografia. Seu foco hoje é a expansão de mercado.

mercadóloga por formação.

Caetano Pisani Filho DIRETOR DE EVENTOS

HEUDE FRANÇA FINANCEIRO E LOGÍSTICA

Além da sua vasta experiência no setor financeiro,

Técnico em Contabilidade e graduado em Relações

é também um bom contador de causos no seu blog

Públicas. É descontraído e muito amigo, adora se

Histórias do tio Tano.

divertir e gosta muito de cinema e teatro.

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REPAGINANDO Com novo endereço (avantled.com.br) e design mais moderno e interativo, a Avant lança o seu novo site. Entre as vantagens tecnológicas para lojistas e especificadores, estão os novos menus com informações mais amplas sobre os vários canais de atendimento da Avant, como o que atende às indústrias e construtoras, chamado de OEM/Corporativo. A página de produtos tem agora um menu dividido entre os portfólios LED, Tradicional e Luminárias, com imagens de cada um, facilitando a consulta do usuário. Outra novidade é o ícone Lighting Center, onde o usuário poderá consultar a grade de cursos da Avant e se inscrever em treinamentos ofertados pela empresa.

APLICATIVO 1 Conhecer melhor sua cidade e as mudanças urbanísticas que a acompanha pode ficar mais prático em alguns lugares do país, como em São Paulo. Um exemplo disso é o recente lançamento do aplicativo “Plano Diretor na Mão”, no qual o usuário tem acesso ao texto atualizado da lei do Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade, seus principais pontos e o balanço numérico do processo de aprovação. E o melhor: o aplicativo pode ser baixado gratuitamente pelo celular. O PDE, sancionado em julho de 2014, é um conjunto de diretrizes que vai orientar o crescimento de São Paulo pelos próximos 16 anos, reorganizando o cenário urbano da capital nos pilares da sustentabilidade, mobilidade, habitação social e valorização cultural.

APLICATIVO 2 A Gypsum Drywall lança aplicativo que promete facilitar a vida dos montadores, engenheiros, arquitetos e até clientes finais na realização de orçamentos para projetos. O app, também chamado de “Gypsum Drywall”, faz cálculo de materiais e permite descobrir rapidamente a quantidade de materiais necessários para a construção de uma parede simples, um forro simples e poder escolher entre dois tipos de revestimentos, um colado e outro estruturado. Com a inserção de apenas poucas informações, como a metragem linear e altura de paredes, é possível ter a quantidade exata de chapas de gesso, perfilados metálicos, parafusos, massa, cola, fita e até mesmo o isolante térmico necessário para a obra. Com a quantidade de materiais a mão, é mais fácil realizar uma cotação e compra na rede de distribuidores do mercado. O aplicativo já está disponível gratuitamente na App Store e Google Play.

APLICATIVO 3 Projetar luzes de LED com componentes optoeletrônicos pode parecer um assunto muito complicado. Pensando nisso, a OSRAM Opto Semicondutores lançou alguns aplicativos que auxiliam no desenvolvimento de soluções adequadas de iluminação. Um deles é o OSRAM Opto Semiconductors’ Premium Suporte (PASS), que oferece serviços às empresas comerciais, dando acesso aos conhecimentos de engenharia de aplicação, recursos e trabalhos de laboratório para iluminação. Voltado a engenheiros na elaboração de projetos de todos os tamanhos, ele abrange serviços de prototipagem, sistema de metrologia (pesar, medir, comparar), além de simular dados de componentes de LED. O app pode ser baixado através do link: ledlight.osram-os.com/PASS/.

Ourolux lança aplicativo Luxímetro para smartphones Já a Ourolux, também acaba lançar o 1º aplicativo para smartphones no Brasil que facilitará o trabalho de projetistas, profissionais de iluminação e consumidores. Com o “Luxímetro Ourolux”, é possível identificar de maneira fácil e rápida o nível de iluminação dos ambientes. Para isso, basta colocar o smartphone no lugar onde se quer medir a luminosidade e o aplicativo mostrará o resultado em lux - unidade utilizada para se medir a quantidade de luz em um determinado plano. O aplicativo pretende ser uma ferramenta de trabalho acessível a todo tipo de usuário. O aplicativo é gratuito e está disponível para aparelhos que utilizam as plataformas Android ou iOS. Para mais informações, acesse ourolux.com.br

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entrevista

José Antônio

Construir e Refletir por Pablo Braz foto Rodrigo Moreira

Engenheiro civil pós-graduado em Engenharia de Segurança, José Antônio de Lucas Simon assumiu em 2014 a presidência do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon/PE). Sempre empenhado em discutir os avanços e desafios do segmento no país, José Antônio acredita que a construção civil é um dos setores que está salvando a economia brasileira, mesmo com as dificuldades constantes para atender às demandas de infraestrutura de obras públicas como estradas e pontes. Membro efetivo da Comissão de Controle Urbanístico (CCU) da Prefeitura do Recife e vice-presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico (Adit Brasil) para o estado de Pernambuco, o engenheiro conversou com a Revista Construir Nordeste sobre o programa Minha Casa Minha vida, mercado imobiliário, mão de obra e sustentabilidade na construção civil e o panorama nacional do setor.


entrevista

Como se encontra o panorama da construção civil no País e em particular na Região Nordeste? A construção civil é um dos setores que está salvando a economia do País. Foi o único setor da indústria, excluindo o agrobusiness, que cresceu neste último ano. A realidade é essa: a construção vem sendo, mas em menor proporção, junto com o setor de serviços, que está mantendo o PIB do Brasil ainda positivo, embora ínfimo. Nesse cenário o Nordeste se configura como uma região carente de investimentos em obras estruturadoras, especialmente obras de investimentos do governo federal. Mas existem obras importantes no Nordeste que transladam cidades, como a Transnordestina e obras estruturadoras do canal do sertão, além das ferrovias, interligações dos portos e refinaria. Este ano, porém, não houve, por questões políticas e efetiva falta de dinheiro do Governo Federal, uma intensidade dos investimentos na Região. É preciso redescobrir outros focos para continuar esse investimento. Não teve, por exemplo, uma retomada com força das obras da Adutora do Oeste e das obras estruturadoras do sertão para ocupar a mão de obra e muito menos teve o início do Arco Metropolitano que seria outra opção, tanto de expansão econômica como de empregabilidade. Hoje, uma grande questão é como manter a perenidade em termos de investimento e alocação de mão de obra para não se ter o que está acontecendo hoje com as empresas que trabalham com o governo municipal, estadual e federal: emprega, faz um pedaço, falta dinheiro, desemprega, volta a ter dinheiro, emprega novamente. Essa conta no final não vai fechar. Como o Sinduscon/PE tem atuado em prol da indústria da construção civil no Estado? O que tem sido feito de atividade nesse sentido? O sindicato busca sempre tomar conhecimento dos projetos, tentando aperfeiçoá-los na questão urbana, em particular os empreendimentos estruturadores, tentando fazer com que os projetos saiam do papel. E não se pode pensar apenas no investimento do empresário. O Sinduscon também investe

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em capacitação profissional, a exemplo da escola do Senai, que é um grande parceiro no treinamento de mão de obra dos pedreiros, carpinteiros, eletricistas e encanadores. Qualificar essa mão de obra é uma coisa que a gente tem que ter em mente. O analfabetismo, por exemplo, foi praticamente erradicado do setor. Hoje, até as funções mais primárias do setor, qualquer colaborador e funcionário da empresa precisam saber ler e escrever por conta de normas, procedimentos e relatórios para preencher. Aqui em Pernambuco mais de 90% das empresas são certificadas de alguma forma. Foi um trabalho que o Sinduscon fez anteriormente, e hoje isso rende fruto na capacitação profissional. A gente tenta fazer com o que o colaborador do setor esteja a cada dia mais qualificado e motivado a crescer dentro do setor. Está se invertendo uma lógica que no passado era muito cruel. Ou seja, o trabalhador que era pedreiro na construção não queria que o filho trabalhasse também na construção civil porque era um ambiente inóspito e perigoso. Atualmente, o perfil do canteiro de obras mudou. Antes, para entrar num canteiro você tinha que colocar uma bota, uma vestimenta mais rude, pois não se podia andar direito nele. A legislação não permite mais isso. O próprio layout do canteiro melhorou, os processos construtivos ficaram mais limpos, a questão ambiental, em especial a dos resíduos, está fortemente incorporada. Foi uma evolução enorme nestes últimos 20 anos e que tem que ser perenizada. E não é só a questão do investimento financeiro do governo. O setor também investiu muito e hoje se encontra pronto para responder. Você acha que ainda pode-se falar em falta de mão de obra qualificada como sendo um dos grandes gargalos do setor? Na verdade, a mão de obra hoje tem em toda a sua base um nível de qualificação. O que acontece é que, quando se tem uma mão de obra qualificada, passa-se a exigir mais dela. Se você tiver um analfabeto, você não vai exigir nada dele. Quando ele é alfabetizado e começa a ler, você exige que ele leia uma linha. Quando ele

lê uma, você exige que ele leia duas, e daqui a pouco você quer que ele leia a bíblia. Uma coisa precisa ser dita na construção: a mão de obra qualificou-se, mas não teve um aumento de produtividade. No processo construtivo, qualquer racionalização incide no aumento de produtividade. Então, hoje, nós temos uma mão de obra mais qualificada, mas cada vez menos produtiva. Em termos de qualificação profissional, está evoluindo. Por exemplo, o país desenvolvido e o país em desenvolvimento. Quando o desenvolvimento chega naquele patamar, o desenvolvido já subiu, mas ele continua em desenvolvimento. No caso da mão de obra, isso também existe. E isso vai crescer, porque a informatização chega e, consequentemente, outros preceitos de qualificação. Antigamente, falar em um computador numa obra era uma coisa absurda, pois poucos escritórios de grandes corporações o utilizavam. Hoje se tem tudo na palma da mão, literalmente com sistema de gerenciamento de obra feito por meio do smartphone. Do mesmo jeito que se tinha um controle num caderno pautado de escola, tem-se com um smartphone. E aí a diferença não é a qualificação do profissional, mas, sim, o nível de qualificação que ele pode trabalhar. O que me preocupa mais hoje não é a qualificação, mas a produtividade. Perde-se quando se está qualificando e não se está aumentando a produtividade, pois tudo que se melhora na qualificação, em tese, tem que obrigatoriamente ter um aumento na produtividade. O que se vê é que esse aumento é decorrente da melhora tecnológica dos equipamentos, e não em função da mão de obra. E como é que poderia ser melhorado esse quadro? A ideia é que essa qualificação seja voltada não mais para a instrução e o uso, e sim ao melhor uso de equipamento. O profissional precisa aprender como melhor usar os equipamentos para melhorar a produtividade dele, utilizando o benefício da evolução tecnológica em benefício próprio. É isso que estamos tentando colocar nas escolas do Senai, na qualificação da mão de obra, no próprio sindicato dos trabalhadores.


Como você avalia o impacto do programa Minha Casa Minha Vida para o setor? Como programa habitacional, é extremamente necessário. Mas é preciso evoluir em alguns aspectos. Um deles é o déficit habitacional, que é sempre crescente, principalmente na população de baixa renda. Na faixa de 0 a 3 salários mínimos, há um mercado extremamente complexo, pois não se consegue, como iniciativa privada, estruturar empreendimentos. Para essa faixa tem que ter subsídio, e esse subsídio precisa estar claramente colocado, no qual o 0 a 3 tem uma taxa de juros que é metade da faixa de 6 a 10, ou seja, um nicho subsidia o outro. Um precisa e não tem como pagar. O outro precisa, mas tem como pagar. O gargalo é que o 0 a 3, por ser subsidiado, é financiado pelo orçamento da união, encontrando, assim, dificuldades de repasse. O programa tem que sofrer uma reestruturação da engenharia financeira, por que a estruturação do atendimento do necessitado existe e está bem feita. As grandes empresas em geral não entram no Minha Casa Minha Vida porque é um mercado extremamente diluído. Por isso que a Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) foi quem formatou o programa junto com o governo, porque ele atende à realidade da população, mas também à parte do mercado. Não se está discutindo o déficit habitacional de dois milhões de casas numa cidade, e sim o déficit habitacional de 500 a 100 mil casas. Essa é a grande sacada do programa, que ele foi feito para pequenas e médias empresas, inclusive para o sistema de gestão e controle. Quando se discute o Minha Casa Minha Vida, é bom ressaltar que é um programa extremamente necessário e interessante. Ninguém imaginou que, quando ele foi lançado lá atrás pelo ex-presidente Lula, o setor estava pronto para fazer um milhão de moradias, que foi a primeira meta do programa. Naquela época, o setor não correspondeu com esse valor, mas chegou a 790 mil. Hoje nós estamos falando em três milhões, três milhões e meio de moradias. E atualmente sabe-se que o setor está preparado para isso. O setor da construção pode ainda ser visto por alguns como à margem da indústria, e

não é. Toda a nossa cadeia produtiva, excetuando a parte de mão de obra, já é industrializada. Não tem mais ‘artesanato’ na construção. Tudo que se coloca no projeto já é cadeia produtiva da indústria. E a relação da construção civil com o mercado imobiliário? Como você enxerga? São mercados que se complementam. Primeiro a diferença está no cliente. Enquanto o mercado imobiliário trabalha com o consumidor final, as construtoras trabalham geralmente com o cliente ‘governo’. Intrinsicamente, em termos de processo, tem-se claramente os nichos de mercados definidos, não havendo choque de interesse. Mas sempre tem a questão: Primeiro eu tenho que colocar o prédio ou a praça? É uma discussão muito mais de tese do que prática. Os produtos dos dois têm tempos diferentes, prazos diferentes. E existe também em cada estado a Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), que trata especialmente do mercado imobiliário, o que já facilita muito para o Sinduscon no trato das obras públicas. O setor da construção civil trabalha com o mercado imobiliário mais no sentido da troca de informações do dia a dia, em uma relação mais harmônica e menos isolada.

O uso e a manutenção é os 80, 90% que estão embaixo. O shopping “usa” a sustentabilidade porque tem um dono que tem que manter aquilo funcionando para duzentos, trezentos lojistas. Qualquer economicidade no uso e na manutenção para ele é lucro. Já no prédio residencial a manutenção é por conta de cada um. Ou eu agrego no preço do seu imóvel ou você vai ter que entender que terá que pagar mais caro para ter uma economia ao longo do uso. É preciso que se tenha o preceito de economicidade incluído no produto, senão eu não consigo implantar. Tudo é tecnologia, e isso é mais caro. Na sede do Sinduscon/PE, tem, inclusive, uma casa mostruário construída com todos os preceitos sustentáveis possíveis de se aplicar de forma rápida, prática e econômica. Ou seja, vamos parar de discutir a sustentabilidade como um preceito conceitual, e sim como algo que se pode comprar nos armazéns de construção, lojas especializadas e na indústria de fornecimento imediato. Não adianta pensar na sustentabilidade como um conceito que eu tenho na mão, mas que não dá para comprar. Uma coisa é querer que você aceite o conceito. Uma vez aceito, e aí? Eu compro onde? Onde vende? O cliente quer morar logo no empreendimento. É necessário colocar na prática o que se prega na teoria.

Em se tratando de sustentabilidade, é possível ter uma aplicação real e rápida dos parâmetros sustentáveis na construção civil? Claro que tem. Não adianta convencer de que sustentabilidade é só teoria, se ele não vê resultado prático na hora. Pra fazer sustentabilidade é preciso ter dinheiro. Não adianta discutir sustentabilidade sem discutir economicidade. Quando se fala com o empresário, a primeira coisa que tem que se convencer é o econômico. E estamos falando não em mais barato, mas, sim, em mais econômico. Porque que a maioria dos shoppings centers são sustentáveis? Tem selo, certificação? E os prédios residenciais em sua maioria ainda não têm? Tem haver com economicidade. Ser sustentável ainda é mais caro. O iceberg é o melhor desenho que caracteriza a sustentabilidade. A construção de qualquer empreendimento é a ponta do iceberg.

Quais são, então, os maiores desafios enfrentados pelo setor da construção civil? O grande desafio da construção civil sempre é atender às necessidades da população. Nesse ponto, não me refiro a mercado imobiliário. Falta muita estrada, falta muita ponte, falta muita logística nesse país, e que só pode ser resolvida pela construção civil. Não se pode admitir que um país dessa magnitude não tenha uma malha ferroviária completamente interligada, que os estados e as capitais não sejam interligados com a malha rodoviária e auxiliados por uma ferroviária, incluindo metrô de superfície e metrô subterrâneo. Há uma carência enorme de obras de infraestrutura. O setor teria que construir 36 horas por dia para satisfazer essa carência num prazo de 20 anos. E não se pode construir grandes obras de uso público quando não se tem infraestrutura para ligá-las.

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palavra

COMISSÃO OU RESERVA TÉCNICA: DAS ESTRANHEZAS DA ATUAÇÃO DO ARQUITETO *Vera Ferreira

Mas talvez a questão maior a refletir sejA: que arquiteto queremos para construir que tipo de arquitetura?

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T

êm surgido denúncias contra arquitetos que adotam a prática de receber comissões ou reservas técnicas, como são atualmente conhecidas no meio, por intermediar a venda de produtos e serviços para clientes. Arquitetos têm sido chamados de vendedores de luxo. Necessário se faz refletir sobre esse estado de coisas. Diz-se que a arquitetura é uma das profissões mais antigas do mundo. Alguns a remetem diretamente a Deus, o arquiteto do universo. Pretensões à parte, fato é que a arquitetura e, por extensão, os arquitetos, por força de seu ofício, ocupam posição de destaque na vida social desde sempre. Contribuindo para criar os espaços necessários à concretização de praticamente todas as atividades humanas, seja desde o primitivo abrigo das intempéries até a mais recente cidade tecnológica que se quer autossuficiente, a arquitetura se entranha no dia a dia das pessoas. O estado da arte da arquitetura nos remete a uma demanda da atuação do arquiteto necessariamente abrangente. Que associe à sabedoria acumulada do homem no seu olhar sobre a natureza conjugado à natureza das coisas humanas. E aos rumos das descobertas de melhores produtos e sistemas construtivos, da sustentabilidade socioeconômica e ambiental e até da forma de projetar através de meios eletrônicos. Talvez se possa dizer que desafio semelhante acontece para a sociedade como um todo, já que cada vez mais pessoas, empresas, instituições e até mesmo países precisam fazer escolhas que envolvem desafios equivalentes. E a cada desafio que surge para o arquiteto e a sociedade em que ele se insere existem correspondentes dilemas morais. Nada que não seja parte natural da evolução humana. Recentemente, através da lei nº 12.378, de 31/12/2010, criou-se o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), fruto de uma luta histórica dos arquitetos, que estabeleceu claramente impedimento para o profissional de “locupletar-se ilicitamente, por qualquer meio, à custa de cliente, diretamente ou por intermédio de terceiros” ( art 18 – VI).

Para tornar ainda mais objetivo o entendimento do limite ético de atuação do profissional da arquitetura, foi instituída a Resolução 52 de 06/09/2013 que diz: 3.2.16. O arquiteto e urbanista deve recusar-se a receber, sob qualquer pretexto, qualquer honorário, provento, remuneração, comissão, gratificação, vantagem, retribuição ou presente de qualquer natureza, seja na forma de consultoria, produto, mercadoria ou mão de obra, oferecida pelos fornecedores de insumos de seus contratantes. A partir da leitura dos instrumentos legais, torna-se muito clara a vedação de receber a comissão ou reserva técnica. E o que fazem arquitetos, o mercado e a própria sociedade a partir disso? Relativizam ou, de forma mais direta, ignoram a vedação. Há que se buscar também o olhar do mercado no processo, que quer utilizar o profissional como auxiliar importante na venda,porque pode agregar valor à imagem do produto ou serviço e influenciar sobremaneira na decisão de compra. Quanto mais o arquiteto se alia ao processo, mais é destacado e, por consequência, mais é contratado pela imagem de destaque que tem e, por conseguinte, mais consegue ser instrumento de venda para os fornecedores. É um ciclo que continuamente se retroalimenta. Alguns profissionais alegam que pode não existir essa correlação direta da especificação com a remuneração adicional e até mesmo que vivemos em uma sociedade em que tudo se relativiza. Verdade para uma circunstância e outra. Mas talvez a questão maior a refletir seja: que arquiteto queremos para construir que tipo de arquitetura? O grande mestre Frank Lloyd Wright nos responde: “Eu sei o preço do sucesso: dedicação, trabalho duro e uma incessante devoção às coisas que você quer ver acontecer.”

*Vera Ferreira é arquiteta e urbanista.



CONTEÚDO DIGITAL

A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO E DA TECNOLOGIA AMIGÁVEL Walmir Scaravelli*

Quando se pensou em informatizar um canteiro de obras, por exemplo?

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e 1930 a 1970, o Brasil teve dez presidentes da República. Nesse período, o País passou por diversas transformações políticas e econômicas. No entanto, foi a partir da chamada Era Vargas que a tecnologia nacional passou a ser promovida pelo Estado, com o intuito de atrair capital estrangeiro. Essa visão política resultou em duas frentes: o desenvolvimento tecnológico brasileiro e a criação de uma indústria de base. Ambas contribuíram para a inovação no País, inclusive no que se refere aos investimentos continuados e de longo prazo, e, sobretudo, para a formação de uma mão de obra mais especializada. Eis que surgiu, então, a consciência da importância da pesquisa acadêmica no setor. Apesar dos esforços, naquela época os brasileiros não possuíam a capacidade de consumo necessária que incentivasse a inovação. No entanto, os anos se passaram, e o que vemos hoje é uma realidade diferente daquela. Com a consolidação da nossa economia e a melhora do poder aquisitivo da população, a tecnologia passou a ser acessível a todos. Com os anos 2000, chegaram os tablets, smartphones e notebooks, tão presentes em nossa vida pessoal e profissional. As empresas também perceberam que investir em inovação e tecnologia é algo cada vez mais imprescindível para se manterem vivas e saudáveis em seus segmentos de atuação. Aproveitar ao máximo os recursos de TI transforma o ambiente de trabalho e ainda estreita o relacionamento com o cliente. Entre 2012 e 2013, as corporações brasileiras investiram US$ 3 bilhões em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Vale destacar, ainda, que o capital próprio das empresas é responsável por cerca de 90% dos investimentos realizados em inovações. E inovar traz resultados. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Brasil, quem inova remunera 23% a mais do que quem fica estagnado. Além disso, também são criados postos de trabalho de melhor qualidade, o que reflete diretamente na produtividade dos colaboradores, na capacitação tecnológica e na capacidade competitiva das corporações. Outro ponto relevante é a incrível abrangência que a tecnologia vem alcançando. Quando se pensou em informatizar um canteiro de obras, por

exemplo? E isso já é uma realidade, o aplicativo Mobuss Construção, que oferecemos, é uma prova disso. Nos últimos anos, profissionais da área, como arquitetos, engenheiros e gestores, têm se beneficiado de gadgets como esse para gerenciar e compensar o apagão de talentos no setor. Um levantamento feito pelo Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), comprova a tese. O estudo aponta que 60% dos empresários do setor da construção têm planos de investimentos em tecnologia. As soluções desenvolvidas permitem a administração de informações relacionadas ao controle de produção, qualidade e inspeção, além de segurança e controle de materiais. Todos esses dados são recolhidos em tempo real e são integrados aos sistemas ERP das construtoras e empreiteiras. Ao optar por um sistema de gestão completo, incluindo mobilidade e suporte para o dia a dia das corporações, o gestor pode concentrar sua atuação no desenvolvimento de ações estratégicas. Além do canteiro, o setor também vem investindo em plataformas que permitam viabilizar de forma mais ágil e segura os processos de concessão de crédito mobiliário, uma das molas propulsoras do crescimento do setor. Nesse sentido, desenvolvemos um Portal de Repasses, que auxilia as construtoras e incorporadoras na tarefa. O Portal tem foco no controle e monitoramento dos processos de financiamento. Com o sistema, é possível fazer a digitalização de documentos, impressão de formulários e, principalmente, a gestão de parceria com correspondentes bancários, mantendo sempre um histórico completo das tratativas. A plataforma ainda permite à construtora e ao correspondente bancário configurar as etapas do financiamento, com prazos pré-definidos e ainda descentralizar a gestão dos processos sem perder o controle global. Como vemos, os desafios são grandes, e a evolução é sempre constante.

* Walmir Scaravelli é Diretor Comercial e sócio-fundador da Mega Sistemas Corporativos, empresa que oferece soluções tecnológicas diferenciadas de gestão empresarial para companhias que atuam nos segmentos de Construção, Logística, Manufatura, Combustíveis, Agronegócios e Serviços



painel acontece ABRINDO MERCADO Com expertise de mais de 20 anos no setor e um currículo de 450 mil metros quadrados de área comercializada, o engenheiro civil Leonardo Albuquerque está à frente da nova construtora e incorporadora de Pernambuco: a LMA Empreendimentos. A empresa chega com nove empreendimentos e um VGV de R$ 450 milhões. Lançada num momento de instabilidade do setor, a LMA aposta em projetos de alto padrão e vem alcançar um espaço ainda carente no Estado. “Selecionamos bairros estratégicos, relacionando público e IVV. O mercado ainda existe. A questão é a localização”, diz o presidente. O primeiro lançamento é o Aurora da Jaqueira, na Jaqueira, uma das regiões mais privilegiadas da Zona Norte. À frente da diretoria comercial, está o engenheiro civil Bruno Melo. Breno Albuquerque comanda a diretoria de Desenvolvimento Imobiliário.

EXPANSÃO Tradicional no segmento de decoração e presentes, Cecilia Dale chega agora ao Nordeste. Com lojas em São Paulo, Alphaville, Campinas, São José do Rio Preto, Curitiba e Rio de Janeiro, a marca abre sua primeira unidade na Região, no novo shopping RioMar Fortaleza, onde oferece uma seleção exclusiva de móveis, objetos decorativos, luminárias, ventiladores e enfeites, que vão do estilo casual ao mais sofisticado. “A casa não só pode, mas deve ser gostosa e linda sempre. Acreditamos que a casa é para viver, usar, morar e celebrar, pois é o centro da família, é onde a vida acontece, onde plantamos e colhemos a nossa felicidade”, diz a fundadora da marca, Cecilia Dale. Além do mix completo de produtos para o lar, a grife se destaca pelo serviço de lista de casamentos, além de ser referência em projetos corporativos de Natal. Inclusive, a marca assina também pela primeira vez projetos no Nordeste, na decoração natalina do Shopping Barra, em Salvador, e do Shopping Riomar Recife.

INTELIGÊNCIA IMOBILIÁRIA O grupo Prospecta Inteligência Imobiliária acaba de desenvolver um novo método de análise e pesquisa de mercado: o P2i – Insight de Mercado, instrumento de uso simplificado que dá mais segurança e firmeza na hora de investir em futuros empreendimentos. Com a ferramenta, o empreendedor poderá visualizar com antecedência e assertividade informações estratégicas sobre o mercado, recebendo feedback imediato e com toda a precisão sobre a leitura da demanda e o traçado do perfil do público da localidade escolhida para empreender. Para Cristiano Rabelo, sócio-diretor da Prospecta Inteligência Imobiliária, essa solução é fruto de muita pesquisa e dedicação nestes últimos 18 meses. “A nossa finalidade é construir um mercado imobiliário mais assertivo e responsável, sobretudo proporcionar ao micro, pequeno e médio empreendedor, até mesmo o novo entrante, as condições de fazer um estudo mercadológico sem a necessidade de alto grau de investimento”, esclarece Cristiano.

SOLIDARIEDADE Há 4 anos consecutivos, o projeto Casa da Criança, em parceria com o Home Center Ferreira Costa, vem desenvolvendo a campanha Natal Solidário. No interior das lojas Ferreira Costa Tamarineira e Imbiribeira, no Recife (PE), são montadas árvores de natal destinadas às instituições de atendimento a crianças e adolescentes, parceiras do Casa da Criança, e trazem nos galhos corações com o nome da instituição, nome e idade da criança e o sonho que ela gostaria de ver realizado no Natal. Os clientes escolhem um coração e realizam os desejos dos pequenos. A distribuição, documentada através de fotos, é apresentada aos clientes nas duas lojas. Este ano, através de oito instituições, 790 crianças têm um Natal mais feliz com a ação.

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painel acontece

NOVO MUNDO, UMA NOVA PERSPECTIVA Pernambuco ganha mais um novo centro multiúso: o Novo Mundo Empresarial, realização da Odebrecht Realizações Imobiliárias e do grupo Promovalor Investimentos. Localizado no bairro planejado Reserva do Paiva, o empreendimento é composto por seis torres com um total de 1.118 salas comerciais que variam de 32 m² a 55 m² e podem ser reunidas em lâminas corporativas de até 1.150 m² e adaptadas a diferentes plantas, estando a 12 km de Suape e a 14 km do Aeroporto Internacional dos Guararapes. Segundo o diretor regional da Odebrecht Realizações Imobiliárias, Luis Henrique Oliveira, um dos diferenciais do complexo é a sua localização. “O Novo Mundo Empresarial vai ser uma alternativa de escritórios de classe A para quem mora na Zona Sul da Região Metropolitana do Recife, pois há uma carência desse tipo de empreendimento nessa região, além da proximidade com Suape, que vem como um grande gerador de negócios”, destaca Luis.

INVESTIMENTO A capixaba Cedisa inaugurou a sua primeira unidade fabril na Região Nordeste, no Cabo de Santo Agostinho (PE). A pernambucana deve representar um aumento de 15% a 20% no faturamento da empresa, além de diminuir o prazo de entrega dos produtos na Região e ampliar a sua atuação nos mercados vizinhos, como o de Alagoas e da Paraíba. “Pretendemos fornecer para obras de infraestrutura e os vários outros empreendimentos que utilizam nossos produtos, inclusive como matéria-prima”, afirma o Gerente de Marketing da Cedisa, Eder Morais. Além da distribuição do variado mix de produtos, na nova unidade foram montadas linhas de produção de telhas metálicas (trapézio e onduladas) e perfis (dobrados e estruturais). A empresa também está instalando parques fabris em Salvador (BA), Duque de Caxias (RJ), Belo Horizonte (BH) e Americana (SP).

DESEMBARQUE O primeiro hotel da marca Courtyard by Marriott no Brasil abriu suas portas na Praia de Boa Viagem, no Recife (PE). Primeiro projeto hoteleiro desenvolvido junto à Rio Ave, o hotel conta com 162 apartamentos, amplo espaço de convenções, lobby moderno, restaurante, piscina, fitness center e estacionamento. “Recife é a maior e mais moderna cidade do Nordeste brasileiro. Além do turista de lazer, vem recebendo muitos viajantes de negócios. O Courtyard by Marriott chega ao mercado nordestino para oferecer a mais completa estrutura para eventos e reuniões, padrão da marca no mundo todo”, diz Gil Zanchi, country manager da Marriott International no País. A Marriott tem mais de 4.000 propriedades e mais de 690.000 quartos, em 77 países e territórios, e receitas de mais de 13 bilhões de dólares no ano fiscal do ano passado.

CONSULTANT MEETING Com filiais em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife e Manaus, a gigante japonesa Daikin apresentou, em outubro, algumas de suas principais soluções em ar condicionado no Consultant Meeting no Recife. O evento, que está em sua terceira edição, teve como objetivo atualizar os principais projetistas do Nordeste e apresentar os novos lançamentos da empresa, referência mundial em inovação e sustentabilidade em equipamentos de ar condicionado. Integrantes da empresa palestraram durante o encontro, como Luciano Marcato, gerente de produto applied; Genivaldo Rosa, gerente de produto e treinamento; e Cesar Andrade, da área de Serviços. A multinacional, que tem 90 anos de história e está presente em mais de 100 países, escolheu o Brasil na América Latina. Em relação ao Nordeste, a Daikin acredita que é a região brasileira com maior crescimento e preocupação com a tecnologia e o meio ambiente.

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CONCRETO COLORIDO Depois de passar por países como Coreia, Espanha, México e pela capital paulista, o Fórum Colored Concrete Works® desembarcou novamente no Brasil. Dessa vez o evento internacional, organizado pela unidade de negócios de pigmentos inorgânicos Lanxess, aconteceu em outubro, no Recife (PE). Em sua 7ª edição, o fórum reuniu profissionais de referência no segmento de arquitetura e construção civil para apresentar o uso do concreto arquitetônico colorido e suas tecnologias. O encontro reuniu personalidades como o renomado arquiteto espanhol Jesus Marino Pascual, decano do Colégio Oficial de Arquitetos de La Rioja e membro do Conselho Superior de Arquitetos da Espanha; os arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, sócios–fundadores do escritório Brasil Arquitetura e que assinam a obra do museu Cais do Sertão Luiz Gonzaga, construída em Concreto Colorido amarelo Bayferrox® 975M da Lanxess.

TALENTOS NO NORDESTE A Gerdau, em parceria com a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece, realizou em novembro o Prêmio Talento Engenharia Estrutural, considerada a maior premiação da área no Brasil. A iniciativa reconheceu o trabalho de projetistas estruturais que contribuíram para o desenvolvimento do setor nas categorias Infraestrutura, Edificações, Pequeno Porte, Obras Especiais e Construção Industrializada. O Nordeste foi destaque na premiação, com a menção honrosa em Infraestrutura concedida a José do Patrocínio Figueirôa pela Ponte Estaiada Alça da Ponte Paulo Guerra, no Recife (PE), e a menção honrosa em Sustentabilidade conquistada por Alan Dias pelo Shopping Iguatemi Fortaleza (CE). Já em Construção Industrializada, o ganhador foi George Magalhães Maranhão, pelo projeto Estaleiro Enseada do Paraguaçu, em Maragogipe (BA).

APOSTA O Nordeste surpreende com boas projeções para o PIB, que deve aumentar 2,7% em 2014, segundo estudo feito pela Tendências Consultoria. Tal cenário atrai investimentos, principalmente, da construção civil. A Marko Sistemas Metálicos, por exemplo, amplia sua atuação na Região através dos seus Dealers (distribuidores), que já instalaram mais de 2 milhões m² do seu Sistema de Cobertura Metálica Roll-on em todo o País. Uma obra recente foi a nova fábrica do Grupo Petrópolis, em Itapissuma (PE), que contou com o sistema em toda a cobertura dos refeitórios e na área de lazer para os funcionários. A escolha ocorreu pelo produto ser de fácil montagem, já que é 100% aparafusado. Ele proporciona um serviço simples e limpo no canteiro de obras e ainda permite a aplicação de isolamento termoacústico.

TECNOLOGIA E EXPERIÊNCIA Mais de 1.200 profissionais e estudantes reuniram-se em Natal (RN), no Centro de Convenções, para trocar experiências, aprender e debater sobre a tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos no 56º Congresso Brasileiro do Concreto, que aconteceu em outubro. Realizado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), o evento apresentou nesta edição pesquisas de ponta que vêm sendo desenvolvidas no País e no exterior, através de diversos trabalhos de pesquisadores de universidades, institutos e centros de inovação de empresas e instituições. Renomados especialistas participaram do congresso, entre os quais Hani Nassif, professor da Universidade Rutgers; André Pacheco de Assis, presidente da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos; Jürgen Krieger, pesquisador do Instituto de Pesquisas de Rodovias Federais; Paulo Monteiro, professor da Universidade de Berkeley; Lev Khazanovich, professor da Universidade de Minnesota; e Odd Gjorv, professor da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia.

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Equipe Editora Construir Nordeste.

15 anos com homenagens e premiação Revista Construir NE recebe convidados em noite de celebração por Manoela Siqueira

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ma noite memorável! Assim foi o evento que marcou a primeira edição do prêmio da revista Construir NE Arquitetura e Engenharia, que também comemorou os 15 anos da publicação. A festa aconteceu na Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), na zona Central do Recife, na segunda quinzena de novembro. A noite foi prestigiada por construtores, engenheiros, arquitetos e profissionais do setor. “A história da revista foi construída graças às parcerias conquistadas, ao trabalho dos nossos conselheiros e colaboradores. É um dia para agradecer e celebrar”, comentou Elaine Lyra, diretora da Construir NE. Segundo o presidente da comissão julgadora e professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da Universidade de Pernambuco (PEC/UPE), Alexandre Gusmão, foram escolhidas quatro categorias para a premiação: Arquitetura, Sustentabilidade, Engenharia e a categoria especial, denominada este ano

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Troféu 1º Prêmio Construir Nordeste.


de Cidade para o Cidadão. Além dele, fizeram parte da comissão Joaquim Oliveira, Risale Neves, Maurício Pina e Lucian Andrade. Gusmão explica que os trabalhos inscritos foram submetidos à análise da comissão e obtiveram médias, classificando-os ou não. “A virtude do prêmio é, sem dúvida, o reconhecimento dos profissionais e de suas obras de engenharia e arquitetura”, ressaltou. O homenageado da noite foi o professor e engenheiro Joaquim Correia, diretor da Tecomat Engenharia, especializada em consultoria construtiva e análise de materiais de construção civil, que chegou ao evento acompanhado pela família. Em um breve discurso, após receber as placas comemorativas da ABCP e da revista Construir NE, discorreu: “Admiro, na Região Nordeste, onde tudo se torna mais difícil, uma revista se firmar por 15 anos. Os meus votos são para que a Construir NE se perpetue. Quero parabenizar a todos os premiados e agradecer imensamente a homenagem”. Com 55 anos dedicados à engenharia e 80 de

idade, o engenheiro disse que não pensa em se aposentar tão cedo. “Pretendo trabalhar todos os dias porque, para mim, o trabalho é divertimento. Até onde a vida permitir, pretendo fazer engenharia com dignidade”, finalizou o discurso visivelmente emocionado. A diretora Elaine Lyra foi a segunda homenageada da noite. Família, equipe e amigos gravaram depoimentos em vídeos que foram exibidos durante a comemoração. Na categoria Espaço Aberto, que valoriza artigos científicos, o destaque foi o projeto Segurança contra incêndio em edificações, de José Rêgo, Tiago Ancelmo e Dayse Cavalcanti. No setor de arquitetura, o projeto em destaque foi o Cais do sertão Luiz Gonzaga, da Brasil Arquitetura, representado por Gilberto Freire. O projeto une arquitetura e museografia, e surpreendendo o visitante. Na categoria Boas práticas, que dissemina projetos sustentáveis, ganhou o Desperdício zero, de Serapião Neto e Felipe Coelho. Idealizado pela Reserva Camará, o projeto realiza gerenciamento de resíduos, reutilização

da água e geração de energia eólica, que ajuda a diminuir os impactos da construção em relação ao meio ambiente. Finalizando a premiação, na categoria especial Cidade para o cidadão, o prêmio foi para os arquitetos Igor Borba e Mariana Aragão, que desenvolveram o projeto Circuito papangus. “Fizemos a proposta de uma intervenção urbanística no entorno da Igreja Matriz de Bezerros, local onde é realizado o tradicional carnaval da cidade. O espaço público formado por três praças e uma rua deve ganhar pista para corrida, área de lazer e lanchonetes”, explicou Igor. Para Mariana, que recebeu seu primeiro prêmio, o reconhecimento de um trabalho é motivador. “O projeto foi desenvolvido com muito esforço e dedicação. Receber esse prêmio é muito gratificante”, pontuou. Após a premiação e as homenagens, a festa foi animada pelo som do DJ Fernando Veras e da Banda Wave. De acordo com a diretora da revista, a segunda edição do prêmio deve acontecer no segundo semestre de 2015.

Equipe Tecomat.

Elaine Lyra, Pablo Braz e Renata Farache.

Juliana Chaves, Elaine Lyra e Francisco Carlos da Silveira.

Festa de 15 anos da Revista Construir Nordeste e entrega do 1º Prêmio Construir Nordeste.


painel tecnologia

A cor que colabora com a sustentabilidade Concretos e asfaltos coloridos têm dado vida às construções tradicionais. Do cinza aos muitos tons de amarelos, vermelhos e marrons, as construções ganham vida, apresentam mais resistência à intempéries e ainda podem ganhar pontos na classificação de Green Building — movimento para melhorar as condições ambientais de vida e o efeito que as edificações têm no ar e no mundo ao seu redor. E por que isso? Graças ao pigmento de óxido de ferro Bayferrox®, utilizado para colorir artefatos de concreto, asfaltos e pisos intertravados e produzido pela LANXESS — empresa de especialidades químicas — ter recebido recentemente a Certificação de Conteúdo Reciclado do SCS Global Services. O instituto SCS, formalmente conhecido como Scientific Certification Systems, Inc., localizado na Califórnia, EUA, é um líder independente e confiável em certificação ambiental, de sustentabilidade e qualidade de alimentos, auditoria, teste e desenvolvimento de normas. O SCS Global Services testou os Pigmentos Bayferrox® e descobriu que a maioria das linhas de óxido de ferro possuem porcentagens altas de conteúdo reciclado, conservando, assim, os recursos naturais. Isso significa que o material reciclado compõe mais de 90% das matérias-primas de ferro usadas para a produção de pigmentos em suas plantas. Um exemplo de material reciclado usado na produção dos óxidos de ferro são os refilos metálicos provenientes do setor automotivo. Para a coloração de concreto ou outros materiais usados em construção, o uso do Bayferrox®, com a certificação SCS, permite que os arquitetos utilizem os pigmentos como um fator para o cálculo dos pontos nas escalas de classificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). Dessa forma, podem auxiliar na obtenção de qualquer nível de certificação Leed, bem como na obtenção de créditos das outras iniciativas de certificação ecológica para edificações existentes no mercado. Os pigmentos inorgânicos da LANXESS apresentam alto poder de tingimento, são extremamente resistentes à luz, à intempéries e caracterizam-se por sua alta qualidade e processamento ambientalmente amigável. Estão disponíveis em pó, compactos e granulados de melhor fluidez e são usados para adicionar cor em muitos mercados ­— como os de construção, tintas, plásticos, além de aplicações técnicas especiais. Todas as plantas de produção são certificadas pela ISO e seguem os mesmos processos mundialmente estabelecidos e ambientalmente amigáveis.

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Informações técnicas Os pigmentos em questão são utilizados para colorir blocos, tijolos e telhas de concreto, pisos intertravados, paineis arquitetônicos, argamassas, ready mix, produtos de fibrocimento, entre outros. São produzidos através dos processos Laux, Penniman Zoph e de precipitação, altamente sustentáveis. Normas relacionadas: • ASTM C 979 • EN 12878 Características: • Atoxidade. • Resistência ao ataque agressivo do cimento fortemente alcalino, à exposição à luz, intempéries. • Insolúveis na água de mistura. • Firmemente integrados à matriz cimentícia durante o processamento. • Cores homogêneas e duráveis. Serviço bayferrox.com.br



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Sistema antirruído que atende às exigências da norma NBR 15.575 O excesso de ruídos é um dos principais problemas de saúde pública, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e uma das causas mais comuns de conflitos entre vizinhos. Lajes, tubulações, paredes e pisos são as principais vias de propagação de ruídos em edificações verticalizadas. A Viapol, referência nacional no desenvolvimento de soluções para construção civil, ciente da relevância do tema, investiu no desenvolvimento da Linha Acústica Viapol Antirruído®, que oferece manta adequada às características dos sistemas flutuantes e emulsão para as necessidades do sistema aderido. Completa, a linha atende aos três níveis de desempenho exigidos pela norma NBR 15.575:2013 “Edificações Habitacionais – Desempenho”, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No que se refere a ruídos de impacto de pisos e coberturas, por exemplo, os sistemas de pisos separando unidades habitacionais autônomas devem apresentar índices de isolamento entre 66 e 80 dB (decibéis) para o nível mínimo, 56 e 65 dB para o nível intermediário e menor ou igual a 55 dB para atender ao nível superior. Os testes em campo atendendo ao exigido pela NBR 15.575:2013 demonstram a eficácia da linha, que agiliza o sistema acústico sem interferir nas atividades subsequentes da obra. Os produtos agem como redutor de ruídos de impactos e são recomendados para instalação em pisos de edifícios residenciais, hotéis, hospitais, visando a redução sonora entre pavimentos e também junto a tubulações de água e esgoto. A manta é estruturada em não tecido de fibra de vidro, produzida com asfalto especial e acoplada à geotêxtil de alta gramatura, criando um composto acústico adequado à absorção sonora por impacto em pisos e tubulações de água e esgoto. De rápida e fácil aplicação, é imputrescível (não se deteriora). A manta atende, também, às normas internacionais ISO 140-7 e ISO 717-2 – Ensaio de avaliação do nível de pressão sonora de impacto. Está disponível em duas versões: com 5 mm de espessura: indicada para atender o nível superior da NBR 15575:2013 e com 3 mm de espessura, indicada para atender ao nível intermediário. Ambas são comercializadas em rolos de 5 m x 1 m. Já a Emulsão Viapol Antirruído®, outro item que compõe a linha, e atende ao padrão mínimo estabelecido pela ABNT, é à base de asfalto composto com cargas de borracha reciclada, emulsionado em água, aplicado a frio em uma única demão e em ambientes fechados. Depois de curado, forma-se uma membrana asfáltica com excelente característica de redução de ruídos de impacto.

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Informações técnicas Manta Viapol Antirruído® 5 mm: nível superior da NBR 15575:2013 (menor que 55 dB) Manta Viapol Antirruído® 3 mm: nível intermediário da NBR 15575:2013 (menor que 66 dB) Emulsão Viapol Antirruído®: nível intermediário da NBR 15575:2013 (menor que 80 dB) Benefícios: • Dupla ação: Geotêxtil (“mola”) + Manta (amortecimento) • Two way (funciona nos dois sentidos) • Imputrecível • Fácil aplicação • Desempenho acústico de acordo com NBR 15.575 • Diminui ou elimina contrapiso • Isento de solventes. Uso de insumos reciclados. Serviço viapol.com.br sac@viapol.com.br Fone: 11 2107 3400


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De olho nas novas tendências Hoje a precisão é fundamental para uma obra. E recursos não faltam para os profissionais do segmento, com as lojas de material de construção exibindo o que a Bosch tem de inovação para facilitar a vida de todos os profissionais desse segmento. Estamos vivendo uma fase de transição, de mudança cultural e tecnológica em nosso país. A geração dos “smart phones” e Ipads está cada vez mais presente; e para as ferramentas de medição a tendência é a mesma. A Bosch oferece um portfólio de cerca de 40 produtos da linha de instrumentos de medição que se dividem em 3 segmentos: Medição (ex: Trenas a laser GLM30 e GLM100C com conectividade com smartphone e com alcance de 30 e 100 metros respectivamente ); Nivelamento (os níveis autonivelantes de linha GLL2-15, GSL2, GLL3-80 e os rotativos GRL300HV); e Detecção (ex: D-tect120 e D-tect150, que conseguem detectar e identificar diversos tipos de materiais e até mesmo PVC, evitando que o usuário faça furos em locais impróprios). A utilização desses equipamentos geram muitas vantagens, começando na “economia de tempo” e “precisão do trabalho”. Tomando como exemplo um orçamento de um arquiteto para decorar uma pequena sala, seriam necessários, com instrumentos convencionais, pelo menos duas pessoas (uma para esticar a trena ou a fita e outra para anotar os dados), uma escada (para medir altura), um lápis ou uma caneta (para registrar as informações), uma calculadora (para multiplicar largura, comprimento e altura), sem contar o tempo gasto para realizar. Com as trenas a laser da Bosch (GLM50, por exemplo), pode-se realizar o trabalho sozinho. Clicando 3 vezes em um botão, e gastando não mais do que 20 segundos, os cálculos estão prontos e precisos, sem chance para erros e retrabalhos. A gama de profissionais que usam os produtos de medição da Bosch é bastante vasta, dentre eles empreiteiras, construtoras em geral, mestres de obra, pintores, instaladores de ar-condicionado, eletricistas, marceneiros, instaladores de Drywall, engenheiros, arquitetos, corretores de imóveis, topógrafos, entre outros.

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painel tecnologia

S​oluções Inteligentes para o mercado de Construção Civil Sempre preocupada em investir na constante modernização dos seus processos produtivos, a Eplast está pesquisando e desenvolvendo produtos de alta qualidade, tecnologia, inovação e serviços diferenciados. A Eplast adota uma política ecológica e socialmente correta no que se refere ao desenvolvimento de seus produtos e trato com a sociedade. Preza pela fabricação de produtos ecológicos que possam garantir a conservação dos recursos naturais e melhorar a qualidade de vida das pessoas através de seus benefícios. A matéria-prima de todos os produtos Eplast é o PVC, um plástico que atende aos requisitos básicos do desenvolvimento sustentável.

Informações técnicas Sua versatilidade na modulação é uma das características marcantes dessa tecnologia. Paredes formadas com perfis ocos, preenchidos com concreto e resistentes a impactos, de fácil limpeza e baixo custo de manutenção. O conforto térmico e a velocidade de obra também são vantagens desse inovador sistema.

A cadeia produtiva do PVC contribui diretamente com a sustentabilidade, pois é o único material plástico que não é 100% originário do petróleo. Sua principal matéria-prima é o sal marinho, um recurso natural inesgotável. ​​ O Grupo Eplast possui seu Centro Administrativo localizado no Recife e a produção de seus produtos em Escada, Pernambuco. Possui três marcas independentes: Nortelit Telhas de PVC; Tiletron Cabos e Condutores Elétricos e Eplast Casa Concreto PVC em parceria com a Global Housing International. Além de duas linhas de produtos: Premier Portas, Forros, Perfis, E-fix e Rodapés de PVC e Fenestra Esquadrias de PVC, com mais de 20 itens, em diversas opções de cores e modelos.​

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Serviço 81 3312 8887 e 81 3312 8888 eplastsa.com.br



Ser mais vale mais Ao completar 80 anos, Joaquim Correia compartilha um pouco da sua trajetória e dos valores que quer deixar de legado para a Tecomat por Juliana Chaves

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conhecimento. Foi um período que eu cresci muito e me tornei supervisor de obras da Hadan, que infelizmente faliu por problemas de gestão e devido à alta inflação da década de 1980”, lembra. A partir daí, o professor já saiu com a convicção de que queria ser consultor. Passou alguns anos com poucos serviços, até ser chamado para uma das maiores empresas de consultoria em pavimentação da

época, a Astep. Lá, ele atuou como engenheiro temporário na construção do Metrô do Recife.“Costumo dizer que foi nessa obra em que obtive a maioridade em concreto, porque foram usados vários tipos dele, inclusive com alta resistência, de 70 MPa, que hoje em dia ainda seria uma novidade”, conta. Após essa experiência, abriram-se as portas para inúmeras consultorias na área.

Aos 80 anos, Joaquim Correia defende que “ser mais” vale mais que “ter mais”.

foto: adriana noya

á pessoas que merecem ser conhecidas de perto. Joaquim Correia Xavier de Andrade, mais conhecido como Professor Joaquim, não galgou apenas uma projeção profissional como engenheiro civil. Referência na Região Nordeste, sobretudo no segmento do concreto, ele é daqueles seres humanos, com enorme bagagem intelectual, com quem se tem vontade de conversar horas. Nascido em uma família de nove filhos, em 1934, no município de Vicência, Zona da Mata de Pernambuco, Joaquim foi escalado para ser o médico da família, mas optou pela Engenharia, junto a outros amigos do colégio Oswaldo Cruz. Em 1959, formou-se na antiga Escola de Engenharia de Pernambuco, hoje o Centro de Tecnologia e Geociências – Escola de Engenharia, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi professor da UFPE por 45 anos e da Politécnica da Universidade de Pernambuco por 10. Em 1995, recebeu a Medalha de Mérito no Centenário da Escola de Engenharia pelos serviços prestados à engenharia pernambucana e nacional. Sua experiência profissional começou na Rede Ferroviária do Nordeste, passando pela representante de equipamentos rodoviários Oscar Amorim e pela Prefeitura do Recife. Em seguida, Correia foi convidado para trabalhar no Departamento de Transportes da Sudene. “Todos almejavam a Sudene, que estava em seu auge, mas eu perdi o encanto e pedi demissão. Fui muito criticado, mas queria trabalhar na construção civil. Minha esposa, Fernanda, foi a única que me apoiou”,recorda, com emoção, ao lembrar das palavras da mulher com quem conviveu por mais de 60 anos, a médica Fernanda Wanderley, falecida em agosto de 2012. Logo em seguida, foi convidado para ser engenheiro auxiliar na Hadan Engenharia, empresa do Sul do País que aportava no Recife. “Sempre tive a característica de absorver muito das pessoas que tinham


A Odebrecht foi a primeira cliente, para a obra do viaduto Tancredo Neves, no Recife. “Construímos uma história de muita confiança com a Odebrecht e outras empresas, muitas delas clientes até hoje. Tive a honra de ser, por exemplo, o primeiro homenageado do Prêmio Odebrecht de Engenharia, em 2004, e de ser premiado também com o Top of the Year 2013, da construtora Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário, na categoria Projetos e Engenharia”. Era o tempo de abrir a Tecomat, em 1992, para formalizar as consultorias prestadas nas obras de infraestrutura e ingressar também no mercado habitacional.

Patrimônio Intelectual “O maior patrimônio da empresa é seu corpo de funcionários”. A frase do professor Joaquim demonstra a sua preocupação em formar uma equipe que replique o seu DNA, marcado por valores como seriedade, simplicidade, comprometimento com o cliente, transparência e respeito. Quase que a totalidade do seu corpo técnico foi formada dentro da empresa. O saber e o saber fazer, tão valorizados pelo professor, hoje fazem parte da marca da empresa. Reconhecida nacionalmente, a Tecomat tem em sua receita de sucesso ingredientes como uma gestão e planejamento organizacional desde seus primeiros anos, com a consultoria da pernambucana TGI. “Nós nos preparamos para crescer. Fizemos o contrário do que o brasileiro normalmente faz, nós planejamos. E deu no que deu. Agora estou preparando a sucessão e desejo que a empresa se perpetue com os princípios que eu tenho, que podem se resumir em seriedade no que se faz.

Considero a Tecomat como uma filha.” Diz com sorriso largo o engenheiro, conhecido por sua fala sempre mansa, o que talvez o faça ter, aos 80 anos, pressão arterial de 12 x 8, sem auxílio de medicamentos.

Ser Mais vale mais O pai de Professor Joaquim, Joaquim Correia Xavier de Andrade, insistia muito: — O importante não é ter mais, o importante é ser mais. Com essa premissa, o engenheiro cresceu e gosta sempre de frisar: “Somos obrigados a faturar, mas não é faturar por faturar. A empresa não deve ser um caixa de um supermercado. Muitas vezes eu faço o serviço e não cobro”. Certa vez, o engenheiro recebeu de um aluno, Sebastião Neto, palavras que guarda consigo até hoje: “É surpreendente que, num mundo em que os valores tendem a se tornar virtudes e onde as pessoas se preocupam apenas com o ‘ter mais’, encontremos alguém que nos leva a descobrir a importância do ‘ser mais’, levando-nos a crer que o amor pelo que fazemos e a ética dentro de nossa profissão tornam-se dignos para exercer o papel que nos é confiado pela sociedade. E o senhor, Professor Joaquim, tem nos mostrado essas verdades, ensinando-nos muito além do que está nos livros”.

Espírito jovem Em poucos minutos de conversa com Joaquim Correia, é possível dar boas risadas ou elevar o pensamento a “algo maior”. Dono de uma memória impressionante, ele sempre tem citações sobre cada assunto abordado e “causos” engraçados. Seu espírito jovem é fabuloso e atribuído às mais

O sucesso Aos 80 anos, com três filhos e quatro netos, Joaquim Correia está realizado — tanto na profissão quanto na família. Aliás, é na família que ele encontra o segredo do seu sucesso. “A minha grande felicidade foi ter a mulher que eu tive. Uma vez, um amigo engenheiro me disse que eu tive muita sorte, e eu respondi dizendo que eu, na verdade, soube escolher. Em todo esse tempo, nunca brigamos. Fernanda era uma mulher extremamente simples, convicta dos seus ideais — um deles foi a Medicina. Ela era disciplinada, conselheira e era bastante evoluída pra época, muito inteligente. O que ela não sabia responder, ia atrás das respostas”, desabafa, com lágrimas nos olhos. Mas logo em seguida emenda uma risada larga: “Ela era uma aluna extraordinária, e eu me vi forçado a estudar para não ficar por baixo. Até isso eu devo a ela”, finaliza.

Consultorias em diversas obras na Região concederam “maioridade no concreto” a Joaquim Correia.

foto: acervo pessoal

foto: acervo pessoal

O filho escalado para ser o médico da família preferiu escolher outro rumo, formando-se como engenheiro civil em 1959.

de 4 décadas de convivência com alunos universitários. “Tenho 80 anos biologicamente, mas de cabeça tenho 40”, brinca. O contato com o público mais novo fez com que sua mente estivesse sempre ativa e atualizada. “Uma vez fui à sala de aula, e o outro professor não havia terminado. Para não ficar na porta parecendo que o estava pressionando, entrei na sala ao lado. Tomei um susto. Tinha um casal aos beijos abraçado. Minha reação foi sair correndo, e a moça passou o resto do ano encabulada. Anos depois, já não achava mais estranho ver as alunas de short e namorando pelo campus, acompanhei essa evolução e passei a aceitá-la”, recorda. Paraninfo por seis vezes seguidas de turmas de engenharia civil, Joaquim Correia foi aposentado compulsoriamente pela UFPE, aos 70 anos.


À PRIMEIRA VISTA

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01 PREMIADA Com alto padrão de acabamento, design e sofisticação, a PADO apresenta a fechadura com a maçaneta Ibiza, da linha BMW. Ideal para áreas internas e externas, o produto é constituído em aço inoxidável, com cilindro em latão maciço, conferindo o máximo de resistência. Desenvolvida em parceria exclusiva com a BMW Designworks USA, a linha foi premiada pelo Product Design Award no IF Product Design Award, um dos prêmios mais respeitados do mundo, considerado o Oscar do design. pado.com.br | 0800 701 4224

02 CONFORTO E ESTILO O ar condicionado LG ArtCool Stylist promete mexer com os sentidos e compor os mais diversos espaços com estilo e conforto. O sistema de ventilação conta com três saídas, o que garante uma distribuição mais fluida do ar no ambiente, de maneira silenciosa e eficiente. O produto conta com inovadora iluminação em LED, com alternância de cores customizada, proporcionando um ambiente mais intimista e próximo do clima desejado pelo consumidor. Há também a função Smart Alarm, que desperta simulando gradualmente o efeito da luz do sol, além do acesso remoto que pode ser feito por meio de aplicativo. Tudo isso com a alta eficiência da tecnologia Inverter V, que proporciona maior economia de energia. lge.com/br | 4004.5400

03 PRATICIDADE NA MISTURA As obras com paredes Drywall agora contam também com a facilidade das bases monocomando para chuveiro. Com o novo Misturador Monocomando para Chuveiro DocolModular, da Docol, é possível controlar a vazão e a temperatura da água, além de garantir ótima fixação e precisão no alinhamento, reduzindo manutenções e evitando infiltrações. O uso de produtos pré-fabricados torna a instalação rápida e fácil, evita recortes e desperdícios e elimina o problema de “bases enterradas ou salientes”. docol.com.br | 0800 474 333

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04 EXCETRENCIDADE DESCONTRAÍDA O sofá Marshmallow, da Herman Miller, pode causar um impacto divertido em um hall de entrada, salão ou sala de estar. Seu design excêntrico inclui 18 almofadas redondas confortáveis, que parecem flutuar sobre a estrutura de aço escovado tubular com pés pretos de acetinados. Há uma grande variedade de tecidos e couros, como couro preto dramático e tecidos em laranja lúdico ou vermelho vibrante. As almofadas são destacáveis para facilitar a limpeza. Também é possível mudar as almofadas para criar um novo visual. hermanmiller.com.br | 11 3049 3068

05 VIDRO IMPRESSO Chegando como mais uma opção para arquitetos, especificadores e clientes que desejam ambientes diferenciados e sofisticados, o SGG UNIQUE®, da Saint-Gobain Glass, é um vidro impresso com textura que remete a pequenos quadrados dispostos assimetricamente que, quando expostos à luz, promovem um efeito único nos ambientes. Ao mesmo tempo em que permite que a luminosidade adentre, também mantém a privacidade dos usuários. Uma ótima opção quando utilizado como divisórias, desde que passe pelo processo de laminação. Espessura de 3/4 mm e dimensão de 2,20 x 1,70 m. br.saint-gobain-glass.com | 0800 125 125

06 DOURADO CONTEMPORÂNEO Elegância pode estar onde se menos imagina. Um exemplo é esse chique e funcional misturador para lavatório Dot, na cor Red Gold, uma interpretação mais contemporânea do dourado. A peça, coleção da Deca, possui um design arrojado e pode ser encontrado também nas versões cromado, Black Noir e Gold Matte. deca.com.br | 0800 0121 323

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VITRINE Estilo

A BUSCA PELA IDENTIDADE O designer Robson Vila Nova é um autodidata. Nascido em Caruaru, há 35 anos mantém a empresa Studio na cidade do interior de Pernambuco. Robson é reconhecido por adequar seu estilo clássico às exigências dos clientes, resultando em ambientes harmoniosos e requintados. “Algumas vezes imagino que o projeto poderia ser um protesto de acolhimento, revelar rebeldia; outras vezes, cultural, voltado para as artes; e também aqueles mais recolhidos, que preferem passar mais sentimento, espiritualidade. Tudo isso vai sendo sentido na conversa inicial, no briefing, para poder conceituar e começar a criar. A ambientação é criar o refúgio da família, o lugar que ela vai se sentir bem e acolhida”, pontua o designer.

01 ESPAÇO Com ambientação e design de interiores, estar, jantar, TV, hall e bar em um único ambiente. O aproveitamento total do espaço foi o mote do projeto, para um casal com personalidade forte, marcante e que gosta de receber amigos. Ao empurrar a porta ao lado das taças, temos uma TV e, ao fundo, conseguimos ver uma parede entrecortada com vidro e iluminação interna (para disfarçar uma coluna estrutural).

02 ILUMINAÇÃO Uma cozinha com espaço gourmet para receber amigos, mármores italianos, parede com cerâmica decorativa, móveis planejados, louças, decoração e cores fortes. A união de todos esses atributos é melhor notada por conta da iluminação. Ela é a grande estrela da cozinha: simples, introvertida, disfarçada, porém esse tipo de luz indireta e marcante traz um aconchego, um pouco de paz.

03 NATUREZA O corte na alvenaria da parede, de onde sai uma iluminação azul, que se mistura com a luz superior, e, quando acesas, têm um conceito de espiritualidade, aconchego, paz. Passando pela persiana de madeira, a parede externa é de um verde claro, remetendo à natureza e trazendo um pouco do jardim para dentro do ambiente.

04 CORES Temos o azul e o branco, porém a prateleira tem cor de madeira para dar aconchego. A grande ousadia foi usar uma obra de arte, com profusão de cores, um impressionismo em amarelo e vermelho, em contraponto aos móveis.

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Infraestrutura sob uma perspectiva pública: instrumentos para o seu desenvolvimento O trabalho apresentado é resultado do estudo da infraestrutura sob uma perspectiva de direito público, no qual foram abordados diversos mecanismos que podem ser utilizados para o seu desenvolvimento, em particular para o Brasil. O objetivo é analisar o tema sob a ótica da ação do Estado, diferentemente de outras abordagens existentes sob o olhar da indústria que atua nos diversos setores de infraestrutura. Não é desnecessário recordar que a infraestrutura representa um custo considerável ao Estado; daí a razão para se debruçar sobre as formas de seu financiamento. Traçadas essas premissas, parte-se para a avaliação do planejamento governamental orçamentário na infraestrutura pública, constatando a importância, atualmente, do planejamento de médio e longo prazo nesse processo, especialmente com o Plano Plurianual brasileiro. Nessa dinâmica orçamentária, diversos fatores contribuem para a redução de investimentos no setor, e outras propostas visam a ampliar a quantidade de recursos públicos a esses projetos. Verifica-se a questão do problema da falta de espaço fiscal e o uso de alguns instrumentos orçamentários para mitigá-lo, como o crédito público, a vinculação de receitas e a despesa mínima obrigatória para infraestrutura pública. A análise rendeu tese apresentada, em 2013, à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) para obtenção do título de Doutor em Direito.

André Castro Carvalho Bacharel, Mestre e Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tendo sua tese de doutorado recebido o Prêmio CAPES de Tese 2014 como a melhor tese de doutorado defendida em 2013 no Brasil. Pós-graduado lato sensu em Direito Público. Atualmente, é professor do Programa de Pós-graduação Lato Sensu da FGV Direito/SP e professor de Direito Econômico da Universidade Ibirapuera. Foi Professor de Direito Financeiro da Faculdade Autônoma de Direito (2010) e de Direito Administrativo da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (2011/2013). Foi visiting researcher na Karl Franzens Universität Graz, na Áustria (2013), pelo Coimbra Group Scholarship Programme for Young Professors and Researchers from Latin America, e visiting scholar e professor na Nankai University (Tianjin) e JiLin University (Changchun), ambas na China (2012/2013). Foi pasante internacional no Morales & Besa Abogados (2012), escritório sediado em Santiago, Chile. É Corporate Trainer da Redcliffe Training Associates Ltd. em Compliance AML/CFT & Sanctions. Sócio-titular de infraestrutura do escritório Queiroz Cavalcanti Advocacia.

PALAVRAS-CHAVE Concessões e pemissões de serviços públicos; desenvolvimento econômico; desestatização; infraestrutura; parceria público-privada; privatização.

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Reflexo no desenvolvimento econômico e social O Brasil pode ser considerado um adolescente em fase de crescimento que, nos últimos anos, cresceu significativamente, ganhou muita altura, peso e massa muscular. Suas roupas antigas, no entanto, estão muito apertadas, e o País ainda não conseguiu comprar a indumentária nova e, apesar de todas as sugestões dadas, parece que não está procurando nas lojas adequadas para poder substituí-la. Quando aparentemente encontra o que busca, dá-se conta que se esqueceu de sua carteira e não consegue levar as vestes novas para casa. Essa metáfora representa o momento relevante pelo qual a Nação passa em sua história: a necessidade cada vez mais crescente de incentivos e investimentos em infraestrutura pública, a fim de acompanhar o seu crescimento econômico. Nesse sentido, é necessário verificar a inter-relação entre infraestrutura e desenvolvimento econômico, não se confundindo com o mero crescimento nominal. É fato que uma nação desenvolvida costuma ter uma infraestrutura de qualidade, da mesma forma que nações em desenvolvimento que buscam uma posição de destaque mundial, como a China, investem elevados recursos públicos e privados em infraestrutura. A infraestrutura também possui ampla influência nos aspectos sociais, mesmo que, por vezes, os resultados sejam ofuscados pelas vantagens econômicas e deixados de lado nas mais diversas análises sobre o tema. Uma infraestrutura insatisfatória está sempre relacionada a baixos índices de desenvolvimento humano e elevados índices de pobreza, principalmente naquelas que acarretam influência direta na vida da população, como saneamento básico, energia e transportes. Juntamente com o impacto social, outros reflexos econômicos, como a melhoria da qualidade de vida da população ou estímulos ao turismo, soem ser analisados em cotejo com a evolução da infraestrutura pública. Sustentáculo para crescimento e desenvolvimento A infraestrutura esteve sempre relacionada com a história da humanidade, desde a Idade Antiga até a Idade Contemporânea. No entanto, o uso do termo infraestrutura e a preocupação com uma atividade ordenada do Estado em prol do seu desenvolvimento é mais presente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, momento no qual os estados nacionais passaram por profundas reestruturações, seja na reconstrução daqueles mais atingidos pelo conflito, seja na preocupação com a expansão do território em um mundo cada vez mais bipolarizado. O País também está cada vez mais presente no contexto internacional, assumindo um papel de protagonismo nas questões mundiais de alta relevância. Tais mudanças são perceptíveis nas últimas décadas: de um mundo bipolarizado entre Estados Unidos e União Soviética, observou-se um rearranjo nesse contexto com a queda do regime socialista soviético, a emergência econômica dos países asiáticos e o surgimento da União Europeia e do euro. As relações econômicas e sociais evoluíram a tal ponto que não se foi mais possível falar em um mundo bipolarizado, mas, sim, multilateral. A ascensão da China na última década só confirmou essas expectativas.

Essa “nova era” na ordem mundial, contudo, não foi acompanhada de um fator de desenvolvimento essencial para alguns países em desenvolvimento, como o Brasil: a infraestrutura pública. Funcionando como um verdadeiro sustentáculo do Estado em matéria de crescimento e desenvolvimento econômico e social, ela acabou tendo um papel diminuto nas políticas orçamentárias desses países. No Brasil, à semelhança de toda a América Latina, o movimento de desestatização e privatizações apareceu como uma forma de complementar esse déficit, mas foi encarado como uma substituição ao gasto público: concepção esta que não serviu, até o momento, para trazer o nível de infraestrutura existente a índices mínimos aceitáveis. Na última década do século passado e no início deste milênio, o orçamento público e a atividade financeira do Estado estiveram debruçados com questões fundamentais para o País, como a erradicação da fome, do analfabetismo e a melhor distribuição da riqueza produzida. Os setores de saúde e educação sofreram inúmeras reformas constitucionais desde 1988, com a criação de fundos e receitas específicas, mudanças nas regras de transferência de recursos e atribuições estatais, entre outros câmbios de cunho financeiro. Níveis de investimento não evoluíram A infraestrutura, por outro lado, não obteve a mesma atenção nesse processo: a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível (CIDE-Combustíveis) foi uma das poucas medidas concretas e diretas nesse sentido, não servindo, por si só, para solucionar o problema, o qual demanda múltiplas medidas em diversas áreas. Depois de um “surto” em meados da década de 1990, os níveis de investimento não evoluíram conforme se esperava para uma franca expansão do estoque da infraestrutura brasileira. Diante desse panorama do País, a falta de infraestrutura está sendo um dos principais entraves ao pleno desenvolvimento nacional e, inclusive, para o aumento da competitividade e inserção internacional. É algo que tem sido constantemente repisado, v. g., por juristas, economistas, engenheiros, arquitetos, cientistas políticos, geógrafos, historiadores e sociólogos, bem como objeto de amplos debates na imprensa, mas não se refletindo essas ponderações nas ações do poder público, principalmente por conta de alegações concernentes a restrições orçamentárias às quais se submete em razão da assunção de elevada carga de despesas de custeio, o que enrijece o orçamento público. Projetos mal planejados consumem mais recursos As infraestruturas, atualmente, estão cada vez mais interligadas à melhoria das condições de uma determinada localidade. Eis porque diversos níveis federativos vêm se debruçando sobre a sua promoção, como o municipal, regional, nacional ou transnacional. A própria preocupação com as chamadas infraestruturas transnacionais expõe essa nova tendência, refletindo-se, por exemplo, em rodovias que extravasam as fronteiras de um país.

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O maior problema é com relação ao “efeito transbordamento”, o qual, em último grau, pode fomentar o surgimento de free riders, exigindo, portanto, uma ação coordenada intergovernamental a fim de mitigar esse efeito. Algumas questões específicas relacionadas às infraestruturas também foram analisadas. O dimensionamento, por exemplo, continua a ser um problema que assola os gestores públicos, a saber, a definição precisa da quantidade e qualidade de uma infraestrutura é um dos grandes trade-offs da engenharia moderna. Não raro, surgem, em alguns países, os “elefantes brancos” ou, mais grave, infraestruturas que já nascem saturadas. Nesta última hipótese, muito se deve à demanda reprimida que acaba se revelando posteriormente com o surgimento da infraestrutura; a despeito disso, há casos de projetos mal planejados, o que ajuda a consumir ainda mais os recursos destinados ao setor. Efeito rede Uma característica que tem sido hodiernamente salientada é a necessidade de concepção das infraestruturas como um sistema de “nós” e “enlaces”, acarretando o consagrado “efeito rede”. Em um mundo cada vez mais interconectado, as infraestruturas ocupam papel de destaque nesse processo. Sobretudo no setor de transportes, é possível observar algumas infraestruturas assumindo verdadeiros papéis de hubs regionais ou nacionais, máxime no caso de portos e aeroportos. De fato, só se pode falar em infraestrutura se ela estiver coligada em rede, não fazendo sentido infraestruturas isoladas, sem funcionalidade alguma. O exemplo mais claro é o de telefonia: quanto maior o estoque de infraestrutura e maior o número de pessoas usufruindo, maior funcionalidade ela terá. É a aplicação da chamada Lei de Metcalfe nas infraestruturas. Escassez de normas O meio legislativo também possui parcela de responsabilidade no agravamento dessa realidade. A Constituição de 1988 não se deteve com muitos detalhes a essa questão, debruçada sobre outros assuntos de maior relevância para a época. Dessa forma, esperava-se que o Poder Legislativo infraconstitucional pudesse incentivar o Estado, pela sua atividade legiferante, a fim de se proporcionar um ambiente de investimentos públicos em infraestrutura. Todavia, a legislação infraconstitucional também não conseguiu encontrar um “hiato orçamentário” em razão das normas constitucionais que “engessavam” o orçamento. Dessa forma, nesses 25 anos da Constituição atual, há escassas normas infraconstitucionais a respeito do assunto, tendo havido um novo “surto” nos últimos anos em razão dos megaeventos esportivos que o Brasil irá receber nos próximos anos, o que ajudou a ampliar o debate no setor. O legislador constituinte derivado também só se pronunciou direta e explicitamente sobre o tema em 2001, por ocasião da Emenda Constitucional nº 33 (ao instituir a CIDE-Combustíveis).

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Diferentemente, houve uma intensa manifestação normativa com relação às privatizações e transferências na exploração de serviços públicos (desestatizações), relacionados à infraestrutura, à iniciativa privada. Nessa toada, apenas para mencionar algumas iniciativas, surgiram as Emendas Constitucionais nº 5 e nº 8, de 1995, nº 33, de 2001, Leis nº 8.630/1993 (portos), revogada recentemente pela Lei nº 12.815/2013, nº 8.666/1993 (licitações), nº 8.987/95 e nº 9.074/1995 (concessões e permissões de serviços públicos), nº 9.427/1996 e nº 12.783/2013 (energia elétrica), nº 9.472/1997 (telecomunicações), nº 9.478/1997 e nº 12.351/2010 (petróleo e gás), nº 10.233/2001 (regulação federal das rodovias, ferrovias e hidrovias e transporte aquaviário e rodoviário de passageiros e cargas), nº 11.079/2004 (Parcerias Público-privadas), nº 7.565/1986 e nº 1.182/2005 (setor aéreo e aeroportuário), nº 9.984/2000 e nº 11.445/2007 (água e saneamento básico) e nº12.462/2011 (Regime Diferenciado de Contratações Públicas). A grande maioria serviu para disciplinar investimentos privados em infraestrutura, havendo pouca regulamentação a respeito dos investimentos públicos, ficando sob responsabilidade das leis orçamentárias, sobretudo do Plano Plurianual (PPA). Tal disciplina veio, incidental e superficialmente, na Lei Complementar nº 101/2000, cujo foco é, evidentemente, diverso. A doutrina jurídica e a jurisprudência, da mesma forma, produziram, sobretudo nestes últimos quinze anos, farto material sobre concessões e permissões de serviços públicos. Entretanto, talvez até mesmo em razão da desnecessidade ou da falta de produção normativa a respeito da questão, esses estudos não se detiveram, com muito afinco, com relação ao lado público da promoção de infraestrutura, diferentemente de outras áreas do conhecimento humano. A produção jurídica de material sobre o tema está concentrada nos Tribunais de Contas, principalmente no Tribunal de Contas da União (TCU). É nesse sentido que este estudo pretende contribuir ao tentar extrair os aspectos jurídicos desse processo, analisando os mecanismos financeiros e orçamentários já existentes e novas propostas para melhoria nos investimentos em infraestrutura pública. Os principais instrumentos nesse processo são entendidos como as leis orçamentárias no Brasil, em especial o PPA, responsável pelo planejamento governamental de médio prazo e que pode ser uma importante ferramenta em prol do investimento público em infraestrutura, juntamente com os planos específicos de investimentos no setor. Os mecanismos financeiros estão relacionados com os institutos orçamentários que podem fomentar a canalização de recursos públicos para esse setor, como a vinculação de receitas, despesas obrigatórias ou a denominada regra de ouro. Há, outrossim, formas de investimentos de estados estrangeiros em infraestrutura de outros países. As alternativas analisadas no trabalho, evidentemente, são apenas algumas sugestões para o gestor público poder contar com a infraestrutura a serviço do desenvolvimento nacional, podendo dar plena vazão ao conteúdo do artigo 3º, II, da Constituição Federal. Tomando-se como base essa relação fundamental, a infraestrutura pode ser concebida sob outro olhar da sociedade, refletindo-se na tomada das decisões políticas e, deveras, impulsionando a melhoria das condições econômicas e sociais do Brasil.


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Estacas mistas: uma solução inovadora Alexandre Duarte Gusmão*

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orfologicamente, a cidade do Recife apresenta duas paisagens muito distintas: os morros e a planície. A ocupação da cidade com edificações de grande porte tem se dado, contudo, apenas no espaço confinado entre os morros e a orla marítima, que se constitui em uma grande planície. A planície é de origem flúvio-marinha, com dois níveis de terraços marinhos arenosos, além de depósitos de mangues, sedimentos flúvio-lagunares e aluviões recentes. Nesse contexto geológico, o subsolo típico é muito variado. Os depósitos de argila mole são encontrados em cerca de 50% da área da planície, muitas vezes em subsuperfície e com espessuras superiores a 15 m. A presença de espessos depósitos de argila mole tem favorecido o uso de estacas longas em muitas áreas da cidade. Por isso, as estacas pré-moldadas e metálicas têm sido muito utilizadas no Recife, e os comprimentos normalmente variam de 30 a 45 m, com custos muito elevados.

Em geral, o uso de estacas pré-moldadas conduz a soluções menos onerosas que as metálicas. No entanto, essas estacas possuem algumas limitações que podem inviabilizar o seu uso. A principal delas é a impossibilidade de atravessar camadas intermediárias resistentes. Durante a cravação, as estacas pré-moldadas ficam sujeitas a elevados esforços de compressão e podem quebrar. Nesse contexto, a solução mais indicada são as estacas metálicas. Para evitar a quebra das estacas, uma solução muito engenhosa é usar estacas mistas, que são formadas por estaca metálica na sua parte inferior e estaca pré-moldada de concreto na sua parte superior. A metodologia de projeto consiste nas seguintes etapas: (i) a partir das sondagens disponíveis, identificar a profundidade de limite de cravação das estacas pré-moldadas (NSPT entre 20 e 25); (ii) definir a profundidade da ponta das estacas metálicas (NSPT entre 40 e 50); (iii) calcular a capacidade de carga da estaca; (iv) definir a carga de projeto da estaca.

A capacidade de carga da estaca é formada por 4 parcelas de resistência: (i) resistência lateral do trecho superior (pré-moldada); (ii) resistência de ponta na interface entre as duas estacas; (iii) resistência lateral no trecho inferior (metálica); (iv) resistência de ponta da estaca metálica. Todas as parcelas podem ser calculadas usando-se os métodos semiempíricos tradicionais (Aoki e Velloso, 1975; Décourt, 1996). As estacas mistas foram usadas pela primeira vez na fundação do Condomínio Evolution, próximo ao Shopping Recife. Recentemente, essa solução foi usada nas fundações do trecho elevado da Via Mangue, entre o antigo aeroclube e os viadutos da Av. Antônio Falcão (Figura 1). As estacas tinham cerca de 40 m de comprimento, sendo 12 m de estaca pré-moldada de seção 40 x 40 cm e 28 m de estaca metálica com perfil laminado HP-310 x 79. Em ambos os casos, foram realizados ensaios de carregamento dinâmico, e os resultados foram plenamente satisfatórios.

*Alexandre Duarte Gusmão é Doutor em Engenharia Civil e Professor Associado e Livre Docente da Universidade de Pernambuco



De vento em popa Limpa e barata, a energia eólica está se tornando uma opção interessante para geração de eletricidade no mundo todo. O Brasil, dono de ventos de qualidade invejável, é o quarto país do mundo com as melhores condições para fomentar a energia gerada pela força do ar. Só em 2014, o setor investiu 15 bilhões de reais, patamar que deve ser mantido nos próximos anos. Descubra como a Região Nordeste saiu na frente e está se tornando um dos principais polos de investimento do setor no Brasil por Tory Oliveira


O Parque Rio do Fogo, no Rio Grande do Norte, está em operação desde 2006.

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ivulgado em novembro de 2014, o último relatório de avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática da ONU (IPCC, na sigla em inglês) alertou para a necessidade de cortes profundos nas emissões de poluentes para frear o fenômeno do aquecimento global e suas consequentes mudanças climáticas. Com mais de 800 autores e 30 mil artigos científicos consultados, o relatório apresenta também sugestões de ações que os governos do mundo todo podem seguir para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa. Dentre elas, está a “descarbonização” da matriz energética, ou seja, diminuir o peso das termoelétricas e outras fontes de energia poluentes na geração de eletricidade e investir em alternativas “limpas”, como a energia solar e a eólica.

Hoje, com o patamar de 140 reais por MW/hora, a eólica é a segunda fonte de energia mais competitiva do Brasil, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas, Elbia Melo.

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Diante desse cenário adverso, a energia eólica, gerada a partir da força dos ventos, pode se tornar uma opção interessante, especialmente no Brasil. Estima-se que a capacidade eólica mundial instalada pode crescer 530% até 2030, fornecendo até 19% da eletricidade global, segundo relatório feito em parceria com o Greenpeace. Em 2013, a capacidade instalada de energia originada pelos ventos contabilizou 318 GW em todo o mundo e gerou 3% da eletricidade global. Apesar de recente no País, a energia eólica atingiu a capacidade instalada de 5 GW em agosto deste ano, o suficiente para atender 4 milhões de lares brasileiros, ou 12 milhões de pessoas. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal, os ventos já geram mais energia do que as usinas nucleares tupiniquins. Atualmente, a fonte representa 3,2% de toda a capacidade instalada do País. A meta é chegar a corresponder a 11% da matriz energética até a próxima década. Especialista em regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Wellington de Lemos Santos conta que existem 3 GW de empreendimentos com construção em andamento, com previsão para conclusão entre 2015 e 2016. “Hoje, a fiscalização da Aneel acompanha mais de 9 GW em empreendimentos eólicos, e existe mais uma

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quantidade razoável de empreendimentos com autorizações ainda não emitidas, que se viabilizaram em leilões recentes de energia”, explica. Nesse quadro, o Nordeste brasileiro se destaca como um dos maiores potenciais de energia eólica do País, ao lado do Sul do Brasil. O Nordeste possui ventos com características fundamentais para movimentar as turbinas geradoras de energia: velocidade e constância.“No passado, a fonte eólica custava muito caro e por isso não havia investimento”, explica Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), informando que o custo era três vezes mais alto do que o valor praticado atualmente. A presidente da entidade diz que, diante da abundância de recursos hidrelétricos no Brasil, o não investimento em energia eólica era uma decisão racional, do ponto de vista econômico. Estava claro, porém, que a energia eólica passaria a ser uma opção para a matriz energética brasileira no dia em que seu preço se tornasse competitivo. “Hoje, com o patamar de 140 reais por MW/hora, a eólica é a segunda fonte de energia mais competitiva do Brasil, perdendo apenas para as grandes hidrelétricas”, analisa. Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Piauí concentram os grandes projetos de energia eólica no Brasil. Há também iniciativas no Maranhão e em Pernambuco.


Um dos grandes entraves do setor é a logística do transporte de equipamentos.

A conversão da energia dos ventos em energia mecânica vem sendo utilizada pela humanidade há pelo menos 3 mil anos. Podemos definir vento como o movimento do ar de uma área de alta pressão para uma de baixa pressão. O vento só existe porque o nosso Sol aquece a superfície da Terra de forma desigual: à medida que o ar quente sobe, o ar frio se movimenta. Dessa forma, enquanto o Sol brilhar, o vento continuará soprando, o que faz da eólica uma fonte energia classificada como renovável. De outro lado, combustíveis fósseis como o petróleo são uma energia não renovável. Os moinhos de vento usados para moer grãos e bombear águas para atividade agrícola estão entre as primeiras aplicações conhecidas da energia eólica, assim como o uso da energia dos ventos para navegar no oceano. Já sua transformação em eletricidade vem sendo objeto de estudo há 150 anos. O grande salto tecnológico, porém, deu-se nos últimos 20 anos, quando a energia eólica começou a se tornar viável comercialmente. O primeiro impulso aconteceu na esteira da crise do petróleo (ocorrida no final da década de 1970), quando a Europa foi confrontada com sua forte dependência energética dos combustíveis fósseis, com o carvão e o petróleo, para gerar eletricidade. Com o objetivo de

reduzir esse quadro, os países europeus fizeram grandes investimentos nas chamadas fontes alternativas de energia, como a eólica, a solar, entre outras. “A Dinamarca e a Alemanha, por exemplo, criaram tarifas especiais para a energia eólica, isso fez com que o mercado evoluísse”, afirma Pedro Rosas, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e um dos principais especialistas do tema no Brasil. Com a evolução do mercado, o preço das máquinas caiu devido à oferta, criando uma diminuição generalizada dos custos. Em 1980, na Dinamarca, pequenas companhias de equipamentos agrícolas desenvolveram as primeiras turbinas eólicas, inicialmente com pouca capacidade energética. “A Dinamarca pegou uma legislação local que incentivava o uso da energia eólica e a promoveu, a partir de uma política nacional de incentivos governamentais”, lembra Pedro. A criação de políticas internas de incentivo contribuiu para o desenvolvimento da tecnologia, além de alçar a Dinamarca ao posto de maior fabricante mundial de turbinas eólicas e de país com a maior fatia de energia dos ventos em sua matriz energética: 30%. O progresso tecnológico também contribuiu para aumentar a competitividade da energia eólica. As torres ficaram mais altas, o que aumentou a

foto: shutterstock.com

produtividade e reduziu-se o custo de produção por máquina. “Uma torre que tinha 50 metros de altura, hoje tem 100 metros. A potência de uma máquina que antes era de 1 MW, hoje é de 3 MW”, destaca Elbia. Atualmente, a China é o maior país produtor de energia eólica do planeta, seguida pelos Estados Unidos, pela Alemanha, Espanha e Índia. Já o Brasil ocupa a 13º posição, de acordo com ranking elaborado pela Global Wind Statistics. Trata-se de uma colocação nada desprezível, tendo em vista que os primeiros investimentos nacionais no setor começaram para valer apenas no final da década de 1990. Em 1996, uma equipe de pesquisadores da UFPE desenvolveu o primeiro atlas eólico do Brasil: um mapeamento do potencial eólico disponível no País. Até então, não havia mapas confiáveis, o que dificultava a promoção dessa matriz energética. Isso porque um projeto eólico se desenvolve a partir da prospecção dos locais com condições mais adequadas para a sua implantação, do ponto de vista geográfico, ambiental ou econômico. O estudo elaborado pela universidade serviu de base para o desenvolvimento da indústria eólica regional. Em paralelo, alguns estados investiram no mapeamento de seus ventos. O pioneirismo explica porque o Nordeste saiu na frente, e hoje seus

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mesmos, e não com as fontes já estabelecidas. Foi uma forma de testar a viabilidade da matriz”, recorda José Mário Gurgel, coordenador de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec) do Rio Grande do Norte. Para Gurgel, o leilão de 2009 gerou um grande estímulo em toda a cadeia produtiva: “Num primeiro momento, quase tudo era importado. Aos poucos, foi-se desenvolvendo a produção local, com um papel importante dos bancos de fomento, que gradualmente aumentaram a exigência de nacionalização dos componentes”. Na opinião do secretário, a tendência é que o mesmo aconteça, nos próximos anos, com a energia solar, com a vantagem do aprendizado acumulado pelo setor de energia eólica. Para Elbia, da Associação Brasileira de Energia Eólica, houve um reconhecimento do governo, mas ele se deu pelo fato de a fonte ter se mostrado competitiva. “Não há nenhuma política ou incentivo

estados concentram grande parte do potencial instalado. “O Ceará mapeou seu potencial eólico no fim dos anos 1990, o que lhe deu grande vantagem”, destaca Pedro Rosas, da UFPE. A qualidade dos ventos que sopram em nosso País também contribuiu para a competitividade da fonte eólica. O Brasil é hoje um dos quatro países do mundo que possui as melhores condições para a produção de energia por meio da movimentação do ar. O vento brasileiro atinge velocidades altas, é praticamente unidirecional e constante. “Isso faz com o que o fator de produção por máquina, que é, em média, de 28% no resto do mundo, chegue a 50% no Brasil”, ressalta Elbia Melo. Em 2009, o Brasil passou a estimular a criação e o desenvolvimento de outras fontes energéticas, por meio de leilões. “O leilão de 2009 foi um grande divisor de águas, porque o governo federal possibilitou aos projetos de energia eólica disputarem entre eles

à energia eólica”, critica. “A política energética no Brasil é muito clara: o governo contrata aquela energia mais competitiva, privilegiando àquelas limpas e renováveis. Esse espaço não foi dado à energia eólica, mas, sim, conquistado”, pontua. Além das vantagens ambientais, o aspecto socioeconômico da energia eólica também é um dos destaques, superando, em alguns casos, a importância da geração de eletricidade em si. A energia eólica é capaz de trazer um desenvolvimento muito grande para as regiões produtoras, que, coincidentemente, estão entre as mais pobres do País.“Os parques que estão sendo construídos estão levando renda e riqueza para as populações muito pobres no semiárido”, pondera Elbia Melo. “Os equipamentos geralmente são instalados em terrenos alugados de pequenos proprietários, que passam a receber uma renda por ter um aerogerador lá instalado. Isso gera um efeito multiplicador muito grande”.

No Rio Grande do Norte existem 87 parques em construção. Até 2017, eles devem entrar em operação, tornando o Estado líder na produção de energia eólica no País.

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Pedro Rosas, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFPE, é um dos principais especialistas do tema no Brasil.

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crise hídrica de São Paulo, na visão dele, é uma amostra dessa necessidade. “Os eventos climáticos estão cada vez mais intensos. Eu nunca imaginei ver terra rachada em São Paulo, essa sempre foi uma característica do Sertão”. Por conta disso, opina, a energia renovável, como a eólica, veio para ficar. “Veremos cada vez mais empreendimentos com geração eólica, solar, biomassa. É um caminho sem volta”. O último leilão realizado pelo governo federal parece confirmar essa aposta. Realizado em 31 de outubro, o Leilão de Energia de Reserva (LER 2014) viabilizou a contratação de 769 MW. Esse volume será responsável pela geração de 11,5 mil novos postos de trabalho através de 3 bilhões em investimentos e produção de 385 aerogeradores e 1.154 novas pás. A quantidade de energia que será gerada quando as turbinas forem ligadas será capaz de abastecer mensalmente 1,5 milhão de residências e evitar a emissão de 716 mil toneladas de CO².

foto: ABEEólica

Quais são os entraves que impedem que a energia eólica seja mais explorada no País? Para Elbia, as linhas de transmissão, responsáveis por levar a eletricidade dos parques eólicos para as indústrias ou residências, são questões importantes, mas naturais para uma indústria que cresce de forma acelerada. “O Brasil é um país que carece de infraestrutura, mas este é um gargalo que está em vias de solução, pois foi mudada a metodologia dos leilões para a instalação dessas linhas”, conta. Hoje, as linhas são leiloadas antes dos parques, o que beneficia o planejamento, explica Elbia, que também destaca os problemas de logística existentes em um país de dimensões continentais que priorizou, nas últimas décadas, o transporte por terra. Isso faz com que hoje as pás e outros equipamentos eólicos sejam transportados pelas estradas e rodovias. “Não há outros meios, e o custo de cabotagem para transporte marítimo ainda é proibitivo”. Já Wellington de Lemos Santos acredita que a energia eólica esteja avançando no Brasil já num ritmo interessante. “Obviamente temos que ficar atentos à capacidade produtiva de toda a indústria eólica, do setor de infraestrutura de estradas e portos, e outros aspectos macro. Outro ponto relevante é a questão da transmissão.” Para o funcionário da Aneel, é importante buscar alternativas que minimizem a necessidade da expansão do sistema de transmissão num curto prazo para conexão das usinas eólicas que são construídas em prazo relativamente rápido e planejar o setor de transmissão para um longo prazo. “É natural que a grande penetração de energia eólica no sistema traga questões que não estamos acostumados ou que demandem ações regulatórias que precisam ser estudadas e postas em prática, com apoio dos empreendedores, cientistas e pesquisadores da área”. “O Nordeste caminha para ser um gerador de energia política e socialmente sustentável”, aposta Gurgel. A

Elbia Melo, da ABEEólica, critica a ausência de incentivo à energia eólica.

CPFL Renováveis investe em energia eólica no Nordeste Com 29 parques eólicos em operação no Nordeste e mais 12 em construção, nos estados do Rio Grande do Norte e no Ceará, a CPFL Renováveis é uma das empresas que atua no setor de energia eólica no Brasil. “Há no Brasil uma grande quantidade de projetos de energia para operação no curto e médio prazo, e, no momento, é evidente que a eólica é a energia mais competitiva. Além disso, é uma fonte com reduzidas emissões e com uma bandeira de sustentabilidade muito forte, além de contribuir para diversidade da matriz energética brasileira”, conta João Martin, Diretor de Operação e Manutenção da CPFL Renováveis. Dentre os fatores que contribuem para a atratividade dos novos negócios na Região Nordeste, estão a qualidade dos ventos, o alto fator de capacidade de 50% a 60% e a cadeia de fornecedores e fabricantes instalada na Região, o que contribui para a redução do custo de logística. Apesar do grande potencial eólico nacional, estimado em 143 GW pelo Atlas da Energia Eólica, o setor ainda enfrenta desafios. “Um dos maiores desafios do setor no Brasil é o desenvolvimento da cadeia produtiva para garantir o andamento dos projetos e manter o índice de nacionalização”, explica João Martin, destacando que esses são os critérios básicos para conseguir financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “A cadeia produtiva tem que evoluir rapidamente para que os projetos possam entregar a energia contratada nos leilões. A tecnologia de inovação é o principal vetor para o desenvolvimento do setor.”

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Como o vento se transforma em eletricidade

Quem investe mais no Nordeste

O vento movimenta uma hélice conectada a um gerador capaz de produzir eletricidade. Quando várias turbinas de vento são ligadas a uma transmissão de energia, tem-se uma central eólica. A turbina é formada pelos seguintes elementos:

Rio Grande do Norte

Bahia

Capacidade instalada: 1.339,2 MW Total de parques: 46 Parques em construção: 88 Potência total até 2018: 3.654 MW

Capacidade instalada: 587,6 MW Total de parques: 24 Parques em construção: 109 Potência total até 2018: 1.978,9 MW

Ceará

Paraíba

Capacidade instalada: 661 MW Total de parques: 22 Parques em construção: 70 Potência total até 2018: 2.325,7 MW

Capacidade instalada: 69 MW Total de parques: 13 Parques em construção: 0 Potência total até 2018: 69 MW

Torre – Sustenta o rotor e a nacele na altura adequada ao funcionamento da turbina eólica. É um dos itens mais caros na conta do custo inicial do sistema. Rotor – Transforma a energia cinética dos ventos em energia mecânica de rotação. É o local onde são afixadas as pás da turbina. É conectado a um eixo que transmite a rotação das pás para o gerador, por meio de uma caixa multiplicadora. Nacele – Abriga o mecanismo gerador e está instalada no alto da torre. Caixa multiplicadora – Mecanismo que transmite a energia mecânica do eixo do rotor para o eixo do gerador. Gerador – Componente responsável por converter a energia mecânica do eixo em energia elétrica.

Pás do rotor – Ocas, feitas de material leve como fibras de vidro e de carbono, captam o vento e convertem sua potência ao centro do rotor. Biruta – Captam a direção do vento, cujo maior rendimento se dá quando sua direção está perpendicular à torre.

Os sistemas eólicos são bastantes duráveis e necessitam de pouca manutenção. A vida útil das turbinas fica em torno de 15 a 20 anos.

SERVIÇO ABEEólica portalabeeolica.org.br 11 2368.0680

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foto: shutterstock.com

Anemômetro – Instrumento que mede a velocidade dos ventos.

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CPFL Renováveis cpflrenovaveis.com.br 11 3157.9300

Secretaria do Desenvolvimento Econômico do RN sedec.rn.gov.br 84 3232.1750

Engenharia Elétrica da UFPE ufpe.br/dee 81 2126.8255


A arquitetura do conteúdo constrói identidades e conecta emocionalmente o consumidor através de ferramentas tecnológicas.

Projetando magia Através de recursos sensoriais e interativos do marketing e do entretenimento, a Arquitetura do Conteúdo constrói experiências inovadoras nos projetos por Pablo Braz

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fotos IMAGIC!

efinida como a junção em doses calculadas das técnicas de arquitetura, entretenimento e marketing, utilizando-as como ferramenta de criação, design e planejamento de negócios, a chamada Arquitetura do Conteúdo foi ganhando projeção não só através de uma estética inovadora, mas também como uma forma eficaz de posicionar positivamente um empreendimento comercial no mercado, seja ele já existente ou ainda a ser lançado, através da materialização de um conceito que se deseje transmitir.

Segundo o arquiteto com especialização em Design de Entretenimento na Universidade de Harvard Leonardo Fontenele, CEO e diretor de criação da IMAGIC!, a maior empresa de Arquitetura do Conteúdo® da América Latina, essa abordagem nasceu e se aprimorou nos parques temáticos, pois, nesses empreendimentos, devido à necessidade de comunicar uma mensagem dentro de um espaço físico e obedecendo ao período de tempo determinado, era preciso mesclar eficazmente os diversos elementos que iriam compor

a ideia a ser apresentada, amplificando a experiência final do visitante. Mas foi no final dos anos 1990 que o cenário foi se alterando. “Devido ao enorme potencial de comunicação desenvolvido, a arquitetura do conteúdo passou a ser utilizada fora dos parques, com o aparecimento de bares e restaurantes temáticos, além da sua aplicação em museus tradicionais para incrementar a visitação. Atualmente, essa abordagem chegou a um estágio de maturidade mais sutil e com resultados mais marcantes e

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arquitetura

Com ambiente climatizado e intimista, o público imerge no mundo marinho do Acquario Ceará.

A iluminação, com variedade nos feixes da fachada externa, é um dos destaques da obra.

Os vidros especiais da casca e das fachadas laterais atuam como vedação do edifício juntamente com paredes de alvenarias

comprovadamente eficientes, razão pela qual observamos um campo vasto de atuação para seus princípios”, contextualiza o arquiteto. Hoje é possível ver a versatilidade que a arquitetura do conteúdo adquiriu, sendo encontrada em shoppings centers, redes de franquias, atrações corporativas, hotéis, resorts, parques aquáticos, fast-foods, praças e parques públicos, zoológicos, teatros, centros culturais, entre outros empreendimentos. Leonardo explica que, nesse mercado atual, mais do que simplesmente produtos e serviços, o público deseja uma identidade clara que expresse a alma da empresa, valores com os quais ele se identifique, e a coerência na concretização desse discurso, proporcionando uma verdadeira experiência com a marca (brand experience). “É exatamente isso que a arquitetura do conteúdo faz: constrói identidades e conecta o seu consumidor à ideologia do empreendimento, fidelizando-o. Para atingir esse objetivo, são combinadas técnicas inovadoras de entretenimento e marketing aos princípios arquitetônicos, construindo situações marcantes que estabelecerão uma ligação emocional com o visitante”, esclarece. Assim como nos projetos arquitetônicos padrão, Fontenele reforça que nessa abordagem existe também uma busca pela harmonia estética e a solução dos desafios de cada obra, mas vai além disso, através de recursos sensoriais que transcendem e superam as ferramentas convencionais. O diferencial está na magia somada à arquitetura. “Compreendi que a arquitetura deve ir além de erguer paredes. O arquiteto pode também oferecer experiências, divertir, emocionar, tirar-nos da realidade”, pontua. A arquiteta Vânia Marcelo, diretora de operações da IMAGIC!, ressalta que a arquitetura tradicional é limitada às técnicas de planejar e construir edificações. Quando se adiciona ao repertório soluções de entretenimento e marketing, consegue-se amplificar significativamente os resultados obtidos no planejamento dos empreendimentos, traduzindo-se em mais vendas, mais visitação repetida, consolidação e fortalecimento da marca e uma melhor performance final do projeto. “Gosto de comparar a utilização da Arquitetura do Conteúdo a um tratamento de acupuntura, no sentido que utilizamos


Projeção da vista superior da “casca” do Acquario, coberta com polímero de base de aço através do envelopamento predial (Building Envelope Systems).

Fachada do Acquario vista pelo mar, com localização na Praia de Iracema.

Exibição do fronte do Acquario visto pela rua dos Tabajaras, próximo à Ponte dos Ingleses.

as técnicas como ferramentas práticas para solucionar, com precisão cirúrgica, o desejo apresentado pelo cliente, evitando a utilização de recursos desnecessários”,pontua. Para Vânia, no entanto, há o desafio de fazer com que o cliente abandone soluções tradicionais, que muitas vezes costumam trazer resultados comuns ou medíocres. De acordo com ela, é necessário buscar abordagens inovadoras que produzam efeitos mais robustos, sem esquecer que a arquitetura do conteúdo requer experiência na área e maturidade profissional para utilizá-la com êxito nas obras. “O mercado é amplamente favorável e está em franco crescimento. À medida que a concorrência se torna mais acirrada, é natural que os empreendedores busquem novas formas de se distinguir da multidão de empreendimentos similares. Um bom exemplo são as franquias comerciais, pois sua natureza imediata e de fácil assimilação pede uma materialização objetiva das características da rede e uma imagem forte”, explica.

A MÁGICA EM AÇÃO Projetado pela IMAGIC!, o Acquario Ceará reflete bem os parâmetros construtivos da arquitetura do conteúdo. Construído à

beira mar da Praia de Iracema, em Fortaleza, a obra pretende ser o terceiro maior aquário do mundo e o maior do Hemisfério Sul e da América Latina, com inauguração prevista para o final de 2015. Ao todo serão 21,5 mil metros quadrados de área construída e 15 milhões de litros de água, distribuídos em 38 tanques-recinto de exibição, que abrigarão 500 espécies diferentes de animais com uma população final de 35.000 espécimes. Considerado um projeto turístico-ambiental inédito no País, o Acquario Ceará se caracteriza como um oceanário de classe mundial integrado a um museu interativo com tecnologia de entretenimento de ultima geração que atende às tendências internacionais ao oferecer interatividade, diversão e educação ambiental como ferramentas de conscientização sobre a importância da preservação dos rios e oceanos. De acordo com a arquiteta Mariana Rolim, coordenadora da equipe responsável pelo Acquario Ceará da IMAGIC!, a obra não pode ser analisada simplesmente como um aquário normal, pois o empreendimento não se restringe a ser apenas mais um aquário no formato “zoológico marinho”, pois ele reúne atrações interativas e museológicas à exposição de

espécies aquáticas. “Os espaços de exibição propõem a total integração entre a mostra das espécies e os mais modernos recursos tecnológicos, que apresentarão a história da relação do homem com o meio ambiente aquático. Será o único a oferecer o completo entrelaçamento entre a guarda e o monitoramento das espécies aquáticas e a tecnologia envolvida nas exposições interativas, atrações de Edutenimento (educação e entretenimento) e uma quantidade inédita de entretenimento embarcado”, explica Mariana.

ESTRUTURA O edifício do Acquario Ceará é recoberto externamente com uma “pele” sintética composta de um polímero de base de aço. Essa tecnologia de envelopamento predial (BES - Building Envelope Systems) é um sistema de fixação e suporte de estruturas de metal desenvolvido para a construção de formas curvilíneas. “Os edifícios que utilizam o sistema BES são digitalmente desenvolvidos, gerando os planos perfilados que traduzem de forma suave o design original de edifícios de fachadas curvilíneo orgânicas para a construção aerodinâmica final”, esclarece Rolim.

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arquitetura

Além dos painéis em sistema BES, ainda existem as estruturas especiais de invólucro, tais como: Cérebro, estrutura de resina uretânica esculpida pela tecnologia da máquina CNC (Comando Numérico Computadorizado) de três eixos, moldada com resina de polímero com resistência aos raios ultravioleta; Ouriço, estrutura metálica modelada em sistema tridimensional pré-fabricada; e Coral, estrutura de resina uretânica esculpida pela tecnologia da máquina CNC de três eixos, moldada com resina de polímero com resistência aos raios ultravioleta. Essa tematização se repete na área interna do aquário, distribuída ao longo de seus diversos ambientes, como o hall. Inclusive, a tematização proposta se estende aos mais de 30 visores de acrílico, distribuídos ao longo dos 38 tanques de exibição bioaquática do empreendimento. Outro destaque é que o revestimento do aquário é projetado através do processo ZEPPS® (Zahner Engineered Profiled Panel Systems), desenvolvido pela Zahner, que é uma série de sistemas metálicos para a construção de formas curvilíneas complexas, projetadas e calculadas digitalmente, resultando em uma construção mais simplificada e com designs ilimitados. “O resultado final desse processo é uma fachada com uma superfície lisa, em que cada painel é alinhado com o painel seguinte em um mesmo plano, de modo que o efeito total é uma forma suave”, explana a arquiteta. A estrutura de concreto do prédio principal da obra é dividida em quatro trechos distintos, em seis edificações independentes, separados por grandes juntas de dilatação. Por exemplo, o Aquário dos Tubarões fica separado por junta de dilatação em todos os pavimentos, assim como o Aquário Oceânico. Mariana explica que essa solução impede que vibrações de todo os tipos de maquinários (filtros, bombas, exaustores, geradores) não sejam transferidas para os peixes, preservando-os de quaisquer estresse. O concreto dos reservatórios tem resistência de 45 Mpa (MegaPascal), a qual resiste a esforço de compressão de 300 kgf/cm², com 7,5 cm de cobertura da armadura sem uso de manta impermeabilizante e alta taxa de aço para evitar fissuração por retração. A impermeabilização

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Montagem do revestimento externo da pata metálica do Acquario Ceará.

é feita com adição de cristalizante (Xypex Admix), sistema de tratamento “waterstop”, tecnologia com proteção contra os efeitos da água, e aditivo de membrana interna (Kryton International Inc.). O concreto está sendo moldado em sistema de formas autotrepantes (Mills), composto por plataformas metálicas e painéis de formas que avançam verticalmente, acionados por um sistema hidráulico especial sem a necessidade de utilização de guindaste. O processo se dá com a máxima segurança, e todo o conjunto é elevado à fase seguinte de trabalho de uma só vez.

O FANTÁSTICO MUNDO DO ACQUARIO CEARÁ Além da cobertura temática que remete a formas marinhas sem ser literal, dando liberdade para o público fazer sua própria interpretação a partir das linguagens orgânicas expostas na fachada, o Acquario Ceará também apresenta em seu interior um mundo à parte, em que a magia e a tecnologia continuam formando um espetáculo de interação e divertimento. O diretor do IMAGIC! explica que o Acquario adota uma estratégia de implantação apoiada na abordagem Full Entertainment, que é a mais vigorosa tendência mundial utilizada pela última geração de projetos de Oceanários, Museus e Centros Oceânicos, introduzindo no País um conceito completamente inédito de atração bioturística. “Longe de serem apenas paredes e pisos, é uma tematização completa e

imersiva que retrata, ambienta e transporta aos visitantes a ideia de que o Acquario é uma estação submarina. Esse conceito será espetacularmente coroado pelos filmes 4D e a atração submarina que vai dar um sentimento de coerência e unidade ao todo”, pontua. O hall principal irá abrigar o CineDomo de Leds com 10 metros de diâmetro, além de uma loja de Memoriabilia com souvenires do personagem e elementos característicos do espaço. Esse filme, que será exibido gratuitamente a todos os visitantes no hall principal, é a peça de ‘’boas-vindas’’, apresentando brevemente as atrações internas. Estarão presentes, por exemplo, um aquário de pinguins, um túnel dentro de um aquário de tubarões, dois cinemas 4D, escola de mergulho e a atração virtual Viagem Submarina. Antes de toda e qualquer atração, haverá um pré-show com a função de imergir o visitante no assunto para posteriormente o mesmo contemplar com mais propriedade. O aquário de pinguins será antecedido por um ambiente de pré-show onde serão explanados os diversos tipos de hábitat dos pinguins, expedições, polos norte e sul e aquecimento global, além da exposição de um diorama (representação realista) de uma estação brasileira na Antártida. Dentro do aquário de tubarões, haverá um túnel de acrílico submerso com 25 metros de percurso interno, no qual será possível observar o aquário em sua totalidade e ainda contemplar as diversas espécies que serão exibidas. No projeto, estão incluídos


também dois Cinemas 4D, cada um com um filme proprietário e uma abordagem diferente de entretenimento educacional. O projeto possui 38 tanques em seu somatório total, sendo 26 tanques de exibição (14 tanques de fibra de vidro e 12 tanques em estrutura de concreto) e o restante dos tanques de quarentena. Nos tanques de exibição, estão dispostos 61 acrílicos, em que somente o aquário master contempla 22 destes acrílicos, incluindo a maior janela do Acquario Ceará, com 8,28 m X 8,28 m. Todos os painéis de acrílico serão fabricados e instalados por empresa especializada, e os acrílicos côncavos passarão por um processo de formação térmica (thermoforming) para obtenção do formato curvo, e os grandes painéis serão colados (liga química) no local, antes de serem instalados. “Os aquários no pavimento térreo serão de peixes de fundo do mar e noturnos; já no primeiro pavimento, serão exibidos peixes e corais, chegando por fim ao segundo pavimento, onde se encontrarão peixes de superfície, configurando dessa forma uma viagem do fundo do mar à superfície”, completa Fontenele. Por ser um dos elementos de maior destaque da obra, o Hall de Entrada com área de 710,11 m² é o grande receptor de todo o público, onde deverá ter seus vidros da fachada com uma significativa transparência para que se possa ter boa visibilidade em todas as direções, estabelecendo conexão entre o edifício e a Praça das Águas. Mariana

Rolim esclarece que na área envidraçada de 1.144,64 m² optou-se por vidros laminados de 10 mm compostos por um vidro de controle solar Low-e azul combinado com PVB incolor e vidro incolor, alcançando fatores solares e energéticos de alta performance, otimizando o sistema de climatização e o bem-estar do visitante. Já os vidros especiais da casca e das fachadas laterais, por sua vez, atuarão como vedação do edifício juntamente com paredes de alvenarias, sendo estes mais opacos para preservação das áreas de atrações internas e áreas de serviço. Para essas áreas envidraçadas, serão utilizados vidros laminados de 10 mm, compostos por um vidro de proteção solar seletivo azul com PVB standard e vidro incolor. Além da luz garantida por esses vidros especiais de alta eficiência energética, o restante do prédio é selado com iluminação artificial interna, criando espaços aconchegantes e ideais para as atrações interativas e museológicas. “Cada ambiente de conteúdo possui iluminação adequada para destaques de peças, maquetes e textos, por meio de trilhos e luminárias direcionáveis, os quais concedem versatilidade para acompanhar diversas possibilidades de exposição. Em ambientes de aquários, a iluminação dos tanques é o único grande destaque. Em sua grande maioria, estão sendo utilizadas lâmpadas LED, por oferecer alternativas de cores e significativa economia”, destaca Mariana.

A climatização do ambiente também foi pensada de forma detalhada no aquário. A projeção do sistema conta com três unidades resfriadoras de água do tipo chiller por compressão mecânica, operação em paralelo, com condensação à água, utilizando refrigerante ecológico R-134a isento de cloro, com compressor do tipo parafuso e capacidade unitária de 300 TR, perfazendo um total de 900 TR. O projeto dispõe de monitoramento, controle e automação microprocessados, com sensores inteligentes interligados ao mesmo tempo, com evaporadores e condensadores do tipo Shell and Tube, isolados termicamente de forma a não provocar condensação de vapor-d’água no casco. “Existirá também um calendário para automação, com indicações de feriados, sábados e domingos, de modo a permitir a predeterminação de horários de partidas e de paradas para uma melhor otimização da energia, evitando desperdícios. O sistema de condensação da central de água gelada será atendido por meio de torres de resfriamento de “classe silenciosa”, e o ar será distribuído nos pavimentos por ramificações de dutos de MPU pré-isolados”, complementa Rolim. Outro grande destaque do projeto será o processo de coleta e tratamento da água salgada, a qual será coletada a partir da captação por poços localizados no lado norte do Acquario Ceará entre o prédio

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arquitetura

principal e a praia.“Captar diretamente no mar por uma tubulação que seria ligada na praia foi descartado pela má qualidade da água nas proximidades, e coleta por balsa e salinização seriam opções mais onerosas. A escolha por captação dos poços foi escolhida após perfuração, e foi constatado que a certa profundidade foi encontrada água salgada com qualidade satisfatória e já ‘’filtrada” das impurezas da costa pela própria condição natural que se encontra o lençol freático”, explica Mariana. Ela cita ainda que os três tanques de retrolavagens, um tanque de osmose reversa e dois tanques de admissão de água do mar perfazem juntos um total de 2,4 milhões de litros de água salgada em tratamento para o uso cíclico dos aquários, no qual o sistema total para funcionamento dos aquários, juntando todos os tanques e aquários, perfazem um total de 15 milhões de litros de água. A água que circula no sistema de filtragem fechado dos aquários passará pelos tanques filtradores, sendo descartada sem impurezas na rede pública de esgoto.

ENTENDA O PROJETO

Serviço IMAGIC! imagicbrasil.com 11 3061.0995 / 85 3261.2289

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O Acquario possui 15 milhões de litros de água, distribuídos em 38 tanques-recinto de exibição, abrigando 500 espécies diferentes de animais.


DESIGN PS.2

03 – 06 MARÇO 2015 SÃO PAULO A FASHION WEEK DA ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO EXPOREVESTIR.COM.BR

PROMOÇÃO —

APOIO —

EVENTOS CONJUNTOS

ORGANIZAÇÃO —


Tecnologia

A galvanização por imersão a quente aumenta a vida útil do aço de três a cinco vezes. Na foto, pode-se ver a estrutura metálica galvanizada de reatores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe

FOTO: Eduardo Simões

Proteção e resistência a longo prazo Considerada a mais eficiente entre as técnicas contra corrosão de peças de aço e de ferro fundido, a galvanização por imersão a quente pode proporcionar um desempenho livre de manutenções por 75 anos ou mais por Pablo Braz

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onhecida como uma forma de deterioração de materiais pela ação química ou eletroquímica do meio, podendo estar ou não associada a esforços mecânicos, a corrosão acontece comumente em metais como ferro e aço, afetando o aspecto estético, a resistência mecânica e a vida útil das obras, causando também prejuízos econômicos consideráveis. Segundo um estudo da empresa norte-americana CCTechnologies, 1% a 5% do PIB dos países são consumidos pela corrosão. No Brasil, por exemplo, 4% do PIB é perdido nesse processo, o que representa 194 bilhões de reais. Por isso, a utilização de técnicas de proteção contra a corrosão é fundamental para garantir segurança, redução de custos, boa aparência e qualidade dos projetos na construção civil e arquitetura. Uma das técnicas protetivas que mais se destacam é a Galvanização por Imersão

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a Quente, processo de revestimento de zinco no aço que visa preservar a plenitude de suas qualidades. Nesse processo, a peça é totalmente imersa no banho de zinco líquido (zinco fundido entre 450 e 490 °C), e toda a superfície que permitir acesso será protegida, onde a camada depositada de zinco apresenta uma espessura usual de 75 a 125 microns (1 micron = 0,001 mm). De acordo com o engenheiro mecânico Ricardo Suplicy Goes, gerente executivo do Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ), atualmente o setor elétrico utiliza o sistema de galvanização em 100% nas suas estruturas metálicas (linhas de distribuição e subestações), assim como o setor rodoviário (defensas metálicas, pórticos) e o setor de iluminação pública (postes), sendo vários os benefícios trazidos com a técnica. Ricardo esclarece que esse processo aumenta a vida útil do aço de três a cinco

vezes, sendo a durabilidade dos produtos galvanizados diretamente proporcional à espessura do revestimento do zinco e inversamente à agressividade do meio ambiente; permite redução do custo da manutenção, aumentando o intervalo entre uma revisão e outra; e possui uma rápida aplicação, na qual é possível revestir totalmente a peça em alguns minutos, estando pronta para o uso logo em seguida. “Um diferencial em relação aos outros processos é a aplicação em tubos, pois no processo de imersão o zinco reveste a peça tanto externamente como internamente, abrangendo 100% da superfície. A galvanização é realizada independentemente das condições climáticas do ambiente em que se encontra, sem contar que a molhabilidade da peça se permite com facilidade em função da boa fluidez do zinco fundido”, complementa Goes. Outro ponto importante ressaltado pelo engenheiro é que a galvanização por


imersão a quente é a mais eficiente entre as técnicas contra corrosão de peças de aço e de ferro fundido, diferentemente de outras, confere proteção dupla: por barreira e catódica. Na proteção por barreira, o revestimento de zinco isola todas as superfícies internas e externas de contato com os agentes oxidantes presentes no meio ambiente. Isso ocorre pela penetração do zinco na rede cristalina do metal base, resultando em uma difusão intermetálica, ou seja, na formação de ligas de Fe-Zn na superfície de contato, tornando o revestimento integrado desde o metal base até a superfície, onde a camada formada é de zinco puro. “Essa característica única do produto galvanizado confere alta resistência à abrasão do revestimento, permitindo o manuseio para armazenagem, transporte e montagem mecânica, sem danos à superfície. A camada de Fe-Zn mais próxima da alma da peça chega a ter uma dureza até superior a da própria peça”, explica. Além dessa barreira mecânica, o principal motivo de se utilizar o zinco é a proteção catódica que ele proporciona. Sendo mais eletronegativo que o ferro contido no aço, isto é, tendo a propriedade de atrair mais elétrons em uma ligação química, o zinco acaba sofrendo corrosão preferencialmente ao aço, sacrificando-se para proteger o ferro. “Esse processo aumenta a segurança em casos de o revestimento sofrer danificação

que provoque cavidades na camada de zinco. Os sais de zinco, formados na corrosão, por serem aderentes e insolúveis, depositam-se sobre a superfície exposta do aço, isolando-o novamente do meio ambiente, o que se assemelha a uma cicatrização”, pontua Ricardo. Além disso, conforme a agressividade do meio ou região em que se encontram as peças, existe ainda a possibilidade de garantir uma proteção extra do galvanizado com a pintura sobre a sua superfície, processo conhecido como Duplex. “Esse sistema, além de conferir cor ao material, por estética, segurança e sinalização, aumenta sua vida útil em cerca de mais duas vezes em relação à peça simplesmente protegida apenas com pinturas, sendo indicado para ambientes extremamente hostis”, destaca. Entre todas essas vantagens, segundo Suplicy, essa técnica segue os parâmetros sustentáveis, pois permite a criação de um ambiente saudável, e não tóxico, a proteção do ambiente natural, a minimização do consumo dos recursos naturais, a maximização de reutilização de recursos renováveis e recicláveis e a redução dos gastos de manutenção, oferecendo também um “canteiro” de obra mais limpo e organizado. A galvanização por imersão a quente proporciona também um desempenho livre de manutenções por 75 anos ou mais na maior parte dos ambientes, e o custo do seu ciclo de vida

é quase sempre o mesmo que seu custo inicial, além da flexibilidade da funcionalidade das infraestruturas e da facilidade de desconstrução e desmontagem dos diversos componentes. “O processo também apresenta baixas emissões e um consumo de 25 litros de água por tonelada de aço galvanizado comparado com o consumo de 2.000 litros em outros métodos, sem contar que tanto o aço galvanizado como o zinco são 100% recicláveis. Os resíduos líquidos são reutilizáveis e, quando exauridos, são neutralizados antes do descarte”, completa. Diante desse contexto favorável, essa técnica apresenta hoje uma versatilidade de suas aplicações, algumas inclusive já normatizadas, podendo ser verificada em agropecuária, armazenagem, vergalhão galvanizado, perfis em aço, portões, grades, defensas metálicas, elementos de fixação, eletrificações, estruturas metálicas, passarelas em rodovias, placas de sinalização urbanas e rodoviárias, pontes e viadutos, pórticos em rodovias, postes de semáforos e iluminações, telecomunicações, tubulações e túneis. Mesmo com esse panorama oportuno, Góes esclarece que o mercado brasileiro ainda tem muito a crescer, visto que o consumo per capita de aço galvanizado é estimado em 3,5 kg/hab., enquanto que no exterior esse número é bem superior, como no Chile (8 kg/hab.), nos Estados Unidos (16 kg/hab.) e na Europa (20 kg/hab.).

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Tecnologia

Para Ricardo, o desafio de ampliar e aperfeiçoar esse mercado pode ser vencido com a quebra de alguns paradigmas. “Com relação ao custo, se tem a ideia que a galvanização por imersão a quente aumenta o custo inicial do produto quando comparado com outros sistemas. Mas precisamos pensar que o profissional especifica a proteção pelo tempo de vida útil esperado. Quando se fala em uma vida útil acima de 30 anos, os outros processos são mais caros”, explica. Em relação ao aspecto cultural, o engenheiro vai mais além. “A falta do conhecimento no Brasil é grande, pois nas universidades a galvanização ainda é pouco difundida. O conhecimento dos profissionais de arquitetura e construção civil também precisa ser ampliado, visto

que a maioria não especifica aço galvanizado ou nem considera como alternativa por falta de conhecimento dos benefícios e das normas existentes da galvanização por imersão a quente”. Em função disso, o gerente reforça que o ICZ vem contribuindo para renovar esse cenário. “O instituto tem trabalhado na realização de palestras para cursos técnicos, graduação e pós-graduação, em congressos e seminários, como o Galvabrasil – Congresso Brasileiro de Galvanização, além da atuação junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nas normatizações dos procedimentos para aprimorar o embasamento técnico ao mercado, visando aumentar a qualidade dos produtos e ampliando, assim, as perspectivas de crescimento da indústria da galvanização”, conclui.

INVESTIMENTO

FOTO: Eduardo Simões

Parte da estrutura metálica galvanizada da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe

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A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Estado de Sergipe (Fafen/SE) é uma das obras que aplicaram a galvanização por imersão a quente, processo realizado pela Brafer Construções Metálicas S/A. Nas estruturas da Fafen/SE, uma das fábricas de fertilizantes pertencentes à Petrobras, o processo corrosivo externo era agravado pela elevada umidade relativa e pela presença da ureia em suspensão, uma substância altamente higroscópica, que sofre hidrólise e forma o ácido carbônico. Esse ácido é o principal responsável pela corrosão nas tubulações e estruturas revestidas com tintas das unidades. “Devido ao estágio de corrosão em que se encontravam as estruturas revestidas com tintas, com altos índices de manutenção (retoques e repinturas), foi necessário pensar em um processo de proteção anticorrosiva mais eficaz, visto que os processos utilizados até o momento não atenderam às expectativas”, explica Eduardo Simões, Técnico de Inspeção de Equipamentos e Instalações da Petrobras. Segundo Eduardo, foram feitas análises comparativas de custos (inicial e de manutenção), de usos e de resistência à corrosão entre os aços galvanizados por imersão a quente e os aços pintados para a fabricação das estruturas de aço da nova unidade de granulação de ureia (300

toneladas), nas estruturas do pipe rack e da torre do novo sistema de Tocha (151 toneladas) e em outros projetos e serviços de manutenção. Foi constatado que dentro da fábrica existiam vários postes tubulares de iluminação, instalados há quase 30 anos, galvanizados por imersão a quente e sem pintura aplicada sobre estes, sujeitos às mesmas agressividades do meio a que estavam submetidas às estruturas pintadas, e estes materiais encontravam-se em excelente condição física, com taxas de corrosão desprezíveis, e até o momento não necessitaram sofrer qualquer tipo de manutenção. Posteriormente, verificou-se na unidade que a torre de comunicação (60 m de altura), instalada há mais de 15 anos, e uma tubulação de água potável com aproximadamente 500 m de comprimento, instalada há mais de 20 anos, também eram galvanizados por imersão a quente e encontravam-se em excelente estado físico. “A partir dessas observações e constatações, começamos a fazer uma comparação entre os dois processos de revestimento e percebemos que a galvanização por imersão a quente seria o meio mais econômico e mais eficaz para se proteger o aço e/ou ferro por longos períodos contra a corrosão. Para se ter uma ideia, o custo da galvanização sobre a pintura considerando uma vida útil de 30 anos chega a ser até quatro vezes mais barato, enquanto que a aplicação da pintura sobre o processo zincado alonga a vida útil a mais que o triplo, quando expostos a atmosferas agressivas, além de proporcionar posteriormente manutenções fáceis e baratas”, esclarece Simões.

Serviço Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ) icz.org.br 11.3214.1311 Brafer Construções Metálicas S/A brafer.com 41. 3641.4600 Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados de Sergipe (FAFEN/SE) 79.3280.6211


ADVB-PE, HÁ 17 ANOS REUNINDO LÍDERES E PREMIANDO EMPRESAS DE SUCESSO

Relacionamentos de valor


NEGÓCIOS

Complan 2014: um recorde de público Durante o evento, foi discutido o conceito do Bom Urbanismo e lançado o livro Comunidades Planejadas, primeira obra literária da Adit Brasil

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Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (Adit) realizou a quarta edição do Complan, principal evento nacional sobre loteamentos, bairros, cidades e resorts planejados. Mais de 400 pessoas, entre urbanistas, arquitetos, engenheiros e consultores do Brasil e do mundo marcaram presença. Participaram também: investidores, incorporadores, construtoras, loteadores, redes hoteleiras, administradoras condominiais e empresários do setor. O presidente da Adit, Felipe Cavalcante, ressaltou a importância de conseguir reunir representantes de 18 estados brasileiros para discutir o Bom Urbanismo. A corrente urbanística tem como alicerce transformar as cidades em lugares mais agradáveis e funcionais para as pessoas. Nela, a reorganização do espaço físico é alcançada através da utilização de conceitos como sustentabilidade, respeito ao meio ambiente, valorização das áreas públicas por meio da segurança e do incentivo do intercâmbio social. É uma prática recente no Brasil, mas amplamente explorada na Europa e nos Estados Unidos. No Complan, foram exibidos 11 painéis e um workshop, além do lançamento da obra Comunidades Planejadas. Também foi feita uma visita técnica ao bairro planejado Espaço Cerâmica, desenvolvido pela

empresa de desenvolvimento urbano Sobloco, em São Caetano do Sul (SP). Os painéis abordaram o Bom Urbanismo e sua aplicação em projetos imobiliários; destacaram soluções para crises globais ligadas ao desenvolvimento de grandes projetos imobiliários e apresentaram modelos de comunidades planejadas desenvolvidos dentro e fora do Brasil, expondo os desafios e as lições vivenciadas pelos empreendedores. Cases como o Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico para Alphaville, Tamboré, Barueri, Santana de Parnaíba e Região Metropolitana foram apresentados pelo arquiteto, urbanista, mestre e doutor Carlos Leite. O especialista Arthur Parkinson deu foco à visão do investidor no case Alphaville, opinando sobre a iniciativa acerca da elaboração de leis para o desenvolvimento urbano no Brasil. “Cabe a nós a responsabilidade de levar uma legislação ao poder público”.Thomaz Assumpção, engenheiro e sócio-proprietário da Urban System, expôs o Bairro Estruturado de Palmas. Para Assumpção, a cidade é coautora da expansão urbana (desenvolvendo-se no sentido que atinge a borda da cidade). Assuntos como a “importância da preservação do espaço público”, “densidade urbana” e também “licenciamento de

empreendimentos imobiliários na era do Nimbys” foram amplamente discutidos. Projetos como Reserva dos Camassarys, Alto do Paiva, Riviera de São Lourenço, Cidade Pedra Branca, Porto Maravilha e Seaside são referências de comunidades planejadas desenvolvidas no Brasil e no mundo e fizeram parte da pauta da iniciativa. Na avaliação do presidente da Adit, o Complan é um evento de relevância para o mercado imobiliário nacional, forte o suficiente para reunir representantes de diversos estados brasileiros e palestrantes internacionais renomados. “Ficamos satisfeitos e acho que foi dado mais um passo na direção de ampliar e consolidar o desenvolvimento do setor urbano brasileiro através do setor privado”, concluiu.

Lançamento

Nos 3 dias, foram apresentados cases nacionais e internacionais de empreendimentos planejados

foto: mamoru itimura

Durante o Complan, foi lançado o primeiro livro da Adit Brasil: Comunidades Planejadas. A obra, que tem como temática as Comunidades Planejadas, coloca não apenas o urbanismo sob a perspectiva prática, mas contempla também a teoria e os aspectos de negócio dentro do desenvolvimento urbano: pesquisa de mercado, licenciamento, uma série de questões práticas para os empresários que querem empreender nessa área. “O mercado brasileiro é muito carente de título de livros, então esse é um livro que vem preencher um gap [lacuna] que havia na literatura brasileira.”E completou: “é o primeiro de muitos que virão, nós pretendemos criar uma bibliografia nacional”, destaca Felipe Cavalcante. Ainda, no lançamento, foi realizada homenagem ao presidente da empresa Sobloco, Luiz Carlos Pereira, pelo pioneirismo no desenvolvimento das comunidades planejadas no Brasil e pela referência para todos aqueles que fazem o setor.


NEGÓCIOS

Nos 3 dias da Feicon Batimat Nordeste, a iniciativa fomentou mais de R$ 92 milhões em novos negócios

foto: JR Produções

Feiras no Nordeste movimentam economia brasileira IX Ficons e a II Feicon Batimat Nordeste se destacaram no mercado da construção civil no País

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Nordeste foi cenário de duas das principais feiras que mexem com a economia do País: a IX Feira Internacional de Materiais, Equipamentos e Serviços da Construção – Ficons, que aconteceu em setembro, e a II Feicon Batimat Nordeste – Salão Internacional da Construção, que ocorreu em outubro, ambas realizadas no Recife, no Centro de Convenções de Pernambuco. Considerado como um dos mais determinantes eventos voltados para o segmento construtivo no Nordeste e Norte do Brasil, a Ficons, na sua nona edição, alcançou, em geração de negócios, cerca de R$ 250 milhões. Mais de 200 expositores marcaram presença, e com saldo positivo: um crescimento nas vendas no Nordeste bastante superior à média nacional em relação aos resultados de 2013 e ao primeiro semestre de 2014.

Iniciativa do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon/PE) há 18 anos, a IX Ficons teve destaque pela diversidade de estados. Além da representação de todas as capitais do Nordeste, estiveram presentes empresários e profissionais vindos da Região Norte do Pará e do Tocantins, e da Região Sul do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo. “Receber pessoas de outras regiões, que vieram exclusivamente conhecer lançamentos e fazer contatos com os fornecedores, atesta a dimensão que o evento tomou e a sua importância enquanto ferramenta estratégica para um melhor posicionamento no mercado”, considera o presidente em exercício do Sinduscon/PE, José Antônio de Lucas Simón. O mix de produtos expostos na feira, que recebeu cerca de 30 mil visitantes, chamou a atenção de um público bastante plural,

que incluiu desde construtores, engenheiros e outros profissionais da cadeia produtiva do setor, até pessoas que enxergaram uma oportunidade de conhecer novas soluções possíveis de serem adotadas em obras específicas como reformas, retrofits de construções e até manutenção de edifícios residenciais ou comerciais, sem considerar o comerciante varejista, que pôde ampliar seu pool de produtos a preços especiais. “É provável que esse tenha sido um dos maiores diferenciais dessa edição, e isso não descredita a visitação. Pelo contrário, pois, com a crise atual, o produtor sente a necessidade de criar maior empatia com o consumidor final, que passará a identificá-lo como uma marca atenta às novidades tecnológicas e necessidades do cenário atual, muitas vezes, inclusive, com forte apelo sustentável”, pondera José Antônio.

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Uma das empresas participantes da Ficons a T&A Pré-Fabricados, que está entre as duas maiores indústrias de elementos de concreto do País, já investe na feira há mais de cinco edições. “Trata-se de uma ótima oportunidade para apresentarmos a nossa tecnologia e as obras mais significativas executadas pela empresa nos 2 últimos anos aos nossos clientes, fornecedores e ao público em geral. Sempre temos obtido um respaldo grande de quem nos visita”, ressalta Silvia Almeida, diretora da T&A. Já a Trevo Drywall, única fabricante 100% brasileira de chapas para drywall (gesso acartonado), participou pela primeira vez da feira. “Avaliamos a participação como bastante positiva. A Região que é foco da empresa. Além de contatar clientes ativos, pudemos conhecer diversas pessoas interessadas nos nossos produtos e nas nossas tecnologias”, explica Pricila Correali, gerente comercial da Trevo. Os números finais da segunda edição da Feicon Batimat Nordeste, organizada pela Reed Exhibitions Alcantara Machado, também foram satisfatórios. Nos 3 dias de evento, a iniciativa fomentou mais de R$ 92 milhões em novos negócios e aumento nas vendas de até 30% com relação à primeira edição da feira, confirmando as expectativas dos organizadores e traduzindo o crescimento do setor

da construção civil na Região, que só nos últimos seis anos cresceu 8% na abertura de lojas de ferragens, materiais elétricos e de pintura, segundo dados da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Participaram da feira mais de 150 marcas nacionais e internacionais, vindo de países como África do Sul, China, Estados Unidos, Itália e Portugal. Além dos encontros nos próprios estandes de expositores, a Feicon também aproximou fornecedores e compradores realizando uma rodada de negócios. Em apenas 1 dia, foram 55 reuniões agendadas previamente pelo site do evento, reunindo 11 empresas, dentre as quais Eliane, Hidracor, Siemens, Reiki e Deca/Hydra. Outra novidade foi o Business Lounge para marcas do segmento da arquitetura e decoração. Para os expositores, o evento oportunizou boas vendas. “Fechamos muitos negócios”, diz Deiwl de Brida, gerente comercial da Eliane. O executivo ainda conta que se surpreendeu com a qualidade do público visitante. “Se compararmos com o ano passado, nós tivemos um acréscimo de 40% em relação aos negócios”, ressalta. Para a empresa pernambucana A3 Design, especializada em papel de parede, o retorno foi bem positivo.

Com um público diversificado de construtores, engenheiros, estudantes e outros profissionais do setor, a IX Ficons recebeu cerca de 30 mil visitantes

“Nesta edição, além de participarmos dos ambientes na Decor Prime Show (mostra paralela que expôs ambientes projetados por arquitetos e decoradores locais), apostamos em um estande maior e bem localizado para mostrar nossos produtos. O investimento valeu a pena, nosso público aumentou, e tivemos um crescimento de 30% em negócios com relação à edição anterior”, comenta Nethe Lima, diretora da empresa. A organização da Feicon Batimat Nordeste destacou o perfil do público que visitou a feira. Foram aproximadamente 9 mil visitantes, 3 mil a mais do que no ano passado. Desse total, 62% são pernambucanos, 13%, paraibanos, 6%, potiguares, 7%, alagoanos, 3%, baianos e 3%, cearenses. Os 6% restantes são de outros estados. O evento também recebeu caravanas da Paraíba, realizadas em parceria com o Sinduscon/PB e Sebrae/PB. A diretora do evento, Liliane Bortoluci, destaca o apoio recebido das entidades do setor da construção civil e arquitetura.“Este ano, contamos novamente com mais de 30 apoiadores, que, a cada edição, agregam ainda mais credibilidade à Feicon Batimat Nordeste. Dentre estes parceiros institucionais, podemos destacar a Anamaco, Asbea, Crea, IAB, Fiepe, Siamfesp, Sincomavi, entre muitos outros”, reforça.

foto: Jadilson Clemente



NEGÓCIOS PERFIL EMPRESARIAL

FOTO: GUSTAVO CARVALHO

Com mais de 20 anos de existência, a Romazi, que atua principalmente no segmento de produtos elétricos, vem ano após ano conquistando novos clientes e se consolidando como referência no mercado. Em 1999, entrou em uma nova fase, com a inauguração da sede própria no polo industrial de Maracanaú, em Fortaleza (CE). A partir daí, a Romazi começou a investir na implantação de infraestrutura, com a ampliação de instalações e aquisição de um moderno parque industrial, ingressando na produção em larga escala. Ancorada na utilização de tecnologia de ponta e na qualificação da equipe de colaboradores, a empresa hoje detém reconhecimento e credibilidade no mercado de produtos elétricos do Norte e Nordeste do Brasil, apostando também na responsabilidade socioambiental e na busca pela inovação em seus produtos. Francisco Marcos Lima da Cunha, diretor administrativo da Romazi, falou sobre essas e outras estratégias para o sucesso da empresa. Por Pablo Braz

COMO SURGIU A ROMAZI? Como foi a trajetória de Francisco Marcos Lima da Cunha no processo de fundação da empresa? Ao sair de uma sociedade numa indústria de transformação de plástico em produtos de utilidade doméstica, decidi investir em outro negócio. Fiz uma pesquisa de mercado com o setor que também tinha afinidade: o da construção civil. A pesquisa levantou itens que poderiam ser fabricados. Verificou-se que não havia fabricante desse segmento no Nordeste. Com fácil investimento de tempo e recursos financeiros, fabricamos caixas de embutir e cleats. De forma gradativa, a Romazi foi conquistando “fatias” do mercado, e essa atuação crescente foi capaz de produzir um maior desenvolvimento de novos produtos e consequentemente mais investimentos. Durante esse processo, acumulei diversas funções, como criador de produtos, pesquisador de soluções em máquinas e equipamentos, gestor comercial e administrativo.

PESQUISA, PLANEJAMENTO E MARKETING Primeiramente, é analisado o perfil do mercado que iremos atuar. Através de pesquisas no nosso mercado de atuação, identificamos duas possibilidades de criação de produtos: a primeira é a reengenharia dos produtos já existentes, fruto da relação constante entre a empresa e o cliente; a segunda é o aparecimento de novas demandas, quase sempre provocadas pelo mercado crescente. Depois elaboramos um planejamento comercial dentro dos orçamentos que a empresa disponibiliza. Em seguida, pôr em prática esse planejamento focado nas metas que projetamos, e, se necessário for, esse projeto pode ser alterado, de acordo com andamento dos resultados do mercado atual, dando ênfase ao setor de marketing da empresa. Das ações de marketing, podemos exemplificar a realização bimestral de cafés da manhã (intitulado Café com Romazi) em lojas de varejo, com o intuito de fortificar nossa marca e gerar um melhor relacionamento.

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NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL A empresa investe em parcerias que promovem a qualificação dos colaboradores, desde a Educação Básica até o Ensino Superior. Na Educação Básica, contamos com uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), através da Escola Eusébio de Sousa, e formamos uma turma de Ensino Médio In Company, destinada aos colaboradores que ainda não concluíram o Ensino Médio. Além disso, são oferecidas turmas de cursos de inglês e biblioteca itinerante. Diante do interesse em desenvolver os colaboradores, indicamos cursos os quais estão de acordo com a atividade desenvolvida por cada membro da equipe Romazi e, também, promovemos internamente palestras e treinamentos para o desenvolvimento individual e de equipes. Com relação ao Ensino Técnico e Superior, contamos com parcerias com cursos técnicos e faculdades que oferecem descontos para os colaboradores da empresa que queiram cursar nessas instituições.

EXPLORAR NOVOS MERCADOS

INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA

Além de atuar nos mercados do Norte e Nordeste do País, nosso próximo passo é chegar ao Sudeste, Sul e Centro-Oeste e, assim, atingir o nosso objetivo como visão da empresa: ser conhecida nacionalmente. É válido lembrar que as empresas do Sul, por exemplo, sempre fazem esse percurso, e nós estamos fazendo o trajeto inverso: indo do Nordeste para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Sem falar que é um mercado em pleno crescimento, e é necessário atender a esse mercado em desenvolvimento.

A constante participação dos diretores e do setor de engenharia em eventos do ramo, tanto de máquinas e de equipamentos como dos setores de atuação no mercado, permite de forma constante que a empresa acesse as mais atuais e inovadoras técnicas de manufatura. Uma vez detectadas inovações que possam ser produtoras de melhoria de produto e do processo de fabricação, faz-se a análise de viabilidade do investimento, e, caso favorável, define-se pela aquisição das soluções.

APRIMORAMENTO DA GESTÃO DE PESSOAS No momento, estamos apostando, principalmente, em treinamento e desenvolvimento de líderes, de forma a contemplar a renovação das equipes, com foco na gestão de pessoas pautada no desenvolvimento das relações de trabalho entre colaboradores e gestores. A gestão do clima organizacional e as ações de endomarketing estão fortalecendo constantemente as relações de trabalho e a integração das equipes, bem como as festas comemorativas, como Natal, aniversariantes do bimestre e torneio de futebol feminino e masculino durante a Sipat.

DE OLHO NA INFRAESTRUTURA Com o objetivo de manter uma segurança industrial que atenda de forma satisfatória a tendência de crescimento quantitativo e qualitativo do mercado de atuação da empresa, foram criadas, no nosso parque fabril, condições físicas dimensionadas mediante planejamento estratégico. Tudo isso de forma focada, direcionando individualmente para cada ponto levantado.

Primeiramente, é analisado o perfil do mercado que iremos atuar. Através de pesquisas no nosso mercado de atuação, identificamos duas possibilidades de criação de produtos: a reengenharia dos produtos já existentes e o aparecimento de novas demandas, quase sempre provocadas pelo mercado crescente.

DESAFIOS FUTUROS Em 2015, vamos nos dedicar bastante na ampliação do parque industrial, além de aperfeiçoar e controlar melhor os processos produtivos. Para isso, estamos investindo em um sistema de produção automatizado, que trará, além da redução de custos, um novo modelo de controle de qualidade dos lotes produzidos, usando o que existe de mais moderno em tecnologia de rastreabilidade. Para que possamos atingir plenamente esses objetivos, é preciso saber que nosso crescimento dependerá também da indústria da construção civil e da economia brasileira.

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construir direito

Necessidades especiais resumidas em cotas Anna Carolina Cabral*

Aplicável às empresas com mais de cem empregados, a lei de cotas garante a inclusão de 2 a 5% dos seus cargos reservados aos reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.

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ecentemente, há menos de um mês atrás, em 21 de setembro corrente, lembramos e refletimos sobre a inserção das pessoas com deficiências no mercado de trabalho. Curiosamente, a data é conhecida como o Dia da Luta das Pessoas com Deficiência, instituído desde 1982 e que nos desperta ao debate e, porque não, a uma luta, se considerarmos os entraves ainda existentes para a prática da inclusão daqueles com necessidades especiais. Todavia, as conquistas são inegáveis: maior fiscalização do Ministério do Trabalho e da Procuradoria especializada, como garantia de cumprimento à cota legal, sob pena de aplicação de multa aos empregadores, pois essa é ainda a forma mais eficaz de obrigar o atendimento da legislação extravagante. Mas, de um modo geral, falta investimento em conscientização e na criação de programas e serviços voltados para atendimento especial aos necessitados, neste âmbito. O maior fruto que colhemos é o ponto de vista: nessa linha subjetiva de resultados, conseguimos enxergar o deficiente pelo potencial e pelas aptidões que se destacam às limitações visíveis da deficiência. Porém, todo esse pretenso cenário já havia sido projetado desde a Carta Magna de 1988, tendo em vista a previsão constitucional diferenciada no sentido de proibir discriminação, estabelecer percentual destacado na ocupação de cargos públicos, programas de integração social e infraestrutura adaptada, como é o caso de transporte coletivo adequado, devido acesso às ruas, calçadas, praças e demais bens e serviços públicos. Isso também é lei. E por falar em lei, voltamos ao assunto que mais nos remete quando o tema é empregador e deficientes: cotas e seu dispositivo próprio, a lei 8213/91. Aplicável às empresas com mais de cem empregados, a lei de cotas garante a inclusão de 2 a 5% dos seus cargos reservados aos reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência. As vagas até existem, mas não são preenchidas, sobretudo pela falta de capacitação desses profissionais para exercer as atividades nas empresas. E a responsabilidade tem uma via de mão dupla, considerando que, de um lado, temos uma empresa

com responsabilidade social que não qualifica e não divulga como deveria os cargos existentes; e, no outro, o deficiente ou reabilitado sem treinamento para atuar naquele ramo empresarial, ambos esperando a fiscalização do órgão competente para prestar suas justificativas, numa demanda habitual. O ingresso e a qualificação do deficiente interessado no mercado de trabalho são simples, e a dificuldade começa pelo fato de inexistir órgão responsável pela reunião de dados básicos, úteis ao empregador, que o faça ter conhecimento mínimo sobre o deficiente. Assim como ocorre em toda vaga de emprego, é indispensável a informação sobre o potencial e as principais habilidades do candidato. Nesse contexto, é razoável compreender o impedimento na contratação dessas pessoas. É como ocorre no ramo da construção civil, por exemplo, que por sua própria natureza envolve efetivos riscos na execução dos serviços relacionados com a área de atuação. Comumente, aos empregados sem qualquer limitação por deficiência, as regras de saúde e segurança são deveras rigorosas, sem falar da intensa fiscalização nas obras. Ainda assim, temos um número elevado de acidentes de trabalho, e alguns com resultado morte. Nessa perspectiva, inconcebível não preparar e ainda impor ao empregador o cumprimento da cota, de maneira desmedida, irresponsável. No caso, há a própria restrição do tipo de deficiência ao considerarmos que, além do treinamento e da qualificação, a necessidade especial do empregado não pode ser qualquer uma, o que reduz de maneira absurda o percentual de contratáveis para o ramo. Como consequência, as penalidades acabam sendo injustas, sob imposições de Termos de Ajuste de Condutas (TAC), assinados sem possibilidade de cumprimento, impostos porque os ficais também têm que alcançar metas e atingir cotas impostas pelo Poder Público.

* Anna Carolina Cabral é advogada trabalhista, sócia-gestora do Escritório Queiroz Cavalcanti


NEGÓCIOS OPINIÃO

Crédito Imobiliário: uma variável chave para o negócio imobiliário Mônica Mercês*

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ndependentemente do humor do mercado, há um consenso: o crédito é uma variável chave para o desenvolvimento do negócio imobiliário. Sua ausência ou escassez, como alguns gostam de frisar, durante décadas, inibiu a expansão do setor, impactando negativamente no déficit habitacional do País. Naqueles tempos, as empresas, para permanecerem no mercado imobiliário, tiveram que fazer também o papel dos bancos, financiando diretamente o cliente. Só que, para isso, os prazos que hoje são longevos, de até 35 anos, eram bem menores, algo em torno de 3, 5, e, em poucos casos, até 8 anos. Com isso, a prestação financiada ficava num valor bem superior ao de hoje, dificultando o acesso daqueles que necessitavam de moradia. Com o retorno dos bancos ao mercado imobiliário e ficando no passado bem distante o fantasma dos saldos devedores impagáveis dos antigos mutuários, a sociedade passou a aderir ao crédito imobiliário, apostando na estabilidade econômica do Brasil. Os bancos públicos e privados voltaram a se interessar por esse mercado com a carteira imobiliária passando a fazer parte da estratégia de muitos deles. Neste ano de 2014, de mercado menos eufórico do que foi nos últimos anos, o comportamento das estatísticas do crédito chega até a surpreender. Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), até agosto/14, revelaram que nos últimos 12 meses, comparados a igual período precedente, o volume de concessão de crédito, com recursos da poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), alcançaram R$112 bilhões, montante 10,5% maior, direcionados a 538 mil unidades. A Abecip ainda destacou que os números de agosto representaram o 2º melhor agosto de sua série histórica. Por outro lado, a Caixa Econômica Federal, que detém a maior fatia desse mercado, recentemente divulgou que reviu sua estimativa de crescimento para 2014. Antes, estimavam uma expansão de 14% em relação a 2013 e nessa revisão estimam não crescer, ficando no mesmo patamar de 2013, fato até “comemorado” pela instituição em virtude de tudo que vem caracterizando o ano corrente. Porém, dentro desse

mesmo mercado, alguns bancos privados apontam para crescimento, de até de 2 dígitos. E aqui comento que ouvi de um gestor de planejamento dessa atividade, de um grande banco privado, que esse negócio é muito importante para eles e que apostam nesse mercado no futuro, pois o déficit habitacional existente é relevante. Ou seja, há mercado, e o dinheiro “não sumiu”. Apenas precisamos atravessar esse momento e ajustar questões econômicas importantes para que possamos voltar a crescer. Crescendo ou ficando estável, uma coisa é certa: o crédito imobiliário é fundamental para que possamos continuar nessa busca por reduzir o déficit habitacional brasileiro, que tanto castiga a sociedade brasileira. Isso movimenta um dos mais importantes setores da economia, pelo seu efeito multiplicador no emprego e na renda do País: o da construção civil. Assim, qualquer que seja a linha de gestão do novo governante do Brasil nos próximos anos é esperada total atenção a essa questão, que carrega consigo outras correlatas: inflação e taxa de juros. O passado, de forma muito dura, nos ensinou que financiamento de longo prazo + inflação + juros elevados é uma combinação explosiva. E certamente o que desejamos para o Brasil é justamente o contrário. Nesse contexto, independente de classe social, desafio quem não deseje isso para nosso futuro.

O crédito imobiliário é fundamental para que possamos continuar nessa busca por reduzir o déficit habitacional brasileiro, que tanto castiga a sociedade brasileira.

*Mônica Mercês é economista, assessora de Planejamento e Inteligência de Mercado da Diretoria da Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário (QGDI)

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NEGÓCIOS

Compreendendo o Custo Unitário Básico (CUB/m²) Por Daniel Furletti e Ieda Vasconcelos

O

Custo Unitário Básico (CUB/m²), que é calculado e divulgado pelos Sinduscons de todo o País, foi instituído em dezembro/1964, através da Lei Federal nº 4.591. A partir da referida Lei, o mercado imobiliário nacional passou a contar com um importante instrumento para as suas atividades. Criado inicialmente para servir como parâmetro na determinação dos custos dos imóveis, o CUB/m² foi, ao longo dos anos, alcançando o caráter de indicador de custo setorial, reflexo da sua transparência, ratificada tecnicamente através da evolução normativa que o acompanha. Pode-se afirmar que o CUB/m² faz parte do setor da construção no País. É ele que possibilita uma primeira referência de custos dos mais diversos empreendimentos e que também permite o acompanhamento da evolução desses custos ao longo do tempo. Ressaltar a sua importância é destacar a necessidade de um bom planejamento em todas as etapas de uma obra. Destaca-se, ainda, a relevância de se ter o indicador em todos os estados. Praticamente todas as capitais do País calculam o CUB/m². Isso estabelece um caráter real, efetivo, da evolução dos custos do setor regionalmente, o que é essencial para as atividades das empresas. Além disso, o CUB/m² é um indicador essencial no dia a dia das empresas de construção civil. É através dele que se pode realizar o registro das incorporações imobiliárias e verificar o custo básico dos empreendimentos. Os resultados do CUB/m² podem ser acompanhados diretamente no site de cada Sinduscon responsável pelo seu cálculo. Assim, por exemplo, no site do Sinduscon/CE, é possível ter acesso aos resultados do CUB Ceará, e, no site do Sinduscon/BA pode-se acessar o CUB Bahia,

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o mesmo acontecendo com os demais estados, não somente da Região Nordeste, mas de todo o País. As informações do CUB/m² calculados por mais de 20 Sinduscons também podem ser acessadas diretamente no site formatado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para facilitar o cálculo e a divulgação do referido indicador de custos da construção. A partir dos resultados dos CUBs mensais, divulgados pelos Sinduscons, a CBIC, através do seu banco de dados, calcula, mensalmente, o CUB médio Brasil. O objetivo é acompanhar a evolução dos CUB estaduais e regionais, além dos preços de seus itens componentes. O CUB médio Brasil funciona como uma média nacional e exerce o papel de parâmetro na evolução dos custos do setor. Atualmente, 21 estados compõem a média do CUB Brasil. Tomando-se como referência o mês de agosto/2014, verificou-se que o CUB médio Brasil (sem considerar a desoneração da folha de pagamentos) aumentou 0,26%. Observou-se que as regiões Sudeste, cujo custo médio da construção aumentou 0,38%, e Centro Oeste, com alta de 0,27%, apresentaram variações superiores à nacional. Já no Nordeste, com alta de 0,08%, no Sul, com elevação de 0,23%, e, na Região Norte, com incremento de 0,10%, as variações foram inferiores à média nacional. Desagregando o CUB da Região Nordeste, observa-se que o custo com materiais de construção apresentou alta de 0,40% em agosto. Nesse mesmo mês, o custo com equipamentos cresceu 0,26%, enquanto o custo com a mão de obra não apresentou nenhuma variação. Já o

custo com a despesa administrativa na referida região registrou queda de 2,30%. Dentre os estados que compõe o CUB da Região Nordeste, a maior variação, em agosto, foi observada no CUB Pernambuco, que cresceu 0,80% em função do custo com materiais, que nesse mês aumentou 1,50% no Estado. O CUB médio Brasil também é calculado considerando a mão de obra com a desoneração da folha de pagamentos. Nessa situação, em agosto, a variação foi de 0,24%.

Daniel Furletti é coordenador sindical do Sinduscon/MG e coordenador do Banco de Dados da CBIC Ieda Vasconcelos é assessora econômica do Sinduscon/MG e economista do Banco de Dados da CBIC

Serviço Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) I CUB cub.org.br


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ano IV | nº 24 |dezembro 2014

DE VOLTA À VIDA

Novas alternativas de transporte e estimulo à moradia são estratégias do projeto de reabilitação do Centro Histórico de Salvador (BA) para atrair novos investidores

Entrevista Protagonista do documentário Lixo Extraordinário, Tião Santos conta a sua trajetória como catador de lixo até se tornar referência no mundo da reciclagem

EU DIGO

BOAS PRÁTICAS

Doutora em Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie, Constance Jacob discute política pública e a democratização da gestão urbana

A ONG love.fútbol cria campos de futebol comunitários no Brasil e Guatemala, estimulando mudanças sociais sustentáveis


sumário

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05 MOVIMENTO VIDA SUSTENTÁVEL Construção e sustentabilidade cada vez mais entrosadas - Balanço 2014 De abril a dezembro de 2014, o Sinduscon-PE, em parceria com a revista Construir NE, sediou a reunião mensal do Fórum Pernambucano de Construção Sustentável, uma das principais ações do Movimento Vida Sustentável, sempre na primeira quarta-feira do mês. O primeiro encontro teve como tema central “Acústica”, com ênfase no atendimento da Norma de Desempenho. Ao longo do ano, outros temas foram detalhados , como “Manutenibilidade”, “Estanqueidade”, “Resíduos da Construção”, “Gestão do Verde” e “Drenagem Urbana”. Dois tópicos destacaram-se em virtude do seu forte apelo social. O primeiro foi o projeto de Lei nº 67/2013, abordando os telhados verdes. O segundo tópico foi a discussão sobre o Plano Diretor de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais do Recife. Movimento Vida Sustentável – Em 2014, foram realizados mais dois eventos de impacto: o VII Seminário Pernambucano de Construção Sustentável, reunindo mais de 180 participantes, e o Programa de Capacitação da Norma de Desempenho, cuja primeira turma foi composta em agosto, por dez construtoras. Atas dos encontros podem ser encontradas no site do Movimento Vida Sustentável (www.movimentovidasustentavel.com.br) e Sinduscon-PE (www.sindusconpe.com.br).

O Movimento Vida Sustentável (MVS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre empresários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multiplicação de conhecimento com a promoção de debates e capacitação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.

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ENTREVISTA | Tião Soares

08

EU DIGO | Constance Jacob

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BOAS PRÁTICAS

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CONSUMO CONSCIENTE

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Sustentabilidade urbana nas áreas de morros

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CAPA | O centro revive



quem é grande sempre aparece Começou a corrida pelas 100 posições mais disputadas da construção civil nacional. A 11ª edição do Ranking ITC, que acontecerá em março de 2015 dentro da Expo Revestir – no Transamérica Expo Center em São Paulo –, reunirá as maiores Construtoras do Brasil em uma noite de muitas homenagens e descontração. Uma oportunidade única para clientes e fornecedores.

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entrevista

Tião Santos

lixo não existe por Chloé Buarque e William Maia

DE CATADOR DE RECICLÁVEIS NUM LIXÃO AO TAPETE VERMELHO DO OSCAR, TIÃO SANTOS AGORA LANÇA LIVRO E MILITA EM FAVOR DE UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL. “O QUE É LIXO DE FATO?”, PERGUNTA TIÃO SANTOS, DEPOIS DE MOSTRAR COMO AS 240 MIL TONELADAS DE RESÍDUOS GERADAS POR DIA NO BRASIL PODEM SER REAPROVEITADAS. ELE CITA LAVOISIER PARA JUSTIFICAR A DEFESA DA COLETA SELETIVA: “NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA”. A VIDA DESSE CARIOCA DE 35 ANOS COMEÇOU A SE TRANSFORMAR EM 2007, QUANDO O ARTISTA PLÁSTICO VIK MUNIZ, FAMOSO POR SUAS OBRAS FEITAS COM MATERIAIS INUSITADOS, DECIDIU RETRATAR A VIDA DOS TRABALHADORES DO JARDIM GRAMACHO, ENTÃO O MAIOR ATERRO SANITÁRIO DA AMÉRICA LATINA, LOCALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO. A MATÉRIA-PRIMA ERA ABUNDANTE: O LIXO. TIÃO JÁ ERA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES E SE TORNOU UM DOS PRINCIPAIS PERSONAGENS DO DOCUMENTÁRIO LIXO EXTRAORDINÁRIO. FOI A LONDRES VER O QUADRO QUE INSPIROU E PISOU NO TAPETE VERMELHO DE HOLLYWOOD, QUANDO O FILME FOI INDICADO AO OSCAR, EM 2011. O LIXÃO DO JARDIM GRAMACHO FOI DESATIVADO, MAS TIÃO CONTINUA SENDO LÍDER DOS CATADORES E AGORA MILITA POR INVESTIMENTOS NO BAIRRO E PELA CONSTRUÇÃO DE UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL. NO INÍCIO DE NOVEMBRO, ELE LANÇOU UM LIVRO PARA CONTAR SUA HISTÓRIA DE VIDA: TIÃO – DO LIXO AO OSCAR (ED. LEYA), ESCRITO COM A JORNALISTA CAROLINA DRAGO.


entrevista

A nossa sociedade ainda é muito desigual que, não só joga fora aquilo que supostamente ela acha que é lixo, mas também as pessoas que se relacionam com ele.

A sua história já ficou bastante conhecida, até mundialmente, com o filme Lixo Extraordinário. Por que decidiu escrever o livro Tião – Do lixo ao Oscar? A ideia de escrever o livro foi para contar a minha trajetória de vida. O filme mostra um pedaço pequeno dessa história, a história do Tião Santos, catador. Mas eu costumo dizer que sou tripolar: sou Sebastião Carlos dos Santos, filho da dona Gerusa e do seu Carlos. E sou Tião, irmão do Nilson, da Glória, da Clara, da Simone, da Cristiana, amigo dos meus vizinhos. Eu sou essas pessoas e também sou o Tião Santos do filme e achava importante que os outros pudessem conhecer mais, para entender como fui nascido e criado e como cheguei até o Oscar. Em que momento surgiu a ideia de criar a associação dos catadores? A gente já vinha militando no movimento nacional de catadores há um bom tempo e articulando frentes para melhoria das nossas condições de trabalho. Foi uma consequência natural, nós já nos reuníamos para discutir essas coisas e decidimos criar uma associação para mostrar que não haveria diferenciação entre o catador da cooperativa, o catador do depósito ou o da fábrica. A luta era a mesma para todos. O que mudou no Jardim Gramacho desde o filme? O lixão foi finalmente fechado, em 2012, e os catadores foram indenizados por

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causa desse fechamento. O filme não teve o poder de criar a política pública, mas ele conseguiu comover, mobilizar, sensibilizar a sociedade a reconhecer e valorizar o papel dos catadores. O grande feito do filme foi humanizar esse trabalho e mostrar o quanto ele é importante. Do outro lado, o nosso papel foi — e continua sendo — cobrar, das autoridades, políticas de inclusão social e econômica para os catadores. A nossa sociedade ainda é muito desigual, não só joga fora aquilo que supostamente ela acha que é lixo, mas também as pessoas que se relacionam com ele. O Vik conseguiu mostrar isso. Depois do filme, as pessoas passaram a olhar para o Jardim Gramacho, que ficou abandonado durante 35 anos, não só pelo poder público, mas pela sociedade como um todo. Aqui era um lugar esquecido. Qual foi o impacto do fechamento do lixão para a comunidade? Inicialmente foi muito alto, porque durante 35 anos ele foi a principal fonte de renda da maior parte dos moradores de Gramacho. O aterro gerava 1.700 empregos diretos e quase 15 mil indiretos. Havia depósitos e fábricas de processamento do material que empregavam de 20 a 50 pessoas. Grande parte disso foi desativado. Agora nós estamos buscando alternativas para uma nova economia local, não só por meio de um polo de reciclagem que inauguramos e das empresas que ainda estão lá, mas principalmente de investimentos em capacitação e qualificação dos catadores, para que se tenha um trabalho mais humanizado, profissionalizado e melhor remunerado. E também estamos tentando atrair novas empresas para o bairro, que tem grandes vantagens do ponto de vista da logística. O bairro já começou a mudar? Claro que, mesmo depois do fechamento do lixão, ainda há muita coisa a ser feita. Não dá pra mudar 35 anos de miséria em 2 anos. Mas as coisas estão caminhando, formamos um polo de reciclagem, para quem queria continuar sendo catador, porque muita gente gosta e tem orgulho de ser catador, e vai haver um processo

de reconstrução do bairro, que vai desde a construção de casas até o investimento em saneamento básico, educação e saúde. É um processo de médio e longo prazo. Na sua opinião, qual o grande mérito do filme? O grande trunfo do filme foi, literalmente, tirar o lixo debaixo do tapete. Tanto o lixo de verdade, os resíduos, como aquilo considerado pela sociedade como um “lixo humano”. O Vik teve a sensibilidade e a humildade de conhecer e ver o valor das pessoas. Ele deu visibilidade a uma luta que já existia, mas que precisava desse foco de luz. O que mais impressionou o Vik foi que ele não encontrou aqui nada do que ele pensava e que muitas pessoas imaginavam. Ele conseguiu desmistificar a figura desumana que se tinha dos catadores, a do sujeito desocupado, que não quer nada na vida, do mendigo, do homem do saco, que mata e sequestra crianças. Ele mostrou o trabalhador, a trabalhadora, o pai, a mãe de família, que, vivendo nessa sociedade extremamente excludente e desigual, consegue construir a sua vida de forma honesta e digna.

As pessoas ainda falam “catador de lixo”, mas fico contente quando vejo reportagens, por exemplo, falando em “catador de material reciclado.


Ser catador de material reciclável é diferente, porque o material reciclável é um insumo, que vai ser transformado numa matéria prima, que será transformado em um novo produto.

Essa visão sobre o catador começou a mudar? Acredito que sim. As pessoas ainda falam “catador de lixo”, mas fico contente quando vejo reportagens, por exemplo, falando em “catador de material reciclado”. A mudança de atitude vem aos poucos, com educação. As pessoas passam a tratar o catador mais dignamente, a valorizar esse trabalho e a entender que nem tudo que a gente produz é lixo. Por que catador de material reciclável, e não catador de lixo? O jornalista tem um valor na sociedade por levar a informação a quem precisa, o médico tem o seu valor por salvar vidas. E o catador que recolhe lixo serve para que, se lixo não serve para nada? Ser catador de lixo é ser tão lixo quanto o próprio lixo. Ser catador de material reciclável é diferente, porque o material reciclável é um insumo, que vai ser transformado numa matéria-prima, que será transformada em um novo produto. No mundo da sustentabilidade e da escassez de recursos naturais, isso tem muito valor: valor social, econômico

e ambiental — o que muda a forma como se enxerga o trabalhador. O meu trabalho traz benefício, não só material para mim, mas para toda a sociedade. E, quando a sociedade é educada, sensibilizada, mobilizada, ela responde. Uma caminhada de 100.000 km só começa com o primeiro passo. O que falta para a cultura da coleta seletiva pegar no Brasil? Um bom começo é parar de discutir o supérfluo ao invés de falar do essencial. Por exemplo, deixar de tratar as sacolinhas plásticas dos supermercados como as grandes vilãs e falar do setor de embalagens. Dentro da complexidade desse problema, a sacolinha é apenas um dos fatores. Quantas embalagens de produtos não são colocadas dentro das sacolinhas? Pra onde vão essas embalagens? É preciso discutir a coleta seletiva como um avanço de cidadania. Colocar essa questão da coleta e da reciclagem dentro das escolas, fazer mais campanhas de conscientização. Como fazer essa conscientização? As pessoas precisam entender que a minha latinha de alumínio só vira lixo quando se coloca tudo misturado no meio da rua. Ela só gera impacto social, ambiental e econômico negativo quando tem um destino equivocado. Quando ela é destinada para reciclagem, ela gera trabalho, renda, cidadania e inclusão social, preserva o meio ambiente e os recursos naturais que são escassos. Infelizmente, no Brasil, reciclagem ainda é coisa de gente pobre. Nos países desenvolvidos, é coisa de gente avançada, inteligente. Já dizia Lavoisier, na vida nada se perde, tudo se transforma. Somos capazes de transformar. O Vik me ensinou isso, quando disse que poderia transformar em arte aquilo que eu também só conhecia como lixo. Eu duvidei dele, e ele me mostrou. Das 240 mil toneladas de lixo que nós produzimos por dia no Brasil, de 35% a 40% é material potencialmente reciclável. Outros 45% são material orgânico que pode ser usado para compostagem. O que sobra, no máximo 20%, são rejeitos que também podem ser aproveitados na geração de energia. Ou seja, o que é lixo de fato?

As pessoas precisam entender que a minha latinha de alumínio só vira lixo quando se coloca tudo misturado no meio da rua. Ela só gera impacto social, ambiental e econômico negativo quando tem um destino equivocado.

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eu digo

Política PÚblica e a democratização da gestão urbana Constance Jacob*

O objetivo do OP é assegurar a participação das comunidades de forma organizada e autônoma no processo de discussão, elaboração e execução de parte do orçamento municipal...

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A

Constituição de 1988 introduziu práticas democráticas, pretendeu ampliar a participação popular e incluiu dispositivos que preveem a participação da comunidade nas administrações públicas. Esses dispositivos estão inseridos desde o art. 194, VII até o art. 206, VI. Os específicos, estimulando a participação da Sociedade Civil na gestão pública, constam nos artigos 165 a 169 do seu texto. Em Teresina, essa participação se consolida em 1997, através do Decreto de nº 3.414, de 14 de março de 1997, na gestão do então Prefeito Firmino Filho, Orçamento Popular de Teresina (OPT), que, a partir de então, segmentos sociais por meio de “... entidades representativas da sociedade e de cidadãos teresinenses organizados” (TERESINA, 1997, p. 1) tomariam parte na elaboração do orçamento anual do município e, desde então, tem se caracterizado como importante ferramenta de gestão pública. Nesses dezessete anos de existência, o Orçamento Popular de Teresina passou por necessários ajustes que demonstrou o interesse da administração em consolidar o programa e qualificar a representatividade, sendo considerada uma das iniciativas de maior sucesso na cidade. Um importante instrumento de gestão que funciona como um elo entre os gestores municipais e as comunidades que, através de seus representantes, apontam obras que consideram prioritárias a serem realizadas pela prefeitura municipal, objetivando melhorar seu dia a dia. É uma ferramenta que assegura a participação efetiva da sociedade na decisão sobre os recursos públicos municipais, eliminando a prática do clientelismo e que possibilita canalizar os investimentos públicos para as regiões com altos índices de pobreza, garantindo benefícios para suas comunidades com obras de infraestrutura, saneamento e serviços. Garante que segmentos sociais normalmente esquecidos da divisão dos recursos públicos, participem diretamente de sua gestão. O objetivo do OP é assegurar a participação das comunidades de forma organizada e autônoma no processo de discussão, elaboração e execução de parte do orçamento municipal, garantindo a transparência na aplicação dos recursos

públicos, bem como fortalecer o processo democrático do poder municipal. A participação é livre a todos os cidadãos moradores das zonas urbana ou rural do município que tenham mais de dezesseis anos, que participem, necessariamente, de Associação de Moradores, Conselhos Comunitários, Grupo de jovens, Clube de mães, Grupos de idosos e demais entidades civis organizadas. Cada entidade deve ser cadastrada junto à Prefeitura Municipal de Teresina, na Assessoria Especial do Orçamento Popular. A partir desse cadastramento, são realizadas assembleias zonais, reuniões organizadas pelas entidades comunitárias cadastradas, objetivando a escolha de um representante, um suplente para que estes representem a comunidade junto à Prefeitura de Teresina. Além da escolha de seus representantes, a entidade apresenta três propostas, sejam elas referentes a obras ou serviços, para suas localidades. As propostas aprovadas para cada uma das zonas urbanas e rurais irão compor o orçamento público municipal após serem validadas pelo Conselho do Orçamento Popular. O percentual a ser gasto em cada região depende de critérios tais como o tamanho da área e sua população total. O valor destinado ao OP depende da previsão receitas pela prefeitura. A 17ª edição do Orçamento Popular para o biênio 2014/2015 tem valor destinado para o Orçamento de R$ 21 milhões que beneficiarão toda a cidade, com obras de grande alcance social, como calçamentos, praças, galerias, poços, quadras esportivas, dentre outros. Serão escolhidas 50 propostas e 10 conselheiros para cada zona urbana, e 20 propostas e cinco conselheiros para cada zona rural. Ano a ano, o Orçamento Popular vem proporcionando um aumento da participação das comunidades nesse processo de exercício da cidadania, na medida em que acontece um amadurecimento desse programa. * Constance Jacob é Doutora em Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie e Secretária Executiva de Planejamento Urbano


BOAS PRÁTICAS

Futebol e solidariedade: um caso de sucesso Com projetos desenvolvidos na Guatemala e no Brasil, a love.fútbol é uma organização social norte-americana especializada na mobilização comunitária e criação de campos de futebol comunitários como catalisadores para mudanças sociais sustentáveis. A ONG se utiliza de uma metodologia inovadora de fortalecimento da comunidade para proporcionar às crianças um lugar seguro para jogar, apoiando comunidades de baixa renda e proporcionando meios para que os pequenos possam planejar, construir e manter os seus próprios projetos de quadras de futebol em lugares onde não há espaços específicos para convivência e recreação. Segundo o diretor-executivo da love.fútbol Brasil, Mano Silva, os projetos são experimentos de fortalecimento comunitário. “O projeto é dirigido pela comunidade e baseado nos ativos locais. Ao final, mais do que um lugar para jogar, a quadra simboliza força, união e conquista coletiva, pilares fundamentais para promover a ocupação, valorização e apropriação do espaço”, afirma. Desde 2006, a organização já promoveu 16 projetos, nos quais membros das comunidades contribuíram com mais de 40 mil horas de trabalho voluntário, beneficiando atualmente mais de 15 mil crianças na Guatemala e no Brasil. Em muitos deles, os moradores apresentam diferentes culturas (espanhóis, indígenas) e línguas (Kaqchikel, Tz’utujil, Mam, K’iche’ Q’eqchi’) em ambientes rurais e urbanos. No Brasil, há sete projetos, nas seguintes comunidades: Várzea Fria (São Lourenço da Mata/PE), Cachoeira (Maragogi/AL), Complexo do Alemão (Rio de Janeiro/RJ), Foz do Iguaçu (PR), Pinhais (PR), Penedo (São Lourenço da Mata/PE) e Itaquera (São Paulo). A love.fútbol conta com o apoio do jogador Hernanes, também conhecido na Itália como Il Profeta. “Através do esporte mais popular do mundo e o trabalho da love.fútbol, vamos levar esperança e inspirar comunidades para a construção de um mundo melhor” , declara o embaixador da organização.

love.fútbol em números Uma avaliação de impacto foi realizada com um total de 195 membros das oito comunidades beneficiadas até hoje. - 98% das crianças beneficiadas passaram a praticar mais esportes depois da implementação do projeto. - 30% dos meninos e 36% das meninas beneficiados reportaram que não jogariam futebol se o projeto não tivesse acontecido. - 100% dos adultos reportaram que a comunidade se encontra mais unida e fortalecida. - 83% dos pais de família e diretores das escolas reportaram um melhor rendimento escolar das crianças e 70% reportaram um aumento de assistência nas escolas. - 70% dos pais de família reportaram que a quadra tem contribuído para uma diminuição no número de abuso de álcool, drogas e envolvimento em gangues. - Em média, 140 membros das comunidades têm participado no planejamento, na execução e na manutenção do campo.

Serviço Love.Fútbol I Brasil Rua Real da Torre, 634, sala 101 - Madalena. Recife (PE).

info@lovefutbol.org facebook.com/LoveFutbolBrasil

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CONSUMO CONSCIENTE

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01 DESIGN INTELIGENTE Em tempos de consciência ambiental, preservar água é uma atitude urgente. Pensando nisso, a Gaya traz torneiras com design moderno e um sistema inteligente que ajuda a diminuir o fluxo de água, economizando até 12%. Um exemplo é a torneira Reno, indicada para banheiro e com comando simples, quente/frio. Estrutura: 5,5 x 5,5 x 25,5 cm - Vidro: 8 x 8 cm. gaya.com.br | 11 3123.4545

02 MADEIRA NA SALA DE ESTAR A mesa de centro é a peça-chave para qualquer sala de estar, e, quando o móvel tem um toque da natureza, o destaque para o ambiente é ainda maior. A designer Monica Cintra apresenta o conjunto de Mesas Guajuvira, que traz todo o desenho da madeira com o toque da despigmentação. A madeira Guajuvira é escura, pesada e densa, que garante maior durabilidade do produto. Além disso, é resistente às intempéries, podendo ficar exposta ao tempo. monicacintra.com.br | 11 99988.6829

03 MULTIAMBIENTE A Daikin inova ao trazer ao mercado o primeiro sistema de ar para múltiplos espaços com uma única unidade externa: o Multi Split, que emprega a tecnologia Inverter, a qual permite consumir até 40% menos energia do que outros modelos. Com esse sistema, é possível manter o conforto em até cinco ambientes utilizando apenas um equipamento externo, o que resulta em uma enorme economia de espaço na instalação. E tem mais: as temperaturas para cada ambiente podem ser controladas individualmente. daikin-mcquay.com.br | 11 3123.2525

04 COCAR INDÍGENA Personalidade e sustentabilidade não faltam na Poltrona Cocar, da Ecohus. Fazendo alusão aos cocares indígenas, a peça é elaborada com madeira de demolição escura e madeira de reflorestamento (pinos) branca. Sua base de carretel tem 60 cm de diâmetro e 40 cm de altura. Já o encosto tem 85 cm de altura, o que garante conforto com estilo diferenciado. ecohus.com.br | 81 3028.2129.

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PREPARE-SE PARA A MAIS BADALADA FESTA DO ANO!

A mais esperada festa dos arquitetos está chegando. Dia 10 de dezembro, na Pink Elephant, serão anunciados os vencedores da 7ª Edição do Concurso Cultural de Projetos de Arquitetura. Este ano, o prestigiado concurso de arquitetura e interiores levará os primeiros colocados a um mundo de informação e cultura: Grécia e Expo Milano 2015. Venha festejar conosco o ano que se aproxima. Realização

Apoio divulgação

Ação social


SUSTENTABILIDADE URBANA NAS ÁREAS DE MORROS texto e fotos por Luiz Priori Jr.

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o Hemisfério Sul, durante os meses que correspondem ao inverno — junho, julho e agosto —, uma preocupação constante dos moradores das áreas urbanas do Nordeste brasileiro tem sido com o risco de inundações, em decorrência das chuvas intensas, pesadas e/ou prolongadas. Esses eventos climáticos extremos, frequentes nessa época do ano, são caracterizados pela geração de um grande volume de água retida no solo, impermeabilizado pela concentração de edificações, vias de acesso e outras áreas pavimentadas, que impede a sua infiltração, reduzindo, assim, a drenagem natural e aumentando a vazão de escoamento. Entretanto, essa não é a maior (nem a mais importante) preocupação das famílias do Recife que moram em áreas de morro, e que representam 35% da população da cidade — de acordo com a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem) — , nesse período chuvoso. Segundo dados da Defesa Civil do Recife, existem 678 setores vulneráveis à queda de barreiras, sujeitando 15% das edificações

da cidade do Recife ao risco de desastre, como o ocorrido no dia primeiro de julho, no bairro da Guabiraba, que só causou danos materiais porque os moradores estavam ausentes das residências no momento do desastre. Conforme a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), a cidade do Recife possui uma população em torno de 1.530.272 (um milhão, quinhentos e trinta mil, duzentos e setenta e dois) habitantes, distribuída numa área de mais de 218 km². De acordo com o censo 2010, a cidade concentrava mais de 470 mil domicílios particulares, muitos sob forte vulnerabilidade, principalmente nas áreas de morro. A área territorial da cidade está distribuída da seguinte forma: 67,43% são áreas de morros; 23,26%, áreas de planícies; 9,31%, áreas aquáticas; e 5,58% são zonas especiais de preservação ambiental, sendo que 35% das famílias do Recife moram em áreas de morro. As vulnerabilidades na infraestrutura do Recife corroboram o aumento do risco de desastres urbanos na cidade e concentram-se nos seguintes sistemas: energia (má conservação dos postes e

Desastres provocados por queda de barreira, bairro da Guabiraba, Recife.

fiações aéreas que geram perigos de choques), saneamento (problemas na rede de drenagem urbana, na rede de distribuição de água e coleta de esgoto, com pontos de vazamento e esgoto a céu aberto), resíduos (coleta irregular e/ou deficiente, com pontos de concentração de lixo nas calçadas), transporte (dificuldade de mobilidade de veículos e pedestres, transporte público ineficiente, manutenção inadequada das calçadas ou ausência delas). No aspecto do uso e da ocupação do solo, verificam-se construções irregulares e ocupação de áreas de risco. A cidade de Guayaquil é a maior concentração urbana do Equador, com uma população em torno de 2,3 milhões de habitantes. Nela, pode-se observar exemplo prático de melhoria na infraestrutura, integração urbana e redução de risco de desastres em área de morro da cidade, o Serro Santa Ana, que, através da reurbanização, foi integrado ao bairro histórico de Las Peñas e transformado em um dos principais pontos turísticos da cidade, graças a uma ação conjunta da gestão municipal e da comunidade. Impossível não ir


a Guayaquil sem subir os 444 degraus do Serro Santa Ana para admirar a vista panorâmica da cidade e na descida parar em um dos inúmeros bares e restaurantes que contornam as famosas escadarias, para reabastecer as energias. Esse exemplo de desenvolvimento urbano sustentável poderia ser aplicado aqui, na cidade do Recife, mais precisamente no Morro da Conceição, local emblemático para a cidade por ser ponto de peregrinação religiosa e guardar a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Santa de grande devoção popular, atrai centenas de visitantes ao bairro nos dias que antecedem a festa da padroeira. O lugar, porém, permanece no ostracismo durante o restante do ano. Carente de infraestrutura adequada, o local apresenta áreas de risco de desastres e, não tendo outros atrativos, recebe apenas os moradores da região. Concluindo: é primordial a promoção de políticas de planejamento e gestão do uso do solo, voltadas para a redução do risco de desastres, uma vez que as cidades crescem e se expandem para áreas marginais, como planícies de inundação e encostas íngremes. Também, a consideração do grau de suscetibilidade e exposição à ocorrência de cheias, deslizamentos de encostas e outros eventos climáticos extremos e perigosos nos projetos urbanísticos para as novas áreas de desenvolvimento das cidades; a adoção de sistemas de transporte eficientes para viabilizar a expansão urbana para locais disponíveis em novas áreas mais distantes do centro, reduzindo os incentivos para o desenvolvimento em locais mais vulneráveis; o impedimento à construção de assentamentos em áreas de alto risco, que pode salvar vidas e evitar a destruição; a reforma de edifícios já existentes; a adoção de padrões de projeto mais robustos para as novas construções e melhorias na infraestrutura contribuem para reduzir o risco de desastres urbanos e promovem o desenvolvimento sustentável. Com a ocorrência de mudanças climáticas, tanto os problemas de alagamentos como o fator de risco de erosão nas vertentes devem aumentar. Como as

Diferentes tipos de contenção empregados nos morros do Recife.


chuvas devem ser mais intensas na nossa região, a água terá mais velocidade e força para gerar sulcos e transportar sedimentos, causando e/ou acelerando processos erosivos. A erosão pode colocar em risco habitações, ou pior, ocorrer em meio a uma chuva forte, levando o que estiver na superfície, inclusive pessoas e suas moradias. Além disso, uma erosão mais intensa contribui ainda mais para o assoreamento dos corpos-d’água, o que aumenta a possibilidade de alagamentos nas áreas planas da cidade. Olhando o problema de uma forma simplista, pode-se ter a falsa impressão de que a solução é absolutamente técnica e que se resolve com a implantação de obras de engenharia, como a construção de muros de arrimo, drenagem e retaludamento de morros, restringindo a questão a um patamar técnico-financeiro. Nesse caso, o problema já estaria resolvido porque essas obras existem atualmente. Entretanto, o assunto tem outras dimensões que fogem do tema simplesmente infraestrutural. Por isso mesmo, a sua solução não pode se restringir a uma simples questão de engenharia. A erradicação desses pontos de risco nos morros da cidade não é uma tarefa fácil, porque os setores não são alvos estáticos, ou seja, extingue-se um e aparecem outros, uma vez que ainda existem

áreas nos morros para serem ocupadas e a população não fica restrita aos locais delimitados pela gestão urbana. Assim, à medida que os pontos de risco existentes são contidos, surgem pontos novos ou antigos locais voltam a apresentar grau de risco elevado, por falta de manutenção ou descaso da própria população, que, muitas vezes, põe em risco sua própria segurança. O efeito das alterações climáticas aumentará a vulnerabilidade das populações urbanas a uma série de catástrofes naturais, resultantes de fenômenos hidrológicos extremos, como o aumento das chuvas fortes, que geram duas situações de risco graves: enchentes e deslizamentos de terra. Entretanto, essa situação será muito agravada por ações da própria população. Dois exemplos podem ser claramente evidenciados quando se visita áreas de morros na cidade no Recife. O primeiro é o acúmulo de lixo em locais inapropriados. Mesmo com a existência de coleta regular, observa-se lixo jogado nas barreiras — que corrobora o acumulo d’água —, como também nos canais e canaletas, impedindo a passagem das águas. O segundo é o esgoto, que muitas vezes é jogado nas barreiras, saturando o solo, ou nas valas e canaletas. Vele apontar duas outras situações, de mais difícil percepção, mas que também merecem destaque: a existência de

Proteção emergencial com lona plástica e lixo deixado pela população local.

vazamentos nas tubulações, que pode encharcar o solo, e a construção de fossas rudimentares na beira das barreiras, que, aos poucos, molha o terreno e provoca deslizamentos de terra. Com relação à ocupação de áreas de risco, podem-se observar pontos onde famílias já foram removidas sendo novamente reocupados, muitas vezes pelas mesmas famílias ou por outras interessadas em receber o auxílio-moradia por residirem em local de risco. Observa-se, também, a ocupação (lenta e gradual) de áreas perigosas que ainda estão desabitadas. Pode-se concluir que é contestável a conceituação de desastres como ocorrências “naturais”. No entanto, deve-se ter a consciência de que a magnitude desses eventos pode ser ampliada pela interferência do homem sobre o meio ambiente, transformando-os, muitas vezes, em “catástrofes construídas”. São problemas cuja mitigação depende não apenas de obras de contenção, mas de ações educativas, principalmente na comunidade escolar, através de um processo de conscientização dos riscos de desastres e da implantação de políticas de planejamento e gestão do uso do solo. Esse é um grande desafio para os urbanistas e gestores da cidade do Recife, onde, praticamente, não existem mais áreas para expansão.


O centro revive Com 3 milhões de habitantes, Salvador é uma das cidades mais antigas do Brasil. Fundada em 1549 por Tomé de Souza, a capital baiana já teve um centro pujante, onde vivia uma população abastada. Com o tempo, a cidade se transformou, e a região central tornou-se um local degradado, com poucos habitantes e muitos problemas sociais. Mostrar para a sociedade que os centros urbanos podem ser novamente locais atrativos para se viver e atrair investimento imobiliários em uma região tombada são os principais desafios do ambicioso projeto de reabilitação do Centro Antigo de Salvador. por Tory Oliveira fotos por Adenilson Nunes


Masterplan I Momentos

Serão 20 ações (veja no final do texto), faseadas em 3, 6 e 9 anos.

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rojeto de reabitação do Centro Histórico de Salvador tem como foco a mobilidade e o desafio de atrair novamente a população para essa área de cidade. Degradados ao longo das últimas 4 décadas, os centros das principais cidades brasileiras passam por um momento de reflexão e intervenção urbanística. É o caso do centro da cidade do Rio de Janeiro, alvo de um ambicioso projeto de reabilitação da área portuária, batizado de Porto Maravilha. Com cerca de 11 bilhões de reais investidos, o projeto trará novas obras de mobilidade urbana e infraestrutura para o entorno. De menor porte, mas com um aspecto ainda mais desafiador, o Centro Histórico de Salvador também passa por um processo de reabilitação. Atualmente a terceira maior capital em população do Brasil, concentrando 3 milhões de habitantes, Salvador foi um dos primeiros centros urbanos do País, que ainda guarda características do traçado do sítio histórico original, pensado para o papel de uma capital colonial. Abrigando grande parte dos equipamentos culturais da cidade, o Centro Histórico e seu entorno englobam 11 bairros, como o Centro, Barris, Nazaré, Saúde e Macaúbas, possuem uma área de 7 milhões de quilômetros quadrados e são moradia para cerca de 80 mil pessoas, população 40% menor em relação à que havia em 1970. “Tudo ali possui vários níveis de

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tombamento, inclusive feitos pela Organização das Nações Unidas. No entanto, muito pouca gente mora lá, e o espaço está deteriorado”, explica o arquiteto e urbanista Carlos Leite, de 49 anos, da Stuchi & Leite Projetos e Consultoria, empresa contratada para elaborar o Masterplan Estratégico para o Centro Antigo de Salvador, em parceria com a Levisky Arquitetos. O Centro Histórico de Salvador tem sua origem na divisão da cidade, fundada em 1549 por Tomé de Souza, na Cidade Baixa e na Cidade Alta. Composta de apenas uma rua e de casas de comerciantes atacadistas, a Cidade Baixa concentrou atividades relacionadas ao porto. Já a Cidade Alta, com muitas ruas e duas praças públicas, deu origem ao que é hoje o Centro Histórico de Salvador. A princípio, quem habitava seus edifícios era uma população nobre, formada por empresários, grandes comerciantes, senhores de engenho e funcionários da administração pública. Nas primeiras décadas do século 20, porém, grande parte das edificações coloniais do Centro Histórico foi demolida para viabilizar o alargamento de vias e a construção de novos edifícios. Com a expansão de sua população e território, a população e o poder público foram, aos poucos, abandonando aquela região e transformando as características de sua área. Sem receber manutenção, os prédios históricos acabaram em más

condições. Já em 1930, a região passou a abrigar prostíbulos e cortiços, onde vivia uma população empobrecida. Em 1970, a abertura da Avenida Paralela, a criação de um novo Centro Administrativo da Bahia pelo governo estadual e o nascimento de um novo centro comercial, a partir da construção do Shopping Center Iguatemi, acentuaram o processo de esvaziamento populacional da região e sua consequente decadência. Em 1985, o Centro Histórico recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco, e, nas décadas seguintes, a região foi alvo de alguns projetos de reabilitação. A baixa população e a grande concentração de problemas sociais, assim como as intervenções pontuais e desarticuladas realizadas nos últimos anos, contribuíram para a degradação das residências e para o agravamento das condições de vida das pessoas que atualmente residem no Centro Antigo de Salvador. Para tentar solucionar os problemas resultantes desse cenário, foi elaborado o Plano de Reabilitação do Centro Antigo de Salvador, articulado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia em conjunto com o Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador (Ercas), embrião que gerou o atual Diretoria do CAS (Dircas). Da reflexão e da análise profunda do Centro Antigo de Salvador, nasceram 14 propostas, marcadas pela visão positiva e sustentável do local. Entre as ações


estudadas, estão o incentivo ao uso habitacional, a redução da insegurança, a qualificação dos espaços culturais, a preservação da área do encostado frontispício e a reabilitação da orla marinha. O primeiro passo para a atual intervenção foi a constituição de uma estrutura financeira, com recursos para viabilizar os projetos urbanísticos em questão: o chamado Fundo de Investimento Imobiliário. Não se trata de algo simples: no Brasil, a única experiência similar de constituição de tal fundo é o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.“A ideia era, guardadas as devidas diferenças, replicar aquela formatação econômica para viabilizar as obras”, explica Carlos Leite, cujo escritório foi contratado para realizar a modelagem urbanística da área. Na visão do urbanista, o diálogo constante com a população é essencial. “É importante porque, em primeiro lugar, é uma oportunidade para a população falar, ser ouvida e ajudar a pautar as transformações que estão sendo colocadas em seu local de moradia. Após reuniões, conversas e workshops com a comunidade, começamos a atrelar ações que deveriam acontecer nos territórios”, conta. Trata-se de 20 ações, distribuídas em períodos de 3, 6 e 9 anos, cujos principais eixos são a conexão do centro com o restante da cidade e o incentivo à moradia no local. Na questão da mobilidade, a principal ação se dará pela aproximação, por meio do incremento do transporte vertical, da Cidade Baixa e da Cidade Alta. Para isso, o Elevador Lacerda será modernizado, o Elevador do Taboão será reativado e serão criados dois novos Planos Inclinados, o Castro Alves e o Santo Antônio Além do Carmo. Além disso, serão instaladas ciclovias, e o antigo sistema de bondes será transformado em Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Para atrair novos moradores para a região, cerca de 1.100 imóveis (fechados, em ruínas ou terrenos baldios) serão adequados para a instalação de 8 mil novas unidades habitacionais, 5 mil delas destinadas para famílias de renda média. O objetivo, de acordo com Carlos, é atrair principalmente uma população jovem, de classe média e média baixa, com foco em jovens e estudantes.

Um exemplo de antes e depois do projeto. Rua Direita de Santo Antônio e vista aérea do Largo de Santo Antônio Além do Carmo

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Trabalhar com um conjunto de edifícios tombados e mostrar para a sociedade que os centros históricos podem ser novamente atrativos como moradia são os dois principais desafios apontados no projeto por Carlos. “A maior parte dos centros hoje é utilizado apenas para o trabalho. Isso é ruim, pois lá existe acessibilidade, memória, infraestrutura. Em termos urbanísticos é uma imensa perda de oportunidade só utilizar o centro para cultura e trabalho. Ele precisa ser visto como um local qualificado também para se morar”, analisa. O segundo desafio deriva da especificidade do Centro Antigo de Salvador, onde muitos edifícios e casas são tombadas devido ao seu valor histórico. “O conjunto arquitetônico é tombado, o que impõe o desafio do custo. Qualquer pessoa que more ali se vê obrigada a fazer reformas e precisa submeter ao Iphan qualquer tipo de mudança. Historicamente, o mercado se afugenta, por isso é importante montar um fundo de investimento imobiliário com aporte estatal para viabilizar o projeto”, defende. No mundo todo há uma tendência, por parte de estudiosos da cidade e do poder público, de reabilitar as regiões centrais. “Isso é algo que emergiu de 40 anos para cá no mundo. No Brasil, essa tendência está chegando mais forte de 10 anos para cá”, explica Carlos Leite. Atualmente, há projetos de renovação na pauta do Ministério das Cidades, e existem linhas de financiamento importantes dirigidas para esse tipo de região. “É um processo demorado, mas é uma pauta irreversível”, acredita o arquiteto. “O Rio, com o Porto Maravilha, é o maior projeto no Brasil. Salvador pode virar um segundo case importante”, aposta. Em alguns trechos, já finalizados, as calçadas são acessíveis

Centro Histórico x Centro Antigo Conheça as diferenças entre esses dois territórios de Salvador O chamado Centro Histórico de Salvador é reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde 1985. Um ano antes, em 1984, o local já havia sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Centro Histórico de Salvador tem 0,8 km² e vai do Mosteiro de São Bento até o Forte Santo Antônio Além do Carmo. O Plano de Reabilitação, porém, foi ampliado de modo a abranger também o Centro Antigo de Salvador. Trata-se de uma área maior, com cerca de 7 km², e que engloba 11 bairros da capital baiana: Centro, Barris, Tororó, Nazaré, Saúde, Barbalho, Macaúbas, parte do espigão da Liberdade, Santo Antônio e Comércio, além do próprio Centro Histórico de Salvador.

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Quem vive no Centro Antigo de Salvador São 80 mil habitantes de acordo com o IBGE 2000 55,3% dos moradores do Centro Histórico são mulheres 15,1% são idosos 48,9% da população do Centro Histórico tem Ensino Médio completo 10,9% dos moradores do Centro Histórico são formados no Ensino Superior 46% dos habitantes vivem com menos de dois salários mínimos

A revitalização do Centro Antigo de Salvador em 20 etapas

PESQUISA DE MERCADO CONHEÇA AS VARIÁVEIS DO MERCADO IMOBILIÁRIO QUE PODEM IMPACTAR NO LANÇAMENTO DO SEU EMPREENDIMENTO.

1. Recuperação de imóveis selecionados para participar do Fundo de Investimentos Imobiliários 2. Recuperação do frontispício 3. Recuperação dos transportes verticais 4. Implantação dos planos inclinados novos 5. Implantação dos planos elevados (belvederes) 6. Revitalização da Rua Direita de Santo Antônio 7. Revitalização do Largo de Santo Antônio 8. Revitalização das ruas Chile, Baixa dos Sapateiros e Ruy Barbosa 9. Recuperação das ladeiras 10. Intervenção na Orla Marítima – Trecho 1. Com a chegada do novo terminal de passageiros e a abertura da orla no trecho do terminal até a Praça do Mercado com a retirada dos galpões e o novo desenho paisagístico 11. Intervenção na Orla Marítima – Trecho 2. Com a transferência das atividades portuárias para outro local e a consequente liberação de todo o trecho de logística de carga e descarga para a implantação definitiva de toda a orla marítima para uso da população, com a remoção de alguns galpões e a reciclagem de outros com usos afins (restaurantes, lojas e áreas de lazer) 12. Implantação do VLT de alta capacidade 13. Implantação do bonde 14. Recuperação das praças 15. Elementos âncoras 16. Construção de novos estacionamentos 17. Implantação de ciclovias e bicicletários 18. Passarela Via Histórica e reconstrução do Mercado de São Miguel 19. Pavimentação e qualificação de vias e passeios, sinalização, iluminação e vala única 20. Território dos Fuzileiros Navais e entorno

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