A morte do Sol
J.R. Silva Bittencourt
A morte do Sol Imagem: a tela do cinema A imagem do Sol que vemos brilhar durante o dia (não o próprio Sol) estaria recuando no tempo que nos separa da verdadeira estrela, atribuindo-lhe uma natureza negativa. Esta é uma característica de qualquer projeção. Por exemplo, o filme que você assiste na tela de uma dessas nossas salas está no passado, em relação ao momento em que abandona o projetor, mesmo que seja impossível medir esse intervalo de tempo separadamente. Você poderia pensar que o exemplo não é aplicável à observação das imagens das galáxias distantes, pois a velocidade assumida pela luz no vácuo criaria limitações de acesso diferentes. Ao nível da nossa interpretação subjetiva, porém, as imagens estarão se formando por rastreamento remoto nos dois casos, sem depender das distâncias envolvidas. Nesse processo de rastreamento das informações não poderemos mais medir qualquer intervalo de tempo, que pudesse ter existido antes que essas informações fossem disponibilizadas. As infinitudes tornaram-se iguais em todos os níveis da matéria, porque não podem ser dimensionadas fora do tempo. A situação não é muito diferente no caso do Sol e da luz que ele emite. A radiação fornecerá a matéria prima a ser utilizada pelo nosso cérebro na formação das imagens e, quando pudermos ter noção da sua existência, a matéria escura do Sol
estará ocupando outro lugar qualquer, colocado para sempre no “futuro”. Enquanto você olha para a tela do cinema tem a exata noção de que há um projetor escondido na sala à sua retaguarda, separado no tempo das próprias imagens que projeta. Tanto no caso do Sol como no do projetor, o tempo retido durante o deslocamento da luz tem o mesmo significado, pois a separação não dependeria do módulo da distância. A nossa noção de tempo está de alguma forma ligada à nossa sensorialidade, pois ela se manifesta instantaneamente a partir do aporte das informações. Neste caso, estaremos isoladamente assumindo o lugar do projetor no cinema, o que nos colocará no centro do que está sendo observado. As imagens das galáxias se afastam no sentido negativo do tempo, assim como uma imagem que se observa num espelho, enquanto recuamos na direção do presente. Se não há um tempo que possa ser medido antes do espalhamento da luz e da radiação como um todo, por que não deveríamos pensar na possibilidade de que dois observadores isolados pudessem estar sendo induzidos a pensar que veriam a mesma coisa, a partir do mesmo momento do tempo? Resumindo, poderíamos dizer que o Sol e outros astros quaisquer não estarão no futuro, em relação à posição que ocupamos fisicamente no espaço. Porém, estarão no futuro em relação ao momento em que tomamos consciência de que eles existem,
através das suas imagens. Se o Sol deixasse de brilhar neste instante, você não iria notar nada de diferente acontecendo antes que se passassem oito minutos. Até lá, a sua imagem continuaria nos ofuscando no céu de forma irreal, ou apenas do nosso ponto de vista. A explicação para o fenômeno, dada pela astronomia e já anteriormente citada, é a de que estamos fora do cone de luz do futuro do Sol. Por isso, julgamos ser bastante apropriado dizer-se que dentro desse cone o tempo não existe. Também não cometeremos nenhum deslize se dissermos que caso ele exista, jamais iremos dispor de um método experimental que nos permita medi-lo diretamente. A afirmação oficial, relacionada a esse cone de luz, subentende que ao nível da radiação eletromagnética todos os corpos emissores (incluindo nós mesmos) estão no vértice do seu respectivo cone de luz ou “no centro”. Quando isso acontece com o Sol, a contração e o decorrente “esticamento” da rede do espaço ao seu redor, teoricamente provocados pela sua massa, estariam colocando a Terra fora do cone de luz do futuro da estrela, virtualmente numa outra dimensão do tempo. Portanto, neste momento não teríamos como observá-la diretamente. É incrível, mas apesar de estarmos juntos com o Sol no presente, registramolo como se a nossa posição estivesse no passado! Isso decorre da observação de que a formação do seu cone de luz é anterior ao aporte da informação, por isso recebe a designação apropriada de “cone
de luz do futuro”. O pior, é que normalmente não temos consciência disso, pois achamos que a imagem que vemos durante o dia é o próprio Sol e, nessa inversão de expectativas, concluímos naturalmente que ele está no passado, pois é apenas naquele sentido da seta do tempo que as informações podem ser rastreadas. O erro de avaliação é criado pela nossa dedução natural de que a luz do Sol se desloca, no espaço, por dentro do nosso próprio cone de luz do passado, o que é uma impossibilidade física. Se assim fosse, não haveria um cone de luz do futuro do Sol ou de outra estrela qualquer, gerando incerteza nas suas posições reais. Como observador na superfície da Terra você estará ocupando “simultaneamente” o seu próprio lugar no centro virtual, vendo a imagem do Sol agora projetada no passado e ocupando o único foco da elipse, criada no tempo pela órbita do planeta. A instantaneidade da observação de todo o passado do universo, que estaria sendo extrapolada para a abóbada celeste pela projeção das informações, justifica-se pela exclusão do módulo de tempo total que teria sido despendido pela luz para se “deslocar” por dentro do cone do futuro dos astros. A visão mais moderna, introduzida pela gravidade de Einstein, permite especular que o movimento da luz no vácuo poderia ser apenas aparente, uma vez que ela teria estado se acomodando a uma alteração anterior na própria geometria do espaço (campo quantizado), com a sua
rede gerando inércia sem depender da influência das massas. “Os círculos representam um caso particular de elipse em que os dois focos coincidem”. (Tipler, Paul Allan, 1933 - Física para cientistas e engenheiros. Ed LTC, Rio de Janeiro, 2006, p. 389).
O problema com uma órbita elíptica em que os focos coincidissem, é que a velocidade e a aceleração de um planeta seriam constantes em módulo ao longo do tempo, e não haveria os conhecidos movimentos de aproximação e de afastamento em relação ao Sol, que ocuparia sempre o único foco dessa elipse. Sou tentado a pensar que isso iria conferir ao círculo, a condição de ser o resultado final de um processo interpretativo defasado no tempo. Esse é um efeito semelhante ao que seria provocado por uma pedra que fosse jogada na superfície de um lago de águas tranquilas, pois as ondas formariam círculos concêntricos sobre a sua superfície bidimensional, deslocando-se todas elas com a mesma velocidade. No caso da radiação eletromagnética, não havendo polarização entre as ondas a sua utilização para descrever o movimento de uma fonte distante, como é o caso de uma estrela, perderia o sentido. O Sol que, com os olhos devidamente protegidos, podemos ver brilhando no céu em um momento qualquer do dia, deve se tratar de uma imagem,
embora o verdadeiro continue por aí. A companheira visível da estrela está nos colocando no passado, ao nível dos sentidos, através da radiação que teria sido “emitida” pelo verdadeiro Sol e que, devido à sua velocidade limitada, teria ficado retida por 8 minutos. Porém, dentro do cone de luz do Sol o tempo não pode ser medido diretamente. Deduz-se, com base na lógica, que a luz precisaria desses 8 minutos para percorrer os 150 milhões de quilômetros que nos separam da nossa estrela, porque a luz tem uma velocidade fixa e limitada em 300.000 km/s. Essa avaliação depende do rastreamento remoto da luz solar, ou do ato de a seguirmos “depois” que ela nos alcança. Será que a velocidade da luz ainda se sustentaria, sem a existência da vida consciente? Seria essa velocidade o resultado de um verdadeiro pacote, que estaria sendo aberto fora do seu próprio tempo? Normalmente, extrapolamos esses valores de velocidade na direção do futuro ou para dentro dos cones de luz dos eventos, como se o futuro fosse uma imagem inversa do nosso próprio passado. A verdade é que, para o nosso ponto de vista, a luz sempre esteve à nossa disposição na Terra, o que sugere que a sua velocidade estaria de alguma forma envolvida com a atuação da nossa memória: para nós, somente existe o que pode ser lembrado. Vamos tentar tornar mais clara essa ideia. A luz do Sol parece “se acomodar” por dentro do seu cone de luz do futuro a uma curvatura do
espaço que não faz parte da nossa realidade física, mesmo que isso resulte da nossa impotência para medir diretamente o tempo, naquela região do espaço ao redor da estrela. Poderíamos pensar que as duas faces da mesma moeda, cunhadas nos lados “de dentro” e “de fora” do espaço-tempo, são simétricas como normalmente são as imagens refletidas num espelho, mas não teremos como provar isso na prática. Desta forma, costumamos julgar que o tempo que teria ficado retido dentro do cone de luz do Sol corresponderia aos mesmos 8 minutos, que podemos medir depois que a sua luz já alcançou a nossa posição. Mas, parece haver uma diferença fundamental de comportamento entre o real e o observado, pois o tempo foi acrescido às outras duas dimensões do espaço somente depois da inversão no sentido da sua seta. Isto é, depois que ela teria passado a apontar de forma aparente para o nosso próprio passado. O cone de luz do futuro do Sol somente ganharia profundidade, se as ondas se superpusessem “ao longo do tempo”. Como não se pode garantir que o tempo exista no futuro, não se poderia contar com a existência de movimento real para a luz naquele sentido da seta do tempo. Por via de consequência, não existiriam ondas dentro dos cones de luz dos eventos, pois elas dependem do movimento. Isso está de acordo com a afirmação de Einstein de que a luz, ao percorrer o vácuo, utilizaria o seu aspecto corpuscular e não o de onda. Sou levado a pensar que a terceira dimensão
do espaço seja mesmo o tempo (do qual depende a profundidade do cone), pois, fora do seu registro direto, o movimento virtualmente desaparece. A profundidade e todas as outras dimensões que você possa atribuir ao espaço são secundárias, estando as suas existências colocadas na dependência do aporte da informação, que é o que nos permite definir o fluxo contínuo do tempo. Santa Maria, RS, Brasil, 22/02/2018.