em
jb folhas
15 ANOS
2019 | ano 17 | nº84 distribuição gratuita
Jardim Botânico
o jornal do jardim botânico
Tá nas ruas
Dezembro 2019/Janeiro 2020
Horto | Gávea | Humaitá
Descubra as diferentes atividades e manifestações – artísticas ou não – em cada esquina do bairro. (Página 8)
Colônias de férias
Sucesso é bom
Não faltam opções para preencher o tempo livre das crianças em dezembro e janeiro. (Página 14)
Coautora da novela “Bom sucesso”, Rosane Svartman comemora o aumento do interesse pelos livros motivado pelo folhetim. (Página 18)
EDITORIAL Tudo que a rua nos dá
Andando pelas ruas, acompanhei o movimento do comércio, que anda bom, apesar da crise. Os estabe-
Prezado leitor,
lecimentos fechados há meses atrás estão reabrindo com outros serviços, e novos espaços estão surgindo.
Não é de hoje que observo a rua Jardim Botânico, Esse registro está na coluna Folhas do Jardim, junto que a gente pode até chamar de grande avenida com outras notas, inclusive uma sobre a manifesRENATO BRANDÃO
pelo seu fluxo frenético de carros e pedestres. No dia a
tação de mães da Escola
Municipal
Marly Fróes, que
dia, a principal rua
funciona em con-
do bairro pulsa e
dições péssimas,
tem sempre novida-
dentro da ABBR. O ano chegou
nas. Quem me co-
ao fim, a hora é de
nhece sabe que sou
celebrar, de refletir sobre o
uma andarilha. De bike, ou a pé, estou
CHRIS MARTINS
des em suas esqui-
consumo e de fazer o bem. O bairro já está enfeitado
sempre circulando. E
para o Natal, como se pode
foi um prazer per-
ver na Flagrante. Já a Paró-
correr a região atrás
quia São José está pedindo
das novidades que
colaborações para uma ceia
a rua oferece e até
de Natal comunitária para
parar o trânsito para
os refugiados. Leia mais na
registrar os grafitei-
coluna Cidadania.
ros do muro da Hípica (foto). É sobre isso que você vai ler em nossa matéria central.
E vamos seguir em frente, esperando que 2020 seja mais suave e que a cultura esteja forte e pre-
Faltou espaço para falar de tanta coisa legal que sente, não apenas nas ruas. É o que nós, do JB em temos por aqui. Como o aposentado que vende bo- Folhas, desejamos. Até fevereiro! necos playmobil na garagem e a senhorinha que
Christina Martins
tem carrocinha de açaí no Horto.
EXPEDIENTE
Foto da capa: Chris Martins (grafite Gebara)
O JB em Folhas é uma publicação bimestral, editada pelo Armazém Comunicação Projetos Jornalísticos Ltda.
e-mail: jbemfolhas03@gmail.com
Editora Responsável: Christina Martins (Mtb 15185 -RJ) Redação: Betina Dowsley Projeto Gráfico: Paulo Pelá | designjungle.com.br Revisão: Carla Paes Leme Impressão: CMYK Gráfica - 2581-8406 Tiragem: 5.000 exemplares 2
Editora
Telefone: 98128-6104 www.facebook.com/JbEmFolhasJornalDoJardimBotanico instagram/jbefolhas www.issuu.com/jbemfolhas
Distribuição: Parques, bancas de jornais, galerias e prédios comerciais do Jardim Botânico, Horto, parte da Gávea, Lagoa e do Humaitá.
CARA DO JB Vera Carvalho O gosto de Vera Carvalho, 68 anos, pela culinária vem de pequena, quando acompanhava a avó, fazendo receitas de família. Moradora do bairro desde os seis anos, ela se tornou bibliotecária e só depois de ter se aposentado, há 12 anos, começou a levar o negócio de cozinhar a sério. “Cozinhar para mim é um prazer. Se estou chateada, cozinho. Se estou feliz, também. Ocupa o meu tempo e me faz correr atrás de novidades”, afirma Vera, que gosta CHRIS MARTINS
de acompanhar o programa da Rita Lobo na TV: “Ela faz uma comida
práti-
ca e gostosa”, atesta. As especialidades de Vera são os salgados de forno e bolos em geral. Seus quitutes mais procurados são o bolo de laranja e a quiche de alho-porró, sem falar do brownie, à venda também no Nutre Restô. Um de seus diferenciais é fazer porções menores, para uma pessoa. “Tem muita gente que mora sozinha”, afirma ela, que já está recebendo encomendas para as festas de fim de ano. Perfeccionista, a chef gosta de saber a opinião dos clientes. - É importante gostar do que se come. Por isso, procuro sempre saber se meus pratos agradaram – admite. Cozinha da Vera – 99999-9541 3
Folhas do Jardim
serão inaugurados o restaurante japonês Temakeria & Cia e uma outra loja da rede Costura da Corinha
CHRIS MARTINS
Novo coletivo no JB
(ambos na JJ Seabra), além do Bazar Jotabê (na galeria dos Correios). Nos meses anteriores, a Grand Cru virou ponto de distribuição da padaria Artesanal Filone; o prédio comercial Pulse já conta com duas lojas ocupadas com a Drogaria Venâncio e pelo salão de beleza Espaço Léo Lopes. Foram abertos também o Espaço Médico Jardim Botânico - de medicina, uma pizzaria Domino’s, o restaurante japonês Sushi Ten e, no Horto, a loja de bicicleta Romariz Bike Fitter. No Humaitá, a novidade é o Bistrô Salomão. Já a Fonte da Saudade ganhou o Centro Veterinário Lagoa e o
O coletivo de joalheiros Espaço Autoral está agora colégio Ao Cubo Educação, com foco no ensino méno Jardim Botânico. O showroom reúne 13 mar- dio. Entre os estabelecimentos que fecharam, estão cas: Anasthacia, Elisa Kalume, Gabriela Brandão, Iza a loja Filbelle, a cafeteria Brauni, ambas no JB, e o Trinas, Kiki Costa, Kiki Guerin, Ju Marçal, Livia curso de inglês Britânia, na Lagoa. Costa, Luchetti, Marcela Cavalcanti, Marcia Villa Nova, Verônica Torres e Peu Lapido. Os próprios joalheiros
Trinta anos de responsabilidade
revezam-se no atendimento, aproximando os clien- O Centro de Responsabilidade Socioambiental (CRS) do tes do processo de criação das peças ou do conceito Jardim Botânico do Rio de Janeiro acaba de completar das coleções. O espaço também conta com ateliê, 30 anos. Em reconhecimento à sua relevância, o setor possibilitando pequenos ajustes no momento da foi ampliado e renovado, incluindo duas salas de aucompra. O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 10h às 18h, e, das 10h às 14h, nos sábados. No dia 14, excepcionalmente, o atendimento será estendido até as 18h, em função do evento de
CHRIS MARTINS
Natal Espaço Aberto.
Bzz ampliada O Atelier Bzz, na Galeria dos Correios, foi renovado e ganhou um espaço dedicado a peças de decoração la, um laboratório didático multiuso e canteiros para e pareôs importados da Turquia. A loja comercializa o ensino de técnicas de jardinagem e agroecologia. O também produtos étnicos exclusivos, garimpados na projeto Florescer, carro-chefe do CRS, atua na formação França, Paquistão, Afeganistão e países do Oriente e profissionalização de jovens de 15 a 18 anos em situMédio, com curadoria da designer Rosane Lopes.
ação de vulnerabilidade socioeconômica e, desde sua criação, já atendeu 4.152 educandos.
Vaivém comercial O Jardim Botânico e seu entorno estão com saldo
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Mudanças na EAV
positivo neste final de ano, apesar do fechamento Apesar da mobilização de artistas e moradores, Fabio de vários espaços ao longo de 2019. Em dezembro, Szwarcwald foi exonerado do cargo de diretor da Es-
cola de Artes Visuais do Parque Lage em novembro. atividade (há 50 espaços fechados), que formaram Em solidariedade ao ex-diretor, os integrantes do Con- uma associação. A comemoração do tombamento selho da Associação de Amigos da EAV decidiram dei- será no final de semana de 14 e 15 de dezembro, xar a administração. Até o fechamento desta edição, com a primeira a visita de Papai Noel ao mercado. nenhum nome havia sido indicado para substituí-lo.
Mutirão na Pio XI Salvem a escola Marly Fróes
Com apoio e produção do JB em Folhas, os mora-
Mães da Escola Municipal Marly Fróes protestaram dores do entorno da praça Pio XI organizaram, em na rua Jardim Botânico para chamar a atenção para outubro, um mutirão o péssimo estado de conservação da instituição, que para promover melhofunciona em uma sala improvisada, dentro da ABBR. rias no local. As ativiA escola – que atende 35 crianças portadoras de defi- dades infantis abriram ciência, a maioria cadeirante – cheira a esgoto e não os trabalhos com yotem segurança nem saída de incêndio.
ga do espaço Lunático. Em seguida, os canteiros receberam terra e mudas de temperos trazidas por moradores e pela escolinha
CHRIS MARTINS
LUCAS CUIABANO
A Cobal é nossa
de futebol Chutebol. Ao final, foram instaladas placas “Escada Marielle Franco” nos dois extremos da escadaria, previamente lavada pela Comlurb.
Ainda na Pio XI Em novembro, a Alerj aprovou o tombamento da Além da horta, a novidade é que a praça acaba de Cobal do Humaitá por interesse histórico e cultu- ser adotada pela AMA-JB, em parceria com a João ral, que ainda depende da sanção do governador. Fortes, que administra o edifício Touch, no mesmo A ameaça de venda do imóvel pela Companhia quarteirão. A pracinha também ganhou, da Petit CoNacional de Abastecimento (Conab – órgão do Mi- mitê Educação Infantil, uma caixa para troca de livros nistério da Agricultura) mobilizou os 34 lojistas em para crianças, instalada na entrada do parquinho.
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MEU BAIRRO Luciana Sandroni
grandes personalidades (dez homens e dez mulheres) que marcaram o Brasil.
Você pode até não conhecer a escritora Luciana San- Livraria | É uma tristeza não ter mais livraria no droni pessoalmente, mas as chances de seus filhos, bairro. A Malasartes, no Shopping da Gávea, é um sobrinhos ou netos já símbolo de resistência. terem se encontrado
Presentes | A lojinha do Jardim Botâ-
com ela ou se envol-
nico do Rio de Janeiro é uma referência
vido nas peripécias
para mim, mas também compro presen-
da personagem Lu-
tes na Bem Zen.
di – cujo primeiro li-
Vai um cafezinho? Marco meus encon-
vro foi lançado há 30
tros nos Cafés do bairro, como o Empório
anos – são grandes.
Jardim e o La Bicyclette. Favoritos | Uma vez
rias, a autora costu-
por semana, peço em
ma ler e conversar com as crianças – seu principal público – em eventos nas escolas
FOTOS: CHRIS MARTINS
Graças a suas histó-
da região.
Jóia. É uma delícia! À Capricciosa, vamos com frequência nos finais de
A literatura está no DNA de
semana comer ravióli
Luciana. Começou com seu
de mussarela de búfala.
avô Austregésilo de Athay-
Passeio histórico | Vi-
de – que presidiu a Acade-
sitar a capela Nossa Se-
mia Brasileira de Letras por
nhora da Cabeça, no
mais de 30 anos – e passa
terreno da Casa Mater-
por seus pais, Cícero e Lau-
nal Mello Mattos.
ra Sandroni – ele, imortal
Projeto
da ABL desde 2003; e ela,
nhecer as cachoeiras
uma referência em literatu-
da região.
verão | Co-
ra infanto-juvenil. Formada
Desejo | Queria
em Letras, Luciana já rece-
ter um binóculo pa-
beu vários prêmios, incluindo um Jabuti por “Minhas
ra poder observar
memórias de Lobato”. A autora confessa que Ludi foi
pássaros nos par-
inspirada na irreverência e na criatividade de Emília,
ques ou mesmo da
do “Sítio do Picapau Amarelo”, da qual foi uma das
minha janela.
roteiristas da versão exibida pela TV Globo no início
Inspiração | Uma
dos anos 2000. E, se sua personagem já foi da praia
menina jogando fu-
à floresta da Tijuca, Luciana reconhece: “O Jardim Bo-
tebol na Lagoa me
tânico e a Lagoa seriam ótimos cenários para novas
deu a ideia de co-
aventuras da Ludi. Tô devendo mesmo”. Enquanto
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casa o galeto do Bar
locar uma bola na isso não acontece, o jeito é curtir seu 26º lançamen- mochila da Ludi para jogar com o menino Dom Peto: “Era uma vez 20”, com pequenas histórias de 20 dro I, no livro “Ludi na Floresta da Tijuca”.
ECODICA Faz Girar Você conhece o Faz Girar? É uma feira de venda e troca de produtos de segunda mão, que começou timidamente na garagem de uma casa na rua Capitão Salomão, no Humaitá. Agora, o evento percorre diferentes endereços da cidade. O propósito é dar vida mais
CHRIS MARTINS
longa a roupas, acessórios, livros e outros
objetos, reduzindo o desperdício e o consumo excessivo. Os interessados em vender, precisam fazer inscrição no site e levar produtos em boas condições a preços razoáveis. A organização aluga mesas, cadeiras e toda a estrutura para expor os produtos. Aproveitando a proximidade do Natal, a próxima edição do Faz Girar será no dia 15 de dezembro, domingo, das 11h às 19h, na Cobal do Humaitá. Entrada gratuita.www.fazgirar.com
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CHRIS MARTINS
As novidades que vêm das ruas O Rio de Janeiro, com suas belezas naturais, está
vidiram o paredão da rua Oliveira Rocha. Na segunda
sempre chamando seus moradores a passarem boa
fase, o Festival de Arte Urbana selecionou 24 artis-
parte do tempo – a trabalho ou não – ao ar livre. Se-
tas – sendo cinco mulheres – para deixarem sua arte
ja pelo clima, seja pela paisagem ou pela cultura, o
na fachada mais nobre, voltada para a rua Jardim
carioca gosta de rua. No Jardim Botânico não é dife-
Botânico, com tinta doada pelo clube. Durante uma
rente. Embora esse movimento não esteja restrito a
semana, moradores, trabalhadores e crianças acom-
uma estação, é inegável que as ruas da região “fer-
panharam o processo a céu aberto. Como até Deus
vem” mais no verão. Pode ser uma roda de capo-
descansou no sétimo dia, o encerramento reuniu na
eira, um evento na praça, a feira livre ou mesmo a
calçada amigos, grafiteiros e público em geral, que
pintura de um muro.
tiveram direito a música, visita guiada e as presenças
A Sociedade Hípica Brasileira decidiu comemorar
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de Marcelo D2 e do DJ Rodrigo Penna.
seus 81 anos de forma diferente e promoveu um
- Me enche de orgulho ver o Jardim Botânico virar
mutirão com grafiteiros atuando nos cerca de 1.000
referência na cidade de um grafite que não é estili-
m2 de seu muro. A pintura ocorreu em duas etapas
zado, incluindo uma galera de comunidade também.
em novembro: na primeira, mais de 100 artistas, de
É uma luz no fim do túnel neste momento em que a
vários pontos da cidade e com recursos próprios, di-
cultura está sendo devastada – atesta Rodrigo.
há 22 anos, Smael Smile também gostou do resultado e elogiou a iniciativa: “A Hípica mandou bem e deu todo o suporte necessário para criarmos essa galeria a
FOTOS: CHRIS MARTINS
Morador da Gávea e um dos precursores do grafite
céu aberto. Precisamos ocupar a rua com arte”. Se os artistas curtiram o interesse do público, do outro lado não foi diferente. Para Magda Bouças, diretora da Petit Comitê Educação Infantil, o muro foi uma oportunidade de mostrar às crianças um pouco da arte de rua. - Eu fiquei encantada com esse projeto e os artistas tiveram o maior cuidado com os pequenos: conversaram e até deixaram algumas das crianças pintarem – afirma ela, que se mostrou surpresa com o alcance da arte de rua no mundo. O colégio – que tem 24 anos de bairro e até o ano passado era conhecido como Andrews Baby – vem trabalhando a história da arte em seu projeto pedagógico e, na semana seguinte, levou as crianças para fazerem uma experiência como malabares na esquina da rua Oliveira Rocha (foto ao lado). - A ideia foi proporcionar essa vivência para que as crianças não tenham preconceito com os artistas que trabalham na rua – analisa a diretora. A pracinha em frente ao Tablado já é ocupada, ocasionalmente, pelos ensaios dos alunos do curso criado por Maria Clara Machado. Desde novembro, o local ganhou um encanto a mais. A diretora Cacá Mourthé levou a encenação do auto de Natal “O boi e o burro no caminho de Belém” para a praça. Um pouco antes da peça começar, o elenco vai para a rua, interagir com o público (foto ao lado). - Em momentos difíceis, não tem nada melhor do que alargar nossas fronteiras e levar para as ruas e praças públicas um pouco de alegria, brincadeira e arte. Essa é a função do teatro – afirma Cacá. A música não fica de fora e também marca presença pelas ruas da região. Se a Gávea tem o Choro na Rua, o Jardim Botânico conta com o forró do Trio Samburá (foto página 8), no Mercado Afonso Celso. O grupo itinerante percorre vários bairros e, em sua estreia no JB, agradou 9
DIVULGAÇÃO
ao público, que dançou na calçada. Com isso, Bráulio Ferreira, um dos sócios do estabelecimento, quer tornar a atração musical uma constante no Bar do Mercadin. A próxima data do forró é 14 de dezembro. E se a estratégia é usar a rua para atrair o cliente, a Barbearia do Zé está no caminho certo. Há dois meses, o estabelecimento localizado quase na esquina da rua Maria Angélica fechou uma parceria com a Carnisseria e organizou o Churrasco do Zé bem em frente à barbearia (foto ao lado). - A ideia era criar um evento descolado, diferente de tudo o que já tem no bairro. Estamos felizes com o resultado, pois o público gostou da novidade - afirma Rodrigo Azevedo, sócio da barbearia. Seguindo a tendência de ocupação dos espaços públicos, até o esporte tem marcado presença na rua. Comandado pelo Mestre Marrom, o grupo Capoeira Angola, que treina na Jardim Botânico Educação Infantil, pode ser visto, vez ou outra, montando sua roda na calçada do Edifício Touch, na rua Jardim Botânico. Já o professor de boxe Wallace Lopes (foto ao lado) adotou o deque em frente à sede náutica do Vasco, na Lagoa, e a praça Pio XI como extensões de sua academia no Humaitá. Moradora do bairro há 16 anos, Taciana Abreu tem aula particular com ele e não abre mão de
FOTOS: CHRIS MARTINS
treinar ao ar livre. - A cidade é linda, e o Jardim Botânico também. Somos privilegiados e precisamos aproveitar a natureza à nossa volta. Até as crianças curtem e ficam observando o treino – conta ela, que pratica boxe há mais de um ano. Na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, o ecletismo reina. Durante a semana, atletas ocupam a pista e misturam-se a turistas, moradores e trabalhadores, que adotaram a via para fazer seus deslocamentos. Nos finais de semana, o mesmo espaço é invadido por famílias e serve de cenário para piqueniques e aniversários. Se, há alguns anos, o Parque dos Patins era a maior referência da área para eventos, atualmente o Parque das Figueiras desponta como favorito. Inaugurado em 2016, o espaço recebe eventos de todos os 10
FOTOS: CHRIS MARTINS
gêneros, sem falar na famosa Babilônia Feira Hype, que acontece ali mensalmente e já tem edições agendadas para os dias 14 e 15 de dezembro e 25 e 26 de janeiro. Já as áreas externas do Lagoon e do Estádio de Remo agora contam com food trucks permanentes. O público ali é mais tranquilo, interessado em curtir a paisagem, tomando um vinho. Impossível falar da ocupação das ruas sem lembrar das feiras livres, cuja origem vem dos mercados medievais. O casal Carla Nascimento e Júnior Fritto (foto ao lado) começa o sábado pela feira da Frei Leandro, com caldo de cana e pastel – na opinião deles, o melhor do bairro – na barraca do Amigão. Outra recomendação de Carla é o peixe: “Tem que ser o do Ailton”, que pode ser visto também nas feiras do Humaitá e da Gávea, ao lado do irmão. Já a turma natureba costuma bater ponto na feira orgânica, na praça em frente à Igreja São José, aos sábados. Diferente dos feirantes tradicionais, lá os vendedores são os próprios produtores das mais diversas origens, da inglesa Nicole Derrzapf (foto ao lado), com seus doces e compotas feitos com frutas orgânicas; a Sérgio Tavares, descendente de japoneses que produz e
As ruas podem ser mesmo uma grande surpresa.
comercializa cogumelos cultivados no Alto da Boa Vista. Morador do bairro, o poeta e compositor Abel Silva O fungicultor tem sua própria estratégia de marketing: está sempre atento aos movimentos populares e quem compra seus produtos ganha uma pedrinha de eventos culturais – sejam eles espontâneos ou não – presente e, quando junta 10 ou 15 pedras, pode trocar em suas andanças: pelo peso igual em cogumelos. “Ainda tem um oráculo,
- Fico extasiado quando vejo manifestações musi-
no qual o cliente pode tirar uma carta com uma mensa- cais nas ruas da cidade. É na rua que nasce o verdadeiro espírito carioca – exalta o artista. gem bonita”, avisa o “executivo” de marketing.
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ENTREVISTA Mário Moscatelli
JBF | Qual é o principal problema da lagoa hoje? MM | Os mesmos problemas do início do século XX:
Quem mora no Rio de Janeiro se acostumou a ver o saneamento e troca de água eficiente com o mar. A biólogo Mário Moscatelli denunciando agressões ao situação da lagoa está muito melhor do que em 1989, meio ambiente ou servindo de fonte para matérias mas ainda não resolvemos a questão do esgoto, chasobre o tema. Seu envolvimento com a Lagoa Rodrigo ga ambiental que faz fortuna de alguns em detrimenforma natural e independente no final dos
to da degradação am-
CUSTÓDIO COIMBRA
de Freitas aconteceu de
biental da cidade.
anos 1980. Trinta anos
JBF | A ocupação do
depois, o balanço de sua
entorno da lagoa por
dedicação ao local inclui
comerciantes, festas e
4.500 arbustos e árvores
eventos prejudica ou
de mangue vermelho,
contribui para sua pre-
branco e negro, e várias
servação?
espécies animais rein-
MM | As duas coisas.
troduzidas naturalmente
Com a melhoria das
ou induzidas pela pre-
condições ambientais,
sença dos manguezais.
o
Sem falar na mudança
econômico foi intensi-
de paradigma de inuti-
ficado, e a fauna, na
lidade e insalubridade,
medida do possível,
que era erroneamente
adaptou-se.
associado a manguezais.
mente, parte da turma
Com seu trabalho, ele
que frequenta a Lagoa
demonstrou que mes-
não é muito civilizada
desenvolvimento
Infeliz-
mo ecossistemas historicamente degradados podem e utiliza ruas e espaços verdes como lata de lixo, o ser recuperados e convertidos em importante mecanis- que interfere na vida dos animais, podendo levá-los mo de desenvolvimento econômico da cidade.
até a óbito, por confundirem resíduos com comida.
JB EM FOLHAS | Como você viabilizou o desejo de JBF | Você tem esperanças de ver a lagoa balneável recuperar o ecossistema da Lagoa Rodrigo de Freitas? algum dia? MÁRIO MOSCATELLI | De 1989 a 1992, foram utili- MM | Totalmente não. Para os padrões nacionais, zados apenas recursos próprios. Inúmeras vezes pro- porém, a lagoa está ótima. duzi mudas de mangue no apartamento dos meus pais em Copacabana, além de utilizar o “manguemó- JBF | De que maneira os moradores podem colabovel” de meu pai para transportar as mudas de áreas rar para melhorar as condições da água? doadoras para as margens da Lagoa. Depois, tive su- MM | Evitando jogar resíduos nas ruas e áreas porte de órgãos públicos e instituições educacionais. verdes, denunciando lançamentos de esgoto e a Atualmente, conto com o apoio da Secretaria Muni- má gestão dos parques; enfim, exercendo seus dicipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.
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reitos de cidadão.
CIDADANIA Ceia de Natal para refugiados Ao longo de 2019, a igreja São José da Lagoa ofereceu cursos e aulas de música para refugiados, a fim de promover uma imersão na cultura brasileira e no idioma, facilitando a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho. Para encerrar o ano, os estrangeiros terão uma verdadeira ceia de Natal. A organização é da própria paróquia, que convocou os fiéis a levarem pratos tradicionais da época para uma mesa comunitária, que deve acolher cerca de 50 refugiados. A ceia de Natal será realizada às 20h, do dia 24 de dezembro, logo após a missa das 19h. Quem quiser colaborar com a ação precisa confirmar a participação pelo telefone 2294-6549.
SHOWROOM COLE TI VO DE JOA LH E RI A
Rua V i sconde de Caranda í , 28 S egu nd a à s e x ta - 1 0 h às 1 8 h s áb ad o s - 1 0 h às 1 4 h @espacoau toral 13
JBF indica Gestos
Férias no JB Casa 38 Humaitá
ANA MARTA MOURA
A turma do Gato Mia vai promover uma minicolônia de Natal, de 16 a 20 de dezembro, na Casa 38, no Humaitá. Das 14h às 17h, crianças, a partir de 3 anos, vão brincar com arte e música e produzir seus próprios brindes de Natal. Inscrições: 99811-9833.
Lunático De 6 de janeiro a 7 de março, o Verão Lunático oferece o combo Movimento e Diversão, com acrobacia aérea (de 3 a 12 anos), biodanza (de
A colônia de férias do Gestos envolve atividades físicas, artísticas e culinárias, promovidas pelo fisioterapeuta, professor de bioginástica e mestre de capoeira Bruno Jacques. Serão apenas duas semanas, uma em dezembro (de 16 CHRIS MARTINS
a 20) e outra em janeiro (de 13 a 17). Voltada para a turminha de 3 a 6 anos, a colônia acontecerá tanto no próprio espaço, na rua Conde Afonso Celso, como na praça Pio XI. Ins- 4 a 11 anos) e yoga (de 4 a 10 anos). Há flexicrições por WhatsApp (99711-4814) ou e-mail bilidade na contratação de aulas avulsas ou em (contato@gestosdocorpo.com.br).
pacotes. As inscrições podem ser feitas por telefone: 3114-0098.
Parque Lage De 6 a 31 de janeiro de 2020, o Parque Lage
Sociedade Hípica Brasileira
promove a Descolônia de Férias, com experi- A Hípica rende-se ao domínio infantil, com duas ências que misturam cultura e natureza. As ati- colônias de férias e aulas de equitação em janeividades são realizadas à tarde e direcionadas ro. A colônia de férias com pôneis é direcionada a crianças dos 6 aos 12 anos. É possível fazer para crianças a partir dos 5 anos. Já a colônia de inscrição por dia ou por semana pelo e-mail férias da Hípica conta com atividades esportivas parquinho.eavparquelage@gmail.com ou dire- e oficinas de arte e de reciclagem, para a turma tamente na secretaria da EAV. 14
de 3 a 10 anos. Informações: 2156-0156.
Arte latino-americana na Carpintaria
de Maria Clara Machado, retrata a noite do nascimento
O curador mexicano Pedro Alonzo uniu o argentino Julio do menino Jesus pelo olhar dos animais protagonisDIVULGAÇÃO
Le Parc, um dos pioneiros da arte cinética e ótica, e a tas, personagens de André Mattos e Leonardo Brício. dupla paulistana OSGÊME- A temporada vai até 22 de dezembro, no teatro O TaOS, reconhecida internacio- blado, com sessões aos sábados e domingos, às 16h. nalmente por seus grandes Sempre que o tempo permitir, a nova montagem, dimurais de grafite. A mostra rigida por Cacá Mourthé, começará na praça em frente conta com cinco telas e um ao teatro, com brincadeiras para crianças integradas ao móbile de Le Parc e 14 tra- desenrolar da história. balhos inéditos (seis pinturas e oito esculturas) dos ir-
Bianca Madruga na Galeria Ibeu
mãos que há dez anos não Artista visual e mestre em Estética e Filosofia da Arte faziam uma grande exposição no Rio de Janeiro. A mos- pela UFF, Bianca Madruga ocupa a Galeria de Arte Ibeu tra é gratuita e fica em cartaz na galeria Carpintaria, no com a mostra individual “Ponto de queda”. A exposição Jockey Club, até 28 de dezembro, mas é preciso agendar apresenta trabalhos desenvolvidos a partir da ideia de a visita em: www.sympla.com.br/carpintaria.
horizonte e de como o povo pensa coletivamente seu futuro. A mostra fica em cartaz até 10 de janeiro, de se-
Auto de Natal no Tablado
gunda a quinta, das 13h às 19h, e, às sextas, das 12h
Com o propósito de lembrar o verdadeiro sentido do às 18h. A galeria fica na unidade Jardim Botânico do Natal, a peça “O boi e o burro no caminho de Belém”, Ibeu, na rua Maria Angélica 168, e tem entrada franca.
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Alamedas
fortes acabaram por provocar o desmoronamento de parte da via, em frente à cachoeira do Horto e em cima de uma ponte em arco, construída
ESTRADA DONA CASTORINA
com pedras e tijolos maciços, em meados do
A Estrada Dona Castorina faz parte da história do século XIX, para possibilitar a passagem da água Jardim Botânico desde o começo de sua ocupa- do rio Pai Ricardo sob a estrada. Como o Parque Nacional da Tijuca é tomba-
Macaco: Castorina Angélica de Jesus Alves Pereira (1814-1880), esposa de Antonio
PETERSON DE ALMEIDA
ção. O nome veio da proprietária da Chácara do
do desde a década de 1960 e declarado, em 2012, Patrimônio Mundial pela UNESCO,
Mendes de Oliveira
o Iphan encomendou
Castro. Ela adorava re-
um estudo com o ob-
ceber convidados em
jetivo de orientar a
sua casa, uma refe-
execução das obras
rência na região. Na-
sem comprometer as
quela época, a estra-
características arqui-
da começava na rua
tetônicas originais e
Jardim Botânico (ho-
preservando a paisa-
je Pacheco Leão) e
gem cultural urbana.
terminava no Alto da
Com isso, a Secreta-
Tijuca (como era cha-
ria Municipal de Infra-
mado o Alto da Boa
estrutura e Habitação
Vista).
(SMIH) está analisando as recomendações do laudo técnico, com
ra e Tijuca – faz parte
o intuito de não com-
do roteiro de turistas
prometer o prazo ini-
e ciclistas, que utili-
cial para recuperação
zam a estrada-parque
da pista, estimado
para prática de es-
em seis meses. Já fo-
portes e passeios no
ram realizadas algu-
meio da natureza, incluindo visitas à Vista Chinesa, à Mesa do
RUBEN ZONENSCHEIN
A via – que dá acesso a São Conrado, Bar-
mas intervenções para direcionamento do fluxo da água da ca-
Imperador e às cachoeiras da região. Com o au- choeira do Horto e contenção da encosta, como mento significativo de circulação no local, a es- a construção de um muro de concreto armado, trada vinha sofrendo com a falta de prevenção que, por enquanto, encobre apenas parte do e manutenção da pista. Em setembro, chuvas elemento histórico. 16
Flagrante Então é Natal no JB! Natal no JB é assim: tem a árvore sustentável da Paróquia São José da Lagoa, a tradicional árvore de Natal da Lagoa e as apresentações
CHRIS MARTINS
do coral do supermercado Zona Sul.
cada dia um cardápio diferente; comida com gostinho caseiro; sempre uma opção vegetariana; Rua Jardim Botânico 635, loja 101. TEL: 2259-3098 /nutreresto
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CHRIS MARTINS
Leopoldina como os de outros bairros de qualquer cidade brasileira conseguem se reconhecer nas narrativas e nos personagens da novela das 19h. A trama gira em torno de uma editora de livros. A boa receptividade do público levou ao aumento de 15% na busca dos
ROSANE SVARTMAN
títulos citados na novela – segundo a plataforma de comércio eletrônico Zoom – e à menção honrosa no Prêmio Instituto Pró-Livro 2019. O bom resultado está agradando a Rosane e seu parceiro de roteiro, Paulo Halm. - A experiência de falar para tanta gente ao mesmo tempo é incrível. Adoro andar na rua e ouvir as pessoas comentando sobre a novela na fila do supermercado. O mais legal é poder escutar sem que as pessoas saibam quem você é – observa.
Ilustre Morador
O tema editorial é influência direta do envolvimento de Rosane com a Bienal do Livro, da qual,
Em 2006, quando foi entrevistada para esta mesma é curadora das mesas de debates há duas edições. coluna, a cineasta Rosane Svartman tinha como ro- Com a popularidade do evento, ela concluiu que as tina no bairro andar pelas ruas e ocupar a Livraria pessoas continuam interessadas – se não por livros Hartmann, com a filha Rosa – então com três anos – pelas histórias e pelas pessoas que as escrevem. – ou em reuniões de trabalho. O tempo passou, e os - A literatura é pop. Quando a gente escreve uma livros continuaram a ter lugar de destaque no coti- novela tudo o que queremos é contar uma boa histódiano da produtora e diretora, atualmente coautora ria – analisa a autora de quatro títulos voltados para da novela “Bom Sucesso” (TV Globo).
o público infantil, que gosta de presentear os amigos A escolha do bairro de Bonsucesso para ambien- com livros no Natal. tar a história não foi por acaso. Além do jogo de Para construir bons enredos, o Horto e o Jardim palavras e significado intrínseco ao nome, Rosane Botânico funcionam, muitas vezes, como laboratólembra que, antes de decidir, fez lá o que costuma rio para Rosane, moradora da região há 17 anos. As fazer por aqui: andar, ver e ouvir. A estratégia fun- caminhadas de casa até sua produtora audiovisual cionou. Pesquisas realizadas com os espectadores Raccord, por exemplo, podem influenciar alguma cedemonstraram que tanto os moradores da região da na ou personagem. Hábitos cotidianos, como praticar
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muay thai, também. Ela começou a treinar em 2012,
- Um lugar que continua a mesma coisa é a praci-
na academia Gold Fighters, que funciona dentro do nha Pio XI. Foram feitas melhorias, mas ela continua Clube Carioca, e confessa que o mestre Flávio Al- sendo ponto de encontro de moradores, um cantinho mendra inspirou o personagem de Eriberto Leão na que parece fazer parte de uma outra cidade bem metemporada de 2014 de Malhação.
nor do que a nossa – destaca ela, que participou da
O antigo ritual de Rosane de ir à livraria – que até primeira edição do Bloco da Pracinha e ajudou a orgahoje lhe faz muita falta – serviu de inspiração para o nizar um plebiscito para delimitação das áreas do paruniverso de “Bom Sucesso”. Ela lembra-se com cari- quinho infantil e do campo de futebol no local (foto). ada que fez toda a diferença ao despertar, em meus filhos, o interesse e o cuidado com os livros”, reconhece a autora, que ia quase todos os dias ao
Embora a novela seja sua prioridade até janeiro, CHRIS MARTINS / ACERVO JBEMF
nho especial da gerente Mariana, “uma moça tatu-
Rosane conseguiu dar continuidade a outros projetos ao longo deste ano. No cinema, ela aguarda o lançamento do seu mais recente trabalho,
lugar, nem que fosse para to-
“Pluft”, do qual é diretora e
mar um café.
corroteirista, ao lado de Cacá
De café, aliás, ela entende. Sempre que pode, Rosane
Mourthé e José Lavigne, ambos moradores do JB.
marca suas reuniões em uma
- O filme está pronto, mas
das inúmeras opções que o
não teremos como lançá-lo
bairro oferece, da padaria Gra-
neste verão, por isso vamos
no & Farina (antiga Vitória Régia) ao supermercado aguardar um período menos concorrido – explica. Zona Sul, passando pelo Empório Jardim e pelo Bar-
Outra conquista importante foi a defesa de sua
galo (ex-Bingo). Ela reconhece que a noite mudou tese de doutorado sobre convergência de mídias, na muito com os novos bares e restaurantes perto de Universidade Federal Fluminense. “Estudei a histósua casa. O Jojô é um de seus favoritos. Ela lamenta, ria das telenovelas na tentativa de compreender o porém, o fechamento de estabelecimentos como o modelo único no mundo que tem tanta força aqui. Borogodó, o Couve-Flor e o mercadinho do Seu Ma- Acredito que a experiência das novelas na TV aberta noel, “lindo e antiguinho”, onde gostava de parar pode ser um caminho para entender o futuro do aupara jogar conversa fora.
diovisual brasileiro”, conclui.
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