Entrevista_Farid Curi_Pescaventura_01

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/ entrevista Ele acredita na PESCAVENTURA

Fotos: Arquivo pessoal

Nascido em CongonhinhasPR, o pescador esportivo Farid Curi, 72 anos, há mais de 40 é entusiasta desse esporte — um de seus hobbies preferidos. Tamanha paixão o levou a criar a Revista Pesca Brasil, uma publicação que teve 23 edições e que agora segue com o nome de PESCAVENTURA — um novo e ousado projeto editorial, do qual sente orgulho em estar envolvido. Na entrevista que concedeu à nossa repórter, ele narra com entusiasmo sua trajetória como pescador, dá dicas valiosas de como conciliar profissão sem deixar o lazer para segundo plano e fala da nova publicação, que surge com o objetivo de ser referência no segmento Farid Curi em pescaria no rio Coxim-Taquari entre 1964 e 1966

PESCAVENTURA › Quando e em quais circunstâncias surgiu a paixão pela pesca? Farid Curi › Sou de uma família de apaixonados pescadores — pai, mãe, irmãos — e peguei meus primeiros peixes no rio Tietê, num período no qual ainda havia muita vida em suas águas. Tempos depois, por volta dos anos de 1960, junto com meus familiares fui conhecer o rio Taquari-MS — uma viagem que fazíamos de caminhão e que, pela precariedade das estradas, demandava dois dias para cobrir o percurso. Naquele tempo não havia o conforto de hoje, e pescador bom era aquele que desbravava matos, aguentava os insetos, entre outras adversidades de ambientes inóspitos.

por: Janaína Quitério l arte: Jehimy Oliveira

Mas valia a pena, pois tinha tanto peixe que, durante a navegação, era comum cortar Pacus com a hélice do barco, levar trombada de Dourado na cara, ouvir o ronco dos cardumes — que de tão alto dava até para ser gravado. Pena que, quem viu, viu; quem não viu, infelizmente não verá jamais. PESCAVENTURA › Quais os motivos que o levaram a adotar a filosofia do pesque e solte e a partir de quando houve essa mudança de postura? Farid Curi › Por volta de 1979 vim para a capital paulista e, desde então, ficou mais difícil sair para pescar no rio Taquari. Na década de 1990 passei a ler revistas especializadas, que mos-

travam o quanto nossos rios estavam sendo agredidos e degradados — caso específico do próprio Taquari. Desde então, passei a sentir sensações desconfortáveis ao pegar um peixe e deixá-lo morrer e percebi o quanto eu estava errado. Foi quando mudei de postura e me transformei em pescador esportivo. PESCAVENTURA › E qual a diferença entre a pesca esportiva hoje e naquela época? Farid Curi › Antigamente havia tanta fartura que ninguém se preocupava com o fato de que no futuro os peixes poderiam acabar. Ao contrário, pescadores e caçadores — eu também fui caçador — matavam tudo o que viam:

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lembro-me de uma ocasião na qual matamos mais de dez jacarés e os deixamos na beira do rio. Como resultado de tamanha falta de senso, comprometemos diversos ecossistemas, extinguimos espécies em diversos rios e criamos situações irreversíveis. Hoje encaramos a pesca como um esporte-arte e, para que seja possível continuar a praticá-lo, é imperativo que o peixe continue vivo. O pescador esportivo, muito diferente dos que existiam naquela época, também se preocupa em preservar as matas, em não deixar lixo por onde passa, enfim, em manter vivo e sadio o meio ambiente. PESCAVENTURA › Nestes mais de 40 anos pescando, cite uma de suas melhores lembranças. Do que você mais gosta e o que se torna mais marcante em uma pescaria? Farid Curi › Sem dúvida é o companheirismo. Quando nos reunimos para pescar tudo é verdade, tudo é sério, tudo vale a pena. É um tipo de convivência que já sentia desde quando pescava com meu pai. As pessoas se tornam mais humanas, os sentimentos são mais autênticos, ao nos relacionarmos somos mais sinceros. Costumo dizer para todo mundo que não existe pescador que não seja gente boa. E a explicação para isso é que só em uma pescaria as pessoas se nivelam, ou seja: dentro de um barco ou à margem de algum rio, ninguém é nada mais que apenas pescador. É por isso que jamais saio sozinho para pescar. PESCAVENTURA › Pescar demanda tempo, principalmente quando se viaja para os melhores lugares — normalmente distantes. Como consegue conciliar trabalho com esse hobby? Farid Curi › Ah, nisso eu fui inteligente a vida inteira. Trabalho desde os nove anos de idade, no princípio atrás de balcãozinho, vendendo coisas. Houve épocas em que me ocupava a semana inteira direto, sem dormir. Mas, tinha uma coisa que era sagrada: o dia em que dissesse “vou pescar”, podia cair canivete que eu ia mesmo assim. Portanto, não posso me queixar de que

trabalhei feito doido, de que me arrebentei, porque tinha meus passatempos, não só a pesca, mas a fotografia, a filmagem, a revelação de filmes, a escrita. Dedicava-me a tudo isso e nunca faltou tempo. PESCAVENTURA › Você é aquele tipo de pescador que, depois de dois dias pescando, perde a noção do tempo? Farid Curi › Com certeza! Quando vou pescar me desligo completamente de outros envolvimentos e atividades. Esqueço tudo e vou cuidar daquilo que estou fazendo. Na pescaria, não ligo para a empresa, para mulher, para filho... Apenas vivo aquilo que estou fazendo. E o mesmo acontece quando estou trabalhando.

PESCAVENTURA › Tem algum peixe que você não pegou e que ainda é um desafio? Farid Curi › Vários: quero pegar Salmão e uma Truta grande — não as de Campos do Jordão-SP. No entanto, fisgar espécies cujos desafios foram grandes, como no caso do Tarpon, não substitui a minha preferência por outro peixe, apenas acrescenta. O Tarpon é o peixe mais espetacular que enfrentei até hoje em matéria de espetáculo, de beleza, de porte, de luta. PESCAVENTURA › Qual a sua pescaria predileta? Farid Curi › A pesca do Dourado e de todos os peixes que se comportam como ele. O Tarpon foi uma glória conhecer. É fantástico, tem que respeitar esse bicho.

Nos anos de 1960, os Pacus eram fisgados aos montes no rio Coxim. Farid é o 2º da direita para a esquerda PESCAVENTURA l 13

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/ entrevista PESCAVENTURA › Prefere rio ou mar? Farid Curi › Quando comecei a pescar no litoral, achei que não fosse me acertar. Hoje, pratico as duas pescarias com muita disposição e interesse. Não vejo diferença ou dificuldade. Ambas têm seus encantos e desafios. PESCAVENTURA › A tendência atual é pescadores juntarem a família para pescar unida. O que você acha disso? Farid Curi › Temos que fazer todo o possível para agregar mais gente a esse esporte, seja amigos ou família, principalmente filhos. A pesca é o vício mais sadio que conheço.

Farid Curi visualiza o projeto da primeira edição da Revista PESCAVENTURA em seu escritório. O sorriso revela a satisfação em acompanhar essa nova publicação

PESCAVENTURA › Qual a importância desse esporte para a formação do caráter das pessoas? Farid Curi › O conceito de vida da criança que pesca é de alguém que valoriza a natureza, que se vê mais e que reconhece mais a si próprio. Na vida há dois ambientes: o do trabalho — e da luta pela vida — e o do esporte e lazer. No espaço profissional, a pessoa fica ansiosa por conquistas, o que é sinônimo de muita luta, muitas dificuldades. Alguns têm mais força e chegam lá, enquanto outros ficam pelo caminho. Na pesca, não. Um peixe fisgado por alguém é uma vitória, é uma conquista, porque ele é capaz e se considera valorizado. Já em um negócio a pessoa nunca se sente reconhecida, porque não há como chegar ao final; no meio do caminho sempre se quer mais. Cada pescaria é um momento. É um instante de profunda meditação. PESCAVENTURA › Você também é daqueles que viram menino durante uma pescaria? Farid Curi › Totalmente. Na verdade, pescar é uma ocasião mágica: quando a pessoa sai da vida urbana, ela se despe, torna-se ela própria. É o desencargo da responsabilidade. Como disse antes, durante uma pescaria ninguém tem posição social. Lá, cada um é o que é.

“O Tarpon é o peixe mais espetacular que enfrentei até hoje em matéria de espetáculo, de beleza, de porte, de luta” PESCAVENTURA l 14

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PESCAVENTURA › Como praticante de pesca esportiva, quais desafios esse esporte ainda tem no Brasil? Farid Curi › O maior desafio é criar consciência entre os pescadores. Nos dias de hoje isso já é bem melhor do que há 20 anos. A maior glória que existe atualmente é pegar um peixe bonito, fotografar, soltar e vê-lo saindo na água, vivo. Entretanto, ainda há muita gente que não tem atitudes coerentes em relação a proteger o meio ambiente. PESCAVENTURA › A força de seu sorriso ao olhar o projeto de capa desta nova revista me faz perceber que você está confiante... Farid Curi › É com muito orgulho que faço parte do corpo diretivo dessa nova equipe editorial. Juntamos os dois anos de experiência na Revista Pesca Brasil com o saber-fazer e a grande experiência de pescadores renomados, como Rubinho de Almeida Prado e Roberto Véras. Estamos presenciando um projeto totalmente amadurecido, que coloca a pesca esportiva num patamar de desenvolvimento sustentável e a divulga com informações sérias, conectadas com o dia a dia do esportista. Eu havia sentido uma lacuna nesse mercado. Eu não quero nada mais do que ter o prazer de saber que ajudei a idealizar esse projeto.

Não fosse a proteção da embarcação, o Tarpon iria de encontro ao pescador

PESCAVENTURA › Que mensagem gostaria de deixar para os pescadores esportivos que estão lendo a primeira edição da Revista PESCAVENTURA? Farid Curi › Aprenda a pescar, mesmo quem já sabe. Quando digo isso, me refiro ao jeito certo, preservando e divulgando. Antigamente, não se precisava de tanto recurso para fisgar um bom espécime. Lembro que, para pescar no rio Taquari, bastava pegar um lambari, cortá-lo ao meio com um facão e pronto. Essa era a isca. Hoje, há vários recursos, há isca de todo tipo, sonda e GPS. Em contrapartida, também há menos, muito menos peixes!

Briga com o Tarpon

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