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A Revisão da Regulamentação sobre o Compartilhamento de Infraestrutura de Rede

ELOI PIANA

ENGENHEIRO ELETRICISTA FORMADO PELA UNIOESTE DIRETOR | CEO | RESPONSÁVEL TÉCNICO - PIANA TELECOM - PROJETOS E ENGENHARIA CERTIFICADO EM PROJETO E EXECUÇÃO DE REDES ÓPTICAS

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A REVISÃO DA REGULAMENTAÇÃO SOBRE O COMPARTILHAMENTO DE INFRAESTRUTURA DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO SOB A ÓTICA DOS PLAYERS DE MERCADO

Agência Nacional de Energia EléO compartilhamento de infraestrutura para prestação de serviços de telecomunicações volta a estar em pauta na trica – ANEEL.

A Agência delibera sobre o assunto, regulamentando os processos desde a solicitação de compartilhamento até o estabelecimento de valores de referência para o ponto compartilhado.

Está em pauta a Consulta Pública no 007/2022, que visa a obtenção de subsídios para a Avaliação de Impacto Regulatório – AIR, e da proposta de aprimoramentos da regulamentação relativa ao compartilhamento de infraestrutura entre os setores de distribuição de energia elétrica, e de telecomunicações.

A coluna de hoje fala sobre os olhares de ambos os lados do setor: Ocupantes e Detentores

A proposta atende o disposto no Art. 13 da Resolução Conjunta 04/2014, com atraso justificado pela pandemia do Covid-19:

“A ANEEL e a Anatel revisarão esta Resolução em até 5 (cinco) anos após sua publicação”

Outro motivo de atraso é o fato de que o assunto gera bastante discussão, a etapa de Consulta Pública já foi prorrogada várias vezes, e já se admite que a revisão poderá ser publicada somente em 2023.

A coluna de hoje fala sobre os olhares de ambos os lados do setor: Ocupantes e Detentores:

Ocupantes

As associações e entidades de telecom já se manifestaram, bem como a Federação Nacional dos Engenheiros – FNE, apontando diversas inconsistências nas soluções apresentadas até o momento.

O Manifesto Setorial, assinado pelas entidades: Conexis, Feninfra, Abrint, TelComp, Abeprest, Neo Associação, Internet Sul,

Redetelesul e Abramulti, comenta sobre a necessidade de maior protagonismo da Anatel nas discussões, em cumprimento ao disposto no artigo 73 da Lei Geral de Telecomunicações. Também levanta questionamentos em relação à precificação de pontos, e sobre quem arcará com os custos de regularização e manutenção da infraestrutura compartilhada.

Já por parte da FNE a preocupação fica por conta da solução proposta para regularização dos passivos de rede, cuja opinião é de que o prazo de 10 anos seja muito dilatado, e não irá sanar a situação de “falta de respeito” por parte das empresas ocupantes. Outro assunto tratado na proposta é a falta de disposições técnicas e de segurança de trabalho, como por exemplo a consideração de distâncias mínimas de afastamento entre redes, alturas para cruzamento de ruas e avenidas, e outras disposições de ordem técnica. O texto também comenta sobre a ausência da participação dos municípios, e estabelecimento de penalidades monetárias para os usos clandestinos e à revelia, que poderiam culminar na perda da autorização expedida pela Anatel.

De modo geral, os textos defendem a ideia de que na prática, deve ser mais “vantajoso”, ou menos dispendioso, fazer a instalação da forma correta, com projetos aprovados e ocupação ordenada.

Detentores

Segundo relatório publicado pelo BTG Pactual, o montante pago pelas teles pelo uso dos ativos pode alcançar o montante de R$ 12,9 Bi anuais. O cálculo considera um parque nacional de 45 milhões de estruturas, utilizadas por, no máximo, 5 operadoras, com aluguéis mensais sob o preço de referência de R$ 4,77 (presente na nova proposta de regulamentação conjunta).

Deste valor, 60% é destinado à modicidade tarifária, o que deixaria as distribuidoras com os 40% restantes do faturamento, cerca de R$ 5,2 Bi anuais, que comparados com suas receitas totais, que segundo relatórios da ANEEL são de aproximadamente de R$ 250 bilhões, representariam apenas “uma pequena fra-

“Uma boa consulta não lhe custará nada e certamente trará benefícios para sua operação”

ção”.

Nota-se que a receita gerada pelo compartilhamento não é tão representativa para as distribuidoras (cerca de 2,1% da receita total), o que corrobora a opinião por parte destas, de que as atividades de inspeção são de difícil realização.

Porém, detentoras estão se mobilizando no sentido de atender às disposições da ANEEL, com instauração de processos de fornecimento de dados às ocupantes, disponibilização de base de cadastro e intensificação dos processos de fiscalização e regularização de rede.

É importante o início antecipado desses levantamentos, já que os textos da AIR dispõem sobre a necessidade de regularização imediata de cerca de 24% do total de postes do país, aproximadamente 12 milhões de estruturas, classificadas como “Estruturas de Segurança Comprometida e/ ou Prejuízo Imediato”.

A classificação de Risco Imediato se dá levando em conta as estruturas que apresentam condições de segurança seriamente comprometidas, representando risco imediato para trabalhadores, população em geral e instalações.

Em outra vertente, existe grande preocupação com a atuação de empresas de telecomunicações sem contrato, ou que ocupam quantidade maior de pontos do que o contratado, gerando frustração de receita para as distribuidoras. Essa realidade é ilustrada na figura abaixo, que apresenta o percentual de pontos faturados pelas distribuidoras com mais de 50.000 postes:

Nota-se que quase a totalidade fatura menos de 40% de seus pontos, bem diferente da realidade de ocupação de postes observada em campo. Esse resultado impacta negativamente os resultados das atividades ligadas ao compartilhamento, bem como a modicidade tarifária que beneficia o consumidor de energia elétrica no Brasil.

O que posso fazer?

Com tantos envolvidos e pautas para discussão só podemos ter uma certeza: o assunto é polêmico, está longe de solução comum e merece nossa total atenção!

Procure documentar sua rede, ter uma base de cadastro confiável, com controle de todos os pontos compartilhados e disposição de toda a rede externa, inclusive com acervo de projetos aprovados com protocolos e datas de expedição. Esses dados são essenciais e certamente necessários para o caso de fiscalização de redes em sua área de atuação!

Fique atento às novidades locais, as concessionárias de energia já estão se adequando e promovendo processos no sentido de adaptação de condições para o novo modelo. Uma boa consulta não lhe custará nada e certamente trará benefícios para sua operação, seja nas novas implantações ou regularizações de rede.

Obrigado, e ótimos trabalhos!

JOSÉ MAURÍCIO DOS SANTOS PINHEIRO

COLUNA FIBRA ÓPTICA ONTEM E HOJE

SÓCIO DIRETOR DA RATIO CONSULTORIA E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO WWW.PROJETODEREDES.COM.BR

LUZ ATRAVÉS DA FIBRA

A

1. Introdução

ideia básica da fibra óptica é que a luz irradiada em uma de suas extremidades alcance a extremidade oposta, mesmo que essa fibra seja dobrada

Ar

ou arqueada. Isto se deve aos fenômenos que ocorrem quando a luz, que ao viajar de um meio opticamente mais denso para um menos denso, é refratada além da normal e da reflexão no ângulo crítico. Esses fenômenos ópticos parecem ter pouca relação entre si, mas estão intrinsecamente relacionados e são explorados no desenho da fibra óptica.

Como mostrado na Figura 1, a luz viaja de uma extremidade à outra da fibra óptica por reflexão interna total, mesmo quando a fibra é dobrada.

Portanto, o mecanismo básico de transmissão da luz ao longo de uma fibra óptica consiste, em termos da óptica geométrica, num processo de reflexão interna total que ocorre quando um feixe de luz emerge de um meio mais denso para um meio menos denso. A fibra corresponde ao meio onde um sinal luminoso é inserido em uma das extremidades e guiado através do núcleo, propagando-se por reflexões sucessivas até o extremo oposto. Seu desenho corresponde a uma estrutura cilíndrica, com um núcleo altamente refrativo no interior de uma haste de vidro

Sinal Luminoso

FIGURA 1: Transmissão da luz através da fibra

“A comunicação por fibras ópticas é um campo interdisciplinar que combina ciência, tecnologia e sistemas de comunicação.”

2. Modos de Propagação

Nas fibras ópticas, a propagação da luz ocorre devido à reflexão interna total e a transmissão de sinais de luz se dá com as diversas distribuições possíveis dos campos eletromagnéticos. Cada configuração resultante dessas combinações indica um “modo de propagação” com características próprias que incluem, entre outros fatores, a velocidade de propagação, comprimento de onda etc. Cada modo de propagação corresponde então a uma trajetória diferente dos raios luminosos, com um valor específico que é determinado pelo ângulo de incidência da luz na fibra.

> 2.1. Modos Vazados

Os modos vazados são modos de propagação que estão apenas parcialmente confinados no núcleo da fibra óptica. Esses modos caracterizam-se por irradiarem (vazarem) continuamente potência fora do núcleo e por serem atenuados à medida que se propagam. A irradiação dos modos vazados resulta do equivalente óptico do fenômeno de mecânica quântica conhecido como efeito túnel.

Vazamentos de sinal de luz podem ocorrer quando o índice de refração entre o núcleo e a casca da fibra óptica é pequeno, confor-

com índice refrativo mais baixo, que corresponde à casca e o conjunto protegido por um revestimento que propicia a resistência mecânica.

Revestimento Casca

Núcleo

COLUNA FIBRA ÓPTICA ONTEM E HOJE

Sinal Casca

Núcleo

FIGURA 3: Vazamento de luz na fibra óptica

me mostra a Figura 3.

Os modos vazados podem carregar quantidades significativas de potência luminosa em fibras ópticas de comprimento relativamente curto. A maioria desses modos desaparece após percorrerem alguns centímetros de fibra. Contudo, alguns com perdas baixas podem alcançar distâncias da ordem de até quilômetros. Assim, a existência de modos vazados tem implicações práticas nas medições de fibras ópticas, particularmente na determinação da abertura numérica e das perdas de propagação.

> 2.2. Modos Irradiados

A solução das Equações de Maxwell para as condições de contorno imposta por uma fibra óptica inclui, além do número finito de modos guiados, um número infinito de modos que não são guiados pelo núcleo da fibra e que irradiam potência para fora. Esses modos são conhecidos como irradiados e correspondem aos raios que estão fora do cone de aceitação da fibra óptica e são refratados para a casca, mostrado na Figura 4.

Como a casca de uma fibra óptica prática tem espessura finita e é envolta por um material de proteção ou suporte físico, alguns dos modos irradiados podem ser guiados pela casca e a existência desses modos irradiados pela casca da fibra pode afetar as medidas de sinal em razão do fenômeno de acoplamento de modos. Por exemplo, os modos guiados pela casca podem ser acoplados a modos guiados pelo núcleo a partir de descontinuidades (emendas) na fibra óptica, implicando uma redução da banda passante efetiva.

> 2.3. Acoplamento de Modos

As características de propagação de uma fibra óptica podem se afastar daquelas previstas teoricamente para o caso de um guia de onda dielétrico perfeito (cilíndrico, núcleo homogêneo, curvatura, entre outras). Na realidade, as imperfeições existem no guia de onda prático, traduzidas em termos de desvios de geometria básica (eixo curvo, variações no diâmetro e outros) e de irregularidades na composição do núcleo e da casca (não homogeneidade, por exemplo), que podem mudar as características de propagação da fibra óptica.

O efeito das imperfeições em fibras ópticas práticas, que podem ser causadas na fabricação ou no simples manuseio operacional da fibra, é o de acoplar energia de um modo de propagação em outro, dependendo do tipo de perturbação. Por exemplo, em uma fibra multimodo há sempre o fenômeno de acoplamento de modos que resulta na transferência de energia de um modo para os modos

Cone de Aceitação

Casca Núcleo

FIGURA 4: Cone de aceitação na fibra óptica

COLUNA FIBRA ÓPTICA ONTEM E HOJE

adjacentes, à medida que a luz se propaga ao longo da fibra.

O acoplamento de modos tem implicações importantes na determinação das características de transmissão das fibras ópticas. Os modos irradiados guiados pela casca, podem se acoplar aos modos de ordem superior, guiados pelo núcleo, inclusive os modos vazados. Isso é possível porque o campo elétrico evanescente de um modo guiado pelo núcleo interage com os modos guiados pela casca.

3. Dispersão

Dispersão é uma característica de transmissão que exprime o alargamento dos pulsos transmitidos através de uma fibra óptica. Este alargamento determina a largura de banda da fibra óptica, dada em MHz.km, e está relacionada com a capacidade de transmissão de informação das fibras.

Os mecanismos básicos de dispersão são: • Dispersão modal; • Dispersão cromática.

3.1. Dispersão Modal

Este tipo de dispersão só existe nas fibras multimodo, sendo provocada basicamente pelos vários caminhos possíveis de propagação (modos) que a luz pode ter no núcleo. Não ocorre dispersão modal em fibras monomodo, pois apenas um modo de luz será guiado através da fibra.

Numa fibra óptica multimodo de índice degrau, nem todos os modos viajam com a mesma velocidade, pois o índice de refração não é constante em todo o núcleo. Logo, os modos de alta ordem (que percorrem caminho mais longo) demorarão mais tempo para percorrer a fibra do que os modos de baixa ordem (Figura 5).

Nas fibras ópticas de índice gradual, o núcleo tem um índice de refração que diminui com o aumento da distância radial do eixo óptico, conforme mostra a Figura 6.

A vantagem das fibras multímodo de índice gradual em comparação com as fibras multímodo de índice degrau é, portanto, a diminuição considerável na dispersão modal.

3.2. Dispersão Cromática

A dispersão cromática é um fenômeno de propagação do sinal ao longo do tempo resultante das diferentes velocidades dos raios de luz no interior da fibra óptica (Figura 7).

A dispersão cromática é a combinação dos efeitos de dispersão

Fibra Índice Degrau

Casca

Núcleo

FIGURA 5: Fibra óptica de índice degrau

Fibra Índice Gradual

Casca

Núcleo

FIGURA 6: Fibra óptica de índice gradual

COLUNA FIBRA ÓPTICA ONTEM E HOJE

Sinal de luz de entrada

FIGURA 7: Exemplo de dispersão cromática

Sinal de saída com dispersão

do material e dispersão do guia de onda: • Dispersão do material - Como o índice de refração depende do comprimento de onda e como as fontes luminosas existentes não são perfeitas, temos que cada comprimento de onda enxerga um valor diferente de índice de refração num determinado ponto, logo cada comprimento de onda viaja no núcleo com velocidade diferente, provocando uma diferença de tempo de percurso, causando a dispersão do impulso luminoso;

• Dispersão do guia de onda - Esse tipo de dispersão é provocado por variações nas dimensões do núcleo e variações no perfil de índice de refração ao longo da fibra óptica, dependendo também do comprimento de onda da luz. Só é percebida em fibras monomodo que tem dispersão material reduzida.

4. Conclusão

A comunicação por fibras ópticas é um campo interdisciplinar que combina ciência, tecnologia e sistemas de comunicação. As redes ópticas fornecem a base para as redes de comunicação atuais e futuras e, por esse motivo, torna-se tão importante compreender os princípios básicos de como a luz percorre a fibra, como funcionam os enlaces de dados e os parâmetros de desempenho dos sistemas de transmissão por fibras ópticas.

Até o próximo artigo!

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