Explorando relações corpo-nome e sua dimensão política a partir do filme A viagem de Chihiro Exploring body-name relationships and their political dimension from the movie Spirited Away Janaina Behling1 Resumo Quando o corpo é considerado expressão de poderes e de saberes que se articulam estrategicamente na história da sociedade ocidental a partir de Michel Foucault (1926-1984) é possível escrutinar as limitações dessa consideração quando levadas em conta, por exemplo, as relações corpo-nome como negligenciadas no dizer da corporeidade. Assim, neste artigo, tais relações são assinaladas para caracterizar o corpo-jovem a partir do filme A Viagem de Chihiro. Ancorado, o estudo, ao conceito de memória discursiva (Pechêux, 1980; Courtine,2006), o que se busca não são apenas representações de Chihiro, principalmente, quando diante de Yubaba, mas também práticas corporais como experiências transnomináveis, ou seja, que encontram na relação corpo-nome sua dimensão política. Como resultado, apresenta-se o corpo-jovem como postulado para autoria de políticas de juventude, explorando utopias da existência entre contradições da esfera legislativa (Bartijotto e Tfouni, 2015; Bartijotto, Tfouni & ScorsoliniComin, 2016) e executiva. Palavras-chave: Corporeidade; Análise do Discurso; Autoria; Políticas Públicas Abstract2 When the body is seen as an expression of power and knowledge strategically related in western social history, as put forth by Michel Foucault (1926-1984), it is possible investigate the limitations of this construct. For example, the body-name relationships are ignored when speaking about corporeality. Thus in this article such relations are drawn upon to characterize the young-body in the film Spirit Way. As the study is anchored to the concept of discursive memory (Pechêux, 1980; Courtine, 2006) what is sought is not only representations regarding Chihiro, especially faced with Yubaba, but also corporeal practices as transnominal experiences, i.e. that find a political dimension in the body-name. As a result, the young-body is presented as a postulate in which to root youth policy, exploring existence utopia within contradictions between legislative (Bartijotto e Tfouni, 2015; Bartijotto, Tfouni & Scorsolini-Comin, 2016) and executive spheres.
Key-woulds: Corporality; Discourse Analysis; Authorship; Public Polices.
1
Mestre em Linguística Aplicada pela Unicamp e Licenciada em Letras/Latim pela Unesp-Assis.
1
1. As relações corpo-nome no dizer da corporeidade da juventude O corpo é o suporte da intuição, da memória, do saber, do trabalho e, sobretudo, da invenção. (Serres, 2004, p. 36).
Se o corpo é materialidade concreta de identidades, como conceito que se situa ao nível do próprio corpo social, há algo negligenciado na linguagem dos corpos, notável nas relações com os nomes a eles atribuídos, nas ‘ambivalências em torno da expressão individual’ (Courtine, 2014) ou em como se dão as suas ‘marcas históricas’ (Tfouni, 2010), daí a epígrafe desta sessão fazer sentido, não exatamente pela ideia de “suporte”, mas de movimentos que manifestam corporeidades, por si mesmas, contraditórias e mutantes. A breve ressalva sobre a ideia de corpo como suporte se dá em função de, em parte, poder retroalimentar negligências, já que o corpo não é uma espécie de depósito ou elemento de sedimentação, como para Foucault (1969:2008) e, principalmente, separado da alma, o depositante de sedimentação, de confrontação e de dinamização de uma série de campos de verdades historicamente constituídos. Então, se na arqueologia foucaultiana o corpo aparece, sobretudo, como lugar de inscrição da alma, é porque Foucault assumiu mais a perspectiva do poder sobre o corpo, a história de sua dominação (ou aquilo que fizeram com nosso corpo na história), do que a perspectiva do corpo próprio, de seu caráter inventivo ou de resistência. Essas ambivalências podem ser consideradas como o centro das disparidades que constituem o campo da política, por exemplo, e as sucessivas formas de não-vida ou morte institucional e simbólica de corporeidades utópicas, ou seja, de corpos que ocupam não lugares, conforme corpos sem nome são corpos sem discurso próprio e dependente do discurso de outrem que os legitime, como é o caso da função do discurso do Direito sobre corpos entre temporalidades específicas da vida humana, ora chamados adolescentes ora jovens, cujo movimento diz respeito a juventudes, neste estudo. Nesse caso, entra em jogo, talvez, mais uma negligência, acerca da temporalidade e da espacialidade no estudo da corporeidade e como têm sido
2
enviesados, tempo e espaço, enquanto estruturas políticas, como em estatutos e leis, silenciando vazios e paradoxos que, para Pêcheux (2008) atestam a importância de irrupção na cadeia de significantes sobre o corpo previamente enunciado e ‘suscetível de tornar-se outro ao deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para outro’ (apud Tfouni et all, 2016, p. 922. Grifos do autores).
Assim, A noção de sujeito de direito como equivalente ao indivíduo está longe de ser evidente e natural, pois essa forma-sujeito só emergiu devido a um sistema social e contexto econômico específicos: a sociedade capitalista. Como efeito, o sujeito de direito possui direitos abstratos e é animado apenas por sua vontade que tem como opção se obrigar ao sistema, ou seja, vender sua força de trabalho a um outro sujeito de direito ( op. cit. , p. 917)
A relação nome-corpo-tempo-espaço que constitui e é constituída por corporeidades mutantes, então, se identifica com a formação discursiva do sujeito que tende a “absorver-esquecer” o interdiscurso no intradiscurso, que aparece como o já dito, o já sabido, o já criado, a lei, o governo, o sistema. Nesse caso, a ideia de adolescente e jovem é acabada e, acrescenta-se, diante de postulados sobre o pós-humano (Besnier, 2015), reforça o senso de imortalidade engendrado pelas tecnociências do ocidente que, no mínimo, ‘conseguiram fazer a morte intolerável e desencadearam expectativas frenéticas’ (op. cit. p. 57), dialogando com o senso de finitude da corporeidade, ainda que a pós-modernidade assinale, na voz de especialistas, identidades dotadas da dificuldade de aceitar a ideia de que poderiam morrer antes de estarem disponíveis técnicas de imortalização, mesmo que imortalizarse não signifique, necessariamente, escapar da venda ou adesão do corpo próprio a um ideal transitivo de direitos. O fato é que parece emergente que a criação de corporeidades, a partir da relação nome-corpo, seja mais que multissensorial. Não é de meu interesse, para tanto, quantificar ocorrências, mensurar escolhas lexicais, propor universais. Ao contrário, a leitura do filme A viagem de Chihiro, na medida em que se embasa na análise do discurso francesa e em suas implicações para a compreensão da autoria de políticas de juventudes, procura, constantemente, juntar indícios que permitam compreender como se dá a reivindicação de corporeidades. Agradeço à professora Leda Verdiani Tfouni por ter publicado nas redes que o COLETIVO PSINEMA – USP (GRUPO AD_interfaces) teria como atividade a análise 3
do filme e o explorar das relações nome-corpo.
Aproveito para agradecer à
Agradecimento especial à Julia Michaels pelo abstract. O fato é que, mesmo não conhecendo o grupo e seus integrantes mais detidamente e ainda sabendo que, no mínimo, pareçam se propor a estabelecer interfaces entre cinema e psicanálise, assim como o Cine Capsia3, senti-me atraída pela proposta, apesar de entender absolutamente nada de psicanálise, mas adorar cinema. Então, me dispus a construir o presente texto sem qualquer pretensão além da de colocar em prática um exercício de análise que gostaria de ter feito antes, desde a época da faculdade, sobre análise de filmes e construção de autorias, hoje em dia, dirigidas a políticas públicas, outro exercício que talvez eu possa fazer futuramente, analisar a autoria de políticas de juventude para além de um artigo simples. Enfim, acionando sites de busca e programas com os quais estou habituada, localizei o filme com alguma facilidade, gratuitamente, disponível em alta definição, com versão em áudio original japonês, com e sem legendas, elementos que aumentaram o prazer pela empreitada. Porém, mesmo estando disponíveis algumas dezenas de sinopses, fragmentos de ensaios, cartazes de anúncios, curiosidades pesqueiras de quem navega na internet, olhar para a relação corpo-nome me pareceu um grande desafio e determinou a leitura do filme, de modo que tudo que fui descobrindo passou a ser parte do material de análise. Então, a animação passa a ser uma espécie de catalisador (Marcuschi, 2005, Signorini, 2006) de gêneros textuais ou discursivos que permitiram proceder com o que possa chamar de análise da relação corpo-nome. Nas próximas sessões apresento algumas considerações sobre essa ideia de “catalisação”, buscando estabelecer interfaces com a análise de discurso francesa, comum ao grupo ou coletivo que, aliás, é uma palavra essencial para o momento político no qual nos encontramos, “coletivo”, e na qual a ideia de corpus é redimensionada, oferecendo integridade, intuição e alguma inventividade na proposta de análise, cujos equívocos eventuais são de minha inteira responsabilidade, no caso. 2. O corpo transnominável: A viagem de Chihiro como dispositivo de memória 4
3
Fonte: http://www.assis.unesp.br/#!/departamentos/psicologia--experimental-e-dotrabalho/cinecapsia/historico/. 4 Havendo problemas para acionar o hiperlink, basta acessar: https://youtu.be/Cqu-uOYZ694 .
4
Nesta sessão, faço algumas considerações sobre trajetórias, dentro dos estudos da linguagem, especificamente, que fui perfazendo até identificar o que possa ser um corpo transnominável. Educação pela pedra é o nome inspirado em João Cabral de Melo Neto que se pode dar ao processo pelo qual as corporeidades se constituem leitoras e escritoras, ou seja, enquanto expressão humana (Siqueira et all, 2009), encontrando na arte de viver sua consistência mais dura. Em esferas acadêmicas, por exemplo, espaço para diferentes possibilidades da relação nome-corpo e, ao mesmo tempo, de finitude do corpo inventivo consumido pelo saber catedrático, a corporeidade é dada a partir de técnicas de imortalização de saberes, mesmo em tempos nos quais sua face mestiça (Behling, 2007) exija transitividades de saberes que, por sua vez, dependem de direitos próprios até que se tornem, corpos e saberes, “duros”, no sentido de politicamente reconhecíveis. Nesse caso, transnominar é sair da chamada zona de conforto, ainda que técnicas de mortalidade, como acusações sobre uma suposta ausência de “foco”, nessa trajetória, não permitam observar que transnominar é migrar, no caso, com determinados saberes sobre leitura, escrita e autoria da esfera acadêmica (Behling, 2009) para outras, como o chamado terceiro setor (Behling, 2011) ou para o agenciamento de projetos de design social (Behling, 2012, 2013b), nem sempre, tratando de questões de ensino e aprendizagem da língua. O que permeia transitividades, no caso, não é o estatuto de uma profissão, mas o desenvolvimento da habilidade de fazer e falar de várias formas o que pode um profissional fora de seu campo de origem. A transitividade de um corpo que se nomeia ou da nomeação de um corpo que transita, tem uma dimensão política projetiva (Behling, 2014), quando movimentar-se for incomum, pelo menos, para os núcleos de prestígios dos estudos da linguagem pelos quais transito ou transitei até não querer mais. De qualquer forma é aí, no não lugar, no não dizer, que localizo alguma noção de corporeidade das juventudes, que enquanto identidade transitiva há quem identifique como “algo” desfocado, porque é ao mesmo tempo repleta da finitude da vida social, como se fosse apenas um estágio da vida, a juventude, e não um alerta da necessidade da dimensão heterotópica (Behling, 2015), de “quebra”, ruptura ou “brecha” responsável e responsiva do humano institucionalizado entre a criação de dispositivos autorais ao longo de toda uma existência. 5
Para Foucault, Dispositivo é um conjunto heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas (...) o dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos, discursivos ou não (...) tem, portanto, uma função estratégica dominante (Foucault, 1979, p. 13)
E, para Courtine A memória discursiva é formada por discursos que originam um certo número de novos atos, de palavras que os retomam, os transformam ou falam deles, enfim, os discursos que indefinidamente, para além de sua formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda a dizer (Courtine, 2009, p.106).
Então, para tratar da ideia de transnominação como ato político, destaco a influência do conceito de dispositivo para a construção do conceito de memória discursiva em Pêcheux (1980) e retratado por Courtine (2009) entre estudos especificamente voltados para a análise do discurso político, situados em torno da ideia de Análise Automática do Discurso (AAD) que, grosso modo, ao tratar de cada corpus como um único texto, o analista considera a existência de uma ou várias formações discursivas (Pêcheux, 1975) que dominam todos os textos em seu conjunto. O mais importante é que tanto Foucault quanto para Pêcheux e Courtine, pelo menos, o que temos é o que somos, ou seja, ora acionadores de dispositivos, ora desmontadores, ora os próprios dispositivos autorais. O que eles disparam, assim, é a possibilidade de derivar, ou, uma parte do que acontece enquanto se transita ou, ainda, o melhor pedaço de certa psicanálise. Um filme pode ser o arquivo de interdiscursos que serve como dispositivo de memória descoberta entre estruturas discursivas sobre corporeidades, mas reconhecíveis mais que em fragmentos ou em um filme todo, mas em tudo que o circunda, penetra, magnetiza, desmonta e transborda, oferecendo a possibilidade de reconhecer relações de equivalência ou implicação proposicional, sinonímia, contradição entre o corpo foucaultiano e sua história de dominação e o corpo próprio, ora singular ora coletivo. Essas relações são partes do interdiscurso da analista, de modo que a segunda perspectiva, a do corpo próprio, tenta explorar o não lugar do corpo jovem utópico, para além da dimensão estatutária ou da narrativa, no reivindicar de corporeidades, que sirvam como postulado para a autoria de políticas de juventude.
6
2.1 O método Na prática, A AAD, tal qual concebida por Pêcheux (op. cit. p. 257) e mais tarde por Courtine (op. cit. p. 123), levando em conta algumas considerações sobre um filme servir como dispositivo de autoria, segue os seguintes passos:
I-
Considerar a diversidade de gêneros discursivos ( Bakhtin, 1929) disponíveis e próprios de dizeres vários sobre o filme faz diferença, sem que sejam desprezadas justaposições deliberadas, no caso, de duas ambiguidades: as próprias ambiguidades dos textos e a ambiguidade da autoria atribuída ao texto. Nesse caso, o corpus é constituído de sequências discursivas retiradas de diferentes textos, como sinopses, um cartaz de divulgação e de um trecho específico do próprio filme, qual seja, aquele em que a relação nome-corpo é mais evidente e serve como dispositivo para reclamar corporeidades;
II-
A análise de pressuposições semânticas e sintáticas das sequências dos respectivos gêneros que dizem respeito à estrutura hierárquica das sentenças e à natureza dos componentes básicos de enunciação que elas contêm;
III-
O funcionamento de hipóteses linguísticas, concernentes especialmente à relação entre a noção de paráfrase e a operação de substituição de termos variáveis no interior de um contexto mais amplo, como o do Direito;
IV-
Finalmente, são inferidas reinterpretações que colocam em questão as hipóteses levantadas, confirmando-as ou corrigindo-as, reivindicando a corporeidade no não lugar do direito, mas que se instala na esfera executiva, em termos da dimensão política das corporeidades.
2.2 O material catalisado em processo de análise
Conforme salientado, considerar a diversidade de gêneros discursivos disponíveis e próprios de dizeres vários sobre o filme, que serve como dispositivo de reivindicação de corporeidades ,faz diferença, sem que sejam desprezadas justaposições deliberadas, no caso, de duas ambiguidades: as próprias ambiguidades dos textos e a ambiguidade da autoria atribuída ao texto. Assim, o cartaz de exibição do filme, um texto imagético, a capa, traz informações básicas:
7
Figura 1 – Capa do filem A viagem de Chihiro disponível em blue ray
Pela capa é possível analisar que A Viagem de Chihiro é um relativo sucesso do cinema, dado que foi premiado por uma das mais influentes academias, o Oscar, no ano de 2001, na categoria animação, informações posicionadas à esquerda, como é comum em textos publicitários. Também pela capa é perceptível que algo entre sonho e realidade faz parte da história, quando “alguém”, dentro de uma obra de animação, divide o espaço com animais alados e fundos azuis numa viagem, palavra-título. Mas, o cartaz exposto no cinema não é suficiente como dispositivo que trata de corporeidades, porque as ambiguidades sobre o que seja viajar podem ser instigantes, mas não explicam que tipo de relação se pode estabelecer com o enredo, sendo necessário saber mais. Para tanto, recorro a duas sinopses para levantar pressuposições semânticas e sintáticas que dizem respeito à estrutura hierárquica das sentenças e à natureza dos componentes básicos de enunciação que elas contêm e, depois, elaborar hipóteses sobre as corporeidades em jogo. As duas sinopses têm origens distintas, sendo que a Sinopse 1 foi retirada da página na internet do Estúdio Gribi do Brasil, responsável pela distribuição do filme em português e, a segunda, do próprio coletivo Psinema5, com o intuito de prestigiar um trabalho do grupo. Os fragmentos foram arbitrariamente escolhidos na medida em que conseguem responder às seis perguntas básicas de qualquer sistema simples de comunicação:
Sinopse 1 Chihiro é uma garota mimada e voluntariosa, que sê ve numa situação infeliz quando seus pais anunciam a mudança para uma cidade do interior, obrigando-a a abandonar seus amigos e a escola que tanto
5
Compondo, talvez, um híbrido entre sinopse e resenha digital, integrantes do coletivo criam um gênero multimodal, utilizando cenas do filme para uma análise narrativa que publicam nas redes sociais.
8
gostava. Durante a viagem, eles se perdem, e vão parar em outro mundo, o mundo dos deuses. Chihiro agora deverá amadurecer, se quiser salvar seus pais e voltar a ver seu mundo.
Sinopse 2 Título: Da inscrição do nome próprio à escrita do corpo: A viagem de Chihiro como atravessamento da fantasia Spirit Way é um filme de animação japonês de 2001 dirigido por Miyazaki. O tema central do enredo aborda a travessia da personagem Chihiro quando enfrenta uma mudança de cidade deixando seu velho e conhecido mundo da infância, amigos e os elementos mais familiares para trás (...).
Sinopse 1
Sinopse 2
(quem?)
Chihiro: uma garota mimada e voluntariosa
Chihiro: uma personagem
(o quê?) Se vê numa situação infeliz
Um
filme
de
animação
dirigido
por
Miyazaki/travessia (quando?) seus pais anunciam a mudança
Enfrenta uma mudança
(como?) obrigando-a
(ela) Deixando
(Onde?) Ao mundo dos deuses (ir)
o mundo da infância (sair)
Por quê? Deverá amadurecer
?
As palavras em movimento em relação às duas sinopses colocam, pelo menos, duas situações quase totalmente opostas para a corporeidade de Chihiro: numa (Sinopse 1), onde a mensagem assume função referencial, dotada de julgamentos, Chihiro é alguém obrigado a amadurecer diante de mudanças e isso é sinônimo de infelicidade, 9
pelo menos, para os “mimados e cheios de vontade”. Já as palavras em movimento, na Sinopse 2, onde a mensagem é mais subjetiva ou poética, Chihiro é parte de uma obra de arte, uma personagem, seguida de diretor e enredo, onde não há, aparentemente, uma resposta precisa sobre por que motivos sair do mundo da infância, no caso. A análise de pressuposições semânticas e sintáticas das sequências dos respectivos gêneros que dizem respeito à estrutura hierárquica das sentenças e à natureza dos componentes básicos de enunciação que elas contêm, então, oferecem questionamentos como: qual das duas sinopses é mais “institucional” que a outra? A Sinopse 1, por apresentar Chihiro como um objeto? A Sinopse 2, por subjetiva-la? Qual das duas disponibiliza modos de imaginar juventudes? Qual das duas considera o corpo de Chihiro como expressão de poderes e de saberes que se articulam estrategicamente na história da sociedade, se nenhuma das duas negligencia a relação corpo-nome na corporeidade de Chihiro? Não há como saber para além da instalação de lugares discursivos distintos que, em algum momento, não são opostos, mas até complementares. Assim, é preciso mergulhar no filme, sabendo que sinopses não são, apenas, referências mais ou menos aproveitáveis no momento de ser atravessado pela sétima arte, mas dispositivos de memória sobre corporeidades ora mais ora menos assinaladas. Já os questionamentos permanecem porque para que nos tornemos plenamente humanos, tanto a capacidade de objetivar quanto de subjetivar são necessárias (Serres, op. cit. p. 45) ou, na pior das hipóteses, porque a cura em psicanálise é uma utopia (KEHL, 2015) e Chihiro não vai amadurecer à força (ou vai?), ou ainda, porque não se pode fugir da compreensão da natureza amplamente autoritária de tantas utopias modernas (COLI, 2015). 3. A relação corpo-jovem na esfera legislativa: escrita e letramento Operacionalizar a substituição de termos variáveis no interior de um contexto mais amplo, como o do Direito, para reivindicar corporeidades, é o objetivo desta sessão, utilizando trechos do filme. Chihiro é uma personagem de um filme de animação lançado já há alguns anos e tem como tema central a travessia de um corpo, o seu, para um lugar diferente do habitual. A forte presença de parentes próximos, como seus pais, indica que seja jovem
10
o bastante para vacilar na travessia proposta, ainda que estes se transformem em porcos, logo no início da empreitada. De qualquer forma, a travessia de Chihiro é marcada por uma série de leis, de modo que a relação corpo-nome se materializa, principalmente, quando se trata de legislar sobre o dizer da corporeidade a partir da escrita, assim como ocorre no caso da legislação brasileira, de acordo com Tfouni e Bartijotto (2015, p. 138) “no interior do discurso do Direito, e isso se faz fundamental para a ordenação e o controle de uma dada sociedade”. Ou seja, mesmo em tempos e espaços onde a cultura escrita não é necessariamente predominante, como ocorre no mundo dos deuses ou no mundo da infância penetrado ou deixado por Chihiro, também é altamente baseada, a cultura política, na criação de normas e regras vistas como necessárias para tratar parte do contingente e, a escrita, então, aparece em circunstâncias cruciais, determinantes. Assim, Chihiro só pode permanecer no mundo dos deuses se trabalhar, aliás, algo que não nos deixa fugir da natureza amplamente autoritária das utopias (como aquela em que o trabalho dignifica o homem). Em momento algum entra em discussão, no filme, se Chihiro tem condições físicas para tanto, que tipo de trabalho realizaria, de acordo com essas condições, qual sua jornada, quando poderia brincar e estudar, se poderia. Chihiro, então, penetra numa esfera de escravidão, onde os corpos não passam de mercadorias e assim são ou não valorizados, conforme se pode observar na fala do porteiro de Yubaba, a autoridade maior do lugar para onde vai a menina:
35h01min
Porta:
Não vai bater antes de entrar? Mas que garota franzina você é.
Chihiro, ao ter que se encontrar com as autoridades é milimetricamente julgada até mesmo por uma porta, cínica, e automaticamente desqualificada, uma garota franzina, supostamente mal educada para o que quer que seja, principalmente, para o trabalho. Tais observações podem indicar traços do letramento da corporeidade de jovens e que, de acordo com o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – nos remete a compreender a legalidade de infâncias que, em constante movimento, tornam-se sinônimo de adolescente. Portanto, a escrita que, desde suas origens, está associada ao jogo de dominação/poder, participação/exclusão, também rege e caracteriza ideologicamente as relações sociais da corporeidade.
11
Sendo assim, na legislação imposta a Chihiro está a mesma do Direito, na qual As crianças e os adolescentes deixaram de ser denominados “menores”, passando a ser nomeados como “pessoas em desenvolvimento”; isso faz justiça à Doutrina da Proteção Integral (Arantes, 1999).
Contudo, Yubaba, representante da lei no mundo dos sonhos, não está preocupada com o desenvolvimento de Chihiro, ao contrário, é imperativa em demonstrar que o direito é ela em pessoa, Yubaba: 35h10min
Yubaba:
Aproxime-se. Mandei se aproximar !
CHIHIRO É PUXADA BRUTALMENTE PARA DENTRO
35h49min
Yubaba: Fique quieta, está fazendo muito barulho.
Yubaba controla e determina como deve se mover o corpo de Chihiro entre brutalidades como a privação da própria palavra, assim como o corpo jovem inscrito na legislação quando
O Estado [responsável pelo Direito] almeja a determinação de sentidos, portanto, objetiva a transparência absoluta, sendo que por trás da “boa” intenção de permitir uma leitura igual para todos, na verdade deseja controlar o que o cidadão pensa, através da domesticação das formas discursivas e da pregação do ideal cartesiano racionalista. (Tfouni e Bartijotto, 2015, p. 138. Grifos das autoras)
As legislações precedentes ao ECA (Brasil, 1990) eram vistas apenas como instrumentos de controle social sobre a conduta. Já o Estatuto prevê a criança e o adolescente como sujeito de direito, o que os eleva à categoria de cidadãos, implicando uma mudança na condição históricosocial. (op. cit. p. 915)
Para Chihiro não resta nada mais que proceder com a corporeidade que lhe cabe, qual seja, aquela que diz o que os outros lhe disseram ser necessário para a própria existência e, ainda, dentro dos padrões da “boa” educação, talvez por medo ou intimidação, ou na intenção de diminuir o peso da infração que lhe aguarda (trabalhar ou desaparecer) e que já fora prescrita a outros antes dela: 36h13min
Shihiro: Por favor, deixa eu ficar trabalhando aqui?
Nesse caso, cabe o questionamento de Tfouni e Bartijotto: 12
Quando se trata do deslocamento das formas de nomeação dos adolescentes nas legislações, em que medida existe uma ideologia dominante a respeito do “ato infracional” que determina as formas subjetivas submetidas a essa lei? ( op. cit. p. 196)
Em outras palavras, sobre a corporeidade, é negligenciada, na lei, a relação corpo-nome-jovem em suas diferenças e idiossincrasias em favor da domesticação de formas discursivas que sinaliza um falso senso de igualdade histórica, sendo difícil dizer algo diferente do esperado, do que se quer ouvir. Conforme as autoras “a regra é evitar que a particularidade do sujeito venha à tona, ou seja, a única leitura possível é aquela ao “pé da letra”, impedindo que o sujeito do discurso apareça” (op. cit. p.139). No filme, o efeito da lei sobre a corporeidade é bastante visível, quando Yubaba simplesmente apaga, extingue, cessa o nome de Chihiro dando-lhe um novo, mas não com o intuito de garantir-lhe uma nova identidade ou alguma soberania, mas ao contrário, para marcar no corpo da jovem mais um indício de autoridade, poder e domesticação com o qual Chihiro é obrigada a refutar:
39h29min Yubaba: É o seu contrato. Assine logo seu nome. Você vai trabalhar. Mas se der mais um pio vou te transformar num porquinho na mesma hora! 39h40min
Chihiro:
Senhora, é aqui mesmo que assino meu nome?
39h42min
Yubaba:
Isso mesmo. Pare de ficar enrolando e assine.
Esse diálogo ilustra o que Bartijotto, Tfouni & Scorsolini-Comin (2016) afirmam sobre as normas jurídicas brasileiras que não produzem um lugar simbólico para o adolescente, apenas um lugar imaginário, sob a forma de um “sujeito de direito” e de “pessoa em desenvolvimento”. Na visão proposta pelo ECA, o adolescente é concebido como alguém passível de ser educado e cujo lugar de sujeito do desejo é ignorado.
Vale não perder de vista a relação tempo-espaço na ação educativa negligente, marcada no final do diálogo entre as personagens: 40’39 Yubaba: A partir de agora você vai se chamar SEN. Entendeu Sen? Responda logo minha pergunta! 40’32 Sen: Sim.
13
Em outras palavras, o texto da lei, no caso do filme, materializado num contrato, ‘não leva em consideração a memória discursiva e o interdiscurso’. (op.cit., p. 921)
3.1 Esfera executiva e a urgência da oralidade
Visto que a composição do mundo comum, se ela não for mais dada de improviso, deverá ser o objeto de uma discussão, o único meio que reconheça no coletivo uma matéria-prima que possa interessar à vida pública, e defini-lo como uma assembleia de pessoas capazes de falar (Latour, 2004, p.121. Grifos do autor).
Nesta sessão, são inferidas reinterpretações que colocam em questão algumas hipóteses sobre a reivindicação de corporeidades, instaladas na esfera executiva, em termos de dimensão política. A primeira dessas hipóteses estabelece que se a ciência é uma forma de política é preciso romper com as grandes divisas que permitem questionar o privilégio do domínio científico ou histórico e o privilégio humano e antropocêntrico de falar e ter representação. A segunda estabelece que se a corporeidade é mais que manifestação de domínios preestabelecidos é preciso reivindicar os meios pelos quais os sistemas de representação sejam substituídos não por outros, mas pelo senso de dignidade que os engendram enquanto reconhecimento do direito à corporeidade. Portanto, é preciso considerar a importância dos não-humanos na dinâmica dos grupos humanos, as controvérsias, emaranhados, que unem questões sociais e naturais num contínuo, que possam explicar a coesão da humanidade e as extensas redes de colaboração ou conflito (HIRANO, F.K.H.; BENEDITO, S.M.; VALE.A.P.R., 2015, p. 200).
A ideia de não-humano, neste estudo, para além de se referir aos objetos que constituem o humano e por ele são constituídos, como os estatutos e suas leis, tem a ver com a questão do corpo próprio como importante à filosofia política e, acrescenta-se, da linguagem, situada no bojo das ações de reformadores sociais, historiadores sociais, e mais explicitamente, por sociólogos e economistas, de modo que a ideia de desenvolvimento, relacionado, especificamente, ao corpo jovem, implicada na legislação, não é tão vaga como se evidencia na corporeidade infantil ou adolescente. `
Sobre as contribuições de alguma filosofia da linguagem neste sentido, ressalta-
se mais que a troca de nomes institucionais, mas a importância da oralidade e seus 14
desdobramentos, aliás, muito debatida, a oralidade, nas últimas décadas, como se pode constatar em Bruno Latour, conforme a epígrafe dessa sessão. No caso de Chihiro, as hipóteses aqui levantadas também são ilustradas, mas inaudíveis, aliás, insuportáveis. Primeiro, na própria ideia de viagem, de um mundo real para um irreal, tudo isso, dentro de uma animação, encontram-se questionamentos sobre o desdomínio das corporeidades, por exemplo, pelos supostos privilégios humanos dos pais de Sen, assegurados pela ilusão do poder de compra e transformados em porcos. Simbolicamente, instala-se aí um senso insuportável de degradação do humano antropocêntrico, destituído de qualquer direito que seja para os que flutuam, volitam, desaparecem, estão além desses poderes para se apropriar de outros, inimagináveis, como o de não ter corpo previsível e frequentar uma casa de banhos de um universo paralelo. Os corpos que frequentam as casas de banhos e seus não falares não pertencem a qualquer tipo de padrão. Qualquer caracterização como gordo, magro, feio ou bonito não faz o menor dos sentidos. Ali, ser franzino ou não ser não faz diferença, exceto, no retorno às regras, aos padrões, à cara na porta. É a carnavalização, o pasticho, o ridículo, non sense que constituem os clientes. É a partir dessa carnavalização que vejo no filme a segunda hipótese do estudo, aquela em que se a corporeidade é mais que manifestação, há de ser legitimada. Nesse caso, é incrível como Sen não vê nos frequentadores da casa de banho apenas fantasmas, entidades, criaturas, monstros, assombrações, aberrações, desvios, deformidades, anomalias e nos mostra que somente de dentro do universo de uma criança, de sua sinceridade, é possível reivindicar corporeidades e o que possuírem de mais abundante, precioso e encantador. Voltando à questão da oralidade, nela ou por meio dela é que se pode garantir, na esfera executiva e não legislativa da ação política, mais que o reivindicar de corporeidades, mas a busca por possibilidades de desenvolvimento, terreno das discussões sobre a autoria de políticas públicas. 4. Considerações em aberto: utopias da existência jovem e políticas públicas Quando se destaca que há contradições entre existências jovens, do ponto de vista legislativo e executivo, o que se quer salientar é a instalação de lugares discursivos diferentes. Entre silogismos jurídicos, a corporeidade jovem ou as juventudes, diferente do que acontece com a ideia de adolescente, seguem um tipo específico de raciocínio
15
lógico-verbal, qual seja, aquela que escapa à ação coercitiva e, de quebra, insatisfaz a sociedade, mesmo que juventudes tenham seus próprios estatutos. Em outras palavras, os lugares discursivos da corporeidade jovem têm matiz na fidedignidade, ou seja, dependem que sejam narrativizados, protagonizados, expressos o maior número de vezes e dentro das mais diferentes possibilidades de audiência e transmutação para tangenciar, cedo ou tarde, algum desenvolvimento econômico, estabilidade, dignidade. Essa dupla instalação discursiva é antiga quando da diferenciação ou até polaridade entre o discurso lógico-científico e o narrativo entre não-alfabetizados adultos e a (não) expectativa de interpretação de textos lógicos. Todavia, no caso das juventudes, o que estaria em jogo é a proposta de que sejam analisadas as negações que a linguagem jurídica imprime às possibilidades não de interpretação, mas de reivindicação de juventudes, uma etapa anterior. Enfim, em contraste com o discurso da lei, seria o caso de instalar juventudes enquanto manifestações de fidedignidades como política pública em direção a corporeidades relativamente indóceis. Referenciais Bibliográficos
GYATSO, J.; HAVNEVIK, H. Women in Tibet: Past and Present. Columbia university press, 2005. BARTIJOTTO, J., VERDIANI TFOUNI, L. & SCORSOLINI-COMIN, F. O ato infracional no discurso do Estatuto da Criança e do Adolescente brasileiros. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, 14 (2), 2016, pp. 913-924. BEHLING, J. Heterotopias na construção de juventudes: implicações para o Plano Juventude Viva. In: Anais IV Colóquio Nacional Michel Foucault – 40 anos de Vigiar e Punir. Uberlândia: UFU, set/2015. ________. J. Gêneros projetivos e negócios sociais. In: Anais 62º. Seminário do GEL, realizado Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas. Campinas São Paulo, de 30 de Junho a 03 de Julho de 2014. ________. A abordagem sociointeracionista na arquitetura do gênero ‘projeto’ no Terceiro Setor: desafios e perspectivas do linguista em campo. In: Entretextos, Londrina, v.13, nº 02, p. 70--‐ 86, jul./dez. 2013a. ________. Urbanidade de Design Social: o projeto M900. In: Anais 10º Congresso Brasileiro de Linguística Aplicada. UFRJ, 09/09 a 12/09, 2013b.
16
________. Práticas de retextualização como tecnologia de letramento em esferas intersetoriais.In: Anais IV EPED - Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP) – Tema: Discurso em suas pluralidades teóricas. São Paulo: FFLCH: USP, 17 a 20/04 2012. ________. Construindo a identidade do gerente de letramentos no terceiro setor. In: Anais 18º InPLA (Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada). São Paulo: PUC/LAEL, 23 a 25/06 de 2011. ________. Resumo de comunicação e o agenciamento da escrita científica. Dissertação de mestrado. Universidade de Campinas: Instituto dos Estudos da Linguagem, 2009. ________. A universidade por ela mesma: a leitura e a escrita na esfera acadêmica numa perspectiva mestiça. In: Anais V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: UFMG, 28 de fevereiro, 1, 2 e 3 de março, 2007. BESNIER, J-M. O pós-humano: rumo à imortalidade? In: Utópico: o novo espírito. São Paulo: Sesc edições, 2015. COELHO, M. Socialismo utópico, capitalismo científico? In: Utópico: o novo espírito. São Paulo: Sesc edições, 2015. COLI, J. Formas estéticas do discurso autoritário. In: Utópico: o novo espírito. São Paulo: Sesc edições, 2015. COURTINE, J.J. Análise do Discurso Político. O discurso endereçado aos cristãos. São Carlos, EDUFcar, 2014. FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense, 2008 (1969). HIRANO, F.K.H.; BENEDITO, S.M.; VALE.A.P.R. Apresentação à tradução de o impacto dos estudos da Ciência sobre a Filosofia Política de Bruno Latour. Revista Sociedade e Cultura. Goiânia, v. 18, n. 1, p. 195-206, jan./jun. 2015. KEHL. M.R. A utopia da cura em psicanálise. In: Utópico: o novo espírito. São Paulo: Sesc edições, 2015. LATOUR, B. Politicas da natureza: como fazer ciência na democracia. Tradução de Carlos Aurelio Mota de Souza. Bauru, SP: EDUSC, 2004. PÊCHEUX, M. As massas populares são um objeto inanimado? In: Análise de Discurso. Textos escolhidos por Eni Orlandi. Campinas, SP: Pontes, 2014. SERRES, M. Variações sobre o Corpo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. SIQUEIRA, R. A. R.; BEHLING, J.; CHU, L.; SILVA, V.R. da. Educação pela pedra. In: EDUCAÇÃO: Teoria e Prática. São Paulo: IBILCE - v. 19, n.33, jul.-dez.-2009, p.87-99.
17
TFOUNI, Leda Verdiani. Perspectivas Históricas e A-Históricas do Letramento. CADERNOS DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS, v. 26, p. 49-62, 1994. ________; CARRERA, A. F. Narrativas de crianças de rua brasileiras: Uma forma de falar de si mesmo. Cadernos de Pesquisa Nep, v. 2, n.2, p. 01-12, 1996. ________. François Frédéric. Teorias e práticas: Práticas do oral. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 3, p. 237-240, 1997. ________; ASSOLINI, A. F. Os Descaminhos da Alfabetização, do Letramento e da Leitura. Paidéia: Cadernos de Psicologia e Educação, Brasil, v. 9, n.17, p. 25-35, 2000. _______. A dispersão e a deriva na construção da autoria e suas implicações para uma teoria do Letramento. In: SIGNORINI, I. (org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001. 1ª. Reimpressão: 2006. Coleção Ideias sobre Linguagem. TFOUNI, L. V.; BARTIJOTTO, J. A autoria na descrição do ato infracional. In: Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 15, n. 1, p. 137-147, jan./abr. 2015. TFOUNI, L. V. ; MONTE-SERRAT, D. M. Letramento e discurso jurídico. In: Cadernos de Letras da UFF – Dossie: Dialogos Interamericanos, no 40, p. 97-116, 2010.
18
Anexo Diálogo entre Chihiro e Yubaba
35’01 Porta: 35’10Yubaba:
Não vai bater antes de entrar? Mas que garota franzina você é. Aproxime-se. Mandei se aproximar ! CHIHIRO É PUXADA BRUTALMENTE PARA DENTRO
35’49 Yubaba: 36’13 Shihiro:
Fique quieta, está fazendo muito barulho. Por favor, deixa eu ficar trabalhando aqui? CHIHIRO TEM A BOCA TRANSFORMADA EM ZÍPER
36’25 Yubaba: Vamos, pare de ficar aí resmungando. Não passa de uma garotinha fraca e inútil. Além do mais, isso aqui não é lugar para humanos. Esta é uma casa de banhos onde 8 milhões de deuses podem vir para descansar os ossos. Seus pais foram realmente muito corajosos comendo a comida dos convidados, como se fossem porcos. Só sobremesas, eu diria (acendendo cigarro) Você nunca mais na vida verá seu mundo. Que porquinho daria? Talvez um pedaço de carvão. (riso macabro) Você está tremendo, na verdade, me impressiona ter chegado tão longe. Alguém deve ter te ajudado, com certeza. Quero agradecer a ele. Quem foi ele, querida? Pra mim você pode contar. DESABOTOA A BOCA DE CHIHIRO 37’36 Chihiro: 37’40 Yubaba:
Deixa eu trabalhar aqui, por favor! Cala essa boca ! Não vejo nenhum motivo sério para te contratar. Qualquer um pode logo ver que não passa de uma menina chorona, mimada e que deve ser muito burrinha. Eu não tenho nada pra você. Então é melhor esquecer. Já tem vagabundo suficiente trabalhando pra mim. Mas quem sabe você não quer o pior, o mais desagradável serviço até o último momento da sua vida? .... 38’57 Chihiro: 38’58 Yubaba:
Deixa eu trabalhar aqui, por favor! Sim, mas pare de ficar falando alto, eu já estou indo!
19
PAPEL E CANETA SE MOVEM EM DIREÇÃO A CHIHIRO 39’29 Yubaba: É o seu contrato. Assine logo seu nome. Você vai trabalhar. Mas se der mais um pio vou te transformar num porquinho na mesma hora! 39’40 Chihiro: Senhora, é aqui mesmo que assino meu nome? 39’42 Yubaba: Isso mesmo. Pare de ficar enrolando e assine. 40’00 Yubaba consigo mesma Ridícula essa promessa que fiz. Imagine se desse trabalho pra todo mundo que me pedisse. Assinou? 40’05 Chihiro: Sim. 40’12 Yubaba: O seu nome é Chihiro? 40’13 Chihiro: Sim. 40’14 Yubaba: Que nome extravagante. YUBABA DESINTEGRA O NOME DE CHIHIRO 40’32
Sen
A partir de agora você vai se chamar SEN. Entendeu Sen? Responda logo minha pergunta! Sim.
20