comportamento
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#partiu
ro
le
zi nho Como aquela voltinha no shopping com os amigos causou confusão, protestos e uma discussão sobre o que é preconceito
Texto Isadora Attab Edição Mariana Araújo Design Débora Islas Ilustração Mauricio Pierro
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o que é + como começou Não tem segredo: os “rolezinhos” são encontros da galera da periferia nos shoppings. Eles já acontecem há mais tempo do que se imagina. São marcados pelo Face e quem vai quer beijar, ouvir música e tirar foto. No dia 7 de dezembro, o Shopping Itaquera (SP), em São Paulo, recebeu quase 6 mil pessoas, que se juntaram pra ouvir funk no estacionamento. Para dar certo, o rolezinho tem que ser organizado por uma celebridade da rede, um “famosinho”. O estilo ostentação marcou o evento ali e no Shopping Internacional Guarulhos, no dia 14. Rolaram briga, denúncia de arrastão e gente na delegacia.
72 capricho
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funk #TRETA Os famosinhos bombam no Face e no Insta e muitos também são MCs: cantores de funk. O Vinicius Andrade, 17 anos, é um deles. Mora no Capão Redondo, tem mais de 92 mil seguidores no Face e já organizou vários rolezinhos, incluindo o do shopping Campo Limpo. Ao lado da namorada, Yasmin Oliveira, que conheceu em um dos rolês, mobiliza muita gente. Há quem diga que, na realidade, garotos como o Vinicius estavam no Shopping Itaquera para protestar contra um projeto de lei que proibiria bailes funk em espaço público. Acabou em confusão.
medo ou preconceito? Depois das primeiras confusões, os rolezinhos ficaram cada vez maiores e polêmicos. Em 21 de dezembro, a polícia impediu o rolezinho marcado para o shopping Campo Limpo. Os policiais barraram a entrada de “menores desacompanhados” no local. Em 11 de janeiro, quatro shoppings de São Paulo conseguiram uma decisão temporária na Justiça que punia quem tentasse participar de um rolezinho com multa de até R$ 10 mil! No mesmo dia, a PM usou bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, além de balas de borracha, contra quase mil pessoas no Shopping Itaquera.
As vozes do Bonde Especialistas, garotos e garotas que já estiveram nos rolezinhos explicam porque eles incomodam tanta gente... Tumultos acontecem porque tem muita gente em um espaço fechado. Falta lazer e cultura para a juventude nas periferias. Por isso, as leis devem garantir que eles ocupem os espaços que quiserem sem preconceito.” Beatriz Lourenço, do Levante Popular da Juventude
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manifestações Apesar de muita gente defender que é obrigação da polícia proteger contra possíveis crimes, os rolezinhos ganharam o apoio de vários grupos, que acharam que a ação dos shoppings e da polícia havia sido preconceituosa, afinal, ninguém proibiu encontrinhos de jovens da classe média. Em 18 de janeiro, um grupo de quase 100 pessoas protestou na frente do JK Iguatemi, um dos shoppings mais luxuosos de São Paulo. As portas ficaram fechadas o dia todo por medo de violência. O mesmo aconteceu no dia 25 no Iguatemi de Brasília.
A polícia não confirmou se houve roubo ou violência. Foram suspeitas, já que eles são jovens mais pobres, na maioria, negros. Proibir o acesso deles baseado nesses fatores é preconceito.” Elizeu Soares Lopes, advogado
Tem muito moleque cujo o sonho é ser MC. Por que vai tirar isso dele? Nossa diversão é ouvir música e dançar. A gente quis mostrar que o baile funk é legal fazendo no estacionamento, pra todo mundo ver.” João Queiróz, 18 anos
O shopping representa o belo, o glamour. A adolescência é uma fase de afirmação e de conquista do próprio espaço, por isso, noções de beleza e consumo são importantes”. João Clemente de Souza Neto, sociólogo
Tem gente comentando: os filhos do pessoal rico vêm pra favela curtir o pancadão e são bem recebidos. E quando a gente frequenta o ‘lugar deles’, por que a gente é barrado? É ridículo.”
É chato que um ou dois caras estraguem a imagem do rolezinho. Eu vou lá pra representar as meninas: a gente troca ideia, brinca, dá risada. As pessoas julgam sem saber o que acontece de verdade.”
Grazielly Wendy, 14 anos
Yasmin Oliveira, 15 anos
Quem deu as informações João Clemente de Souza Neto, sociólogo especialista em infância e adolescência da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e Elizeu Soares Lopes, advogado dos movimentos negros de São Paulo.