eSPAÇOS LIVRES: cOSTURAS EM sANTA cECÍLIA
jOSÉ iRAIL dE rEZENDE nETO
TGI II
À minha mãe, por todo o apoio. Aos divinos amigos, por me acompanharem e tanto me ajudarem. À Cristiane, pela compreensão e incentivo.
“E que dizer do equipamento urbano, da iluminação, da publicidade das ruas, que
constitui o rosto efêmero, porém mais vivo e mais aproveitado da cidade que hoje quer ser, ela própria, efêmera?” Giulio Carlo Argan, História da Arte como História da Cidade Façamos da construção algo
provisório no espaço,
Deixemos de querer perpetuar nosso ego em edifícios que perdurem além do tempo em que estaremos aqui para
vivênciá-los
Deixemos que os espaços, cada vez mais escassos, possam brincar de assumir
diferentes
funções e formas Desfaçamo-nos da idéia de como
arquitetura como espaço construído e mais
recipiente, como espaço onde o homem possa minimamente habitar podendo ser
desde um ponto de ônibus a um galpão
Enfim, deixemos a arquitetura falar mais, escutemos a cidade, entendamos seu funcionamento, sua dinâmica e assim façamos
espaços úteis em sua finitude.
sÃO pAULO: dEMOGRAFIA E dESADENSAMENTO do cENTRO
sÃO pAULO: dEMOGRAFIA E dESADENSAMENTO DO cENTRO
- O CRESCIMENTO POPULACIONAL DA CAPITAL: 1950-2000 O contingente populacional que o município de São Paulo veio a atingir só pode ser entendido, (além da permanência de níveis relativamente elevados de fecundidade por boa parte do século XX e queda dos níveis de mortalidade em todas faixas etárias ao longo do período) pela persistência de um intenso fluxo de imigrantes até os anos 1970, que não apenas contribuía para aumentar a população no momento da chegada, como também pelos seus efeitos indiretos posteriores, seja através dos filhos que acabariam por se fixar na capital, seja através da vinda de familiares e amigos deixados na origem, mobilizados a migrar em algum momento depois. Assim, em 50 anos, de 1900 a 1950, a população de São Paulo aumentou em mais de nove vezes seu tamanho, passando de cerca de 240 mil habitantes para 2,2 milhões. Em termos médios, isso representou uma taxa de crescimento de 4,5% anuais. Foi um processo extremamente rápido, alimentado por numerosos contingentes de migrantes estrangeiros, simultaneamente aos imigrantes do interior do estado, de Minas Gerais e dos estados do Nordeste. Movida pelos investimentos públicos e privados, a economia paulistana cresceu a taxas elevadas, abrindo oportunidades de emprego e acesso a serviços públicos e privados a esse enorme contingente populacional que, em sua origem, vivenciara um quadro completamente oposto, marcado pela inação econômica, insuficiência de oferta de vagas no mercado de trabalho e "desassistência" do poder público. Contudo, os recursos que traziam e a renda auferida na capital não permitia aos migrantes mais que residir precariamente nos cortiços centrais e nas extensas áreas não ocupadas à beira dos rios e vias de grande circulação, situadas nas zonas periféricas da capital e nos municípios vizinhos. A partir dos anos 1960, como decorrência dos efeitos da interiorização do desenvolvimento econômico no
estado de São Paulo, as taxas de crescimento da Região Metropolitana de São Paulo e da capital começam apresentar queda de intensidade. A população do município de São Paulo, que ainda crescia a 3,7 % ao ano nos 1970, apresentou uma forte queda no ritmo de crescimento na década seguinte (1,2% ao ano), passando a apresentar, pela primeira vez na sua história recente, mai s saídas de pessoas do que entradas de migrantes. A capital paulistana estava pois perdendo seu poder de atração e retenção migratória, no bojo da crise do emprego, da perda do dinamismo industrial, do redirecionamento dos fluxos migratórios para cidades médias, da amplificação do fenômeno de retorno dos migrantes do Nordeste e de outras regiões. A violência, a perda de qualidade de vida, os problemas de poluição sonora, do ar e visual e outras deseconomias da aglomeração também passaram a ter peso crescente na decisão de saída de famílias da capital, sobretudo as de classe média e média-alta, que passaram a se dirigir a outras cidades próximas na Região Metropolitana, na Baixada Santista e em localidades mais distantes, na região de Campinas, Atibaia e São José dos Campos. Nos anos 1990, o crescimento demográfico permaneceu baixo, sinalizando a continuidade do processo de evasão populacional do município. De fato a população do município de São Paulo totalizava 10,4 milhões de pessoas, apontando para uma taxa média abaixo de 1%aa entre 1991 e 2000. Presenciou-se, pois, a continuidade da tendência de evasão populacional do município, mas em volumes menores, talvez pelo desempenho mais favorável da economia paulista durante parte da década - REDISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO NA CAPITAL: 1980-2000 Ao longo de todo esse período, a paisagem urbana passou por níveis crescentes de compactação da área edificada pela verticalização e expansão territorial da zona urbana. Esses processos se deram progressivamente do Centro e bairros próximos (Santa Ifigênia, Santa Cecília, Liberdade, Paraíso, Aclimação) para bairros mais af astados (Santana, Penha, Lapa e Pinheiros), com a ocupação dos terrenos baldios (no Jardim Europa, Sumaré, Vila Clementino) e dos "vazios" existentes entre loteamentos construídos nas décadas anteriores (Planalto Paulista, Sumarezinho, Jardim das Bandeiras), estendendo-se para os núcleos suburbanos estabelecidos ao
longo das ferrovias e vias de circulação rodoviária, aumentando a mancha urbana da capital. Esse padrão radiocêntrico de expansão da cidade configurou-se a partir dos anos 1920, seguindo a lógica da concepção urbanística de Prestes Maia (e das intervenções urbanas que se seguiram nas décadas posteriores) e a lógica da exclusão social a que os trabalhadores imigrantes estavam su jeitos ao aportar na capital. Os custos de terrenos e dos aluguéis das áreas já urbanizadas (muitas já em processo de verticalização) forçavam a ocupação territorial cada vez mais periférica do município, através de loteamentos irregu lares e a autoconstrução. Assim, na década de 60, a região anelar mais periférica da cidade, compreendendo a Zona Leste, Zona Noroeste (Jaraguá e adjacências) e ao sul de Santo Amaro, viriam crescer cerca de 13%aa (enquanto o município crescia a 4,6%aa). Os bairros centrais, contudo, cresciam a menos de 1%aa. As taxas de crescimento dos distritos centrais passaram a ser não apenas mais baixas como também negativas, denotando uma forte evasão de população residente nos bairros centrais e de ocupação mais antiga (nos anos 1980, dos 96 distritos paulistanos, 41 apresentaram diminuição absoluta de população residente; entre 1996 e 2000, esse número aumentou para 56, ao incorporar outros distritos localizados em região menos central). O processo de "esvaziamento populacional" da região central pode ser constatado visivelmente pela quantidade de imóveis e prédios desocupados nos distritos da Sé, Brás e Santa Cecília. De fato, nos anos 1980 esses distritos decresciam -1 a -2%aa; tendência que veio a se acentuar na década de 1990. O espraiamento espacial do processo pode ser atestado pelo comportamento dos distritos do Limão, Freguesia do Ó e Moema, mais afastados do centro, mas de ocupação antiga na capital, que passaram a perder moradores nos anos 1990, depois de apresentar taxas baixas de crescimento na década de 1980. Na periferia, por outro lado, as taxas de crescimento de alguns distritos mantiveram-se altas ou até mesmo se elevaram no período mais recente, como o distrito de Anhanguera, que teve sua taxa de crescimento
aumentada de 8%aa para 13%aa entre as duas últimas décadas. Há quem note um certo esfriamento desse processo de evasão populacional dos distritos centrais e vislumbre uma certa recuperação do crescimento demográfico de alguns distritos próximos ao Centro que antes perdiam população. Talvez isso decorra porque o estoque de res identes já diminuiu de forma significativa nas décadas passadas, ou talvez seja resultado da desvalorização dos imóveis e da degradação do Centro ou ainda das iniciativas do poder público de recuperação dessas áreas. Mas o certo é qu, o padrão “radiocêntrico-centrífugo” da ocupação do território paulistano, delineado nas primeiras décadas do século XX, ainda continua operando (seguindo a lógica histórica da ocupação territorial no município, a população de renda mais baixa, que não pode arcar com a valorização fundiária (e do aluguel), acabou se deslocando para moradias mais distantes na periferia, ocupando loteamentos populares ou voltando para as favelas e c ortiços já existentes nas áreas mais centrais do município).
tRANSFORMAÇÕES nAS cIDADES tRANSFORMAÇÕES NAS cIDADES
O dilema do urbanismo atual consiste em, de um lado, acompanhar os processos desurbanizadores da cidade mediante respostas pontuais, monofuncionais e especializadas, que se expressam por meio de políticas setoriais, submetidas ao mercado e executadas pela iniciativa privada: de outro, impulsionar políticas de ordenação urbana e de definição de grandes projetos que contrapõem as dinâmicas perversas e que se comprometem a fazer cidade, favorecendo a densidade das relações sociais no território, a heterogeneidade funcional de cada zona urbana, a multiplicação de centralidades polivalentes e os tempos e “lugares” de integração cultural. Esse dilema é, basicamente, fruto do conflito que hoje existe sobre o que é de fato cidade, acrescido do que chamamos de “crise da esfera pública”. À constituição das cidade esta associada a vida social, lugares de referência que valorizaram o sentimento de coletividade. A história nos mostra que o lugar público era concebido como a extensão da “casa”, visando promover a reunião da coletividade. Era na praça que ocorriam os acontecimentos mais importantes da vida em comum, ela era o lugar urbano por excelência. (ARANTES,1998:102-103 em CARACAS, 2000). O conceito iluminista de cidade como virtude, a virtude da liberdade, do comércio, da arte, a cidade como centro de acontecimentos econômicos, políticos e artísticos foi substituído pela idéia da cidade como vício. A cidade passou a ser vista como acúmulo de lixo, cortiços, miséria. Tudo isso, graças ao crescimento urbano e a industrialização a partir do século XIX, que tornaram este quadro mais dramático e, por isso, mais sensível aos olhos críticos.
Os futuristas, visando recuperar a cidade, assumiriam sua reforma. No entanto, uma reforma social, em busca de soluções para os problemas de moradia, para as disparidades entre campo e cidade. De acordo com Schorske, Frederic Engels deixa este pensamento claro: “querer resolver a questão da moradia e ao mesmo tempo desejar manter as grandes cidades modernas é um absurdo. Porém, essas cidades serão abolidas somente com a abolição do modo de produção capitalista” (SCHORSKE, Carl (1989). A cidade seguindo o pensamento europeu – de Voltaire a Spengler in Espaços e Debates, n 27). Marx e Engels revelam a nostalgia do artesão medieval, dono dos meios de produção e de seus produtos, rejeitando o modo capitalista de produção e a exploração do trabalhador. E é justamente esse ir e vir entre passado, presente e futuro, que trouxe a esses pensadores uma nova visão de cidade. Uma cidade que assume toda sua existencialidade: bem e mal, beleza e feiúra, glória e horror. Segundo Schorske, Oswa ld Spengler foi quem melhor formulou a idéia da cidade para além do bem e do mal: “(ele) considerava a humanidade urbana moderna neonômade, dependente do espetáculo da cena urbana sempre em transformação para preencher o vazio de uma consciência dessocializada e desistoricizada”. (SCHORSKE, Carl (1989). A cidade seguindo o pensamento europeu – de Voltaire a Spengler in Espaços e Debates, n 27). No entanto, essa visão de individuo e de cidade mais uma vez se altera. A partir da década de noventa do século XX, assistiram os principais centros urbanos uma expansão intensa do caráter metropolitano, revelando transformações ocorridas no curto intervalo de tempo dos 80 e 90 (em especial a cidade de São Paulo, como descrita no capítulo anterior). A aceleração das transformações que atingem a cidade contemporânea, e que constituem a principal origem de seus problemas, tem levado a novas abordagens da questão urbana. Sob o ponto de vista da história, o tema da cidade hoje deve ser considerado dentro de uma perspectiva mais complexa que une aspectos objetivos – cronologia, forma, usos, funções - e aspectos subjetivos – memória, imaginário. Presenciou-se um processo de crescimento difuso em direção às regiões em que se integram, evidenciando uma fluidez ou dissolução dos limites urbanos. A cidade passou a configurar um nó num sistema em rede ou de fluxos.
Vivemos hoje, o que talvez seja o auge, no sentido crítico, da constituição de uma sociedade capitalista, onde a globalização, a racionalidade tecnológica e a extrema modernização dos meios de produção, transformaram a cidade, fonte histórica do assentamento e da permanência, em velocidade. A partir dos estudos de Saskia Sassen pode-se afirmar que os referenciais conhecidos de um ponto de vista histórico para a análise dos espaços urbanos se transformaram. Assiste-nos um novo imaginário para definir o espaço urbano contemporâneo, no qual a cidade, fonte histórica do assentamento e da permanência, constitui hoje mais do que nunca o espaço símbolo da mobilidade. Mobilidade e fluxos configuram imagens paradigmáticas de redes digitais e aceleração, que se concret izam com a ênfase e os investimentos em infra-estruturas e interconexões de massa. A preponderância dos fluxos, de informações, pessoas ou mercadorias em redes cuja máxima função reside na aceleração logística do sistema territorial e econômico, parece colidir com a lógica tradicional dos lugares e com o discurso da identidade. A experiência de andar pelas ruas é, pois, substituída pela experiência de ver a cidade passar pelas janelas dos ônibus, do trem ou do metrô, quando há espaço para se olhar por elas no abafado tráfego diário.
eSPAÇO pÚBLICO O espaço público
Centros urbanos e espaços públicos constituíram duas questões essenciais nas agendas urbanísticas dos anos oitenta e noventa. Estes, assumidos como o âmbito da sociabilidade, da expressão política e cultural e como o lugar de condensação da identidade da cidade ficaram inseridos nas políticas orientadas para a melhoria da qualidade ambiental das cidades com relação às atividades dos habitantes, dos fluxos turísticos, revertendo assim as deformações provocadas pelos investimentos imobiliários. Este debate intensificou-se quando as contradições presentes na cidade com o processo gerado pela globalização e o neoliberalismo geraram a privatização dos espaços pú blicos – o “assalto ao público” – e produziu uma reação contra a especulação econômica e latifundiária que negava o va lor da cidade como um bem cultural, e os espaços públicos como os locais da sociabilidade democrática, do convívio e do intercâmbio social. Entre as grandes operações de moradia (cada operação destinada a um segmento social determinado) e a prioridade designada quase sempre à viabilidade como ordenamento e como inversão, o espaço publico
passou a ser um elemento residual. O funcionalismo predominante no urbanismo moderno desqualificou de imediato o espaço público ao lhe designar usos específicos. Em alguns casos se confundiu com a viabilidade, em outros só se empregaram as necessidades de ordem pública. Em casos mais afortunados, se utilizou como mecanismo de segregação social, tanto para excluir, quanto para concentrar (por meio da acessibilidade dos preços, da imagem social, etc).
Juntamente com todo esse processo, surgiram novos lugares direcionados para o entretenimento; lugares estes que se voltam cada vez mais para si e menos para a cidade. São espaços climatizados e artificialmente protegidos que tentam escapar do “caos” urbano, da velocidade dos veículos e do agito da vida nas metrópoles e que, aliados à crescente falta de segurança das cidades, cristalizam a tendência de interiorização da vida. Shoppings-centers, hipermercados e museus são alguns exemplos desses novos espaços de sociabilidade e convívio intrinsecamente ligados à lógica de consumo, tanto cultural, quanto de produtos industrializados de massa. Esses novos “espaços públicos” se contrapõem à tradicional praça, aos largos e mesmo às ruas, ao mesmo tempo em que os incorporam em seu interior controlado. Tentam reproduzir as cidades e as ruas; uma alienação a que as pessoas se subordinam conscientemente todos os dias, mas que só faz aumentar o abismo entre classes e a perda de identidade de nossas cidades; um estacionamento da vida pública (em suma, criam espaços não mais públicos, mas de USO público, além de descaracterizar, os antigos espaços democráticos de sociabilidade ). O processo de interiorização que vêm sofrendo os espaços públicos é refletido para a cidade, que se volta para dentro das casas e ambientes fechados. Esse processo foi um dos motivos do surgimento de tantos arranha-céus, no século passado, e uma das causas da explosão de condomínios fechados na maioria das nossas cidades atualmente. No Brasil, em face ás fortes desigualdades de ordem econômica e social existentes entre as camadas da população, o que se verifica é uma crescente “segregação de classe” motivada, principalmente, pelo fator econômico. (TELLES, Edward. “Segregação racial e crise urbana”). Ao contrário de cidades como Paris, Berlim e Barcelona, que passaram por grandes urbaniz ações nas ultimas décadas e que hoje têm o caos urbano trocado por generosos espaços públicos voltados aos encontros de pessoas e culturas diversas- um grande mix de atividades culturais e de lazer como bares, lojas, restaurantes, teatros, cinemas, museus, eventos religiosos e folclóricos, feiras, fóruns mundiais, etc. – países como o Brasil, buscaram resolver a priori seus problemas de infra-estrutura urbana. Torna-se evidente “as
formas como as cidades sob influência das situações econômicas e políticas do país convivem com problemas que se arrastam por séculos. A favela e o celular convivem lado a lado sem cerimônia, a pobreza está sempre a um passo dos condomínios fechados e dos shoppings centers e a fome esbarra nos (hiper)supermercados 24 horas. As cidades latino-americanas também crescem a passos rápidos em busca de novas levas para a expansão imobiliária, enquanto os excluídos do sistema ainda se amontoam nas favelas”. (DIAS, Fabiano. O desafio do espaço público nas cidades do século XXI. Vitruvius.) As cidades latino-americanas são exemplos da dualidade do mundo atual. E isto se configura de forma muito clara na constituição espacial de nossas cidades, quando a democracia urbana, a existência de espaços públicos é diminuta e seu uso é tímido e muitas vezes elitizado. Com o crescente aumento da população urbana e a expansão do capitalismo internacional sobre a estrutura produtiva brasileira, o mercado imobiliário passa a se tornar atrativo para os investimentos especul ativos. O surgimento do “urbanismo como modo de vida” (Wirth,1987), cria padrões de comportamento e de estruturação espacial que passam a remodelar o espaço urbano. “É preciso não esquecer que a concentração crescente da população nas zonas urbanas é, em grande parte, o resultado de um movimento consciente e voluntário de pessoas que encontram, na cidade, condições mais satisfatórias de vida. E são mais satisfatórias, não porque seja dada ao migrante a possibilidade de
participar de modo ativo e consciente no processo de transformação da sociedade, mas porque,
na
cidade,
ele encontra maiores
facilidades de acesso aos
‘benefícios’ do processo
de
desenvolvimento”. (DURHAM, Eunice (1984). A Caminho da Cidade: a vida rural e a imigração para São Paulo. São Paulo:Ed. Perspectiva.) A crescente expansão dos condomínios residenciais e dos loteamentos fechados no cenário urbano brasileiro pode, em parte, ser explicada através desta concepção. O surgimento da “segregação voluntária”, representada pela figura dos condomínios, está intimamente relacionado ao processo de urbanização
brasileiro. Cidades como São Paulo, por exemplo, passaram a ser a opção para uma possível melhora de vida da população brasileira, desolada e abandonada pela política desenvolvimentista empregada no país, principalmente a partir do Estado Novo. Essa expansão ganhou forte impulso com o aumento da violência urbana e procura esconder, através de seus altos muros, uma falsa sensação de segurança. Esse pseudo-refugio da classe média tornou-se um hábito que se difundiu rapidamente e que passou a ser vendido pelo marketing imobiliário como uma forma de status. A idéia de morar seguramente, e de repartir as despesas de manutenção da sua moradia, atingiu, até mesmo, as camadas com menor poder aquisitivo e passou a ser objeto de desejo também entre elas. “O medo e a fala do crime não apenas produzem certos tipos de interpretações e explicações, habitualmente simplistas e estereotipadas, como também organizam a paisagem urbana e o espaço público, moldando o cenário para as interações sociais que adquirem novo sentido em uma cidade que progressivamente vai se cercando de muros. A fala e o medo organizam as estratégias cotidianas de proteção e reação que tolhem os movimentos das pessoas e restringem seu universo de interações”. (CALDEIRA, Teresa Pires (2000). Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo). Assim, a diminuição gradativa dos espaços públicos, e sua substituição por áreas cada vez mais controladas por serviços privados de vigilância, condenam a população urbana a um certo tipo de confinamento restritivo de liberdade. Para muitos, a rua não é mais considerada patrimônio público. A praça não é mais o local seguro destinado ao desfrute. Vive-se, materialmente e socialmente, um processo de privatização generalizada. É preciso voltar o olhar para a cidade na tentativa de empreender espaços mais democráticos. Tenta r recuperar o espaço público defendido por Jane Jacobs – aqueles que propiciam contatos interessantes, proveitosos e significativos entre seus habitantes, resultado de compreensão de uma identidade pública, respeito e confiança mútuos.
“ O lugar público deve ser concebido como um espaço urbano acessível onde se produz o encontro da diversidade. Neste sentido, é um reflexo direto da essência da cidade – segundo Colin Rowe, geradora do domínio público -, que provém da presença e coexistência de uma multiplicidade de pessoas, ofícios, comunidades e culturas que se complementam mutuamente. Por isto, a qualidade urbana de uma cidade é avaliada a partir do significado e da riqueza dos lugares públicos que a compõem. Na cidade contemporânea, não aparece aquela presença evidente dos lugares públicos que forneciam à cidade tradicional aquela expressão identificadora – na América Latina, a Praça maior, ou as esquinas urbanas -, que se convertiam em um cosmos habitado pela coletividade”. (SEGRE, Roberto. Espaço público e democracia: experiências recentes nas cidades da América Hispânica. Vitruvius.) “A cidade ainda é um espaço público? Redimensionado a questão, é preciso ter claro que o espaço público convive nas cidades com os espaços privados, onde o acesso coletivo é facilitado ou não de acordo com os interesses específicos de seus proprietários. Diversos espaços privados – shoppings-centers, clubes sociais, estádios, grandes conglomerados de shows e eventos – cumprem hoje funções equivalentes aos exercidos pelo espaço público ao longo da história – história, inclusive, muito curta, afinal só podemos falar de um espaço efetivamente público em sociedades complexas do mundo moderno. A perda que ocorre é importante de se registrar, pois como ela é sutil, passa muitas vezes desapercebida. O que temos aqui é novamente a dissociação de âmbitos distintos do homem contemporâneo, suas facetas de contribuinte/consumidor e de cidadão. O que caracteriza o espaço público é a posse mediada por parte de um ente abstrato – a comunidade. O equilíbrio necessário ao bom funcionamento dessa propriedade compartilhada é facilmente quebrado por fenômenos diversos – violência urbana, má administração, leis inadequadas, desigualdade social, má educação coletiva, etc. – implicando no seu abandono e degradação”. (GUERRA, Abílio. Três questões sobre urbanismo. Vitruvius.) O que se percebe nos dias de hoje é que muitas vezes existe um temor pelo espaço público. Ele não é visto como um espaço nem protetor nem protegido. Em alguns casos não foi pensado para dar segurança e sim para certas funções como circular ou estacionar, é essencialmente um espaço residual entre edifícios e vias.
Em outros casos foi ocupado pelas classes perigosas da sociedade: imigrantes, pobres ou marginalizados. Uma agorafobia urbana dos cidad찾os contempor창neos.
rEPENSANDO O eSPAÇO pÚBLICO Repensando o espaço público
Com base na discussão sobre a escassez de espaços públicos de transformações e segregações sócio espaciais, incita refletir sobre a forma de conceber os o espaço públicos livres de uso coletivo, sem que as tensões se acirrem, sem que se estimule a segregação e os preconceitos. Ao mesmo tempo, fica evidente a dificuldade de se resolver através da arquitetura todos esses abismos gerados pela cidade e pela soc iedade contemporânea. Uma possível chave de concepção do espaço está na composição do espaço a partir da compreensão de uma identidade pública. Assim, o espaço público deve ser concebido não apenas como um espaço dotado de uma forma precisa e pré determinada, mas sim de forma que comande a disposição dos espaço privados e ordene os objetos arquitetônicos, tendo uma função reguladora e ordenadora na cidade, um marco que a partir dele se reconhece a cidade como um total e o convívio social. Desse modo é possível pensar recuperar o conceito de vida pública, o contato com o outro, com a cidade, fazer conviver as diferenças, respeito e confiança mútuos. A escolha do espaço também é uma questão relevante no sucesso de caráter público. Decidir a localização de uma nova instituição na cidade ( e isso vale também para o desenho um edifício público, ou ate erigir uma obra de arte) são atos que exigem que anteriormente se tenha procedido a uma avaliação correta das pertinências monumentais do espaço público. Isso significa levar em conta a forma do contexto urbano. Senão se produz novamente espaços residuais em que elementos como edifícios, esculturas ou cobertura vegetal perdem totalmente seu significado.
Um edifício público, depende da sua visibilidade, ou seja, da sua posição na cidade e da situação que ele ocupa no sistema das hierarquias monumentais. Outro fator importante diz respeito à legibilidade de um edifício ou de um monumento: ela repousa sobre o jogo de correspondências entre a sua lógica simbólica institucional, sua tipologia construtiva e a retórica figurativa (no caso de um monumento) ou arquitetônica usada. Essa legibilidade é essencial, pois ela não somente permite aos habitantes da cidade reconhecer a função institucional de um monumento (seja ele igreja, estação de trem, escola, teatro ou monumento), como também permite “ler” a hierarquia dos valores cívicos que uma sociedade confere às suas instituições. Cada equipamento público remete a uma idealidade formal convencional que permite identificá-los como instituições, mas, ao mesmo tempo eles possuem uma forma própria que os “localiza” numa cidade e numa região e os “singulariza" como. É portanto graças à visibilidade e à legibilidade que as pessoas se situam e organizam a sua comunicação na cidade. Um projeto urbano determina regras de alinhamento, de altura, de volume, de materiais etc. Mais precisamente, ele desenha detalhadamente o que releva dos
?nanciamentos públicos: fundações,
revestimento dos solos, mobiliário urbano. Deve prever a localização e o tamanho dos monumentos no espaço público. A cidade, dita tradicional, densa e complexa, oferecia, através de seus espaços públicos, ademais dos lugares de convívio e troca, lugares nos quais se desenvolvia a aprendizagem civilizadora e cultural dos habitantes.
Santa Cecília
sANTA cECÍLIA
Distrito da região central da cidade de São Paulo, abrange os bairros de Campos Elísios, Santa Cecília, Várzea da Barra Funda (triângulo formado entre as vias férreas da CPTM e as avenidas Abraão Ribeiro e Rudge , e parte da Vila Buarque onde está localizado o Largo de Santa Cecília e a estação do metrô Santa Cecília. Ocupada a partir do final do século XIX, a região se formou a partir do Largo da igreja de Santa Cecília (apresentando hoje em seu entorno as ruas das Palmeiras onde, em continuação, tem início a rua Sebastião Pereira, e as ruas Helvetia, Ana Cintra e Amaral Gurgel ) e se constituiu num importante bairro nobre da Capital até final da década de 40, incluso sede do Governo do Estado de São Paulo e residência oficial do Governador do Estado, até final da década de 40. A partir da década de 50 a região apresentou o mesmo processo de desadensamento populacional relatado anteriormente a partir das dinâmicas políticas-econômias vividas na cidade de São Paulo, que fortemente se transformou. Associado a essas dinâmicas, o distrito passou por significativas transformações referentes ao sistema de transporte, o que acelerou de forma peculiar o processo de desadensamento e popularização da região. A primeira transformação viária se deu no início da década de 70, com a implantação da via elevada C osta e Silva. Idealizado originalmente pelo prefeito José Vicente Faria Lima durante seu governo (1965-1969) e inaugurado em 1971 pelo então prefeito Paulo Maluf, foi construída com o intuito de desafogar o trânsito da Avenida General Olímpio da Silveira e da Rua Amaral Gurgel, as quais, por co rtar regiões centrais da cidade, não poderiam ser alargadas para ampliar sua capacidade. Assim, a solução seria a construção de uma via paralela sobre os logradouros para que a capacidade de tráfego fosse duplicada.
Com a construção do viaduto, o primeiro impacto foi a derrubada de inúmeros prédios de valor histórico e arquitetônico. Além disso, até hoje a região ao redor do elevado precisa de limpeza redobrada para vencer a sujeira dos escapamentos dos carros. O barulho e a poluição visual são outros fatores que contribuíram para a “degradação” da região. “...o "Minhocão" [popularmente chamado pelos paulistanos] não é considerado por muitas pessoas uma obra de arquitetura, mas sim de engenharia bruta, fato que causou incontestável impacto na paisagem urbana da região central de São Paulo. Hoje segue como anti-cartão-postal da cidade, obra-símbolo da antiga miopia urbana, que enxergava apenas no carro particular a excelência do transporte e a construção de avenidas em detrimento de linhas metroviárias, preocupação que nas grandes cidades do mundo chegou antes do automóvel.” (Wikipédia) O elevado é freqüentemente criticado por urbanistas pela degradação que provocou no centro de São Paulo e, conseqüentemente, pela desvalorização imobiliária da região. É visto como uma cicatriz na cidade, uma das causas do desadensamento e perda do caráter residencial da região, fragmentando os bairros à sua volta. Outra transformação significativa ocorreu no final da década de 70. Com a iniciativa da gestão municipal em ampliar o “acesso a cidade” e promover o transporte público, iniciou-se o processo de implantação da linha vermelha do metrô fazendo a conexão leste-oeste da cidade. Ali se instalou, em 1983, a estação de metrô Santa Cecília. Uma vez que a região já apresentava um forte caráter comercial (na verdade uma mescla de uso residencial já mais popularizado pelas transformações anteriores com comércio e serviços também populares), o metrô foi de vital importância para garantir o acesso urbano e consolidação desse caráter.
Posteriormente, em 2003, instalou-se na região do original Largo de Santa Cecília o terminal de ônibus Amaral Gurgel, garantindo maior acessibilidade à região, porém com nenhuma transforma ção significativa no padrão do bairro. Todas essas dinâmicas incutiram no distrito de Santa Cecília uma transformação tipológica e social, em algumas localidades específicas de forma mais acentuada, na mesma tendência de redução populacional de toda a área central de São Paulo. Ademais dos antigos casarões que tornaram-se pensões e cortiços, seguindo a lógica histórica da ocupação territorial no município, a população de renda mais baixa, que não pode arcar com a valorização fundiária (e do aluguel), praticaram (e ainda praticam) ocupações dos prédios abandonados tornando-os moradias onde faltam água e luz, com esgoto sem condições de uso acabou. São comuns, também, os grupos de sem-teto que montam suas cabanas nos canteiros centrais de avenida. A região ainda sofre com a falta de segurança que se acentua mais durante a noite devido ao tráfico de drogas e prostituição (é no distrito de Santa Cecília que se localiza a região denominada “Cracolândia”). Nesse contexto de desadensamento, Santa Cecília possui uma peculiar população que ali vive de idosos, solitários. Por outro lado, tem a peculiaridade de estar sempre “viva”, com as pessoas convivendo na rua (ainda que as diferenças sejam incomodas), o uso comercial, e as atividades de lazer e cultura, ainda que deficientes garantes ao bairro uma vivacidade distinta da presenciada, por exemplo, no centro histór ico da cidade. Essa característica se dá por três fatores, a meu ver. Primeiro por apresentar um caráter fortemente urbano. No bairro se encontra faculdades, hospitais, equipamentos de cultura e lazer, comércios e serviços que atendem a necessidade local (incluso aqui a importante feira livre dominical, uma das mais significativas na cidade), constituindo além do caráter funcional, marcos na paisagem, pontos de localização e referências urbanas. Segundo, o forte censo de comunidade conquistado pela igreja e consequentemente pela associação de bairro (o convívio com os moradores de rua e promotores do tráfico de drogas, por exemplo, possui uma dinâmica peculiar, em que a associação tem a atenção em amparar essa população “as margens” - é comum encontrar
no bairro pontos em que aos desfavorecidos se serve alimentos - mostrando que de algum modo existe a aceitação da diferença e consciência das diferenças ali encontrada, sem a vontade de uma ação higienizadora). Por fim, Santa Cecília esta localizada no coração cultural da cidade, onde a produção artística é en contrada, ainda que de forma distinta, caracterizada pela produção “improvisada”, pautada na relação com a população ali presente, a experimentação fundida na vida cotidiana fora do circuito espetacular. O teatro Galp ão do Folias tem um destaque especial nessa produção cultural, uma vez que busca sempre trabalhar com a questão social (não especificamente como crítica social, mas abordando sempre a temática urbana e os tipos sociais), promovendo cultura e lazer que muitas vezes extrapolam os limites de sua sede e experiment am a cidade a sua volta. Esse é o contexto da área de intervenção. Um lugar marcado por profundas transformações sociais e culturais, a presença de classes sociais muito distintas, que todavia tem uma vocação de convívio com a diferença e a naturalidade de promoção de cultura e lazer (fugindo do roteiro formal cultural, muito mais experimental e “alternativo”).
É esse censo de comunidade que tanto interessa, e a necessidade da
promoção de espaço público para que o encontro e o uso da cidade, a vivacidade que ali se encontra e m espaços tão discretos possam ser extrapolados e o encontro das diferenças e a troca possam intensificar a consciência coletiva de vida urbana.
pRODUÇÃO produção cultural ecULTURAL espaço público E eSPAÇO pÚBLICO
A situação de São Paulo é, de fato, peculiar, pois carece de identidade urban a. A cidade canibaliza suas manifestações com velocidade espantosa, alterna seus eixos culturais e econômicos, deixando cicatrizes urbanas quase irreparáveis, um tecido urbano que se move de acordo com as alternâncias do poder econômico. Não há atributo singular que defina a identidade paulistana - se é que existe uma - e sem identidade não há o que defender, nem cidadania, nem comunidade, nem democracia. ? No que diz respeito a produção artística, a estética caminha em busca de nova ética, que contamine o poder público e a sociedade. Segundo o crítico de arte Michael Brenson, grande parte da produção artística para espaços públicos na Europa ocidental e na América do Norte é de cunho ativista, voltada a questões sociais e ambientais, e freqüentemente trabalha diretamente com comunidades marginalizadas. A questão do local é fundamental na eficiência da arte pública. Sem a percepção do objeto-arte pelo público, ela continua arte, mas não pública. O lugar sempre foi significativamente importante para os monumentos e não deixa de sê-lo para a arte ativista, engajada. A questão do local em São Paulo é crítica, já que nada se planeja a longo prazo, nem quando se rasga uma avenida ou se demole uma grande área considera-se a reserva para algum marco paisagístico ou escultórico. Os projetos de arquitetura públicos ou privados não levam em conta elementos artísticos como integrantes do projeto; é no espaço remanescente que eventualmente se instalam as obras de arte. Os arquitetos são escravos da ocupação máxima do coeficiente de aproveitamento e não incorporam a possibilidade de um térreo generoso que possa comportar obras de a rte.
O impressionante aparato de cercas, muros e guaritas que, em nome da segurança, subtraem a área comum dos edifícios ao público. O espaço público é pois o espaço residual, tanto para a promoção da arte como para a promoção do encontro público. Não existe a valorização da paisagem urbana como construtora de cidadania através da lingua gem e de valores comuns. A recuperação da identidade de São Paulo passa pela comunicação dessa identidade à população por intermédio de seus patrimônios públicos e privados, culturais ou não. Passa também pelo estabelecime nto claro desses limites, com controle rígido e corajoso sobre a paisagem urbana. E ainda pela aceitação da diversidade que São Paulo proporciona, entendendo que diversidade não significa caos nem resignação com o delito. Essa é a particularidade que Santa Cecília oferece, essa aceitação que incute o desejo de proporcionar o espaço público como promotor cultural. Ali vejo a vocação para propostas artísticas vindas de espaços de criação contemporâneos adaptados ao cenário natural e espaço público, como apostas da renovação do encontro popular e em uma cidadania e cultura locais mais coerentes e coesas, garantindo a vitalidade urbana. As artes de rua e o hábito de praticas festivas estão associadas fortemente a capacidade humana de promover o melhoramento das relações humanas e sua relação com a cidade.
Atividades culturais em Santa Cecília
aTIVIDADES cULTURAIS EM sANTA cECÍLIA
“Que agradável surpresa, hoje dia 05 de Dezembro de 2008, às 16h no Largo Santa Cecília. Encontrei, o feliz teatro de rua. Viva Malasartes! Viva o Teatro”! do Centro de Pesquisa para o Teatro de Rua – Rubens Brito
“De 15 à 19 de março, Projeto Encontros traz atrações culturais no metrô Santa Cecília. A programação inclui dança, filmes, música ao vivo, oficinas e teatro. O espaço cultural conta com bib lioteca, revistaria, café/ lounge, espaço para apresentações musicais e de poesia, bem como estrutura para exposições temporárias de fotografia”. Do
site
http://catracalivre.folha.uol.com.br/2010/03/projeto-encontros-traz-atracoes-culturais-no-metro-
santa-cecilia/
“Cultura nos Bairros visita Santa Cecília com muita música, dança, teatro e histórias. Teve início neste domingo, 14 de março, a temporada 2010 do projeto Cultura nos Bairros. Santa Cecília foi a primeira comunidade a ser visitada e se divertiu com as diversas atrações, que englobam música, dança, teatro e histórias. Promovido pela Prefeitura, através da Secretaria de Cultura, o projeto tem por objetivo l evar atrações artísticas e culturais às comunidades, em praça pública”. Do site http://teresopolis.rj.web.br.com/noticias/indexfull.php?sec_not_id=332
dADOS cARTOGRテ:ICOS
dADOS cARTOGRテ:ICOS
eVOLUÇÃO|tRANSFORMAÇÃO NO ESPAÇO
Vista do Bairro, 1912
Rua Santa Isabel, 1957
Av São João, início séc XX
Cosntrução Elevado Costa e Silva, década 70
Santa Cecília após Elevado, final década 70
eVOLUÇÃO|tRANSFORMAÇÃO NO ESPAÇO
Cosntrução Estação Metrô Santa Cecília, início anos 80
Av. São João, 1970
Vista do Bairro - Elevado Costa e Silva
Vista do Bairro, Atualmente
Elevado Costa e Silva
Edifícios Lindeiros ao Elevado
eVOLUÇÃO|tRANSFORMAÇÃO NO ESPAÇO
cRESCIMENTO pOPULACIONAL
Distrito Subprefeitura
eVOLUÇÃO |tRANSFORMAÇÃO
Distrito Subprefeitura
Taxa Anual de Crescimento (%) De -3,50 a 0,00 (40 distritos) De -0,01 a 2,00 (23 distritos) De -2,01 a 5,00 (26 distritos) De -5,01 a 13,38 (07 distritos)
De -3,50 a 0,00 (40 distritos) De -0,01 a 2,00 (23 distritos) De -2,01 a 5,00 (26 distritos) De -5,01 a 13,38 (07 distritos)
Fonte IBGE - Censo Demográfico 1980/1991; Secretaria Municipal de Planejamento Depto. de Estatística e Produção de Informação - Dipro
Fonte IBGE - Censo Demográfico 1980/1991; Secretaria Municipal de Planejamento Depto. de Estatística e Produção de Informação - Dipro
Desadensamento populaciona na área central a partir da década de 70 (imagens referentes à dinâmica dos anos 80 a 2000, com taxa negativa de crescimento, grande parte em consequência das obras viárias “elevado Costa e Silva” e “Metrô Linha Vermelha - Estação Santa Cecília” (em especial Bairro Santa Cecília)
co ind mé ús rcio tria s ar erviç ma o zé ns
uSO oCUPAÇÃO sOLO
residencia vertical médio / alto padrão uso misto Predominância de Uso - Subprefeitura Sé ResidencialHorizontal de Baixo Padrão ResidencialHorizontal de Médio / Alto Padrão Residencial Vertical de Baixo Padrão Residencial Vertical de Médio / Alto Padrão Comércio / Serviços Indústrias / Armazéns Residencial + Comércio / Serviços Residencial + indústria / Armazéns Comércio / Serviços + Indústria / Armazéns Garagens Equipamentos Públicos Escolas Terrenos Vaoos Outros Sem Predominância / Sem Informação Parques - Municipais e Estaduais Fonte Secretaria Municipal de Finanças / Depto. Rendas Imobiliárias - TPCL 2007 Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano Depto. de Estatística e Produção de Informação - Dipro
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percepção uso do solo carência de espaços livre
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tEATROS
Equipamentos Cinema
Equipamentos Teatro
Mapeamento dos Principais Teatros - Centro
eSTRUTURA vIÁRIA e aCESSIBILIDADE
e e
pERCEPÇÕES aMBIENTE sANTA cECÍLIA
pERCEPÇÕES aMBIENTE sANTA cECÍLIA
pERCEPÇÕES aMBIENTE sANTA cECÍLIA
Uma das mais fortes impressões é a de sua heterogeneidade; tanto de classes, idades, quanto de relações sociais, hábitos, percepções. Uma área que abriga conflitos e tensões, mesmo que silenciosos. Uma soma de temporalidades que torna Santa Cecília culturalmente é rica e cheia de significados.
cONFORMAÇÕES ePACIAIS
fRAGMENTOS conformações espaciais
pERCURSOS barreira
“enquadramento”
circulação existente
estruturas da conformação espacial
circulação possível
pONTOS e eIXOS sIGNIFICATIVOS O EIX DE E SS RE TE IN mETRÔ acessibilidade urbana iGREJA referência histórica | núcleo de origem
mIRADA percepção de ‘entrada’ a partir da Av São João
gALPÃO do fOLIA referência cultural teatral | arte de rua e teatro mETRÔ acessibilidade urbana
fEIRA LIVRE presença comunitária mIRADA percepção de ‘entrada’ a partir do cruzamento Frederico Abranches | Dona Veridiana
XO I E
DE
ER T IN
SE S E
Delimitação da Área de Intervenção ‘Cheios’ | Entorno
mIRADA percepção de ‘entrada’ a partir do entroncamento Frederico Abranches | Sebastião Pereira | Amaral Gurgel
pROPOSTA pROJETUAL
A partir das reflexões teóricas, a proposta aqui apresentada consiste na construção do espaço público livre no largo de Santa Cecília, como possibilidade de promoção do encontro da heterogeneidade, de consciência urbana local (o contexto atual de Santa Cecília), e da construção cultural, fortalecendo o sentimento de comunidade. A intervenção está calcada na articulação das distintas temporalidades que construíram culturalmente a região. O projeto parte do franqueamento dos espaços públicos ali presente e inacessíveis, a articulação desses espaços para construção da paisagem. A partir das leituras, reconheço a conformação espacial do entorno, o encontro de distintas malhas viárias e o fragmento do sítio pelo viário. A partir das temporalidades identifico pontos de interesses, de distintas temporalidades, traço eixos com potencialidade de percepção do espaço, e reconheço distintas permanências e usos, para promover o extrapolamento desses limites (novas potencialidades). Os pontos de interesse se transformam no projeto em marcos na paisagem, através de estruturas multifuncionais, permitindo assim a assimilação das diferentes temporalidades e da totalidade do projeto. Trata -se da manipulação de um objeto base que vai se diferenciando progressivamente de acordo com as pré-existências com que estão articuladas. Além disso, os espaços criados mantém certa indeterminação, com objetivo de promover a integração e apropriações diversas. A implantação como um todo marca e ocupa o território, mas sem ter uma
estrutura programática
determinada, em outras palavras constrói a “espinha dorsal” de uma proposta que trata de escapar da determinação como relação de forma e função, permitindo sua multifuncionalidade. A proposta ainda leva em conta a questão dos percursos, circulação, caminhos. Não só a dimensão visual mas também as outras percepções sensoriais, através de materialidades distintas, desperta sensações e
emoções, estabelece referências. O tratamento dos pisos, paredes, empenas e construções novas incita o espaço a essa nova perspectiva. Como um todo, o projeto estabelece costuras de espaços residuais, conexões de espaços e situações, transformando num total de uso coletivo. Propicia o “cenário” para a vocação do uso da cidade que Sa nta Cecília apresenta.
rEFERÊNCIA pROJETUAL Além de todas as outras referências que me auxiliaram na concepção do projeto, tanto conceituais (passando por Kevin Lynch, Gordon Cullen, ou Arquiteto John Jerde, que traz a reflexão sobre espaços para eventos temporários) quanto projetuais (em especial o Parque Del Deseo, com a proposta de uso da água no projeto, Rosa Klias - Parque da Juventude e Miralles), a mais importante referênica se Trata do Parc de La Villette, do arquiteto Tschumi. O projeto reconhece a malha urbana, pontua e organiza o espaço a partir dessa malha com os folies, que trabalham fortemente a questão do evento (a evento). Isso se traduz no meu projeto de maneira inicial de identificação da malha, mas a partir das pré existências ( de temporalidades distintas), e a marcação desses elementos se faz por mim muito mais forte como identificação do contexto atual da implantação, do que sua apropriação eventual, ainda que exista essa possibilidade. De qualquer maneira, foi o projeto que mais norteou o meu trabalho, ainda que se tratando de c o n t e x t o s t o t a l m e n t e d i s t i n t o s d e i m p l a n t a ç ã o .