Está na hora da soneca O momento do “nana neném” e do “boi da cara preta” não é apenas um descanso para os pais. Seus benefícios e reflexos na idade adulta já são comprovados pela medicina ■
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por JÉSSIE PANEGASSI
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FOTOS: SHUTTERSTOCK
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stimular que os filhos descansem é mais do que mero instinto paternal. Seus benefícios têm comprovação científica e vão desde uma maior facilidade de aprendizado até um crescimento saudável. É assim que a soneca passa de figurante para um aliado importante na saúde e desenvolvimento do bebê. Um estudo da Universidade da Califórnia (EUA) sugere que, durante os períodos de sono, o cérebro está ocupado em “recarregar” a capacidade de aprendizado. Já outra pesquisa, publicada no CellPress Online, descobriu que aqueles que tiram uma soneca e sonham sobre alguma tarefa que acabaram de aprender têm um desempenho melhor na hora de realizá-la do que os que não dormiram. Segundo os pesquisadores, os sonhos são, essencialmente, um efeito do processo da memória. “Na soneca aplica-se o princípio da sinapse com os neurônios, ou seja, tudo o que está sendo exposto para a criança vai ser transformado em aprendizado”, explica Carlos Takeuchi, neuropediatra do Hospital Infantil Sabará (SP). Logo, a quantidade do que uma criança consegue absorver e aprender é muito menor quando ela não dorme por tempo suficiente. Não existe um padrão que especifique a quantidade de sono de acordo com cada faixa etária, porque este é um processo individual. Mas “os pais sabem se a criança está dormindo bem quando ela não fica por muito tempo irritada ou chorosa”, afirma Luciana Sousa Franco, neurologista infantil do Centro de Neurologia e Medicina do Sono do Fleury. WWW.REVISTAVIVASAUDE.COM.BR
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Além disso, quando a criança descansa durante o dia, “à noite ela tem menor chance de entrar no sono profundo, que facilita os episódios de sonambulismo e terror noturno”, alerta Luciana. Isso se deve ao fato de que, quando está muito cansada, ao dormir, pode entrar imediatamente no estágio três do sono, onde esses eventos acontecem. Segundo a neurologista, os casos de terror noturno — quando a criança acorda assustada, gritando, e não se lembra do que a levou a isso — são comuns na idade pré-escolar e não representam nenhum risco imediato à sua saúde.
A quantidade do que uma criança consegue absorver e aprender é muito menor quando ela não dorme por tempo suficiente
O que fazer quando o bebê não dorme durante o dia? •
Quando o bebê se recusa a dormir, alguns procedimentos simples podem orientar os pais a acabar com esse incômodo. Os especialistas consultados pela VivaSaúde deram algumas dicas: Cheque se a roupa ou fralda não estão incomodando, apertando em algum ponto ou até mesmo sujas. Certifique-se de que ele não está com fome. Nem todos os bebês gostam de ser chacoalhados para dormir, alguns precisam ficar parados para conseguir repousar. Então, procure identificar qual a forma o seu filho prefere. O ambiente deve estar calmo e os estímulos externos, como barulhos excessivos e muita luminosidade, devem ser evitados. Uma música calma, ou as canções para ninar, podem ser adicionadas com o intuito de ajudar o bebê a relaxar. Faça do “momento do descanso” uma rotina, e, mesmo que a criança não durma de forma alguma, ela deve repousar para repor as suas energias.
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Está na hora da soneca
Recomenda-se mantero período de soneca das crianças até os cinco anos de idade
Por quanto tempo?
Com tantas brincadeiras, perguntas, e o mundo por descobrir, os pequenos necessitam de mais momentos de descanso do que os adultos, afinal, o seu desenvolvimento depende disso. A quantidade de horas necessárias para que bebês e crianças tenham um desenvolvimento saudável diminui gradativamente com o passar do tempo. O horário de dormir de um recémnascido, por exemplo, é ditado pela alimentação. “Ele tem sono quando a barriguinha está cheia e acorda quando ela vai ficando vazia. À medida que vai crescendo, passa a ser regulado pela luz — igual aos adultos”, explica Takeuchi. Isso também acontece por causa da alimentação que começa a ser alterada, pois a criança passa a ingerir alimentos que promovem a saciedade por mais tempo. Os bebês de até três meses devem ser alimentados a cada três ou quatro horas e tirar uma soneca depois disso. “Mesmo que eles estejam dormindo
quando der esse intervalo de horas, a mãe deve acordá-lo para amamentar”, orienta a neurologista Luciana. A recomendação é que se mantenha o período de soneca das crianças até os cinco anos de idade, apesar das exigências sociais, como a escola. A neurologista infantil insiste que, pelo menos, a soneca depois do almoço seja mantida nesses casos. Contudo, não existe uma idade de corte para a prática: “Deve ser analisada a necessidade de cada criança”, alerta o neuropediatra Takeuchi. Os horários para alimentação e ir para a cama também são muito importantes para o bebê, pois é por eles que a sua rotina será organizada desde cedo. “O sono é aprendido, assim como se aprende a andar e comer. Então, ele vai levar esse padrão para a vida adulta de forma adequada e organizada”, reforça Luciana. Ela adverte que é normal que o recém-nascido durma por até 18 horas, entre sonecas de aproximadamente meia hora e o período noturno de sono.
Já tentei de tudo e ela não dorme! Não são todas as crianças que conseguem dormir fora do período noturno, então, não se desespere. “Algumas têm um ritmo biológico diferente, principalmente depois dos 2 anos, e isso é individual e deve ser respeitado”, afirma Glaura Ferrari, pediatra e puericultora de São Paulo. Ela defende, nos casos das crianças mais velhas, que mesmo as mais ativas têm de respeitar e criar um momento de descanso para reporem as energias, apesar de não dormirem. “A irritabilidade é o maior sinal de que a criança precisa de uma soneca, ou de descanso. Os pais às vezes acham que ela deve estar quietinha e ‘molinha’, mas ela também pode demonstrar essa necessidade com a irritação”, explica a pediatra. Contudo, ela recomenda que, antes de afirmar que a criança não vai conseguir tirar uma soneca, os responsáveis sejam persistentes para que ela realmente durma. Além de observar o comportamento da criança no decorrer do dia.
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