Jornal da SBCT Ano 8 | Edição de Março / 2018
100 anos de Jesse Teixeira * 25/02/1918
Informativo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica
+28/11/1993
Editorial
Mensagem do Presidente
Meus amigos,
Prezados colegas,
O
E
Começamos por construir uma trilha tênue por onde somente passavam fios e rastros de nossa especialidade. Jesse Pandolpho Teixeira foi um dos que abriram picadas neste terreno inóspito- no que podemos chamar de levante da Cirurgia Torácica. É uma realidade histórica su�lmente aquinhoada pela consciência moderna que, ao final da edição, sente-se o solavanco dos verbetes cin�lantes do jovem Bruno Gomes, mandando sinais de Toronto, a ponto de brandir palavras vivas, como: brainstorming acadêmico, ECMO, EVLP, terapia fotodinâmica.
Muitos foram os temas em pauta que foram amplamente discu�dos. Na parte ins�tucional foram destaques, a consolidação da parceria com a ESTS (European Society of Thoracic Surgeons), com a consolidação do nosso banco de dados, e a abertura para inclusão de novos serviços, ampliando assim a par�cipação de um maior número de cirurgiões brasileiros. Dados estes, que serão apresentados durante a 26th European Conference on General Thoracic Surgery, que ocorrerá na capital da Eslovênia, Liubliana, no final de maio.
Entre os extremos, passamos pela entrevista com nosso ex-presidente Roberto Saad, que fala do prazer de ter sido volante de nossa SBCT. Nós é que agradecemos e devemos muito ao senhor!
Na nossa agenda de eventos, dois excelentes encontros regionais estão programados para este ano. Recebemos a visita do nosso Wolfgang Schmidt. Atual presidente da Sociedade Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica que está, cuidadosamente, preparando o próximo CONNECT que acontecerá em Porto de Galinhas – Pernambuco, já com a par�cipação confirmada de três convidados internacionais. Em setembro, no Pavilhão Pereira Filho da Santa Saca de Porto Alegre, teremos o IX Congresso Sul Brasileiro de Cirurgia Torácica, coordenado pelo nosso Spencer Camargo e com par�cipação do Dr. Pablo Sanchez da University Pi�sburgh. Excelentes momentos para trocar experiências e rever amigos.
fio de luz de 2018 clareia o silêncio de nosso jornal e destaca que o revigoramento histórico tende a gerar enfoques múl�plos em nossa realidade dicotomizada. Ao clarear as páginas- mesmo tardiamente -, tais enfoques serão descor�nados, expondo a memória do que fomos para bem entender os alcances.
Em seguida nos debruçamos sobre a “fotoletraria” de nosso virtuoso Repórter Forte, que plainou até as terras fluminenses e gastou a palmilha para reviver o roteiro do Professor Luiz Felippe Júdice em pleno oficio (e ex-oficio, também), em cuja matéria ele veste-se de alpinista para simbolizar as dificuldades que a profissão impingiu-lhe, mas que �rou todo sumo sem deixar bagaços. Eis um belo ensaio filosófico sobre par�lha de conhecimento e trabalho em grupo.
m fevereiro, aconteceu na nossa nova sede a primeira reunião da Diretoria Execu�va- momento de retomar os projetos em andamento do ano anterior e planejar os próximos passos para o ano que se inicia.
Roger Normando
Membro da SBCT - PA Logo depois o cirurgião torácico po�guar Jeancarlo Cavalcante, que tem parte de sua caminhada dedicada às questões é�cas no CFM, chama atenção para se salvaguardar prá�cas vivas e em permanente evolução, como por exemplo, a relação médico-paciente sob olhar humanista. Não pode deixar de ser lido. Cambando pra temas técnicos, Marcos Furian levanta o dedo e pede fósforo para reacender a simpatectomia, como aquele primeiro facho de luz da modernidade a incendiar a cirurgia torácica, alvejando os caminhos da cirurgia por vídeo, naqueles idos vividos entre os congressos de Gramado e Recife. Por fim- e não menos importante-, corre uma matéria espetacular- ainda que curta- de causar convulsão em nossa calmaria. Bruno Gomes, descendente indireto de Jesse Teixeira, não deixa de falar de pessoas, de líderes mundiais e de brasileiros sempre bem recebidos em Toronto e todo Canadá. A sensação é de que aquele jovem está nos convidando para “ser” mais sem deixar de ser você próprio. Então puxe a cadeira e sente. Depois peça para tomar um cafezinho – pode ser chá, chocolate quente, tacacá ou mesmo chimarrão- pois é uma edição para, depois de degustar, guardar na estante entre livros memoráveis e transformar-se em alfarrábio. Boa leitura.
Expediente
Diretoria da SBCT
Presidente: Sérgio Tadeu L. F. Pereira Vice-presidente: Carlos Alberto Almeida de Araújo Secretário Geral: Mário Cláudio Ghe�er Tesoureiro: Miguel Lia Tedde Secretário Cien�fico: Ricardo Migarini Terra Secretário de Assuntos Internacionais: Fernando Vannucci
Presidente da SBCT - BA
Do ponto de vista financeiro, recebemos das nossas secretarias e da tesouraria a boa notícia que o nosso índice de inadimplência estava em 4,76%. O menor índice em toda história da SBCT. Vai um agradecimento a todos sócios, que acreditam no trabalho desta diretoria. Em consequência disso foi decidido manter o valor da anuidade, congelada pelo terceiro ano consecutivo. Entretanto, no último ano, a SBCT foi surpreendida com a decisão da AMB de instituir uma cobrança anual às Sociedades de especialidades a ela filiadas no valor de R$ 24,00 (vinte e quatro reais) por sócio. Apesar de filosoficamente contrária à cobrança, a SBCT entende que o não pagamento desta taxa pode teoricamente implicar em consequências danosas aos associados que, eventualmente, possam depender de ações que estejam sob a responsabilidade da AMB (emissão do Certificado de Título de Especialista em Cirurgia Torácica, por exemplo). Assim, após apreciação da questão por sua consultoria jurídica, e por deliberação da Diretoria, a SBCT decidiu incorporar esta cobrança à anuidade regular dos associados.
Endereço Av. Paulista, 2073, Horsa I, cj. 518 | São Paulo - SP CEP: 01311-300 Fone/fax: (11) 3253-0202 secretaria@sbct.org.br www.sbct.org.br
Textos e Edição Editor do Jornal: Roger Normando
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Sérgio Tadeu L. F. Pereira
Cinthya Brandão - Jornalista DRT/BA 2397 www.cinthyabrandao.com.br
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A Ethicon inova mais uma vez
para você continuar moldando o futuro da cirurgia.
Jesse Teixeira: UM CIRURGIÃO *
J
esse Teixeira morreu. Foi uma agonia lenta e sofrida, mas ele enfrentou o sofrimento e a morte com a mesma dignidade com que vivera. Esta dignidade que dis�ngue os homens especiais, que são assim especiais porque parecem naturalmente dignos, sem se esforçar. Foi uma perda dolorosa para mim em par�cular e, sem dúvida, para mais da metade dos cirurgiões de tórax que atuam no país e que �veram o privilégio de sua tutoria fidalga e paternal.
TEMPO DE TRANSECÇÃO
33% mais rápido que os concorrentes.
* Texto extraído do livro “A face literária da pneumologia gaúcha”, revinter, 2001.
SELAMENTOS
150% mais fortes
se comparados com outros dispositivos de energia avançados.
Tive, durante o enterro, uma dor especial. O Sebas�ão, um engenheiro brilhante e filho mais velho do Professor, que conheci socialmente anos atrás, estava à beira do túmulo, óculos escuros e soluçando. De repente procurou o lenço para secar as lagrimas e então, inesperadamente, apertando o lenço contra o rosto estavam lá, inteiras e remoçadas, as mãos do Professor, que as mãos do Sebas�ão são exatamente iguais as do seu pranteado pai.
4, 5 e 6
MANDÍBULAS CÔNICAS
27,5% mais longas
Subitamente aquelas mãos ressuscitadas reportaram-me às minhas lembranças do tempo de residência, quando �ve a oportunidade de auxiliá-lo em algumas cirurgias que fez em visitas ao nosso hospital, e com elas as minhas fantasias em que imaginava silenciosa e secretamente, que maravilha seria se, por um passe de mágica, eu pudesse fazer tudo o que aquelas mãos prodigiosas eram capazes.
permitem uma dissecação precisa, semelhante a um dissector mecânico. 1, 2, 3, 4, e 5
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Voltei para casa com uma dor funda no peito e por alguma razão fiquei de mãos dadas com o seu filho, e quis como nunca que as mãos dele se parecessem com as minhas, e acho que �ve medo de morrer. Logo em que não tenho tempo para pensar nisso! Não importa a extensão da dor que a morte do Professor provoque nas pessoas. Enquanto exis�r algum cirurgião de tórax que trabalhe com seriedade, que busque obs�nadamente a inalcançável perfeição e que valorize dignidade e elegância, Jesse Teixeira con�nuará vivo. O corpo que enterramos no Caju é a parte menos importante da história de um grande homem, e esta não morrerá. Morremos um pouco nós todos que aprendemos a querê-lo bem e a respeitá-lo. Lamento os que não puderam privar de sua amizade e, mais ainda, os que �veram a oportunidade e não souberam valorizá-la. Azar deles. Aceite um abraço carinhoso do seu amigo. ■
1, 2, 3, 7 e 8
Johnson & Johnson Medical Brasil, uma divisão de Johnson & Johnson do Brasil Indústria e Comércio de Produtos para Saúde Ltda. Av. Presidente Juscelino Kubitscheck, 2041 Complexo JK - Bloco B, São Paulo/SP, CEP 04543-011 Responsável técnico: Nancy Mesas do Rio– CRF-SP nº 10.965. ©Johnson & Johnson do Brasil Indústria e Comércio de Produtos para Saúde Ltda., 2017. 073169-170518. Elaborado em: 04/2017. Registro Anvisa 80145901795 – Harmonic HD 1000i Shears
JJ Camargo
1. Em um estudo pré-clínico para ambos dissecção ilíaca e dissecção dos nódulos linfáticos, HARMONIC® HD 1000i foi significativamente superior em dissecando HARMÓNICO ACE® a + 7 (p <0,001 em todos os casos). 2. Estudo cirurgiões de validação de projeto (n = 33) que usaram outros dispositivos bipolares avançados (HARMÓNICO ACE® + 7 e HARMÓNICO ACE® + e marcas concorrentes), que opera num modelo suíno simulado de procedimentos laboratoriais experimentais (26/31). 3. Estudo cirurgiões de validação de criação (n = 33) que opera num modelo suíno simulado de procedimentos laboratoriais experimentais (26/33). 4. Em um estudo pré-clínico, 100% (56/56) dos vasos sanguíneos de porcos permaneceu sobrevivência hemostático ao longo de um período de 30 dias. 5. Num estudo de laboratório com as artérias carótidas de suíno de 5-7 mm comparando pressão de ruptura média, HARMONIC® 1000i HD (1878 mmHg versus concorrência (1,224 mmHg) (p <0,0001). 6. Em um estudo de laboratório com as artérias carótidas de suíno de 5-7 mm comparando pressão de ruptura média, HARMONIC® 1000i HD (1878 mmHg) versus concorrência (1,224 mmHg) (p <0,0001). 7. Em um tempo de estudo comparando porco vedação HARMÓNICO ACE® + 7 e HARMONIC® HD 1000i. HARMONIC® tesoura HD 1000i seccionado embarcações mais rápidas HARMÓNICO que ACE® + 7 (tempo de transecção 9,186 15,291 frente significar). 8. Estudo cirurgiões de validação de criação (n = 33) que opera num modelo suíno simulado de laboratório experimental (27/33) procedimentos.
Membro da SBCT - RS
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Roberto Saad Júnior 2011-2013
20 anos de História da SBCT
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ando seguimento às comemorações das duas décadas de fundação da SBCT, �vemos a honra de entrevistar Dr. Roberto Saad que este à frente da Sociedade de 2011 a 2013.
Jornal da SBCT: Como a SBCT influenciou sua vida profissional? Roberto Saad: Estar presente e conviver com colegas, frequentando cursos, congressos, jornadas foi fundamental para minha vida profissional. A SBCT me proporcionou um convívio com colegas de diversos estados e regiões, o que trouxe um amadurecimento profissional único! Graças à nossa Sociedade, tornei-me especialista em Cirurgia Torácica por meio do exame que é regularmente patrocinado por ela. Graças à nossa Sociedade, me atualizo constantemente. Graças à nossa Sociedade tenho a quem recorrer, quando necessito de algum conselho e até mesmo existe um local �sico em que posso reunir para resolver questões profissionais. A luta constante para remunerações justas, embora muito di�cil de se conseguir, a SBCT não desiste! Jornal da SBCT: Quais os fatos mais marcantes na história da SBCT? Roberto Saad: É di�cil escolher fatos mais marcantes, afinal o grande objevo de uma Sociedade é tornar todos os fatos marcantes! Todos são igualmente importantes. A fundação da mesma, a compra de um espaço, a ampliação deste espaço, o exame de especialista, a criação de centros de treinamentos, o envolvimento com Instuições do exterior, o ensino constante, os livros, o jornal, tudo nos importa e é marcante! Jornal da SBCT: Diante de um novo panorama com a entrada da tecnologia na especialidade, como vê o futuro da SBCT? Roberto Saad: Ora, este fato é uma constante. A todo momento, novidades tecnológicas são incorporadas à nossa especialidade. Não é um fato novo. Nós os cirurgiões, temos que ter bom senso! De que vale uma tecnologia revolucionária, de tão cara no preço, se não possa ser empregada para a população geral? É só para alguns privilegiados? No entanto, não podemos desprezá-las, há que ter bom senso e crí�cas! Mas... nunca esquecer que nenhu06
ma tecnologia substui o médico. O tratamento com sabedoria, humanidade e com pouca tecnologia ultrapassa, de longe, qualquer robot e é barato. O futuro da SBCT, no meu entender, não muda com todas estas aquisições. Poderá, sim, oferecer condições de treinamento para seus membros. E talvez orientações e discussões sobre o tema em tela, em Congressos. Nada mais do que isto! O restante é de decisão do próprio médico. Jornal da SBCT: Quais cirurgiões (e escolas cirúrgicas) influenciaram na sua formação profissional? Roberto Saad: Logicamente, em primeiro lugar, a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo com seus professores que muito me ensinaram: Profo Nairo França Trench, Profo Emilio Athié, Profo Fares Rahal, Profo Samir Rasslan, Profo Alípio Corrêa Neto e mais uma centena que, infelizmente não seria possível citar todos! A Escola Paulista de Medicina (UNESP): Profo Vicente Forte, Profo Saul Goldenberg, Profo Luiz Villaça Leão, Profo Costábile Gallucci e muito mais! A Faculdade de Medicina da USP: Profo Dario Birolini, Profo Nelson Margarido, Profo Paulo Pêgo e tantos outros! Não somos autodidatas, isto é impossível, são os professores que admiramos que nos moldam e assim, quem sabe, podemos pelo menos tentar nos tornarmos iguais! Jornal da SBCT: Se o senhor voltasse a presidir a SBCT, o que acrescentaria à nossa sociedade? Roberto Saad: O que eu acrescentaria? Não, não tenho uma resposta clara. Neste momento o meu desejo é o que menos importa! O importante é apoiar quem hoje está à frente da Sociedade e aqueles que virão. É preciso viver intensamente e em grupo na Sociedade (só assim é possível acrescentar algo de bom) e daí, escolher o melhor caminho a seguir! ■
Roberto Saad Júnior
Ex-presidente da SBCT - SP
A relação médico-paciente como patrimônio cultural imaterial da humanidade N
ão faz muito tempo a Espanha propôs ao mundo uma campanha para reconhecimento da Relação médico-paciente como patrimônio imaterial cultural da humanidade. A Unesco possui duas listas onde são descritos esse �po de patrimônio, que uma vez na lista passa a ser protegido pela humanidade, ou pelo menos, pelos países que fazem parte da Unesco. Esse procedimento é para salvaguardar prá�cas vivas e em permanente evolução, em comunidades humanas, com forte peso na tradição, iden�ficação e coesão da sociedade em que está inserida. Para solicitar essa inclusão é necessário que a solicitação seja feita por um estado membro (A Espanha já o fez), sendo o processo de reconhecimento demorado em média dois anos para a sua tramitação. Tudo isso é importante porque a relação-médico paciente em toda a história da medicina é uma relação de pessoas, habitualmente, duas pessoas, uma que necessita de ajuda (o paciente) e outra com a capacidade de ajudar (médico) na cura, reabilitação e em alguns casos no processo do morrer. Esse binômio pode ser extrapolado em complexidade para a família do paciente, que não raro, também está envolvida profundamente nesse relacionamento. Nesse sen�do a relação médico-paciente foi desde o princípio da prá�ca médica uma relação de ajuda, de assistência, que não conhece barreiras de línguas e fronteiras geográficas, apesar de reconhecer as diversidades culturais dessa dualidade médico-paciente. Examinando a história percebemos que essa relação médico-paciente tem evoluído em todos seus aspectos. Na cultura sírio-babilônica temos o protó�po do cirurgião barbeiro, que cobrava honorários em consonância com o Código de Hamurabi (1728 a.C), que regulava essas cobranças e ainda con�nha medidas sancionadoras para cas�gar os erros “médicos” oriundos dessa prá�ca. Na cultura israelita é di�cil separarmos a função de médico do sacerdote, em virtude do entrelaçamento da medicina da época com a reli-
gião e a moral vigente. Na an�ga Grécia temos uma visão paternalista e humanista da medicina que culminou com o juramento de Hipócrates (460-347 a.C)1. Depois disso apenas na baixa Idade Média com a tradução de textos clássicos do grego e o aparecimento da universidade é que temos o início da medicina escolás�ca, com um mínimo de fundamentação cien�fica2. Percebemos de imediato que a relação médico-paciente é um patrimônio imaterial que necessitamos preservar em sua plenitude, par�cularmente nós que fazemos a Cirurgia Torácica brasileira, com exemplos notáveis de humanistas como o Dr. Vicente Forte (in Memoriam), Dr. Manoel Ximenes Ne�o e Dr. José Jesus Peixoto Camargo, devemos apoiar essa inicia�va histórica como a primeira sociedade de especialidade brasileira a se manifestar, porque não é apenas o simbolismo da ação, mas sobretudo, o compromisso da SBCT com o evoluir das relações com nossos pacientes, mo�vo maior de nossa arte médica. ■
* Confederação Médica Ibero-Latinoamericana e do Caribe, com sede em Montevidéu, e que congrega os colégios médicos e associações médica de 22 países da América Latina, Caribe, e mais Portugal e Espanha. 1. Lázaro, J., Garcia D. La relación médico-enfermo a través de la historia. Annales del Sistema Sanitário De Navarra, 2006, 29 (3), 7-17. 2. La relación médico paciente – Foro de la profesión médica de España, OMC, 2017. **Cirurgião Torácico, Mestre e Doutor em Ciências da Saúde, Ex-Presidente da Confemel, Professor da UFRN e Conselheiro Federal do CFM.
Jeancarlo F. Cavalcante** Membro da SBCT - RN
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O incontestável legado da Simpatectomia E
ntrávamos nos anos 2000, início do século. Várias técnicas de vídeocirugia disseminavam-se nas diversas especialidades. Neste ciclo, “renasce”, agora por vídeo, a simpatectomia. A facilidade do acesso à cadeia simpática torácica, proporcionada pela nova tecnologia, justificava o procedimento para aquela disfunção, até então, tão negligenciada e menosprezada pela medicina: a hiperidrose. Inicialmente, os múltiplos serviços de cirurgia torácica focavam seus resultados na eficácia do procedimento. Divulgavam-se repetidas estatísticas de sucesso terapêutico ao redor de 100%. Percebe-se, por alguns anos, este encantamento com o novo procedimento, que se torna rapidamente muito frequente na maioria dos serviços. O alvo do procedimento é a cadeia simpática torácica superior. De T2 a T4 ou até T5. O único “cuidado” superior era a proximidade com o gânglio estrelado. Abaixo do estrelado, nenhuma preocupação. Alguns cirurgiões, mais eruditos, ainda revelavam preocupações com nervo de Kunz que se fosse identificado, deveria ser incluído na ressecção. Então, com a multiplicação de procedimentos que avançavam em escala geométrica surge uma grande pedra no caminho. A famosa hiperidrose compensatória ou hiperidrose reflexa. Esta, na época era relatada como para efeito temporário que provavelmente desapareceria ou amenizaria com o tempo. O problema não foi prontamente entendido e enfrentado por muitos serviços. Apesar da alta incidência real, muitos colegas continuavam a divulgar excelentes estatísticas com existência ausente deste fenômeno. Neste sentido, em fevereiro de 2002, durante o Congresso Sulbrasileiro de Cirurgia Torácica, em Florianópolis, fui convidado como comentador numa sessão de vídeocirurgia. Nesta sessão, foram apresentadas casuísticas de simpatectomia de alguns serviços tradicionais da nossa especialidade. Neste comentário acabei sendo o contraponto, referindo que o problema, a hiperidrose compensatória, era preocupante, e que muitas ve-
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zes não desaparecia com o tempo, ocorrendo de forma grave em mais de 5% dos operados. Então, polêmica causada, pois alguns colegas insistiam na afirmação de que tal problema não era preocupante, me senti estimulado a estudar o tema para poder trazer mais resultados no Congresso Gaúcho de Cirurgia Torácica marcado para junho do mesmo ano. Desta forma, aprofundei minhas pesquisas e encontrei o famoso trabalho do Dr. Lin, onde relatou o funcionamento do sistema simpático em feedback, a fisiopatologia da hiperidrose reflexa, e a ausência de hiperidrose reflexa intolerável quando o alvo é T4. Ainda mais, pude testar seus fundamentos em alguns pacientes antes de minha apresentação no congresso. Assim, em junho de 2002, pude demonstrar no Congresso Gaúcho de Cirurgia Torácica – Gramado - minha experiência pessoal com a cirurgia em T4, com manutenção da eficácia e ausência de suor reflexo intolerável. A apresentação causou impacto nos cirurgiões ali presentes, e marcou o inicio de nosso movimento gaúcho: abaixo o T2, viva o T4.
Em relação a este maravilhoso procedimento é necessário, também, comentar outro aspecto... era inicio dos anos 2000, entrada do novo século. Para situar e ser entendido, relato que na época, eu era um Cirurgião Torácico recentemente formado e lançado no mercado de trabalho na década anterior. Alguns an�gos professores da formação cirúrgica, ainda falavam a an�ga e repe�da máxima ... grandes cirurgiões, grandes incisões... Em contrapar�da, dez anos antes, surgia, no arsenal cirúrgico, a vídeocirurgia, absorvida pra�camente na totalidade pela colecistectomia. Os mais variados serviços de cirurgia torácica do nosso meio, salvo poucas exceções, u�lizavam ó�cas individuais para pleuroscopias diagnós�cas, biópsias de pleura, pleurodeses, e outros procedimentos menores, assim, tornando dispensável a tecnologia do vídeo. Enfim, con�nuávamos na era de Jacobeus, afastados, e, ainda mais, sem almejar acesso a vídeocirurgia.
ocirurgia imprescindível. A imensa maioria dos serviços de cirurgia torácica inicia suas casuís�cas. A Cirurgia Torácica Nacional é “apresentada” e “iniciada” na vídeocirurgia. O procedimento é simples, requer o vídeo, e ficamos encorajados a usar a tecnologia. Pronto. Acontece o “start”. Ouso escrever que nossa cirurgia torácica “debutou” na vídeocirurgia com o advento da simpatectomia vídeotoracoscópica para o tratamento da hiperidrose.
Então, ano 2000, virada do século, “renasce” a simpatectomia, agora, vídeotoracoscópica. O procedimento torna o uso da víde-
Marcos Bessa Furian
Agora a vídeocirurgia faz parte da ro�na de todos os serviços de nossa especialidade. São realizadas as mais diversas e complexas ressecções no tórax por vídeocirurgia. Então, muitos colegas, agora, desprezam este procedimento tão simples, mas, afirmo que, ainda que não houvesse outras razões, somente por ter nos iniciado no vídeo, nossa “Geração de Cirurgiões Torácicos” deve muito a simpatectomia videotoracoscópica. ■ Membro da SBCT - RS
Atualmente, ainda existem controvérsias sobre a zona alvo da simpatectomia, mas é muito provável que nenhum serviço persista na inclusão de T2 no procedimento. Sou orgulhoso de ter excercido protagonismo na “condenação do T2” e na “indicação do T4” para tratamento do suor palmar e/ou axilar. Ainda sobre a prevenção deste para efeito, atualmente, alguns serviços tem demonstrado bons resultados realizando simpatectomias sequencias, ou seja, opera um lado e, num intervalo de, pelo menos, 2 meses, o outro. Esta estratégia é relativamente recente e ainda carece de maior comprovação. Para o suor compensatório intolerável estabelecido, tem sido relatados bons resultados, recentemente, com a extensão caudal da simpatectomia. Ou seja, é realizado uma ramicotomia parietal bilateral de T5 até onde for possível pela via intratorácica. É ressecado o ramo parietal e preserva-se o visceral da cadeia. ► 09
A vocação de Jesse para a Medicina foi despertada na juventude tenra. Par�u sozinho de sua cidade natal, Vitória-ES, para o Rio de Janeiro, aos 16 anos, quando ingressou na Faculdade Nacional de Medicina. Trilhou pelo ramal da cirurgia logo após se graduar, mas foi na cirurgia torácica que triunfou, a�ngindo apogeu ao criar um programa de residência médica, esboçado no Sanatório Santa Maria, Jacarepaguá, e alicerçado no hospital da Beneficência Portuguesa. Com isso, formou um séquito do Oiapoque - de Clodomir Araújo - ao Chuí - de Figueiredo Pinto e Nilton Gomes. Ouvíamos os relatos de Gleusa ao lado de uma fotografia em branco e preto que emoldurava o professor, sobre um criado-mudo ao lado. Vez por outra a tal fotografia redemoinhava pelo quarto e se assentava numa estante abarrotada de livros que ficava numa parede ao lado da janela por onde raios do sol do meio-dia se achegavam para derreter aquela manhã de novembro. Destacava-se uma coletânea de Pedro Nava, autor de “Baú dos ossos”, onde, de soslaio, observávamos a tal fotografia ressurgir do nada. Desvelamos, pelo autógrafo, que Nava e Jesse eram amigos e contemporâneos na Academia Nacional de Medicina.
Com licença, professor! “Its anatomical definition [the term superior pulmonary sulcus], however, remains dubious and inexact, and most texts on human anatomy ignore the existence of a formation with such a name.” Jesse Teixeira, em editorial: “Concerning the Pancoast Tumor-What Is the Superior Pulmonary Sulcus?”Ann Thorac Surg. 1983..
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bairro da Gávea estava deserto naquela manhã nublada de domingo, quando desembarcamos do táxi e subimos pelas soleiras da rua Cedro. Uma névoa deixava marcas de vapor no ar, também percebida nas folhas mortas e úmidas que acarpetavam o chão de paralelepípedos, sombreado por um arvoredo de portentosas castanholas. Eu e Abel, escritor que se propôs a ajudar-me no resgate biográfico de Jesse Teixeira, ao desembarcar, estávamos a pouco mais de 50 metros da esquina onde apontava nosso des�no, naquele glamoroso bairro. Com quem diz, “com licença, professor!”, adentramos e subimos pelas escadarias. O silêncio da casa entoava oração e lembrava uma abadia. Gleusa, aos 97, �nha muito que conversar, apesar de algum falseio na memória. Contou-nos, ao lado de Sebas�ão e Bebel, dois de seus quatro filhos, que seu esposo Jesse faria 100 anos em 2018 e �nha muito orgulho daquele casamento, dos filhos, netos e bisnetos. Sebas�ão relembrou que ele faleceu em 1993, aos 75, e �nha uma paixão abissal pela profissão - fez questão de lembrar o que José Camargo escreveu sobre as suas mãos.
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Foto: Ivo Gonçalves/Arquivo PMPA
9º CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIRURGIA TORÁCICA Porto Alegre - RS
Pelo currículo, Jesse Teixeira publicara editoriais, ar�gos, capítulos e livro, respeitando os rigores da metodologia cien�fica. Viajou pelo mundo e divulgou a cultura cirúrgica do Brasil. Juntou-se a Vital Imbassahy, Haroldo Meyer e João Ba�sta Arruda para estender seu professorado ao Hospital de Curicica e formar uma segunda escola. Par�cipou a�vamente do nascimento da especialidade no final dos anos 40, quando a ven�lação mecânica pulmonar ainda era quimérica e o mundo ainda ouvia os estrondos da segunda guerra. Levou a cirurgia da tuberculose como pedra fundamental no exercício e ensino. Depois abarcou o câncer de pulmão, traqueia, empiema e parede torácica. Par�cipou do nascimento da cirurgia cardíaca no Brasil e festejou o transplante pulmonar com seu pioneiro, o amigo José Camargo. Criou vários instrumentos cirúrgicos e adaptou outros, mas o maior de todos os seus legados foi sua escola e, entre tantos alunos ilustres, o conceituado Luiz Felippe Júdice e o próprio umbigo: Jesse Teixeira Filho, já falecido. Cedo ingressou no Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Começou como bibliotecário, em 1953. O fascínio pela leitura cien�fica e universal não permi�a que se separasse dos livros. Passou por várias diretorias até se tornar presidente, em 1961, aos 43 anos. A par�r do convívio no CBC, Jesse Teixeira ganha notoriedade entre seus pares. “Professor”, como era chamado por seus residentes e pares. Ao longo do convívio em salas de cirurgia, discussão das quartas-feiras e corredores de hospitais, seus alunos foram construindo notas, passos, ro�nas e até arbítrios. Costumava-se dizer que o professor quando falava, sua saliva lustrava nossos sapatos e aí começávamos a caminhar mais à vontade, reluzindo saberes, mesmo que o piso fosse escorregadio. Cirurgião plural como tal se enternece mesmo é com a amplidão de seus es�los e de seus vastos ensinamentos, de modo a eternizar os solilóquios de uma congregação, que só percebe a própria maturidade ao olhar para trás e ver que as pegadas de outrora construíram passos que teceram os caminhos que nortearam o rumo das tantas outras gerações. E por isso estamos aqui... ■
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Experiência em Toronto...
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lá amigos da SBCT! É com muita honra e sa�sfação que dirijo-lhes a palavra para contar um pouco de minha experiência como research fellow na University Health Network, complexo de assistência, ensino e pesquisa na área da saúde da Universidade de Toronto, Canadá. Como todos sabemos, a Universidade de Toronto é uma referência mundial em cirurgia torácica principalmente em transplantes pulmonares e desenvolvimento de novas tecnologias e terapias que de tempos em tempos são incorporadas no nosso dia a dia de prá�ca clínica. São décadas de excelência em inovações, iniciadas e desenvolvidas pelos Dr. F. Griffith Pearson seguidas, Robert J. Ginsberb, Joel Cooper, Alec Pa�erson e muitos outros ilustres que por aqui já passaram. Atualmente o laboratório é coordenado pelo Dr. Shaf Keshavjee, também responsável pelo programa de transplantes de pulmão da UHN/Toronto General Hospital. Um destaque especial é o cirurgião brasileiro Marcelo Cypel, egresso da escola de cirurgia torácica da PUC-RS e que hoje é um dos principais nomes em nossa especialidade na América do Norte e, por que não, do mundo. Faço parte da equipe de pesquisadores justamente comandada por ele. O Latner Thoracic Surgery Research Laboratories é composto por diferentes linhas de pesquisa em cirurgia torácica, cada equipe reportada a um inves�gador principal. São centenas de pessoas envolvidas em dezenas de projetos em um ambiente colabora�vo muito interessante: mesmo com um financiamento considerável somos sempre ins�gados a conhecer e cooperar com os colegas a fim de evitar desperdício de insumos e o�mizar o laboratório como um todo. Como ro�na temos reuniões semanais com atualizações das pesquisas do nosso próprio laboratório onde surgem muitas das ideias a serem colocadas em prá�ca numa espécie de “brainstorming” acadêmico. Existem também as reuniões periódicas de todos os grupos de pesquisa, um pouco mais formais, nas quais os principais avanços são apresentados aos demais também seguindo o conceito de colaboração e par�lha do conhecimento.
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Voltando ao nosso Lab, uma das úl�mas inovações implementadas aqui pelo Marcelo Cypel foi o ensaio clínico referente ao transplante de pacientes que receberam com segurança órgãos de doadores posi�vos para Hepa�te-C depois de passar pelo sistema de preservação de órgãos ex vivo com a técnica também desenvolvida por ele aqui (EVLP) em 2008 e tratamento clínico conjunto. Já são doze os pacientes transplantados, todos com sorologias nega�vadas. Espera-se que com isso a quan�dade de doadores, sempre limitada, aumente sensivelmente. Outras linhas de pesquisas que estamos trabalhando diretamente incluem ECMO, terapia fotodinâmica e oncologia com resultados promissores que em breve serão divulgados. Por fim, gostaria de citar o tradicional Toronto Thoracic Refresher Conference em cirurgia torácica anualmente organizado pelo departamento geralmente realizado em junho e que em 2018 terá sua 44a edição. Voltado ao cirurgião torácico em sua clínica diária possui formato de conferências com temas de caráter prá�co e sessões intera�vas, uma oportunidade ímpar de atualização com grandes nomes da especialidade em um ó�mo ambiente onde a troca de experiências é o obje�vo principal o debate encorajado. A cirurgia torácica brasileira foi sempre muito bem recebida aqui em Toronto visto quantos colegas ao longo dos anos passaram por aqui e hoje o Marcelo desponta como um dos destaques do serviço. É uma honra enorme – e uma responsabilidade tal qual - estar aqui de certo modo representando a SBCT e os cirurgiões brasileiros. Muito obrigado pela oportunidade e esperamos vocês aqui em Toronto para o Thoracic Refresher em 2019. Um grande abraço! ■
Bruno de Moraes Gomes
Membro da SBCT - RS 13
NEWS
Cirurgiões brasileiros marcam presença na 1ª Conferência Internacional sobre Ressecções Sublobares para o Câncer de Pulmão Diretoria da SBCT reúne-se com Comissão Organizadora do CONNECT 2018 O mês de fevereiro marcou o início das a�vidades da diretoria do biênio 20172019 com a visita de Dr. Wolfgang Schmidt Aguiar. Gaúcho de nascimento e cirurgião torácico atuante em Recife/PE desde 2012, o professor Wolfgang também atual presidente da Sociedade Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica e está à frente da Comissão Organizadora do próximo CONNECT 2018 que acontecerá em Porto de Galinhas/PE. No encontro na sede da sociedade foram tratados veio à sede para tratar dos detalhes finais do evento.
Primeira reunião da diretoria, acertando os detalhes da parceria da indústria com a SBCT de uma forma ampla e, em par�cular, com relação ao suporte ao CONNECT 2018.
Dr. Paulo Manuel Pêgo Fernandes toma Posse como Presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) Em 1986 a ABTO foi fundada em solenidade no Centro de Convenções Rebouças, a solenidade de abertura foi proferida pelo professor Dr. Zerbini. Também usaram a palavra os professores Dr. Adib Domingos Jatene, sobre transplante de coração, Dr. Emil Sabbaga, sobre transplante de rim, Dr. Silvano Raia, sobre transplante hepá�co, Dr. Tadeu Cyintal, sobre transplante de córnea, Dr. Urio Mariano, sobre transplante de tecidos e Dr Jorge Kalil, sobre imunologia.
Em janeiro de 2018 foi realizada a 1ª Conferência Internacional sobre Ressecções Sublobares para o Câncer de Pulmão, em Paris (FRA), no Ins�tut Mutualiste Montsouris, contando com o apoio e promoção da ESTS (European Society of Thoracic Surgeons), tendo como principais nomes: Dominique Gossot (França) e Robert Cerfólio (USA) entre outros grandes nomes da Cirurgia Torácica mundial. O evento foi voltado para cirurgiões torácicos, que atuam no campo da cirurgia oncológica minimamente invasiva, seja na forma de VATS ou RATS. Com duração de dois dias, contou com a par�cipação de aproximadamente 200 cirurgiões de 34 países diferentes, estando o Brasil representado por doze cirurgiões, dentre eles: Rui Haddad (RJ), Ricardo Terra (SP), Felipe Braga (RJ), Carlos Eduardo Lima (RJ), Pedro Nabuco (SP), Fabio Haddad (SP), Luiz Carlos Losso (SP), Miguel Tedde (SP), Alberto B. Guimarães (RJ), Anderson Nassar (RJ), Leonardo Brand Rodrigues (BH) e nosso ex-presidente Darcy Pinto (RS). Durante o evento foram discu�dos aspectos técnicos relevantes para realização da ressecção sublobar (segmentectomia anatômica), sob a ó�ca das novas tecnologias (VATS e RATS), que permitem maior segurança para os pacientes e tendem a preservar a função pulmonar, diminuir o tempo de recuperação, permi�ndo retorno mais precoce às a�vidades co�dianas e, de forma prognós�ca importante, inicio mais precoce das terapias adjuvantes complementares, quando necessárias. Houve intensa discussão acerca das novas indicações da técnica, principalmente na questão oncológica. Sendo também considerada não apenas para pacientes que não toleraram uma lobectomia por restrição funcional pulmonar. Respeitando rígidos e claros critérios de inclusão, tumores em estágios muito iniciais, a segmentectomia passa a ser considerada para essa especial e cada vez mais frequente população. *Esse texto recebeu importante e fundamental contribuição dos membros Carlos Eduardo e Felipe Braga, que es�veram presentes no evento.
A SBTO tem os seguintes obje�vos: a) Es�mular o desenvolvimento de todas as a�vidades relacionadas com os transplantes de órgãos no Brasil; b) Congregar os profissionais e as en�dades envolvidas com, ou interessadas em transplantes de órgãos; c) Contribuir para o estabelecimento de normas e para a criação e aperfeiçoamento de legislação relacionada com o transplante de órgãos; d) Es�mular a criação de centros de doação, bancos de órgãos, serviços de iden�ficação de receptores e outros correlatos; e) Es�mular a pesquisa e colocar na difusão de conhecimentos sobre transplante de órgãos; f) Promover a realização de congressos, simpósios, conferências e outras a�vidades relacionadas com o transplante de órgãos; g) Difundir, junto ao público em geral com os recursos de conscien�zação disponíveis, e respeitada a é�ca profissional, o significado humanitário, cien�fico e moral da doação de órgãos para transplantes. h) Es�mular o intercâmbio com Sociedades congêneres. O professor Dr. Paulo Manuel Pêgo Fernandes, membro da SBCT e professor �tular da Disciplina de Cirurgia Torácica do InCor/HCFMUSP, assumiu a presidência dessa renovada sociedade para o biênio 2018/2019. Destacando seu úl�mo obje�vo, a nossa SBCT sente-se muito pres�giada e honrada por esse conquista. Parabéns ao professor Paulo Pêgo. A Diretoria da SBCT
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Repórter Forte
LUIZ FELIPPE JUDICE: Um cirurgião Emérito em Niterói/RJ A
pós sua terceira ação, esse Repórter pensou em buscar um cirurgião que pudesse representar as bases da história da nossa Sociedade. Um desses que soubessem falar a�vamente, com conhecimento de causa e ação, sobre de onde nascemos, que caminhos trilhamos e que desafios foram transpostos até sermos o que somos. Assim nasceu e cresceu a ideia da entrevista com o Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luiz Felippe Judice. Professor, Mestre e Emérito são palavras que o qualificam, o exemplificam e cabem-lhe espontaneamente muito bem – traduzem sua histórica ação como cirurgião dentro da UFF e da nossa Sociedade. Conversar com o professor Judice significa ter uma verdadeira aula da história da cirurgia torácica e da cirurgia cardíaca no Brasil. Decorrente ao fato de ter vivido, segundo suas palavras, grande parte de sua vida na segunda metade do século XX, foi testemunha viva e a�va de uma era de muitas e dasafiadoras transformações, que transpuseram grandes barreiras. Ver a transformação do �siologista em pneumologista, do �siocirurgião em cirurgião torácico e ainda par�cipar do alvorecer da cirurgia cardíaca foi um grande privilégio na sua vida e formação. Da mesma forma, e com o mesmo entusiasmo, ver e apoiar o surgimento da moderna cirurgia torácica do nosso tempo, retratada pela cirurgia videoassis�da e a cirurgia robó�ca, reforça seu perfil jovem e acadêmico. A história do professor Judice, até sua chegada a cidade de Niterói, retrata bem sua obs�nação e amor pela medicina. O menino natural de Marapé, an�go destrito de Cachoeiro de Itapemirim, teve que deixar sua cidade natal aos 11 anos de idade em busca do ensino médio. Até os 17 anos morou e estudou em uma colônia de italianos, a cidade de Muqui, palavra de origem indígena que significa “entre morros”, localizada no sul do Estado. Cedo, em 1956, veio a percepção da vocação pela carreira médica. Após 13 horas de uma inesquecível viagem de trem chegou aos dois centros universitários mais próximos: Niterói e o Rio de Janeiro. Aqui tem início uma histórica, pro�cua e exemplar história de mais de 50 anos entre um Professor e uma Universidade. Sua história médica está temporal, afetuosa e academicamente vinculada à UFF, inicialmente como estudante, e logo depois como instrutor de ensino voluntário. Sua ascensão acadêmica dentro da Universidade foi rápida, tanto que em 1967 prestou concurso público para professor auxiliar, em 1970 para professor assistente e em 1994 para professor �tular. Coordenou ainda, por muitos anos, a disciplina de Cirurgia Torácica. Seu interesse pela Cirurgia Geral foi precoce e, posteriormente, se estendeu à Cirurgia Torácica também. Iniciou estágio no Serviço de Cirurgia do Conjunto Sanatorial Raphael de Paula Souza, em Curicica, Jacarepaguá, vindo a trabalhar na equipe “A”, sob a chefia do Dr. Vital Imbassahy de Mello. Neste serviço, destacou-se pelo empenho e espírito de equipe, sendo contemplado com uma bol-
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sa de estudos, no ano de 1963. Neste mesmo ano, foi convidado a par�cipar da Equipe Cirúrgica I�nerante da Campanha Nacional contra a Tuberculose, sob a chefia do Dr. Vital Imbassahy de Mello. Como acadêmico desta equipe fez duas incursões pelo Nordeste do Brasil, auxiliando em operações de pacientes portadores de tuberculose pulmonar, em sanatórios de Aracajú, Maceió, João Pessoa e Teresina. A produção cien�fica foi marcante, exemplar, virtuosa e precoce, retratando sua vocação acadêmica. A primeira publicação data de outubro de 1970. Contribuiu ainda com nove capítulos de livros, em diversos assuntos e temas. Quando uma en�dade de ensino, no caso a UFF, reconhece que um professor a�ngiu um alto grau de projeção no exercício de sua a�vidade acadêmica, que se destacou em sua área de atuação, pela relevância, magnitude de sua produção e a�vidade cien�fica, desfrutando de grande reconhecimento pela comunidade acadêmica a ele é concedido o �tulo de Professor Emérito. Assim, e por essas razões, o professor Judice recebeu o �tulo de Professor Emérito. O professor Judice, como sempre me dirigo a ele, é daqueles que percebem o ambiente universitário como fonte da juventude. E assim, desde a publicação da sua aposentadoria e até hoje, mantém o vínculo com o Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) como médico voluntário. Quando perguntei de sua sa�sfação com relação a sua carreira acadêmica e profissional recebi uma aula de humildade e visão de equipe. Assim ele faz questão de citar nomes importantes na sua formação. Como os dos professores José Hilário, Guilherme Eurico, Paulo Marcio Garcia e Edgard Venâncio, pela sua formação em Cirurgia Geral. Ao doutor Vital Imbassahy, professor Osmar Sequeira e ao professor Jesse Teixeira pela formação em Cirurgia Torácica. Ao professor Geraldo Ramalho, Domingos Junqueira de Morais e Adib Jatene na sua formação em Cirurgia Cardíaca. Ressalta ainda a formação da equipe de Cirurgia Torácica do HUAP com Oriane Lima, Paulo e Samuel de Biasi, Luiz Antonio San�ni, Luiz Mauricio e Omar Moté que é hoje o chefe do Setor e mais recentemente Antônio Bento e Filipe Andrade. Seu envolvimento, sua história familiar e, até a afe�va está ligada à história do HUAP. Quando cursava o 3º ano da faculdade tornou-se estagiário do Banco de Sangue. No ano seguinte, seu chefe, o Dr. Afonso Mesquita, foi diagnos�cado com Hepa�te. Na época o tratamento era repouso e injeção intravenosa de complexo B. O professor Judice foi escolhido para aplicar as injeções em domicílio. Seu esperado esmero foi tanto que chamou a atenção da filha do chefe. A filha Norimar, inicalmente, deve ter ficado maravilhada com sua técnica pois passou a acompanhar as aplicações bem de perto. Certamente e indelevelmente, ela foi contaminada por algo mais pois tempos depois tornaram-se namorados e casaram-se. ►
“Sinto-me agora como aquele alpinista que após escalar a montanha pode agora parar um pouco para descansar, olhar o horizonte e desfrutar a paisagem. Pode ainda ver o caminho percorrido, analisar as dificuldades, olhar para os lados e verificar que não chegou ao topo sozinho. Pode constatar, então, que a homenagem isolada a uma pessoa não é justa, não espelha a realidade do trabalho compar�lhado com muitos e sem os quais não teria sido possível. Tenho a convicção de que, chegar ao topo foi um trabalho de equipe.” 17
Os frutos dessa relação, inicialmente mediada pelo vírus da Hepatite - A, C ou J, de Judice - e, posteriormente, perpetuada pela reconhecida, admirada cumplicidade e afinidade entre ambos, foram quatro filhos maravilhosos: Ângelo, Henrique, Márcio e Mariana. Quando perguntei pelos netos veio a afetuosa resposta: “temos netos lindos e inteligentes, como são todos os netos. Permita-me citá-los em ordem decrescente: Luiza, Juliana, Fernanda, Cristina, Carlos Henrique, Guilherme e Gabriela. Todos são muito presentes em nossas vidas”. Cheguei na cidade de Rio de Janeiro em uma manhã do inverno Carioca. A aterrisagem, não concretizada após duas arremetidas decorrente ao nevoeiro que pairava sobre o Galeão, foi acontecer no Santos Dumont após uma passagem não planejada por Confins e Congonhas. O dia, estrategicamente escolhido pelo professor Judice, foi coincidente com a secção da Academia Nacional de Medicina (ANM) em homenagem ao centenário de nascimento do professor Jesse Teixeira, também nascido no Estado do Espirito Santo. Ou seja, o gentílico Capixaba tem importante representação no mundo da cirurgia torácica e, consequentemente, na nossa SBCT. Nada mais exemplar ter sido introduzido à ANM por um Professor Emérito. Foi uma tarde e início de noite memorável. O simples fato de ver uma solenidade em uma entidade médica e cultural que funciona ininterruptamente desde o século XIX é para todo cidadão, o médico em particular, se orgulhar. Sendo aquela ocasião uma secção comemorativa e dedicada à Cirurgia Torácica, onde grandes nomes da nossa SBCT estavam palestrando em homenagem ao professor Jesse, foi marcante. No dia seguinte, a sexta-feira, como combinado fomos ao HUAP. Naquele histórico e afetivo ambiente que tanto e de-
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finitivamente marcou a vida e carreira do professor Judice. Foi um inequívoco exemplo do quanto ser Emérito significa na rotina de um Serviço ou de um Hospital Universitário. Quando entramos na sala do Serviço de Cirurgia Torácica todos se levantaram e fizeram questão de ir cumprimentá-lo. Ele, o professor Judice, fazia questão de me apresentar com vice-presidente da SBCT e que estava fazendo uma reportagem sobre o “Serviço de Cirurgia Torácica do HUAP”. Obviamente, para não ser indelicado, não disse a todos que o foco da reportagem era ele. Acompanhei, como todas as sextas-feiras, uma secção de intervenções em pacientes portadores de problemas de traqueia. Foi uma demonstração de uma habilidade incrível em endoscopia respiratória. Desde os casos mais corriqueiros, até os mais complexos, todos foram tratados com uma extraordinária facilidade e destreza. Após essa secção fomos para uma apresentação de casos clínicos. Uma secção em conjunto com a pneumologia, radiologia, oncologia e a patologia. Nos moldes dos melhores “tumor boards” das grandes universidades. Quando estávamos saindo do HUAP, achando que minha ação já tinha acabado, recebi um convite que me fez perceber que o talento atrai mais talento. “Quero lhe apresentar um grande amigo, cirurgião buco-maxilo-facial”, assim me verbalizou o Professor. No caminho, em uma conversa informal, fui sendo apresentado ao ainda desconhecido “amigo”. “Ele é extramente inteligente, habilidoso e tem uma verdadeira oficina em casa. Foi, por muitos anos, o mais importante assistente de Ivo Pitangui na parte de reconstrução óssea facial. Na sua oficina ele já desenvolveu várias ferramentas cirúrgicas”. Assim foi me sendo apresentado o amigo do Emérito. Meu lado “professor Pardal” estava em alerta máximo. ►
Paramos em frente a uma bela casa, de es�lo colonial, daquelas que se via nas an�gas fazendas do Brasil colônia. Janelas de madeira e vidro, amplas, abertas, como que es�vesse, a casa, sempre disponível para os visitantes, sejam amigos Eméritos ou os amigos dos amigos. Ainda havia um grande jardim emoldurando àquela Casa do Talento. Esse foi o mais apropriado substan�vo que consegui que se encaixasse, qualificasse ou caracterizasse a Casa. Não pela casa em si, mas pelo que encontrei dentro dela. O anfitrião e amigo veio até à porta para nos receber com um sorridente e aconchegante abraço. Sua simpá�ca esposa educadamente se apresentou. Assim, rapidamente, passamos por dentro da casa, mas vi de soslaio que havia uma estrutura que lembrava um palco em plena sala: um piano, bateria e caixas de som. A falta de in�midade, e tempo, não me permi�ram perguntar a finalidade daquilo. Até porque a ansiedade maior era conhecer a falada oficina. Aquela oficina, para quem tem o mínimo de in�madade e tendência com a engenharia mecânica, é um verdadeiro sonho de consumo. Fui apresentado a vários “inventos”, adaptações ou protó�pos para o exercício da cirurgia reconstrutora da face. Após o término da detalhada visita à oficina, voltamos para a casa. O ponto de parada foi a sala que �nha, mesmo que rapidamente, me chamado a atenção. Para minha surpresa, e inical incompressão, os dois se comunicaram entre gestos e tomaram assento no, agora evidente, palco domés�co. O anfitrião iniciou a explicação de todo aquele cenário. “Aqui em casa, todos os domingos, a porta e janelas ficam abertas para uma reunião de amigos que tocam algum instrumento ou que simplesmente gostam de uma boa música. A regra é: não pode bebida alcoolica”. Logo depois, após nova ges�culação, o Professor Emérito tomou assento no banco do piano e, com a complicidade da bateria do amigo, passei a ser brindado com uma bela interpretação da música de Antônio Car-
los Jobim e Vinícius de Morais: Eu sei que vou te amar. Achei, não expressei essa opinião, que o Professor estava de alguma forma lembrando de quanto infectante é o vírus da hepa�te. Fui testemunha musical de que a afamada habilidade manual daquela dupla que se apresentava, com exclusividade, na Casa do Talento transcendia às salas cirúrgicas e estavam expressas no dedilhar do piano, com o Professor Judice, e na bateria pelo seu talentoso amigo, o Dr. Edgar Alves Costa. Assim terminamos a tarde da sexta-feira em companhia do professor Luiz Felippe Judice e de seu amigo Edgar. O dia terminou com um jantar em companhia de seu filho, o também cirurgião torácico Ângelo Mesquita Judice, e sua esposa Norimar. Foi um momento muito agradável, degustando um bom Carménère Chileno e tendo como vista a baia da Guanabara. No dia seguinte, no sábado, a caminho do aeroporto ainda �ve o prazer e oportunidade de conhecer a casa do professor Judice. Sentamos naquelas cadeiras de balanço em uma varanda ampla e aconchegante, onde a aragem vinda das praias oceânicas nos refrescava, de onde se podia contemplar os jardins e uma virgem floresta das encostas nos arredores de Niterói. Assim, ainda �vemos oportunidade de falar sobre a nossa SBCT e suas aulas de piano. Se alguém, em qualquer época da nossa história, perguntar se a SBCT tem entre seus associados um professor, sócio e fundador, que desempenha um trabalho emérito, árduo, abnegado, persistente, prazeroso ao longo de mais de 50 anos, será dito que sim e que ele se chama Luiz Felippe Judice! ■ Carlos Alberto A. Araújo
Vice-presidente da SBCT - RN 19
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