[ turismo l Madagascar ]
MistĂŠrios insulares
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Circunscrita ao largo da costa sudeste da África, a ilha de Madagascar — quarta maior do mundo — tem se transfigurado sem pressa em destino turístico para quem aprecia aventurar-se por terras férteis em contrastes, todos expressos na cultura, na história e na exuberante biodiversidade que povoam suas paisagens. Da primeira expedição realizada pela ECOAVENTURA ao arquipélago de Nosy Mitsio — extremo noroeste do País —, trouxemos fragmentos de percepções e curiosidades sobre esse “safári” a um mundo ilhado Por: Janaína quitério i Fotos: Arquivo ECOAVENTURA i Arte: Gabriel Dezorzi
G
enuína aventura. Esse epíteto talvez seja capaz de qualificar a experiência de visitar Madagascar. A ilha é palco de paisagens deslumbrantes, fauna exclusiva e história fascinante. Mas o destino é para poucos. Fora da rota turística convencional, o país de 18 milhões de habitantes figura na lista mundial dos mais pobres e oferece poucos lugares com infraestrutura para hospedagem requintada. Entretanto, para os intrépidos que pretendem conhecer um modo de vida singular — e, por que não, endêmica, tal qual 75% de sua vida animal e vegetal —, viajar para Madagascar é destino mais que certo.
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Mora-mora: o não fazer nada é assim chamado
Tudo o que habita a ilha e seus arredores parece ter estacionado no tempo. Lá, a vida se espreguiça no compasso da maré, como se fosse esticada e recolhida ao sabor dos ventos
Zatt é a cozinheira do povoado, em Nosy Mitsio, e representa o “padrão de beleza” nativo
Em seus 587.041 km² é encontrada uma atmosfera típica de lugar isolado. Trata-se de um local onde tabus suplantam as leis, e as crenças religiosas caminham lado a lado com os costumes funerários. Se 38
sobreviver é o principal verbo conjugado, nas entrelinhas de alguns investimentos destinados à região aparecem os primeiros traços de desenvolvimento. Por isso, os cenários compostos por praias paradisíacas,
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ao lado da biodiversidade exclusiva, prometem apresentar novos rumos à ilha, com destaque para o papel estratégico das operações turísticas em reembolsar os custos de uma conservação selvagem.
Como não há energia elétrica, a conservação dos alimentos é feito por meio do sal
NOSY MITSIO: maior ilha de um arquipélago de 12, localiza-se a 70 quilômetros ao norte de Nosy Be e é ocupada por 600 habitantes distribuídos em pequenos povoados.Além da beleza das praias paradisíacas, guarda uma limpeza digna de local conservado
Devido ao sabor da carne, a dieta local é baseada na Cavala
e bem-cuidado por seus habitantes. Entre as 20 etnias listadas por toda Madagascar, é provável que ocupem esse arquipélago os povos conhecidos como Sakalava (“povo do vale do longa”). Juntos com o povo Bora (do sudoeste), são considerados os mais africanos dos malgaxes.
A difusão das pirogas, ou canoas com um flutuador paralelo, revela um padrão de migração proveniente da Indonésia rumo ao sudeste da Índia e Madagascar no século 19
O que faz perdurarem instrumentos de trabalho obsoletos, embora eficientes, na fabricação de barcos? Essa embarcação local ganha forma a ferro
Em Madagascar estão os últimos redutos originais do gado zebu. Em outros países, sofreram modificações genéticas para tornarem-se bem maiores (a exemplo da raça nelore no Brasil)
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[ turismo l Madagascar ] “Brick wall”: intrigante parede de basalto, decorrente de erupção vulcânica
Cara do Diabo
A cor da água do mar se altera em vários matizes de azul
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Enigmas
Nosy Be também está a noroeste de Madagascar e é reduto do crescente desenvolvimento do turismo sofisticado na ilha
O primeiro mistério que ronda a República de Madagascar diz respeito à uniformidade do idioma (malgaxe), que é falado no país inteiro, apesar de a população estar subdividida em quase 20 grupos étnicos — fenômeno sem precedentes no continente africano e que se torna ainda mais intrigante se a compararmos com a ilha de Nova Guiné, no oceano Pacífico ocidental, onde o equivalente a 1/3 do povo de Madagascar é responsável pela existência de 700 línguas. O segundo enigma que persiste em perturbar historiadores, antropólogos, linguistas e geneticistas são as diferentes interpretações sobre a origem de sua moderna população. Há quem diga que o país foi fundado há dois mil anos pelos indonésios, não por negros africanos. Outros defendem que o povo descendeu de ambos — indonésios e africanos —, miscigenados antes mesmo da chegada à ilha. A origem mista reuniu um conjunto de culturas advindas tanto do sudeste asiático como da Índia, do Oriente Médio e da África. Essa mixagem costuma ser uma das primeiras características percebidas por viajantes. Da criação do gabo Zebu nas regiões sul e oeste (influência africana) às irrigações e campos de arroz no planalto central (que evocam imagens do sudeste asiático), em toda a extensão de Madagascar passeia uma riqueza humana e natural extraordinária.
[ turismo l Madagascar ] Biodiversidade exemplar Mundialmente famosa por seus lêmures — primatas exclusivos de Madagascar e semelhantes aos ancestrais dos macacos —, a ilha malgaxe reúne uma das maiores biodiversidades do planeta. Das 200 mil espécies conhecidas, cerca de 150 mil são restritas a essa região, o que inclui 85% das 12 mil espécies de plantas, 90% de aproximadamente 300 anfíbios, 90% das 346 espécies de répteis e 100% dos mamíferos terrestres, entre outros. Trata-se de um endemismo bem elevado quando comparado com os de outras partes do globo. Apesar da adversidade econômica — motivo pelo qual a população devasta a cobertura florestal para sua sobrevivência —, o país tem se tornado modelo internacional de conservação ambiental a ponto de ganhar a alcunha de “hotspot”, isto é, área rica em espécies que só ocorrem na região, mas com índice alto de ameaça devido à ação humana, tais como desflorestamento e urbanização.
Camaleônicos São répteis conhecidos por mudarem de cor para camuflarem-se. Entretanto, essa aptidão é usada para transmitir emoções, defender territórios e auxiliar na comunicação entre o bando. Ser lento não prejudica sua vivacidade, já que seus olhos movimentam-se de forma independente em ângulo de 360 graus — uma visão arrematadora, aprimorada pela rapidez da comprida língua. A grafia de camaleão deriva do grego chamai (no chão, na terra) e leon, ou seja, “leão da terra”. Dele surgiram alguns provérbios, tais como: “Ny Manaova toy-tana dian aloha jerena ny, ny Afara todihina” ou “Como um camaleão, um olho no futuro, um olho no passado”; “Ratsy Karaha Kandrondro” ou “Feio como um camaleão”.
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Lêmures estão entre os primatas mais ameaçados do mundo. Embora sua caça tenha se tornado ilegal em 1964, devido à falta de predadores naturais, viraram bichos “ecologicamente ingênuos”, ou seja, alvos fáceis
Madagascar NOME OFICIAL: República de Madagascar CAPITAL: Antananarivo (ou, simplesmente, Tana) VISTO: é facilmente conseguido nos aeroportos DIVISÕES ADMINISTRATIVAS: 22 regiões LÍNGUA: malgaxe (oficial), francês e inglês (para turismo) GENTÍLICO: malgaxe, madagascarense RELIGIÃO: 55% crenças tradicionais, 40% cristãos e 5% muçulmanos LOCALIZAÇÃO: banhada pelo canal de
Moçambique a oeste e pelo oceano Índico POPULAÇÃO: 19.448.815 [estimativa de 2005] TAXA DE ANALFABETISMO: 35% ÁREA: 587.041 Km2 DATA NACIONAL: 26 de junho de 1960, independência em relação à França MOEDA: Ariary FUSO HORÁRIO: GMT +3 CLIMA: tropical e semiárido AGRICULTURA: arroz, pimenta verde, café e baunilha
Como falar em malgaxe - Bom dia: Manao ahoana - Boa tarde e boa noite: Salama - Tchau: Veloma - Obrigado: Misaotra - Sim: Eny - Qual seu nome?: Iza no anaranao? - Meu nome é: Ny anakaro - Mostre-me o caminho para...: Atoroy ahy ny lalana...
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