Centro Comunitário Jaguaré

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CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ Aluna: Isadora Calió Aleixo

Orientadora: Ana Cecília M. de Arruda Campos Banca Examinadora: Prof. Leandro Rodolfo Schenk, Prof. Ana Paula Giardini Pedro e Prof. Isabela Sollero Lemos

Trabalho Final de Graduação | Campinas 2017

Pontifícia Universidade Católica de Campinas Centro de Ciências Exatas e de Tecnologias Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


A todos os moradores do JaguarĂŠ que me inspiraram a realizar este projeto.


Obrigada a todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram do desenvolvimento deste trabalho, ou estiveram ao meu lado nos momentos mais difíceis. A todos os professores da universidade, que foram responsáveis por minha formação, por todos os ensinamentos ao longo destes 5 anos e em especial à minha orientadora, Ana Cecília Mattei de Arruda Campos, por todo o suporte e dedicação, por sempre me estimular a produzir cada vez mais e por me mostrar que devo sempre ter confiança em meu trabalho. Aos meus pais, irmão e namorado, que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e me incentivando a seguir meu sonho, até mesmo nos momentos mais difíceis ao longo destes anos de faculdade, entendendo até mesmo minhas ausências. Aos meus amigos, sem os quais estes 5 anos teriam sido ainda mais difíceis, pela cumplicidade e companheirismo. Ao meu grupo de TFG, sempre disposto a encarar os desafios que surgiram ao longo deste ano, por todo o empenho e dedicação, pelas noites viradas e até mesmo por todo o estresse vivido, mas que no fim foram de grande valia para a apresentação do nosso projeto “Eu bordo, tu bordas - Jaguaré”, do qual tenho muito orgulho. Obrigada.



ÍNDICE INTRODUÇÃO 9 1.

INSERÇÃO URBANA 11

HISTÓRICO LOCAL 12 TRANSPOSIÇÃO 14 FIOS CONDUTORES 15

2.

TEMA 17 CENTRO COMUNITÁRIO 18 EQ. MOBILIDADE VERTICAL 19 3.

O PROJETO 21

O LOCAL 22 IMPLANTAÇÃO 24 FLUXOS E ACESSOS 26

SINGULARIDADES 27 CENTRO DIA DO IDOSO 28 O PARTIDO 28 PROGRAMA 29 OS ACESSOS 29 DETALHES CONSTRUTIVOS 40

CENTRO DE PRÁTICAS REC. 46 O PARTIDO 46 PROGRAMA 47 OS ACESSOS 47 CENTRO CIDADÃO 60 O PARTIDO 60 PROGRAMA 61 OS ACESSOS 61

4.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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BIBLIOGRAFIA 73



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INTRODUÇÃO Durante a estruturação do Projeto Urbano “Eu bordo, tu bordas - Jaguaré”, o Distrito do Jaguaré em São Paulo foi amplamente analisado, o que possibilitou a elaboração de diretrizes de propostas de intervenção com o objetivo de solucionar problemas de âmbito local ou em uma escala macro, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas que ali residem, através de propostas como, requalificação e reestruturação viária, elaboração de novos tipos de sistemas de transporte público, conexão entre os diversos tipos de traçados urbanos (quadras industriais, bairro formal e comunidade), além da implantação de diversos equipamentos urbanos que iriam suprir as necessidades locais e atender a demanda da comunidade. Entre os anos de 2005 a 2012 foram desenvolvidos projetos urbanos dentro do bairro do Jaguaré e até mesmo dentro da comunidade Villa Nova Jaguaré, dentre as diretrizes destes planos, estava a necessidade de remover residências em áreas de risco, o que resultou em espaços vazios dentro da comunidade e que mesmo possuindo projeto de um espaço livre público, acabou por ser reocupado por novas residências, dentro de algum tempo. Outra questão levada em consideração durante a análise e proposta do projeto urbano “Eu bordo, tu borda - Jaguaré”, foi a necessidade de transpor grandes desníveis na borda da favela. A partir do desejo de sanar as precariedades urbanas locais e melhorar a qualidade da vida dos moradores, surgiu a ideia do Centro Comunitário Jaguaré, que teria como intenções principais:

solucionar o problema de mobilidade e acessibilidade local através de equipamentos de circulação vertical e ao mesmo tempo qualificar os espaços livres dentro da comunidade acoplando a estes equipamentos edifícios de uso comunitário.


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| Fonte: Produção grupo

1. INSERÇÃO URBANA


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HISTÓRICO LOCAL O CENTRO COMUNITÁRIO DO JAGUARÉ está localizado dentro da comunidade Villa Nova Jaguaré, em uma área que no início da urbanização feita por Henrique Dumont Villares, seria destinada a implementação de um parque público por possuir declividades elevadas e pior orientação solar. Como visto através do estudo realizado para elaboração do Projeto Urbano, em 1962 houve o início da instalação dos barracos nesta área destinada ao parque, que nunca foi totalmente implantado. Uma vez instalados os barracos a ocupação se expandiu gradativamente ao longo dos anos, trazendo cada vez mais moradores por conta da facilidade de acesso ao centro da cidade, por consequência iniciaram-se os problemas de infraestrutura no local e o risco de desmoronamento por conta da alta declividade e a imensa quantidade de construções ao longo da encosta. Em 1991 a Secretaria de Habitação desenvolve a primeira proposta institucional de habitação

para a área a fim de evitar a reocupação – o projeto não foi implementado. Em 1995 ocorre um grande desmoronamento na Favela do Jaguaré, havendo a necessidade da intervenção da Prefeitura que em 1996 iniciou a construção de dois conjuntos habitacionais que totalizavam 260 unidade habitacionais que seriam para os moradores que sofreram com o deslizamento. Em 2002 após um novo desmoronamento, que desalojou 26 famílias, a Prefeitura intervém e solicita a execução de obras para contenção da encosta e o encaminhamento das águas pluviais, lançando o programa Bairro Legal. Com auxílio da participação popular foram lançados três projetos com situações de impacto de remoções, que tinham como principal objetivo a eliminação de moradias em áreas de risco. O projeto do arquiteto Luís Mauro Freire previa a remoção de 1743 moradias e implantação de 998 novas unidades, sendo que as demais deveriam ser construídas em áreas exter-

Ocupação em 1968 | Fonte: Luis Mauro Freire


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nas a comunidade. Nas áreas de alta declividade foi proposta uma ideia que conciliasse a necessidade de conter a encosta e uma solução construtiva que dispôs as unidades paralelas às curvas de nível, estruturando as vias e minimizando escavações, porém este projeto não foi implantado e por fim foi substituído por uma proposta da construtora que eliminou a ideia de criar um sistema de lazer na área, deixando apenas espaços livres entre os conjuntos habitacionais e uma pequena área de lazer que engloba 3 quadras poliesportivas e um centro educacional, além de uma escadaria que venceria o desnível de 17 metros. Atualmente a população da comunidade Villa Nova Jaguaré é de aproximadamente 15 mil pessoas em uma área de 15 hectare, ou seja, com uma densidade demográfica de 1000 habitantes por hectare, este alto valor só é possível devido ao processo de verticalização que ocorre no local,

possuindo edificações de 5 pavimentos em áreas de declividade altíssima. É possível concluir que ao longo dos anos, mesmo com projetos de remoções de moradias em áreas de risco, com implementação de projetos de contenção da encosta, a população residente não deixa de aumentar, uma vez que os espaços livres remanescentes das remoções não ganham nenhum tipo de qualificação, ou implantação de edifícios de uso comunitário que contenham esse avanço da ocupação.

Ocupação em 2016 | Fonte: Luis Mauro Freire


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TRANSPOSIÇÃO Uma característica recorrente em muitas das favelas brasileiras é a constante necessidade de transpor grandes desníveis, uma vez que as ocupações tem inícios em espaços que se encontram vazios dentro da cidade em decorrência da alta declividade que possuem, portanto não apropriados para as construções formais. A área de encosta onde está localizada a comunidade do Jaguaré passou por uma remodelação topográfica com a criação de taludes que posteriormente receberam uma capa de concreto para conter os desmoronamentos que ocorriam na região, porém dentro deste projeto foi estabelecido apenas um ponto público de transposição vertical, dentre os quase um quilômetro de extensão da encosta. Houve portanto a necessidade de improvisação por parte da população residente, que ne-

cessitava de maneiras de transpor estes desníveis, criando assim pequenas escadarias em vielas íngremes, ou até mesmo rampas com inclinação superior ao considerado aceitável para pedestres.

Transposição Projeto 2012 | Fonte: favelasaopaulomedellin.fau.usp.br

Transposição atualmente - 2017 | Fonte: Produção grupo


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FIOS CONDUTORES Partindo da premissa de qualificar espaços livres dentro da comunidade, dando a eles um uso comunitário e ao mesmo tempo um equipamento de transposição vertical, para que os mesmos fossem utilizados pelos moradores, assumiu-se enfrentar a problemática de trabalhar esta barreira física que seria a encosta do morro. Outro fio condutor para elaboração deste projeto foi a experiência vivida durante a visita de campo, onde foi possível ver de maneira bem próxima a necessidade de espaços de uso comunitário próximos, sejam eles para uso de crianças, jovens, adultos ou idosos, uma vez que dentro da comunidade o espaço livre existente é a rua ou viela, ou seja, não há nenhum tipo de qualidade. Contando com a proposta urbana de remoções de moradias em áreas de risco e a criação de um eixo com diversos tipos de sistemas de transporte público localizado na borda da favela, que conectaria a área ao resto da cidade e por consequência a diversas cidades próximas, se verificou uma oportunidade de conexão entre este novo centro comunitário dentro da favela, com o restante da cidade, o que traria mais benefícios a todos os moradores.


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| Fonte: Produção grupo

2. tema


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CENTRO COMUNITÁRIO Os Centros Comunitários são locais de execução de ações de proteção social, cujo objetivo é dar assistência, aconselhamento e prover de alguns meios para ajudar pessoas em situação de risco, seja ele físico ou psicológico. Além desta noção básica de proteção a pessoas em situação de vulnerabilidade dentro da comunidade, os centros comunitários também funcionam como locais para desenvolvimento de potencialidades através de seus serviços, projetos, programas e benefícios, buscando criar atividades que beneficiem de maneira simples e direta a vida destas pessoas. Almejando a simplicidade das dinâmicas do dia a dia, um centro comunitário tenta criar ações ou exercícios que ocupem uma parcela livre do dia de seus usuários, seja através do esporte, de cursos profissionalizantes, aulas de reforço para estudantes, atividades de recreação, palestras, entre outras ações. O CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ conta, em princípio, com três pontos principais de atendimento, distribuído em três diferentes edifícios. Juntos eles buscam atender de maneira simples, direta e cotidiana a vida de muitos moradores da Comunidade Villa Nova Jaguaré, além é claro, atender qualquer morador da região que deseje realizar suas atividades.


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EQUIPAMENTOS DE MOBILIDADE vertical Equipamentos de mobilidade são essenciais quando falamos de uma comunidade localizada em uma encosta. O mínimo que se espera de uma vida com qualidade é o direito de circular próximo a sua casa, ou para se deslocar até um ponto de transporte público. Como transpor uma encosta com desníveis que chegam a 17 metros de altura? Atualmente essa transposição é feita através de vielas inclinadas ou escadas improvisadas pelos moradores dentro dos espaços de circulação. O direito de ir e vir é lesado a partir do momento que se torna um transtorno efetuar atividades do dia a dia em decorrência de falta de acessibilidade. Uma maneira de solucionar esta problemática é através da instalação de equipamentos de mobilidade vertical que possam atender de maneira simples e direta a demanda de deslocamento diária dos moradores, sendo estes equipamentos escadas com padrão dentro das normas de segurança e também elevadores que possam ampliar ainda o acesso às mais altas cotas da comunidade para pessoas portadoras de necessidades especiais, idosos ou qualquer indivíduo que necessite deste auxilio.


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| Fonte: favelasaopaulomedellin.fau.usp.br

3. O PROJETO


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O LOCAL A partir do desejo de que o CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ estivesse conectado a diversos acessos da comunidade, sendo em sua maioria vielas em cotas distintas, dando a estes pontos um equipamento de mobilidade vertical acoplado à um edifício de uso comunitário, foi estabelecido que este estaria subdividido em três centros com programas e funções diferentes, para que esta acessibilidade pudesse acontecer ao longo da encosta e não apenas em um único ponto isolado. Sua localização deveria propiciar um fácil acesso às cotas mais altas da encosta e ao mesmo tempo qualificar a área na qual está instalado, o terreno escolhido para sua implantação está em um ponto estratégico, pois além desta transposição vertical, o trajeto faz ligação de algumas vielas no centro da comunidade com a Rua José Maria da Silva, uma das principais vias de transporte público dentro do projeto Urbano elaborado. Nesta via está localizado uma parte do trajeto do VLT proposto, com pontos de parada e estações, além de uma ciclovia que se conecta as demais ciclovias já existentes, há também a passagem de carros, porém com velocidade reduzida para que o trânsito priorize os pedestres e os ciclistas. Esta área passou por uma intervenção durante o projeto elaborado pelo escritório Boldarini Arquitetos Associados (2010-2012), como parte das ações de urbanização da Favela Nova Jaguaré coordenada pela Secretaria de Habitação do Município de São Paulo, onde a área era denominada como Setor 3. Como elemento principal do projeto foi proposto um eixo de circulação que conectaria as cotas superiores pelos patamares onde estariam

localizados os equipamentos e espaços para atividades de esporte, lazer e recreação. Foi construído também durante este projeto, um Centro Comunitário elaborado para abrigar um espaço de informática e que abrigaria em sua cobertura a praça-mirante.

Imagem aérea início das obras - 2010 | Fonte: Fotógrafo Fabio Knoll

Obra finalizada - 2012 | Fonte: Fotógrafo Daniel Ducci


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Após 5 anos da conclusão das obras o local encontra-se depredado, com inúmeras moradias construídas e outras em processo de execução, até mesmo sobre os percursos de circulação e vielas, os equipamentos de lazer e recreação instalados durante a execução do projeto estão em más condições de uso. Este avanço das construções dentro desta área, até então destinada ao lazer dos moradores, se deve ao fato de que o Centro Comunitário foi desativado, perdendo assim um espaço de uso comum que mantinha a constante circulação de pessoas e criava a ideia pertencimento aos moradores, que por sua vez mantinham preservado o local.

Imagem atual - 2017 | Fonte: Produção grupo

Imagem atual - 2017 | Fonte: Produção grupo


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IMPLANTAÇÃO O terreno possui uma área de aproximadamente 9,5 mil m², com declividades que chegam a 17 metros de altura. Alguns dos taludes existentes possuem uma capa de concreto que contém os deslizamentos na encosta, outros taludes são vegetados ou então sob novas construções.

Área de implantação do projeto | Aprox. 9.500 m²

Não considerando a vegetação rasteira existente nos taludes, atualmente a área não possui nenhuma massa de vegetação que seja significativa. A implantação dos três edifícios do CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ se deu no sentido leste-oeste para que suas fachadas ficassem voltadas para o percurso entre eles e ao mesmo tempo que fosse possível criar terraços em suas coberturas para contemplação da vista, já que estão implantados em uma cota elevada do restante do bairro. Juntamente com os três edifícios, há no terreno a proposta de remodelação e regeneração da praça e trajetos existentes projetados durante a intervenção urbana de 2012, para compor e conectar o centro comunitário em todos os sentidos, horizontais e verticais, com o restante da comunidade e bairro. Desta maneira o centro como um todo se torna um praça linear com canteiros arborizados, quadras poliesportivas reativadas e espaços de permanência. Os três edifícios estão implantados de maneira que seus térreos sejam livres, contendo apenas o acesso às escadas e elevador e os pilares estruturais, a intenção é de que desta maneira o térreo tenha circulação livre por toda a praça linear, estando os edifícios apenas instalados sobre ela, não prejudicando os fluxos existentes, mas ainda sim compondo a paisagem renovada.


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CENTRO DE ATENDIMENTO AO CIDADÃO

PERCURSO EXISTENTES REVITALIZADO TALUDE COM CAPA DE CONCRETO

CENTRO DIA DO IDOSO REFORMA E REATIVAÇÃO DE EQUIPAMENTOS EXISTENTES (ARQUIBANCADAS, QUADRAS E RAMPAS)

CENTRO DE PRÁTICAS RECREATIVAS CONJUNTO CINGAPURA DO JAGUARÉ REFORMA E REATIVAÇÃO DE EQUIPAMENTOS EXISTENTES (ARQUIBANCADAS, QUADRAS E RAMPAS)

ESCOLA ESTADUAL JOÃO CRUZ COSTA


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FLUXOS E ACESSOS É possível acessar a praça que comporta os três edifícios do CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ por diversos pontos ao longo da encosta, sendo eles através de pequenas vielas localizadas nas cotas mais baixas entre as casas, que chegam ao patamar da praça por meio de rampas, ou então o acesso pode ser feito através de uma rua próxima à Escola Estadual João Cruz Costa, que é utilizada como meio de entrada nos estacionamentos do conjunto Cingapura do Jaguaré. Estes acessos por vielas é feito horizontalmente, uma vez que a declividade neste trecho é baixa. Na área bem próxima a encosta, com declividade elevada, os fluxos acontecem por meio das

escadas e elevadores implantados junto aos edifícios. Esta transposição vertical acontece independentemente do funcionamento dos edifícios, uma vez que trata-se de uma estrutura acoplada ao mesmo, que possui patamares externos às construções permitindo assim a livre circulação de pessoas em qualquer período do dia, mas ao mesmo tempo é utilizada como acesso aos pavimentos das edificações.

LEGENDA: Fluxos/percursos horizontais - acesso pedestre Esquema de fluxos

Fluxos/percursos verticais - acesso pedestre


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| Fonte: Produção grupo

4. SINGULARIDADES


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CENTRO DIA DO IDOSO O CENTRO DIA DO IDOSO é um espaço destinado a proporcionar acolhimento, proteção e convivência social a idosos cujas famílias não tenham condições de prover estes cuidados durante todo o dia ou parte dele. O serviço tem como finalidade promover autonomia, inclusão social e melhoria da qualidade de vida dos idosos através de atividades recreativas, práticas culinárias, exercícios físicos adequados e trabalhos com hortas urbanas. Através de dados coletados durante o estudo do Projeto Urbano, que indicavam a extrema necessidade de um espaço de atendimento ao idoso, uma vez que no Distrito do Jaguaré esta prática é nula.

O PARTIDO O projeto está vinculado à análise do terreno e a organização funcional do programa de necessidades. A intenção foi conceber um edifício caracterizado por espaços permeáveis, iluminados e com configuração livre. Para tanto optou-se por trabalhar com materiais de uso comum dentro da comunidade para facilitar a execução do projeto e ao mesmo tempo criar um edifício que se fundisse a paisagem local. Os materiais utilizados na concepção deste projeto foram: o concreto moldado in loco em sua estrutura (vigas e pilares), a vedação feita ora com blocos de concreto, ora com caixilharia metálica e fechamento de vidro. Outra característica importante a se destacar, é a utilização de tijolos cerâmicos laminados de

21 furos nas fachadas de maneira que barre parcialmente a incidência de luz dentro dos ambientes com caixilharia, o que cria um espaço iluminado mas que não permite que a luz incida diretamente atrapalhando as atividades diárias. Ao longo das fachadas de tijolos cerâmicos laminados há interrupções de uma ou duas colunas dos mesmos, com a intenção de promover aberturas maiores e criar ritmo na fachada associadas aos pilaretes estruturais. O projeto é constituído de dois volumes encaixados um sobre o outro, elevados do térreo, de maneira que seja possível atingir a cota mais elevada para realizar a transposição vertical necessária. Os pavimentos possuem plantas livres, onde é possível alterar a configuração conforme a necessidade, excluindo as áreas de sanitários que se mantém fixas. A estrutura metálica das escadas e elevador é chumbada ao edifício de maneira que a estrutura de concreto do Centro auxilie na estabilidade da mesma.

Esquema de texturas e materiais na fachada


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PROGRAMA

OS ACESSOS

A partir do estudo sobre atividades de recreação para idosos, buscando projetar ambientes que tenham configuração mutável, iniciou-se a elaboração do projeto a partir de uma organização funcional dos ambientes que levariam a uma concepção de programa. O pavimento Térreo, como já destacado possui apenas os acessos à circulação vertical, deixando a passagem de moradores livre sob o edifício. Seu primeiro pavimento possui uma grande sala multiuso. Dentre as possibilidade de utilização temos como exemplo atividades de recreação, palestras, exibição de filmes, apresentação de pequenos cursos, entre outras. Também neste pavimento há uma sala de atendimento fisioterapêutico e os sanitários adaptados para portadores de necessidades especiais. O segundo pavimento é dividido em duas áreas: internamente abriga a administração do centro com balcão de atendimento e um depósito para armazenamento de materiais, juntamente com uma sala multiuso, já em sua parte externa houve a criação de um deck elevado, que possibilita a expansão da sala em caso de necessidade. Nesta área externa também estão instaladas as hortas moduláveis, utilizadas em atividade para os idosos, as mesmas são desmontáveis. Por fim, o último pavimento, intitulado como terraço, que faz a ligação entre o edifício e a cota do CCP (ligação com a rua), possui também hortas moduláveis e uma cozinha funcional, que atende não somente os usuários do edifício mas também qualquer morador que esteja de passagem. A cozinha funcional é utilizada também para apresentação de aulas de culinária.

Os fluxos e acesso acontecem em dois sentidos, o primeiro pelo térreo (praça) através das escadas e elevador, onde é possível ingressar nos pavimentos, chegando até o terraço na cobertura por meio de uma passarela e podendo assim acessar a cota do CCP (Centro Cultural e Profissionalizante) administrado pela Congregação de Santa Cruz que tem acesso direto a Rua Assum Preto, o sentido inverso leva o morador, da cota mais elevada até a praça reativada.

LEGENDA: Circulação existente entre vielas Circulação vertical por escada Circulação vertical por elevador (acessibilidade) Acesso aos pavimentos do edifício

Esquema de acessos e circulações


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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO


A

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B

A C

PLANTA 1 ° PAVIMENTO

C


A

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B

A C

PLANTA 2 ° PAVIMENTO

C


A

33 B

B

A C

PLANTA TERRAÇO

C


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CORTE | AA


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CORTE | BB


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CORTE | CC


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detalhes construtivos A intenção é de projetar edifícios que se misturem a paisagem local, buscando racionalidade construtiva para economia e não desperdício de materiais, empregando práticas construtivas comumente utilizadas dentro da comunidade. Sendo assim, a estrutura (pilares, vigas e lajes) foi elaborada em concreto moldado in loco, os pilares dispostos em um grelha de 5x10 metros, tendo no caso deste edifício uma rotação desta grelha. A vedação feita através de paredes de blocos de cimento no caso de fachadas cegas, ou quando necessária a entrada de luz, feita através de caixilho metálico e vidro. Como destacado anteriormente para barrar de forma parcial a incidência solar dentro do edifício, em sua fachada foi criada uma parede de tijolos cerâmicos laminados dispostos de maneira que os furos estejam no sentido interno/externo e permitam que a luz passe entre eles. Ao longo desta parede estão dispostos pilaretes estruturais em concreto que se encaixam em uma vigota de concreto em seu topo. O espaçamento entre as paredes, cria um ritmo na fachada, ao mesmo tempo que diminui a extensão das mesmas, facilitando a sustentação.

DETALHE | 01


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CENTRO DE PRÁTICAS RECREATIVAS Durante a visita de campo na comunidade villa nova jaguaré, foi possivel observar crianças e jovens jogando bola nas ruas ou brincando em vielas, buscando uma maneira de se entreter em meio as atividades do dia a dia. Muitos jovens ficam ociosos durante boa parte do dia após o horário de aula, podendo em alguns casos se envolver com drogas ou algo do tipo. O CENTRO DE PRÁTICAS RECREATIVAS foi projetado com a intenção de criar um espaço onde pessoas de todas as idades, mas principalmente crianças e jovens pudessem praticar esportes e complementar sua formação, além de ser uma área de recreação.

seguindo o mesmo conceito construtivo. O projeto é composto de três pavimentos dispostos em dois volumes encaixados um sobre o outro, com térreo livre para circulação. A circulação vertical é feita através de uma escada metálica já existente no local, advinda do projeto elaborado pelo escritório Boldarini Arquitetos Associados, que atualmente se encontra depredada e seria reformada para utilização, além das escadas, outro meio de mobilidade vertical neste edifício seria o elevador disposto na fachada nordeste e que tema acesso aos pavimentos através de passarelas metálicas.

O PARTIDO Novamente o projeto está vinculado à análise do terreno e a organização funcional do programa de necessidades. A intenção foi conceber um edifício caracterizado por espaços permeáveis, iluminados e com configuração livre. Os materiais utilizados são os mesmos que no CENTRO DIA DO IDOSO, uma vez que a intenção de criar uma espaço de utilização comunitária que se misture a paisagem local é a mesma, assim como evitar desperdícios e utilizar praticas construtivas já existentes na comunidade. Portanto a estrutura é feita em concreto moldado in loco, com vedações feitas ora com blocos de concreto, ora por caixilharia e vidro. São utilizados também tijolos cerâmicos laminados de 21 furos em parte da fachada, com a mesma intenção de controlar a incidência solar e

Esquema de texturas e materiais na fachada


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PROGRAMA

OS ACESSOS

Com a experiência vivenciada durante a visita de estudo dentro da comunidade, foi possível entender a real necessidade de um ambiente onde os moradores pudessem praticar esportes ou até mesmo por lazer. Da mesma forma que no edifício anterior, a intenção era projetar ambientes amplos, propícios para atividades recreativas e com configuração livre que pudesse ser alterada conforme necessidade de utilização. O pavimento Térreo, como já destacado possui apenas os acessos à circulação vertical, deixando a passagem de moradores livre sob o edifício. Seu primeiro pavimento possui uma ampla sala predicada para prática de artes marciais e abriga os vestiários de utilização do centro. O segundo pavimento é dividido em duas áreas: internamente abriga a sala de expressão corporal, que também possui planta livre e pode ser expandida para a área externa que possui um deck elevado, esta expansão pode se dar, por exemplo, em virtude de apresentações que possam acontecer e necessitem de espaço para abrigar os espectadores. O terceiro pavimento possui as mesmas dimensões e configuração do segundo e funciona como uma sala multiuso. Por fim, o último pavimento, também intitulado como terraço dá acesso, através de uma rampa à viela existente na cota mais elevada desta parte da encosta. Este terraço pode ser utilizado de maneira livre, tanto por alunos do centro, quanto por qualquer morador, por se tratar também de um espaço de permanência público.

Os fluxos e acessos do CENTRO DE PRÁTICAS RECREATIVAS acontecem verticalmente conectando patamares distantes 17 metros de altura, através das escadas e elevador, que permitem também o acesso aos pavimentos por meio de passarelas metálicas. A circulação horizontal acontece na praça reativada em seu térreo que se conecta a várias vielas existentes e também com o acesso a utilização dos pavimentos do edifício. A circulação vertical é totalmente de uso público, servindo como transposição para moradores, as áreas externas do edifício (deck e terraço) possui fruição publica também. Apenas as áreas interna ao edifício possuem circulação e acesso restritos aos horários de funcionamento do mesmo. LEGENDA:

Circulação existente entre vielas Circulação vertical por escada Circulação vertical por elevador (acessibilidade) Acesso aos pavimentos do edifício

Esquema de acessos e circulações


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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO


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PLANTA 1 ° PAVIMENTO


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PLANTA 2° PAVIMENTO


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PLANTA 3 ° PAVIMENTO


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PLANTA TERRAÇO


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VISTA | 01


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CORTE | AA


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CORTE | BB


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CENTRO DO CIDADÃO Outra experiência vivenciada durante a visita de estudo na área, foi a necessidade de um espaço que auxiliasse os moradores em questões sociais, jurídicas e que funcionasse também como ponto de organização da comunidade. O CENTRO DO CIDADÃO foi projetado com a ideia de atender e solucionar de maneira simples os problemas cotidianos dos moradores, com atendimento jurídico, assistência social e auxílio com questões relacionadas a prefeitura ou órgãos governamentais, funciona também como associação de moradores, para que questões relacionadas a comunidade sejam discutidas.

O PARTIDO Assim como os outros dois edifícios que compõem o CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ o projeto surgiu da análise do terreno e a busca de uma organização funcional do programa de necessidades. A intenção foi conceber um edifício caracterizado por uma planta livre mas que contenha divisões internas pré-dispostas, que atendem ao programa disposto mas que podem ser alteradas conforme necessidade. Os materiais utilizados e os sistemas construtivos empregados neste edifício, seguem a mesma linha de raciocínio dos demais, tendo como características principais se fundir com a paisagem local, evitar desperdício de materiais e utilizar práticas construtivas existentes dentro da favela. Sendo assim, sua estrutura é feita em concreto moldado in loco, suas vedações feitas com blocos de

concreto e caixilharia. Novamente o tijolo cerâmico laminado é utilizado em alguns pontos das fachadas, controlando a incidência de luz solar. O projeto é composto de cinco pavimentos dispostos de maneira que estejam escalonados acompanhando o talude próximo que possui 10 metros de altura. A circulação vertical é feita através da escala metálica implantada ao lado de um elevador. Por conta da proximidade ao talude concretado o edifício possui um formato retangular estruturado em seus primeiros pavimentos em um grelha de 5x5 metros, em seus dois últimos pavimentos a grelha é de 5x10 para criar vãos maiores uma vez que os ambientes também se tornam maiores e com configuração livre.


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PROGRAMA

OS ACESSOS

Este edifício diferente dos demais possui um pavimento inferior, resultante da declividade acentuada no local e para que o térreo pudesse estar na mesma cota que a viela existente e que possui maior fluxo de pessoas. Neste pavimento inferior foram projetadas salas de 5x5 metros que podem ser alugadas ou disponibilizadas para os moradores, utilizando para comércio e serviços dentro da comunidade. A separação entre as salas é feita por painel wall, portanto é possível expandir uma ou mais salas de acordo com a utilização. No pavimento térreo há uma ampla sala multiuso, que pode por exemplo ser utilizada como espaço para palestras, para atividades ou reuniões, campanhas de vacinação, entre outros usos, há também neste pavimento sanitários acessíveis para portadores de necessidades especiais. O primeiro pavimento do CENTRO DO CIDADÃO abriga salas de atendimento jurídico, salas de assistência social, uma ala de atendimento relacionados a processos com a prefeitura, além de uma enfermaria que pode tratar de pessoas em situação de risco, seja ele social, físico ou emocional, levando em consideração esta questão social, foram projetados também dois dormitórios que poderão ser utilizados por moradores que necessitem de abrigo por um ou dois dias. Já no segundo pavimento estão localizadas a administração do centro e uma sala multiuso, que pode ser utilizada para reuniões da associação de moradores, dentre outras atividades. Por fim o último pavimento, também denominado terraço, que é acessado através de uma passarela em estrutura metálica tem utilização livre.

Os fluxos e acessos do CENTRO DO CIDADÃO acontecem verticalmente conectando patamares distantes 10 metros de altura, através das escadas e elevador, que permitem também o acesso aos pavimentos por meio de passarelas metálicas. A circulação horizontal acontece em seu térreo que se conecta a várias vielas existentes e também com o acesso a utilização dos pavimentos do edifício. A circulação vertical é totalmente de uso público, servindo como transposição para moradores, as áreas externas do edifício (deck e terraço) possui fruição publica também. Apenas as áreas interna ao edifício possuem circulação e acesso restritos aos horários de funcionamento do mesmo. LEGENDA: Circulação existente entre vielas Circulação vertical por escada Circulação vertical por elevador (acessibilidade) Acesso aos pavimentos do edifício

Esquema de acessos e circulações


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PLANTA PAVIMENTO INFERIOR


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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO


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PLANTA 1° PAVIMENTO


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PLANTA 2° PAVIMENTO


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PLANTA TERRAÇO


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CORTE | AA


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CORTE | BB


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CONSIDERAÇÕES FINAIS A realidade demonstra cada vez mais, as grandes desigualdades e dificuldades vividas por moradores de favelas no Brasil, muitas vezes tidos como marginais apenas por viver dentro de uma comunidade. Apesar do problema estar enraizado na base da cultura brasileira, ações que promovam a diminuição destas desigualdades e preconceitos podem aos poucos melhorar a mentalidade de toda uma população. Ao desenvolver o projeto do CENTRO COMUNITÁRIO JAGUARÉ, entendendo toda a complexidade da situação social e também topográfica da área, além de todo o funcionamento de uma favela, com seus fluxos, acessos e particularidades, a intenção foi de propor soluções que atendam todas as demandas locais, garantindo que os edifícios sejam flexíveis quanto a sua configuração interna e trabalhem junto com as necessidades dos moradores. O ponto principal deste projeto foi utilizar a arquitetura como instrumento social e ao mesmo tempo prático para ações cotidianas, desenvolvendo condições de convívio mais acolhedoras, humanas e adequadas a todos.


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BIBLIOGRAFIA SITES: http://www.imagens.usp.br/?p=2231 http://www.favelasaopaulomedellin.fau. usp.br http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br https://www.jaguarecaminhos.org.br https://www.archdaily.com.br/br/search/ all?q=centro%20comunit%C3%A1rio https://www.archdaily.com.br/br/search/ all?q=elevador https://www.vitruvius.com.br http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1960.php LIVROS: Blau, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, São Paulo; “João Filgueiras Lima – Lelé”; 1ª edição, 2000

Neufert, Ernst; “Arte de projetar em arquitetura”; 18ª edição, 2013 MONOGRAFIAS: FREIRE, Luis Mauro. “Encosta e favelas: Deficiências, conflitos e potencialidades no espaço urbano da favela Nova Jaguaré”. Dissertação de Mestrado. Paisagem e Ambiente – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP, 2006



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