Vida Sustentável

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ano IV | nº 26 | maio 2015

URBANISMO TÁTICO

Tendência Mundial, ações práticas e de baixo custo repensam os espaços públicos e tornam cidades mais abertas e comunitárias

SUSTENTABILIDADE URBANA O engenheiro Luiz Priori Jr. faz uma análise dos riscos nas áreas de morros da cidade do Recife nos períodos chuvosos.

Entrevista José Fernando Thomé Jucá fala sobre alternativas de tratamento de resíduos sólidos e uso energético do biogás

EU DIGO A arquiteta paisagista Patrícia Paegle reflete sobre a importância de cidades mais humanas



sumário

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MOVIMENTO VIDA SUSTENTÁVEL 2015 JULHO Certificação de Construções

OUTUBRO Impacto no Canteiro de Obras

AGOSTO Água e Saneamento

NOVEMBRO Resíduos

SETEMBRO Energia alternativas

DEZEMBRO Mobilidade

O Movimento Vida Sustentável (MVS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre empresários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multiplicação de conhecimento com a promoção de debates e capacitação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.

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ENTREVISTA | José Fernando Thomé Jucá

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EU DIGO | Patrícia Paegle

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BOAS PRÁTICAS

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RENATO LEAL

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CONSUMO SUSTENTÁVEL

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SOCIAL

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BOAS PRÁTICAS

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CAPA | Faça você mesmo

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SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA URBANA


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José Fernando Thomé Jucá

Por um “destino” mais feliz por Elka Porciúncula e Renata Farache

foto por Keyla Verônica

Engenheiro civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestre em Geotecnia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor pela Universidad Politécnica de Madrid e Pós Doutor pela Universidade de São Paulo, José Fernando Thomé Jucá é professor da UFPE desde 1981 e pesquisador do CNPq desde 1991. Também é fundador do Grupo de Geotecnia Ambiental, no qual coordena vários projetos de pesquisa financiados por agências de fomento estadual, federal e municipal nas áreas de Geotecnia Ambiental, Bioenergia e Resíduos Sólidos Urbanos. Ainda é coordenador do projeto de pesquisa Alternativas Tecnológicas para o Tratamento dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil, com base em experiências na Europa, Estados Unidos e Japão, com a participação de 62 consultores do Brasil e exterior. Nos últimos 10 anos publicou: 24 artigos em periódicos especializados, 228 trabalhos completos em congressos nacionais e internacionais, 4 livros, 6 livros organizados e 8 capítulos de livros. Enfim, nós até que tentamos aqui dar uma ideia da “bagagem” de Jucá – mas não deu. O currículo dele é extenso e não coube na abertura dessa entrevista, que contou com a colaboração da conselheira da revista Construir Nordeste e arquiteta Elka Porciúncula e da fotógrafa Keyla Verônica. No bate-papo, que também precisou ser resumido, nós falamos sobre resíduos sólidos e biogás.


entrevista ENTREVISTA

Qual a situação dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, em especial, no que se refere ao desenvolvimento tecnológico das alternativas para o seu tratamento? “Plásticos, metais, papel, papelão, restos de alimentos, vegetais e animais”: o lixo urbano, fruto do desenvolvimento econômico, do crescimento da população, do aumento do consumo de materiais facilmente descartáveis geram uma quantidade de resíduos, que no Brasil cresce em media 4% ao ano, atingindo um valor atual de 76 milhões de toneladas. Atualmente o Brasil é o quinto maior gerador de resíduos do Planeta, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, China, Japão e Alemanha. O chamado “lixo urbano” é constituído de componentes físicos, químicos e microbiológicos, que quando entram em contato com o solo, ar e água, geram contaminantes prejudiciais ao ambiente e a saúde humana; por outro lado, quando bem gerenciados, os resíduos passam a ser uma fonte de riqueza ambiental e econômica, pela valorização dos materiais recicláveis e seu aproveitamento energético. Os efeitos da redução de consumo, do aproveitamento seletivo dos materiais e de sua reciclagem em escalas significativas, em relação ao volume total gerado, parecem ser desafios inatingíveis. Contribuem para isso a baixa formação de especialistas no País que não conseguem dar uma resposta ao problema. Hoje temos apenas 1,7% dos doutores formados no Brasil na área de resíduos sólidos urbanos ou 20 grupos de pesquisa dos 27.500 certificados pelo CNPq. Como consequência temos uma baixa produção em periódicos indexados na Web of Science e um insignificante depósitos de patentes de 17 tecnologias no Brasil contra 26.881 no Mundo na área de resíduos sólidos urbanos. Ainda assim, este setor de resíduos sólidos urbanos movimentou 24 bilhões de dólares em 2014. Como consequência destes fatos temos no Brasil uma dependência tecnológica de equipamentos e processos importados para tratamento dos resíduos. A relação internacional deste negocio é desigual em conhecimento e oportunidades, prevalecendo a transferência de tecnologias totalmente inadequadas à nossa realidade, com taxas de nacionalização insignificantes, onde a maioria dos fabricantes de equipamentos tentam vender seus produtos sem saber se estão ou não adequados aos interesses locais. A legislação específica sobre o assunto, a Política Nacional de Resíduos

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Sólidos, que apesar de adequada aos interesses do setor e tecnicamente correta, está caminhando com muita dificuldade, sem previsão ainda de quando será efetivamente cumprida. A existência de uma lei não assegura uma gestão eficiente dos resíduos. Para isso é necessário aprofundar o conhecimento sobre tecnologia de materiais e seus ciclos de vida, suas características físico-químicas, sua transformação de resíduos para matéria prima de outros setores industriais, a biotecnologia dos resíduos orgânicos putrescíveis, seu aproveitamento energéticos, entre muitos outros temas que serão tratados nesta proposta. Em outras palavras é preciso que se promova a valorização física, química, biológica e energética dos resíduos para que se possa aproveitar este volume gigantesco de resíduos gerados no Brasil. E a questão do aproveitamento energético do biogás? As emissões de biogás em aterros de resíduos sólidos urbanos são um grave problema de poluição atmosférica a nível local e global. O principal gás produzido no processo de decomposição dos resíduos, o gás metano (CH4), é o segundo maior contribuinte entre as emissões antrópicas de gases do efeito estufa. Esta situação merece atenção no Brasil, uma vez que ainda existem cerca de 4.000 lixões em operação, os quais contribuem para a contaminação do meio ambiente e a má qualidade de vida da população. Vale destacar que este gás pode ser aproveitado como fonte alternativa de energia e geração de divisas no âmbito do Mercado de Carbono, no entanto vem sendo desperdiçado na forma de poluição ambiental. Além desta problemática, a escassez de recursos naturais não renováveis para geração de energia é um dilema global e a busca por novas fontes de energia é um desafio a ser alcançado no século XXI. Desta forma, qualquer fonte de energia renovável deve estar inserida na matriz energética de um país e o aproveitamento energético do CH4 deve ser considerado, principalmente, quando a minimização de impactos sócioambientais é uma consequência imediata de sua utilização. A alternativa de aproveitamento do biogás e a redução de emissões nos aterros de RSU, associadas à comercialização dos créditos de carbono podem contribuir para a solução sustentável da gestão dos RSU. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é um dos

instrumentos existentes em escala global. Apesar dos incentivos existentes, as estimativas mundiais de aproveitamento do biogás ainda são limitadas. De acordo com os dados do Painel Internacional de Mudanças Climáticas, as projeções de coleta CH4 para o ano de 2020 são da ordem de 30-40% do total produzido em aterros nos países desenvolvidos e de 5-7% para nações em desenvolvimento. A baixo ocorrência de aproveitamento energético do biogás está relacionada com os seguintes fatores: (i) baixa viabilidade financeira da energia elétrica produzida com biogás para o cenário de mercado atual, (ii) incertezas quanto à previsão da geração de biogás para as condições dos resíduos e climáticas locais, (iii) falta de desenvolvimento de tecnologia local (equipamentos específicos para biogás de aterros) e (iv) carência de mão-de-obra especializada, dentre outros. Por último, devemos considerar que em 2012, o setor de resíduos foi responsável pela emissão de 46,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2e), cerca de 3,2% das emissões brutas dos Gases de Efeito Estufa (GEE) no Brasil. É o terceiro setor em crescimento de emissões, precedido pelo setor de energia e de processos industriais, respectivamente (considerando o período entre 1990 e 2012). Mais da metade das emissões de GEE no setor é gerado pela disposição de resíduos, enquanto o tratamento de esgoto doméstico e industrial juntos, contribuem com 44% das emissões totais. A fração orgânicos presente em esgotos sanitários, efluentes industriais, resíduos agrícolas e dejetos da pecuária também têm contribuído com importante porção das emissões de gases de efeito estufa. Quando e como começaram as pesquisas com biogás? No mundo as primeiras pesquisas em biogás começaram nos Estados Unidos na década de 30. Na época, os americanos depositavam os resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários, que neste caso eram chamados de aterros energéticos. Posteriormente, na Europa, em especial a Alemanha, também se iniciou um grande programa de aproveitamento energético do biogás gerados pela biodegradação dos resíduos. Neste caso, eles também desenvolveram tecnologias para geração de biogás em biodigestores com aumento da eficiência energética. Atualmente, estes dois países geram energia do biogás


suficiente para contribuir de forma efetiva para diversificar suas matrizes de energia, dando uma excelente contribuição ao meio ambiente pela redução de emissões de gases para a atmosfera. No Brasil, este assunto ainda está bastante insipiente, pois apenas 0,05% da nossa energia elétrica é gerada por biogás, o que um número insignificante, quando comparados aos percentuais dos Estados Unidos e Alemanha, de 4,5% e 8%, respectivamente. Nossas pesquisas no Brasil tiveram início na década de 80 no aproveitamento dos resíduos da agropecuária e na década de 90 nos resíduos sólidos urbanos (RSU). No caso de resíduos da agropecuária, a Embrapa e algumas universidades do Sudeste e Sul do Brasil, que foram acompanhadas pela inciativa privada. No caso específico dos RSU, o meio acadêmico tomou a iniciativa no desenvolvimento de pesquisas em biogás, notadamente a USP e o IPT em São Paulo, seguidos pela UFPE em Pernambuco. Como avaliar as características dos resíduos e triagem para destinar ao processo de geração do biogás? Esta é uma questão chave em todo o processo, pois para que haja o aproveitamento dos materiais e da energia existente nos resíduos será necessário separar cada uma de suas frações, por exemplo: fração orgânica, recicláveis e rejeitos. A primeira fração, em especial os resíduos orgânicos putrescíveis serão a matéria prima para geração de energia (através da digestão anaeróbia) ou para geração de composto orgânico (através da compostagem aeróbia). Em relação ao potencial de geração de biogás, hoje já dispomos de vários testes que podem ser realizados em laboratório e campo, onde determinamos com muita segurança o potencial de aproveitamento energético dos resíduos; a segunda fração são os materiais que podem ser reutilizados ou reaproveitados pela indústria, existindo um grande mercado para grande parte dos materiais presentes na massa de resíduos; e por último, os rejeitos que não são passíveis de serem reutilizados, por desconhecimento de tecnologias que permitam seu aproveitamento, o que induz a um desinteresse por aquele material, e portanto, a inexistência de mercados para sua comercialização. Este fato depende do meio ou local onde estamos inseridos, pois existem cidades e regiões com tecnologias disponíveis e indústrias para aproveitamento de certos

materiais, e em outras não. Isto se deve ao desenvolvimento sócio econômico, envolvendo aí aspectos educacionais, culturais e tecnológico. Neste sentido observamos uma grande assimetria no Brasil, onde os estados desenvolvidos do Sul e Sudeste possuem unidades de geração de energia a partir do biogás e no Norte e Nordeste do Brasil praticamente não existe. É possível estimar investimento para instalação, custo de produção, custo para transmissão, para uma determinada comunidade? Esta pergunta tem uma resposta complexa e difícil, pois dependerá de várias circunstancias envolvidas em cada caso em análise. Apenas para contextualizar, este ano tivemos o primeiro leilão do Ministério de Minas e Energia para fontes alternativas de energia, que considera o biogás como uma das fontes (termelétricas e biomassa, incluindo resíduos sólidos urbanos e da agropecuária). Neste leilão para as térmicas a biomassa tiveram o preço da energia contratado a R$ 209,91 por MWh, e a entrega da energia ocorrerá a partir de 1º de julho de 2017. Os empreendimentos estão localizados nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Ao todo, o Leilão de Fontes Alternativas 2015 negociou R$ 3,4 bilhões, segundo informou a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). Nesta mesma direção, a ANP Agencia Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) lançou a regulamentação para a injeção do biometano, que é uma fração do biogás, na rede de gás natural. O biometano de resíduos agrossilvopastoris e de resíduos comerciais podem ser injetados, desde que respeitando as especificações (teores de CH4, CO2, H2S, etc.). O biometano a partir de resíduos de esgotamento sanitário e resíduos sólidos urbanos deverá ser empregado em caráter experimental. Com o conceito da valorização energética do resíduos sólido urbano para geração de energia elétrica e calorífica, qual o mercado consumidor indicado? No Brasil e em qualquer parte do mundo a energia tem um mercado consumidor crescente, que dependerá do preço desta energia e dos custos (ou impactos) sócio ambientais para sua obtenção. Daí que o conceito de energias renováveis e alternativas se juntam ao de

energias limpas. No caso específico do biogás, a fração responsável pela energia é o metano que corresponde a uma fração de 55 a 80% do volume. Este metano terá mais aplicação no sociedade a depender do seu grau de pureza, ou seja os potenciais usos energéticos do biogás exigem diferentes níveis de purificação, o que implica em investimentos e em sistema de tratamento mais complexos. Da forma que é gerado na decomposição dos resíduos servem para queima direta, gerando calor (combustão direta e aproveitamento térmico). Na medida que é purificado, o metano poderá ter aproveitamento elétrico, ou mesmo, ser injetado em redes de gás para uma aplicação mais ampla ainda, tanto como combustível automotivo ou de equipamentos industriais. Você considera que falta conhecimento técnico e capacitação para adoção dessa tecnologia? Sim, sem dúvida, o desconhecimento sobre esta área é muito grande, gerando enormes prejuízos econômicos e ambientais para a sociedade. Existem exemplos de indústrias de biogás funcionando com eficiência no Brasil? Em 2013 o Brasil gerou cerca de 80 MW em plataformas de biogás. De acordo com a ANEEL são 22 usinas injetando energia à rede elétrica a partir do Sistema Interligado Nacional (SIN). Grande parte destas usinas estão instaladas em aterros sanitários, em propriedades rurais e em unidades de resíduos da agropecuária. Isto ainda é muito pouco, quando consideramos que apenas de aterros sanitários no País poderíamos gerar até 536 MW de energia a partir do biogás produzido. Quais seriam os desafios que precisamos enfrentar para o reaproveitamento do resíduos gerando energia do biogás? O primeiro seria a separação dos resíduos (triagem em grande escala) para gerar matéria prima para seu aproveitamento energético; segundo formar pessoas para desenvolver projetos e gerar tecnologias na área; terceiro é que tenhamos políticas de apoio ao setor, incluindo desde regulações próprias e criadas de acordo com as necessidades nacionais, até politicas púbicas que favoreçam a leilões, concessões e infra-estruturas capazes de viabilizar novos negócios neste setor que é tão relevante para o País. MAIO 2015

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eu digo

Cidade para pessoas Patrícia Paegle*

A A partir do momento em que nós, pessoas, ocuparmos os espaços entre as edificações, as diferenças sociais e a intolerância tenderão a diminuir.

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tualmente mais de 50% da população do mundo vive nas cidades, e estima-se que até 2030 esse número cresça para 60%. Com tanta procura pelas cidades e facilidades que elas oferecem, a pesquisa por um espaço urbano que supra as necessidades humanas é um dos objetivos do planejamento urbano. William White, um estudioso das cidades, acreditava que a maior lição que a cidade pode nos oferecer é a ideia de que estamos todos juntos, para melhor ou para pior, logo temos que fazê-la funcionar. Uma das necessidades essenciais do ser humano é ter vida social, pertencer a um grupo, identificar-se cultural e socialmente com o lugar onde vive.

De uma forma simplista, pode-se dizer que cidades são formadas por edificações e os espaços existentes entre elas. A vida privada ocorre no interior dos prédios, e a pública ocorre nos espaços externos. Continuando com essa linha de pensamento, pode-se afirmar que os espaços externos são a sala de estar desta grande casa chamada cidade. Assim, urbanistas, paisagistas e todos aqueles que trabalham estruturando e desenhando as cidades têm a responsabilidade ética de criar espaços para as pessoas. As pessoas têm o direito de apropriar-se desses espaços. E todos juntos têm a obrigação de fazer a cidade funcionar. Jan Gehl, arquiteto dinamarquês, que há mais de 50 anos foca o seu trabalho na vida social que ocorre no espaço público, e que vem buscando transformar cidades em espaços para as pessoas diz que: “uma boa cidade é como uma boa festa, quando as pessoas estão se divertindo elas permanecem mais tempo”. A metodologia aplicada em seu trabalho é baseada nas pessoas e segue a seguinte ordem: vida, espaço público e edificações. As pessoas em primeiro lugar. A base para a criação de uma interação nos espaços públicos é ter pessoas nesses espaços. As pessoas não são o alvo, elas são o meio de fazer funcionar um espaço público. A lógica é simples: “pessoas atraem pessoas”, ou seja, atrair pessoas e fazê-las permanecer é a chave para a criação de espaços públicos bem-sucedidos. Tudo que foi escrito acima parece óbvio, mas, quando olhamos para ruas e calçadas, praças e parques, prédios e áreas externas de nossas cidades, percebemos que o óbvio não é compreendido nem aplicado na estruturação e na criação de nossos espaços urbanos. As ruas são apenas para circulação, a mobilidade está comprometida, as

calçadas são quase intransitáveis, as praças estão vazias, o privado toma o espaço do público, a arquitetura não interage com o espaço urbano, as pessoas se trancam por trás dos muros, e as ruas ficam entregues aos carros, à violência e ao descaso. E com o passar do tempo nos acostumamos a viver sem espaços públicos de qualidade, onde possamos nos sociabilizar e nos expressar, e o pior, não assumimos a nossa responsabilidade nesse processo de degradação e não criação de espaço públicos voltados para as pessoas, nem como designers, nem como administradores e nem como cidadãos. Designers podem manipular elementos para criar bons espaços, e bons desenhos podem trazer boas possibilidades para a cidade. Planejar espaços públicos externos significa planejar espaços onde uma infinidade de atividades pode acontecer, atraindo e oferecendo possibilidades para a sociabilização humana. Não apenas atividades tipo andar, correr, comer, sentar, conversar, brincar, ver e ouvir pessoas, mas toda e qualquer atividade que transforme a cidade em expressão da identidade de seus cidadãos e, consequentemente, em um lugar prazeroso e atrativo. É importante lembrar que a criação de espaços resilientes, sustentáveis, que respeitem e fortaleçam o ecossistema urbano, são pontos fundamentais para o planejamento e a construção de boas cidades. A partir do momento em que nós, pessoas, ocuparmos os espaços entre as edificações, as diferenças sociais e a intolerância tenderão a diminuir, afinal viveremos os mesmos espaços, contemplaremos as mesmas belezas e feiúras, ouviremos os mesmos sons, conviveremos com diferenças, exigiremos os mesmos direitos, experimentaremos os mesmos deveres e, no final do dia, perceberemos que somos todos iguais.

* Patrícia Paegle é arquiteta paisagista e sócia do escritório Casa Forte Arquitetura Paisagística



Como enfrentar a crise energética no país do desperdício Renato Leal *

S Convém lembrar, que é fundamental alterarmos de forma planejada a matriz energética brasileira, privilegiando fontes de energia renováveis.

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empre tive a sensação que reduzir o consumo de energia custa menos que aumentar a produção. Custa menos e o efeito é mais rápido.E as Taxas Internas de Retorno — medida quase universal para aferir viabilidade de investimentos — são maiores. Criar estímulos, além apenas de aumentar o preço, pode reduzir o consumo de imediato de forma significativa, dando tempo para que as demais soluções de curto, médio e longo prazos comecem a produzir os seus efeitos. Mas, no Brasil, é dificil se adaptar o que vem dando certo em outros países. Somos orgulhosos... Abaixo, listarei algumas sugestões que estão sendo aplicadas mundo afora há anos e que, no País da riqueza energética absoluta, nunca foram sequer cogitadas. E se foram, nunca de forma direta e prioritária, como deveria ser, e foram ficando nos papéis. 1. Substituição da iluminação pública de forma generalizada em todo o país por sistemas mais inteligentes e que utilizem LEDS. 2. Racionalização das iluminações dos prédios públicos. É gritante a ineficiência seja por padrões comportamentais, seja pela obsolescência das construções e equipamentos desses prédios. 3. Incentivo à utilização de formas alternativas de aquecimento da água do banho, que hoje de forma generalizada utiliza chuveiros elétricos (25% do consumo mensal residencial). 4. Implementação da produção descentralizada de energia nas residências, casas de campo e de praia, de forma a reduzir consumos das famílias e o valor das suas respectivas contas. 5. Sensibilização para a redução de consumo nos lares — não são campanhas publicitárias... — nas escolas públicas e privadas. Entra-se numa casa na Europa, e o que se vê são pessoas comprometidas no dia a dia com as economias de gás, água e energia elétrica. E são mais ricos que nós. 6. Fiscalização cerrada nas fugas de consumo, seja por ineficiências na distribuição, com as suas consequentes perdas, ou nos roubos de energia pelos usuários. 7. Um programa nacional de incentivos fiscais e creditícios voltado às indústrias que comprovarem redução de consumo de energia, sem perda de produção. 8. Incentivo também aos condomínios residenciais e empresariais. Há outras medidas de grande impacto, que podem complementar essa lista acima. E onde eu fui buscá-las? No mesmo lugar das de cima... Apenas

observando o que está sendo feito em outros países mais responsáveis que nós pelos recursos públicos e pelo meio ambiente. 9. Desonerações fiscais e incentivos financeiros em termos de taxa de juros e prazos mais alongados de financiamento. Principalmente no que tange à amortização dos empréstimos para investimentos em fábricas de equipamentos relacionados com a produção de energia renovável. Convém lembrar que é fundamental alterarmos de forma planejada a matriz energética brasileira, privilegiando fontes de energia renováveis. O Brasil — que adora viver em berço esplêndido — precisa esquecer das soluções hidroelétricas, parar de desmatar a Amazônia para recuperarmos as nossas chuvas e encontrar soluções nas energias renováveis. Cada vez mais me convenço que a mudança na política energética brasileira, somada a mais responsabilidade com o meio ambiente, resolverá o problema da falta de água em algumas regiões do País. A Alemanha já reponde com mais de 40% de toda a energia solar produzida no mundo... E com uma insolação muitíssimo inferior à nossa, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro do Brasil. 10. Permitir a importação e financiar plantas industriais com equipamentos usados, mas com tecnologia moderna de forma a encurtar a aceleração do crescimento da produção das placas fotovoltaícas no País. Não me venham falar que o Governo não tem recursos para investir, pois vou sugerir que releiam o primeiro parágrafo. O baixo crescimento da economia nos próximos 3 anos é uma oportunidade única para implementarmos essas medidas até que os investimentos de maior dimensão no término da construção das hidroelétricas em curso — e não mais — e dos parques eólicos e fotovoltaícos comecem a produzir em grande escala. E o país volte a crescer. Depois de sermos massacrados por essa sucessão de escândalos de desvios de recursos de grandes obras, talvez possamos concluir o porquê das políticas energéticas não darem atenção a essas pequenas soluções.

* Renato Leal estrutura negócios, atuando no Brasil e em Portugal


CONSUMO SUSTENTÁVEL

Criado pela dupla da Tri Design, Estevam de Carvalhaes e Victor Leite, o balanço Ibira é confeccionado com três cilindros de madeira Cumaru, matéria-prima certificada resultante de manejo sustentável, uma alternativa ecologicamente responsável para móveis de área externa devido à sua grande resistência ao tempo. A peça, a princípio, foi concebida exclusivamente para instalação no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo (SP). Curiosidade: cada cilindro pesa aproximadamente 15 quilos. tri.art.br I 11 78274059.

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social

CASA DA CRIANÇA REALIZA AÇÃO NO CABO DE SANTO AGOSTINHO, EM PERNAMBUCO À convite da empresa 2 Alianças, o projeto Casa da Criança fez uma análise das necessidades da infância e juventude na região do Cabo de Santo Agostinho. O trabalho identificou a grande carência da Escola José Clarindo Gomes, o que gerou uma parceria para a reforma da unidade escolar. A escola também é participante ativa do Programa Via Escola, que tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento da educação básica nas escolas públicas, uma iniciativa da Concessionária Rota dos Coqueiros nos municípios do Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho desde 2012. O Programa combina o Programa de Formação Continuada e ações de mobilização política para construir um pacto pela educação com as cidades parceiras, garantindo a permanência dos estudantes nas escolas e a ampliação de competências nas áreas de leitura e escrita. O projeto arquitetônico desenvolvido e a obra realizada tiveram como pontos principais: ampliação do número de salas de aula, banheiros e espaços de convivência dos alunos, possibilitando a regularização do atendimento e desativando os anexos, que eram improvisados e não adequados ao atendimento escolar. Assim, foi possível, também, regularizar os turnos escolares, sendo o turno da noite destinado exclusivamente a cursos aos jovens e adultos. A obra também contou com o apoio da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho , que foi responsável pela reparação da coberta, da parte elétrica, hidráulica e por um muro externo. A união entre os diferentes setores se fez importante para além do período das obras, considerando que será mantido diálogo e parcerias com a Secretaria de Educação, visando acompanhamento e análise do desenvolvimento educacional dos alunos, bem como o impacto social da ação. O Casa da Criança desenvolve atividade sem fins lucrativos, dentre as quais a adequação de espaço físico em instituições públicas, de caráter filantrópico, de atendimento à criança e ao adolescente socialmente desfavorecido. Fornece apoio logístico e mobiliza construtores, empresas ligadas à construção civil e decoração, o que resulta na restauração e reforma ou construção das organizações. Dados da reforma Ala administrativa: reforma e redistribuição dos espaços. Salas de aula: anteriormente eram seis salas de aulas. Com a reforma passa a ter 13 salas, incluindo a ampliação da sala de atendimento às crianças especiais. Biblioteca: proporcionar ambiente de estudos e para aulas com equipamentos multimídia. Refeitório: espaço de convivência com área destinada a atividades de lazer (jogos). Banheiros: ampliação dos banheiros. Construção de 2 banheiros PNE (portadores de necessidades especiais) e banheiro da secretaria. Cozinha: criada uma área de serviço e banheiro para atender aos funcionários do setor. Espaços gerais: foram substituídas todas as portas, aplicado forro em PVC nos banheiros, cozinha, refeitório e espaço de convivência, salas de aula, revestimento cerâmico aplicado nas áreas molhadas, paredes das circulações e rampa externa, salas de aulas, pintura, substituição dos disjuntores e interruptores.

Serviço Projeto Casa da Criança 81 3467.9968 facebook/projetocasadacrianca

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A inauguração oficial está prevista para junho.


BOAS PRÁTICAS

FOTO: Helder Ferrer

Arte no Canteiro usa teatro e quadrinhos para falar de segurança no trabalho Mais de 55 mil trabalhadores da construção civil já assistiram ao espetáculo em quatro estados do Brasil A saúde e a segurança do trabalhador são duas das maiores preocupações da indústria da construção civil, um dos setores que mais emprega no Brasil. De acordo com dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho (Aeat), da Previdência Social, nos últimos anos, o setor vem registrando uma média superior a 60 mil casos. Para reduzir as ocorrências e conscientizar os profissionais da importância do uso do equipamento de proteção individual (EPIs) e outros cuidados, um projeto leva, desde 2012, a vários estados do País, teatro e quadrinhos aos canteiros de obra. Até hoje, mais de 55 mil trabalhadores da construção civil já assistiram ao espetáculo. O projeto, uma realização do Serviço Social da Indústria (Sesi), é de autoria da publicitária Lina Rosa Vieira. De acordo com Lina, a intenção do Arte no Canteiro é educar de um jeito divertido, apresentando a arte do teatro, muitas vezes pela primeira vez, ao trabalhador. “O que eles veem no palco são situações do dia a dia da obra, retratadas de uma forma lúdica”, explica. “As apresentações são bem dinâmicas e movimentadas, de forma a reter atenção do trabalhador e, ao mesmo tempo, enfatizar a mensagem que queremos passar em relação à segurança no trabalho”, destaca a produtora. Com duração de 45 minutos, a apresentação faz do teatro de objetos ponto forte para envolver o trabalhador. Assim, seus instrumentos de trabalho ganham vida e se tornam os personagens da história como o “Pedro Desempenadeira”, o “Balde Miro” e a “Pá Trícia”. Equipamentos de segurança também fazem parte da encenação, a exemplo de luvas, capacetes, botas, óculos de proteção e cintos de segurança. Para movimentar ainda mais o enredo, tem a participação das furadeiras, das britadeiras, das pás, dos caixotes, dos carrinhos e dos tonéis. A direção do espetáculo é de Osvaldo Gabrielli. Ele ressalta que o projeto é uma experiência muito rica, com um público inusitado. “Personagens criados a partir de objetos comuns na construção civil, como carrinho de mão, balde, caçamba, pá e desempenadeira, encarnam situações que levam os trabalhadores a refletirem sobre a segurança em suas próprias rotinas”, afirma. Ao fim das encenações, cartilhas são distribuídas, contendo a história da peça na linguagem dos quadrinhos. O projeto é fruto de pesquisas que alertam para os riscos de acidentes de trabalho nas obras da construção civil. Segundo dados de 2013 da OIT, 321 mil pessoas no mundo morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho. De acordo com pesquisa apresentada pelo Ministério da Saúde, no ano passado, o Brasil é o quarto país do mundo em número de acidentes fatais no trabalho. Produtora Lina Rosa Vieira é uma profissional especializada em projetos culturais e de responsabilidade social. Com experiência em setores como cinema e teatro , ela está, há mais de 10 anos, à frente de projetos como Sesi Bonecos do Mundo, Cine Sesi Cultural, Arte no Canteiro, Na Ponta da Língua e Fito (Festival Internacional de Teatro de Objetos). Arte no Canteiro A iniciativa surgiu a partir da percepção e preocupação com o aumento significativo do número de acidentes com os trabalhadores da construção civil, setor que mais emprega no País. Na apresentação, são focadas questões como a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e o manuseio dos materiais dentro da obra. A ação, que visa combater os principais problemas nessa área de trabalho, tem também como foco o controle ao desperdício de materiais e o cuidado com o meio ambiente. Desde 2012, o projeto já esteve em Minas Gerais, no Mato Grosso do Sul, e em Pernambuco e na Paraíba.

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O Sunshine Board! ® é uma placa solar eficaz que reflete a luz do sol pela janela para iluminar espaços internos residenciais. O espelho, fabricado em aço inoxidável, é montado na parede e possui uma haste em forma de pescoço de cisne que permite que você direcione a luz do sol facilmente para onde quiser.

Faça você mesmo As principais características do urbanismo tático - Uma maneira deliberada e em fases de instigar a mudança - Uso de ideias locais para desafios locais de planejamento - Curto prazo e expectativas realistas - Baixo custo, mas com a possibilidade de alto retorno - Desenvolvimento de capital social entre cidadãos e construção da capacidade organizacional entre instituições públicas, privadas e organizações não governamentais


Trabalho da Rua Arquitetos para a exposição Uneven Growth - Tactical Urbanisms for Expanding Megacities (“Crescimento desigual” - Urbanismo Tático para Megacidades em Expansão”, em uma tradução livre do inglês), realizada no MoMa, em Nova York.

O Urban Umbrella! ® é uma solução conveniente para trazer sombra a espaços urbanos. Aproveitando instalações existentes, como colunas de edifícios, postes de telefone e luz ou palmeiras, pode melhorar um ambiente castigado sob o sol. Graças ao Velcro da Varanda Products ® , é de fácil montagem e você nunca mais terá o problema de ter seu guarda-sol derrubado pelo vento.

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14 meses — que levassem em conta as relações entre formalidade e informalidade, assim como a desigualdade presente na realidade dessas cidades. A ideia era refletir sobre como o urbanismo tático pode contribuir para responder aos desafios da convivência no espaço público: moradia, mobilidade, meio ambiente e outros a serem enfrentados no futuro próximo da vida urbana.

A cidade é nossa Outra característica do urbanismo tático é que ele é pontual, criado pelas próprias populações locais, com ou sem a intermediação do governo, e com uma dimensão de tempo flexível, facilmente adaptável. “Ela pode ser temporária, pensada apenas para testar qual será o efeito causado num determinado espaço de tempo. Muitas dessas intervenções são pensadas dessa forma, na base da tentativa e do erro”, explica Pedro Évora. Um dos melhores exemplos no Brasil é o Largo da Batata, na região oeste da capital paulistana. Desde o ano passado, o local, antes degradado, vem sendo ocupado por grupos de moradores e interessados em realizar atividades culturais no grande espaço. “ É um exemplo claro, talvez o melhor exemplo, de aplicação do conceito de urbanismo tático no País hoje”, afirma Évora. As vantagens desse tipo de intervenção, em comparação àquelas ações mais complexas, planejadas pelo Estado e também muito importantes, são muitas. “Há um engajamento maior da população local, as pessoas ficam mais próximas, compreendem mais o que está acontecendo”. Com isso, afirma, os locais podem ficar mais seguros, mais bonitos, mais habitados, de forma mais rápida e com menos recursos. É uma forma de conseguir um efeito prático, de forma muito mais rápida, com engajamento do público — geralmente, o jovem. “É um tipo de ação que se comunica de forma mais fácil com esse público. Um jovem não quer uma praça com um banco de granito caro, quer uma praça com um banco. Se quero que as pessoas ocupem uma praça, mas não tenho meios de fazer isso de maneira permanente, faço isso do jeito que posso, e as pessoas ocupam o espaço da mesma forma”,conta Pedro Évora.

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A experiência vista na Coreia do Sul não é o único exemplo, em larga escala, da aplicação desse tipo de estratégia no ordenamento urbano. O mesmo experimento de limitar o carro em espaços da cidade já está sendo replicado em outras localidades. Segunda maior cidade da Finlândia, Tampere cortará o acesso de veículos privados, como os carros, em sua principal rua. Apenas ônibus, táxis e veículos de logística poderão circular no espaço. O objetivo, assim como na cidade sul-coreana, é preparar a cidade e seus habitantes para a substituição do automóvel como meio de transporte prioritário — devido à criação de um sistema de trem elétrico, que será inaugurado em 2018 ou 2019. Se depender do experimento da Coreia do Sul, as chances de sucesso são muitas. Em uma segunda fase, a chegada do sistema de transporte público tornará a ação permanente. No entanto, nem tudo são flores. O comitê de planejamento urbano negou em votação a ideia de eliminar definitivamente os carros da principal rua comercial, Hämeenkatu. Associações de donos de comércio na região também se posicionaram contra o projeto, alegando que ele tornará o centro da cidade menos atraente para clientes com a restrição do uso do carro no local. Tal situação, alegam, gerará congestionamentos e falta de local para estacionar no entorno. Outra ideia ventilada por aqueles que se posicionam contra o projeto é que dar mais espaço para as pessoas na rua acabaria gerando mais assaltos e violência urbana. Em São Paulo, porém, algumas iniciativas dão mostras do lado positivo dessa ocupação do espaço público. Festas itinerantes, como a Pilantragi ou a Voodoohop, já são realizadas em praças e parques, com autorização da prefeitura. “É um novo tipo de interação entre as pessoas e a cidade. É o Estado, de alguma maneira, reconhecendo a sua não onipotência e compartilhando essa responsabilidade com os cidadãos”,conta o professor da PUC– Rio. Tal descentralização é importante para incentivar a mobilização da comunidade. “Agora elas percebem que podem fazer as coisas, que o governo vai estabelecer as regras do jogo, mas que elas têm a possibilidade de agir, de se engajar. Não é mais o governo de um lado e as pessoas e empresas do outro, é uma soma, uma cooperação”,afirma.

Há ainda exemplos de ocupação de espaços públicos que têm essa natureza tática, mas que não recebem esse nome de urbanismo tático. “Trata-se, por exemplo, de um comerciante que abre uma academia de boxe embaixo de um viaduto, como existe em São Paulo. No Rio, há pelo menos dois viadutos embaixo dos quais são realizados bailes funk, que acontecem periodicamente e que transformam aquele espaço”, explica Pedro Évora. Assim, defende o arquiteto carioca, o urbanismo tático também pode ser utilizado, por todos nós, como uma estratégia para reaproveitar espaços que estejam subutilizados, degradados ou perigosos. Mesmo que temporariamente.

Pedro Rivera e Pedro Évora, da RUA Arquitetos, sediada no Rio de Janeiro.


O Largo da Batata, em São Paulo, é um grande exemplo de urbanismo tático no Brasil. O local vem sendo ocupado por moradores e interessados em realizar atividades culturais no espaço.

instalação de food trucks em espaços públicos ou a criação de jardins ou hortas comunitárias. Em São Francisco, na ensolarada cidade norte-americana da Califórnia, ativistas transformaram vagas de estacionamentos para carros em parklets dotados de mesas de café, transformando um ambiente antes dominado pelo automóvel em um local que incentiva as pessoas a andarem a pé. Em Memphis, no Tenessee, também nos EUA, ativistas que lutavam pela revitalização da região central transformaram os dois andares de fábrica de cerveja abandonada desde 1953 em um espaço para vender cerveja e

comida em food trucks, com um lounge para música ao vivo e exibições em telões. Trata-se da busca de soluções urbanísticas inovadoras, de curto prazo e baixo custo, mas capazes de provocar uma transformação definitiva na vivência das pessoas no espaço urbano. “É uma intervenção que, a princípio, pode parecer temporária, mas que na verdade visa estabelecer uma estratégia de transformação permanente no modo de ocupação de um determinado espaço”, explica Carlos Andrés Hernandés Arriagada, professor de Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie, em São Paulo.

Para o arquiteto Pedro Évora, o urbanismo tático nada mais é do que intervenções urbanas que não necessariamente têm a participação do Estado, mas feitas pelas pessoas, por empresas, a partir de ações e meios que não são caros, dispendiosos ou complexos.“É um urbanismo que busca efeitos mais imediatos, com meios mais restritos, quase uma guerrilha. É um jeito de as pessoas resolverem seus próprios problemas taticamente, uma espécie de acupuntura urbana”, conta o professor da PUC–Rio. Ao lado de Pedro Rivera, Évora é também o criador da RUA Arquitetos, empresa que desenvolve soluções urbanas inovadoras em locais tão diversos quanto a periferia do Rio de Janeiro, no Brasil, e fábricas de vidro em Shenzen, na China. Por seu trabalho com o urbanismo tático, a RUA Arquitetos foi uma das participantes da exposição Uneven Growth - Tactical Urbanisms for Expanding Megacities (Crescimento desigual - Urbanismo Tático para Megacidades em Expansão, em uma tradução livre do inglês). Realizada no MoMa, em Nova York, a mostra reuniu seis equipes interdisciplinares de pesquisadores com o objetivo de explorar novas possibilidades arquitetônicas para seis megacidades atuais: Hong Kong (China), Istambul (Turquia), Lagos (Nigéria), Mumbai (Índia), Nova Iorque (EUA) e Rio de Janeiro (Brasil). O objetivo era criar projetos de urbanismo tático de curta duração — desenvolvidos em até

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Há dois anos, um bairro da cidade sul-coreana de Suwon virou palco de um experimento radical. A ideia era simples: durante 1 mês, a vizinhança ficaria livre de carros. O objetivo do experimento, batizado de Festival da Ecomobilidade, era criar maneiras da cidade se tornar mais aberta à convivência no espaço público e acelerar sua entrada em um mundo menos dependente de combustíveis fósseis. De certa forma, obrigar seus cidadãos a enfrentar a possibilidade de uma vida sem carro no futuro. A situação de Suwon não era muito distinta da vida de muitas cidades brasileiras: o bairro tinha muitos carros, e o deslocamento das pessoas era feito basicamente por meio deles. Um dos idealizadores do projeto, Konrad Otto-Zummermann, diretor criativo do The Urban Idea, relatou que um dos maiores desafios encontrados para viabilizar o projeto era que a maioria das pessoas não conseguia imaginar sua vida sem carro. “Eles disseram simplesmente que não funcionaria”, disse a um site especializado. Não foi o que ocorreu. Após 2 anos de intenso planejamento, que envolveu reuniões com a comunidade e um investimento pesado do poder público, o experimento começou. Em setembro de 2013, 1.500 carros foram removidos do bairro e guardados em estacionamentos nos arredores. A prefeitura forneceu 400 bicicletas à população, além de ministrar aulas para aqueles que não sabiam como se equilibrar sobre duas rodas. Além disso, foi organizado um sistema de transporte público — ônibus circulares eram responsáveis por levar, a cada 15 minutos, os moradores até o local em que os carros estavam estacionados. O que se viu foi uma verdadeira revolução: as ruas foram tomadas por pessoas

Konrad Otto-Zummermann, diretor da Urban Idea.

andando a pé. Logo, café e restaurantes começaram a colocar mesas e cadeiras do lado de fora, nas calçadas. A utopia de muitos ativistas por uma cidade mais livre do transporte individual sobre quatro rodas, porém, teve prazo de validade. Após o que ficou conhecido como o Mês sem Carro, algumas transformações tornaram-se permanentes. Depois de uma votação da comunidade, o limite de velocidade foi reduzido para 28 quilômetros por hora dentro do bairro, o que fez com que os motoristas evitassem “cortar caminho” por ele. Com o tempo, o trânsito melhorou. Outra mudança foi a decisão de proibir o estacionamento em algumas ruas, o que encorajou os habitantes a começar a caminhar ou pedalar para os seus destinos. De lá para cá, todos os meses, os moradores de Suwon ainda promovem o Dia sem Carro, com intensa participação da comunidade. Esse é um exemplo concreto de como

Durante o Festival da Ecomobilidade, que durou um mês.

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estratégias do urbanismo tático podem alterar, de maneira significativa, a vida das pessoas no meio urbano. O termo urbanismo tático serve como um guarda-chuva para descrever uma imensidão de mudanças temporárias e de baixo custo no espaço urbano, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida em bairros e espaços públicos. O urbanismo tático também é conhecido como urbanismo de guerrilha, urbanismo pop-up, ou Urbanismo DIY. Acredita-se que o termo tenha sido utilizado originalmente em 2010 para descrever um conjunto de técnicas urbanísticas já existentes. De maneira geral, o urbanismo DIY (“Faça Você Mesmo”) deseja tornar as cidades mais amigáveis, orientadas por um senso comunitário, e mais idealizadas para os pedestres. Há exemplos de intervenções tão diversas quanto a remoção de cercas ou muros que separam a comunidade, a


Faça você mesmo Na cidade de Suwon, na Coreia do Sul, o carro foi banido de um bairro inteiro durante 1 mês. Em São Francisco, na Califórnia, ativistas transformaram vagas de estacionamento em parklets para pedestres. Já em São Paulo, moradores criam horas e jardins comunitários em plena Avenida Paulista. Em todo o mundo, emerge uma nova forma de urbanismo. Chamado de urbanismo tático, ou de guerrilha, trata-se de ações de curta duração e baixo custo, pensadas para tornar as cidades mais abertas e comunitárias. por Tory Oliveira

fotos por Urban Idea, Rachel Schein e, Rivera e Évora

Rua antes e depois do Festival da Ecomobilidade, em Suwon, na Coreia do Sul.

Antes

DEPOIS

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SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA URBANA: CASO DA CIDADE DE PALMARES/PE texto e fotos por Luiz Priori Jr.

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esiliência é a capacidade de um sistema recuperar-se e voltar à normalidade depois de sofrer um grande choque. Assim, a resiliência urbana é a capacidade de uma cidade de voltar à normalidade após um desastre, natural ou não. Com a profunda intervenção antropogênica na natureza, poucos desastres são genuinamente naturais; a maior parte deles é intensificada pela ação do homem e pelas mudanças climáticas. Um exemplo da intervenção danosa do homem na natureza é a destruição das matas ciliares e a ocupação irregular das margens dos rios — como aconteceu na Zona

da Mata Pernambucana —, situação que contribui para transformar as cheias dos rios da região, de um fenômeno natural e regular, em desastres de grandes proporções. Na época das precipitações mais intensas — em Pernambuco coincidem com os meses de junho, julho e agosto —, é normal o transbordamento dos rios e a inundação das planícies fluviais; entretanto, quando as margens dos rios são ocupadas por assentamentos humanos, esses transbordamentos se transformam em desastres (socialmente construídos), como o ocorrido em junho de 2010, que atingiu diversos municípios da Zona da

Vista da Zona da Mata Sul de Pernambuco, município de Palmares.

Falhas no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos podem deixar os habitantes das áreas urbanas vulneráveis a uma série de desastres, que podem ser pontuais e imediatos ou processarem-se de forma lenta e contínua. Para evitar esse cenário é necessário prognosticar a extensão dos efeitos das mudanças climáticas sobre as comunidades urbanas, através da previsão do volume de precipitação média e do conhecimento dos cursos das correntes, de modo a ter subsídios para projetar a infraestrutura capaz de suportar as vazões extremas. Além do problema dos alagamentos, outro fator de risco que deve aumentar com as mudanças climáticas é a erosão nas vertentes. Como as chuvas devem ser mais in-

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Mata Sul de Pernambuco, ao ponto de 12 decretarem estado de calamidade pública e 29, situação de emergência. Os municípios de Barreiros e de Palmares tiveram seus territórios completamente cobertos pelas águas. As condições socioambientais resultantes da forma de colonização a que a região denominada Zona da Mata Pernambucana foi submetida, com a destruição indiscriminada das matas, a devastação da fauna nativa, a exploração do solo através da monocultura da cana-de-açúcar, aliadas à pouca preocupação com a preservação dos rios, deixaram um legado permanente de insustentabilidade na região.

Vazio urbano no centro de Palmares-PE.

tensas em algumas regiões, a água terá maior velocidade e força para gerar sulcos e transportar sedimentos, causando e/ou acelerando processos erosivos. A erosão pode colocar em risco habitações, ou pior, ocorrer em meio a uma chuva forte, levando o que estiver na superfície, inclusive pessoas e suas moradias. Além disso, uma erosão mais intensa contribui ainda mais para o assoreamento dos corpos d’água, o que aumenta a possibilidade de alagamentos nos fundos de vale. As mudanças climáticas tenderão a acentuar os efeitos das chuvas, que afetarão os recursos hídricos, como no desastre socioambiental ocorrido na Zona da Mata Sul de Pernambuco, no qual, de acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco – Codecipe, 49 cidades foram atingidas por

enchentes, contabilizando 12.638 pessoas desabrigadas, 7.991 desalojadas e 10 mortas, evidenciando que a solução está no respeito ao desenho natural dos cursos d´água e às suas necessidades periódicas de transbordamento, bem como na preservação das matas ciliares, medidas essenciais para qualquer região que pretenda ser sustentável. Áreas urbanas sempre apresentam risco de inundações quando ocorrem chuvas intensas, pesadas e/ou prolongadas, que produzem grandes volumes de água na superfície. Edifícios, estradas, infraestrutura e outras áreas pavimentadas evitam que a água das chuvas se infiltre no solo, reduzindo, assim, a drenagem natural e aumentando o escoamento. Como consequência, sobrecarregam os sistemas de drenagem urbanos.


As inundações urbanas podem ser classificadas em dois tipos: cheias como consequência de chuvas fortes locais, que causam transbordamento da calha do rio – ocorrem quando o nível do rio sobe acima das suas margens —, e inundações causadas pelas marés altas ou de tempestades. No primeiro caso, as enchentes em virtude de chuvas fortes locais são causadas por drenagens deficientes ou insuficientes; e, no segundo caso, as inundações são causadas pelo fluxo excessivo de água à montante do rio, que causa o efeito de enxurrada, que pode ser agravado pela maré alta à jusante — marés na foz do rio. No desastre socioambiental ocorrido na Zona da Mata Sul de Pernambuco, a grande devastação das cidades da região foi provocada pela força das águas que desceram em enxurrada das regiões mais altas. As cidades mais devastadas, como Palmares e Barreiros, que estão situadas em municípios localizados na faixa próxima ao litoral — de baixa altitude — receberam um grande volume de água e sedimentos. Contribuiu para o agravamento da situação o assoreamento dos leitos dos rios, que fez com que a força devastadora da água extrapolasse as margens e arrasasse tudo que estava no seu caminho. Cidades em áreas costeiras estão normalmente localizadas em regiões baixas, onde a drenagem é difícil sem bombeamento. Tempestades podem dificultar a drenagem das águas para o mar e causar o prolongamento de cheias, com a água poluída de inundações, e agravar os problemas de saúde nas cidades. Efeitos das mudanças climáticas tendem a aumentar a ocorrência de chuvas mais pesadas e inundações frequentes e graves, que são mais difíceis de prever. Os desastres denominados socioambientais ocorridos na Zona da Mata Pernambucana devem-se, em parte, às técnicas empregadas na exploração e no uso dos recursos naturais da região. Pontes, estradas e prédios públicos foram destruídos e cidades inteiras restaram inundadas, como Palmares e Barreiros, atingindo especialmente as famílias mais pobres que ocupavam as áreas próximas aos rios, circunstância que pode ser agravada pela

Marcas da destruição no Bairro das Pedreiras, Palmares-PE.

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Rua Conselheiro João Alfredo, centro de Palmares-PE.

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construção de pontes, cujos projetos são impróprios para o local. Obras que deveriam ser projetadas para interferir minimamente na passagem das águas são edificadas com altura insuficiente nos vãos centrais, transformando-se em barreiras, na época das chuvas intensas — quando o volume das águas dos rios aumenta —, à passagem da água e contribuindo para o alastramento da inundação e para a sua própria destruição, o que ocasiona transtornos gravíssimos para as populações dessas cidades. Essa situação deu-se na cidade de Palmares, uma das mais atingidas pelas enchentes de 2010. Nessa cidade, mesmo já tendo passado 5 anos, ainda pode-se vislumbrar, por toda a parte, marcas da tragédia. A Rua Conselheiro João Alfredo, outrora a principal da cidade, ainda apresenta diversos imóveis em ruínas, abandonados e, apesar dos esforços para reconstrução, os “vazios urbanos” continuam no centro da cidade. Segundo moradores da cidade, o Bairro das Pedreiras, que fica vizinho à sede da Prefeitura e nas margens do Rio Una, foi o mais destruído. Os seus moradores foram transferidos para 2.500 novas casas populares construídas em terras mais altas a 2 quilômetros desse local. Entretanto, devido à distância e à crença na contenção das águas pela nova Barragem de Serro Azul — que está com 70% das obras prontas —, muitos reconstruíram seus imóveis e estão voltando a ocupar as suas antigas casas. Com as mudanças climáticas, a intensidade e a frequência com que as cidades enfrentam eventos climáticos extremos estão aumentando, se bem que a relação das cidades com os desastres socioambientais é tão antiga quanto as próprias cidades. As inundações fazem parte da realidade de Pernambuco desde o tempo da colonização. A primeira enchente historiada na cidade do Recife ocorreu no ano de 1632, causando danos em habitações e estabelecimentos situados às margens do Rio Capibaribe. Como forma de proteger a cidade contra as inundações, no ano de 1638, Maurício de Nassau determinou a construção da primeira barragem no leito do Rio Capibaribe, uma prática empregada até os dias de hoje.



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