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Jornal da SBCT Ano 7 | Edição de Setembro / 2017

E se você parar de fumar? A relação entre tabagismo e câncer de pulmão

Informativo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica


Editorial Meus amigos, Neste número, o prof. Luis Carlos da Silva leva dois dedos de prosa com a jornalista Cinthya Brandão, da SBCT, e nos chama atenção sobre os males do cigarro: “O tabagismo é uma doença que pode ser tratada, sempre...”. Pelos dois dedos de prosa soube-se que, entre os dedos do viciado, a fagulha, uma vez acesa, aspira para o interior dos brônquios uma série de alcaloides que acinzentam a cromatina nuclear e levam à gênese tumoral; na outra ponta do discurso está o dedo do cirurgião, ora ajustando um nó, ora engatilhando a última carga para extirpar um câncer. Daí vem a pergunta encrespada da entrevistadora: e a cura? Responde Silva que o fôlego de esperança sopra para a prevenção, mas confessa que “as técnicas de vídeo também permitiram grandes avanços [...], com menor índice de complicações”. Portanto, enquanto a prevenção não abafa a fumaça negra do nicotismo, a esperança repousa na cirurgia exerética de Graham, o obelisco na cura do câncer pulmonar, conforme historiografado em “Tabagismo e Câncer de pulmão...”, nesta edição. No mais, é singelo dizer que o avanço no combate ao câncer está à beira-de-leito. Em que pese químio e radioterapia como elementos de suporte, é sob as luzes da tecnologia que o cirurgião se vê no sofismático dever de andar para frente e enfrentar o custo elevado da VATS, que provoca exoftalmia na indústria e azia na política de saúde brasileira.

Roger Normando

Membro da SBCT-PA

Enxameados nesta ideia, Eric Charles e Irving Kron (University of Virginia Health System, Virgínia-USA) reescreveram recentemente um velho discurso sobre cirurgiões que vivem rés ao leito pensando em soluções lógicas e seguras para um mundo melhor. Grifa ele que cirurgião-cientista é aquele que não só cura os males pelo ato operatório, mas estuda e questiona as bases científicas das doenças, a ponto de desafiar o padrão-ouro e se sentir incomodado com um resultado pífio. Tais elementos são forças motrizes que estão à beira do leito e renovam peremptoriamente a maneira de pensar, ao propor saídas menos onerosas e que possibilitem resultados gratificantes.

Expediente

E o que dizer daquela azia, tratada com chiado do sonrisal? Camargo refere que “herdamos a tradição da autocrítica exagerada e depreciativa. Como se denegrir o meio em que vivemos justificasse nossas deficiências e precariedades”. Enquanto debulhamos a autocrítica, vale dizer que aqui e acolá surge um cirurgião interiorano- ou amordaçado pelo SUS-, que lambe o cinzel da arte. Eles preparam o húmus para revitalizar o saber e reinventam a maneira de pensar e técnicas, tal como irradiou, em megahertz, o Repórter Forte. Lá da serra da Borborema, Ana Paula sabe o que faz ruir seu bisturi: o fio descascado da tecnologia, que custeia grampear o Boyden, lapidar esmeraldas e ainda dá choque na obstinação.

Diretoria da SBCT

Endereço

Presidente: Sérgio Tadeu L. F. Pereira Vice-presidente: Carlos Alberto Almeida de Araújo Secretário Geral: Mário Cláudio Ghefter Tesoureiro: Miguel Lia Tedde Secretário Científico: Ricardo Migarini Terra Secretário de Assuntos Internacionais: Fernando Vannucci

Av. Paulista, 2073, Horsa I, cj. 518 | São Paulo - SP CEP: 01311-300 Fone/fax: (11) 3253-0202 secretaria@sbct.org.br www.sbct.org.br

Textos e Edição Editor do Jornal: Roger Normando

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Cinthya Brandão - Jornalista DRT/BA 2397 www.cinthyabrandao.com.br

Criação - D27 Design e Comunicação www.d27.com.br


Mensagem do Presidente Prezados colegas, A primeira reunião da Diretoria Executiva eleita em maio, durante o XX Congresso Brasileiro de Cirurgia Torácica no Rio de Janeiro, para o biênio 2017/19, só aconteceu em julho devido à reforma/ampliação da nossa sede. Grande foi a felicidade de todos em constatar como ficou bonita, aconchegante e que valeu todo esforço e investimento. Nesta primeira reunião não poderíamos deixar de agradecer a todos associados que confiaram por unanimidade o seu voto na eleição desta diretoria. O novo modelo adotado com abertura da assembleia às 8h permitiu uma votação mais participativa, que transcorreu durante todo dia com o seu término no horário previsto e cumprimento de toda pauta – exemplo a ser seguido nas próximas assembleias. Com o fim do mandato do Dr. Darcy, a despedida do Dr. Alexandre Avino e as mudanças ocorridas na composição da nova diretoria, assume o Dr. Carlos Alberto o cargo de Vice Presidente e o Dr. Mário Ghefter o de Secretário Geral. Um agradecimento especial aos dois que deram sua inestimável contribuição a SBCT e boas vindas aos que chegaram. O sucesso do congresso do Rio de Janeiro com a participação de mais de 550 associados foi fruto de uma organização cuidadosamente elaborada pelo grupo local liderado pelos Drs. Sérgio Tadeu L. F. Pereira Fernando Davi e Anderson Nassar que contaram com o apoio da Diretoria Executiva, em esPresidente da SBCT pecial, Dr. Ricardo Terra, Secretário Científico, na elaboração de uma programação científica pujante, com mais de 15 convidados estrangeiros, muitos deles compareceram de maneira espontânea. Isso mostra um novo tempo e o reconhecimento internacional dos cirurgiões torácicos brasileiros representados pela SBCT. Mostra também quanto será grande a responsabilidade desta diretoria em manter estes avanços. Nossa expectativa é grande e muito otimista, são vários projetos em andamento e outros novos que exigirão de todos muito trabalho e dedicação. Com o otimismo demonstrado por toda Diretoria Executiva nesta primeira reunião e com o apoio dos associados, não temos dúvida, trabalharemos no cumprimento das propostas, mantendo o compromisso de levar a SBCT ao encontro do cirurgião torácico, de nos mantermos cada vez mais sólidos na defesa da dignidade de nossa especialidade e na retaguarda científica atualizada e disponível. Saudações!

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Insanidade legalmente respaldada

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ós, brasileiros, herdamos a tradição portuguesa da autocrítica exagerada e depreciativa. Como se denegrir o meio em que vivemos justificasse nossas deficiências e precariedades. Escolha um tipo qualquer de atividade profissional e se formará imediatamente uma fila de detratores da brasilidade, responsável por este complexo de inferioridade que nos impusemos sem pressão externa. Participei de um debate entre colegas que pretendia identificar, baseado em experiências vividas ou confidenciadas, onde era mais complicado ser médico neste século de transformações galopantes em que tudo muda antes que nos habituemos com a nova realidade. A origem da discussão é a tomada de consciência de que a figura do médico tradicional está ameaçada em muitos lugares, e extinta em outros. E a metamorfose tem como agravante a celeridade que leva de roldão conceitos seculares e frustra expectativas consideradas inabaláveis. Tendo como ponto comum apenas o reconhecimento de que tudo mudou, mal conseguimos acreditar quando relatam mudanças em outros países em que se praticava uma medicina que costumávamos copiar com admiração, e agora assistimos perplexos a uma realidade que não invejamos mais. Na França, médicos têm sido processados e punidos, sob a alegação de não terem informado corretamente às mães grávidas da possibilidade, por mais remota que fosse, de que o feto pudesse ter alguma anomalia, o que as conduziria ao aborto preventivo. No famoso caso Pérrouche, a mãe de um rapaz retardado acionou o médico que devia ter previsto a extensão do retardo, porque se soubesse retrospectivamente a mãe preferiria que o seu rebento nem tivesse nascido. Há 30 anos a medicina dos EUA era consensualmente festejada, e o que fazia ou recomendava servia de referência e modelo aos mais exigentes manuais de conduta técnica e ética, copiados e difundidas com religiosidade pelos médicos jovens egressos da escola americana. Quando a judicialização inundou a prática médica ianque, a transferência daqueles rígidos ditames anglo-saxões para a nossa população latina, revelou-se francamente agressiva e cruel.

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O compartilhamento com o paciente de todas as decisões técnicas do tratamento, ingenuamente interpretado como um avanço respeitoso na conquista da soberania plena do indivíduo, nada mais era do que uma atitude defensiva do médico pressionado pelos advogados do seguro profissional, a evitar o protagonismo e com isto reduzir o risco de serem processados. Ou, em outras palavras, omitindo-se de ser médico, deve haver menos risco de ser demandado porque, afinal, ele nem o foi. O desfecho de tudo o que é insano, não tem limites. Depois do esperado enrijecimento da relação médico paciente, a indústria da judicialização não para de crescer, agravada por algumas sentenças ensandecidas: recentemente um juiz americano deu ganho de causa a um paciente que acionou seu cirurgião porque removeu um tumor de bexiga encontrado fortuitamente durante uma operação para tratar de um cálculo encravado no ureter. Quando saiu do hospital parecia feliz e agradecido. Tempos depois, a gratidão (geralmente frágil) cedeu lugar à ganância (sempre poderosa) e o paciente processou o médico porque gostaria de ter sido consultado sobre a retirada do tumor, que afinal era uma propriedade dele e, portanto, com direito de dar-lhe o destino que lhe aprouvesse. Tão maluca quanto a reivindicação, foi a decisão judicial, que deu ganho de causa ao paciente. Ao incauto doutor, afeito a resolver problemas, e agora impossibilitado de devolver-lhe o tumor, só lhe restava ressarcir o paciente por danos morais, visto que o pobre infeliz fora privado, por pura precipitação médica, de um câncer, pelo qual, aparentemente, nutria grande afeto e estima. Neste ritmo, cada vez mais se dará razão a, Einstein quando reconheceu que, “duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana”. Mas em relação ao universo, ele ainda não tinha certeza absoluta!

JJ Camargo Membro da SBCT - RS


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Formação Médica e a Síndrome de Burnout

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er médico requer uma extenuante, penosa, excludente, exclusiva e perseverante dedicação das pessoas que se aventuram a trilhar esse longo caminho. Frequentemente, por isso mesmo, o sonho termina em satisfação pessoal e, por extensão, familiar. Mas, quando esse indivíduo, mesmo não abdicando de seu sonho, não consegue suportar essa longa trajetória? A primeira e consequente resposta a essa indagação é que esse esforço não faz sentido e não tem respaldo. Nem para o sonhador estudante, nem muito menos para os professores envolvidos ativamente nesse processo de aquisição de habilidades técnico-científicas em que consiste essa formação especializada. A formação médica é um processo complexo na aquisição de competências que exige uma estreita interação do indivíduo com o ambiente. Seja esse ambiente uma sala de aula convencional ou um complexo cenário hospitalar. No processo de ensino/aprendizado cada vez mais se tem dado importância para a aplicação do cenário prático participativo, onde a interação com pessoas doentes é intensa. Isso foi consequência aos estudos sobre a Teoria do Conhecimento onde observa-se que não mais de 15% das informações passadas em uma sala de aula teórica, as afamadas e históricas aulas magnas, são assimiladas pelo aluno. A formação médica tem início durante a graduação, tendo uma duração de 6 anos. A última reforma curricular definiu que o internato, período do curso em que o estudante assume atividades dentro do hospital em tempo integral, tenha dois anos de duração. A residência médica, um tipo de pós-graduação, é uma forma de consolidação da formação médica e é considerada o padrão ouro de qualidade em todo esse longo processo. Nela espera-se que haja um acréscimo das habilidades, da autoconfiança e da segurança para o profissional médico que está prestes a exercer a medicina. Mas esses benefícios estão vinculados a uma época estressante, pois há consideráveis mudanças no estilo e no ritmo de vida do jovem médico. Quando algum fator, agente ou condições específicas são encontradas no cenário de trabalho ou ensino, fica constituído que o ambiente pode agir como fator etiológico para as chamadas doenças profissionais. A síndrome do esgotamento, ou, usando o anglicismo, a síndrome de Burnout (SB) está, infeliz e indelevelmente, cada vez mais presente na história da formação médica. Seja em nível da graduação ou na pós-graduação, particularmente

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na residência médica. Entre os médicos residentes os distúrbios comportamentais e orgânicos, mais frequentemente vistos, são sonolência diurna, depressão e a SB. A nível internacional foi observada uma prevalência, entre profissionais médicos, enfermeiros e residentes médicos, que varia entre 50 a 74%. No Brasil, em um estudo publicado em 2007 na Revista Brasileira de Educação Médica, esse índice foi de 78,4% entre médicos residentes de várias especialidades. Ou seja, os números por si só já demonstram o tamanho do problema e é, certamente, um prelúdio de que alguma atitude deva ser tomada. Pouco compreensível é a constatação que, mesmo sendo um forte indício de um potencial risco à integridade dos médicos, é um assunto pouco estudado. Desde que o termo foi utilizado por Freudenberger, em 1974, esta condição está intimamente relacionada ao ambiente do trabalho e tem se tornado presente em uma forma crescente na rotina do médico. Essa associação está relacionada ao nosso frequente estilo de vida. Onde o médico é submetido constantemente a alta carga de trabalho, acumulações de funções, baixos rendimentos, um ambiente no trabalho estressante e diferentes locais de trabalho. O pior é que, mesmo ocupando grande parte de sua rotina diária, esse trabalho nem sempre é fonte de satisfação. Conceitualmente, a SB, ou o esgotamento, consiste em um quadro de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. É o ambiente de trabalho, expondo às pessoas frequente e intensamente aos vários fatores de estresse, que é considerado seu maior agente causal. Portanto, da mesma maneira que quando se fala em eventos adversos nos hospitais, o foco de uma ação mais perspicaz, eficaz e, consequentemente, produtiva para a mudança dessa realidade deve ser focada no ambiente. Logicamente, como muitas doenças, trata-se de um processo multifatorial e o indivíduo precisa ser cuidadosamente visto. “Nós precisamos proteger os profissionais que protegem nossos pacientes”. Com essa frase o Dr. Timothy Brigham, cientista comportamental e vice-presidente da ACGME, sigla para o Conselho de Acreditação para Graduação Médica Americana, conduz uma entrevista que está disponível no site da ACGME. De uma forma inusitada o Dr. Brigham reforça que é objetivo e foco do Conselho que os programas de residência médica e pós-graduação promovam um bem-estar não apenas para os pacientes, mas também para os médicos que neles trabalham.


Para que esses programas recebam a acreditação, por parte da ACGME, são exigidas condições para que os médicos em treinamento tenham acesso a alguns cuidados para sua própria saúde. Aconselhamento confidencial, programas educativos sobre fadiga e mitigação, associados às politicas de monitoração de assédio ou qualquer forma de maus tratos, são ações que têm que ser disponibilizadas para todos os médicos em seu ambiente de trabalho. O cientista comportamental, lembra ainda, que o ambiente deva ser apto a resolver as queixas em uma abordagem segura e não punitiva. Lembra que, fazendo uma analise histórica dessa importante questão, essa abordagem tem que ser bifocal. Trabalhar tanto o ambiente como as pessoas para a construção de um ambiente de respeito e responsabilidade, esse é o objetivo a ser atingindo. O ganho é linear, médicos sadios têm maiores condições de tratar melhor seus pacientes. Portanto, é muito lógico e racional que em um ambiente, o hospital, destinado ao restabelecimento da saúde não seja promotor de doença. Um interessante e bem desenhado estudo, realizado pela Universidade de Yale - New Haven, Connecticut, USA, focou o impacto do programa de internato em medicina nos estudantes. Através de um questionário, os alunos do 1º ano do internato daquela Universidade foram avaliados antes do início do programa, para verificar a prevalência da SB. Esse índice foi, nesse 1º momento, de 1,5%. Oito meses depois, para surpresa dos pesquisadores, os mesmos alunos apresentaram um índice de 18,9%. Outros fatos foram também aferidos nesses mesmo período de tempo. A prevalência de elevada exaustão emocional saltou de 45,5% para 84,9%. Houve, similarmente, um sensível aumento na prevalência da despersonalização desses internos. Dados alarmantes que demostram o quanto ficam ou estão vulneráveis esses alunos durante um importante momento do seu processo de aprendizado do curso médico. Sem uma visão crítica que leve a uma percepção adequada dessa realidade nunca poderemos construir políticas que possam trabalhar para a prevenção desse problema.

É premente que esse assunto seja tratado, de forma transparente e científica, por nossa comunidade científica. Todos os conhecidos fatores causais devem ser abordados, um olhar mais criterioso e personalizado sobre o processo ensino/aprendizado deve ser considerado. A saúde física e a mental dos nossos estudantes devem estar em sintonia com os preceitos pedagógicos das nossas instituições de ensino, seja na graduação ou pós-graduação. Melhor desempenho escolar, maior exigência com elas mesmas, maior propensão a sofrer pressões, pouca tolerância com as falhas, sentimento de culpa pelo que não sabe, sentimento de paralisia pelo medo de errar, são características que poderiam ser consideradas adequadas em uma pessoa que está sendo entrevistada para admissão de qualquer cargo. No entanto, essas são justamente algumas características identificadas como parte do perfil do aluno de medicina mais propenso a cometer o suicídio. Provavelmente, a velocidade que o nosso mundo altamente competitivo impõe a nossa rotina seja responsável pela deterioração da relação professor/aluno. Seja ele na graduação ou na residência médica. O mesmo nefasto efeito tem sido visto na relação médico/paciente. Apesar da medicina estar embebida de alta tecnologia, tornando-se assim muito mais resolutiva e eficaz, há uma inquestionável e nítida insatisfação dos pacientes com a atenção pessoal recebida por seus médicos. Certamente, se houver um olhar mais aguçado, personalizado e humanizado para esses jovens estudantes, ou médicos residentes, muitos desses fatores causais serão precocemente identificados. Dessa forma uma ação preventiva poderá ser tomada e essa triste estatística ser atenuada. Está mais do que na hora de perceber e assumir que o nosso Setembro Amarelo não se restrinja apenas a ação mensal e, no entanto, seja um sinal vermelho para chamar atenção de toda a nossa classe acadêmica. Que independente da Baleia ser Azul temos mais que 13 Razões para tratar desse assunto de forma prioritária e em bases científicas. Carlos Alberto A. Araújo

Vice-presidente da SBCT - RN

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Tabagismo e Câncer de pulmão: Por onde andaram nossos paladinos?

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A propósito [meu câncer] é uma célula cancerosa escamosa... Evarts Graham, 1957

abagismo e homem estão juntos desde quando se cheirava rapé na cordilheira dos Andes, século XVI. A relação com o câncer de pulmão só foi desconfiada no século XX, após a industrialização do tabaco. Foram 400 anos até se vislumbrar cura, que chegou pela arte de Evarts Graham (EUA, 1933) ao extirpar o pulmão do obstetra James Gilmore. Desde então a cirurgia segue como o obelisco da cura do câncer de pulmão, ainda que a químio e radioterapia tenham tido avanços escalonados. Por aqui o livro “Câncer do Pulmão”, escrito por Jesse Teixeira há mais de 45 anos é, decerto, a primeira densa coletânea sobre o tema. Narra desde as primeiras autopsias (1911) realizadas por Gaspar Viana, no então instituto Osvaldo Cruz, assim como a primeira ressecção pulmonar, dez anos após a de Graham. Amorim, o paladino brasileiro, relatou que se tratava de um rabdomiossarcoma. Foi lobectomia superior esquerda por técnica de ligadura em massa – tal Graham-, sob anestesia local. Depois vieram as séries publicadas por Paulino e Zerbini (1949), Botelho (1951) e o próprio Teixeira (1952). Porquanto cirurgiões abandonavam o torniquete para aprimorar a dissecção individual do hilo, do outro lado do Atlântico, noviços britânicos faziam ligação intuitiva entre fumo e câncer. Constatou-se aumento de 15 vezes, em 20 anos, na incidência da doença. O fardo pesava sobre gripe, névoa londrina, falta de luz solar, fumaça de carro, chaminé da indústria e todas as outras toxinas inaláveis, exceto o cigarro. Com parcos recursos pós-guerra, Bradford Hill, um estatístico famoso, e Richard Doll, médico com publicações modestas, foram agraciados com pouco mais de mil libras para descobrir o estopim do câncer pulmonar. Pelas terras do tio Sam, Ernst Wynder, estudante de medicina de St. louis, a mesma cidade de Graham, estudou um caso de câncer de pulmão e ficou encafifado. Entrincheirou-se na mesma hipótese e foi pedir recursos ao ministro da saúde dos EUA para pesquisa, mas levou patada: “Inútil esforço” foi a sentença.

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Wynder não se abateu e procurou Graham, pois era homem de prestígio e ainda havia comandado cirurgiões aliados na 2ª guerra. Graham desconfiava da relação, mas não assumia, pois era fumante. As paredes do Barnes Hospital cochicham que ele tentou, mesmo-mesmo, foi livrar-se, vez por toda, daquele neófito e seguir dando baforadas em paz. Assim como nos EUA, o duo londrino não conseguia despertar interesse entre seus pares. As duplas, num sinergismo transoceânico de causar ondas de espanto, aplicaram o mesmo teste estatístico de caso-controle proposto pelos ingleses. Avaliaram 156 óbitos em 20 hospitais e o resultado foi fumegante: tabaco. Doll, fumante inveterado, à medida que analisava fichas via a chama de seu vício se apagando. Acabou abandonando o cigarro no meio da pesquisa. Nos EUA, com resultados semelhantes, viu-se o poderoso Evarts Graham também abandonar o hábito e ainda posar para comerciais esmagando maços de cigarros. Em 1957, já com 74 anos, Graham caiu doente e, o que seria gripe mal curada, quando se realizou chapa do tórax revelou-se tumor que obstruía os brônquios e pulmões crivados de metástases. Ocultou a identidade do exame e mostrou a um colega: “tumor inoperável e sem remédio”, disse. Graham respondeu calmamente: “o tumor é meu”. Gilmore, aquele médico com o pulmão extirpado por Graham 24 anos antes, acompanhou o sepultamento de seu heroi. Suas lágrimas, borrifadas a cada suspiro de seu pulmão remanescente, encharcaram o chão, enxaguava a dor da perda para revelar o maior desenredo da cirurRoger Normando gia torácica contemporânea. Membro da SBCT - PA


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Editorial FFM - Adversidades / Vida Acadêmica

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esde há muito optar pela vida acadêmica constitui uma vocação intelectual dos integrantes que construíram o prestígio das instituições como o de si mesmos. Mas esta afirmação não exclui dissabores de variadas naturezas onde esforço e superação das dificuldades são parte do que admiramos nos grandes acadêmicos que demonstram elevadas qualidades humanas como bom caráter, perseverança e determinação entre muitas outras. Desempenhar uma carreira acadêmica com sucesso sem passar por dificuldades, vicissitudes e hercúlea dedicação ética é pura utopia (T. More). Cenário que necessita ser, com veracidade, exposto aos jovens talentos que tomam esta delicada decisão. É imperioso que os líderes acadêmicos incontestes comprovem que não há espaço na universidade para cultivar a autossatisfação que leva à estagnação do conhecimento e que fere o lema de sempre sermos insaciáveis no aprender e incansáveis na tríade da pesquisa, da extensão não esquecendo que no ensino o melhor professor é o eterno aluno. Porém, internacionalmente é consenso que o destacado valor institucional das melhores universidades está muito centrado na qualidade e impacto da sua pesquisa. Esta por sua vez enriquece o ensino e o conhecimento científico refutando a presunção, o plágio, a desonestidade e valorizando o pesquisador correto, criativo e modesto que afirma ser a falta de união entre a teoria fundamentada e a prática moderna um mero palavreado pretencioso de pura tagarelice. Reiteramos que os grandes êxitos não são para se vangloriar e viver com arrogância; é a modéstia que contribui para o autêntico progresso desconsiderando-se qualquer tipo de atraso. Infelizmente não são tão raros os acadêmicos despossuídos do sentido de responsabilidade, parasitas do sistema, adeptos das típicas ações inúteis, pouquíssimo produtivos e que “exigem” também serem reconhecidos e bem remunerados! São críticos carentes de fundamentos, não analíticos, nada convincentes e dogmáticos

rústicos quanto aos critérios decididos pelos colegiados internacionais e não poupam ataques pessoais mesmo quando não nominam apocrifamente seus alvos. Pior ainda, quando uma minoria, pela política, bajulação e oportunismo consegue superar pessoas mais competentes comprometendo valores, princípios e méritos da carreira. Estas agudas considerações também são aplicadas a alguns dirigentes das instituições que ocupam cargos hierarquizados pelos conselhos internos. É frequente serem, por princípio, questionados na comunidade acadêmica pelas suas atribuições burocráticas (muitas legais) com conduta petulante, vaidosa, déspota, egoísta, arbitrária, esnobe, pretenciosa, autoritária, tirânica, intolerante, sectária, etc. Portanto, são míopes ou mesmo cegos perante seus próprios defeitos e convencidos de serem o que não são! Ou seja, não são “postos executivos” apenas honorários pois demandam experiência que advém de contínuas oportunidades de exercitar (praticar) com eficácia e probidade a missão de administrar adequadamente a instituição favorecendo as condições necessárias para os que desempenham regularmente as tarefas acadêmicas. Só assim todos serão felizes em suas atividades pois a felicidade é uma maneira de ser e está em sintonia com a virtude de fazê-lo feliz o que é diferente de fazê-lo bom, bem como torná-lo astuto não é torná-lo virtuoso e muito menos vencedor com a infelicidade alheia. O título deste editorial foi provocativo ao falar, como outros, em adversidades na vida acadêmica, mas como conclusão inquestionável devemos declarar que uma brilhante carreira acadêmica será sempre premiada pela autonomia de gerar, possuir e transmitir o conhecimento com privilegiado desenvolvimento intelectual.

Prof.Dr. Flávio Fava de Moraes

Diretor Geral da FFM, Professor Emérito do Instituto de Ciências Biomédicas – USP, Foi: Reitor da USP, Diretor Científico da FAPESP, Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Vice-Presidente da Associação Internacional das Universidades (IAU – UNESCO)

Texto publicado no JORNAL DA FFM (FUNDAÇÃO FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) Edição nº 92 - Jul/ago 2017

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Tabagismo e Câncer de pulmão: E se vc parasse de fumar...

O

tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Estima-se que 25 a 30% da população mundial adulta, isto é, 1,3 bilhão de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. Todos os anos, 6 milhões de pessoas morrem em decorrência do tabagismo, o que corresponde a mais de 15 mil mortes por dia. Caso as atuais tendências de expansão do consumo de cigarros sejam mantidas, esses números aumentarão para 10 milhões de mortes anuais por volta do ano 2030, sendo metade delas em indivíduos em idade produtiva (entre 35 e 69 anos) (WHO, 2003). Causas O tabagismo causa dependência primeiramente devido a nicotina, a substância psicoativa presente na fumaça do cigarro. Além da dependência física causada pela nicotina ainda temos a dependência comportamental que se caracteriza pela rotina associada ao uso do tabaco criada pelo fumante. Ao ser inalada a nicotina se liga aos receptores nicotínicos cerebrais localizados na região chamada de sistema de recompensa cerebral (SRC) que são ativados liberando a dopamina, neurotransmissor que causa sensações de prazer, satisfação, melhora da atenção, aprendizado, memória. Estes receptores são chamados alfa4beta2. Os efeitos da nicotina desaparecem ou diminuem após algumas horas de seu consumo e os sintomas desagradáveis - que compõem a Síndrome de Abstinência - surgem, levando ao ciclo da dependência (se fumo me sinto bem, se não fumo me sinto mal). O uso crônico da nicotina leva a uma dessensibilização destes receptores, que por um tempo não respondem à dose de nicotina inalada levando o fumante aumentar o número de cigarros fumados para atingir o mesmo efeito. O câncer de pulmão é o terceiro tipo de câncer mais prevalente no mundo, atrás de mama e de próstata. Porém, é o que mais provoca mortes por câncer, cerca de 1,5 milhão de óbitos a cada ano, de acordo com dados mais recentes da OMS. Em relação ao

Brasil, números do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que entre os homens o câncer de pulmão é o segundo mais comum e a principal causa de morte por câncer. Já entre as mulheres esse tipo de tumor aparece como o quinto mais frequente e o segundo tipo de tumor que mais mata, ficando atrás apenas do câncer de mama. Em entrevista, Dr. Luiz Carlos Corrêa da Silva explica a relação entre câncer de pulmão e tabagismo. Dr. Luiz Carlos é pneumologista do Pavilhão Pereira Filho - Santa Casa de Porto Alegre (SCPA), colaborador de Comissões e Programas de Controle do Tabagismo (SBPT, AMB, ACT, SCPA), titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Jornal SBCT: Qual a relação da exposição ambiental à fumaça do cigarro, o fumo passivo, e o risco de câncer de pulmão? Luiz Carlos Corrêa da Silva: Desde 1984, quando Hirayama publicou sua observação de que mulheres japonesas não fumantes casadas com fumantes tinham três vezes mais chance de ter câncer de pulmão, em comparação com não fumantes casadas com não fumantes, surgiram muitas publicações documentando esta relação. Isto é fácil de entender, uma vez que a fumaça ambiental do tabaco contém as mesmas substâncias cancerígenas que a fumaça tragada diretamente pelo fumante. Isto torna compreensível o fato de 10 a 20 por cento dos portadores de câncer de pulmão declararem "nunca ter fumado". Evidentemente, muitos destes foram fumantes passivos e isto não foi reconhecido e não documentado. Jornal da SBCT: Houve realmente mudança no tipo histológico mais frequente do câncer de pulmão? L.C.C.S.: Os dados atuais mostram que o adenocarcinoma avançou na prevalência. Não sabemos ao certo se isto se deve mais aos avanços na detecção precoce, através dos rastreamentos pelas técnicas tomográficas computadorizadas, ou se realmente os tipos histológicos mudaram sua frequência relativa por diversos motivos. A queda da prevalência do tabagismo no Brasil e nos países mais desenvolvidos também pode explicar, pelo menos parcialmente, esta mudança de prevalência relativa.

“Ajudar uma pessoa a parar de fumar é salvar uma vida!”

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Dr. Luiz Carlos Corrêa da Silva

Jornal da SBCT: Em quais aspectos as técnicas cirúrgicas contribuem no tratamento do câncer de pulmão? L.C.C.S.: A cirurgia torácica tem avançado em diversos sentidos. Sou um pneumologista clínico e percebo a grande contribuição dos cirurgiões torácicos nesta área. O respaldo das avaliações pré-operatórias pelo uso adequado das diversas técnicas tomográficas, do PET-CT, dos marcadores biológicos, e outras, auxiliam o clínico, o cirurgião e o oncologista torácicos nas suas escolhas. As técnicas de vídeo também permitiram grandes avanços, pois permitem procedimentos diagnósticos e terapêuticos mais restritos e com menor índice de complicações. Jornal da SBCT: Muitas campanhas, legislações e resgate de hábitos saudáveis ganham espaço nas diversas mídias e têm influenciado positivamente na vida da população mundial. No consultório, o senhor percebe avanços reais no combate ao tabagismo? L.C.C.S.: No Brasil, nas últimas três décadas, houve uma queda de prevalência do tabagismo entre adultos de 35 para 11%, sem dúvida uma grande conquista, e nos próximos anos haverá tendência de redução ainda maior pelo avanço das leis e medidas antifumo estabelecidas pelos órgãos controladores (ANVISA e

outros). Com isto, a prevalência das doenças tabaco relacionadas tenderá a diminuir, mas é preciso ter cautela com outros fatores de risco ainda não reconhecidos ou pouco entendidos. A prevenção, baseada na cessação do tabagismo e controle de outros fatores cancerígenos, e o diagnóstico precoce por técnicas de imagem e marcadores tumorais, ainda em estudo, serão os fundamentos da atenção no câncer do pulmão nos próximos anos. Chamamos a atenção de que é necessária muita vigilância e atenção continuada para as manobras da indústria do tabaco, pois para obter lucros sempre cria novas formas de vender produtos que tornem as pessoas dependentes, como é o caso de cigarros eletrônicos, narguilé e tabaco aquecido. Produtos estes que causam dependência e levam a danos ainda não bem conhecidos por falta de ensaios clínicos adequados. Os setores político e jurídico precisam agir com mais intensidade na defesa da saúde e da vida da população brasileira. O tabagismo é uma doença que pode ser tratada, sempre, e isto pode ser feito em qualquer idade, pois sempre vale a pena. Este conceito precisa ser muito bem incorporado pelos profissionais da saúde, e precisa traduzir-se por uma atitude intervencionista por parte dos médicos, particularmente pneumologistas e cirurgiões torácicos. Ajudar uma pessoa a parar de fumar é salvar uma vida!

Por Cinthya Brandão

As estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fumantes apresentam um risco 30 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão 5 vezes maior de sofrer infarto 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral.

Se parar de fumar agora... após 20 minutos sua pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal, após 2 horas não há mais nicotina no seu sangue após 8 horas o nível de oxigênio no sangue se normaliza após 2 dias seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor após 3 semanas a respiração fica mais fácil e a circulação sanguínea melhora após 10 anos o risco de sofrer infarto do coração será igual ao de quem nunca fumou, e o risco de desenvolver câncer de pulmão cai à metade após 20 anos o risco de desenvolver câncer de pulmão será 2 a 3 vezes maior em relação a quem nunca fumou. 11


Repórter Forte

A cirurgia torácica no oeste Mineiro:

uma Cirurgiã Bandeirante! A

visita à Serra da Borborema intensificou ainda mais a necessidade de dar seguimento ao projeto Repórter Brasil e eleger um novo local onde houvesse um cirurgião torácico e uma história que fossem objeto para uma nova reportagem. Os anseios de Dr. Vicente Forte estavam ainda mais presentes. O pensamento, quase na forma de devaneio, foi em busca de algum lugar que não fosse dos históricos, reconhecidos e facilmente lembrados pela grande maioria dos cirurgiões torácicos da nossa Sociedade. Os ditos grandes centros formadores de opinião. Fazendo um paralelo com um turista que estivesse decidido a conhecer a Itália, que logicamente teria lembrado de Roma, Milão ou Veneza como prováveis destinos, mas San Geminiano, na bela e bucólica Toscana, fazia mais sentido. Norteado pelo objetivo principal que nutre a existência dessa coluna em divulgar o exercício da cirurgia torácica brasileira, lembrei de Divinópolis! No entanto, Divinópolis, até então, fazia parte de um imaginário que estava associado a uma pequena cidade, do interior de Minas Gerais, onde havia um membro, na verdade uma de nossas poucas representantes do sexo feminino, exercendo a especialidade.

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Como chegar até a cidade? O que irei encontrar lá? Além da simpática e gastronômica recepção que seguramente teria, tudo era uma grande incerteza. Será que a cirurgia torácica, em sua plenitude e importância, realmente existia naquela pouco conhecida e distante cidade? Eis que, na mesma semana, as coincidências acontecem, recebi uma ligação não identificada cujo número tinha o prefixo 37. Estava estabelecida a conexão com o interior de Minas. “Vamos realizar um simpósio, coordenado pelo Instituto Dom de Oncologia, em Brumadinho, você aceitaria um convite para ser palestrante? “. Assim se iniciou o diálogo com Ana Paula Coimbra Israel. “O evento fará parte de uma programação teórico-prática de uma semana. As cirurgias serão realizadas pela técnica minimamente invasiva e ocorrerão no Hospital João de Deus aqui em Divinópolis. Teremos como instrutora para as cirurgias a Dra. Paula Ugalde da Universidade Laval de Quebec”, continuou ela detalhando carinhosa e orgulhosamente toda a programação científica. A muito bem-vinda coincidência teve um papel transformador nas


Fotos: Pedro Bargas persistentes incertezas que alimentavam minha ideia. A explicitação do conteúdo, dos palestrantes e de toda a logística que estariam envolvidas no evento, subitamente fez-me ter forte, sem nenhum trocadilho, convicção de que essa visita seria muito proveitosa. Prontamente o convite foi aceito e em contrapartida a pretensa visita foi anunciada. A partir da constatação do comum interesse, uma mistura de expectativa e mútua admiração logo ficou evidente. A programação teria dois locais e objetivos diferentes, porém complementares. Em Divinópolis toda uma programação cirúrgica com cirurgias ao vivo durante uma semana. Uma pausa seria dada por um dia, em Brumadinho, para uma imersão em oncologia torácica. Em uma composição multidisciplinar, oncologistas, patologista, radioterapeutas e cirurgiões torácicos, abordariam o diagnóstico, estadiamento e as diversas modalidades de tratamento do câncer de pulmão. Logo ficou evidente que haveria uma profícua simbiose nessa parceria. A distância de Natal para Divinópolis é, usando as estradas como trajeto, de 2.498 km. Logicamente que ela seria percorrida de avião, pelo menos até o aeroporto de Confins. Em seguida, a primeira parada seria em Brumadinho para a imersão em oncologia. O cenário foi o fantástico Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina. Emoldurados e inspirados pelos jardins projetados por Roberto Burle Marx, uma plateia multiprofissional desfrutou de apresentações

e discussões de extremo valor científico sobre câncer de pulmão. Uma grata e grande surpresa estava se confrontando com uma expectativa construída sem qualquer respaldo. Havia, de forma muito cristalina e científica, uma forte parceria entre a cirurgia torácica e a oncologia. Tudo no contexto mais atual e idealizado pelos grandes centros. Depois do inestimável e inesquecível banho de ciência, alguns cirurgiões do grupo tomaram a direção do oeste do Estado. Divinópolis estava para ser conhecida. Não foi um descobrimento. Essa ação foi obra e mérito de Ana Paula. A história da cirurgia torácica naquela cidade estava para ser desvendada e reportada. Descobri que uma brasiliense de nascimento e criação foi quem desbravou o oeste de Minas Gerais. Ana Paula Coimbra Israel, nascida em Brasília, há quase 45 anos, tem uma história peculiar e transformadora no exercício da cirurgia torácica no estado de Minas Gerais. Contrapondo-se ao movimento que frequente e contemporaneamente é visto, decorrente da preferência pelas capitais ou grandes cidades, principalmente do litoral, para o exercício da medicina, ela migrou da Pauliceia, em um movimento que se assemelhou ao de Fernão Dias, insurgiu-se adentro pelo oeste Mineiro e escolheu a cidade de Divinópolis como palco para exercício de uma cirurgia torácica moderna e transformadora para toda uma região. Uma ação que remete àquele movimento seminal, histórico e imprescindível para o desenvolvimento e desbravamento do interior do nosso país, que foi estabelecido pelos Bandeirantes no século XVII. 13


A história médica de Ana Paula teve início com a graduação em medicina pela Universidade Federal de Uberlândia/MG em 1997. Onde, também, fez residência em cirurgia geral de 1998 a 2000. Em janeiro de 2002 concluiu a residência médica em cirurgia torácica pela USP. Sofreu grande influência do professor Ribas, com quem trabalhou em São Paulo até o ano de 2003. Em janeiro de 2004, em uma decisão pouco comum, mudou-se para uma cidade conhecida como palco da moda mineira. Assim, e desde então, a cidade de Divinópolis, a Princesinha do Oeste, como é carinhosamente reconhecida, entrou no mapa da cirurgia torácica brasileira. Com uma população, pela estimativa do IBGE em 2017, de 234.937 habitantes, Divinópolis é o município mais populoso do Oeste Mineiro. No entanto, esses números não refletem a real influência que a cidade desempenha sobre toda uma região, atingindo diversos municípios menores que orbitam à cidade. Estimativas oficiais chegam a um universo aproximado de um milhão e duzentos mil pessoas, que de alguma forma a cidade influencia. A medicina, decerto, é um exemplo dessa abrangência que transcende os limites geográficos do município. A cidade é reconhecida como polo da moda do estado de Minas Gerais, devido à alta concentração de indústrias do ramo confeccionista e têxtil. Dois rios, Itapecerica e Pará, lhe dão vida e identidade. Sua origem, em forma de assentamento, se deu às margens deste rio, recebendo o nome de Paragem de Itapecerica e, posteriormente, Espírito Santo de Itapecerica. Demostrando a grande influência do rio sobre a região. Em 1922, com a emancipação, tornou-se cidade e recebeu o nome Divinópolis. Assim como a histórica ação do Bandeirante Fernão Dias, a presença de Ana Paula foi iconoclasta e transformadora para o exercício da medicina no oeste Mineiro. Particularmente, para satisfação desse Repórter e orgulho da nossa SBCT, e ainda mais expressiva para o nascimento da cirurgia torácica na cidade. Não foi, certamente, fácil para uma mulher desenvolver a cirurgia torácica em um ambiente onde, até então, pouco tinha ouvido falar da nossa especialidade e, consequentemente, de um cirurgião torácico! “Bom dia, meu nome é Ana Paula, cheguei recentemente na cidade e sou cirurgiã torácica”. Cirurgiã de quê? Foi a pergunta que ela mais ouviu quando foi se apresentar aos gestores dos hospitais da cidade. Isso, definitivamente, não a intimidou ou foi um atenuante para suas intenções de se estabelecer naquela localidade. Com trabalho árduo e de qualidade, Divinópolis passou a ter, irremediavelmente, na sua rotina médica o exercício da cirurgia torácica plena e eficaz. Em razoável e consequente resultado, como aconteceu na ação do Bandeirante Fernão Dias, a transformação da realidade possibilitou a visita de outros cirurgiões que, a convite, foram a Divinópolis. Uma dessas visitas gerou história e fatos pouco críveis para nosso mundo urbano. Segue-se um breve relato de uma delas, intitulada: Ana, Terra e a Onça! Ricardo Terra, professor livre docente-livre da USP, esteve em Divinópolis para uma ação de preceptoria. Após um dia inteiro de atividades no centro cirúrgico, Ricardo foi, carinhosamente, levado para um jantar familiar e tipicamente Mineiro. Aquilo que podemos chamar de comida caseira e da roça. No cardápio, certamente, panturrilha de porco, torresmos e feijão 14

tipicamente Mineiro. Regado, desde a entrada, com cervejas artesanais da Serra do Curral. IPA, Weiss, Pilsen e as cervejas escuras com retro gosto de chocolate e canela, fizeram parte da degustação. O que, obviamente para quem lembra das características faciais do convidado, tornou ainda mais rutilante as maçãs de Terra. De sobremesa, com a fartura da mesa Mineira, foi servido o que de mais tradicional se tem da região: queijo de Minas, doce de leite e goiabada cascão. A conversa era muito boa e, consequentemente, estendeu-se noite a dentro e a madrugada se aproximava. De repente, para surpresa do convidado, a anfitriã, após a constatação do avançado da hora, levantou-se e passou a fechar as portas e janelas da casa. “O que está acontecendo? Não está tão frio assim! “, perguntou Terra. “É a onça, meu amigo! “, exclamou Ana Paula. Um farto sorriso, auxiliado pelas iguarias provenientes da fermentação da cevada, lúpulo e trigo da Serra do Curral, banhou a face pletórica de Terra. “É verdade! “, tentava convencer a anfitriã. “Ela, a onça, matou um borrego e um bezerro essa semana aqui na nossa propriedade. A onça, desde a semana passada, está nas redondezas e é tarde da noite que ela costuma atacar”. O farto e rutilante sorriso de Terra foi por água abaixo e transformou-se em olhar de desespero. “Então, não sairei daqui hoje à noite”, teria dito o urbano paulistano. Reza a lenda que Terra só deixou a propriedade após os primeiros raios de sol da manhã seguinte. Cheguei a Divinópolis, vindo de Brumadinho e ainda extasiado pelo que tinha visto em Iontim, no final do dia. Uma pequena caminhada pelo centro da cidade, acompanhado pela preceptora canadense, em busca de um lugar para o jantar rendeu a degustação de um inesquecível risoto de amoras. Uma globalização, de certa forma muito bem-vinda, da cozinha Mineira. Na manhã do dia seguinte fomos todos ao Hospital São João de Deus, na rua do Cobre. O endereço retrata a influência da mineração na vida da cidade. Mas o foco, por dois dias, seria observar a realidade da cirurgia torácica na cidade e a rotina cirúrgica da anfitriã. Confesso que havia uma ansiedade e receio que não houvesse comunhão com a qualidade científica do que tinha sido visto no encontro multidisciplinar de oncologia. A apresentação da Dra. Vera Capelozzi ainda ressoava na minha mente. Dois dias de imersão dentro do referido hospital colocaram por terra, não sendo uma referência ao aqui citado livre-docente, toda e qualquer dúvida do que acontecia na cidade do Divino. Observei uma equipe bem integrada, um hospital com uma estrutura de suporte adequada e, o mais importante, o exercício de uma cirurgia torácica de alto padrão. Ana Paula e Lucas Fragoso compõe uma equipe bem afinada e, principalmente, motivada para o exercício da cirurgia torácica moderna, resolutiva e minimamente invasiva. A discussão de todos os casos cirúrgicos nesses dois dias foi um retrato fiel e inquestionável de que a oncologia torácica era feita com responsabilidade e respaldo científico. Havia, sempre, uma referência a uma prévia discussão com a oncologia clínica e que o estadiamento, clínico e cirúrgico, tinham sido conduzidos conformes os protocolos estabelecidos pelas Sociedades internacionais. Demonstrando que havia uma plena e perfeita integração entre as especialidades. A equipe da oncologia é representada pelas Dras. Mônica Toledo, Aline Chaves e Angélica Rodrigues. Essa parceria produtiva tinha rendido o encontro em Iontim, mas, naquele momento, estava claro que tinha uma aplicação prática na condução dos pacientes. O tratamento, portanto, era multidisciplinar. Benefício claro para toda uma população do oeste Mineiro. Orgulho nosso, enquanto Sociedade.


Nesses quatro dias de visita ao interior Mineiro ficou evidente que a cirurgia torácica está sendo muito bem exercida e representada na cidade de Divinópolis. Lembrei do ditado que diz: “uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco”. Portanto, a SBCT é forte porque é constituída por membros como Ana Paula Coimbra Israel. Saber que longe dos centros urbanos, onde onças e tamanduás bandeiras fazem parte da realidade do cotidiano das pessoas, a cirurgia torácica é praticada com dedicação, com comprometimento pessoal e rigor científico, fez desse Repórter um personagem ainda mais Forte, cheio de orgulho e certeza que nossa Sociedade e, principalmente, seus membros devem se orgulhar do que estamos construindo e do que somos. À Ana Paula fica um registro de agradecimento dessa Sociedade e a lembrança irrevogável de que essa combinação de trabalho árduo com qualidade leva, irremediavelmente, ao reconhecimento e sucesso. Gratificada fica toda nossa Sociedade por ter membros como você, que nos retroalimenta com sua história e serve de referência às novas gerações.

Instituto Inhotim. Brumadinho/MG

Ao final, os escopos científicos dessa ação foram substituídos por um sentimento nostálgico estribado nos propósitos de um Fernão Dias da modernidade. Assim como o famoso bandeirante foi atraído pela lenda das esmeraldas de Sabarabuçu, fiquei cativado pelo que encontrei na cidade do Divino. Estou convicto que em Divinópolis há uma real pedra preciosa, que se encontra em avançado processo de auto lapidação. Uma esmeralda chamada Ana Paula. “Um bom vinho é poesia engarrafada“. Com essa frase de Robert Louis Stevenson, escrita na embalagem de um excelente zinfandel californiano que me foi Carlos Alberto A. Araújo presenteado, nos despeVice-presidente da SBCT - RN dimos.

Hospital São João de Deus. Divinópolis/MG

Dra. Ana Paula Coimbra Israel. Centro Cirúrgico do Hospital São João de Deus. Divinópolis/MG

Abertura do Simpósio no Instituto Iontim. Brumadinho/MG Dras. Ana Paula e Mônica Toledo

Consultório no Hospital São João de Deus. Divinópois/MG

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A teoria do solo e da semente aplicada ao ensino da Cirurgia Torácica

U

ma das possíveis explicações para a preferencial localização da doença metastática em diferentes órgãos e tecidos do nosso corpo é importada dos conhecimentos da agricultura. Cada planta ou cultura, através de sua semente, tem sua capacidade germinativa expressada pela relação entre suas necessidades e o que o solo pode lhe oferecer de nutrientes. Uma semente germinará dependendo das condições do solo onde foi plantada. Assim seria o "florescer" das metástases. Para cada tipo de célula cancerígena, a semente, haveria um órgão ou tecidos, o solo, que teriam as condições ideais para a proliferação celular. Só assim a doença metastática se manifestaria. Quebec, a cidade, tem uma forte e histórica, e até traumática, influência francesa. Ali, provavelmente, decorrente de suas ações colonizadoras, se encontra a expressão mais arraigada da rivalidade entre dois antigos países dominantes.

Quebec – downtown É plenamente visível, legível e, porque não, respirável a resistência 16

entre os quebequenses em aceitar as manifestações da cultura ou da língua inglesa aos seus visitantes menos avisados. Lá é o único lugar do mundo francófono, Paris inclusa, onde na placa de sinalização de trânsito que indica a obrigatoriedade de o carro parar em um cruzamento não se ler STOP. ARRÊT é o que se ver e rigorosamente cumpre-se. Outro sinal dessa rivalidade também está ligado ao trânsito. Nas placas dos carros, além da óbvia função identificadora alfanumérica delas, está bem à vista uma frase, decerto em francês: Je me souviens. Lembrei-me das frases das placas nos carros que circulam nos EEUU. Todas têm um significado histórico ou que remonta uma característica daquele Estado. Sunshine state para a Flórida. Bem óbvio e razoável. First in Flying da Carolina do Norte. Essa é dura de aceitar entre nós brasileiros. Mas essa lembrança me fez concluir, ou pelo menos suspeitar, que algum significado histórico ou cultural àquela coloquial frase haveria de ter. O taxista indiano, em Quebec, nem sabia que carregava, há pelo menos 12 anos, uma frase na traseira do seu veículo. A motivação da sua existência também lhe era desconhecida e, tão pouco, lhe interessava saber. Não me fiz de vencido.


Não posso deixar de saber do que tanto eles fazem questão de não esquecer. Até que consegui a informação para o real, e subliminar, significado do que eles tanto se lembravam: "para nós o que não vamos esquecer e, portando, vamos manter sempre vivo na nossa memória é o que os ingleses fizeram por aqui". Apesar de ter tido uma pequena, mas contundente, amostra do que houve às margens do rio São Lourenço entre franceses e ingleses, quando visitei um museu em Quebec, aquilo realmente foi um choque. Mas a motivação desse repórter por opção e cirurgião torácico de profissão, e consequentemente da reportagem, não tem fronteiras e nem rivalidade, tão pouco. Pelo contrário. Vem mostrar a influência que a cirurgia torácica Canadense, iniciada pelas mãos e perpetuada no brilhantismo de Griffith Pearson, teve para o resto do mundo. Inúmeros, influentes e competentes cirurgiões torácicos nasceram nas dependências do Toronto General Hospital (TGH). Seus filhos mais importantes ficaram conhecidos como Pearson's boys. Um dos mais brilhantes foi Jean Deslauriers (JD).

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Uma merecida e honrada aposentadoria! Gentleman:

A

tão bem conhecida palavra do vocabulário da língua Inglesa, aqui e nessa edição está se referindo àquele médico que por décadas atuou como cirurgião torácico em Recife, a conhecida Veneza Brasileira. Retrata aqui sua cultura, educação, conduta e grande delicadeza no trato com seus pares. MÁRIO GESTEIRA COSTA, essa é a tradução literal, no dicionário da Cirurgia Torácica Brasileira, para o anglicismo. Sua trajetória também está em sintonia com o adjetivo que lhe é atribuído. Se não vejamos: Graduou-se em 1966 no ensino secundário pelo Oakwood Highschool, em Dayton, Ohio/USA. Tornou-se médico em Recife/PE, no ano de 1973, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Realizou sua residência médica, de 1974 a 1979, em cirurgia geral no Bronx Municipal Hospital Center, Albert Einstein College of Medicine Affiliated Hospitals, New York/USA. Em 1982 obteve o título de especialista em cirurgia geral pelo American Board of Surgery/USA e em cirurgia cardiotorácica pelo American Board of Thoracic Surgery/USA. Em 1994 esteve presente na histórica secção de fundação da nossa SBCT. Tornou-se assim seu membro e fundador.

Não esquecendo suas raízes e sob as aragens da bela Maceió, apesar do perfil cosmopolita, deu brilhantismo à fundação da Sociedade Norte e Nordeste de Cirurgia Torácica. Neste mesmo ano, 1998, recebeu o título de especialista pela SBCT. 18

Tornou-se, em 2005, membro da International Society on Sympathetic Surgery. Em 2007 desempenhou uma memorável tarefa em Porto de Galinhas/PE. Ali tornou-se nosso anfitrião e presidiu o XV congresso da SBCT. Foi o Tórax 2007. De 2009 a 2011 foi um peregrino da SBCT. Trilhou e deixou estabelecidos os caminhos da SBCT no desconhecido mundo além das nossas fronteiras geográficas. Abriu as portas para nossa sociedade como secretário de assuntos internacionais. De 2011 a 2013 desempenhou a ação como secretário geral da SBCT. Seu exercício profissional na capital pernambucana foi desempenhado entre o hospital universitário Oswaldo Cruz, onde chefiou o serviço de cirurgia torácica, e o hospital Memorial São José. Em 2017, nos comunica sua aposentadoria do serviço público. Professor Mário Gesteira Costa, desejamos, com muita gratidão pelos serviços e exemplos deixados na história da nossa SBCT, que a merecida aposentadoria lhe conceda um tempo maior para estar próximo à família. Precioso, e sempre dividido ao longo da vida entre seus pacientes, tempo que agora poderá ser gerenciado pela sua afinidade familiar. Esperamos que sua outra família, a dos cirurgiões torácicos Brasileiros, tenha um lugar reservado nesse novo momento, para que assim possamos desfrutar de seu fraternal e exemplar convívio.


MARIO GESTEIRA COSTA – CURRICULUM VITAE *(RESUMO) 1965 -1966 – Graduação do Curso Secundário Oakwood Highschool – Dayton – Ohio USA 1973 – Colação de Grau - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco – Recife PE 1973 – 6º ano do curso médico – Nuffield Department of Surgery – Radcliffe Infirmary – Oxford University – Oxford – England United Kingdom 1974-1979 – Residência - Cirurgia Geral - Bronx Municipal Hospital Center, Albert Einstein College of Medicine Affiliated Hospitals, New York - USA 1979-1981 – Residência - Cirurgia Torácica - Bronx Municipal Hospital Center, Albert Einstein College of Medicine Affiliated Hospitals, New York - USA 1980 – Título de especialista em Cir. Geral do American Board of Surgery USA 1982 – Título de Especialista – Cir. Cardiotorácica do American Board of Thoracic Surgery USA 1994 – Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular 1995 – Titulo de Especialista - Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular 1994 – Membro Titular e fundador da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica 1998 – Membro fundador da Sociedade Norte – Nordeste de Cirugia Torácica Maceio – Al. 2005 – Membro da International Society on Sympathetic Surgery ISSS - Viena 2007 – Presidente do XV Congresso Brasileiro de Cirurgia Torácica Porto de Galinhas PE 2007 – Presidente do 7th International Symposium on Sympathetic Surgery (Congresso ISSS) Porto de Galinhas - PE 2009-2011 Secretário p/ Assuntos Internacionais- Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica 2011- 2013 Secretário Geral - Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica 1998 Titulo de Especialista- Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica 1974 -2017 Professor, disciplina de Cirurgia Cardiotorácica da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, da Universidade de Pernambuco. Aposentado em 30/06/2017 como Professor Adjunto 1990-2017 -Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz 1981-2017 -Cirurgião do Staff do Serviço de Cirurgia Cardíaca dos Hospitais Universitários da Faculdade de Ciências Médicas de PE (Hospital Universitário Oswaldo Cruz e PROCAPE) UPE 1990 – 2000 Chefe do Serviço de Cirurgia Cardíaca do UNICARDIO – Hospital Memorial São José 1981- 2017 Cirurgião Staff da Clinica Cardiotorácica Ltda Recife - PE

ERRATA Na edição de junho/2017, temos duas correções: - Na Palavra do Presidente, o termo elitista; - No artigo O general em sua Caverna, o plural da palavra pneumotórax. 19


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