Projeto sistêmico

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TGI

II

CARLA

AUGUSTO

EESC | USP 2010

GONÇALVES


INDICE I.

metaprojeto

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II. políticas públicas III. saúde

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IV. desenvolvimento | 21 Programa | 24 O uso da Madeira | 45 Componentes | 47 Aspectos bioclimáticos | 62 Sistema construtivo | 64 Modulos de montagem | 84 Variações | 86

V. aplicação

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São Carlos | 95 Saúde em São Carlos | 96 Área de projeto | 98 Projeto | 102

VI. Conclusão

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VII. bibliografia

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RESUMO

“O todo sem a parte não é todo, a parte sem o todo não é parte, mas se a parte o faz todo, sendo parte, não se diga que é parte, sendo todo.” Aristóteles

Como resolver o problema de demanda e qualidade dos equipamentos públicos sem padronizar o projeto? A resposta a tal indagação não seria nem o "projeto específico", nem o "projeto padrão". A solução para essa questão, neste trabalho investigada, seria uma espécie de metaprojeto, concebido como um sistema aberto, capaz de gerar diferentes soluções projetuais para as realidades distintas às quais deverá atender. Dessa forma, a proposta desenvolve-se em duas etapas. A primeira, o desenvolvimento de um sistema aberto de projeto, inserido dentro da rede de ação pública municipal das Unidades de Saúde da Família do Estado de São Paulo, abordando questões de programa, soluções técnico-construtivas e bioclimáticas, dentro de um processo sistêmico de projeto. Já a segunda etapa do trabalho, constata a viabilidade da primeira: a aplicação do sistema desenvolvido em um contexto real, na cidade de São Carlos, considerando todos os condicionantes do local.

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I. METAPROJETO Dispor de um metaprojeto significa estruturar previsões normalizadoras do comportamento do projeto, capazes de gerar, indiretamente, soluções morfológicas homogêneas: o metaprojeto construtivo é o instrumento característico da construção pré-fabricada, em quanto aplica os critérios de construção aberta. (...) Enquanto o projeto (em seu sentido clássico) é uma ação ‘direta’ do desenho, (...) o metaprojeto é uma ação indireta do desenho (concernente ao projeto e a cada edifício em particular) que cria uma estrutura a ser reproduzida aberta a futuros e possíveis projetos únicos (OLIVERI, 1974, p. 174 – tradução nossa)

Dessa forma, o metaprojeto não pretende ser um “objeto único”, no sentido de não resultar em um projeto único para um conjunto determinado e específico de necessidades, quanto ao terreno, ao entorno específico e às exigências e especificidades únicas de um cliente. Tampouco pretende ser um “projeto padrão”, no sentido de adotar soluções invariáveis ao projeto arquitetônico quanto à disposição de seu programa e a forma final, as quais serão repetidas e implantadas inúmeras vezes independentemente das condicionantes do lugar, do clima, dos fatores sócio-econômicos, culturais, etc. (ESCOBAR, 2004, p. 127)

A estruturação de um metaprojeto, neste trabalho em específico, está ligada com uma fase anterior ao projeto propriamente dito: que é uma solução ao problema de demanda por equipamentos públicos, que tende a ser sempre maior do que a oferta destes. A adoção de um sistema organizativo soluciona os problemas de demanda/oferta com rapidez e qualidade. o metaprojeto se apresenta, enquanto estrutura reprodutiva, como uma resposta verdadeiramente operacional, de soluções diretas, de uma das necessidades mais urgentes do futuro imediato da humanidade: a solução de um problema de massas. (OLIVERI, 1974, p. 174 – tradução nossa)

Apesar das críticas voltadas aos conceitos de industrialização e seriação, tais críticas estão voltadas aos conceitos de sistema fechado, que não permitem variações que se adaptem aos condicionantes locais da obra a ser inserida. O conceito de fabricação fechada está sendo substituído por um conceito cultural e produtivamente muito mais válido, um conceito com possibilidades de unir as vantagens tecnológicas do sistema fechado, ao social e culturalmente inseridos [...] por uma metodologia que permite ao arquiteto a liberdade de compor espacialmente de acordo com seus desejos. (OLIVERI, 1974, p. 173 – tradução nossa)

Não sendo nem “objeto único” nem “projeto padrão”, o metaprojeto espacial e construtivo deve ser concebido como sistema aberto, objetivando diferentes implantações nos diversos lotes e sítios da cidade ou região, adaptando-se a cada realidade. A elaboração de um metaprojeto consiste na articulação entre componentes técnico-construtivos de padrões flexíveis, criando um sistema industrializado aberto que poderá resultar em um grande número de configurações e se adaptar às diferentes implantações que a realidade impõe. Tecnologicamente, na elaboração de um sistema industrializado aberto, os critérios da pré-fabricação, da flexibilidade, da modulação e da produção em série são fundamentais. Dentro do conceito de metaprojeto, deve-se dividir dois momentos distintos e complementares: o metaprojeto propriamente dito, que se baseia no momento teórico, crítico e organizativo; e o momento do projeto, quando se desenvolve o momento criativo de formalização específica de cada edifício em particular, dentro de uma realidade própria já existente. (OLIVERI, 1974, p. 174) 3

Existem diferentes níveis de abertura dentro de um sistema aberto de projeto. Quanto menos aberto for o sistema, mais fácil será sua reprodutibilidade e mais rígida será a fase do projeto propriamente dito, aproximando-se do sistema fechado. Por outro lado, quanto mais aberto for o sistema, dificulta as previsões organizativas e a maior racionalização do sistema. Entretanto, coloca-se o sistema aberto de projeto ainda à frente do fechado, pois, em contrapeso às dificuldades acima citadas, quanto mais aberto for o sistema, mas livre e criativa será a etapa de projeto, possibilitando diversas soluções 100 formais e contextuais. Quanto à abrangência e à demanda pelo sistema, existe uma relação com o grau de abertura deste. Quanto maior a abrangência – seja territorial, seja relacionada ao programa do objeto – maior a necessidade de abertura do sistema. Isso porque existirá uma maior variação do projeto de acordo com as condições em que será implantado. Em relação à demanda, existe uma necessidade maior de previsão, organização e racionalização do sistema, o que sugere um sistema menos aberto. Na situação em que há abrangência e demanda ao mesmo tempo, essa dicotomia deve ser resolvida com a adoção de um sistema que atenda da melhor forma as duas características. 4


Quanto à produção, ela pode ser idealizada a partir de uma pré-fabricação total ou parcial. Na primeira, todos os elementos são produzidos em uma fábrica e montados na obra, enquanto que a segunda, se constitui por partes pré-fabricadas inseridas e um sistema tradicional de construção. Quanto ao processo da produção, a pré-fabricação pode ser realizada no canteiro ou em usinas distantes do local da obra sendo transportados para montagem. A préfabricação é considerada leve, quando os elementos podem ser suportados pelo próprio trabalhador, ou pesada, quando requerem equipamentos de içamento para a montagem. (KOURY) Ainda em relação à produção, ela pode ser idealizada a partir de componentes já existentes no mercado, ou por componentes idealizados por um grupo de especialistas, neste ultimo caso atendendo somente ao sistema em questão, ou ainda também pode ser uma composição de elementos de mercado, de forma a criar componentes inovadores. Para a fabricação desses componentes pode-se optar pelo próprio mercado privado existindo a regulamentação pelo Estado, ou pode ser o próprio Estado o criador e administrador de uma fábrica de produção. Esses dois tipos de fabricação influenciam a continuidade do metaprojeto, pois quanto mais agentes estão envolvidos no processo de produção – governo, capital privado, escritórios de arquitetura e

engenharia – mais é possível uma continuidade; enquanto que, se poucos agentes estão envolvidos – governo e um pequeno grupo de especialistas – existe um problema de continuidade, pois o metaprojeto sempre estará vinculado a esse grupo de pessoas que nem sempre estarão no comando do processo de produção.

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II. POLÍTICAS PÚBLICAS Entende-se por Políticas Públicas “o conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em diversas áreas.” (GUARESCHI et al., 2004) No âmbito da arquitetura e construção, as políticas públicas se aplicam em várias ações sociais possíveis de serem exercidas pelo Estado, tais como saúde, educação, habitação, transporte, entre outras. Numa tentativa de resolver a questão de abrangência e demanda dessas ações, adotam-se sistemas abertos de projeto que se aplicam ao sistema de redes de equipamentos públicos. São através dessas redes que as políticas públicas do Estado podem se efetivar com êxito nas ações sociais. A rede é uma tentativa de uniformizar um sistema público a fim de facilitar sua reprodução, aumentando os efeitos das ações de políticas públicas. Para se propor uma rede de equipamentos públicos sempre deve-se levar em conta a situação da cidade, região ou país onde os projetos estarão inseridos. As condições econômicas, sociais e tecnológicas, além das demandas e interesses envolvidos que são

fatores imprescindíveis para avaliar o programa, a dimensão, o alcance, etc. Essas condições não devem ser tidas como empecilho para os arquitetos proporem sistemas de qualidade para a população. O papel do arquiteto é propor algo novo e que possa qualificar a cidade, mesmo que seja em uma escala menor do que a aspirada. No Brasil existem muitos exemplos de redes que possuem uma grande importância no âmbito em que atuam. Elas se diferenciam pela abertura, abrangência, demanda e produção do sistema implantado. Cada rede possui sua especificidade, mas todas possuem o mesmo objetivo: levar qualidade ao serviço público prestado e ainda propor algo além do serviço, como novas relações entre usuário e profissional e novas relações espaciais dentro do próprio equipamento.

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Constatei três metodologias distintas de metaprojetos que caracterizam os sistemas já implantados no Brasil. A primeira é a que se baseia na utilização de componentes de mercado e onde o Estado atua como regulador da produção da iniciativa privada. Esse é o caso do sistema iniciado em uma tentativa não efetivada com o BNH (Banco Nacional de Habitação), mas que se concretizou com a CONESP (Construções Escolares do Estado de São Paulo) e FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) e depois foi incorporada pelos CEUs (Centro de Educação Unificados).

construção tradicional, mas que são pensados em conjunto de forma inovadora. É o caso da experiência do arquiteto Joan Villà para moradia estudantil da UNICAMP e do arquiteto Acácio Gil Borsoi na pré-fabricação em Taipa para o Cazueiro Seco. Como foram experiências para casos específicos, não houve produção em série dos componentes. Estes últimos foram produzidos de forma artesanal no canteiro, porém, eles poderiam assumir uma outra forma de produção, seja ela pelo Estado ou pela iniciativa privada.

A segunda é a que utiliza componentes idealizados por um grupo de especialistas para atender somente o sistema em questão. A produção desses componentes é promovida pelo Estado que financia uma fábrica de produção desses equipamentos, deixando a iniciativa privada fora do processo. É o caso das experiências de João Filgueiras Lima, mais conhecido por Lelé, e do CEDEC (Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários). A terceira são situações experimentais que não foram efetivadas, mas que possuem soluções criativas e de baixo custo. É uma metodologia baseada em componentes formados por elementos que existem no mercado, muitas vezes da

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BNH, CONESP/FDE e CEUs

Na época da implementação das estratégias do BNH (Banco Nacional de Habitação) em 1964, existia uma grande aspiração de se adotar um sistema inovador com a participação da iniciativa privada com o objetivo de enfrentar o déficit habitacional no país. O engenheiro Teodoro Rosso e o arquiteto João Honório de Mello criaram o Plano de Implantação da Coordenação Modular, cuja idéia era não a de gerar um modelo de habitação que saísse pronto da fábrica, mas sim construir uma compatibilização e uma padronização de componentes, além de um catálogo de ambientes, onde a produção pudesse ser planejada e controlada com o máximo de racionalidade. O objetivo era estabelecer uma integração entre a indústria de materiais de construção, profissionais de arquitetura e engenharia e o Estado. (KOURY, 2005) Apesar do esforço, o plano não foi adotado pelo BNH, que optou por uma forma de produção tradicional, fechando as possibilidades de desenvolvimento tecnológico da iniciativa privada. 8


Anos depois, o plano de coordenação modular foi levado para a CONESP (Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo) por iniciativa do arquiteto João Honório. Nesse momento, foi criado um sistema de componentes que permitia o trabalho coordenado de vários escritórios de arquitetura ao mesmo tempo. O sistema de componentes abria uma perspectiva de integração da iniciativa privada no processo de produção e projeto.

Escola FDE – equipe Andrade Morettin

Escola FDE – equipe Bucci e Puntoni

Centro de Educação Unificado (CEU) Butantã

Centro de Educação Unificado (CEU) Butantã

A CONESP se transformou em FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), que aumentou sua área de atuação, gerenciando a execução das políticas educacionais de uma forma ampla, desde a construção de escolas até o fornecimento de materiais e avaliação de rendimento escolar. O sistema de componentes foi ampliado a enormes catálogos de especificação que são divididos em serviços, componentes, mobiliário, ambientes, canteiro de obras, estrutura, instalações, entre outros.

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Outra experiência que seguiu a mesma linha em uma atuação menor, desenvolvida pela equipe de arquitetos do Departamento de Edificações (EDIF): foram os Centros de Educação Unificados (CEU). O sistema foi desenvolvido a partir de pré-moldados disponíveis no mercado, estruturando as atividades previstas em três conjuntos: “ensino (salas de aula, museu e biblioteca), administração (suporte administrativo e serviços assistenciais) e recreação (área esportiva e galpão coberto). Em geral, esses conjuntos assumiam a configuração de blocos volumétricos dispostos das mais diversas formas em terrenos amplos e ajardinados, interligados por marquises abertas.” (ANELLI, 2004). A proposta é a criação de um complexo educacional que se integra com a comunidade em que está inserido, possibilitando o uso do complexo nos finais de semana por toda a comunidade.

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As experiências do lélé e o CEDEC João Filgueiras Lima, Lelé, o grande idealizador de sistemas a serem aplicados às redes de equipamentos públicos, iniciou sua experiência na pré-fabricação já em 1957 em meio à construção de Brasília, onde era necessário pensar em uma construção racionalizada para diminuir os tempos de execução. A pesquisa em pré-fabricados se desenvolveu quando Lelé viajou ao leste europeu para investigar a tecnologia de racionalização com o uso do concreto armado. Após os estudos no leste europeu, Léle juntamente a um grupo de pesquisadores, acabaram por desenvolver a tecnologia da argamassa armada, que seria utilizada ao longo de sua produção, foi desenvolvida pioneiramente no Brasil na Escola de Engenharia de São Carlos, por um grupo em que se destacava, além de Lelé, o engenheiro Schiel e posteriormente os engenheiros L. Petroni, J.B. Hanai, J.C. Barreiro, E.F. Machado, e M.K. Debs, que ficaram conhecidos como o “grupo de São Carlos”.

associação muito maior entre a tela ou os fios de arame e o concreto. Enquanto no concreto armado o trabalho do aço é totalmente dissociado, na argamassa armada o metal e o concreto trabalham simultaneamente, proporcionando um material muito mais homogêneo e flexível. Isso traz a vantagem da maleabilidade, o que facilita o transporte, ao contrário do concreto armado que é mais quebradiço. Existe um consumo maior de cimento com a argamassa armada do que com o concreto armado em termos proporcionais, porém como as peças em argamassa são bem mais esbeltas, acaba consumindo menos cimento em termos reais, o que também favorece na sua leveza e conseqüentemente na facilidade de transporte. A tecnologia da argamassa exige um investimento alto em função dos moldes metálicos para a produção das peças. Para valer a pena o investimento é necessária a criação de uma fábrica para produzir as peças em larga escala. (LIMA, 2004, p. 60, 61)

A tecnologia da argamassa armada possui muitas vantagens frente ao concreto armado. Na argamassa armada, diferentemente do concreto armado, há uma 11

Hospital da Rede-Sarah de Belo Horizonte

Hospital da Rede-Sarah de Fortaleza

A nova tecnologia foi inicialmente aplicada em 1979 na Companhia de Renovação Urbana de Salvador (RENURB) a partir do emprego do material em canalização de águas pluviais e servidas. Também em Salvador, inicia-se um projeto mais abrangente do que o primeiro: a Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC. 1985-1989) com o objetivo de produzir mobiliários urbanos, passarelas e equipamentos públicos, como escolas e creches, tudo com a tecnologia da argamassa armada associada ao aço, que seria utilizada posteriormente na Rede SARAH, uma rede de Hospitais de Reabilitação . Com a troca da administração da cidade, a FAEC foi descartada em 1989, ao mesmo tempo em que o governo federal prossegue com a experiência do hospital SARAH iniciada em Brasília em 1980 dando início a Rede SARAH. Os hospitais da Rede SARAH, idealizados por Lelé e pelo médico Aloysio Campos da Paz, possuíam o propósito de pôr fim à estrutura constrangedora e desumana dos hospitais tradicionais, sempre verticais e que “acumula doentes como objetos em prateleiras”. (LIMA, 1999a, p.6) Com referência nos hospitais ingleses, sempre horizontais e com grandes enfermarias que se abrem para pátios, inicia-se no país uma nova forma de pensar hospitais, prezando a maior mobilidade do paciente e sua interação com jardins externos integrados às 12 áreas de internação e tratamento. .


Para colocar toda essa poética em prática, Lelé associou a tecnologia de pré-fabricados em argamassa armada a soluções que favoreciam a ventilação e iluminação natural, tudo isso com qualidade estética. Quando trabalho em projetos extremamente rigorosos em relação à funcionalidade, como é o caso de um hospital, lógico que levo em conta que um hospital sem funcionar não adianta nada. Mas não excluo que um hospital tenha que ser belo. Tudo que nós estamos propondo aqui na Rede SARAH é isso, um resgate da beleza e da criação de espaços mais humanos dentro do hospital. (LIMA, 2004) Hospital da Rede-Sarah de Fortaleza

Para sustentar a complexidade técnica do projeto Rede SARAH foi criado o CTRS – Centro de Tecnologia da Rede SARAH – onde existem diversos núcleos de produção: metalurgia, argamassa armada, marcenaria, plástico, fibra de vidro e até mobiliário específico de uso hospitalar. As peças produzidas são enviadas para todo o Brasil para manutenção dos hospitais existentes e para a produção de novos. O CTRS também fornece peças para outros equipamentos, como escolas, Tribunais de Conta e Tribunais eleitorais, em todo o país. (EKERMAN, 2005, p. 2, 3) Hospital da Rede-Sarah de Belem

Apesar do emprego de uma alta tecnologia em redes de equipamentos de qualidade, a experiência de lelé também sofre críticas. Apesar da tecnologia de préfabricação da argamassa armada possuir grandes vantagens em comparação com o pré-fabricado de concreto armado, como não existe produção de mercado do material, existe a necessidade da rede de equipamento estar vinculada a uma fábrica. Essa fábrica deve estar vinculada à demanda por peças para continuar a produzir e também ao apoio da administração pública em vigor no período. Diante de tantas vinculações, o processo de produção desses equipamentos torna-se fechado, apesar de serem idealizados como sistemas abertos. Quando se trata de uma rede de grande abrangência e demanda, como a Rede SARAH, a fábrica se sustenta, como acontece no CTRS em Salvador. Porém, por existir apenas uma fábrica, e a atuação da rede abranger todo o território nacional, o transporte das peças passa a ser um problema (mesmo que a tecnologia da argamassa armada seja relativamente leve e maleável). Existe um custo – a manutenção de uma fábrica e o custo do transporte de sua produção – e para funcionar com eficiência, os ganhos com a produção devem superar esses custos, o que nem sempre ocorre. Quando se trata de uma rede de menor abrangência, como a FAEC, a dificuldade aumenta. A transição entre as administrações também são fatores que

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rejudicam a continuidade da fábrica. Lelé passou por muitas experiências frustrantes ao ver seus ideais sendo barrados com a descontinuidade dos seus projetos – como aconteceu com a FAEC e os CIACs (Centro Integrado de Apoio a crianças). Outro sistema que se apropriou da tecnologia da argamassa armada e, consequentemente do seu processo de produção, foi a experiência do CEDEC (Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários). A prefeitura de São Paulo passou a desenvolver através da arquiteta Mayumi Watanabe Souza Lima, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina através da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), um setor de pesquisa/projetos que buscava encontrar soluções mais adequadas para as demandas sociais, denominado CEDEC. A apropriação e a adaptação da tecnologia da argamassa armada tinha o objetivo de reduzir o número de peças e simplificar a montagem dos elementos. Para utilizar a tecnologia com eficiência, foi implantada a fábrica CEDEC/EMURB onde se produziam as peças base. O Centro atuava em componentes para a urbanização de favelas e saneamento básico, mobiliário urbano, estrutura de edificações (habitação popular e centros comunitários) e em equipamentos sociais (creches, escolas, etc). (LIMA, 1995, p. 120) 14


As experiências de Acácio Gil Borsoi em Cazueiro Seco e Joan Villà na UNICAMP Acácio Gil Borsoi deu uma resposta criativa e de baixo custo para resolver o problema do déficit habitacional para a comunidade favelada de Cajueiro Seco, em Pernambuco no ano de 1965, época da implementação das estratégias do BNH. O sistema baseava-se na simplicidade das técnicas vernaculares e tipologias mais comuns do interior pernambucano: a taipa. Foram idealizados painéis modulados pré-fabricados em madeira serrada executados em oficina e levados prontos para o local da obra, o que favorecia um maior aproveitamento da madeira e agilizava o processo de construção da obra na execução da taipa.

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Em relação à experiência de Joan Villà na Unicamp, um sistema construtivo de pré-fabricação surgiu a partir de uma vasta experiência do arquiteto com trabalhos na periferia voltados para a construção de moradias populares. O sistema construtivo desenvolvido partiu dos próprios materiais e técnicas empregados na periferia em sistemas de autoconstrução, em que a própria comunidade participa dos projetos, tanto na concepção quanto na execução dos mesmos. Tal sistema construtivo foi desenvolvido em uma atividade extracurricular de alunos e professores do curso de arquitetura da escola de Belas Artes de São Paulo. Essa experiência foi posta em prática no projeto da Moradia Estudantil da UNICAMP, que serviu como um laboratório para viabilizar a implantação do sistema em diversos outros lugares. A racionalização, a simplicidade, a rapidez e o baixo custo do sistema construtivo atraem o interesse de diversas associações por todo o país. O sistema de pré-fabricação desenvolvido é constituído por tijolos baianos ou telhas de barro, montados em gabaritos de madeira, metal ou PVC horizontalmente. O painel-parede de 43 cm de largura e 3 m de comprimento é formado por tijolos cerâmicos dispostos por duas fileiras verticais com um espaçamento de 4 cm uma da outra, sendo preenchido com concreto armado. 16


Em alguns casos, as instalações elétricas e hidráulicas são contidas nesse espaçamento antes da concretagem. Além do painel-parede, também são feitos o painel-telha e a escada com o mesmo sistema construtivo. A execução dos paineis era feita na propria obra e manuseada por trabalhadores para sua construção (pré-fabricação leve). Cada unidade habitacional, seja esta de um, dois ou três pavimentos, é denominada “célula”, que funciona autonomamente com relação uma às outras. A articulação de vinte e sete dessas “células” autônomas forma uma “ala”. Três “alas” associadas formam uma “quadra”. O conjunto de todas as quadras forma todo o conjunto habitacional, que é capaz de alojar 1600 estudantes. Dentro de cada “ala”, as “células” se articulam fisicamente através de salas e jardins internos. Esse sistema criado dentro das “alas” permite, além de uma composição formal recortada, uma vivencia semelhante à de uma “república” de universitários. Dentro da “quadra”, uma praça central articula as três “alas”. Além da praça, cada “quadra” possui uma sala de uso múltiplo e um centro de convívio.

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III. SAÚDE Dentre as ações sociais promovidas pelo Estado, escolheu-se a saúde como base de trabalho para o desenvolvimento do sistema, mais especificamente as Unidades de Saúde da Família. A questão da saúde no Brasil sofreu uma grande transformação após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988. O SUS foi criado para que toda a população brasileira tenha acesso gratuito ao atendimento público de saúde. A rede hierárquiqua de saúde do SUS é dividida em três níveis de complexidade: atenção básica, especializada e hospitalar. O nível primário da atenção básica deve ser oferecido diretamente à população, enquanto os outros dois devem ser utilizados apenas quando necessário. Cada nível do serviço de saúde tem uma área de abrangência, os serviços de maior complexidade são menos numerosos, e por isso mesmo sua área de abrangência é mais ampla, portanto devem situar-se em uma área mais central e acessível, enquanto que, os serviços de atenção básica têm uma área de abrangência de bairro, dessa forma eles devem estar dispostos de forma descentralizada na cidade

As atuais diretrizes do SUS para promoção da saúde são: o incentivo à descentralização e à regionalização das ações e serviços de saúde através do fortalecimento da rede de atenção básica; o incentivo à educação em saúde como forma de prevenção; e a promoção da saúde através de atividades ligadas à prevenção – atividades físicas regulares e de incentivo à alimentação saudável. .

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Dentro das atuais diretrizes do SUS, a Unidade de Saúde da Família (USF) configura-se atualmente como a principal estratégia de expansão da atenção básica da saúde. As USFs adotam uma metodologia participativa, baseadas no trabalho das Equipes de Saúde da Família (ESF). As Equipes de Saúde da Família (ESF) adotam ações educativas e preventivas além da ação recuperativa da saúde. O objetivo é a assistência contínua da comunidade através também do trabalho “extramuros”, como as visitas, consultas e procedimentos domiciliares. O objetivo é a redução dos encaminhamento a serviços especializados e hospitais. Também fazem parte do trabalho das ESF atividades ligadas à prevenção da comunidade, como reuniões de educação em saúde, formação de

grupos de apoio à atividade física e até mesmo atividades não relacionadas à saúde, mas ao bem estar da comunidade, como cursos de artesanato, reunião de apoio a mulher, entre outros. A ESF possui uma composição multiprofissional mínima de um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem, um dentista e de 4 a 6 Agentes Comunitários de Saúde (ACSs). Essas equipes Agentes Comunitários de Saúde recebem profissionais, residentes e estudantes de diversas áreas ligadas à saúde e bem estar, como nutrição, educação física, psicologia, terapia ocupacional, assistência social, também como forma de incentivar atividades ligadas à prevenção e bem estar da comunidade.

1 ESF

2 ESF

3 ESF

4 ESF

5 ESF

8 a 12

16 a 24

24 a 36

32 a 48

40 a 60

4 mil

8 mil

12 mil

16 mil

20 mil

Previsão de usuários simultâneos

15

30

45

60

75

Área média da unidade

400

550

800

1000

1150

Número total de funcionários População assistida

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Por que trabalhar com as Unidades de Saúde da Família? “A saúde é direito de todos é dever do Estado” CF/88, art. 196

- A demanda por saúde no Brasil é alta e ainda é superior à oferta de equipamentos. A criação de um sistema aberto de projeto para equipamentos de saúde possibilita o aumento da oferta de USF em um tempo relativamente baixo de execução. Além do mais, se existir uma produção em larga escala desses equipamentos, o custo final será reduzido consideravelmente. - A unidade de saúde da família (USF) configura-se atualmente como a principal estratégia de expansão da atenção básica da saúde - O Ministério da Saúde (2008, p. 8) constatou um número significativo de unidades que apresentam estruturas físicas inadequadas e, não raro, improvisadas. Não somente a relação demanda e oferta que devem ser consideradas. A qualidade do espaço físico das UBSs existentes é um aspecto essencial para que a prestação do serviço ocorra com eficiência e qualidade.

- Os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, incluindo as USFs, demandam flexibilidade dos espaços físicos em função dos progressos da medicina. As reformas, ampliações e adaptações gerais são sempre requeridas nestes tipos de estabelecimentos. Um equipamento público que sofre alterações com freqüência, necessita de um sistema que preveja condições que facilitem essas alterações. Flexibilidade e modulação, características previstas no sistema a ser desenvolvido, são imprescindíveis nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. A realidade, porém, mostra que as Unidades implantadas não seguem esses princípios, causando transtornos que sempre culminam na necessidade de reformas e ampliações.

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IV. DESENVOLVIMENTO O projeto sistêmico desenvolvido consiste em um conjunto formado pela somatória de especificações e recomendações do programa das USF e do sistema construtivo, que resulta em módulos de montagem que possibilitam uma série de variações. Todo esse conjunto denominado projeto sistêmico possibilita diferentes aplicações a contextos distintos.

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Critérios e abordagens foram estabelecidos para o desenvolvimento do projeto sistêmico. A partir da crítica aos metaprojetos apresentados, alguns critérios ligados a logística do sistema de projeto aberto foram definidos: -Sistema de projeto de abertura mediana; -Abrangência: aplicado especificamente à USF de cidades do Estado de São Paulo; -Pré-fabricação total; -Pré-fabricação leve; -Sistema formado por elementos de mercado que criam componentes inovadores; - Produção dos componentes pelo mercado privado com regulamentação estatal. Além dos critérios acima, foram estabelecidas abordagens a serem levadas em consideração no desenvolvimento do projeto sistêmico. São elas: a pré fabricação, a modulação, a flexibilidade, a economia, o conforto e a eficiência energética. Por se tratar de um serviço básico a ser implantado

em diferentes locais, a Unidade de Saúde da Família requer uma produção em larga escala para atender a demanda pelo serviço. O sistema pré-fabricado proporciona a racionalização do modelo de construção a partir da diminuição do tempo de execução e o conseqüente aumento da produtividade, além de garantir a qualidade final do produto. A modulação é outra característica que contribui para a racionalização do processo construtivo. A modulação favorece a combinação e a intercambialidade entre os subsistemas envolvidos, o que resulta em uma maior precisão na definição e no alcance das medidas, sem necessidade de adaptações entre a fase do projeto e da obra. A repetição em série dos elementos envolvidos, sugerida pela modulação, também torna o sistema mais racional. Os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, em decorrência dos avanços da medicina, sofrem muito mais reformas, ampliação e adaptações de forma geral do que outro equipamento público, como escolas, creches, centros comunitários, etc. Portanto, existe uma demanda por um sistema construtivo flexível e modular para atender a essas transformações. 22


A modulação cria um maior intercâmbio entre os projetistas, fabricantes e construtores. Com essa relação estabelecida entre os agentes envolvidos, a futura intervenção na edificação é facilitada, como no caso de reformas e ampliações. Como todos os profissionais tratariam as medidas de maneira uniforme, a substituição dos componentes (reforma), ou a incorporação de novos (ampliações) seriam facilitadas. (CARVALHO, TAVARES) A portaria n° 400, que dispõe sobre normas e padrões de instalação e construção em Serviços de Saúde, afirma que “a modulação apropriada aos projetos hospitalares é de 1,20m”. Essa modulação, porém, não é uma regra. A Rede SARAH, por exemplo, utiliza do módulo de 1,25 por encontrar certas dificuldades no módulo recomendado. A flexibilidade dos ambientes faz-se necessária pela modificabilidade que sofrem com freqüência os estabelecimentos de saúde. Assim, a flexibilidade está mais relacionada a “características tais como: divisórias internas removíveis, desvirtuamento dos serviços, tubulação e acessórios da obra bruta, etc,” (CORRÊA, FABRÍCIO, MARTUCCI, 1996) do que a flexibilidade do próprio processo construtivo. A economia na especificação do sistema construtivo faz-se necessária por tratar-se de um equipamento público que, quando implantado, sofrerá as regras

nas licitações. A “eficiência”, um dos princípios básicos que rege a Administração pública, está ligada à “economicidade”, que não se relaciona apenas com o custo, mas com a relação custo/benefício. Portando, a qualidade dos materiais e serviços empregados é fundamental à vida útil de uma USF e aos futuros gastos com manutenção. Por tratar-se de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, faz-se necessária a criação de dispositivos de conforto que permitam a ventilação e iluminação natural nos ambientes, como forma de torná-los mais salubres. Considerando estações do ano contrastantes, verão e inverno, presentes no caso da cidade escolhida a ser implantado o projeto, São Carlos, interior do Estado de São Paulo, o sistema deve ser adaptável as duas situações de forma a não precisar de sistemas de climatização e aquecimento, já que a economia de energia é essencial quando se trata de equipamentos públicos. A economia de energia ou eficiência energética, ou, de forma mais geral, a sustentabilidade, é uma questão mundial que deve ser levada à frente pelo Estado. Portanto, na construção de equipamentos públicos deve-se levar em consideração a escolha de materiais ecológicos (que consomem pouca energia na fabricação e não poluem o ambiente) e implantações que prezem boa orientação solar. 23


Programa A partir do documento do Manual de Estrutura Física das Unidades de Saúde da Família (USF), foi realizado um estudo sobre os ambientes previstos e suas relações. O programa foi divido em núcleos e regras de organização dos mesmos. Nesse primeiro momento foi trabalhado cada ambiente em particular e a relação entre os mesmos (organograma). A disposição dos ambientes que será apresentada não é a única alternativa, mas uma possibilidade de disposição considerada satisfatória após um processo de estudo. Chegou-se ao módulo de 60 cm e uma modulação do ambiente básico de 3 m por 6 m. Os ambientes pode assumir outras medidas se necessário, desde que respeite o módulo de 60 cm.

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Processo Estudo 1: Modulo: 1,25 m Modulação do ambiente básico: 2,5 x 3,75 m

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Processo Estudo 2 Módulo: 30 cm Modulação do ambiente básico: 3 x 4,2 m

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Processo Estudo 3 Modulo: 90 cm Modulação do ambiente básico: 2,7 x 5,4 m

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Núcleo de Consultórios O consultório é um espaço destinado ao atendimento individual médico-paciente, devendo ser compartilhado pelos profissionais da equipe, obedecendo a uma programação previamente estabelecida. Dessa forma, o consultório passa a não ser exclusivo do médico ou do enfermeiro, uma vez que a Equipe de Saúde da Família é multiprofissional e trabalha de forma interdisciplinar. O layout adotado divide o espaço em duas áreas: o atendimento, previsto para três pessoas (médico, paciente e acompanhante) e a consulta. Quando o consultório for para uso ginecológico, existe um sanitário privativo. Um lavatório é previsto em todos os consultórios.

Consultório médico

Possibilidades de layout em relação à abertura Consultório médico

Consultório médico

Consultório ginecológico 29


Consultório comum

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Núcleo Odontológico O núcleo odontológico é formado pelo escovário e o consultório odontológico. O escovário é destinado à realização de procedimentos relacionados à prevenção de doenças bucais. O consultório odontológico pode ser pensado em uma única sala ou em uma grande sala onde os equipamentos odontológicos podem ser compartilhados pelos profissionais.

Núcleo odontológico para unidade 3ESF

Escovário

Consultório odontológico 31


Núcleo odontológico para unidade 3ESF

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Núcleo de procedimentos O núcleo de procedimentos é formado pela sala de procedimentos - curativos, vacinação, coleta e nebulização. Desta forma, a sala de procedimento é o espaço onde se realiza diversos procedimentos como: administração de imunobiológicos e de medicação injetável, realização de pequenos procedimentos, coleta de material para análises clínicas, administração de medicação inalatória, terapia de reidratação oral e permanência de pacientes em observação. Na ausência de sala de curativo, coleta e nebulização, é nesta sala onde se realizam também essas atividades.

Sala de vacina

Sala de nebulização

Sala de procedimentos

Sala de coleta 33


Sala de nebulização

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Núcleo de recebimento O núcleo de recebimento é formado por todos os ambientes que recebam material dos núcleos clínicos, seja para passar por algum procedimento ou para armazenar. A central de material e esterilização é o espaço destinado à recepção, limpeza, preparo, esterilização, guarda e distribuição do material recebido, devendo seguir esse fluxo de trabalho. Sobre o depósito de lixo, deve haver uma separação entre lixo comum e lixo hospitalar.

Depósito de Lixo Expurgo

Sala de utilidades

Central de Material

Depósito de lixo/ expurgo / Sala de utilidades 35


Central de Material

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Núcleo administrativo O núcleo administrativo são todas as atividades voltadas aos funcionários da Unidade como copa/cozinha, vestiários, gerência e almoxarifado.

Copa 1,2,3 ESF

Vestiário Masc

Copa / Cozinha nivel 4 e 5 ESF

Vestiário Fem

Almoxarifado

Vestiário Fem/Masc

Gerência

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Copa / Cozinha nivel 4 e 5 ESF

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Núcleo comunitário O núcleo comunitário são todas as atividades da unidade voltadas à prevenção e ao bem estar da comunidade. Dentro do programa previsto para a Unidade estão presentes nesse núcleo: a sala dos ACSs (Agentes Comunitários de Saúde), e a sala de reunião e educação em saúde. Podem existir outras atividades ligadas à prevenção e bem estar que não estão previstas no programa básico, mas elas devem seguir a mesma modulação de 6 m de comprimento e podendo variar a cada 3 m.

Sala dos ACSs para 1,2 ESF

Sala de reunião para 3 ESF

Sala dos ACSs para 4 e 5 ESF

Sala de reunião para 2,3 ESF

Sala de reunião para 5 ESF

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Sala dos ACSs para 4 e 5 ESF

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Recepção / Sala de Espera A sala de espera é o local com uma maior possibilidade de arranjos, pois a única determinação é atender a demanda definida para cada nível ESF. Recomenda-se o planejamento de mais de uma sala de espera, uma principal de chegada dos pacientes antes da triagem e outras setorizadas, próximas aos ambientes relativos aos diversos tipos de atendimento. Estas salas de espera setorizadas também não possuem regra definida, podendo mesmo ser localizadas nos corredores, se eles tiverem dimensão para tal.

Layout clássico de sala de espera principal 41


Sal de espera

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Ambientes ligados à recepção/espera A farmácia e os sanitários dos usuários devem sempre estar ligados diretamente à sala de espera.

Farmácia 3,4,5 ESF

WC Fem.

WC Masc.

WC Fem. Masc, Defic.

WC Fem. Masc.

Farmácia 1,2 ESF

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Farmácia 1,2 ESF

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O uso da madeira Por que madeira? Essa não seria a melhor pergunta, mas sim “Por que sistema tradicional”? A escolha da madeira veio a partir de uma nova visão da construção civil de forma geral e também específica dos equipamentos públicos e habitação social. No Brasil existe um grande preconceito frente à madeira. Esse “pré-conceito”, assim poderíamos chamá-lo, deriva de um desconhecimento do uso do material que é caracterizado por uma fragilidade que não é verdadeira se houver projeto, detalhamento e alguns cuidados básicos de conservação. Hoje, no Brasil, a madeira é reconhecida em dois extremos da sociedade: o das construções improvizadas que caracterizam as favelas e o das casas de alto padrão. O que se torna um equívoco quanto ao custo e à qualidade da construção em madeira: afinal, é caro ou barato? é durável ou não? Esses dois aspectos dependem do projeto e da execução da obra. Por ser uma construção fundamentalmente pré-fabricada deve ser pensada de forma a não criar desperdícios. As especificações quanto aos tratamentos contra fungos e insetos e o detalhamento das ligações são outros aspectos que possibilitam uma construção com alta durabilidade.

Outro aspecto que é totalmente desconhecido pelos brasileiros é a questão ecológica. Associa-se o uso da madeira à devastação florestal. Realmente existe uma exploração não sustentável das florestas, mais isso não quer dizer que o uso da madeira para fins de construção e mobiliário é o responsável, esses são dois pontos distintos. Deve-se considerar que a madeira é um material renovável e que consome o CO² da natureza, portanto, é totalmente ecológico. Para ser renovável é preciso “renová-la” através do reflorestamento, uma prática ainda não tão explorada no Brasil, enquanto que alguns países da Europa com área livre bem menor e com um clima bem menos favorável para o crescimento das árvores fazem do reflorestamento uma das principais atividades econômicas e utilizam a madeira na construção civil de forma considerável. Até mesmo o processo de produção da madeira é ecológico, por envolver um baixo consumo de energia e não produzir poluentes. A produção de materiais como aço e concreto envolve um alto consumo de energia e uma grande produção de poluentes, além de utilizar matéria prima não-renovável. No caso do concreto, além de todos os aspectos não-ecológicos, grande quantidade de madeira é usada como fôrma descartável. 45


Podemos citar outras vantagens no uso da madeira na construção civil. Por exemplo, em relação ao manuseio, a madeira possui uma baixa densidade, aproximadamente um oitavo da densidade do aço, o que favorece a pré-fabricação leve, que consome menos energia que a pré-fabricação pesada. Sobre a resistência mecânica, ao contrário do que se pensa, de forma geral a madeira é mais resistente que o concreto convencional, que tem um CA18 enquanto que a madeira vai de C20 a C60. A madeira também possui uma boa capacidade de isolação térmica - 12 vezes mais que o concreto - favorecendo o conforto das edificações.

desvalorizado no Brasil. Levando em conta a questão mundial da sustentabilidade e que vários países já estão a levando a frente, acredito que o Estado deve tomar o primeiro passo para mudar a mentalidade dos brasileiros. Acredito que deve haver um incentivo por parte do Estado à construção de equipamentos públicos e habitações sociais em madeira, de forma a aumentar o conhecimento do material e difundir seu uso para os outros setores da socidade.

Apesar das vantagens, a madeira possui pontos negativos, mas que podem ser reversíveis. A sua susceptibilidade ao ataque de fungos e insetos e a sua inflamabilidade pode ser facilmente contornadas através de tratamentos na madeira utilizada. Mesmo em desvantagem quanto à questão da inflamabilidade, em casos de altas temperaturas (incêndio), a madeira tem um melhor desempenho contra o fogo em relação a outros materiais, isso porque a carbonatação superficial se transforma em uma barreira de isolação térmica, retardando o colapso da construção.

1 tonelada de concreto consome 780x103 kcal de energia

Mesmo com as vantagens no uso da madeira, seu emprego na construção civil é totalmente

1 tonelada de madeira consome 2,4x103 kcal de energia

1 tonelada de aço consome 3000x103 kcal de energia

Consumo de energia na produção de alguns materiais (FONTE: LNEC, 1976)

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Componentes O sistema construtivo baseia-se em painéis de préfabricação leve, os quais formam os elementos básicos: a viga de pinus e o painel de aglomerado. O sistema foi idealizado a partir do conhecimento de alguns sistemas construtivos em painéis, especialmente no trabalho da arquiteta uruguaia Paula Vidal sobre painéis experimentais para habitação. Por se tratar de um equipamento que possui um programa que sugere vãos pequenos, optou-se pela pré-fabricação leve. A partir de um estudo em conjunto do programa e do sistema construtivo, optou-se pelo módulo de 60 cm (2x30 cm). As principais razões para esse módulo foram: a modulação dos painéis de aglomerado e dos revestimentos melamínico e de PVC de 120cm e a resistência, a estabilidade e o peso do painel de madeira . O painel básico do sistema construtivo possui a dimensão de 60 cm por 3 m e seu peso aproximado é de 25 a 50 kg, dependendo do painel. 47


Painel Parede Externa

Função Corta-fogo e apóio para fixação do aglomerado

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Painel Parede Interna

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Painel Parede Hidrรกulica

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Painel Porta 90cm

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Painel Janela 3,00 m

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Painel Brise

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Painel Janela 1,20 m / 60 cm

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Painel Porta em vidro 2,40 m

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Painel Treliรงa 6,00 m 20% incl

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Painel Treliรงa 3m 20 % / 40% incl

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Painel Piso

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Painel Cobertura

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Telhas

Telhas fabricadas com fibras vegetais de madeiras, bananeira e coco associadas à materiais cimentícios. Inclinação de 20 e 40% Aplicada na cobertura inclinada dos ambientes Cores diversas

Telha zipada em aço ou alumínio com 2,5% de inclinação Aplicada na cobertura dos corredores Cores diversas

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Detalhamento Fonte: Manual para la construcción de viviendas en madera. Corporación Chilena de la Madera

Planta da fixação do revestimento externo dispos na vertical

Conector para o encontro entre vigas de pinus

Fixação com parafuso de rosca soberba do painel de aglomerado na viga de pinus 61


Aspectos bioclimáticos Um estudo climático para três cidades do estado de São Paulo – São Carlos, Campos do Jordão e São Paulo – foi desenvolvido como trabalho para uma disciplina cursada na École Nationale d’Architecture de Marseille, durante o intercâmbio realizado no primeiro semestre de 2009 e segundo de 2010. O trabalho consistiu na elaboração de um diagrama bioclimático para cada estação do ano dessas três cidades e a partir da interpretação dos resultados do diagrama e da carta solar do estado de São Paulo, foi proposto um conjunto de soluções relacionadas ao conforto térmico – orientação solar, ventilação, isolação, etc. Diagramas de verão e inverno da cidade de São Carlos – cidade exemplo para caracterizar um clima contrastante - Zona de conforto (C) - Zona que precisa de ventilação (V) - Zona que precisa de inercia térmica associada à proteção solar e paredes claras. (I) - Zona que precisa de ventilação noturna associada à inércia térmica por absorção, proteção solar e paredes claras. (IVN) - Zona que precisa de um sistema de humidificação artificial (RE) - Zona que pode ser compensada pela concepção solar passiva (H) - Zona que precisa de aquecimento artificial (H’) - Zona que precisa de sistema de deshumidificação do ar artificial (DH) - Zona que precisa de ar condicionado (AC)

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Como no estado de São Paulo existe uma grande variedade de climas, optou-se por considerar as recomendações de um clima contrastante, aquele que possui duas estações marcadas: verão e inverno.

edifício durante a noite e fechar as janelas durante o dia, mas para que o ar frio que penetrou durante a noite permaneça durante o dia, e para isso, por sua vez, é preciso uma inércia térmica dada pela absorção e isolação das paredes externas.

Para climas contrastantes, é preciso encontrar soluções arquitetônicas adaptáveis para as duas estações. Para obter um conforto térmico permanente nas edificações, é preciso escolher corretamente a orientação solar, os materiais e outras soluções de conforto.

Para a isolação, a madeira é um bom material, mas somente se ela for maciça. Se for tipo wood frame é preciso incorporar isolação. Para a inercia térmica, o concreto tem um ótimo desempenho, no entanto, nao tem nenhuma propriedade isolante. Para uma boa isolação do edifício deve-se pensar nas esquadrias. Recomendam-se esquadrias em madeira ou PVC, pois as metálicas não possuem nenhuma característica isolante. Nas esquadrias, recomendase também usar sempre vidro duplo.

No caso de um clima contrastante, a orientação das aberturas da edificação ao norte permite a penetração solar durante o inverno, o que favorece o aquecimento natural da edificação. Para que esse aquecimento permaneça durante a noite é preciso isolar as paredes externas e a cobertura. Essa mesma orientação norte, no verão, não é prejudicial, pois não haverá a penetração solar direta, somente um pequeno prolongamento da cobertura impede a penetração solar no verão (ver carta solar). No entanto, como no verão o sol está a quase 90º ao meio-dia, é preciso isolar a cobertura. Durante o verão a ventilação cruzada é altamente recomendada, mas se os dias são muito quentes (acima de 28º) não vale a pena a ventilação, pois o ar será quente. Nesse caso a solução é ventilar o

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Sistema Construtivo O sistema construtivo é realizado a partir dos componentes criados. Duas possibilidades de configuração a partir de dois consultório e um corredor são exemplificadas. O objetivo é entender como os componentes podem ser associados de forma a criar o que chamo de módulo base.

Possibilidade 1

Possibilidade 2

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Possibilidade 1

Det.1

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Possibilidade 2

Det.3

Det.2

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Detalhamento

Detalhe 1

Detalhe 3

Detalhe 2

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Detalhamento Fonte: Manual para la construcción de viviendas en madera. Corporación Chilena de la Madera

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Construtibilidade Fundação – blocos e vigas baldrames em concreto moldado in llocco

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Construtibilidade Colocação dos painéis piso já com revestimento

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Construtibilidade Colocação dos painéis paredes externas, internas e hidráulicas e paineis porta 90cm.

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Construtibilidade Colocação dos painéis de aglomerado já com o revestimento interno e dos arremates laterias

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Construtibilidade Colocação dos painéis externos: janela e brise.

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Construtibilidade Colocação dos painéis de cobertura dos corredores

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Construtibilidade Colocação dos painéis de aglomerado (com barreira de umidade) sobre os painéis cobertura.

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Construtibilidade Colocação dos painéis treliças

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Construtibilidade Colocação dos painéis de aglomerado já com revestimento interno nos painéis treliças.

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Construtibilidade Colocação dos painéis janela 1,20m

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Construtibilidade Colocação da telha metálica com inclinação de 2,5% sobre a cobertura do corredor.

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Construtibilidade Colocação dos painéis cobertura inclinada no sentido do vão de 3 m

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Construtibilidade Colocação dos painéis de aglomerado (com barreira de umidade) sobre os painéis cobertura.

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Construtibilidade Colocação da estrutura do telhado

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Construtibilidade Colocação do telhado com inclinação de 20 ou 40%

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Módulos de Montagem Definição de Montar por Mauro Deferrari (2008) Montar pressupõe associar partes em alguma configuração complexa, mantendo-se algo da identidade prévia dos elementos em situação manifesta, com a possibilidade de retorná-los a esta mesma identidade em caso de reconfiguração. Montabilidade é a capacidade do objeto de ser reconstituído em suas características iniciais ou intrínsecas: Desmontar para montar de novo, onde for necessário – reciclar e dar nova vida a um sistema que tem esse grau de liberdade. Para que uma montagem seja possível em sua definição, é inextricável a capacidade das partes de serem conectadas umas às outras, ou por uma característica física do próprio elemento ou por uma terceira parte, um catalítico mecânico, que lhe empresta a capacidade de conectar com outros semelhantes ou mesmo diferentes.

Os módulos de montagem, quando associados, geram uma gama de possibilidades de variações de projeto no seu sentido teórico, pois é necessário o contexto para existir projeto no sentido prático. A quantidade de possibilidades de variação depende do número de módulos de montagem, e a variação destes, por si, depende do número de componentes. Para o presente trabalho foi criado um número limitado de componentes que resultaram em 4 módulos básicos de montagem que variam em diversos aspectos, como no tipo de fechamento – painel parede, painel janel, painel brise, nos revestimentos – pvc, madeira, melamínico, entre outros. Nem os componentes, e consequentemente, nem os módulos de montagem são limitados aos apresentados no trabalho. Outras soluções podem vir a ser desenvolvidas, pondendo gerar variações ainda mais diversas.

Nesse sentido, a criação dos módulos de montagem é baseada na associação dos componentes desenvolvidos, prevendo a conectibilidade entre eles. 84

Módulos de montagem quem variam em inclinação de cobertura, tamanho e sentido das aberturas zenitais

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Variações Algumas regras de montagem foram definidas para guiarem as possibilidades de variações de projeto: - Zoneamento do programa por núcleos; - Criação de duas instâncias de pátio: o(s) pátio(s) voltado à Unidade de Saúde, para uso exclusivo dos pacientes e funcionários, e o(s) pátio(s) voltado para a cidade, de uso público da comunidade; - Estruturação do projeto a partir da circulação, dividida em circulação dos pacientes, funcionários e serviços, e comunidade; - Criação de dois acessos distintos: um para os pacientes da Unidade de Saúde e o outro para a comunidade, este, para acessar o núcleo voltado à educação em saúde, prevenção e bem estar. A partir dessas regras serão apresentadas quatro variações de projeto.

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Variação 1

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Variação 1

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Variação 2

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Variação 2

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Variação 3

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Variação 3

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Variação 4

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Variação 3

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V. APLICAÇÃO São Carlos

Sobre A Cidade De São Carlos Áreas Total: 1.140,92 Km² (IBGE) Urbana: 67,25km² - 6% da área total (IBGE) Urbana ocupada: 33km² (PMSC) Construída em perímetro urbano: 60% (PMSC) Vazia : 40% (PMSC) Clima Temperado de altitude, com verão chuvoso e inverno seco.

População 220.425 habitantes Fonte: SEADE 2007 População Flutuante 20.000 habitantes Fonte: SMDS Crescimento Demográfico 2,4% ao ano Fonte: SMDS

IDH 0,841 Fonte: PNUD 2000 Altitude média: 854 m Densidade demográfica : 181.35 hab/km2 Temperatura média: 20 ° C Ventos predominantes : Nordeste Média pluviométrica : 1.476 mm

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Saúde em São Carlos Dentro do sistema de saúde de São Carlos está presente a hierarquização básica do SUS: atenção básica, especializada e hospitalar. A atenção básica é formada pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), as Unidades de Saúde da Família (USF), os Núcleos Integrados de Saúde (NIS) e o Programa de Atividade Física (PAF). A estratégia de implantação dos equipamentos de atenção básica na cidade de São Carlos segue a orientação do SUS de descentralização, mas privilegia áreas de maior vulnerabilidade social. A identificação destas áreas acompanha um estudo realizado pela UFSCar, em 2001, que aponta estas áreas, partindo de vários indicadores sociais.

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Dentro da descentralização da atenção básica existem as Administrações Regionais de Saúde (ARES), que administram os equipamentos por zonas da cidade. Em São Carlos existem 5 ARES: Cidade Aracy, Vila Isabel, Redenção, São José e Santa Felícia. Dentro de cada ARES existem os NIS, as UBSs e as USFs. Dentro dos diferentes equipamentos que compõem a atenção básica, a diferença entre a Unidade Básica de Saúde e as Unidades de Saúde da Família é a metodologia. Além da inserção do Agente Comunitário, outras diferenças são que, na USF, se atua em equipe multidisciplinar - existe visita domiciliar de médicos e enfermeiros e a cumplicidade, vínculo entre a equipe e os usuários é maior na USF - o que propicia maior efetividade nos tratamentos. As USFs são atualmente a principal estratégia de fortalecimento da atenção básica, portanto existe uma tendência ao desaparecimento das UBS. Hoje, porém, elas têm grande importância na rede de saúde de uma cidade.

estão presentes nos NIS. A lógica do SUS preconiza a resolução dos problemas de saúde em Unidades próximas à residência dos usuários. Neste sentido surge o NIS, que não tem uma conformação padrão, ela depende da necessidade específica local. O Programa de Atividade Física tem como premissa a promoção de saúde através de atividades e incentivo à alimentação saudável. Em São Carlos essas atividades desenvolvidas variam de unidade para unidade: grupo de caminhada, grupo de Lian Gong, ginástica e alongamento, etc.. Os grupos também trabalham o incentivo à alimentação e hábitos de vida saudáveis. Atualmente não existe uma estrutura física destinada à realização dessas atividades, que se desenvolvem em salas de espera da unidade, salões paroquiais, em centros comunitários, praças, quadra de escolas, para além das caminhadas, estas realizadas nas ruas próximas as unidades.

O Núcleo Integrado de Saúde é uma Unidade Básica de Saúde ampliada, com o objetivo de melhorar a resolução dos problemas em locais mais próximos dos usuários, desconcentrando as unidades especializadas. Algumas especialidades, como psiquiatria, psicologia, serviço social, fisioterapia, etc,

Área de Projeto

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Expansão Urbana

A área de projeto situa-se na periferia nordeste de São Carlos, uma zona formada por um conjunto de bairros de habitação popular marcados pelo seu isolamento da cidade e seu potencial de expansão.

Uso do solo

Hierarquização viária de São Carlos O isolamento do conjunto de bairros é causado pela rodovia Washington Luís e pela escassez de vias de acesso

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Constata-se uma carência de equipamentos públicos, principalmente nos bairros mais novos, em contraposição ao número de áreas institucionais disponíveis. As duas Unidades de Saúde existentes não suprem a demanda por saúde desse conjunto de bairros. Além de possuirem estrutura insuficiente e, no caso da USF Jd Munique, improvizada.

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No encontro do conjunto de bairros existe um complexo de áreas institucionais que se relacionam entre si gerando um pontecial de centralidade de equipamentos públicos para os bairros. Essa potencialidade é reforçada pela avenida comercial e de serviços que corta os bairros e que resulta no centro desse complexo de áreas institucional. É também o encontro das duas ruas de acesso por ônibus aos bairros.

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Projeto Numa aplicação de um projeto sistêmico, além de obedecer às regras de montagem estabelecidas, é importante considerar o contexto envolvido. A área “pede” algumas diretrizes de projeto que estão além das regras de montagem. A primeira dificuldade frente à área de projeto foi saber como me apropriar de um terreno com dimensões muito superiores à necessária à implantação de uma USF. Essa é uma dificuldade encontrada por muitos projetos em áreas institucionais, pois se precisa pensar além do equipamento em si, o que está (ou restará) em volta – outros equipamentos, praças, e etc. De uma forma geral, quando se constrói um equipamento público em uma área institucional devese aproveitar para levar o máximo de benefícios para a comunidade atendida. Então, além do próprio equipamento em si, o arquiteto deve criar algo além para a comunidade em questão. Nesse sentido a fase de aplicação deixou de ser o simples projeto de uma Unidade de Saúde, mas sim um projeto da área, onde foi proposto além da USF,

um novo programa voltado à comunidade, uma quadra esportiva e espaços de estar em volta dos edifícios. Dessa forma, o projeto é pautado nas potencialidades da área – estar e contemplação – e nas regras de montagem – zoneamento por núcleos; criando duas instâncias de pátio: uma voltada à Unidade de Saúde e outra, que na verdade é também composta pela quadra de esporte, voltada para a comunidade; criação de dois acessos distintos: um para os pacientes da Unidade de Saúde e o outro para o que denominei de Centro Comunitário de Apoio à saúde; estruturação do projeto a partir da circulação, dividida em circulação dos pacientes, funcionários e serviços, e comunidade.

.

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Diagrama O projeto é dividido em três blocos que se adaptam ao terreno de forma a criar espaços qualificados entre os mesmos. Os dois primeiros blocos interligados representam a Unidade Básica de Saúde. O terceiro representa um centro comunitário de apoio à saúde, que inclui algumas atividades da USF (reunião e salas dos ACS) e atividades ligadas à saúde, educação, prevenção, bem estar e lazer da comunidade. Dessa forma foi criado um espaço que pudesse ser utilizado tanto pelos profissionais para promoção da saúde, como também pela comunidade durante os finais de semana.

103

Planta de cobertura Foi criado um eixo de circulação e de estar arborizado, paralelo a rua lateral, onde atualmente já é utilizada como estar pela população que mora nas casas da frente.

1:1000 104


Planta Térrea O projeto qualifica o espaço lateral ao muro de uma forma não contínua através da criação de espaços diferenciados ao longo do mesmo. Num primeiro momento ele funciona como circulação de serviço para a USF, já num segundo momento, ele se transforma em espaço para grafitagem em uma continuação com a quadra, e ainda num terceiro momento, ele está associado à cozinha/refeitório do terceiro bloco. No último momento ele contribui na criação de um grande espaço gramado de contemplação e estar.

1:1000 105

Corte / Fachada Cada bloco é tratado em instâncias diferentes, ora ele se volta ao pátio ou à quadra, ora ele se volta à contemplação da vista.

Fachada 1:1000

Corte 1:1000

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Planta Bloco 1

1:200 107

Planta Bloco 2

1:200 108


Planta Bloco 3

Planta Bloco 3 1:200 109

Vista Geral

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Fachada Norte

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Vista da paisagem a partir do Bloco 2

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Vista da Unidade de Saúde a partir da rua – espaços de estar criados ao longo da rua

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Vista da quadra de esportes a partir da rua

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Vista do Pátio da USF a partir da rua de serviço

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VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS Qual é o papel do arquiteto na sociedade? Essa era a minha pergunta antes definir a problemática do TGI. Toda a formação no curso me fez pensar que arquitetura deve ser sempre algo para além da construção sem si, arquitetura, é também preocupação com o social, é trabalhar o espaço público, planejar a cidade... Para o trabalho de TGI decidi focar no social – podese pensar que meu foco é a construção, mas não, a construção é apenas o meio, o resultado é o social. A problemática de escassez e falta de qualidade construtiva e arquitetônica dos equipamentos públicos no Brasil me fez pensar no que vários arquitetos já pensaram: sistematização. Essa palavra tem uma abordagem bem mais ampla do que foi tratado no presente trabalho, no qual ficou “reduzida” a construção e arquitetura (se é que podemos dissociar essas palavras). Então vieram as denominações: projeto sistêmico, metaprojeto ou sistema aberto de projeto. No início do trabalho eu tinha muitas aspirações quanto ao resultado. Eu pensava em um sistema sem limites, que poderia resolver o problema social

do Brasil. Grandes aspirações, típicas de uma mente jovem, ainda em formação, sonhadora. Durante o desenvolvimento do trabalho comecei a pensar em possibilidades mais realistas, foi quando foram definidos: objeto, área de atuação e os limites do projeto sistêmico com os quais eu poderia trabalhar no período de tempo previsto e no conhecimento acumulado até o momento. O TGI I, realizado no primeiro semestre de 2009, foi somente uma aproximação, uma familiarização com o programa e como ele poderia ser articulado. Foi o momento organizativo do trabalho. A experiência de intercâmbio na França, durante o segundo semestre de 2009 e o primeiro de 2010, foi muito positiva para o desenvolvimento do trabalho. Eu me aproximei de uma nova visão de arquitetura e da construção civil, bem diferente daquela sempre pensada no Brasil, a partir de sistemas tradicionais sem muitas preocupações bioclimáticas. Eu me aproximei de uma nova visão de arquitetura e da construção civil, bem diferente daquela sempre pensada no Brasil, a partir de sistemas tradicionais sem muitas preocupações bioclimáticas. 116


Já durante o segundo semestre de 2010, o TGI foi desenvolvido em uma segunda etapa, quando se inseriram as aproximações bioclimáticas e as técnicas construtivas. Mesmo após um ano de trabalho, o atual terceiro semestre de trabalho foi o que demandou maior dedicação. A fase de aplicação do projeto sistêmico decorreu ao mesmo tempo das definições do projeto sistêmico. Esta, considerei a etapa mais decisiva para o resultado final do trabalho.

um outro TGI, que tenha o foco já num equipamento único, para um único lugar. Mas acredito também, que dentro das pretensões de meus estudos, que cheguei a um bom resultado. Enfim, acredito válido todo o meu processo de trabalho e resultados alcançados. Valeu o esforço.

O resultado final se divide em dois: o desenvolvimento do projeto sistêmico e a sua aplicação, cada uma com grau de complexidade e resultados distintos. A de idealização do projeto sistêmico, mais complexa que a aplicação, posso dizer que está em contínuo processo de desenvolvimento. Foram definidos ambientes, componentes, módulos de montagem e variações, mas tudo pode e deve ser revisto continuamente. O aperfeiçoamento de um sistema vem com tempo e trabalho, o que está além da proposta para um TGI. Porém, acredito que o resultado do projeto sistêmico alcançado foi uma experiência bastante válida para este. Quanto à fase de aplicação, ela está associada ao aperfeiçoamento do metaprojeto, valendo as mesmas críticas. Quanto ao nível de leitura da área e partido de projeto, tive bem menos tempo do que

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VII. BIBLIOGRAFIA AU. Moradia Estudantil da UNICAMP. AU, n. 22, fev/mar. 1989, p.27 ANELLI, Renato L. S. Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo. Arquitextos, n°55.02. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 20 04. CARVALHO, Antonio Pedro A.; TAVARES, Igor G. Modulação estabelecimentos assistenciais de saúde: o caso http://bvsms2.saude.gov.br/php/index.php.

no projeto arquitetônico de dos Hospitais SARAH.

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