Criação e Interpretação
CAMILLA MORELLO
URNA I am doing it the it I am doing is the I that is doing it the I that is doing it is the it I am doing it is doing the I that am doing it I am being done by the it I am doing it is doing it
(Knots, Ronald D. Laing)
Paixão
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razão
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instinto
indivíduo
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contentor
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conteúdo
Urna é um relacionamento a três Period
Three
implies
Chaos
Urna é um solo que reflete sobre a relação entre o ser humano e a sua identidade social, sobre a sobrevalorização da consciência e sobre o corpo como produto objetificado. O que inspirou e tornou urgentes estas reflexões, foi o poema do Giulio Morello Multa per inane videbis corpora, título que cita o De rerum natura do Lucrezio, convite a tomar consciência do estado do humano: “Imaginemos um indivíduo em movimento | que em cada passo extraia duma urna | a instrução para o passo seguinte: | direita esquerda frente atrás. Imaginemos que milhões de indivíduos | movem-se da mesma forma, ora: | o que é que nos distingue dos corpúsculos de gás? | Talvez a ilusão de governar o destino?” Como é que se desconstrói o indivíduo informado cultural e socialmente, depois de entrar no loop das suas próprias cegas convicções?
SINOPSE
Urna é o encontro entre um indivíduo à procura de instruções e respostas e um contentor que vive da sua própria luz à espera de ser profanado. Num jogo das partes, no ritmo de corpo e voz: contentor torna-se indivíduo, indivíduo torna-se contentor, conteúdo que se perde. Instala-se o caos. Nunca saberemos o que procurava o indivíduo, nem o que poderia ter encontrado. Urna é a oportunidade não aproveitada, perdida para sempre num não-tempo longínquo. É a perda de perguntas significativas e a obsessão por respostas tranquilizadoras e efémeras. Urna é o que sobra depois da curiosidade, que se torna opressão, que cede lugar ao cacofónico redundante, que por sua vez cede o lugar ao absurdo, que cede o lugar ao vazio, que cede o lugar a novas possibilidades, que geram outras curiosidades. E assim por diante para sempre. O que sobra é um loop; movimentos, palavras, símbolos esvaziados de significado, repetem-se até ao ridículo para podermos refletir acerca da urgência de reduzir (ou elevar?) o ser humano à besta rendida.
CONCEITO
Urna propõe-se refletir acerca da sobrevalorização da consciência, costume maioritamente ocidental, que nega ao indivíduo uma conexão profunda com o todo e o educa a pensar de forma organizada e avançar através de dicotomias, em vez de conexões. Procura-se em cada situação dar respostas e enunciar soluções de acordo com uma estrutura homologante, que disseca o conhecimento em compartimentos estanques que não dialogam entre eles. Entretanto a sociedade vive fora de sinc: tecnologia e meios de comunicação social correm mais depressa do que a ética reduzindo a construção de um sentido crítico e de um juízo autónomos à opinião corrente. Esta alienação, que faz parte tanto das consciências quanto da arte, traduz-se por conformismo do sentido comum; sabendo, porém, que declarar-se inimigo do conformismo não significa ser menos conformista; somos todos feitos inelutavelmente de vícios e preferências com as quais nos conformamos. Aqui está o incidente: a estrutura repete-se e gera um loop. Não ser conformista é conformar-se ao próprio não ser conformista, que se traduz em conformismo. Não há fuga possível. Talvez tenhamos que partir do princípio de que já não há mais nada para clarificar. Só nos resta entregarmo-nos ao caos intrínseco, antropológico, que se esconde nos meandros da ordem. “Tenho que conhecer a verdade, a verdade atrás da magia” “Não existe qualquer verdade atrás da magia”, disse o rei. […] “Está bem”, disse, “consigo viver com isso”. “Sabes, meu filho”, disse o rei, “agora tu também te estás a tornar mago”.
(The magus, John Fowles)
NOTA PESSOAL
Por vezes gosto de repetir um jogo de palavras que inventei: “temos que levar muito a sério o facto de nos levarmos demasiado a sério. A sério!” Assim penso que tudo o que há a fazer com tanta literatura, filosofia, história, ciência, arte, é um grande elogio, ou melhor um manifesto, à ignorância. Há tanta poesia no afirmar “eu não sei”. Deveria ser um mantra ou uma canção para embalar os filhos. O conhecimento complicado e altamente especializado, contribui enfim, para uma compartimentação artificial do pensamento que dificulta o diálogo entre as diferentes áreas do saber, transforma o pluralismo num monólogo de massas, sufocando a dissensão, até distorcer a visão mais ampla das coisas. Constato cada vez mais a obsessão em classificar também onde se enquadra o meu trabalho: És bailarina? Atriz? Performer? Mover? Coreógrafa?, Ou então ainda melhor: és artista? Cada resposta que possa dar nunca será a mais correcta e sei que, duma forma ou de outra, terei de mentir. Eu não sei o que sou ou se existe uma definição que possa incluir todas as pessoas que sou ou que já fui ou serei, nem se é definível o que faço. A estas perguntas responderia que “(...) hoje é preciso ter em conta os outsider-artists, os artesãos, os diletantes, os visionários, os psicopatas e até os taxidermistas” (Mario Perniola - Veneza, Bienal 2013).
BIOGRAFIA
Como criadora Camilla Morello está interessada em explorar e questionar os aspectos mais contraditórios do agir social. Começou as suas primeiras aulas de interpretação com 9 anos. Formou-se como atriz na Scuola Nazionale di Cinema em Roma e começou a trabalhar em teatro e televisão. No entanto, licenciou-se em Antropologia na Universidade La Sapienza de Roma e escreveu uma tese sobre o significado das máscaras e o teatro nas prisões. Em Paris, estudou com Jean-Paul Denizon, da companhia do Peter Brook; e na Universidade Paris 8 frequentou cursos de filosofia, cinema, atelier de escritura e documentário. Em Portugal integrou na sua formação os workshops do João Garcia Miguel, João Fiadeiro, Francisco Camacho, Vera Mantero, Thomas Hauert, Miguel Pereira, Sergi Fäustino, Rui Catalão e frequentou o curso bienal de dança-teatro da Olga Roriz, onde já foi também assistente da Catarina Câmara nas aulas de improvisação. Desde então trabalhou com Miguel Moreira, Tamara Cubas, Miguel Pereira, Catarina Câmara, Lucía Nacht e Maurícia Neves. “Uma peça dançada - abordagem semi-séria do vazio” (Teatro Black Box do Centro Cultural de Belém) foi o seu primeiro solo apresentado. Dos seus últimos trabalhos, “Urna” (2018) foi apresentado, ainda em forma de estudio, no MoitaMostra, Festival Reunion - Espaço Alkantara, Festival Linha de Fuga, Coimbra, e “Common Land” (2018) no Crew Hassan em Lisboa. Seu o trabalho fotográfico “Enclosures” e o trabalho de vídeo-arte “Dissonances”.
FICHA ARTÍSTICA / TÉCNICA
CRIAÇÃO E INTERPRETAÇÃO Camilla Morello MÚSICAS “Also sprach Zarathustra” Richard Strauss TEXTOS R.D. Laing, C. Morello ASSISTENTE DE DRAMATURGIA Sofia Freitas Abreu ASSISTENTE TÉCNICO Franco Bosco IMAGENS
APOIOS Atelier Real | EIRA | Companhia Olga Roriz | Festival Reunion 2018, Lisboa Festival Linha de Fuga 2018, Coimbra MoitaMostra2018 AGRADECIMENTOS Francisco Camacho | Catarina Câmara | Inês Cartaxo Luis Odriozola | Ana Paula Gusmão | Lucie Lintaf Sezen Tonguz | Linha de Fuga 2018 | Co-dance CONTATOS camillamorello@yahoo.it 00351 926557633 | 0039 3333911522
Joaquim Leal, José Crúzio, Sinem Tas EDIÇÃO E GRÁFICA Carlotta Premazzi DURAÇÃO 40’ approx. PÚBLICO ALVO Classificação etária: M/16
URNA VÍDEO TEASER Urna Video Teaser >
RIDER TÉCNICO
(adaptável às condições do espaço)
SOM Entrada áudio stereo. Faixa lançada pelo computador LUZ 6 PAR 64 3 ETC 90º 575HPL 1 ETC 30º 575HPL PALCO PREFERIVELMENTE LINÓLEO BRANCO RECURSOS HUMANOS 1 Técnico de luz; 1 técnico de som para montagem e operação.