O Ceu de Iemanjá

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Anjos, Jean dos O céu de Iemanjá [livro eletrônico] / Jean dos Anjos. -- 1. ed. -- Fortaleza, CE : Substânsia, 2021. PDF ISBN 978-65-86356-11-3 1. Artes visuais - Exposições 2. Fotografias 3. Fotografias - Exposições 4. Iemanjá (Culto) I. Título. 21-54631 CDD-779

Índices para catálogo sistemático: 1. Fotografias : Exposições : Artes 779 Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964


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Para Adriana Calcanhotto


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“Para eu ser no mundo” ¹

¹ Ao Senhor do Fogo Azul. Virgínia Rodrigues. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wlgjAi_grI4 Acesso em: 04 Jan 2021.


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APRESENTAÇÃO

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álbum de fotografias de Jean dos Anjos. Meu olhar detém-se diante de um luxuoso espelho, presente oferecido a Iemanjá por um filho ou filha da deusa negra com amor e gratidão.

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Dois de fevereiro e quinze de agosto, dias de festa para Iemanjá. Passeio pelo

O espelho se faz metáfora, faz-se ponte em mim, a refletir Fortaleza e Salvador; cidades do Brasil que, entre tantas, celebram o Orixá Dona das Águas. No abraço amigo e nas imagens que nos falam pelo olhar do fotógrafo e antropólogo, ouso percorrer suas trilhas, num caminho que se faz caminhando há mais de dez anos de arte e estudo na Bahia e no Ceará. O encantamento do artista e pesquisador faz ponte entre mundos que se O Céu de Iemanjá e pisando areias da Praia do Rio Vermelho, em Salvador, e em Fortaleza. As imagens nos encantam como arte e nos informam no fazer antropológico e histórico. E assim, o trabalho de Jean dos Anjos trouxe também uma valiosa contribuição ao processo de registro da Festa de Iemanjá como patrimônio imaterial de Fortaleza. As imagens que ele nos presenteia são plenas de linguagem, pensamento, significados, poiética do olhar. Nascem de uma criação em que arte e antropologia dão as mãos, semeiam, frutificam. São

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espelham e se diferenciam em suas idiossincrasias, navegando mares sob

imagens-fruto, germinam da alegria do encontro, da dádiva de filhos e filhas da deusa que se deixam fotografar. Um tempo depois, se Jean tem a sorte de revêlos, completa o ciclo do dom na devolução da fotografia. Odoyá, Rainha do Mar! Agradeço pela honra que me foi dada de apresentar a outros olhos O Céu de Iemanjá. --George Paulino

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Professor de Antropologia da UFC, coordenador do Laboratório de Antropologia e Imagem – LAI.


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“Abre o caminho, o sentinela está na porta” ²

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Acesso em: 04 Jan 2021.

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² Padê. Juçara Marçal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MaIbg5UWCfo


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Eu vi, estava lá. Era outubro de 2014. Cruzando as salas da UFC,

ECOS DO “CÉU DE IEMANJÁ”

experimentadores da Arte e Cidade, tateavam com olhos e pele as ruas do Benfica. Um apreender entre céu e chão. Corpo agência, corpo dispositivo de sentidos, corpo atravessamento, corpo vibração do mundo. Jean também estava lá. E como diz Dona Lindalva, sábia mulher do sertão, “era tão bom que hoje ainda é bom”³. O início das coisas é como um sopro, estampido que faz acordar. Entrei no Dona Chica, bar que acolheu a exposição, imaginando que aquele aluno grandão, de olhos porosos, inundados, devia ser um bom fotógrafo. Qual o quê! Lembro quando visitei pela primeira vez o Museu Rodin e estive diante das esculturas de Camille Claudel. Não se tratava de ver, de apreciar, de contemplar, se travava de enchente, de inundação, transbordamento, de uma desorganização do antes visto. Assim foi na noite de outubro. As imagens transpunham molduras, cores, papel, suportes, legendas, entre movimentos “a cantar na maré que vai, na maré que vem”.4


JEAN DOS ANJOS Entrei desavisada. Não se faz isso com uma criatura filha de uma promessa atendida à Iemanjá. Nesse dia, entendi ainda mais, que as imagens ali expostas se tornavam mar, rio doce, imersão, dissolução, experimentação sob céus. Na hora, e isso nunca contei ao Jean, pensei em dizer – isso não é uma exposição homem – isso é correnteza, é superfície de contato, é avizinhamento com o inefável.

como se cada uma delas mostrasse signos de transfigurações, de avessos, de pequenezas povoadas de ruídos e sons ancestrais. Diante dos olhos, me encontrei refletida nos abebés elevados sob as mãos de Janaína. Vi o que não enxergo. Saímos dali inundados de mar, desenhado na areia dos costumeiros chãos. Odô Iyá --Glória Diógenes

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O artista espelha um mundo sem palavras. Jean atua nas imagens na qualidade de xamã,

Filha de Iemanjá. Professora da Universidade Federal do Ceará. Anda pela cidade procurando gestos sutis entre o céu e o mar.

https://www.youtube.com/watch?v=0a9DdaIazjI #Human

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Música de Vinicius de Moraes e Baden Powell, “Canto de Iemanjá”.

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Senhora das Águas. Teresa Cristina. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=5b2cmYOaR_8 Acesso em: 04 Jan 2021.

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“Eu vim de tão longe sem poder parar” 5


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UMA CARTA DE SAL E CÉU

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Antes de dormir, pedi para sonhar com este texto. Uma pandemia, seis meses dentro de casa, um presidente genocida, uma distopia em tempo real e um nó no meio do peito (sinto, mas não consigo desatar), me deixaram silenciosa. Não estou sem palavras. Consigo percebê-las aqui, grudadas na ponta dos dedos e na palma da mão inteira, como cola branca que a gente passa quando criança,

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Jean,

já sentindo o prazer que virá depois. Estas linhas são uma tentativa de tirar os pedacinhos para perceber (outra vez) que tudo pode, com pequenas estratégias, virar outra coisa. Você me trouxe o céu de Iemanjá e é sob ele que te escrevo. Orixá, mãe, sereia, rainha, mulher. Iemanjá é muitas. Observo cada fotografia com os olhos cheios. Paro na menina do mar. Mãos sobre a cauda. Não sei se ela te viu, mas foi nessa imagem que eu te encontrei. Há muita alegria no corpo uma outra vida dentro da vida. Organizar estas imagens em um catálogo, agora, é uma oportunidade de estar diante do tempo e de si para contemplar tantas ondas. Há beleza. Não sonhei com estas linhas. Tive de buscá-las com as mãos, no mar de Iracema. Mergulhei e prendi o fôlego. Passei a língua nos lábios para sentir o sal. Coloquei os pés onde teus olhos andaram. Minha forma de dizer do que vi ao observar

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de alguém que se enfeita para uma festa. Digo isso e penso em você, inventando

o que você olhou é uma possibilidade de me aproximar do mistério, sem revelá-lo. Agradeço. Se não alcanço nomear a imensidão com palavras exatas, posso chegar perto e encostar na pele do mundo. Tocar o espelho d’água para chegar ao céu. Desse gesto fazemos a fotografia, você sabe. E, por um instante, experimentamos a fé. Com carinho, --Jornalista, fotógrafa e professora. Escreve com palavra e imagem.

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Lamento às Águas / Na Beira do Mar. Mateus Aleluia. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=xRpeF7bdn0k Acesso em: 04 Jan 2021.

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“Na beira do mar clamarei por Iemanjá” 6


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“Deusa do amor, deusa do mar” 7

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https://www.youtube.com/watch?v=jG4hah8rLAI Acesso em: 04 Jan 2021.

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Sargaço Mar. Adriana Calcanhotto. Disponível em:


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MAR DE DENTRO

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escrever com ele, para ele e a partir dele. Ele é tão íntimo que as palavras não dão conta. Talvez o silêncio, certamente o

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Preciso, de precisão, escrever para um amigo muito querido. Digo melhor,

abraço e o encontro, as nossas humanidades. E o silêncio é um lugar em preto e branco, onde as cores são mistério! Olhar uma imagem, mágica, e sentir o que está revelado e o que não precisa ser dito é a potência do encontro.

Mistério. A pergunta que me fica? O céu de Iemanjá é azul? O céu e Iemanjá não precisam responder, e nós dizemos por si. O céu, e o mar, e os ventos, e o fogo, a terra, a gente: a vida. A vida tem a cor de quem a revela.

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Você, em preto e branco, diz da infinidade de cores que só podemos ver no

De quem a vê. De quem vive. E tem a cor! E você revela mistérios. Em preto e branco, para que a gente os sinta no mar de dentro. --Liduína Rocha. Obstetra. Mergulha em águas profundas e pecorre caminhos sutis.

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“Quem sabe venha buscar-me em festa” 8 O C É U D E I E M A N JÁ

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https://www.youtube.com/watch?v=FI5QwB1xXnU Acesso em: 04 Jan 2021.

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Louvação à Oxum. Maria Bethânia. Disponível em:




AGRADECIMENTOS

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JEAN DOS ANJOS George Paulino, Glória Diógenes, Iana Soares, Liduína Rocha, Jão, Jefferson Souza, Fernanda Meireles, Fernanda Leal, Fernando Jorge, Barbara Monte, Amelia Braga, Lídice Melo, Samuel Filho, Fabiana Nascimento, Michelly Fernandes, Bia Medeiros, Emi Teixeira, Allan Ratts, Isabel Forte, Samaisa dos Margarida Tapeba, Sandra Petit, Juliana Holanda, Kelma de Iemanjá e União Espírita Cearense de Umbanda (UECUM).

Agradecimentos especiais Luzia Lucia Souza dos Anjos e Raimundo Nonato dos Anjos (em memória).

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Anjos, Eliete Rodrigues, Eliane Rodrigues, Janainna Pereira, Marcos Levi Nunes,

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Jean dos Anjos é macumbeiro, fotógrafo e artista. Gosta de ficar na beira da praia olhando a linha do horizonte que corta e une o céu e o mar. É Mestre em Antropologia pelo Programa Associado de Pósda Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Coordenou a pesquisa e inventário da Festa de Iemanjá de Fortaleza que a registrou como Patrimônio Cultural Imaterial. É pesquisador do Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI/UFC). E-mail: jeanjos09@gmail.com

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Graduação (PPGA) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade

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PROJETO GRÁFICO

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