ROBERT BROWNJOHN
Robert Brownjohn - análise do genérico From Russia with Love. Design de Comunicação|1ºano, 1ºsemestre Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa| 2008/09 Códigos e Linguagens| Docente: Prof. Susana Parreira Trabalho realizado por: Daniela Pretorius, nº4770 Filipa Borges, nº4772 Filipa Ferreira,nº4771 Raquel Silva, nº4793
Introdução|1
Introdução Após uma pesquisa dos vários autores fornecidos pela docente, na proposta de trabalho, escolhemos o designer Robert Brownjohn. Do seu vasto leque de trabalho, interessou-nos em particular os genéricos que desenvolveu. Este foi responsável por dois dos primeiros genéricos dos famosos filmes de 007. A nossa escolha recaiu sobre o primeiro genérico que Brownjohn realizou: 007- From Russia with Love. Brownjohn conseguiu, através de um conceito simples e bem executado, ser o pioneiro da conjugação da sensua-
lidade com a comunicação, revolucionando toda a cultura James Bond. Optámos por introduzir a sua biografia, com o principal objectivo de contextualizar a época em que o genérico foi desenvolvido. Para a análise do trabalho, recorrendo aos processos da semiose, recaímos principalmente sobre as teorias de Charles Peirce e Roland Barthes. “The reading of signs is a part of the creative process” Charles Peirce
Robert Brownjohn|Índice
Índice Introdução|1 Biografia|2 007 - O Filme|5 From Russia with Love|6 Análise do Genérico|7 Conclusão|12 Bibliografia|13
Robert Brownjohn Biografia|2
era industrial”. Os seus ensinamentos inspiraram o seu aluno, Brownjohn, pois Moholy-Nagy reforçava a necessidade de libertar o design moderno do comércio, colocando-o num patamar acima; reforçando objectivos sociais e espirituais superiores.
Robert Brownjohn Robert Brownjohn (BJ) nasce em Newark, New Jersey EUA, em 1925. Filho de um motorista de autocarros inglês, Herbert Brownjohn, e da sua mulher Anna. Os seus talentos artísticos foram encorajados por um professor do liceu e consegue, em 1944, um lugar no Instituto de Design de Chicago (originalmente conhecida como a Nova Bauhaus, uma versão modernizada da antiga escola Alemã). Tornou-se aprendiz do fundador da escola, Moholy-Nagy, também comhecido como um dos antigos mestres da Bauhaus. No entanto, os objectivos do instituto evoluiu: “passou de recriar o artesão clássico para integrá-lo na
Era importante que os seus alunos fossem interessados com tudo à sua volta, por isso, organizou aulas sobre matemática, ciência, filosofia, literatura bem como arte, cinema e design. Durante todo o percurso de Brownjohn são claras as influências do seu professor no seu trabalho. Após a morte do seu mentor em 1946, Brownjohn formou um forte laço com o sucessor de Moholy-Nagy, o arquitecto Serge Chermayeff que o nomeou professor assitente. Durante o seu tempo como professor foi realizando trabalhos como freelancer na área do Design e na área de arquitectura no Chicago Planning Commission. Em 1950 muda-se para Nova Iorque, onde estabelece amizade com vários músicos, especialmente de jazz, como Miles Davis e Charlie Parker. A música era bastante importante na vida de Brownjohn, por isso, vários objectos de
3|Biografia Robert Brownjohn
design criados por ele eram inspirados ou tinham ligação com a música. É, portanto, nesta altura, que Brownjohn vive uma vida social bastante ocupada, passando o seu tempo em clubes de Jazz e no abuso de substâncias, conhecendo várias pessoas de áreas diferentes e bem conhecidas, como o artista Andy Warhol. Em 1953, trabalha algum tempo no Bob Cato Associates e ensina na Pratt Institute, enquanto realiza alguns projectos freelance para a Columbia Records, The American Crafts Museum e a Pepsi-cola. A vida agitada de Brownjohn só acalma quando se casa com Donna Walters em 1956, com quem tem uma filha Eliza.
Obsession and Fantasy, 1963 Cartaz para Robert Fraser Gallery, London
Forma uma equipa com Ivan Chermayeff e Tom Geismar, fundam a BCG. Conhecidos pelo seu Design mais informal, realizaram vários projectos para empresas, incluindo a Pepsi-Cola Company. Eles conjugaram os seus trabalhos comerciais com alguns projectos de design exprimental, tal como Watching Words Move, uma série de brincadeiras tipográficas inspirado em momentos de silêncio no estúdio em que jogavam com piadas visuais criadas por palavras e símbolos. O seu uso de drogas, levou a
que a companhia se disfizesse em 1959. Mudou-se para Londres em 1960, com a família, com esperanças que a mentalidade mais liberal londrina dos anos 60, aceitasse melhor o uso de drogas. Londres passa por uma mudança chocante nesta década. Um historiador Francês J.M.Berthelot afirma que “o corpo antes visto como meramente funcional, programado para as rotinas industriais passa a ser algo multifuncional e espontâneo, consequência de um grande crescimento económico e maior tempo de lazer”. O corpo tem um novo conceito de sensualidade e erotismo, enfatizado pelo grupo de artistas e designers londrinos da época. Estes querem libertá-lo, segundo Henry Marcuse, “querem um corpo como instrumento de prazer e não de trabalho”. A utilização do corpo nú com projecção de outra informação sobre o mesmo, foi introduzido por Brownjohn em 1963 com o genérico do flime 007 - From Russia With Love, seguido por Goldfinger em 1964. Esta “técnica” ainda foi explorada por Mark Boyle no Edinburgh Festival, no Suddenly Last Supper, onde projectou slides da Venus de Botticelli
Robert Brownjohn Biografia|4 Watching Words Move, 1959 Experimental typography booklet Brownjohn, Chermayeff & Geismar
sobre o corpo nú de Joan Hills. Em 1963, Brownjohn também cria o cartaz de “Obsession and Fantasy”, onde utiliza a forma dos mamilos de uma modelo para servir de “O”, com o objectivo de erotizar o texto. Durante esta altura da enfatização do erotismo no design, Brownjohn torna-se director criativo na agência de publicidade J. Walter Thompson (1960). Em 1962 vai trabalhar para uma agência rival McCann-Erickson, no mesmo ano em que a sua mulher, Donna, o deixa com a filha e parte para Ibiza.
Peace?, 1969 Cartaz para the New York Peace Campaign.
Mais tarde, em 1965, forma a Cammell, Hudson and Brownjohn com os realizadores David Cammell e Hugh Hudson. Começa a trabalhar numa série de publicidades para cinema de “Money Talks” para o Midland Bank. Três anos depois (1968) faz o design do álbum Let it Bleed dos Rolling Stones. Em 1969, junta-se com David Nagata, realizador JaponêsAmericano, e forma Naga & Brownjohn. Neste ano faz o cartaz da ‘Peace?’. No ano seguinte morre de um ataque cardíaco em Londres, com apenas 45 anos.
Rolling Stones - Let It Bleed, 1969 Capa de álbum Fotografia Don McAllester
5|007 O filme Robert Brownjohn
Sinopse:
James Bond (Sean Connery) enfrenta a malígna organização SPECTRE, numa corrida impressionante para obter o sistema de descodificação soviético, Lektor. A sua missão leva-o por uma perseguição alucinante de barco, um brutal ataque feito por helicóptero e um combate mortal a bordo do Orient Express, provando uma vez mais que o Agente 007 é imparável.
Actores: Sean Connery – James Bond Daniela Bianchi – Tatiana Romanova Pedro Armendáriz - Ali Kerim Bey Lotte Lenya – Rosa Klebb Robert Shaw – Red Grant Bernard Lee – M Lois Maxwell – Miss Moneypenny
Escritores: Ian Fleming (autor do romance) Johanna Harwood (adaptação) Richard Maibaum (guião).
Música:
From Russia With Love
Compositores:
John Barry e Lionel Bart 007 From Russia With Love
Título em Português:
007-Ordem para Matar
Duração: 120 minutos Data de Estreia:
10 de Outubro, 1963 em Londres
Realizador:
Terence Young
Genérico:
Robert Brownjohn, com a assistência de Trevor Bond, excepto a sequência inicial do cano da pistola, que foi criado por Maurice Binder já no primeiro filme da saga Dr. No (1962).
Cantor:
Matt Monroe
Prémios:
Ganhou 2 prémios, e foi nomeado para mais 4 incluindo um Golden Globe.
Robert Brownjohn From Russia with Love|6
luz. Depois disse que ia ser igual só que com uma rapariga bonita. O único problema que surgiu foi a ilegibilidade de algumas palavras, por causa da impossibilidade do projector focar a distâncias diferentes; portanto conseguiram que a dançarina dançasse a uma distância fixa.
From Russia With Love A criação de um genérico
Antes deste genérico Brownjohn nunca tinha trabalhado com imagem em movimento, mas como sempre, consegiu produzir algo directo sem rodeios e com um simples conceito. A ideia da projecção surgiu inspirado numa ideia de Maholy-Nagy, em 1930, que queria projectar publicidade nas nuvens por cima de Londres, em que Brownjohn transformou isto para erotizar o texto pela mulher que dança em corpo semi-nú. Segundo o próprio Brownjohn, ele vendeu a ideia aos produtores escurcendo uma sala; em frente a um projector de slides, tirou a camisola e dançou à frente do freixo de
A escolha de cores complementares para as letras, tais como vermelho, verde, laranja e azul, foi para que o olho público conseguisse destinguir uma linha da outra. Mesmo que a esta escolha fosse reconhecida com design psicadélico dos anos 60, sugere bases mais profundas no Estilo Internacional. Sendo um trabalhador impulsivo, neste trabalho ele teve que estruturar e planear para que resultasse bem. A utilização de som foi importante para amplificar o impacto e poder dos elementos visuais. No entanto, foi só com o genérico de Goldfinger que a ideia de Brownjohn ganhou prémios. Neste, a mulher dá o efeito de uma tela dourada onde se são projectadas imagens do filme, transformando todo o processo em puro erotismo , ligando-o ao filme e à imagem do 007.
7|Análise do Genérico Robert Brownjohn
Análise do Genérico From Russia with Love No genérico do filme 007, From Rússia with Love, Brownjohn representa a sensualidade nos movimentos de uma dançarina e erotiza o texto projectando-o no corpo nú da mesma.
O filme passa-se em grande parte na Turquia, país que ao longo dos tempos deixou de dar tanta importância aos vestuários das mulheres muçulmanas. “Semiosis é a transferência de significado: o acto de significar” Charles Peirce
No genérico está representada uma dançarina do ventre. Esta dança, proveniente da cultura muçulmana era um costume íntimo entre marido e mulher. Nela a mulher tem a sua oportunidade de libertar o seu corpo de preconceitos e de regras rígidas de vestuário, e com os seus movimentos sensuais despertava o interesse sexual do seu marido.
8|Análise do Genérico Robert Brownjohn
“A sign is something which stands to somebody for something in some respect or capacity. It addresses somebody, that is, creates in the mind of that person a equivalent sign, or perhaps a more developed sign. The sign which it creates I call the interpretant of the sign. The sign stands for something, its object.” Charles Peirce
A procura deste ícone para protagonizar a abertura de um filme de James Bond é uma directa reflecção da sociedade da altura. Nos anos 60, em Londres, o erotismo e a libertação do corpo eram temas fulcrais, e muito explorados por artistas plásticos, músicos, designers, etc...
A iconicidade de algo tão exótico e místico, como uma dançarina do ventre transformou-se naquilo que poderia “gritar sexo” e ser puro erotismo. Segundo os estudos de Charles Peirce, podemos enquadrar a dançarina, em termos de classificação de signos, um ícone, pois tem uma relação directa com aquilo que representa.
9|Análise do Genérico Robert Brownjohn
Seguindo a teoria de Peirce, podemos estabelecer três níveis de prioridade no signo:
Primeiridade:
Está associada a sentimentos e é a primeira sensação que temos das coisas, aquilo a que chamamos de ‘feelings’. A primeira impressão que retemos do genérico é música a sensual; dançarina do ventre; corpo com letras projectadas e uma certa atracção com a riqueza de cores e movimento.
Segundidade:
Refere-se à relação que há entre os fenómenos da primeiridade, o que requer uma análise directa dos mesmos. A música e a dançarina são elementos inseparáveis, sem ela a dançarina perde o seu impacto sensual, e vice-versa. Uma completa a outra, tendo de certa forma uma relação de dependência.
As letras que nela são projectadas, têm uma tipografia robusta e bem legível sem chocar o espectador. Estas ajudam a salientar a forma do seu corpo, com cores complementares, com o objectivo de o interlocutor conseguir identificar facilmente cada palavra, sem saltar linhas e sem se confundir com o fundo.
10|Análise do Genérico Robert Brownjohn
Terceiridade:
É a interpretação aprofundada sobre a inter-relação entre os fenómenos, dado na segundidade, com base no conhecimento que temos adquirido e na forma como interpretamos o mundo. Uma dançarina semi-nua com movimentos sensuais capta a atenção do público, do início da década de 60, algo fora do comum.
Os movimentos escolhidos de certas partes do corpo, enquadrados com algum cuidado, remetem-nos para o erotismo e sexualidade. Toda a composição apresentada está em directa ligação com a cultura oriental: o vestuário e a dança, que nos remetem para algo exótico, estimula a curiosidade pelo desconhecido.
A pouca luz projectada cria um ambiente escuro e quente, acentuando as curvas do corpo da mulher, traduzindo intimidade. Em contraste, a tipografia bem delineada transmite frieza e claridade, para melhor se sobressair do fundo.
11|Análise do Genérico Robert Brownjohn
Roland Barther desenvolveu nos anos 60, a ideia de que o leitor se relaciona directamente com o conteúdo e que uma ciência dos sinais tem de ser mais do que a construção das palavras e as suas representações. Segundo ele, há dois níveis de interpretação: a denotação e a conotação. A primeira é a descrição objectiva daquilo que precep-
cionamos e a segunda a interpertação ou a atribuição de significado, porém ambos são inseparáveis. A partir de elementos concretos (denotativos) a mente contrói novas realidades, e o modo como o fazemos é marcado por um conjunto de convenções, baseados nos nossos valores, cultura, experiência e sentimentos, que aplicamos à descodifi-
cação de cada imagem. A conotação é a interpretação e a reacção do espectador quando entra em contacto com o objecto. A nível da denotação temos uma bailarina a dançar com títulos projectados no seu corpo; A nível conotativo são transmitidas sensações de erotismo e sensualidade.
Conclusão|12
Conclusão Para a análise do objecto gráfico escolhido, utilizámos os processos de semiose para a compreensão e subsequente produção de significado. Percebemos que naquela altura conseguiam produzir grandes trabalhos com poucas possibilidades técnicas, de uma forma simples, e provavelmente mais eficaz. A capacidade criativa não era tão dependente das ferramentas tecnológicas, podendo muitas vezes resultar de pequenas brincadeiras, com alguma qualidade gráfica, como Watching Words Move e
até a criação do genérico analisado, às quais actualmente damos pouca importância. Existem vários pontos de vista e níveis de interpretação quando somos colocados perante qualquer objecto gráfico (imagem, vídeo, etc). De acordo com vários aspectos, como por exemplo localização do espectador, a sua cultura e a sua época histórica, surgem várias interpretações desse mesmo objecto gráfico. Desta forma, podemos concluir que um dos aspectos
mais importantes a reter de todo o trabalho é a interpretação correcta de um objecto gráfico, interpretando as suas mensagens a nível dos seus signos e padrões simbólicos, através de processos de semiose para podermos perceber e atribuir um significado.
Bibliografia|13
Bibliografia ESKILSON, Stephen J. -Graphic design : a new history; designed by Mues Design. - London : Laurence King, 2007. ISBN 978-1-85669-511-4 MELLOR, David - The sixties : art scene in London. London : Phaidon, 1993. Publicado por ocasião da exposição com o mesmo tít., na Barbican Art Gallery, Londres, 11 Mar.13 Jun. 1993. ISBN 0-7148-2910-2
Recursos Online Design Museum «http://www.designmuseum.org/design/robert-brownjohn» Design Boom «http://www.designboom.com/brownjohn.html Universidade da Beira Interior «http://www.bocc.ubi.pt/pag/fidalgo-antonio-manual-semiotica-2005.pdf» Gernérico «http://www.youtube.com/watch?v=i4pqxiKRElQ»