“Narrar e curar: por um estudo narrativo da prática médica”

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NARRAR E CURAR: POR UM ESTUDO NARRATIVO DA PRÁTICA MÉDICA Fabiana Carelli Universidade de São Paulo, Brasil


Benjamin, W. Imagens do pensamento in Rua de mĂŁo Ăşnica (Obras escolhidas, II)


“[…] a narrativa árabe – eu penso em As mil e uma noites – também tinha, como motivação, tema e pretexto, não morrer: falava-se, narrava-se até o amanhecer para afastar a morte, para adiar o prazo desse desenlace que deveria fechar a boca do narrador. A narrativa de Shehrazade é o avesso encarniçado do assassínio, é o esforço de todas as noites para conseguir manter a morte fora do ciclo da existência.” Michel Foucault in Estética


Raio-X de Tórax Raio-X de Tórax Mamografia

Mamografia

“Se eu desenho o que eu vejo, a pessoa que olha vê o quê? O que eu vi?” (Karl, “As deformações do ver”, in Ecce Medicus, fev. 2012) www. scienceblogs.com.br/eccemedicus


NARRATIVE MEDICINE: Gr達-Bretanha, USA


NARRATIVE VS. EVIDENCE-BASED MEDICINE – AND, NOT OR Meisel and col. (2011) “Os […] cientistas precisam reconhecer, adaptar e implantar a narrativa

para explicar a ciência das diretrizes a pacientes, famílias, profissionais da saúde e gestores de políticas públicas

para otimizar o conhecimento, a compreensão e o uso dessas diretrizes.” Oração principal: cientistas = sujeito; narrativa = objeto de sua ação Duas orações subordinadas adverbiais finais (ou seja, que expressam a finalidade da ação expressa na oração principal), uma dentro da outra.

Traduzindo: os cientistas têm de reconhecer a narrativa com a finalidade de explicar a ciência das diretrizes etc., e esta explicação, por sua vez, tem a finalidade de otimizar o conhecimento e a aplicação das diretrizes. Análise sintática: desvela as relações lógicas que presidem a interação dos elementos no coração do pensamento de quem fala.


“É de imaginar que os Nambiquara não sabem escrever; mas tampouco desenham, com exceção de alguns pontilhados e ziguezagues nas suas cuias. Porém, da mesma maneira como agi com os Cadiueu, distribuí folhas de papel e lápis com os quais, de início, nada fizeram; depois, certo dia vios muito atarefados em traçar no papel linhas horizontais onduladas. Que queriam fazer, afinal? Tive de me render à evidência: escreviam, ou, mais exatamente, procuravam dar a seu lápis o mesmo uso que eu, o único que então podiam conceber, pois eu ainda não tentara distraí-los com meus desenhos. Para a maioria, o esforço parava por aí; mas o chefe do bando enxergava mais longe. Era provável que só ele tivesse compreendido a função da escrita.” (Lévi-Strauss, Tristes trópicos, 2004)


O SILĂŠNCIO...

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