TFG | Madeira na Arquitetura Contemporânea Brasileira - Panoramas e Perspectivas

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Trabalho Final de Graduação

MADEIRA NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA PANORAMA E PERSPECTIVAS

Jessika de França Gonçalves Orientador: Professor Dr. Silvio Stefanini Sant’Anna

São Paulo 2020



À minha mãe que nunca poupou esforços para que eu tivesse sempre as melhores oportunidades e condições para me desenvolver como pessoa e profissional.



AGRADECIMENTOS

Todas as experiências vividas e todos que passaram por mim foram fundamentais para a conclusão dessa etapa. Agradeço à minha família, que me deu forças para seguir em frente e nunca desistir. Em especial, minha mãe, Elaine, pelo seu suporte e acreditar em minhas decisões. À Nina pelo fiel companheirismo. Aos meu avós, Maria e Pedro, pela companhia, carinho e apoio. Aos meus amigos pelo companheirismo e apoio, principalmente Erika, Gizelle, Lilian e Natália que estiveram desde o início compartilhando angústias e alegrias. Aos professores Silvio e Ângelo pelas conversas, paciência e aprendizados; e ao Rodrigo Giorgi, que contribuiu para o meu conhecimento e aperfeiçoamento no assunto. Obrigada!


RESUMO O trabalho faz uma análise reconhecendo as características e os passos tomados para a construção das obras contemporâneas em madeira laminada, através do estudo de construções com esse sistema no Brasil, nas últimas décadas. A partir disto, observa as vantagens e desvantagens com relação a sistemas convencionais de construção no país, refletindo a possibilidade de, através de uma técnica construtiva alternativa, conduzir o olhar da sociedade à tomada de consciência sobre o assunto voltado a questões de sustentabilidade e a gestão de recursos de materiais. Ao final, propõe um Centro de Tecnologia e Pesquisa dedicadas à educação no desenho integrado de madeira, que busca ser feito conforme as pesquisas feitas, a fim de aproximar as pessoas da técnica, aprimorar a mão de obra e as pesquisas em madeira. Palavras-chave: madeira laminada; sustentável; tecnologia; madeira.

desenvolvimento


ABSTRACT The work makes an analysis of recognition as characteristics and the steps taken for the construction of contemporary works in laminated wood, through the study of constructions with this system in Brazil, in the last decades. From this observation, it is seen the advantages and disadvantages in relation to the construction systems in the country, reflecting the possibility of, through an alternative technical technique, leading or looking at society to raise awareness about the issue related to issues of sustainability and management of material resources. In the end, the outcome is a Technology and Research Center dedicated to education in integrated wood design, which seeks to be done according to research done, an end of approach as people of the technique, perfect the workforce and research in the wood. Keywords: laminated wood; sustainable development; technology; Wood.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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SISTEMA CONSTRUTIVO

14

MADEIRA USINADA

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SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

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ESTUDOS DE CASO

26

CASA CATUÇABA

28

MICASA VOL. C

40

MORADIAS INFANTIS

50

OBSERVAÇÕES E CONSIDERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

60

VISITAS TÉCNICAS

66

ARMAZÉM MARTON

66

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

72


PROPOSIÇÃO

84

LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

86

ESTRATÉGIAS

94

PROPOSIÇÃO PROJETUAL

100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

142

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

144

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

148



INTRODUÇÃO

Quando se trata de assuntos atuais, a expressão mais utilizada ao se falar em meio ambiente, é o conceito de desenvolvimento sustentável.

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Figura 01- Reflorestamento Sustentável Fonte: Wallhere

A conscientização propõe que qualquer ato econômico, ambiental e sociopolítico, aconteça não degradando o meio ambiente, mas preservando-o e incentivando sua conservação. Esse modo de pensar e agir também deve ser introduzido no modo de construir, com projetos

INTRODUÇÃO

“O desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.” Esta é a definição mais comum que surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em um documento dominado “Nosso Futuro Comum”.


arquitetônicos sustentáveis e sistemas renováveis. Para que assim, seja possível criar cidades e modos de convívio, com qualidade de vida que atendam nossas necessidades atuais e não comprometa futuras gerações. Como resposta para uma necessidade de um sistema construtivo renovável e que atenda as exigências de um avanço tecnológico e na forma de se construir, a utilização da madeira tem apresentado um importante papel.

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INTRODUÇÃO

Com características particulares, como alta capacidade estrutural, boas propriedades termoacústicas e baixo consumo energético, esse material se tornou excelente para a concepção de projetos inovadores. Principalmente quando ganha novas propriedades e desempenho, a partir de tecnologias avançadas. O uso de tais tecnologias, deu origem a madeira laminada, que a partir de processos que buscam “(...) eliminar imperfeições naturais, mas comercialmente indesejáveis, como deformações, rachaduras e a variabilidade de

resistência mecânica. Podem ser produzidas peças em seções e comprimentos muito superiores aos da madeira serrada.” (MARTINI, Revista Opiniões, 2016) Mesmo com suas diversas qualidades para a construção, a ampliação do sistema construtivo em madeira laminada no Brasil ainda se encontra em resistência. Para que seja possível essa difusão do sistema construtivo é essencial que os profissionais possuam domínio e conhecimento das possibilidades da aplicação desse material. Dessa forma, a pesquisa a ser feita, objetiva reconhecer as características e os passos tomados em construções de obras contemporâneas em madeira laminada no Brasil, observando assim, as vantagens e desvantagens com relação a sistemas convencionais de construção e qual a situação e desafios para a expansão do uso na construção civil no país. A relevância dessa pesquisa se encontra no conhecimento adotado sobre o sistema


construtivo em madeira usinada e a maneira que é traduzida na cultura e aspectos do país. Observando a linguagem adotada ao material na maneira que é explorando suas especificidades estruturais e conceituais.

Em seguida, foi realizado levantamento de bibliografia e desenhos técnicos dos projetos selecionados para leitura, análise e comparação das premissas de projeto, programas e alterações ocorridas;

Para isso, foram selecionadas para estudo de caso, três obras contemporâneas que receberam grande destaque no cenário atual da arquitetura brasileira, a Casa Catuçaba, a Micasa Vol.C e as Moradia Infantis. Desse modo, optou-se por estudar os processos que passaram os três projetos mencionados acima até seus espaços e formas atuais, buscando revelar aspectos do caráter de cada um e que aspectos que contribuem para a elaboração do projeto desejado.

A partir das visitas técnicas realizadas foram executadas análises das obras e processos de fabricação apresentados; Paralelamente as outras fases executou-se o desenvolvimento do projeto do centro de tecnologia e pesquisa em madeira na Barra Funda.

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O estudo e leitura de bibliografias para as questões em relação à relevância e aspectos do sistema construtivo em madeira, o contexto histórico no país;

INTRODUÇÃO

Para o desenvolvimento desta pesquisa se considerou como método:



SISTEMA CONSTRUTIVO MADEIRA USINADA

A madeira usinada, ou “engenheirada”, como é chamada usualmente, baseiase em um conceito, como cita Sergio Martini na Revista Opinião em 2016, do processo industrial no qual a madeira é processada, sendo possível obter novas propriedades e desempenho para a construção.

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Para isso, é importante ressaltar que a exploração da madeira como solução sustentável deve ser feita de tal maneira que o “ (...)aproveitamento das florestas naturais ou plantadas, através de Projeto de Manejo Florestal aprovado pelo IBAMA, é a forma correta de utilizar estes recursos naturais, por partir do princípio de sustentabilidade, ou seja, prevendo uma utilização que permite a recomposição da floresta de uma determinada área, viabilizando-a econômica, socialmente e ambientalmente.” (Madeira: Uso Sustentável na Construção Civil, p.09, 2003)

MADEIRA USINADA

Todo o processo busca preservar, conferir resistência, e maior durabilidade à madeira. Pois, no material puro encontram-se agentes que prejudicam seu potencial para grandes complexidades na construção civil. “Estes agentes podem ser de natureza física, química e biológica (fungos e insetos xilófagos), que afetam suas propriedades. ¨ (Madeira: Uso Sustentável na Construção Civil, p.21, 2003)


Apesar de ser uma técnica antiga e incluir produtos já comuns, predominantemente em países do Hemisfério Norte, ainda é pouco utilizada no Brasil, sendo familiar a poucos especialistas da área. Inserido nesse conceito, há diversos processos que resultam em produtos específicos e que são utilizados conforme a necessidade do projeto. Entre esses, o primeiro e mais encontrado nas fábricas brasileiras é o MLC (Madeira Laminada Colada), também conhecida como Glulam (por seu nome inglês ‘Glued Laminated Timber’).

Por conta da pressão na qual as lamelas são dispostas, as peças formadas garantem grande desempenho estrutural e leveza. Sendo assim possível construir estruturas que suportam grandes cargas e vãos longos, podendo se comparar com características do

Figura 02 - Peça MLC Fonte: Dataholz

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MADEIRA USINADA

O MLC, é definido por Calil Neto como, a fabricação da madeira reunindo duas técnicas antigas: a técnica da colagem associada à técnica da lamelagem, ou seja, da reconstituição da madeira a partir de lamelas. Chama-se, portanto, “Madeira Laminada Colada” o material produzido a partir de lamelas (tábuas) de dimensões relativamente reduzidas se comparadas às dimensões da peça final assim constituída. Essas lamelas, unidas por colagem, ficam em uma disposição de tal maneira que as suas fibras estejam paralelas entre si. (NETO, 2014, p.20)

Figura 03 - Sistema MLC Fonte: Produção da autora


Figura 04 - Construção com vigas e pilares MLC Fonte: Digital Journal

As peças podem ser feitas nas mais variadas dimensões e comprimentos, sendo possível realizar dos mais diversos tipos de projetos, tendo como limitação em sua área apenas o transporte das peças.

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Sua aplicação estrutural geralmente é feita em pilares, vigas ou arcos. Pois por conta da maneira como as lamelas são combinadas (paralelamente), a resistência é boa tanto à tração quanto à compressão. (Revista da Madeira, ed. 129, 2011)

MADEIRA USINADA

concreto e aço.


Outro processo de madeira usinada popularizada na Europa e aos poucos ganhando seu espaço é a Madeira Laminada Cruzada, mais conhecida pelo seu nome em inglês, Cross-laminated timber (CLT). Esse processo dá origem à peças de madeira que se destacam pela resistência e versatilidade.

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MADEIRA USINADA

Figura 05 - Painel CLT Fonte: Dataholtz

Figura 06 - Sistema CLT Fonte: Produção da autora

Conforme a explicação feita pela Amata Brasil, o CLT baseia-se no processo também realizado através da colagem de camadas de longas lamelas de madeira. Porém nesse, as lamelas são dispostas lado a lado e empilhadas umas sobre as outras, com camadas organizadas em sentidos opostos. O resultado são grandes painéis de alto desempenho estrutural. Seu desempenho está diretamente relacionado ao cruzamento de lamelas, que faz com que a distribuição de carga ocorra de forma bidirecional. Sua aplicação pode ser feita em diversos elementos, como paredes, lajes e coberturas. Porém é essencial que para a utilização do CLT o projeto seja ainda mais rigoroso, pois já deve prever as junções, aberturas e furações especificadas em projeto.


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No Brasil atualmente encontram-se sendo usinados nas fábricas esses dois processos, sendo que o CLT está sendo inserido agora na linha de produção de poucas. “Entretanto, outros produtos, manufaturados em maior ou menor grau de sofisticação, estão incluídos no grupo das madeiras estruturais compostas. Como: LVL – laminated veneer lumber, PSL – parallel strand lumber e OSL – oriented strand lumber.” (Madeira: Uso Sustentável na Construção Civil, p.20, 2003)

MADEIRA USINADA

Figura 07 - Construção com painéis CLT Fonte: Crosslam


LEGENDA Limite do paĂ­s Floresta 2018


Figura 08 - Mapa de florestas do Brasil Fonte: Serviço Florestal Brasileiro (SFB) 2018

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Entre as características do país, a questão florestal é uma das mais importantes e conhecidas pelo mundo. Seu território é correspondido por cerca 59% de cobertura florestal - o que representa a segunda maior área de florestas do mundo, atrás apenas da Rússia. (Boletim Snif,2018)

SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL


Dessa porcentagem, 9.853.737 milhões de hectares – 1,16% da área total -corresponde às florestas plantadas (Snif, 2016). Ou seja, aquelas que surgem a partir da prática da silvicultura, destinada à exploração de seus recursos. Essas florestas se concentram nas as regiões Sul e sudeste, sendo 75,2% de eucalipto e 20,6% de pinus. No qual o líder entre os estados com reflorestamento da espécie Pinus é o Paraná. (Agência Brasil, 2018) Já entre a espécie de eucalipto, o estado de Minas Gerais possui a maior área de floresta, como visto no gráfico abaixo disponibilizado no Boletim Snif de 2018. Distribuição, por estado e por cultura (2017)

LEGENDA Floresta plantada de Eucalipto

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Floresta plantada de outras espécies

ÁREA (Ha)

SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

Floresta plantada de Pinus

Figura 09 - Área de floresta plantada por estado no Brasil em 2017 Fonte: Modificado de Serviço Florestal Brasileiro (SFB) 2018


Mesmo com um cenário de abundância de recursos florestais e indústrias que exploram tais recursos, é notável que o Brasil faz pouco uso da madeira como sistema construtivo. O material é muito usado no setor como função secundária; como em andaimes e fôrmas para concreto, e em móveis, esquadrias e produtos de acabamento, mas não muito utilizado como estrutura principal ou vedações.

Figura 10 - Tipologias construtivas de edificações indígenas Fonte: Almeida; Yamashita (2013) apud Shigue (2018)

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Assim como cita Shigue em sua dissertação, o conhecimento construtivo dos grupos indígenas utilizando a madeira mostra inúmeras tipologias construtivas para diferentes usos, devido à diversidade das comunidades em seus modos de vida e o local no qual estavam inseridos. Conforme, visto no trabalho de Almeida e Yamashita, as obras possuíam diversos tamanhos e tipologias.

SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

Para compreendimento dessa situação, é preciso analisar o contexto da história da construção civil no Brasil com foco no uso da madeira.


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SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

Entretanto, o conhecimento indígena sobre o material não foi tão relevante aos colonizadores portugueses e após a extração do pau-brasil, a madeira foi posta em uma posição secundária tanto na questão econômica, quanto na arquitetura da colônia. A partir da metade do século XIX, com o avanço dos equipamentos e máquinas à vapor, ocorreu um alto número de imigração não portuguesa, principalmente nas regiões mais ao sul, que trouxeram consigo conhecimento e experiências novas ao país, inclusive no modo de construção. Foi então que começaram a surgir as primeiras serrarias, que trouxeram também novos usos a madeira, com base nas tradições de diferentes países europeus. (Shigue, 2018) Já no século XX, a popularidade do concreto, através do movimento moderno, caracterizou toda uma construção brasileira vista com grande força até os dias atuais. Porém, como cita Erich Shigue, paralelamente à essa época, a difusão da madeira na região sul acontecia. A partir de 1930, a exploração da madeira e

as serrarias se expandem rapidamente. (...)Assim, grandes empresas se instalam na região, com destaque para a Southern Brazil Lumber and Colonization Company (Lumber Co.) que na década de 1940 é a maior serraria da América do Sul, explorando os estados do Paraná e Santa Catarina (SILVA, 2010). Outra grande empresa da época foi a Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná (MARIPÁ), com atuação na região oeste do Paraná entre 1940 e 1960. Grande parte de sua produção na época foi destinada à construção de Brasília, fator que impulsionou a economia da região (GUTIERREZ, 2008). (SHIGUE, 2018, p.13)

Nesse período começam então a desenvolver na região sul diferentes métodos de construção em madeira, como o wood frame e inclusive o MLC – Madeira Laminada Colada. A tecnologia foi trazida para o país pela empresa Esmara Estruturas de Madeira Ltda, fundada em 1934 na cidade de CuritibaPR. A fábrica tinha na época o foco em vigas utilizando o sistema industrial com um adesivo, que até então ainda era tóxico para o meio ambiente. E então, a partir da década de 60 começaram a ser criados diversos grupos de pesquisa em madeiras industriais, com destaque para o grupo criado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que se tornou


um grande polo de pesquisa sobre a técnica no Brasil. (Bono, 1996)

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SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA NO BRASIL

Portanto, a partir da análise do contexto histórico apresentado, vemos que a madeira sempre esteve presente nas obras brasileiras, com mais intensidade nos usos secundários, mas também com o uso estrutural nas obras indígenas e com iniciativas de diferentes técnicas, principalmente no estado do Paraná, devido as influências trazidas de países europeus.



ESTUDOS DE CASO

No Brasil nos últimos anos, estão surgindo projetos que exploram o material da madeira com as técnicas atuais. Através de conceitos que exploram a sustentabilidade e os espaços contemporâneos, as obras ganharam destaque entre a arquitetura brasileira.

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ESTUDOS DE CASO

Desse modo, compreende-se que estudar referências projetuais é importante para compreender como a técnica é trazida para o cenário brasileiro e contribui para orientar o projeto a ser desenvolvido.



CASA CATUÇABA

O projeto da Casa Catuçaba, do Studio MK27, foi selecionado para pesquisa, principalmente por ser um projeto que traduz e traz a casa caipira para uma leitura contemporânea com técnicas atuais que são alternativas de soluções para questões da sociedade atual. Como questões de sustentabilidade e consumo energético.

•Localização: Catuçaba, Brasil Figura 11 - Casa Catuçaba Fonte: MK27 - Fernando Guerra

•Área: 309m² •Ano do projeto: 2016

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•Arquitetos: Studio MK27 – Marcio Kogan, Lair Reis

CASA CATUÇABA

FICHA TÉCNICA


Através de um conceito criado, onde a conexão com a natureza, a cultura local e simplicidade vai em busca das raízes mais profundas do nosso país, surgiu o projeto “Casas de Catuçaba”. Trata-se de uma região no interior de São Paulo, em São Luiz do Paraitinga, no vale do Paraíba.

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CASA CATUÇABA

Em uma área de 700 hectares com vegetação densa rodeada por reservas florestais e paisagem típica do Vale do Paraíba, é denominado o território da chamada “Fazenda Catuçaba”, uma antiga fazenda de café. Atualmente há diversos projetos com grandes terrenos, que ficam distantes entre si e da sede da fazenda. Todos seguem o conceito do refúgio e desfrute da natureza local. Dessa forma, a obra do Studio MK27, “(...) tem uma forte relação com a natureza local, os ventos, as chuvas e o sol, abundante na maior parte do ano. Estes são os elementos que permitem autonomia na geração de energia. A principal premissa do projeto é tornar o consumo energético eficiente e ao mesmo tempo oferecer conforto ao usuário, tirando

partido da simplicidade no contato com a natureza local.” (STUDIOMK27, 2016) Seguindo o perfil do escritório, no qual procuram cumprir a tarefa de repensar e dar continuidade ao icônico movimento arquitetônico modernista, a “Casa Modernista Caipira”, traz uma releitura, com a técnica construtiva sustentável, que valoriza a simplicidade formal, com especial atenção aos detalhes e acabamentos, que exploram características das residências coloniais brasileiras. O piso de tijolo foi inspirado nos terreiros de café e nas casas coloniais, já as janelas dos dormitórios, foram criadas aberturas menores para equilibrar o conforto térmico passivo, esses ambientes não poderiam ser totalmente envidraçados, ¨(...) buscamos nas janelas das casas coloniais a referência para o formato e para a cor das nossas”, conta a arquiteta.


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CASA CATUร ABA

Figura 12 - Abertura dos dormitรณrios para o deck de madeira reflorestada com vista para a paisagem Fonte: MK27 - Fernando Guerra


Figura 13 - Muro lateral feito em taipa com terra local Fonte: MK27 - Fernando Guerra

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CASA CATUÇABA

A partir de muros laterais em adobe, a construção é delimitada enquanto vinculam a casa à topografia, dessa maneira o acesso é direcionado em um terraço coberto na fachada sul.


Os espaços internos criados evidenciam o perfil da sociedade contemporânea, com basicamente duas zonas: social e privativa, de tal maneira que mais ao lado da entrada encontram-se as áreas sociais amplas, incluindo a cozinha e salas de jantar e estar e lavabo; e do outro lado, as zonas privativas, com três dormitórios, uma suíte e escritório.

Figura 14 - Planta baixa Casa Catuçaba Fonte: MK27

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CASA CATUÇABA

À frente, um deck longitudinal – parcialmente coberto pela plataforma de cobertura em balanço nesse trecho – amplia a área social interna com a vista para a face Norte no sentido de uma imensa vegetação densa da região.


Muros laterais em taipa e um deck externo com madeira FSC.

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CASA CATUÇABA

Estrutura se apoia no terreno original, deixando a casa suspensa do solo; Figura 15 - Esquema estrutural Fonte: Adaptado de Carpinteria

Figura 16 - Pilares embutidos no muro de taipa Fonte: Carpinteria


Paredes em sistema estrutural ligth wood frame com isolamento de lã de pet;

Cobertura com coletor de águas pluviais, painel solar e turbina eólica.

Toda casa é de estrutura pré-fabricada de Madeira Laminada Colada de Angelim, uma madeira nativa brasileira mais densa do que a Pinus, que é a mais utilizada ultimamente nas usinas brasileiras, o que permite apoiá-la no terreno através de oito pilares, sem que toque diretamente o solo.

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Os pilares superiores de MLC possuem uma modulação de 5,2m x 4,85m com seções de 14cmx14cm, se apoiam na estrutura inferior e embutidos nos muros laterais, pois a taipa não suporta o peso da estrutura, caso fosse apoiado completamente, podendo causar fissuras nas paredes.

CASA CATUÇABA

Os muros laterais em taipa, feitos com a terra do local, delimitam o espaço da casa e garantem o contraventamento, juntamente com cabos de aço na estrutura inferior.


Visto a necessidade de construir em um terreno acidentado e de difícil acesso, a proposta projetual, baseia-se na escolha de materiais sustentáveis e locais.

LEGENDA 1- Cobertura em Wood Frame com madeira FSC, com calhas para coleta de águas pluviais; 2- Muro lateral de taipa; 3- Vidros duplos, isolados e à prova de som; 4Revestimento eucalipto;

de

5- Piso interno de tijolo maciço, feito com terra do local; 6- Piso externo com deck feito em madeira FSC.

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CASA CATUÇABA

Figura 17 - Materiais utilizados no projeto Fonte: Adaptado de Carpinteria

A cobertura traz toda a leveza ao projeto, com peças delgadas e estrutura invertida, que apresenta um balanço de 2,15m nos beirais. Além da leveza ao projetar os beirais, o balanço permite o bloqueio da alta radiação direta do verão, protegendo completamente a fachada norte, e possibilitando uma radiação indireta que ilumine naturalmente a casa.


No inverno, as janelas do quarto ficam completamente sombreadas durante a manhã, mas a baixa radiação é capaz de penetrar e aquecer o ambiente interno após o meio dia, devido às características físicas da madeira e com o isolamento térmico em lã de pet utilizado. A combinação de controle solar adequado, massa térmica e ventilação natural pôde eliminar a demanda de energia relacionada à ventilação e ao resfriamento. Como a casa é estreita, a ventilação cruzada foi a solução mais adequada.

Figura 19 - Ventilação cruzada Fonte: Adaptado de Carpinteria

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CASA CATUÇABA

Figura 18 - Estudo de insolação: Posição do sol, ao 12h no dia 21 de junho (acima) e ao 12h no dia 21 de dezembro (embaixo). Fonte: MK27


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CASA CATUÇABA

Figura 20 - Vista aérea da obra. Fonte: MK27 - Fernando Guerra

De forma geral, a Casa Catuçaba serve como referência em quatro aspectos: em relação à leveza criada a partir de soluções projetuais adotadas com as peças e forma de se trabalhar a madeira; à forma de se implantar o projeto de tal maneira que haja a menor intervenção possível no sítio em que está localizado; e soluções de conforto adotadas a fim de ser mais energeticamente adequada, através da ventilação cruzada e técnicas de proteção solar.


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CASA CATUÇABA



MICASA VOL. C

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Figura 21- Micasa Vol. C Fonte: MK27 - Fernando Guerra

A obra foi selecionada para pesquisa com a intenção de se analisar a linguagem adotada, utilizando a madeira como estrutura, mas ao mesmo instante com a vedação que não se faz uso da mesma linguagem. Há também o fato de ser uma obra inserida em um texto urbano, como São Paulo, possibilitando a análise de questões sobre logística.

MICASA VOL. C

Outro projeto de destaque do escritório de Márcio Kogan, é o Micasa Vol. C, que recebeu grande visibilidade do cenário da arquitetura contemporânea “(...) reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e pela União Internacional dos Arquitetos (UIA) como o melhor projeto de arquitetura na categoria Lojas do Prix Versailles 2019 em sessão na sede da própria UNESCO, em Paris.” (Arcoweb, 2019)


FICHA TÉCNICA •Arquitetos: Studio MK27 – Marcio Kogan, Marcio Tanaka •Localização: São Paulo, Brasil •Área: 230m² •Ano do projeto: 2018

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MICASA VOL. C

Figura 22 - Vista interna Micasa Vol. C Fonte: MK27 - Fernando Guerra

A Micasa Vol. C trata-se de um projeto comercial desenvolvido afim de ser um pavilhão com a possibilidade de receber diversos programas aliados ao estilo da marca Micasa, como loja, espaço expositivo e residência temporária de artistas convidados, com um trailer que pode ser instalado em seu interior. Sendo assim, o sistema construtivo escolhido foi justamente a madeira, que tem feito parte das investigações recentes do Studio MK27.


Figura 24 - Elevação Micasa Vol. C Fonte: MK27

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MICASA VOL. C

Figura 23 - Planta baixa Micasa Vol. C Fonte: MK27


Desse modo, foram utilizadas as técnicas ideais para um pavilhão, a madeira laminada colada (MLC), com uma sucessão pórticos de pilares e vigas em madeira cria-se um vão de quase 15m.

Figura 25 - Interior da obra evidencia a estrutura em madeira Fonte: MK27 - Fernando Guerra

(...)A cada dois módulos, no plano superior, estão os tirantes de aço para o contraventamento. Uma substrutura sustenta a pele do fechamento e cria um intervalo entre o plano da fachada e os pilares. Esta distância reforça a leitura do ritmo e dos encaixes simples dos elementos de madeira. Contrapondo-se à retidão da estrutura metálica do Vol.A, ao brutalismo do concreto aparente do Vol.B, o Vol.C flutua do chão delicadamente, como uma lanterna japonesa. (Kogan, 2018)

A linguagem adotada no projeto fica claro a referência e linguagem japonesa, com cores e elementos claros e limpos, a estrutura se realça no interior recebendo o contraste com a vedação de policarbonato translúcido na metade superior e chapa metálica branca na inferior. (Imagem 25)

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MICASA VOL. C

Elementos que também evidenciam a referência da luminária japonesa, como citada por Kogan, no qual, na área exterior da obra, a linguagem da madeira não aparece e devido Figura 26 - Entrada do pavilhão à noite Fonte: MK27 - Fernando Guerra


Figura 27 - Sombra das árvores na fachada Fonte: MK27 - Fernando Guerra

Figura 28 - ¨Luminária japonesa” à noite Fonte: MK27 - Fernando Guerra

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MICASA VOL. C

ao policarbonato translúcido, fica claro essa relação com a sombra das árvores do entorno durante o dia e com a luz interior durante a noite.(Imagem 26)


A

B

C

D

Figura 29 - Diagramas conceituais Micasa Vol. C Fonte: Carpinteria

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MICASA VOL. C

Nos diagramas acima são apresentadas etapas importantes do projeto. No diagrama A, é visto o terreno e sua interação com os outros volumes da Micasa, Vol. A com estrutura metálica e o Vol. B com o brutalismo do concreto aparente. No diagrama B, é visto a estrutura em MLC, apenas os pilares ritmados que tocam o chão e o sistema de vagonamento de cabos de aço entre as vigas duplas de madeira laminada colada, a fim de criar “protensão” na viga dupla. Ao lado é mostrado também a deformação da estrutura ao lado.


O diagrama C mostra como são feitas as instalações elétricas, através de conduítes de elétrica que sobem por trás dos pilares e alimentam a energia elétrica e equipamentos de ar condicionado; e a capitação de águas pluviais com caída por trás de dos pilares. Por último, no diagrama D é colocado a vedação com policarbonato translúcido na metade superior e chapa metálica branca na inferior que oculta o material da madeira e faz com que o Vol.C flutue do chão delicadamente, como uma lanterna japonesa. Também mostra a cobertura escolhida, com manta impermeável TPO (alwitra), que recebe as calhas que são direcionadas às tubulações mostradas no diagrama anterior.

Figura 30 - Detalhes construtivos Fonte: MK27 - Fernando Guerra

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MICASA VOL. C

No seu interior, a madeira recebe destaque, com a atenção aos detalhes dos encaixes em madeira e ao ritmo criado. Desse modo, a estrutura se torna protagonista com um plano de fundo, evidenciando a linguagem leve do sistema construtivo em madeira.


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MICASA VOL. C

Figura 31 - Canteiro de obras Micasa Vol. C Fonte: MK27 - Carpinteria

Como cita Alan Dias, para a montagem da estrutura, foi necessário encaminhar as peças para o local em um sábado, por estar em uma região movimentada e interditar a rua por algumas horas, para ser possível o manejo das grandes peças. Outro aspecto importante de ser analisado é que as peças foram produzidas na empresa Rewood, localizada em Taboão da Serra em São Paulo, o que permite o aspecto da pegada de carbono ser compensável à produção das peças.


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MICASA VOL. C

Com as análises feitas a respeito da obra selecionada, serve como referência aspectos muito importantes: à linguagem e maneiras de evidenciar a madeira, sendo ocultando o material, quanto explorando suas características; e um fato muito procurado em obras brasileiras em madeira, que é o contexto urbano inserido, que mostra a logística das peças pré-fabricadas em seu percurso e pegada de carbono.



MORADIAS INFANTIS

Figura 32 - Moradias Infantis Fonte: Aleph Zero - Leonardo Finotti

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O prêmio “(...) é concedido a cada dois anos para um edifício que exemplifique a excelência em projeto e a ambição arquitetônica, além de proporcionar um impacto social significativo. Moradias Infantis foi reconhecido por sua visão em imaginar a arquitetura como uma ferramenta para a transformação social.” (BALDWIN, Portal Archidaily, 2018)

MORADIAS INFANTIS

As Moradias Infantis se destacam por ser um projeto que recebeu grande importância no cenário da arquitetura brasileira contemporânea no ano de 2018, quando recebeu o prêmio de Prêmio Internacional RIBA 2018.


Também recebeu diversos outros prêmios na categoria de edifício do ano, sustentabilidade e arquitetura em madeira no Brasil. O projeto conecta características da arquitetura brasileira clássica com a conexão de uma técnica contemporânea e sustentável da madeira usinada. FICHA TÉCNICA •Arquitetos: Aleph Zero, Rosenbaum •Localização: Formoso do Araguaia, TO, Brasil •Área: 23.344 m² •Ano do projeto: 2016

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MORADIAS INFANTIS

Figura 33 - Vista externa do projeto Fonte: Aleph Zero - Leonardo Finotti

O projeto trata-se de dois edifícios que oferecem acomodação para 540 crianças que frequentam a Escola Canuanã, financiada pela Fundação Bradesco que oferece educação para crianças em comunidades rurais em todo o Brasil. Devido à dificuldade de deslocamento da região, a rotina escolar usual fica prejudicada, portanto,


é necessário o regime de internato. Foi através dessa necessidade que foi desenvolvido o projeto. Conforme a descrição dos arquitetos, a proposta se baseou partir da mudança do conceito de alojamento para o conceito de morada, com o intuito de conectar as crianças com os saberes dos seus antepassados, através da arquitetura.

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Figura 34 - Implantação da Fundação Bradesco, com destaque para as Moradias Infantis. Fonte: Aleph Zero

MORADIAS INFANTIS

PLANTA DE SITUAÇÃO 1 Dormitórios masculinos 2 Dormitórios femininos 3 Rio Javés


A grande idealização do projeto está nos espaços de convívio que complementam cada bloco. As moradias possuem sala de TV, espaço para leitura, varandas e pátios internos, que a partir do paisagismo, cria o microclima resultante do encontro de 3 biomas – Cerrado, Amazônia e Pantanal e reconecta as crianças com a biodiversidade do local.

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MORADIAS INFANTIS

Figura 35 - Pátio coberto e pátio externo evidenciando o monocromatismo Fonte: Aleph Zero - Leonardo Finotti

As referências foram buscadas na cultura da população de Canuanã, aliado à construção da noção de pertencimento. O lema do projeto foi descrito como “Canuanã é minha casa”. Assim, a nova morada se organiza fundamentalmente em duas vilas, uma masculina e outra feminina, como já era feita. Entretanto, com menos alunos em cada quarto, a fim de melhorar a qualidade de vida e individualidade de cada criança.

Um fator importante na linguagem adotada, conforme as referências locais utilizadas, está no monocromatismo dos materiais e elementos (tons terrosos), com o objetivo de não se contrapor ao contexto. A arquitetura, se compreende em uma configuração de um extenso pavilhão aberto. A cobertura de uma água, inclinada à 5% em direção ao Rio Javés, abriga os blocos independentes (30 x 9 metros), vedados com alvenaria de adobe produzida no local. No térreo encontram-se os dormitórios (cinco quartos por bloco, com portas voltadas para os pátios interno). Sobre eles, ficam as áreas de uso coletivo, interligadas por passarelas.


TÉRREO 1 Jardim descoberto 2 Bloco de dormitórios 3 Acesso ao segundo pavimento

Figura 37 - Planta Pav. Superior Moradias Infantis Fonte: Aleph Zero

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SUPERIOR Áreas de convivência

MORADIAS INFANTIS

Figura 36 - Planta Pav. Térreo Moradias Infantis Fonte: Aleph Zero


COBERTURA

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MORADIAS INFANTIS

Figura 38 - Planta de cobertura Moradias Infantis Fonte: Aleph Zero

A grande cobertura se estende à beirais de 4m com duas aberturas que conformam pátios centrais no nível térreo e recebe o suporte pela estrutura de madeira laminada de eucalipto, seguindo um grid de 5.90m x 5.90m, com seções de 15cm totalizando 288 pilares, que são deslocados do chão com encaixes metálicos, devido a umidade. Em termos de contraventamento, são as alvenarias dos banheiros e as lajes de piso que desempenham tal função.


COBERTURA Feita em MLC de uma água (inclinação de 5%) com telha em aço, ¨tipo sanduíche¨

GUARDA-CORPO Área de convivência com proteção em ripas de madeira

MODULAÇÃO ESTRUTURAL Grid com 5,90mx5,90m em pilares MLC

Figura 39 - Perspectiva explodida Moradias Infantis Fonte: Adaptado de Gustavo Utrabo

Figura 40 - Ritmo criado pela modulação estrutural Fonte: Marcelo Rosenbaum – Leonardo Finotti

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MORADIAS INFANTIS

VEDAÇÃO Blocos vedados com alvenaria adobe produzido no local


A obra, que é hoje a maior no Brasil em m³ de madeira usinada, com 1000 m³ (Fonte Ita Construtora), mostra da vantagem da versatilidade e sustentabilidade na escolha da estrutura, que trouxe este material como elemento pré-fabricado. Mostrando que sua solução pontual poderia ser adotada em outros projetos no país.

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MORADIAS INFANTIS

Desse modo, “com o aumento da produção, o preço se tornaria mais competitivo e, uma vez consolidado no nosso país o uso de um sistema já centenário (foi em 1911 que se criou, na Alemanha, a sua patente), talvez surgisse uma rede de fornecedores e empresas similares à ITA.” (GRUNOW, Projeto Design, ed.437, 2017). Ou seja, por mais que o sistema construtivo seja eficiente e prático, o custo, a falta de compreensão e costume do material pelos arquitetos e clientes, faz com que a madeira não seja prioridade, mesmo quando se fala em sustentabilidade. Para que o cenário se converta, é essencial a

análise do custo benefício e quantidade de projetos sendo feitos.


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MORADIAS INFANTIS

Figura 41 - Montagem do sistema estrutural Fonte: Marcelo Rosenbaum – Leonardo Finotti



A relevância das obras escolhidas no cenário da arquitetura brasileira contemporânea, pôdese notar que as três obras se destacaram com prêmios nacionais e internacionais com assuntos muito atuais e

necessários na sociedade atual, à respeito da sustentabilidade, conforto e técnica construtiva que atente aos anseios contemporâneos com obras rápidas e com prática limpa e racional. A leveza que tanto se comenta sobre o sistema estrutural estudado, é percebível ao se explorar os estudos. O aspecto visual dessa leveza é encontrado seja nos vãos mais singelos por questões de logística e racionalização como na Casa Catuçaba e nas Moradias Infantis, ou nos maiores vãos para se obter um amplo espaço livre, como na Micasa Vol.C. Nas peças estruturais, há uma sensação de delicadeza e cuidado com o espaço inserido.

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Com base nos estudos de caso selecionados foram feitas análises com foco no sistema estrutural adotado utilizando a madeira, maneira que foi feita a abordagem sobre o material e contexto em que se encontram.

OBSERVAÇÕES E CONSODERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

OBSERVAÇÕES E CONSIDERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS


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OBSERVAÇÕES E CONSODERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

Os projetos escolhidos possuem uso, local e abordagem distintas, o que contribuiu para analisar em como o material pode ser explorado em diversos modos. Na Casa Catuçaba, se faz o uso de duas técnicas interessantes, o MLC na estrutura e o Wood Frame nas divisões internas. A linguagem da madeira é um aspecto muito explorado, presente na estrutura que fica aparente, no piso com madeira de demolição e na proteção da fachada com os galhos de eucalipto.

Na Micasa, mesmo que do mesmo escritório que concedeu a Casa Catuçaba, é notável como é possível haver inúmeras abordagens do mesmo sistema. Além da utilização de madeiras diferentes, o tratamento também influencia na linguagem que se obterá. Em busca de um conceito de luminária japonesa, a madeira ganha o destaque no interior da obra, mas no exterior, o sistema construtivo que fora utilizado não se mostra, o que permite quase que uma surpresa para o observador.

Nas Moradias Infantis, a estrutura também recebe o destaque, cobertos pela grande cobertura e soltos do chão, por conta da umidade, os pilares em seus ritmos evidenciam a potência do material. Como o conceito do monocromatismo, os ambientes fechados, feitos com tijolos solocimento e o guarda-corpo com peças leves e singelas de madeira, compõe o projeto com uniformidade que conversa com o entorno.

Portanto, os estudos de caso escolhidos deram um entendimento e perspectiva do cenário da arquitetura brasileira associada ao sistema construtivo com madeira usinada. Mostrando como a técnica é trazida com tanta sensibilidade e faz parte de uma linguagem brasileira e contemporânea. As análises trouxeram entendimento de aspectos que podem auxiliar na proposta, seja do modo de se construir e na abordagem do material


Figura 43 - Micasa Vol. C Fonte: MK27 - Fernando Guerra

Figura 44 - Moradias Infantis Fonte: Marcelo Rosenbaum – Leonardo Finotti

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Figura 42 - Casa Catuçaba Fonte: MK27 - Fernando Guerra

OBSERVAÇÕES E CONSODERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

para o projeto. Outro fato importante que foi analisado é em como o material pode ser trazido em diferentes conceitos e questões sociais, físicas e técnicas, o que torna todo o processo de criação mais rico e interessante.


A partir das considerações e análises feitas, entende-se que uma tabela comparativa possa auxiliar no processo de compreensão e ementa do assunto. USO E CONTEXTO INSERIDO •Uso residencial;

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OBSERVAÇÕES E CONSODERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

•Casa de campo no interior de São Paulo, em um projeto de vila com casas sustentáveis.

SISTEMA CONSTRUTIVO UTILIZADO •Madeira Laminada Colada (MLC) na estrutura (vigas e pilares); •Wood frame nas vedações e divisões internas.

Casa Catuçaba, ibidem, p.27 •Uso comercial; •Pavilhão com a possibilidade de receber diversos programas inserido na zona central de São Paulo.

Micasa Vol. C, ibidem, p.39

•Uso institucional, residencial; •Pavilhão com dormitórios vinculados à Fundação Bradesco inserido no interior do Tocantis.

Moradias Infantis, ibidem, p.49

•Madeira Laminada Colada (MLC) na estrutura (vigas e pilares).

•Madeira Laminada Colada (MLC) na estrutura (vigas e pilares).


LINGUAGEM DA MADEIRA

•Estrutura, paredes, revestimento e piso externo em madeira;

•Explora o material através de várias técnicas construtivas e diferentes espécies.

•Muros laterais em taipa; •Piso em tijolo solocimento; •Vedação em vidro.

•Modulação de 15mx1,95m com seções de 27cmx27cm.

•Estrutura em madeira; •Vedação em policarbonato translúcido na metade superior e chapa metálica branca na inferior;

VANTAGENS AO UTILIZAR A MADEIRA

DESAFIOS ENFRENTADOS

•Impacto ambiental devido a área de preservação inserida;

•Inserção das peças estruturais no terreno;

•Peças pré-fabricadas que garantem agilidade e facilidade na obra;

•Contraventamento da estrutura.

•Conforto térmico pela propriedade física da madeira;

•Explora o material através da estrutura aparente, mas oculta sua materialidade no exterior.

•Peças pré-fabricadas que garantem agilidade e facilidade na obra;

•Logística devido o contexto urbano e tamanho do lote.

•Tempo e montagem da estrutura em menos de dois meses;

•Telhas impermeabilizadas TPO (alwitra).

•Estrutura leve. •Obra limpa, não gera resíduos.

•Modulação de 5,90x5,90m com seções de 15cmx15cm.

•Estrutura em madeira; •Blocos dos dormitórios em alvenaria de adobe com terra do local; •Telhas de aço tipo “sanduíche” com 40mm; •Lajes de concreto.

•Explora o material através da estrutura aparente, mas o foco da linguagem é o monocromatismo dos tons terrosos que se integram ao entorno.

•Impacto ambiental devido a área de preservação inserida; •Logística e tradição do local, pois possui indústrias na região; •Obra limpa e custo;

•Conservação, pois devido ao clima rigoroso, é necessário a manutenção periódica da camada de verniz que recobre a estrutura.

OBSERVAÇÕES E CONSODERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ESTUDADAS

•Modulação de 5,2mx4,85m com seções de 14cmx14cm.

MATERIALIDADE

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MODULAÇÃO ADOTADA



VISITAS TÉCNICAS ARMAZÉM MARTON

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O Armazém do Marton é uma loja com produtos focados em economia criativa, design e lifestyle e segundo seu criador, José Marton, a sustentabilidade é uma marca de seu trabalho e conforme sua preocupação com o impacto gerado do descarte de seus cenários criados, em 2018 a marca apostou pela primeira vez para seu stand na Casa Cor em uma estrutura sustentável de madeira, reutilizada em na Casa Cor 2019.

ARMAZÉM MARTON

A primeira visita técnica realizado foi à desmontagem do stand da loja chamada Armazém do Marton no evento Casa Cor 2019, entre 28 de maio e 4 de agosto de 2019, realizado no Jockey Club de São Paulo. A visita foi guiada pela arquiteta Fernanda, responsável pelo projeto de arquitetura e o engenheiro Murilo, responsável pela estrutura, realizada pela empresa Rewood.


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ARMAZÉM MARTON

Figura 45 - Stand Armazém Marton 2018 Fonte: Casa Cor

Figura 46 - Stand Armazém Marton 2019 Fonte: Casa Cor

E assim aconteceu, pelo segundo ano consecutivo a marca utilizou a mesma estrutura, entretanto pela criatividade dos projetos passa-se despercebido pelo seu exterior. Aliás, a estrutura em madeira não é óbvia pela parte externa, é só no seu interior que o material é fortemente explorado as suas texturas e cores, tanto da estrutura em si, quando do piso e móveis.


ARMAZÉM MARTON

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Figura 47 - Interior do stand 2019 Fonte: Casa de Valentina


ARMAZÉM MARTON

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Figura 48 - Estrutura em MLC Figura 49 - Conexões metálicas Fonte: Imagem da autora

A loja possui um espaço de 80 m² com peças em MLC da madeira pinus, conectadas através e ligações metálicas da patente rothoblass e com fundação em concreto pela questão da umidade na madeira. Pelo seu sistema de montagem rápido, a opção garantiu economia de tempo e custo, além do mínimo resíduo gerado, principalmente quando analisamos a questão do mundo cenográfico, no qual eventos efêmeros necessitam de estruturas leves e práticas.


Conforme o diretor de relacionamento e operações internacionais, Alex Stevens nos informou durante a visita, um intensão atual da Casa Cor é trazer cada vez mais questões sustentáveis para as edições e influenciar os expositores a pensar em nos resíduos gerados e impacto que seus produtos geram ao meio ambiente.

Figura 50 - Pórtico estrutural Fonte: Imagem da autora

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Pelas questões hidrofóbicas da madeira, todo o pavilhão foi envolto por telhas metálicas que ocultam a estrutura em seu exterior. Por questões relacionadas à não exposição da madeira, toda a estrutura não recebeu nenhum tratamento de impermeabilização, entretanto, todos os projetos com madeira usinada é tratada contra ataques de xilófagos (ser vivo que se alimenta de madeira).

ARMAZÉM MARTON

Assim, o tema da edição de 2018 foi “A casa viva” e em 2019 foi “Planeta Casa”, o que contribui para todo o conceito da forma escolhida para o stand. Com o mais simbólico formato de casa, o projeto se configura a partir de vários simples pórticos em MLC, travados com peças secundárias também em madeira usinada.


Figura 51 - Grupo de visita realizado pela Rewood Fonte: Imagem da autora


FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

No início da visita, Calil nos apresentou o histórico da fábrica e nos tirou dúvidas acerca do material. A Rewood é uma empresa focada em Madeira Laminada Colada (MLC) utilizando duas espécies de madeira: eucalipto tem garantia de 20 anos – uso estrutural – e a pinus tratado 30 anos – uso estrutural e contra ataques de xilófagos (cupins, brocas e fungos decompositores).

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A visita foi realizada com dois grupos de estudantes, o primeiro do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e o segundo composto por alunos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Quem nos acompanhou pela visita guiada pelo engenheiro e sócio da empresa Calil Neto, que nos apresentou todos os processos da fábrica e depois nos acompanhou pela obra explicando todos as etapas e desafios encontrados.

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

A segunda visita técnica realizado foi feita em dois locais. O primeiro à fábrica de estruturas em MLC da Rewood, localizada em Taboão da Serra e depois nos deslocamos à uma obra da empresa que está sendo executada em Pinheiros. O primeiro edifício de cinco pavimentos em madeira no país.


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FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

A fábrica, localizada no município de Taboão da Serra, produz peças a partir do processo da usinagem da madeira proveniente de florestas de reflorestamento. Seus fornecedores ficam na região sul e nordeste, sendo que possuem mais de cinco fornecedores para cada espécie.

de tração, a peça sempre quebra fora do finger. A fábrica possui um padrão de peças máximas de 25m de comprimento, 1,3m de altura e 30cm de base. Maior que isso, o produto fica mais caro logisticamente, por isso é colocado uma ligação metálica.

Todos os processos nos foram explicados durante a visita. O primeiro processo é o de classificação da madeira; as peças passam por uma avaliação de acordo com desvio de fibra das peças, esse processo é importante devido fato de a fibra causar a baixa de resistência da madeira. Nesse processo há um descarte de pequenas peças que são reprovadas no processo de avaliação e que a empresa está em busca de um uso para o material. No segundo processo, chamado de “Finger Joins”, ou “União de dentes”. Ou seja, nas bases das peças, um fresa importada 15mm de comprimento de dente corta cada lado das peças no sistema de encaixo macho-fêmea. Essa junção é tão resistente que em um ensaio

Figura 52 - Madeiras serradas Fonte: Imagem da autora


Figura 55 - Peça com encaixe ¨Finger Joins” Fonte: Imagem da autora

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

Figura 54 - Fresa “Finger Joins” Fonte: Imagem da autora

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Figura 53 - Caçamba com descarte produzido Fonte: Imagem da autora


O terceiro processo é a prensagem. As máquinas de prensa recebem o adesivo e comprimem a peça, num período de 90 minutos. Depois é necessário passar pelo chamado “Tempo de assemblagem” (tempo de colocação das peças depois de exposta a temperatura ambiente).

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FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

Na fábrica há dois tipos de prensa: Prensas AA – 4m, 6m, 12m (automáticas – hidráulicas, lamela com cola- fecha e aperta o botão) e Prensa LL – prensa de chão – uma ou dupla curvatura – torcer até 90º no eixo x e y (espada e carangueijo).

Figura 56 - Prensa hidráulica Fonte: Imagem de Erika Sato


Figura 59 - Peças com o adesivo Fonte: Imagem da autora

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

Figura 58 - Peças com a curvatura Fonte: Imagem da autora

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Figura 57 - Prensa de chão Fonte: Imagem da autora


FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

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Figura 60 - Peças aguardando secagem do adesivo Fonte: Imagem da autora

REFLORESTAMENTO

MADEIRAS SERRADAS

Figura 63- Diagrama: Processo de fabricação MCL Fonte: Produção da autora

Figura 61 - Peças preparadas após a planificação Fonte: Imagem de Erika Sato

SECAGEM CONTROLADA

CLASSIFICAÇÃO

Figura 62 - Peça com borracha líquida Fonte: Imagem de Erika Sato

FINGER-JOINT

APARELHAMENTO


No quarto processo, são duas fases: distopado – raspagem da cola – e pleinado - planificação e término de retirada da cola -. Assim, o topo das peças é selado com borracha liquida para evitar a umidade entrar, de extrema importância, por conta do sentido das fibras da madeira.

PRENSAGEM

RASPAGEM DO ADESIVO EM EXCESSO

PLANIFICAÇÃO E RASPAGEM DO TOPO

SELAGEM HIDROFÓBICA

PINTURA E EMBALAGEM

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ADESIVO

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

Então, no quinto e último processo, as peças são lixadas a mão, quebrado os cantos e depois são pintadas para selar hidrofobicamente o produto. Recebem duas demãos na fábrica, uma demão na obra. Assim as peças ficam armazenadas para depois serem transportadas para a obra.


Apresentados todos os processos da fábrica, o grupo se deslocou até o local de obra no edifício em madeira do país.

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FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

O projeto localizado na Avenida Faria Lima, consiste em uma área de 1500m² com três pavimentos de uso público, um pavimento técnico acima e um pavimento de estacionamento do subsolo. No qual, o 1º pavimento será uma loja de chocolates Dengo, o 2º uma loja de café e o 3º um espaço de coworking. O sistema estrutural constitui-se de vigas e pilares em Madeira Laminada Colada (MLC), com lajes em Madeira Laminada Cruzada (CLT) e vedação feitas com wood frame - com madeira cerrada pinus e preenchimento com lã de pet- e pele de vidro. São escolhas de projeto que buscam evidenciar o material e a importância da obra em relação ao seu aspecto tecnológico explorando a madeira usinada. Na visita foram apresentados as técnicas e detalhes utilizados, de acordo com os itens ao lado:

•Caixas de circulação (elevadores e escadas) em concreto, que contribuem tanto para questões de incêndio, quanto para o contraventamento do edifício; •Subsolo e fundações em concreto, devido à característica hidrofóbica da madeira; •Pilares com dimensões de 26x26cm e alturas de até 9,90m para não haver interrupção e garantir ainda mais resistências às peças. Exceto em dois pilares que ficarão expostos à intempérie que receberam junção com chapas metálicas pra facilitar se precisar trocar futuramente. •Laje em CLT com 14cm de altura, importadas pela empresa Amata Brasil; •Todas as lajes de CLT foram impermeabilizadas com mantas manta dpo rothoblass – para proteger e garantir bom tratamento acústico; •Tempo de montagem da estrutura foi de 37 dias com apenas 4 pessoas na mão de obra.


Figura 66 - Detalhe da conexão metálica entre pilares Fonte: Imagem de Érica Vaz

FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

Figura 65 - Conexão Pilar e Viga Fonte: Imagem de Érica Vaz

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Figura 64 - Vista aérea da obra Fonte: Rewood


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FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO

A partir da visita técnica realizada, pôde-se esclarecer diversas dúvidas a respeito do processo e detalhes em uma produção com madeira usinada. Além disso, ter a possibilidade de visitar uma obra com importância para o cenário tecnológico em madeira no Brasil foi esclarecedor e importante para compreender os detalhes construtivos necessários quando se trabalha com a técnica em uma proposta projetual.

Figura 67 - Grupo de visitantes do Mackenzie (Milene, Lucas, Jessika, Érica e Erika) Fonte: Imagem da autora


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FÁBRICA REWOOD E EDIFÍCIO DENGO



PROPOSIÇÃO

Conforme as análises e os estudos que foram sendo desenvolvidos, notou-se dois fatores encontrados no cenário atual do sistema construtivo em madeira “engenheirada” no Brasil, que contribuíram para a definição da proposta projetual. O primeiro fator identificado é o contato e conhecimento das pessoas com a tecnologia o préconceito do material como sistema estrutural. Outra questão é a respeito da mão-de-obra necessária e o modo que é feita sua qualificação, atualmente através das próprias indústrias que trabalham com o sistema no Brasil.

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PROPOSIÇÃO

Pensando nisso, a partir dessas questões foram desenvolvidos o programa para um Centro de Tecnologia e Pesquisa em Madeira. Na busca para levar a qualificação, oportunidade de estudos sobre o material, e contato com a tecnologia e com pessoas que se interessam pelo assunto e buscam se desenvolver na área.


Figura 68 - Vista em cima do Viaduto Antรกrtica para o terreno Fonte: Imagem da autora


LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

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Figura 69 - Mapa de localização do terreno escolhido Fonte: Produção da autora

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AV. AURO SOAR

LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

Optou-se por implantar o Centro de Tecnologia e Pesquisa em Madeira em um terreno de esquina, atualmente sem função social, localizado entre a Avenida Francisco Matarazzo, Rua Pedro Machado e Avenida Auro Soares de Moura Almeida, no bairro da Barra Funda (figura 68).


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Figura 70 - Potencialidades e área de intervenção Fonte: Produção da autora

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LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

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UNESP

Essa escolha se deu pela potencialidade do terreno, devido à diversos fatores, em relação à infraestrutura e mobilidade da região, com instituições importantes que são próximas e atraem um grande público, frente a possibilidade de incluir o baixio do Viaduto Antártica na proposta e desenvolver melhorias para o entorno imediato, conforme retratam o mapa a seguir na figura 69.


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Figura 71 - Percurso: Terminal Barra Funda à Avenida Francisco Matarazzo Fonte: Produção da autora

TERM. BARRA FUND

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88

AV

LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

A avenida Auro Soares de Moura Almeida é um percurso pelo qual facilmente se faz do Terminal Intermodal Palmeiras-Barra Funda, passando pelo baixio do Viaduto Antártica até a Avenida Francisco Matarazzo, que possui diversos equipamentos de lazer e cultura, como o Shopping West Plaza e o Allianz Parque, próximos ao terreno definido.


Entretanto, pela questão da Avenida Auro Soares de Moura Almeida possuir um fluxo de carros em alta velocidade e muros tanto limitando os trilhos da estação, quanto os muros dos altos edifícios da região, e pela falta de iluminação e movimento no baixio do viaduto, o fluxo de pedestre é bem baixo. Muitos preferem pegar um ônibus para fazer esse percurso, mesmo sendo bem curto, por questões de segurança.

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LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

Desse modo, o projeto é de importância urbana com uma possibilidade de qualificar o fluxo de pedestres no seu entorno imediato e um equipamento de influência municipal com fácil acesso, devido à proximidade da estação Barra Funda e do corredor de ônibus existente na Avenida Francisco Matarazzo. Conforme muitos terrenos na região da Barra Funda, o escolhido sofreu interferência das linhas férreas São Paulo Railway e Sorocabana, implantadas respectivamente em 1867 e 1875. No lote do projeto já foi implantado um grande pátio de estacionamento no qual mais tarde foram divididos em outros lotes. (figura 72). Figura 72 - Avenida Auro Soares de Moura Fonte: Imagem da autora


LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

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Figura 73 - Situação do lote ao longo dos anos : 2005 | 2008 | 2015 | 2019 Fonte: Google Earth


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LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

Atualmente, se trata de um espaço com algumas espécies de árvores, com topografia suave e cobertura gramínea, que permanece fechado ao redor de grades. A potencialidade do terreno com suas vegetações é inúmera e pode trazer diversas melhorias para o entorno.

Figura 74 - Vista do viaduto para o terreno Fonte: Imagem da autora

Figura 75 - Árvore de grande porte existente Fonte: Imagem da autora


LEITURA DO TERRITÓRIO E INSERÇÃO URBANA

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Figura 76 - Gradil do lote atualmente Fonte: Imagem da autora


PROCESSO CONSTRUTIVO OTIMIZADO

CADEIA DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

REFLORESTAMENTO SUSTENTÁVEL QUALIDADE CONSTRUTIVA

TOTAL DE EMISSÃO CO² NA PRODUÇÃO PARA 1kg DE MATERIAL FONTE: NORDARCHITECTS; NANOCEM

MATERIAL LEVE

CONSTRUÇÃO RÁPIDA MATERIAL LOCAL

SUSTENTABILIDADE Figura 77 - Diagrama Madeira na construção civil Fonte: Produção da autora

FLEXIBILIDADE E PRECISÃO

Figura 78 - Madeira usinada Fonte: Produção da autora

TECNOLOGIA


ESTRATÉGIAS

A proposta de intervenção na área utilizando a madeira como sistema estrutural, se beneficiou de características e vantagens que o sistema e material proporcionam. Como visto nos diagramas ao lado, a madeira como material já possui muitas vantagens e combinado ao sistema da madeira usinada, um processo de pré-fabricação, as vantagens aumentaram ainda mais. Tanto seu potencial construtivo, quanto pelas questões logísticas, que sempre é um fatos importante e que especialmente na área escolhida, torna-se um dos fatores determinantes do projeto.

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A primeira é a intenção de obter um contato da tecnologia da madeira como sistema constutivo na cidade, pois devido ao nosso histórico, temos mais familiaridade com um cenário de edificações em concreto. Ou seja, quando a visibilidade e o conhecimento com a tecnologia se expandir, esse cenário também começa a se transformar.

ESTRATÉGIAS

Quanto às estratégias para definir o programa, foram consideradas algumas intenções que se tornaram diretrizes para a definição.(Figura 79)


Se a demanda se expande e para que seja possível a difusão dessa técnica, é necessário profissionais qualificados. Por isso, é interessante um programa que ofereça essas oportunidades.

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ESTRATÉGIAS

Então, a partir dessas diretrizes, foi definido um programa que possui três principais usos:

Figura 79 - Diagrama de diretrizes abordadas Fonte: Produção da autora

•Ensino, com sistema de ensino técnico focado na formação de mão de obra qualificada e áreas para debates e aprendizado sobre o assunto; •Cultura, desenvolvendo esse contato com a tecnologia e o público através de exposições, palestras e biblioteca com acervo focado no material;

CONTATO COM A TECNOLOGIA


DEFINIÇÃO DO PROGRAMA

ESTRATÉGIAS

MÃO DE OBRA QUALIIFICADA E OPORTUNIDADES

Para a implantação desses usos e integração com o território, foram obervadas algumas diretrizes do entorno que nortearam a disposição desses blocos e estratégias adotadas. (Figura 80)

96

•Pesquisa, com enfoque nos profissionais que buscam cada vez mais se aperfeiçoar e contribuir para o avanço da técnica em madeia usinada no país. Disponibilizando laboratórios de pesquisa e espaço para coworking, oferencendo apoio e a possibilidade para trabalhos em conjunto e troca de conhecimento.


ASPECTOS DO TERRENO E ENTORNO IMEDIADO

RUÍDOS LINHA DO TREM FLUXO DE TRÂNSITO RÁPIDO FLUXO DE TRÂNSITO MAIS LENTO FALTA DE ILUMINAÇÃO EMBAIXO DO VIADUTO

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ESTRATÉGIAS

ÁRVORES DE GRANDE PORTE DO TERRENO


DISPOSIÇÃO PROPOSTA DOS BLOCOS

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SQ

UIS

A

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C

A

BI

EC

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INTEGRAÇÃO COM O BAIXIO DO VIADUTO ACESSOS PRINCIPAIS

Figura 80 - Estratégias adotadas Fonte: Produção da autora

ESTRATÉGIAS

EN

98

S.

C NI



PROPOSTA PROJETUAL

O projeto do Centro de Tecnologia e Pesquisa em Madeira partiu então das diretrizes observadas e conceitos definidos na fase de estudo como vistos anteriormente. Desse modo a intervenção se formou tanto no lote escolhido, quanto no baixio do viaduto Antártica.

O bloco de que interliga os usos da edificação e o programa que acontece no viaduto, é o da biblioteca que também se destaca. No térreo o bloco fica suspenso e cria uma grande praça coberta voltada para o baixio. Figura 81 - Perspectiva Centro de Tecnologias e Pesquisa em Madeira Fonte: Produção da autora

100

Afim de integrar esses espaços (viaduto e lote) foi proposto uma larga lombofaixa de pedestres na Rua Pedro Machado, possibilitando a continuidade do caminhar entre ambos e não que não interfire no fluxo de transporte já existente de ônibus.

PROPOSTA PROJETUAL

No baixio, foram propostos usos de qualificação do espaço e programas relacionados à madeira e voltados para a comunidade local. No lote, foram dispostos os três blocos focados nos usos de ensino, cultura e pesquisa; que se interligam ao longo dos seis pavimentos existentes no qual o acesso se torna cada vez mais controlado.


101 PROPOSTA PROJETUAL

2

1 7

4

3 5

1

7

6


1- PRAÇA COBERTA 2- RECEPÇÃO 3- ÁREA EXPOSITIVA 4- CAFÉ 5- RECINTO 6- RECEPÇÃO PESQUISA 7- ESCRITÓRIO 8- LABORATÓRIO DE

IMPLANTAÇÃO TÉRREO

PROPOSTA PROJETUAL

USINAGEM

102

8



0

5

10

25

50m

CORTE AA


A

5

4 3

2 1

MO

T

105

PROPOSTA PROJETUAL

ML

B- Baixio do Viaduto Antártica MO- Módulo com Oficina Cultural e ML- Módulo com Livraria T- Área Expositiva/ Café/ Praça Coberta/ Laboratório de Pesquisa 1- Auditório/ Área workshops/ Biblioteca/ Laboratórios 2- Coworking/ Biblioteca/ Laboratórios

3- Área de convivência/ Laboratórios 4- Ensino técnico/ Administração 5- Ensino técnico/ Administração A- Ático

B


Os três blocos recebem espaços de acordo também com a permeabilidade pública. Com espaços de cultura voltados à um acesso mais livre nos primeiros pavimentos, espaços voltados à profissionais e estudantes nos próximos pavimentos e área administrativa do edifício nos últimos. ESTRUTURA

Na estrutura da edificação foram utilizadas diferentes técnicas de acordo com sua melhor capacidade. Ou seja, os pilares e vigas no sistema MLC (Madeira Laminada Colada) e as lajes em CLT (Madeira Laminada Cruzada). Para contribuir no contraventamento da estrutura, as torres de circulação foram propostas em concreto e o bloco da bilioteca recebeu contraventamentos em barras de aço. ACESSOS PRINCIPAIS E ÁREAS DE PERMANÊNCIA

INSOLAÇÃO

106

PROPOSTA PROJETUAL

A partir da configuração e partido adotado dos bolocos, foram criados grandes áreas de permanência. No térreo com acesso livre e na cobertura da biblioteca, como um pátio externo para os estudantes do ensino técnico e profissionais.


107 PROPOSTA PROJETUAL

11

9 10 15

12 13


9- AUDITÓRIO 10- FOYER 11- OFICINA 12- GUARDA-VOLUMES 13- ACERVO 14- SALA DE ESTUDO

PLANTA 1º PAVIMENTO

PROPOSTA PROJETUAL

15- LABORATÓRIO

108

14


No corte BB, é possível ver a interligação entre os blocos e a relação com o entorno, especialmente no térreo. O ritmo estrutural causado pelas estratégia logística adotada, se torna mais fluído no térreo devido à escolha de pilares em V. Permitindo um recinto mais livre e com maior permeabilidade visual para o baixio do viaduto, o que integra todo o projeto. Outro ritmo interessante visto é do contraventamento em aço na fachada da bilioteca. O travamento entre

as modulações de 6x6m é feito nos dois pavimentos. O vazio entre esses pavimentos, fica voltado para a fachada que recebe o elemento vazado devido a proteção solar e acústiva. De tal maneira, que a vista mais ampla entre os dois níveis se dá para o baixo do viaduto. Nesse vazio então, foram dispostas áreas de leitura e estudo, que se benificiam da iluminação natural e da vista.


110 CORTE BB


111 PROPOSTA PROJETUAL

17 20

16 18


20

16- COWORKING 17- SALA DE

20

DESCOMPRESSÃO/COPA 18- ACERVO BIBLIOTECA 19- SALA DE ESTUDO

PLANTA 2º PAVIMENTO

PROPOSTA PROJETUAL

20- LABORATÓRIOS

112

19


113 PROPOSTA PROJETUAL

22 22

21

23 25

2 2

2

25 2


25

22- ÁREA DE ESTUDO 23- PÁTIO EXTERNO 24- LAB. DE INFORMÁTICA 25- LAB. DE PESQUISA

PLANTA 3º PAVIMENTO

PROPOSTA PROJETUAL

24

21- REFEITÓRIO

114

24 24


PROPOSTA PROJETUAL

115


116 PROPOSTA PROJETUAL Figura 82 - Perspectiva pátio externo Fonte: Produção da autora


117 PROPOSTA PROJETUAL

28

26 27


26- SALA DE AULA 27- ADMINISTRAÇÃO

118

PLANTA 4º PAVIMENTO

PROPOSTA PROJETUAL

28- COPA


PROPOSTA PROJETUAL

119

Figura 83 - Perspectiva corredor 4º pav. Fonte: Produção da autora


PROPOSTA PROJETUAL

120

Figura 84 - Perspectiva área administrativa Fonte: Produção da autora


29

29

PLANTA 6ยบ PAV. - ร TICO

121

PROPOSTA PROJETUAL

26

27


26- SALA DE AULA 27- ADMINISTRAÇÃO

122

PLANTA 5º PAVIMENTO

PROPOSTA PROJETUAL

29- REVERVATÓRIO


123 PROPOSTA PROJETUAL

32

33 31 30 29


29- REVERVATÓRIO 30 – SALA DE MEDIÇÃO 31- GERADOR 32- DEPÓSITO

124

PLANTA SUBSOLO

PROPOSTA PROJETUAL

33- ESTACIONAMENTO


PROPOSTA PROJETUAL

125


PROPOSTA PROJETUAL

126


127

PROPOSTA PROJETUAL

POUCA TRANSPARÊNCIA

A composição da fachada foi feita a partir de modulações entre a mudulação estrutural, que poderia oferecer diferentes configuraões conforme o uso e necessidade de transparência do espaço.

MUITA TRANSPARÊNCIA

SEM TRANSPARÊNCIA

Dessa maneira, o bloco da biblioteca recebe destaque com o elemento vertical em madeira. Evidenciando ainda mais o percurso e integração com o baixio do viaduto.


0 5 10

25

50m

0 5 10

25

50m

VISTA 2

128

PROPOSTA PROJETUAL

VISTA 1


DET. 1 - LAJE ENTRE PISOS

CORTE CC 0

1,5

2,5

5m

DET. 2 - COBERTURA PISÁVEL


DET. 3 - CONEXÃO ENTRE BASE DE CONCRETO E PILAR DE MADEIRA

1-VIGA MLC h=55cm | 2- ARREMATE EM MADEIRA | 3- LAJE CLT h=12cm | 4-MANTA DE IMPERMEABILIZAÇÃO | 5- REGULARIZAÇÃO | 6- ESPAÇADORES METÁLICOS | 7- PISO LAMINADO MELAMÍNICO | 8- VEDAÇÃO COM PAINEL OSB e=15cm | 9- PILAR MC (50cmx50cm) | 10- DRENAGEM | 11- SUBSTRATO | 12- VEGETAÇÃO | 13- BARROTE (5cmx8cm) | 14- NEOPRENE | 15- DECK DE MADEIRA | 16- VIDRO DUPLO LAMINADO |

17-

BRISE VERTICAL COM ENCAIXE DE MADEIRA


DIRETRIZES BAIXIO DO VIADUTO ANTÁRTICA

A intervenção no viaduto Antártica foi um dos principais objetivos do projeto. Para isso foram analisadas algumas diretrizes importantes para a qualificação do espaço. De tal maneira que, a integração com o lote e os blocos de Centro de tecnologia e pesquisa fosse mais permeável;

INTEGRAÇÃO

A intervenção ofereça mais luz e não obstrua no pouco de iluminação natural já existente; Leve movimento, ou seja aumente o fluxo de pessoas;

ILUMINAÇÃO

131

PROPOSTA PROJETUAL

Ofereça equipamentos públicos de lazer e permanência, que também atrai o movimento desejado. MOVIMENTO

Então a passarela e módulos supensos foram propostos, permitindo a permeabilidade visual e integração com o lote a partir da lombofaixa.

EQUIPAMENTO PÚBLICO


VISTA 3 0

5

10

25

50m

0

5

10

25

50m

132

PROPOSTA PROJETUAL

VISTA 4

CORTE DD


133 PROPOSTA PROJETUAL

35 34


No térreo, os espaços criados entre os pilares do viaduto ficam livres e recebem áreas de permanência com equipamentos como bancos e mesas em alguns espaços e mesas de jogos em outros espaços, além de bicicletários. O acesso para a passarela se dá de três modos. Um elevador, que é mais direto e um acesso para portadores de necessidades especiais; uma uma escada linear; e uma escada feita em diferentes níveis que cria também outros recintos e a possibilidade de um “palco” para um anfiteatro aberto.

34- OFICINA PÚBLICA 35- LIVRARIA/ CAFÉ

134

PLANTA SUBSOLO

PROPOSTA PROJETUAL

Os blocos na passarela foram dispostos de tal maneira que o café/livraria fica mais próximo da Av. Francisco Matarazzo, atraindo o fluxo de pessoas e o bloco de oficinas mais próximo dos usos do edifício.



CORTE CC 0

5

10

25

50m


Com o intuito de manter e explorar a linguagem da madeira, a passarela e blocos do baixio foram também propostos utilizando o sistema de madeira usinada. Dessa forma, os painéis e vigas são de madeira, entretanto pelas questões de capacidade estrutural, foram utilizados tirantes de aço que permitiu o térreo livre e claro as conexões metálicas que são

de extrema importância no sistema construtivo em madeira.

PARAFUSO AUTOPERFURANTE

Também outra questão abordada foi o percurso da passarela ao longo do viaduto, para isso foram feitos furos na área mais estável dos pilares do viaduto. Por questões estruturais, os furos recebem as chapas de aço que estabilizam essas aberturas.

137

PROPOSTA PROJETUAL

VIGA MLC

MÓDULOS SUSPENSOS ATIRANTADOS

FUROS COM CHAPAS METÁLICAS


TIRANTE

3m

CHAPA DE AÇO

LEGENDA 1- LAJE CLT | 2- VIGA MLC TRANSVERSAL | 3- VIGA MLC LONGITUDINAL

PROPOSTA PROJETUAL

CONEXÃO METÁLICA

6- TIRANTE EM AÇO | 7- SUPORTE PARA FIXAÇÃO DO TIRANTE

138

4- CHAPA DE AÇO PARA FIXAÇÃO DO TIRANTE | 5- PAINEL CLT PARA VEDAÇÃO


PROPOSTA PROJETUAL

139

Figura 85 - Perspectiva da passarela no baixio do viaduto Fonte: Produção da autora


PROPOSTA PROJETUAL

140

Figura 86 - Perspectiva baixio do viaduto Antártica Fonte: Produção da autora



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o presente trabalho foi possível concluir, a partir de todas as pesquisas realizadas durante o ano, que a preocupação com o futuro dos recursos naturais tem gerado grandes avanços em questões técnicas e sociais. A madeira então foi compreendida como uma solução a respeito das construções visando uma alta capacidade construtiva e presente na cultura das civilizações.

A proposta do Centro de Tecnologia e Pesquisa em Madeira permitiu por em prática diversas posturas arquitetônicas com o material, que abordou estratégias técnicas e sociais nos espaços públicos, de uma maneira mais leve. Ou seja, reconhecendo um papel social e ambiental, no qual a partir de novas tecnologias, podemos contribuir para um futuro mais equilibrado.

142

Então, visando a compreensão e potencialidade da tecnologia em madeira, este trabalho abordou questões construtivas sobre o material e sua linguagem no cenário brasileiro, que a partir dos estudos de caso, foi desenvolvido o projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos estudos com obras realizadas e uma compreensão da história do material no Brasil, compreende-se que a tecnologia da “madeira engenheirada” tem se impulsionado nas últimas décadas e se destacado no cenário da arquitetura contemporânea no país. Portanto, é provável que o material irá se difundir ainda mais, conforme a tecnologia tenha mais credibilidade e segurança para atrair investidores.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFLALO, Marcelo et al (Org.). Madeira como estrutura: a história da Ita: Wood as structure: the story of Ita. Brasil: Paralaxe, 2005. 152 p. Disponível em: <http:// www.editoraparalaxe.com.br/ita.html>. Acesso em: 17 maio 2019.

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144

BRASÍLIA DF. Gerência Executiva de Informações Florestais. Gerência Executiva de Informações Florestais (org.). Boletim Snif 2018. Brasília: Serviço Florestal Brasileiro, 2018. 33 p. Disponível em: http://www.florestal.gov.br/documentos/ publicacoes/4092-boletim-snif-2018-ed1/file. Acesso em: 03 abr. 2020.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO NÚCLEO DA MADEIRA (São Paulo). Núcleo da Madeira. 2018. Disponível em: <https://nucleodamadeira.com.br/>. Acesso em: 24 maio 2019. BRASIL. World Wide Fund For Nature. Organização Não Governamental (Org.). O que é desenvolvimento sustentável? Disponível em: <https://www.wwf.org. br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/>. Acesso em: 03 out. 2019.


DETAIL: Review of Architecture and Construction Details - Timber Construction. Munique, Alemanha: Detail, 2014. Mensal. DIAS, Alan. Como a madeira vai se transformar no principal material de construção de edifícios de múltiplos andares. São Paulo: -, 2018. 176 p. Disponível em: <https://issuu.com/alandias/docs/ ebookcarpinteria>. Acesso em: 20 maio 2019. FRANCO, José Tomás; SOUZA, Eduardo; BRASIL, Archdaily (Org.). A Madeira Laminada Cruzada (CLT) é o concreto do futuro? 2019. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/893433/ madeira-laminada-cruzada-o-que-e-e-como-utiliza-la>. Acesso em: 15 ago. 2019. HERZOG, Thomas. Timber construction manual. Basel: Birkhäuser, 2008. 375 p. ISBN 9783764370251

145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ROSEMBAUM. Fundação Bradesco Canuanã. Disponível em: http://rosenbaum.com.br/projetos/ fundacaobradescocanuana/sobre-o-projeto/. Acesso em: 24 mar. 2020. SHIGUE, Erich Kazuo. Difusão da Construção em Madeira no Brasil: agentes, ações e produtos. 2018. 250 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2018. Disponível em: https://www.teses.usp. br/teses/disponiveis/102/102131/tde-03092018-094051/publico/DissCorrigidaErichKazuoShigue. pdf. Acesso em: 05 abr. 2020. SOUZA, Eduardo; BRASIL, Archdaily (Org.). Madeira Laminada Cruzada: o que é e como utilizá-la. 2018. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/893433/madeira-laminada-cruzada-o-quee-e-como-utiliza-la>. Acesso em: 25 ago. 2019.

STUDIO MK27 (org.). Micasa Vol.c. Disponível em: http://studiomk27.com.br/wordpress/p/micasavol-c/. Acesso em: 24 mar. 2020.

146

STUDIO MK27 (org.). Catuçaba_casa. Disponível em: http://studiomk27.com.br/wordpress/p/casacatucaba/. Acesso em: 24 mar. 2020.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOUZA JUNIOR, Hélio Olga de; FERNANDES, Daniel Salvatore. WOODEN STRUCTURES IN BRAZIL: PRESENT SITUATIONAND PERSPECTIVES. Quebec, Canadá: World Conference on Timber Engineering, 2014.



ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Reflorestamento sustentável...............................................................09 Figura 2 – Peça MCL............................................................................................15 Figura 3 – Sistema MLC........................................................................................15 Figura 4 – Construção com vigas e pilares MLC..................................................16 Figura 5 – Painel CLT............................................................................................17 Figura 6 – Sistema CLT.........................................................................................17 Figura 7 – Construção com painéis CLT..............................................................18 Figura 8 – Mapa de florestas do Brasil.................................................................19 Figura 9 – Área de floresta plantada por estado

Figura 11 – Casa Catuçaba..................................................................................27 Figura 12 – Abertura dos dormitórios para o deck de madeira reflorestada com vista para a paisagem...........................................30 Figura 13 – Muro lateral feito em taipa com terra local........................................31 Figura 14 – Planta baixa Casa Catuçaba...............................................................32

148

Figura 10 – Tipologias construtivas de edificações indígenas...............................22

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

no Brasil em 2017.................................................................................................21


Figura 15 – Esquema estrutural.......................................................................................................33 Figura 16 – Pilares embutidos no muro de taipa.............................................................................33 Figura 17 – Materiais utilizados no projeto......................................................................................35 Figura 18 – Estudo de insolação........................................................................................................36 Figura 19 – Ventilação cruzada........................................................................................................36 Figura 20 – Vista aérea da obra........................................................................................................37 Figura 21 – Micasa Vol. C.................................................................................................................39 Figura 22 – Vista interna Micasa Vol. C............................................................................................41 Figura 23 – Planta baixa Micasa Vol.C..............................................................................................42 Figura 24 – Elevação Micasa Vol. C.................................................................................................42 Figura 25 – Interior da obra evidencia a estrutura em madeira..........................................................43 Figura 26 – Entrada do pavilhão à noite...........................................................................................43 Figura 27 – Sombra das árvores na fachada...................................................................................44 Figura 28 – “Luminária japonesa” à noite.........................................................................................44

149

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 29 – Diagramas conceituais Micasa Vol. C...........................................................................45 Figura 30 – Detalhes construtivos.....................................................................................................46 Figura 31 – Canteiro de obra Micasa Vol. C.....................................................................................47 Figura 32 – Moradias Infantis...........................................................................................................49 Figura 33 – Vista externa do projeto.................................................................................................51 Figura 34 – Implantação da Fundação Bradesco, com destaque para as Moradias Infantis............52


Figura 35 – Pátio coberto e pátio externo evidenciando o monocromatismo...................................53 Figura 36 – Planta pavimento térreo..................................................................................................54 Figura 37 – Planta pavimento superior.............................................................................................54 Figura 38 – Planta de cobertura........................................................................................................55 Figura 39 – Perspectiva explodida Moradias Infantis.......................................................................56 Figura 40 – Ritmo criado pela modulção estrutural..........................................................................56 Figura 41 – Montagem do sistema estrutural....................................................................................58 Figura 42 – Casa Catuçaba...............................................................................................................62 Figura 43 – Micasa Vol.C..................................................................................................................62 Figura 44 – Moradias Infantis............................................................................................................62 Figura 45 – Stand Armazém Marton 2018........................................................................................67 Figura 46 – Stand Armazém Marton 2019........................................................................................67 Figura 47 – Interior do stand 2019...................................................................................................68 Figura 48 – Estrutura em MLC..........................................................................................................69

Figura 51 – Grupo de visita realizado pela Rewood.........................................................................71 Figura 52 – Madeiras serradas..........................................................................................................73 Figura 53 – Caçamba com descarte produzido...............................................................................74 Figura 54 – Fresa “Finger Joins”........................................................................................................74

150

Figura 50 – Pórtico estrutural...........................................................................................................70

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 49 – Conexões metalicas.......................................................................................................69


Figura 55 – Peça com encaixe ¨Finger Joins”..................................................................................74 Figura 56 – Prensa hidráulica...........................................................................................................75 Figura 57 – Prensa de chão..............................................................................................................76 Figura 58 – Peças com curvatura......................................................................................................76 Figura 59 – Peças com adesivo.........................................................................................................76 Figura 60 – Peças aguardando secagem do adesivo.....................................................................77 Figura 61 – Peças preparados após planificação............................................................................77 Figura 62 – Peça com borracha líquida...........................................................................................77 Figura 63 – Diagrama: Processo de fabricação MCL.......................................................................77 Figura 64 – Vista aérea da obra.......................................................................................................79 Figura 65 – Conexão pilar e viga.....................................................................................................80 Figura 66 – Detalhe da conexão metálica entre pilares...................................................................80 Figura 67 – Grupo de visitantes do Mackenzie (Milene, Lucas, Jessika, Érica e Erika)..................81 Figura 68 – Vista em cima do viaduto Antártica para o terrreno......................................................85

151

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 69 – Mapa de localização do terreno escolhido.....................................................................86 Figura 70 – Potencialidades e área de intervenção.........................................................................87 Figura 71 – Percurso: Terminal Barra Funda à Avenida Francisco Matarazzo..................................88 Figura 72 – Avenida Auro Soares de Moura......................................................................................89 Figura 73 – Situação do lote ao longo dos anos: 2005 | 2008 | 2016 | 2019....................................90 Figura 74 – Vista do viaduto para o terreno.......................................................................................91


Figura 75 – Árvore de grande porte existente................................................................................91 Figura 76 – Gradil do lote atualmente...............................................................................................92 Figura 77 – Diagrama: madeira na construção civil.........................................................................93 Figura 78 – Diagrama: madeira usinada..........................................................................................93 Figura 79 – Diagrama: diretrizes adotadas......................................................................................95 Figura 80 – Estratégias adotadas....................................................................................................98 Figura 81 – Perspectiva Centro de Tecnologia e Pesquisa em madeira..........................................99 Figura 82 – Perspectiva pátio externo...........................................................................................116 Figura 83 – Perspectiva corredor 4º pav.......................................................................................119 Figura 84 – Perspectiva área administrativa..............................................................................120 Figura 85 – Perspectiva da passarela no baixio do viaduto.......................................................139

152

ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Figura 86 – Perspectiva baixio do viaduto Antártica....................................................................140





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