Personal Motographic 13

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ISSUE 13 | RED HAIR & FRECKLES 2013 | JUNE 2013

g n n i o o c r G pe p Le

PERSONAL

MOTOGRAPHIC Red Hair & Freckles http://2wt.weebly.com



Nas estradas rurais de Brecon Beacons Foto de capa: R335 vindo de Norte para Connemara

GOING LEPPERCON


6

Flip-book

8

País de Gales Brecon e Snowdonia

18 26 28 30 42 48 70 HUBB UK Overlander

25 Maio a 13 de Junho de 2013 Moto: “Alice” (BMW R1200GS Adventure ’09) Personal Motographic #13

Fazer caretas

Chegada à Irlanda

Norte da Irlanda

Donegal County

Mayo e Sligo

Ring of Kerry


Estava prometida há muito, demasiado tempo. Por três vezes Marrocos meteu-se no caminho, intervalada de um Sul de Espanha feito para uma reportagem da Rota dos Mouros dos nossos amigos MotoXplorers. À falta de melhores razões, a reportagem para o número 2 da revista “TREVL—de moto pelo mundo” empurrou-nos para a frente.

80 Dentro de água

88

Uma Guinness na mão

94 98 Aqui dorme-se

Fotos soltas

Ao reservar o bilhete de ferry de Santander para Portsmouth, escolho a opção de Non-Refundable sentindo que, agora, era para cumprir. As três semanas de calendário permitir-nos-iam uma volta mais descontraída pela ilha da Irlanda. Não fora acharmos que, já que andávamos pelas inglaterras, podíamos muito

bem ir ao encontro mundial da Horizons Unlimited. A promessa de histórias de viajantes e o estabelecimento de contactos para a revista eram demasiado tentadores, mesmo sendo preciosa a moeda de troca. Assim, Gales imiscui-se nos planos para preencher um tempo “vazio” antes do evento e depois do ferry. Estava pois decidido: seria Irlanda com um amusebouche de Gales.

C


ai.26)

(2013.M

água fresca na praia

túneis naturais até Hook Head

(2013.Jun.13)

nos túneis dos Picos de Europa

(2013.Jun.04)


“FLIP BOOK” O animatógrafo na ponta dos dedos

No canto inferior direito desta edição há uma imagem que poderá parecer desgarrada em algumas páginas. Mas tem uma razão. São imagens capturadas em timelapse, e que compõem algumas sequências que dão uma ideia do que será rolar pelas estradas e caminhos

da Irlanda e Gales. Escolhemos as 4 representadas à esquerda. Basta começar do fim e “metralhar” as páginas como se esta edição fosse um flip-book. Baralhado? Fizemos um boneco para explicar.



Holyhead

NO PAÍS DE GALES Brecon Beacons e Snowdonia Gales tomamo-la em dois goles. Um primeiro às voltas pelo Parque Nacional de Brecon Beacons e um segundo, no regresso do HUBB UK, através da Snowdonia a caminho da Irlanda. O primeiro gole foi bem regado, numa chegada à vila de Brecon debaixo de Brecon Talibont Monmouth

chuva, e completamente ensopados. Queriamos ter feito a A466 que liga Chepstow a Monmouth serpenteando ao longo das margens do rio Wye, mas acabámos a apontar a Abergavenny para deixar que a A40 nos levasse até ao descanso.



À chegada ao B&B, Jim sugere que deixemos a roupa molhada no alpendre e que dela tratará mais tarde. Jim é um professor de Galês

que ocupa o tempo entre a gestão do B&B e as aulas particulares que dá. Apaixonado pela aprendizagem das línguas, confidencia-nos que ainda este ano vai fazer um curso

de espanhol, em Espanha. Entusiasma-se ao saber que somos portugueses. Quer saber quais as parecenças com o Galês, dada a partilha de raízes celtas. Quando regressámos a casa,

enviámos-lhe um postal para revelar que nas incursões pela Irlanda descobrimos palavras célticas similares ao português. Uma delas lê-se bem nos carros da polícia: Garda, não muito diferente



da nossa Guarda. Expulsamos as roupas e tomamos um banho retemperador, antes de percorrer os 4 locais onde se come àquelas horas em

Brecon. Desses, apenas um tailandês e um chinês resistem ao horário. Escolhemos tailandês depois de entrar num pub e sermos aconselhados a fazê-lo por um grupo de jovens galeses.

O dia seguinte acorda envolto em neblina, mas Jim promete que ao longo do dia vai abrir e mostrar o Sol. Saímos de impermeável vestido, ainda assim. No bolso levamos as

recomendações do nosso anfitrião sobre onde podemos fazer uma caminhada. Isso leva-nos ao Senni Valley por estradas rurais, guardadas por ovelhas. Largamos a moto



para caçar uma cascata. Encontramos duas e cores na floresta que não se encontram em Portugal. O tempo não faz Jim passar por mentiroso. O Sol

começa a aparecer e enfiamos os impermeáveis nas bolsas da Alice. É altura de ir até Talibont, pelas estradas demasiado estreitas para um tractor e uma moto. Ao longo do

canal, os barcos passeiam os galeses num ritmo calmo, apreciado enquanto bebemos um chá quente e uns muffins. O resto do dia esturra-se nas

estradas, seguindo a exultada A40 que nos leva até Y Mynydd Du, “The Black Mountain”. Interrompemos uma sessão fotográfica da Triumph britânica. A escolha deste local para fotografar



os modelos novos é acertada, onde as curvas desaparecem bem lá ao fundo do vale de encostas suaves. No regresso do HUBB UK

ainda conseguimos fazer algumas estradas apetitosas pela Snowdonia, mas seria injusto tirar muitas conclusões com tão pouco tempo gasto aqui.



O parque de campismo do encontro, entre motos e tendas

HUBB UK “OVERLANDER” O encontro de viajantes da HU Ainda no ferry que nos deixaria no Sul de Inglaterra, tento escolher a quais sessões irei. A primeira sensação é de frustração. São 5 painéis paralelos, cheios de histórias para contar, dicas para ensinar, e provas para entreter. Muita coisa nos vai escapar e isso é o pior de todo o evento. Em cima de tudo isso, existe a Adventure Travel Zone e a HUBB Zone. Na primeira estão as revistas da especialidade, os fabricantes de equipamento e acessórios e os tour leaders. Na última, os autores de livros como oTed Simon, Austin Vince, Lois Pryce, Pat Garrod, Norman

Donington Park Farmhouse Midlands [UK]

MacGowan, Tom Allen e muitos outros, junto aos organizadores de eventos e a loja da Horizons Unlimited. Conhecer pessoalmente pessoas que têm sido fonte de inspiração para viajar de moto é como viajar até aos locais que crescemos a ver em revistas, guias e vídeos: incomparável! A riqueza e variedade que este evento atinge é esmagadora. A dimensão da própria Horizons Unlimited tornou-a uma referência. E este evento deve fazer parte da Lista de Coisas a Fazer de todo o viajante.


Hall of Fame FRANCIS MAXEY é um palhaço. Daqueles a sério, se isso existe, de profissão. Pauta a história que conta com as inúmeras imagens onde ele e sua GS Adventure caem. Sempre bem disposto, conta-nos a sua aventura “High Asia and Mongolian Plains”. Se fechasse os olhos parecia estar a ouvir o ex-Monty Python Michael Palin. ED MARCH é um entertainer nato que ainda não sabe que o é. Quis o destino que gostasse de viajar de moto. Mas a escolha da moto é dele: uma Honda C90. Nas duas sessões levou todos às lágrimas, enquanto se esforça a provar que não se precisa de uma GS gigante para ver o Mundo. O ponto alto foi quando, durante a viagem ao Cabo Norte em pleno Inverno, numa das noites em que acampa no meio de

nada decide testar se uma língua num poste de sinalização realmente fica colada. E fica. Fixem este nome. AUSTIN VINCE levounos com ele na recente viagem Mondo Sahara, numa estreia mundial. E nenhuma conversa com ele é enfadonha, mesmo obcecado na missão de convencer todos que se deve viajar em motos pequenas. Aproveita e promove o Adventure Travel Film Festival. O novo livro do TED SIMON, lançado pelo próprio, é outro ponto alto. Uma sala e um auditório à cunha ouvem num silêncio típico entre alunos que reconhece o previlégio de ouvir um mestre a falar. Os presentes puderam inscrever-se para serem os primeiros a receberem o livro com condições especiais e assinado…. Nice...


Colchões A opção que parecia fazer mais sentido seria acampar junto com a maioria dos participantes no evento. À distância, desde Portugal,

percebia-se como seria o local para dormir. Um relvado bem tratado, com muita sombra (ainda que em Inglaterra não seja grande mais-valia) e bastante espaço.

Enquanto decidimos o que levar connosco para a viagem, o volume que material de campismo ocupa começa a ser cobiçado e disputado com as demais coisas. “Será que precisamos

dos colchões?” perguntamonos. Afinal o chão tem ar de ser fofinho. Esta era a resposta que queríamos ouvir de nós próprios, na ânsia de libertar espaço. E foi assim que, na pilha do


“Não Vai” ficaram os colchões. Diz que sabe de campismo –que ficou claramente demonstrado não sermos nós– que os colchões não se limitam a tornar o chão menos rijo. A principal função é isolar a humidade e frio que repassa para nós vinda do chão, especialmente com as temperaturas que se encontram no Reino Unido. A primeira noite chegou e com ela a

clara percepção que os colchões fariam falta. Dormimos mal. O frio tomara conta das nossas pernas e nem os casacos e calças da moto estendidos por baixo de nós parece evitar o resfriado. Amanhecemos com a noção de que alguma coisa teria de ser feita. O preço de £140 por cada colchão no stand na Adventure Zone arrepia-nos mais do que o frio da noite. Ainda lançamos a escada a alguns dos recém conhecidos que

viajam agora de autocaravana, mas sem efeito. Já quase no final do dia, à conversa com Paddy da Overland Magazine, sugere que falemos com o dono do tal stand para lhe pedir uns emprestados. Já enquanto se preparava para passar a noite no acampamento e fechava tudo, combinamos que podíamos usar dois dos seus fantásticos colchões. Arrumados dentro da bolsa são do mesmo tamanho que

os nossos da Quechua que ficaram em casa. A diferença é que os nossos têm 2 cm de espessura. Estes têm mais de 10cm. Naturalmente que teríamos de os devolver na mesma condição que os havíamos recebido nessa noite. De outra forma teríamos de os comprar. Enchemos os insufláveis e dormimos que nem uns anjinhos sobre duas nuvens. Acordamos com o Sol


que já aquece a tenda. Espreguiço-me e apenas com um olho aberto reparo numa mancha no colchão, junto onde a minha cabeça terá passado a noite. “Gaita!”, penso. “Talvez seja

apenas água”. Um dia inteiro a secar prova que não o era. Havia marcado para a vida aquele colchão. Chega o último dia do HUBB UK e com ele a realização de

que teria de pagar pelo colchão manchado. O desconto de £20 não ajuda muito a “engolir a pílula” mas a honra não me permitiria outra coisa. Não que o vendedor tenha

sequer confirmado se o colchão devolvido estaria em boas condições. Confiava na nossa palavra e isso tem um valor. De alguma forma, era a reputação de todo o povo



Português que estava à minha guarda e não me podia permitir a deixá-lo mal visto. Para além de sairmos de lá com a carteira mais leve,

ainda tínhamos de arranjar forma de levar mais um rolo na moto. Nada que umas correias à volta das malas laterais não resolvesse. Os ossos largos da Alice revelam-se úteis.



O MOSAICO DE CARETAS Quando ninguém está a olhar

Ter uma câmara fotográfica que está programada para tirar fotos a cada segundo permite captar alguns instantâneos inesperados. Para quem não gosta de “fotos preparadas” não há melhor.

Quando a câmara anda tão perto da nossa cara, as caretas vão aparecer. E, nessa altura, não vamos conseguir conter uma risada. Com sorte, algumas gargalhadas.



A ILHA DE EIRE Saltando de ilha em ilha

Finalmente a Irlanda. Duas horas num ferry rápido desde Holyhead e somos largados em Dublin.

Voltam os €uros e guardam-se as libras esterlinas. Pelo menos até entrarmos na Irlanda do Norte, onde também regressam as unidades imperiais em detrimento dos kms.



Ballintoy

O NORDESTE De Drogheda a Ballintoy

Belfast

A jornada amanhece em Drogheda para uma visita ao “imperdível” Bru Na Bhoine, segundo o Lonely Planet. Não vou esconder a desilusão face à expectativa criada. Uma

Torr Head

Drogheda

Na estrada até Torr Head o ponto mais a Nordeste da Irlanda.

micro-câmara debaixo de muitas toneladas de pedra amontoada, a qual o Sol ilumina uma vez por ano (e não era hoje) e se não houver nuvens (estamos na Irlanda, lembrai-vos).



A caminho da Irlanda do Norte acompanhamos a costa oriental da ilha. Tempo ainda para fazer uma estrada rural até Torr Head, antes de chegar a Ballintoy para o descanso.

O almoço é feito num snackbar onde, mesmo ao lado se vende o “melhor” fish’n’chips. Atravessamos Belfast sem vontade de parar, seguindo

a mesma opção que em Dublin e as demais cidades grandes.



Uma fonte de água fresca chega até à praia de Whitepark, uma das primeiras ao longo do Causeway Coastal Trail.

EM TERRA DE GIGANTES Nas passadas de gente grande Rita optou pelos óculos de sol enquanto aproveita o inesperado dia de Sol para um -ainda mais rarobronzeado. É assim que desde o banco no pequeno jardim do seu Bed & Breakfast nos conta como foi a sua última viagem até Portugal e que a sua magra filha namorara em tempos um português. A idade não lhe permite alinhar nos 20kms a pé que acabáramos de fazer nesse dia. Ainda assim, de quando em quando ainda lhe arrancam o passeio costeiro desde Carrick-a-Rede até ao porto de Ballintoy, passando nas traseiras da sua casa. Ao casal canadiano não lhe parece fazer confusão os anos que trazem. Percorrem a Irlanda a pé fazendo uso do Bed-Ahead, que lhes permite viajar

The Causeway Coastal trail

Percurso da caminhada de 19kms ao longo do Causeway Coastal Trail

sem o peso das coisas materiais das quais não prescindem. Essas, compete aos anfitriães carregar até ao alojamento seguinte, umas dezenas de kms mais adiante no itinerário que traçaram. Entre eles e a Rita estão caminhantes como nós, dispostos a percorrer umas dezenas de kms num dia, mas pouco mais. Não o fazer seria impensável para nós. O percurso é melhor feito de Nascente para Poente, desde Carrick-a-Rede até a famosa formação geológica Giant’s Causeway. No caminho contornamos falésias, nos sopés e cumeadas, portos de pescadores e praias. Um desmoronamento de terras em Portbranden impede-nos de seguir o caminho, dizem-nos duas irlandesas



sentadas a olhar o mar. Contam-nos que cresceram ali. Hoje trouxera-as ali a perspectiva de comprar uma das não mais de dez casas brancas de telhados negros, bem junto ao mar. Apontam-

nos a alternativa: seguir pela estrada que sobe até ao topo da falésia e virar para o porto de Dunseverick. “Não mais de 3 a 4 kms”, estimam antes de nos ofereceram boleia. Despacham-se a

limpar o lixo que revela um outrora submerso banco traseiro. Partilhamos contactos e prometemos postais trocados, abrindo a nossa casa para quando visitem Lisboa, cidade que

imaginam bela e digna duma viagem próxima. Retomado o caminho, invejamos a escolha de um casal para uma refeição retemperadora. Esse ponto, escolhido a dedo em



inúmeras caminhadas parece desenhado. Um anfiteatro natural apresenta um espectáculo para um público de apenas dois. Para roer a nossa maçã e barra de chocolate, contentamo-nos

com um banco de madeira sobranceiro à falésia, o qual seria excelente não fora a comparação recente. Com o final chega a Giant’s Causeway, mergulhada em multidões vomitadas por

sucessivos autocarros. Japoneses, americanos e outros turistas metralham as máquinas fotográficas enquanto sorvem ruidosamente uma CocaCola. Apressamo-nos a

encontrar a paragem da carreira que nos devolveria à calma de Ballintoy. E aí reencontramos Rita, a afagar os seus Terriers , enquanto se deixa torrar ao Sol irlandês.



BOGSIDE, DERRY Uma visão artística sobre guerra urbana

The Petrol Bomber {The Bogside Artists—1994} “For two days in August, 1969 local people resisted attempts by the Royal Ulster Constabulary to break down the barricades which they had erected to defend their community. The Battle of the Bogside ended when the British government sent in the Army. The

Bogside, Derry Irlanda do Norte

mural depicts a young boy wearing a gas mask to protect himself from CS gas: he is holding a petrol bomb made from a milk bottle.” This was our first mural and thought to be our best. As soon as the three of us painted it we knew we had captured something of the spirit of the Bogside.



Malin Head

Ballintoy

DERRY Dungloe Letterkenny

COUNTY DONEGAL Pingos de chuva em solo irlandês

Glencolumbkille CARRICK Killibegs

Donegal

A estrada que liga Carrick a Glenmalin e o regresso pela R263 junto a Glencolumbkille.

O reformado capitão de mar, irlandês de gema, não tem dúvidas. “[Na Irlanda ]contem com chuva todos os dias, mas não a toda a hora”. Encontrámo-lo no ferry desde

Santander no regresso de uma viagem de moto. Agora reencontrava-nos no HUBB UK em Donington Park, desta feita a bordo da sua autocaravana com um casal amigo.



Depois de chegados a Carrick e largada a bagagem, rumamos para Poente seguindo a estrada até Glencollumbkille, enquanto o Sol preguiça para se deitar. Nesta altura do ano na Irlanda o Sol nasce perto das 4 da manhã

e apenas se põe perto das 22:30 -23h, o que permite esticar os dias a rolar com luz do dia.



Glencollumbkille

B



Donegal

CARRICK Slieve League

B82

A46

Lowe Lough Erne N15

Eniiskillen

SLIGO

MAYO E SLIGO De Slieve League a Westport

N17

WESTPORT WESTPORT

A estrada até Slieve League, feita no raiar da manhã

Slieve League deixou-nos tristes. De manhã arrumámos as coisas e decidimos ir até lá, para espreitar. Foi imediato que devíamos ter decidido

ficar mais um dia e por ali passear como fizéramos no Norte, na Causeway Coastal. Mesmo à distância, Slieve League impõe-se.



Slieve League



Slieve League



WESTPORT R335

GALWAY E CLARE Connemara National Park

N59

Clifden

Connemara

A N59 é uma linha directa que une Westport e o Parque Nacional de Connemara, um dos atractivos. Mas Finola, a nossa anfitriã nessa noite, é peremptória: “Sigam pela R335 junto à costa. Não se vão

GALWAY

R477

Inish Óirr

Doolin

N17

arrepender”, promete. O resultado é impressionante e surpreendente. Esta foto foi tirada nessa mesma estrada, partilhada com ciclistas.



Doo Lough Valley



À esquerda: à porta da loja artesanal em Doolin a estrear a boina que aí comprámos. Seguindo o nariz da Nélia, sabemos como ela se sente agora, ali, naquele momento.



-”Qual era a coisa que mais queria trazer consigo da Irlanda?”, perguntam à Nélia. - “As flores!” Pois é, mas para isso tínhamos de levar com o tempo ranhoso.

Cima: já em Inish Óirr perto ainda da casa de Brid, antes do passeio pelos labirínticos caminhos da ilha.



O último descanso do navio Plassy nas costas de Inish Óirr, a mais pequenasdas 3 ilhas de Aran.

INISH ÓIRR A mais pequena de três irmãs Pensámos em voar até as ilhas de Aran. O preço demove-nos e rumamos a Doolin, uma aldeia que merece a visita por mérito próprio. Depois da pernoita e uma Guinness entoada em músicas no MacCarthy’s, apanhamos o barco da frota Bill O’Brien. A moto deixamo-la no cais sobre o olhar atento das câmaras de segurança, mas debaixo da maresia. O Sol brilha e Inish Óirr recebe-nos resplandecente. Espera-nos a boleia de Brid no seu Golf côr bordeauxcansado. O dela, como todos os carros na pequena ilha, são velhos e maltratados. A viagem até Galway no único ferry que aceita carros é cara e longa, explica-nos. Em poucos minutos mostra-nos a meia dúzia de ruas que fazem a aldeia, no caminho para as compras diárias no único mini-

Inish Óirr (Aran Islands)

Percurso da caminhada de 12kms à volta da pequena ilha de Inish Óirr.

mercado do ilhéu. Isso não a impede de nos perguntar “Têm GPS?”, preocupada que nos percamos a tentar encontrar a casa que nos acolhe. A casa de Brid tornara-se famosa pelos seus dotes de cozinheira exímia. Estranhámos ter sido fácil encontrar vaga, mesmo sendo ao fim-desemana. Explica-nos que deixou de preparar refeições, que está cansada. É no pequeno-almoço que se redime preparando-nos uma mini-refeição que nos manterá os níveis de energia nos 2 dias de caminhada que passaríamos em Inish Óirr. Não que a ilha precise de tanto tempo. Percorre-se a pé numa tarde, num percurso circular de 12kms (ver QRCode) onde as pedras são uma



constante, ora empilhadas num imbrincado labirinto de muros, ora simplesmente espalhadas no chão. Propusemo-nos a saltar alguns desses muros, à descoberta. Perdemo-nos.

Retomámos os passos para chegar onde partíramos. E, daí em diante, seguimos os caminhos. Pelo caminho demos com vacas e cavalos os quais não têm as mesmas alternativas e confinam-se

aos muros, mascando na erva que cresce entre as rochas que fazem o chão da ilha. As focas na costa Norte aproveitam os raios de Sol

para se “bronzearem”. Se arriscarmos a proximidade, submergem, assustadas. Demoram algum tempo a voltar após ganharmos a sua confiança com movimentos calmos.



Nas antípodas da ilha, o naufragado Plassy, vermelho vivo da ferrugem, atrai os poucos visitantes da ilha. Na costa Noroeste duas pequenas praias de areia branca entre as rochas,

permitem-nos um inesperado banho nas águas transparentes para lavar o suor da caminhada. Sobranceiras à pista do pequeno aeródromo, entretemo-nos com a

avioneta que nos sobrevoa a cada 2 a 3 horas. Abandonamos a ilha debaixo de chuva. O mau tempo não permite o nosso barco atracar na chegada ao

porto de Doolin. Saltamos para um pequeno bote, já algo enjoados mas animados com a aventura, mesmo adivinhando um dia a rolar de moto à chuva.



Doolin Inish Óirr

N85

Limerick

COUNTY KERRY Debaixo de chuva

N69

Tudo muda, quando o dia que temos pela frente se adivinha feito debaixo de chuva. Os trajectos são mais directos e desejamos o destino, mais do que as estradas até lá. As distâncias encurtam e o tempo da

Dingle

viagem parece que nunca mais acaba. A impaciência começa a ganhar e, chegado a Dingle, não víamos a hora de largar a moto, os fatos encharcados e relaxar num banho quente.

A



RING OF KERRY

“Sky Road” Dingle

Na terra dos autopullmans

R568

N70

R571

Healy Pass R574

Castletown Bearhaven

R572

Começar o dia com a Sky Road e terminar com o Ring of Kerry é um elenco de luxo. Demasiado para um só dia, concluímos no final, quando desmaiamos já em Castleberetown.

A chuva impediu-nos de disfrutar do Healy Pass (R574), a juntar à gravilha que cobria toda a sinuosa estrada. E no topo do bolo, o nevoeiro.



Sky Road



Ring of Kerry



Wexford Waterford Rosslare

Hook Head

Cork

SUL DA IRLANDA A caminho do ferry

Castletown Bearhaven

A perspectiva de ser mais um dia debaixo de chuva condiciona os nossos planos. Abandonamos a ideia de deambular pelas 3 penĂ­nsulas Beara, Sheep Head e Mizen, com alguma pena nossa.

Beara Peninsula

Pelo caminho passamos por Cork e cruzamo-nos com o Encontro Motociclista dos Blue Knights a cargo dos polĂ­cias irlandeses este ano.



Hook Head



A ligação por ferry de Santander a Portsmouth (ou Plymouth, para esse efeito) atrai uma multidão de britânicos na busca do Sol e estradas sem gente .

SÓ FERRIES, FORAM 3 Entre o óptimo e o “nem-por-isso”

Para quem queria fazer uma viagem de moto, fartámo-nos de passar horas dentro de barcos. Grandes e pequenos. Basta ver os números: 42 horas embarcados e 90 a andar de moto.

Holyhead[UK] » Dublin[IRL] Rosslare[IRL] » Cherbourg[FRA]

Santander[ESP] » Portsmouth[UK]

Mas a opção de chegar a Inglaterra saindo do Norte de Espanha é muito atractiva. Descansa-se um pouco e acordamos na ilha desejada. Ou para o caso dos ingleses o regresso à chuva e ao mau tempo.



Ao longo do trajecto no Golfo de Biscaya os golfinhos saltam em mergulhos, vindo mesmo ao encontro do barco. A bordo, uma associação que estuda baleias e golfinhos faz

sessões de observação no convés e apresentações do trabalho junto ao bar. Adormece-se ao som de uma banda a roçar o piroso, agredindo-nos com covers

de todas as latitudes. A chegada ao porto de Portsmouth é feita debaixo de chuva. E até Brecon foi sempre assim, sem parar. Chuva, chuva e mais chuva.

As largas centenas de motociclistas no ferry de Santander não podiam ter tido uma recepção mais húmida.



Sem dúvida que, dos três ferries, o de Santander é o mais luxuoso e com melhor serviço. No extremo oposto, o ferry da Celtic Ferries desde Rosslare até Cherbourg roça o pavoroso.

Os materiais começam a dar de si, e a tinta despela-se. Assim é o que se vê. O pior é o que se imagina mas não se vê; coisas pouco importantes, como motores ou botes salva-vidas. Para

ajudar à festa o mar da Irlanda não ajudou e estivemos enjoados que nem perús o caminho todo, mesmo durante a noite onde o bater das vagas no casco do navio

impressionava. Nem os tampões para os ouvidos salvam a noite de descanso. E o pior é que a seguir temos de aturar os franceses. Sacré bleu.



POSTAL PARA PORTUGAL Farto de receber porcaria no correio?

Receber um postal no correio, entre as contas para pagar, os “convites para o baile da GNR” e muito, muito lixo é um acontecimento. Por isso, sentarmo-nos durante um pouco para preparar postais para

amigos e famílias não nos custa assim tanto. Aproveita-se para contar uma pequena história, uma peripécia ou fazer um garatujo, rabiscado entre duas Guinness e um Shepperd’s Pie.



Heather Breeze actuando no Matt Molloy’s Pub em Westport

LIVRO DE RECORDS De Guinness em punho Matt Molloy’s Pub Westport

Gus O’Connors Pub Doolin

O’Sullivans Courthouse Pub Dingle

Mac-Carthy’s Pub

Castlebeara peninsula

“Heather Breeze”. Assim se chamam os músicos que esta noite tocarão no Matt Molloy’s. A vila de Westport encontra neste pub alguma da melhor música tradicional irlandesa. Esta noite o músico dos Chieftains e dono do bar não se junta a nós, como seria habitual. A “doença-cujo-nome-nãodirás” que lhe roubara a mulher, levara-lhe a filha agora. Finola, a nossa anfitriã para esta noite, sente que lhe

fraqueja a voz ao contar esta história. Sentados no pequeno palco, flauta, acordeão e violino começam. Ecoaram meia dúzia de músicas antes de chegar o 4º elemento. Confidencia-nos que pensava que começava mais tarde. Alto, magro e de farta barba e cabelo grisalhos lembra um eremita. Apressa-se a tirar o 2º violino. À sua frente não tarda em estar uma



Guinness, e depois outra. Talvez por isso não se entende na linguagem corporal do líder do grupo e insiste em terminar as músicas mais cedo que os colegas. Mas nada rouba o

sorriso ao “Eremita”. Os músicos de hoje parecem ser os únicos irlandeses na sala do Molloy’s. Entre norte -americanos, australianos e uma mão-cheia de europeus

vão ter dificuldade em conseguir que a audiência se junte a eles nas cantorias. Mas um par de pequenos pés pululam, cada vez mais irrequietos. Sentada em frente dos músicos, a

franzina rapariga ruiva parecia já não os controlar. Ao “Eremita” não lhe passam desapercebidos e encoraja-a. No final. ela vence a vergonha e dança, incitada por todos, como se



estivesse no musical Riverdance. O que lhe falta em talento compensa em entusiasmo. As irlandesas levam isto da dança muito a sério, comento quando termina. «Não», diz-me o

“Eremita”, «É escocesa e está cá de passagem». A imagem forte da Irlanda projecta-se por toda a parte, sinal de uma cultura que não respeita fronteiras.

Na foto acima, a Nélia acaba de ser “apanhada” a fotografar os músicos numa pausa. “Nothing escapes her” brinca O’Sullivans, dono do bar e guitarrista. “We are now in the ‘grid’.”



“DIZ-ME ONDE DORMISTE…” Ballintoy House

Ballintoy, Northern Ireland

Em “casa” de galeses e irlandeses Os Bed & Breakfast continuam a ser a nossa opção preferida no Reino Unido e Irlanda. Põem-nos em contacto com as gentes, fontes de informação valiosa e por vezes com grandes histórias para contar.

Ostan Sliabh Liagh Carrick

Roscaoin House

Ficámos com alguns preferidos e a classificação reflecte mais como nos sentimos em cada sítio, mais do que os serviços, qualidade ou estética. E, claro, as pessoas que nos receberam têm uma parte muito importante.

Westport

Newgrange Lodge

Bru na Bhoine, Drogheda

Radharc an Chláir

Inish Óirr, Castle Village

Cullinan's Guesthouse Doolin

Donington Farmhouse Donington Park

Walsh’s Townhouse Dingle, Main Street

St. Martin’s B&B Rosslare Harbour

Grange Guest House Brecon, Wales

Island View House

Castletown Bearhaven

Ferry Rosslare—Cherbourg Celtic Link Ferries

O jardim de Jim nas traseiras da Grange Guest House, em Brecon, no acesso ao parque da moto.

Ferry Santander—Portsmouth Brittany Ferries

1



A pior noite tem dois candidatos fortes, por razões diferentes. A primeira foi no campismo em Donington por não termos levado colchão. A segunda foi no ferry a

caminho de França no regresso da Irlanda, graças à ondulação e a um enjoo digno de um perú em vésperas de Natal. A melhor foi em casa da

Brid, apesar de reconhecermos que é mais fácil gostar daquelas onde ficámos mais tempo. E por isso não é surpresa que a casa de Rita venha em 2º, exaequo com a de Finola em

Westport. As razões são distintas, mas ambas estão relacionadas com as nossas anfitriãs, no tempo e simpatia que nos dedicaram.

2



Picos de Europa, a caminho de Santander

FOTOS SOLTAS Nem tudo cabe em caixinhas

A escolha é sempre ingrata. Muitas são as fotos que tiramos, e poucas as que cabem num álbum. Às vezes nem são as eleitas, são apenas aquelas que ilustram melhor uma história, ou que equilibram melhor o

relato da experiência. Aquela côr, pessoa ou local. Outras gostamos delas por nos fazerem rir, ou por evocarem uma sensação forte, quer seja boa ou desagradável.

3



4


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