Aula Magna #00

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Distribuição mensal gratuita janeiro | fevereiro 2011

RJIES

Estudantes longe das decisĂľes

Bandas Estudantis

Fazer da universidade um palco

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editorial #

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A revista Aula Magna é um órgão de imprensa estudantil. Feita por nós e para ser lida por nós, os estudantes. Vem para falar de nós, do que fazemos, do que procuramos, do que nos rodeia. Vem fazer tudo isso por dentro, não como algo que nos é oferecido, mas como algo que nos pertence. Herdeira do espírito estudantil que se bateu pela liberdade de expressão num tempo em que ela não existia, a Aula Magna é um órgão de informação independente, isento e de qualidade. Nada do que é académico nos é indiferente, desde as políticas educativas e pedagógicas, passando pela produção científica e artística, até às festas, tunas e actividades recreativas. Atenta, crítica e fiel aos factos, esta revista é estudante do Norte, do Sul do país e das ilhas, é estudante do ensino universitário como do politécnico, do público como do privado. Este projecto acredita que nos falta a nós, estudantes, sabermos uns dos outros, do que andamos a fazer,

do que se passa à nossa volta, para onde caminha o ensino superior e em que nos vai afectar essa caminhada. Se o reitor decidiu, nós queremos saber. Se o grupo de teatro nasceu, nós queremos divulgar. Se aqueles caloiros que estavam sempre no bar com as guitarras formaram uma banda, nós queremos dizer onde e quando é que eles vão tocar. Queremos ser a revista de tudo o que nos diz respeito e não do que outros acham que nos diz respeito. Juntamos aos nossos projectos-colegas da imprensa estudantil, os recursos profissionais que não existiam, os meios que não estavam ao alcance, a abrangência nacional que não era possível, a colaboração com os professores e funcionários. Assim nos apresentamos, como somos e queremos ser: estudantes em formato de revista. A Aula Magna rege-se pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, respeitando a boa fé dos leitores. É um órgão isento e independente de todas as formas de poder político, económico, religioso e de quaisquer grupos de pressão. Procura sempre a verdade dos factos e a pluralidade das opiniões fundamentadas, separando sempre de forma clara uma e outra coisa. A Aula Magna é um órgão de informação sobre todo o ensino superior, um meio de propagação de ideias e de correntes de pensamento, um espaço de debate e reflexão livre, responsável e civilizado. A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num sistema redactorial comunitário e aberto à participação de todos. A Aula Magna é um meio de dinamização e de divulgação do trabalho dos estudantes do ensino superior que aposta num sistema redactorial comunitário e aberto à participação de todos. A Aula Magna é um projecto de imprensa estudantil herdeiro da tradição académica e de associativismo estudantil, sempre defensora dos princípios da liberdade de expressão, da democracia, do respeito pelos direitos humanos, da igualdade social e da universalidade do ensino superior. A Aula Magna pugna pela ideia de Universidade (de onde não se exclui o ensino politécnico) enquanto centro de criação, transmissão e difusão de cultura e ciência de um país.

ÍNDICE ANFiteatro

06 | Os efeitos da rijes: estudantes longe das decisões 09 | opinão: abaixo assinado - Virgílio A. P. Machado

laboratório

10 | Bandas estudantis: fazer da universidade um palco 12 | regresso às aulas: ricardo araújo pereira

Pátio

18 | festas 19 | desporto

bar

20 | fotografia: filipa borges 21 | Pandora: discurso sobre servidão voluntária 28 | Poema: direito a votar


Agenda Direcção Luís Oeiras Fernandes Consultores de Edição Anick Bilreiro Filipe Pedro Luís Ricardo Duarte Consultor de Fotografia José Miguel Soares DESIGN GrÁFICO DANIELA PRETORIUS (FBAUL) FILIPA BORGES (FBAUL) Consultores de Internet Abílio Santos Jorge Martins Escrevem Frederico Pedreira Golgona Anghel (FLUL) João Pedro Barros Luís Ricardo Duarte Virgílio A. P. Machado (FCT UNL) Imagens Filipe Mateus João Fazenda José Miguel Soares Diogo Santos Banda desenhada Projecto Pandora Box Álvaro Áspera (edição, texto e guião) Ana Afonso (desenho e cor da primeira página) Filipe Alves (desenhos e cor Joana Hartmann (legendagem) Agradecimentos Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Prof. Doutor Aurelindo Ceia Prof. Doutor Emílio Vilar AEESD IPL AEESM IPL AEESTC IPL AEESTS IPL AEFBAUL AEFFUL AEFPCEUL AAMDL Editor e redacção Magna Estudantil – Publicaçõexas S.A. Avenida Visconde Valmor, n.º 41 -2.º Esq. 1050-237 Lisboa Tel. 21 780 02 80 Fax. 21 780 08 82 www.aulamagna.pt NIPC 508642558 Conselho de administração Luís Oeiras Fernandes Miguel Tapada Vanda Matias Fernandes Este projecto beneficia do apoio do programa Finicia e é participado pela Inovcapital. Impressão Lisgráfica Rua Consiglieri Pedroso, n.º90, Casal de Sta. Leopoldina Barcarena Periodicidade Mensal Tiragem 60 mil exemplares Iniciado o processo de inscrição na APCT As informações para a agenda devem ser enviadas através de www.aulamagna.pt

Aveiro 19.NOV// Improvisação oficina por Mário Laginha DECA da U-Aveiro Campus Universitário de Santiago 234 37 03 89 http://www.ua.pt/ca/ 21.NOV// Concerto Encerramento dos Festivais de Outono Orquestra Filarmonia das Beiras, Coro e Orquestras do DECA da U-Aveiro (Elsa Silva, piano e Luís Carvalho, direcção) às 21h30 Teatro Aveirense, Rua Belém do Pará 234 400 920 http://www.teatroaveirense.pt/ 24-29.NOV// Semana aberta ciência e tecnologia da U.Aveiro.2008 A Universidade de Aveiro apresenta palestras, aulas, sessões de esclarecimento, de cinema, exposições e outros eventos sobre ciênciae tecnologia. Para estudantes, professores e público em geral. das 9h00 às 18h00 Reitoria da Universidade de Aveiro, Campus Universitário de Santiago 234 37 06 06 http://www.ua.pt/

COIMBRA 27+28.NOV// Colóquio internacional Desafios aos direitos humanos e à justiça global Na comemoração dos seus 30 anos, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra organiza um colóquio internacional sobredireitos humanos e justiça global. das 9h30 às 18h30 Coimbra Auditório da Reitoria da U-Coimbra Paço das Escolas | 239 859 800 http://www.ces.uc.pt direitoshumanoscoloquio/

Évora 19+20+21.NOV//II Congresso Nacional de Educação para a Saúde Conferência Alimentação Saudável: Desafios Alcançáveis, de Isabel do Carmo, directora do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital de Santa Maria (CHLN) Conferência Drogas ou Vida: Uma Opção Decisiva, de João Goulão, presidente do Conselho Directivo do Instituto da Droga e da Toxicodependência Conferência Educação Sexual na Actualidade: Perspectivas e Caminhos, de Marta Reis Conferência Promoção e Educação para a Saúde, de José Robalo, sub-director geral da Direcção-Geral de Saúde Conferência Violência(s) em Meio Escolar, de Pedro Strech Conferência de encerramento, de Filomena Araújo, vereadora da Câmara Municipal de Évora. das 9h00 às 18h00 Auditório da Reitoria da U-Évora Largo dos Colegiais 266 740 800 http://www.ciep.uevora.pt/eps/

FARO 27+28+29.NOV//VIII Congresso dos monumentos militares das 9h00 às 18h00 Reitoria da Universidade de Faro Campus de Gambelas | 289 800 100 http://congressoamigosdoscastelos.org.pt/

LISBOA 19.NOV//DEBATES DO CICLO SERÕES DA JUSTIÇA DO ISG Justiça e a Questão Penitenciária Com Anabela Miranda Rodrigues (Centro de Estudos Judiciários), Conceição Gomes (Observatório Permanente da Justiça Portuguesa) e Nuno Caiado (Direcção Geral de Reinserção Social) das 18h30 às 21h30 ISG - Escola de Gestão Rua Vitorino Nemésio n.º5 21 751 37 00 http://www.isg.pt/ 20+21.NOV// JETC08 - Jornadas de Engenharia de Electrónica e Telecomunicações e de Computadores Organizadas de três em três anos, as JETC incluem conferências, concursos, oficinas (workshops) e outras iniciativas. das 9h00 às 18h00 Aula Magna da U-Lisboa Alameda da Universidade | 21 011 34 00 http://www.ul.pt/ 29.NOV// Mercury Rev Concerto de apresentação do álbum Snowflake Midnight 22h00 F-Letras da U-Lisboa Alameda da Universidade, Sala 67 | 21 792 00 86 http://www.fl.ul.pt/centros_invst/teatro pagina/ poeticas_rock.htm ATÉ 30.NOV// Colóquio Poéticas do Rock em Portugal (call for papers) Colóquio sobre literatura, música e palco. As letras, os textos, a poesia e a sua encenação na música Pop e Rock. 10.DEZ// Eficiência e Equidade na Tributação Com Eduardo Paz Ferreira (F-Direito da U-Lisboa), Paulo Macedo (BCP) e Rogério Fernandes (ISG) das 18h30 às 21h30 Departamento de Engenharia de Electrónica e Telecomunicações e de Computadores do ISEL, R. Conselheiro Emídio Navarro, 1 21 831 71 80 http://www.deetc.isel.ipl.pt/

PORTO 11+12.DEZ//Fórum Internacional de Gestão da Construção GESCON 2008 O evento abordará temas como o Financiamento, Planeamento e Concepção, a Gestão de Projecto, a Gestão da Construção/Desconstrução e a Gestão da Utilização. Principais oradores: Vitor Abrantes, Hipólito Ponce de Leão, Reis Campos (FEPICOP), Jorge Moreira da Costa (IcBench), Daniel Bessa (EGPUPBS), Pedro Gonçalves (Soares da Costa) das 9h00 às 18h00 F-Engenharia da U-Porto Rua Dr. Roberto Frias 22 508 14 00 http://sicc.fe.up.pt/conf/manager.php/ gescon/home

INTERNACIONAL 5.DEZ//Conferência Crossing Cultures: Women, Ageing and Media Cheltenham, Reino Unido University of Gloucestershire +44 (0)844 8010001 http://www.wam-research.org.uk/conference/

Eleições

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AE F-Psicologia e.C.da Educação da U-Lisboa 4 e 5 de Dezembro

A-Académica da U-Lisboa Votação: 10 e 11 de Dezembro Tomada de posse: 8 de Janeiro

A-Académica de Coimbra Primeira volta: 26 e 27 de Novembro Segunda volta: 3 e 4 de Dezembro

AE F-Belas Artes, U-Lisboa Votação: 27 e 28 de Dezembro Tomada de posse: 2 de Dezembro


breves U-Lisboa Festival de Tunas A décima edição do Festival de Tunas S. Vicente é dedicada a Júlio Verne, o conhecido escritor visionário do início do século XX. Será uma inspiração futurista para a tuna anfitriã, a VicenTuna, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (UL), e para as outras cinco que vão submeter-se a concurso. Recordese que a Magna Tuna Cartola de Aveiro, a Tuna da Escola Superior de Comunicação Social, a Estudantina Universitária de Lisboa e a Tuna Académica do ISCTE foram os vencedores da edição do ano passado. O Festival realiza-se na Aula Magna da UL a 22 de Novembro, às 21 horas. À semelhança da edição anterior, parte dos lucros revertem a favor do Instituto Português de Oncologia. IP-Leiria Conferência de 6 Sigma Divulgar as vantagens da metodologia 6 Sigma é o objectivo da conferência que o Instituto Politécnico de Leiria e a empresa Sinmetro organizam nos dias 4 e 5 de Dezembro. É a primeira apresentação em Portugal deste sistema de trabalho que pretende rentabilizar o binómio serviço/cliente, através de um elaborado processo de definição, medição, análise, melhoria e controlo. A conferência, que decorre no Auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, conta com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. Nas várias intervenções, falarse-á das aplicações do 6 Sigma em sistemas de saúde, indústrias farmacêuticas, laboratórios e actividades musicais, entre outras. Porque, qualquer que seja a área, o cliente tem sempre razão.

que tem como objectivo «lançar mão a esses textos antigos, compreender como deles florescem radicais questões que nos habitam, tomando para nós o mesmo heróico desejo de querer ver, de querer saber, na procura do nosso rosto mais autêntico». O júri do prémio, atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, foi constituído por Fernando J. B. Martinho, Helder Godinho e Fernando Pinto do Amaral. Ernesto Castro Leal Os republicanos da I República Contribuir para o estudo do campo partidário republicano português, entre 1910 e 1926, é o principal objectivo do livro Partidos e Programas, de Ernestro Castro Leal. Recorrendo a

Os romances do ensaísta Anno Domini é a mais recente colectânea contos de George Steiner publicada em Portugal. A edição é da Gradiva, que tem vindo a traduzir uma faceta menos conhecida do prof. da Universidade de Oxford e reputado ensaísta: a de ficcionista. O pós-guerra é o cenário comum às três histórias de Anno Domini, também marcadas pela evocação da violência da Guerra. Não é só a dor física que atormenta estas personagens mas também o mal existencial provocado pela consciência de terem vivido o fim de um tempo. Tal como em O Transporte para San Cristobal de A. H. Ou Provas e Três Parábolas, também lançados pela Gradiva, a literatura de George Steiner é fortemente contaminada pela teses que defende nos seus ensaios. Não poucas vezes ecoam nestas páginas livros tão importantes como Nostalgia do Absoluto, No Castelo do Barba Azul ou O Silêncio dos Livros. Bragança de Miranda

Prémio Jacinto Prado Coelho Literatura clássica distinguida Carlos Ascenso André, da Universidade de Coimbra, e José Pedro Serra, da Universidade de Lisboa (FLUL), foram distinguidos em ex-aequo com o Prémio Jacinto Prado Coelho, no valor de cinco mil euros. As obras em causa foram Caminhos do Amor em Roma, uma edição da Cotovia, e Pensar o trágico: categorias da tragédia grega, da Fundação Calouste Gulbenkian. Trata-se de dois estudos sobre a literatura clássica, o primeiro centrado na poesia latina do século I a.C, o segundo, na herança do teatro grego. Actual director do Conselho Directivo da Faculdade de Letras de Coimbra, Carlos Ascenso André tem vindo a estudar e a traduzir alguns dos principais nomes do chamado século de ouro do Império Romano, tutelado pela figura de Augusto, e em particular os temas do exílio e do amor na antiguidade. São da sua responsabilidade as traduções de Arte de Amar e Amores, de Ovídio, poeta que é abordado neste ensaio, a par de Vergílio, Propércio, Catulo e Tibulo. Pensar o trágico: categorias da tragédia grega foi a tese de doutoramento, defendida em 1999, de José Pedro Serra, professor do Departamento de Clássicas da Faculdade de Letras da UL. Esquilo, Sófocles e Eurípides são alguns dos autores analisados neste périplo pelo mundo helénico. Uma revisitação

George Steiner

um conjunto muito alargado de documentação, em grande parte inédita, o professor de História da Faculdadede Letras da Universidade de Lisboa analisa a estrutura, evolução e fragmentação do Partido Republicano Português, com a consequente pulverização de pequenos organismos partidários. «Os vários partidos e grupos políticos republicanos configuraram múltiplas identidades políticas, sem apresentarem uma diferenciação intensa, dado que se inscreviam no património comum do republicanismo histórico », escreve Ernesto Castro Leal. No entanto, a par de rivalidades de chefia e de carácter, ou tácticas, os diversos protagonistas da agitada I República, como se demonstra neste estudo, podem filiar-se ideologicamente em duas identidades políticas: «O demoliberalismo unitarista e o radicalismo federalista». Além de Partidos e Programas, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Ernesto Castro Leal publicou, entre outros títulos, António Ferro: espaço político e imaginário social e Nação e nacionalismos: a cruzada nacional D. Nuno Álvares Pereira e as origens do Estado Novo.

A imagem do corpo, o corpo da imagem Que relações se estabelecem entre o corpo e a imagem? De que forma as novas tecnologias alteraram essa ligação? Quais as consequências dessa mudança? Estas são algumas das questões a que J. A. Bragança de Miranda tenta responder em Corpo e Imagem, uma edição da Vega. Este ensaio parte do princípio de que a «imagem, num sentido lato, constituiu historicamente uma forma de protecção do corpo ». Porém, com a fotografia, o cinema e o advento do digital verificaram-se dois fenómenos. Por um lado, «o deslocamento das imagens que passam a circular livre e desencontradamente». Por outro, «a sua hibridação com o imaginário teológico, estético e técnico». Foi essa nova «plasticidade» que pôs em causa a noção clássica de corpo. Na mesma editora, o professor do Departamento de Ciências da Comunicação da F-Ciências Sociais e Humanas da U-Nova de Lisboa publica Envios, uma antologia de textos curtos que escreveu para o seu blogue, Reflexos de Azul Eléctrico. OFICINA DE SHIATSU Universidade de Lisboa A secção de Desporto da Universidade de Lisboa promove, no dia 22 de Novembro, das 10 às 13 horas, nas suas instalações, uma oficina de Shiatsu. Esta velha técnica de massagem, originária do Japão, tem como objectivo a recuperação e manutenção da saúde do alinhamento energético do corpo. Um bálsamo para a agitação da vida contemporânea. A oficina destina-se a pessoas sem qualquer experiência nesta disciplina. Os preços variam entre os 20 e os 30 euros.

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ANFiteatro

Os efeitos do RJIES

Estudantes

longe decisões das

O novo regime jurídico já mexe com o funcionamento das instituições de ensino superior, deixando os alunos mais desprotegidos. Pelo menos, é isto que pensam várias personalidades ligadas ao meio estudantil. A Aula Magna faz as contas ao que vai mudar.

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José Soeiro acha UE as instituições que vão tornar «mais agrestes» para os alunos

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ara uma grande parte dos alunos do ensino superior, a sigla RJIES deve soar, na melhor das hipóteses, a um palavrão dito em croata. Aos medianamente informados, pode evocar mudanças no ensino superior. Os outros, muito provavelmente uma minoria, saberão do que se trata: Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior ou, trocado por miúdos, a mais profunda reforma do ensino superior desde a aprovação da Lei da Autonomia das Universidades, em 1982. Na teoria, o RJIES é uma extensa lei, composta por 185 artigos e aprovada na Assembleia da República a 19 de Julho de 2007, com os votos favoráveis do Partido Socialista e os votos contra de toda a oposição. O documento só agora começa a ter verdadeiras consequências no terreno, já que houve a necessidade de alterar os estatutos das universidades e institutos politécnicos e eleger os novos órgãos, como o Conselho Geral, que substitui o anterior Senado. O governo das instituições de ensino superior compreende ainda um Reitor/presidente (eleito pelo Conselho Geral) e um Conselho de Gestão. Nas faculdades, cai a Assembleia de Representantes (substituída por um órgão colegial com um máximo de 15 membros) e há ainda um director, um Conselho Científico e um Conselho Pedagógico. As mudanças estruturais são estas, mas, na prática, em que é que mudam a vida de um estudante? As personalidades contactadas pela revista Aula Magna para comentar o assunto destacaram, sem excepção, o decréscimo da representatividade dos alunos nos órgãos de governo das instituições. Sublinharam também a evidência: o novo regime deixa-os mais desprotegidos na defesa dos seus

pontos de vista, na maioria das situações. Porém, discordaram quanto à relevância que estas alterações possam ter no seu dia-a-dia. Para André Moz Caldas, eleito para o Conselho Geral da Universidade de Lisboa (UL) e membro do Núcleo de Estudantes Socialistas da Faculdade de Direito da UL, o RJIES apenas se sentirá «muito a jusante», uma opinião compartilhada por Negesse Pina, vice-presidentede Aveiro (AAUAv). Do lado oposto está José Soeiro, que, com 24 anos, foi até Julho o mais jovem deputado da Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda. O sociólogo, que fez parte do Senado da Universidade do Porto (UP) durante dois anos, acha mesmo que as instituições se vão tornar «mais agrestes» para os alunos.

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«No novo conselho geral, com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor (...) matérias» Pedro Barrias

Órgãos mais pequenos e funcionais O RJIES toma uma orientação clara: retirar a classe discente (ou reduzir fortemente a sua presença) dos órgãos que tomam as opções estratégicas das instituições. «Ficamos com órgãos mais pequenos, funcionais e dinâmicos, mas também menos democráticos», considera Moz Caldas, que reconhece que havia um problema de sobredimensionamento. «Há uma tentativa de arrumar a casa, de reunir responsabilidades espalhadas e competências conflituantes», acentua Bruno Carapinha, estudante de doutoramento em Ciência Política na UL, e membro do Comité Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU). O dirigente pensa que se passa de um processo de decisão «lento» e gerador de consensos para outro «ágil e muito organizado», mas que pode gerar «conflitos e situações de boicote». A composição do Con-selho Geral, onde a representação dos alunos (mínimo de 15 por cento) é cerca de metade da das personalidades externas (mínimo de 30 por cento) é o principal alvo das críticas. No Senado, os estudantes tinham paridade com os docentes e investigadores, agora estes ocupam, obrigatoriamente, mais de metade dos lugares. E os alunos que não se preocupam com a gestão da sua universidade ou faculdade, vão sentir a diferença? «É mais do que evidente que o novo modelo está mais preocupado na obtenção de receitas e lucros, deixand de lado tudo o resto, como as actividades lúdicas,as cidadanias activas», observa Bruno Carapinha. José Soeiro antevê que as universidades e politécnicos se vão tornar em locais de «presta-

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ção de serviços a quem pode pagálos », em vez de serem um «lugar de acesso a formação e conhecimento», com cursos ou programas dirigidos à comunidade. O antigo dirigente estudantil dá conta de casos em que a força dos alunos nos órgãos da universidade foi decisiva: «Fiz parte de um Conselho Directivo onde os estudantes conseguiram travar o processo de subida das propinas, e de uma Assembleia de Representantes onde conseguimos fazer passar uma resolução que permitia aos estudantes divulgar os seus materiais e cartazes, que tinham sido retirados», relata. Pedro Barrias, presidente da Federação Académica do Porto (FAP) durante dois anos (2006 e 2007) acrescenta mais uma preocupação: «No Senado da UP éramos 42 alunos. No novo conselho geral, com três ou quatro votos, os estudantes quase não vão ter peso para propor, quanto mais discutir, matérias relativas, por exemplo, ao estatuto de atleta de alta competição ou dirigente associativo».

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«O provedor é uma espécie de gabinete de apoio ao cliente. Não é isso que as associações e os estudantes pretendiam. É o reconhecimento de que o estudante passa a ser um elemento externo à comunidade académica» E há vantagens? Apesar das críticas, a FAP manifestou uma «posição concordante», na generalidade, com o RJIES, por «permitir alguma autonomia das universidades». Também a AAUAv, diz Negesse Pina, «não é contra ». «Mas acreditamos que três alunos não conseguem representar a voz dos 12.000 queestudam em Aveiro. É uma questão democrática, nem queremos paridade», salienta. É caso para perguntar: há alguma vantagem para os alunos? Os inquiridos neste artigo consideram, de uma forma genérica, que há um reforço de poderes do Conselho Pedagógico, onde se mantém a paridade com os professores. «É mais fácil tratar das questões curriculares», admite Pedro Barrias. André Moz Caldas salienta o facto do órgão passar a ter competências para aprovar o regulamento de avaliação do aproveitamento dos estudantes. No entanto, lamenta-se o facto do or8

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ganismo ter um carácter essencialmente consultivo. A AAUAv defende mesmo que as suas decisões «deviam ser vinculativas», de forma a «garantir que aquilo que se decide num órgão paritário tem reflexo no Conselho Geral». Para Pedro Barrias, o Conselho Pedagógico acaba por ser vinculativo «na prática», porque «há muitas questões que só ele é que trata». Ainda assim, a ausência, no papel, de um poder «vinculativo ou executivo» impede o órgão de tomar decisões, por exemplo, no caso de «um professor que maltrata um aluno». «Aí, o que se pode fazer é remeter o caso para o Conselho Científico ou Executivo», explica. Bruno Carapinha tem um olhar mais crítico sobre as novas competências do Conselho Pedagógico, classificando o órgão, na prática, como «esvaziado de poder»: «Qualquer implicação financeira, ou interligada com a área científica, não é aplicada. Há um boicote dos Conselhos Científicos e Directivo», acusa. Uma segunda mudança potencialmente favorável é a criação de um provedor do estudante, «cuja acção se desenvolve em articulação com as associações de estudantes», lê-se na lei. Porém, a AAUAv é contra os moldes desta figura, e Bruno Carapinha volta a não poupar críticas: «O provedor é uma espécie de gabinete de apoio ao cliente. Não é isso que as associações e os estudantes pretendiam. É o reconhecimento de que o estudante passa a ser um elemento externo à comunidade académica». Há ainda um novo regime disciplinar do aluno, aplicado pelo reitor ou presidente, e que substitui o decreto de 1932 que ainda vigorava. A pena de expulsão aí prevista é eliminada, e Pedro Barrias julga que há um maior «rigor» e «responsabilização» dos alunos. «Fiz parte da secção disciplinar do Senado, e era muito difícil sancionar alguma coisa, a lei era muito omissa». O novo regime prevê ainda a possibilidade das universidades se transformarem em fundações públicas de direito privado, o que lhes permitirá uma maior autonomia. Para André Moz Caldas, a passagem do direito público para o direito privado pode trazer «muitas diferenças em termos de relacionamento» com os alunos. Mas isso já são contas para outro artigo. No imediato, sobra alguma indignação – «não concordamos com a forma como a mudança foi feita, como se os alunos fossem os culpados do estado do ensino superior», lamenta Negesse Pina – e um alerta de Bruno Carapinha para as instituições: «Andamos entretidos com isto há um ou dois anos, e não fazemos o que devia ser feito em termos educativos».

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Pedro Barrias Antigo presidente da Federação Académica do Porto (FAP) Os estudantes deixam de ter margem para discutir algumas matérias no Conselho Geral. Em algumas questões ainda podem ter uma minoria de bloqueio, algum poder de decisão, mas na maioria delas não terão peso quase nenhum. Ricardo Pinto Presidente da Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico Era necessária uma mudança de paradigma no ensino superior português, mas não concordamos com a falta da participação estudantil na sua gestão. As personalidades exteriores devem participar nos conselhos gerais, são os reais empregadores, mas achamos que o seu peso é demasiado. Pela minha experiência, não há assim tantas pessoas de mérito interessadas em participar. Bruno Carapinha Membro do Comité Executivo da Associação de Estudantes Europeus (ESU) O RJIES é como dizer aos estudantes: «deixem-se lá de manifestações, de discutir a política geral das universidades, e estudem». Para mim, isto é uma visão retrógrada do papel das universidades. Há uma tentativa de arrumar a casa, de reunir responsabilidades espalhadas e competências conflituantes, mas elas continuam a existir.


ANFiteatro pedagogia

Abaixo assinado

Os alunos, abaixo assinados, do 1.º ano dos cursos de […] desta universidade […], onde foram admitidos, tornando assim impossível o acesso à universidade de outros candidatos, vêm, por este meio, manifestar-se contra as medidas repressivas, de que têm sido alvo, da parte do prof. Virgílio Machado

Virgílio A. P. Machado Prof. da F-Ciências e Tecnologia da U-Nova de Lisboa

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O estado de embrutecimento intelectual em que nos encontramos, não nos permite participar ou acompanhar a discussão de qualquer assunto dentro do âmbito da disciplina ou pertinente para a nossa formação

O prof. Virgílio Machado chegou já ao ponto de ameaçar impedir- nos de cometer fraudes nos testes. Impede-nos, assim, de nos iniciarmos numa prática que tencionamos aperfeiçoar durante o nosso curso e na nossa vida profissional, que é a de actuarmos, o mais possível, desonestamente, tornando a fraude, o suborno e a corrupção generalizada, parte do nosso dia-a-dia. Procuraremos, assim, amassar fortunas, não como fruto do nosso trabalho e do desenvolvimento do bem-estar geral, mas de processos que permitam apropriarmo-nos daquilo que não nos pertence e de técnicas de dissimulação que construam as nossas riquezas à custa da miséria dos outros. A fraude nos testes é, além do mais, um processo que nos permite manter o subdesenvolvimento das nossas faculdades intelectuais. Não queremos correr o risco de nos habituarmos a responder a questões que nos são postas, analisando-as à luz dos nossos conhecimentos. Também não queremos ser obrigados a ter a franqueza de admitir que não sabemos. Queremos, pelo contrário, mostrar que temos conhecimentos que não possuímos. Faremos assim, aquilo que esperamos vir a fazer pela vida fora: dar a perceber, aos nossos empregadores e aos nossos subordinados, que somos muito mais sabedores do que realmente somos, criando, assim, não uma relação de respeito mútuo, mas de venaração, como génios intelectuais. Para esse fim, achamos mais próprio apropriarmonos do trabalho dos outros, dandorespostas que são deles, que não sabemos, nem percebemos, mas que subscrevemos como se fossem nossas. O prof. Virgílio Machado exige, também, que sejamos pontuais às aulas e não se coíbe de assinalar quando não comparecemos ou chegamos atrasados. Ora, nós somos contra o regime de faltas. Não porque seja desnecessário, por só faltarmos por motivo de força maior, mas porque achamos que as faltas ficam a atestar o nosso desinteresse em participar na vida académica. As faltas obrigamnos a fazer o sacrifício de frequentar as aulas, de conviver com colegas e professores. Nas aulas temos de ouvir falar de assuntos em que não estamos minimamente interessados. Nós não queremos saber nada do que se passa nas aulas. Queremos é acabar o curso! Achamos que não temos qualquer contributo a dar nas aulas. O estado de

embrutecimento intelectual em que nos encontramos, não nos permite participar ou acompanhar a discussão de qualquer assunto do âmbito da disciplina ou pertinente para a nossa formação. Não nos sentimos capazes de dirigir qualquer questão ao prof., porque temos receio de cair no ridículo de perguntar qualquer coisa que possa interessar aos outros ou de elucidar dúvidas que também existam no espírito dos colegas, ou pedir um esclarecimento que, na verdade, o prof. devia ter dado, mas que, eventualmente, se tenha esquecido de dar. Temos, também, o direito de chegar atrasados, quando muito bem entendermos. Não queremos deixar de contribuir para que esta nossa terra continue a ser um país atrasado. Pela nossa vida fora, queremos continuar a não respeitar quaisquer horários ou compromissos. No nosso futuro emprego, tencionamos, aliás, iniciar o trabalho sempre fora de horas, dando, assim, o exemplo a todos os nossos subordinados e ao operariado em geral. Não tencionamos, nunca, respeitar horas marcadas para encontros, reuniões, negócios ou quaisquer actividades profissionais ou privadas, contribuindo, assim, para grandes prejuízos, para todos, em tempo perdido, esperas inúteis e evitáveis. Além do mais, o prof. Virgílio Machado pretende que nos mantenhamos em silêncio nas aulas, quando ele se nos dirige ou um colega faz qualquer intervenção. Obriga-nos, assim, a dar provas de uma educação que não possuímos, a um respeito pelos outros que não temos. Achamos que, nas aulas, devemos poder falar do que muito bem entendermos, uns com os outros, fazendo a algazarra necessária para nos fazermos ouvir no meio da confusão geral, tal qual um grupo de ébrios numa taberna. Outro processo não há, aliás, de impedir que aqueles que estão interessados possam acompanhar as aulas, desmotivando-os de fazerem um estudo sério e incentivando-os a aderirem à mediocridade geral. Assim, e resumindo, porque o prof. Virgílio Machado insiste em que nós temos que estudar, desenvolver qualidades de trabalho, de integridade pessoal e consciência profissional para as quais não estamos vocacionados, nem é para isso que estamos cá, pedimos a sua imediata substituição por outro que nos dê uma boa nota no fim do ano e nos chateie o menos possível.

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LABORATóRIO

bandas estudantis

As faculdades e os institutos politécnicos são viveiros onde nascem os mais variados projectos musicais. E todos temos um amigo que pertence a um. As bandas com estudantes não são mais apoiadas porque ninguém dá apoios ou porque ninguém os sabe pedir?

texto Frederico Pedreira | fotografias Filipe Mateus

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oi numa praxe académica que Mafalda Arnauth, então caloira de Veterinária, acedeu ao pedido para cantar um fado. O tema de Amália Rodrigues, Triste Sina, desbravou-lhe o caminho para uma promissora carreira nos palcos e para a edição de seis discos, sendo o mais recente Flor de Fado. Muitos são os artistas e bandas, nacionais e internacionais, que se desenvolveram num ambiente universitário, aprimorando os seus ímpetos criativos através de um intenso percurso estudantil. Se Mafalda Arnauth assistiu ao traça do seu destino numa praxe, a vocalista dos Deolinda, Ana Bacalhau, desencantou-o no ambiente descontraído do Bar Novo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Foi na véspera de mais aulamagna 11 um concerto e na «correria típica destes dias» que explicou como conheceu Dídio Pestana e Gonçalo Tocha, os músicos com quem viria a formar a sua primeira banda, os Lupanar: «Participava sempre que havia uma sessão de Karaoke e, além disso, pedia para cantar a capella uma música da Janis Joplin.» Havia também um núcleo de rádio para o qual contribuía com um programa de música semanal. É por isso que Ana Bacalhau acredita que o contexto universitário foi fundamental para o seu desenvolvimento artístico e para o a da banda: «Partilhávamos o interesse pela Língua Portuguesa, pela música, e achámos que nos poderíamos juntar e criar um grupo que trabalhasse diferentes linguagens musicais », afirma. Começaram por ensaiar em casa de Dídio Pestana, mas durante o ano lectivo de 2000/2001 decidiram aumentar o número de músicos para sete. Desta forma, passaram a ocupar as salas de aula da FLUL com ensaios acústicos. Em 2002, os Lupanar continuaram a crescer e a Reitoria da Universidade de Lisboa, atenta às iniciativas de índole criativa, mostrou-se interessada na banda. O auge do início de carreira seria atingido com um espectáculo para cerca de 800 pessoas na Aula Magna da Universidade de Lisboa. Ana Bacalhau diz que este concerto foi «crucial» para o desenvolvimento dos Lupanar. «Nunca poderíamos suportar sozinhos todos os custos financeiros, logísticos e humanos que fazer um espectáculo naquele espaço implica.» Apoio idêntico tiveram, em 2005, para a edição de autor do primeiro álbum da banda. Os Lupanar angariaram outros financiamentos, mas foi a associação de estudantes da FLUL a assegurar o material promocional, como postais e cartazes.

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«Se não existir uma iniciativa clara das vossas associações de estudantes no sentido da promoção de acções culturais, que as proponham os músicos, as bandas, os fãs», apela Ana Bacalhau 10

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Fazer da universidade um palco

O papel das associações Os Lupanar constituem um bom exemplo de como uma banda estudantil, com um ou mais membros a frequentarem o ensino superior, pode singrar nos circuitos comerciais da música optando, numa primeira etapa, pela divulgação académica e pelos apoios universitários. Surgem então as questões: como se procuram estes apoios e quem pode ajudar? Para Pedro Barros, dirigente associativo da FLUL entre 1994 e 1997, não poderá ser uma AE a assumir o apadrinhamento das bandas, o que acabaria por resultar numa pré-definição estética dos grupos ou na criação de «boybands ou girlbands». No entanto, sublinha o papel fundamental da estrutura universitária para acolher projectos e iniciativas musicais. Nesse sentido, é essencial as bandas entregarem nas AE um «dossier de apresentação do grupo», onde deve constar uma maquete. «Acima de tudo, o que vai seduzir é o projecto musical», afirma. É importante também incluir «uma biografia dos músicos», na medida em que esses elementos podem «chamar à atenção», através, por exemplo, de uma colaboração com um artista de renome ou o trabalho demonstrado numa área artística diferente. Os membros da banda devem assim «seleccionar os elementos mais fortes», sabendo que serão estes a despertar a curiosidade das associações de estudantis. «Não basta dizer que a música é interessante», diz Pedro Barros. Outros aspectos que fazem a diferença são «a linha gráfica da maquete e um bom

texto de apresentação da banda». E os contactos com a imprensa. As bandas devem também estar a par «do fecho das agendas dos jornais para anunciar os concertos a tempo», para além de «fazerem um apanhado dos jornalistas que escrevem sobre música», tendo em conta as áreas de especialização de cada um. «Depois, é enviar os press-releases e as maquetes ao cuidado dessas pessoas», explica Pedro Barros. Vice-presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e organizador de um torneio de bandas universitárias, Tiago Veríssimo acredita que é possível dar apoio a bandas que tenham um projecto be estruturado, incluindo as autorizações necessárias, por parte do Conselho Directivo, para alugar um espaço da universidade para ensaios. Foi o que a associação de estudantes fez para a tuna, a quem foi atribuído uma sala num dos pavilhões da faculdade. Para este dirigente, a primeira acção que as bandas devem tomar é apresentar um projecto na associação de estudantes seguindo os critérios da «concisão e credibilidade ». Assim, no portfólio da banda «devem constar dados simples, como o número de membros, há quanto tempo se juntaram, que instrumentos usam, descrevendo o tipo de música e a quem pode interessar, anexando também um historial de concertos». Tiago Veríssimo afirma já ter uma considerável experiência no contacto com músicos, mas num circuito comercial exterior à universidade. Conclui que, com uma abordagem informada por parte da banda, os responsáveis pelos espaços «ficam quase obrigados a aceitar os pedidos que forem feitos».


A atitude das bandas Agora jornalista na Agência Lusa, Filipe Pedro colaborou activamente na revista estudantil Subcave, onde se empenhou na divulgação de bandas portuguesas em início de carreira. Recordando o caso dos Ornatos Violeta, «que viviam todos juntos quando se formaram», e dos Zen, «que surgiram de jam sessions ocasionais e de uma mescla de diferentes bandas», sublinha a importância do convívio universitário. «É necessário criar uma rede de contactos e uma componente intelectual que seja comum aos membros da banda», afirma. No entanto, para obter apoios, as bandas devem «ter objectivos bem delineados» quando procuram a ajuda da sua universidade e «saberem que tipo de apoios precisam e o que pretendem conseguir através deles». «Para cada fase de desenvolvimento da banda corresponde um tipo de apoio diferente», lembra. Mas nem todo o trabalho de promoção deve ser feito pelos músicos. Da sua experiência, Pedro Barros pode afirmar que «não há uma política de incentivo» por parte das entidades soberanas do meio universitário. Aquilo que há são «as festas do caloiro e semanas culturais.» Destaca a necessidade das próprias associações de estudantes «olharem para o que está à sua volta, saírem mais à noite e procurarem projectos interessantes que possam ser integrados em espectáculos organizados pelas faculdades». Considera «inacreditável» que, por exemplo, a Associação Académica da Universidade de Lisboa tenha

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as bandas devem «ter objectivos bem delineados» quando procuram a ajuda da sua universidade e «saberem que tipo de apoios precisam», diz Filipe Pedro

convidado novamente Quim Barreiros para a festa do caloiro deste ano, quando há projectos mais pequenos mas de qualidade superior. «Pegar em coisas interessantes feitas pelos alunos das universidades» é o que propõe para uma melhoria da programação desses concertos. Ana Bacalhau completa a questão com um incentivo aos leitores: «Se não existir uma iniciativa clara das vossas associações de estudantes no sentido da promoção de acções culturais, que as proponham os músicos, as bandas, os fãs». Todo o processo de obtenção de apoios pode revelar-se complicado, e por vezes até frustrante. Como Tiago Veríssimo explica, um dos factores negativos é o Orçamento de Estado, que torna quase impossí-

vel um maior investimento nas actividades culturais: «Não há dinheiro nem para o material necessário para as aulas». Hugo Barros, produtor freelancer e habitué na produção de concertos na Aula Magna da Universidade de Lisboa, completa o cenário menos propício: «Nas AE há um processo burocrático pesado, e as poucas pessoas que dela fazem parte têm de passar o tempo todo a tentar segurar a própria estrutura». No entanto, há todo um trabalho de promoção interna, incluindo a tarefa incansável que Pedro Barros denomina de «bater a todas as portas», que a banda deve desenvolver e que, tal como sucedeu com os Lupanar, pode abrir caminhos auspiciosos. E é de bom grado que Ana Bacalhau se lembra dos incentivos prestados pela FLUL aos Lupanar, que se revelaram «essenciais», «quer em termos logísticos, como em termos de promoção e do boca-a-boca». Revela-se então essencial uma vontade inabalável das bandas para se auto-promoverem, até porque alguns apoios são realmente possíveis. Filipe Pedro concorda que todo o processo de obtenção de apoios universitários «não é uma batalha fácil», mas que é fundamental as bandas «acreditarem» em si mesmas. E acrescenta: «Só assim é possível dar o salto»

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De regresso às aulas

Ricardo Araújo Pereira texto Luís Ricardo Duarte | fotografias José Miguel Soares

Diz que nunca escreverá um romance, embora admita que a Literatura sempre o fascinou. Por isso, dez anos depois da licenciatura, inscreveu-se num mestrado

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arece que foi de propósito. Um momento à Gato Fedorento precisamente antes da entrevista ao Ricardo Araújo Pereira. Dez da manhã, no café do costume. Uma senhora bem composta, com ar de avó, senta-se na mesa ao lado. Traz um livro meio lido debaixo do braço. Com calma, abre o romance e, quando o empregado chega, pede «Dois rissóis e uma míni...» Mais tarde, o espectáculo continua. Depois de pousar o matinal manjar, o empregado diz-lhe: «Já lhe trago a cervejinha...». Está bom de ver que facilmente se faria um sketch do Gato Fedorento com este episódio. Até porque, como me dirá Ricardo Araújo Pereira, é nos «contrastes» que se encontra a chave de uma boa piada. Mas não falámos só de humor. Depois de uma licenciatura em Comunicação Social, na Universidade Católica, ele está de regresso às aulas. Passados dez anos, inscreveuse no mestrado em Teoria da Literatura, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Quisemos saber como é a sua vida de estudante, quais os seus planos para a tese, como vê o Ensino Superior hoje em dia, o que há de científico nos sketches que escreve e representa. Pelo meio, houve referências à Bíblia, Umberto Eco, Shakespeare, Nietzsche, Eça de Queirós, Aristóteles, David Lodge, Woody Allen e Flaubert. É que, a brincar a brincar, Ricardo Araújo Pereira sabe do assunto. E muito a sério.

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Além disso, uma pessoa com 18 anos não está preparada para a universidade. Eu, pelo menos, não estava. Aos 18 anos é-se uma besta. Não se está minimamente interessado em aprender. Agora, tenho outra vontade Qual foi o objectivo do teu regresso à universidade? Fazer o que sempre quis. Se tivesse podido escolher sem constrangimentos, quando acabei o 12.º ano, teria seguido Literatura. Mas os meus pais acharam que não tinha saídas profissionais, que não se ganhava dinheiro a escrever, que jornalismo era melhor. Vê-se mesmo que não percebem nada do mercado de trabalho. Não há jantar de família em que não lhes recorde isso amargamente. Depois de velho, vim tentar recuperar esse projecto. Um investimento pessoal nessa área, como autodidacta, não era suficiente? Com o mestrado posso continuar a faze-lo. Compro e leio tudo o que me apetece, mas ter uma orientação, ainda por cima a este nível, é muito importante. É óptimo ter Miguel Tamen ou António Feijó como professores, uma grande mais-valia.

Hoje levas-te mais a sério? Talvez menos ainda... Se calhar esse é o problema quando se tem 18 anos, em que tudo tem uma enorme importância. Hoje, tenho uma perspectiva diferente sobre o assunto. Mas não quero estar a fazer a rábula do tipo que envelheceu e ficou mais maduro. No meu caso, aos 18 anos era uma besta. Sentiste diferenças entre o ensino público e privado? Não muito. Na Católica foi diferente, mas provavelmente porque o curso estava no início. Suponho que os cursos de Direito e de Economia sejam exigentes e estimulantes como noutras faculdades, admitindo que esses cursos possam ser estimulantes. Por isso, não tenho nada contra a Católica. A biblioteca, por exemplo, era bastante boa e permitia o acesso directo às estantes, como o Umberto Eco defende. Também fiz o curso todo sem grande interesse pelo jornalismo e pelo fenómeno da comunicação em geral. Aproveitei todas as hipóteses que tinha para escolher opções relacionadas com os meus gostos pessoais. Foi assim que fiz Literatura Brasileira ou Cultura Clássica, por exemplo. Como é a tua vida de estudante? Igual às dos outros, imagino. O mestrado ainda vai muito no início, mas apresento-me aqui à hora marcada e vou-me embora quando a aula acaba. E acompanhas a vida académica? Referes-te a quê? Lutas estudantis, tunas, jornais, esplanadas... Nada. Só venho aqui pela razão por que isto foi criado. Não tenho interesse em mais nada. Por exemplo, praxes... coisa linda, não é?

Como está a ser a experiência de voltar às aulas? Simpática. Sempre gostei de estudar. Entretanto, tive uma experiência fugaz na Universidade Nova de Lisboa. Inscrevi-me na licenciatura de Estudos Portugueses [na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas], mas por falta de tempo só fiz duas cadeiras. Agora que tivemos a inteligência de assinar um contrato [com a SIC] em que a carga horária é mais leve, fiquei com tempo para este tipo de coisas.

Nem pelas associações de estudantes? Não, embora tenha sido presidente de uma. Mas na Católica aquilo tinha outra piada. Dava para passar o tempo e para chatear algumas pessoas. Foi divertido fazer uma associação de extrema-esquerda. Uma vez organizámos um conjunto de colóquios, com Francisco Louçã e Al Berto, entre outros. Quando pedimos uma sala deram-nos uma das melhores, na Biblioteca João Paulo II, visível de todos os pontos da faculdade. No entanto, assim que afixámos o Encontraste muitas diferenças no ensino supe- cartaz com os oradores, fomos remetidos para uma rior, passados dez anos? subcave impossível de encontrar. No mestrado é tudo diferente. A própria sala, enquanto espaço físico, muda (estamos todos à volta de uma mesa) e não há exactamente uma matéria que se vá percorrendo ao longo das aulas. Na Universidade Católica o curso de Comunicação Social estava a começar. Por essa razão ou por outras, era uma grande balbúrdia, com cadeiras canceladas, outras que fazíamos por cancelar porque não tinham interesse algum. Além disso, uma pessoa com 18 anos não está preparada para a universidade. Eu, pelo menos, não estava.

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Porquê? Aos 18 anos é-se uma besta. Não se está minimamente interessado em aprender. Agora, tenho outra vontade.

A ideia de haver um tipo a falar para vários que estão a ouvir é divertida de corromper


O riso e a morte São as relações entre o riso e a morte que mais interessam a Ricardo Araújo Pereira. E até podem vir a ser o tema da sua tese de mestrado, embora não queira dar muitas garantias, sabendo as voltas que a vida dá. Certo é que, dentro desta área, já tem muitas leituras feitas, que lhe apontam para um preconceito histórico face ao riso e para uma íntima proximidade com a consciência da morte. Falta, caso a ideia avance, circunscrever o projecto, porque a empreitada é interminável. Mas qualquer que seja o resultado final, Ricardo Araújo Pereira já parece ter acertado na epígrafe, que retirará do Hamlet, de Shakespeare. É uma fala do príncipe da Dinamarca, quando este se encontra no cemitério, junto à cova que está a ser criada para Ofélia. Quando vê a caveira de Yorick, o bobo da corte, com quem tanto brincara, Hamlet afirma: «Diz as coisas que tu dizias antes, que faziam rir uma mesa inteira. Vai ter com a minha senhora e diz-lhe que, por muita maquilhagem que ponha na cara, vai acabar por ficar como tu estás agora. Fá-la rir disso.» Gostavas de fazer uma tese de mestrado sobre as relações entre o riso e a literatura? Sim, sobretudo sobre as relações entre o riso e a morte. Aristóteles defende que o Homem é o único animal que se ri. Muitos outros cientistas e antropólogos subscreveram esta teoria. Ao mesmo tempo, somos o único animal que tem consciência da morte. Não sei se as duas coisas não estarão relacionadas, como apontam alguns escritos de Nietzsche, que fala sobre a melancholia e o riso. O riso é um fenómeno interessante de se estudar? Em muitos sentidos. O riso nunca teve um prestígio muito grande, mesmo hoje em dia, o que é paradoxal, já que um argumentista que escreve textos humorísticos para televisão ganha muito mais do que qualquer outro. Incomparavelmente mais, pelo menos em Portugal. Historicamente também comprovamos essa tendência. O riso nunca recebeu muita consideração. Uma pessoa que se ri não é séria, nas várias acepções da palavra, não só no sentido de não ser circunspecta, mas também de não ser honesta e digna de confiança. As gargalhadas são mais diabólicas do que divinas? Justamente. É suposto que Deus não tenha rido. Pelo menos nos evangelhos canónicos, Jesus Cristo chora várias vezes, mas nunca ri. No Génesis, há dois ou três momentos de riso mas também há margem para interpretar a reacção de Deus ao riso como má (embora admita que se possa entender o contrário). Mas tradicionalmente foi interpretado dessa forma. Um dos momentos é Sara, mulher de Abraão, que se ri quando Deus lhe diz que vai ser mãe. Aos 99 anos. Quando a Virgem Maria recebe a notícia que vai ser mãe, mesmo sabendo que nunca teve relações sexuais, não se ri. E o modelo de fé sempre foi a Virgem Maria, e não Sara, que questiona o poder de Deus.

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A graça que o humor tem

Alguns sketches do Gato Fedorento brincam com a ideia de professor e aluno. É um universo potencialmente engraçado? Muito. A ideia de haver um tipo a falar para vários que estão a ouvir é divertida de corromper. Exemplos: se o professor não for assim tão admirável, se os alunos tiverem menos capacidade para aprender ou se tiverem outros interesses. Lembrome de um sketch sobre um professor que vai apresentar um poema, mas como é particularmente difícil pede ajuda a outro professor que é homossexual. Depois, faz o outing dele à frente dos alunos. O sketch sobre o curso de literatura para porteiras tinha o mesmo espírito. A ideia surgiu a partir de uma frase de David Lodge, segundo a qual a Literatura é coscuvilhice para intelectuais. Daí ao curso sobre a Madame Bovary foi um passo. Na universidade ainda há os formalismos, os senhores professores, senhores mestres, senhores doutores, senhores catedráticos, jubilados, honorários… Pois. Talvez seja uma coisa muito portuguesa, como toda a gente diz. Mas é divertido, um gajo que é só professor, ou professor doutor por extenso, ou prof. não sei o quê. Essas nuances às quais se presta atenção são muito giras. O humor do Gato Fedorento tem muito de investigação social e linguística. Achas que dava uma tese de qualquer coisa? Ficaria muito surpreendido se alguém pretendesse estudar as nossas fantochadas. Mas por acaso vai haver uma tese em que seremos objecto ou caso de estudo.

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Temos, no dia-a-dia, o olhar calejado. Estamos fartos de ver determinada coisa a acontecer e por isso deixamos de a questionar. No Gato Fedorento, procuramos ver as coisas pelo olhar de uma criança ou de um extraterrestre

Mas reconheces essa dimensão de estudo de comportamentos e de tiques de linguagem? Não diria estudo, porque parece que estamos a fazer uma tese em forma de programa humorístico. Há um lado infantil em nós que faz com que reparemos em duas ou três coisas que as pessoas adul tas não estão vocacionadas para reparar. Acontece-nos muitas vezes uma criança fazer uma pergunta que nos confronta com algo que vimos durante anos e anos mas em relação à qual nunca tínhamos pensado daquela maneira. Basicamente, o nosso trabalho é fazer esse tipo de perguntas e observações.

A minha vida é escrever, mas não literatura. Escrevo crónicas e textos humorísticos. Mais do que isso não creio que tenha competência

Como se estivéssemos a ver as coisas pela primeira vez? Exactamente. Temos, no dia-a-dia, o olhar calejado. Estamos fartos de ver determinada coisa a acontecer e por isso deixamos de a questionar. No Gato Fedorento, procuramos ver as coisas pelo olhar de uma criança ou de um extraterrestre. Isso ajuda a manter uma imaturidade bastante grande, o que, por sua vez, prejudica muito o relacionamento com o sexo feminino... Vês-te a dar aulas sobre humor? Já dei umas aulas de escrita humorística. Tem um lado divertido e outro enfadonho. Enfadonho porque a conversa sobre humor normalmente não tem graça nenhuma. E retira graça ao que antes achávamos graça. Então onde está a graça? Em fingir que o que dizemos para ter graça está a ser inventado na altura. A simulação da espontaneidade é provavelmente um dos elementos mais importantes nisto de fazer rir. Mas não passa de uma simulação. Woody Allen diz que nunca improvisa quando está em palco, porque as pessoas pagam para o ver. Só improvisa quando está a escrever. Conta dez piadas para chegar a duas que são boas. Com o Gato Fedorento passa-se o mesmo. É a dimensão escrita do humor que mais te interessa? Sim. Porque depois é preciso um actor – e essa é a parte para a qual temos pouco jeito – para fingir que aquilo está a ser inventado no momento.

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Hoje fui tomar o pequeno-almoço a um café. Sentou-se ao meu lado uma senhora toda bem-posta e pediu dois rissóis e uma míni. Isto dava um sketch? Uma mini logo de manhã? Epá, isso é muito bom. O humor nasce assim? Claro. O contraste é uma das ferramentas fundamentais, exactamente como descreveste. Imagina que era um trolha a beber uma míni, ou uma senhora muito bemposta a beber chá? Ninguém acharia piada. Uma senhora a beber uma míni tem graça, tal com um trolha a beber chá e biscoitos.


Indícios literários Qual o teu interesse na Literatura? Isso é uma pergunta complicada... Sempre tive interesse na Literatura. Passei a infância na casa da minha avó, que sabia ler muito mal e escrever pior ainda. Lá em casa havia uns livros do meu tio, incluindo os contos de Eça de Queirós. De vez em quando lia alguns para a minha avó. Um deles, A Aia, narra a história de um reino e de uns bandidos que querem raptar o príncipe. Ao longo do conto, Eça vai dando a entender o que vai acontecer. À medida que eu ia lendo, a minha avó, que nem a quarta classe tinha, percebia que estava ali um indício, que qualquer coisa ia correr mal. Para mim era divertido perceber como uma coisa sofisticada, como é a Literatura, ainda assim, conseguia fazer-se entender a uma pessoa sem instrução. Atingir uma certa universalidade? Sim. Depois há outra questão. Sem querer fazer psicanálise, não sou uma pessoa especialmente terna, no sentido em que não consigo comunicar muito bem fisicamente. Não sou uma pessoa carinhosa, com os gestos não vou lá. É algo que me preocupa desde que sou pai.

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É suposto que Deus não tenha rido. Pelo menos nos evangelhos canónicos, Jesus Cristo chora várias vezes, mas nunca ri A tua linguagem não verbal é pouco expressiva? É isso, não sou competente na linguagem não verbal. Mas a linguagem verbal sempre me interessou imenso. Por exemplo, mesa. É uma palavra que não tem nada a ver com o objecto a que se refere, é uma absoluta convenção. Eu digo mesa, tu ouves mesa, eu estou a pensar numa mesa, tu estás a pensar noutra, mas o certo é que nos entendemos com essas quatro letras juntas. São mecanismos de linguagem que sempre me fascinaram. Ou o modo como a poesia, que é racional porque se baseia nas convenções das palavras, consegue ser ao mesmo tempo irracional. Com essas preocupações literárias, podemos esperar um romance teu? Eu próprio escrever? Duvido muito. A minha vida é escrever, mas não literatura. Escrevo crónicas e textos humorísticos. Mais do que isso não creio que tenha competência. Este mestrado não é uma forma de perceber melhor o interior da Literatura? É obviamente uma maneira de saber mais, mas não necessariamente para perceber como se escreve um romance. Nem sei se é esse o caminho. Escreveres um romance pode ser uma piada de mau gosto? Pois pode. Pode ser uma péssima piada. Prefiro ter graça quando pretendo tê-la. Não é tão giro quando as pessoas se riem de nós sem querermos.

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FEP Street e Baconal 20 de Novembro - discoteca Vougue

Mário Lourenço P. da AE da ES de Tec da Saúde do IP-Porto Não perde uma. Por mais festas que tenha no currículo, nada se compara à FEP Street, que anima a semana de recepção ao caloiro da AE da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (UP). «É uma festa que chama muita gente, tem boa música e um óptimo ambiente», assegura Mário Lourenço. Este ano, a FEP Street realizou-se na discoteca Via Rápida, com música a cargo da dupla Funkyou2 e dos Dj Luís Santos e Nuno Beleza. «Imperdível», garante. Mário Lourenço também não falta às festas que organiza, enquanto presidente da AE da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Instituto Politécnico do Porto. E não vai faltar, dia 20 de Novembro, a mais uma edição da All You Need is Vougue. Mas, a norte, a oferta é grande. E o cardápio de festas não ficaria completo, diz, sem uma referência à Baconal, a festa da Faculdade de Medicina da UP. É remédio santo.

As noites do GANK

26 de Novembro - FCT UNL20 de Novembro - discoteca Vougue Carlos João e Carolina Costa Membros da AE FCT Às quartas-feiras, de 15 em 15 dias. O ritual repete-se na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT UNL). Carlos João e Carolina Costa marcam presença sempre que podem. Muita música, bar aberto ou happy hours e temas sempre diferentes. São as «famosas» noites académicas organizadas pelo Grupo Académico Nús Koppus, conhecido por GANK. Não terão seguramente o glamour de outros espaços, nem a promoção de outras iniciativas, como a Gala Anual da AE da FCT UNL, no Buddha Bar, em Lisboa. Mas a sua regularidade cativa muito adeptos, garantem Carlos João e Carolina Costa. E a «originalidade» também. No 29.º aniversário da AE FCT UNL, assinalado no passado dia 12, houve um pouco de tudo. Magusto à tarde, porco no espeto ao cair do dia, promoções para quem foi trajado e música pela noite dentro. A última, antes das férias do Natal, é dia 26 de Novembro.

No convento de Belas Artes

26 de Novembro - FCT UNL20 de Novembro - discoteca Vougue André Martins F-Belas Artes da U-Lisboa

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Soaram aleluias quando o Conselho Directivo da Faculdade de Belas Artes de Lisboa voltou atrás na decisão de suspender as festas dentro do edifício. É que não há festa como esta, garante André Martins. «Como a faculdade fica num antigo convento, é um espaço diferente, que fica espectacular com o jogo de luzes e com a amplificação natural do som», descreve. Numa das últimas, que decorreu nos corredores, até houve vídeo no tecto. O toque artístico é uma das imagens de marca das noites de Belas Artes. «A música não é a martelo», afirma, lembrando algumas sessões mais alternativas. Depois, é o carnaval que se repete sempre que os estudantes querem. Recentemente, houve uma festa dedicada aos anos 80 e outra sobre as personagens dos filmes do Tarantino. À lei da bala, ou ao ritmo da série B, a ficção invadiu a realidade. «As pessoas mascaradas vêm com outro espírito», atira André Martins. «Sentem-se mais à vontade».


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desporto

Pouca esgrima nas academias texto João Pedro Barros

A vida não está fácil para um estudante do ensino superior que se queria iniciar na esgrima. Com excepção de Lisboa, a modalidade está ausente da oferta de desporto académico e concentrada em clubes.

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s clubes são os locais de eleição para a prática da esgrima em Portugal. Numa ronda efectuada entre as principais academias do país, a Aula Magna apenas conseguiu encontrar aulas da modalidade em Lisboa, na Escola de Desportos de Combate, que funciona no Estádio Universitário. «Somos uma espécie de ilha, porque a esgrima que se faz em Portugal é de clubes», reconhece André Escobar, professor no Estádio Universitário de Lisboa. No entanto, esta é uma esgrima «de lazer» e não filiada, já que o Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL) abandonou a sua prática, apesar do largo historial na modalidade. Na Associação Académica de Coimbra, também já não há esgrima, há cerca de dez anos. Nem o facto de o primeiroministro José Sócrates ter sido atirador da instituição, entre 1975 e 1980, salvou a secção. «Já nem sequer existe uma competição universitária», nota Joaquim Videira, o melhor esgrimista português no ranking internacional (35.º lugar), que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Pequim. O facto pode parecer pouco relevante a quem apenas procura uma actividade física salutar, mas é representativo da pouca aposta na esgrima ao nível do ensino superior. André Couto, presidente da Federação Académica do Desporto Universitário, reconhece mesmo que o Evento Nacional Universitário de Esgrima (uma espécie de campeonato oficioso), previsto para o dia 18 de Abril de 2009, «não teve instituições interessadas na sua organização». Fora de Lisboa, a situação torna-se ainda mais difícil e os clubes são a única opção. Enquanto estudou e treinou no Porto, entre 2005 e 2007, Joaquim Videira tentou «iniciar um projecto», que poderia ter sido desenvolvido em torno do Centro Desportivo Universitário do Porto, mas não teve sucesso. Consultando a lista de salas de armas da Federação Portuguesa de Esgrima (disponível no sítio www. fpe.pt/~fpept/SGC/index.php/fpe_site/ salas_de_armas), é possível verificar a concentração em torno das grandes cidades. Quanto custa começar? A esgrima tem fama de ser um desporto caro, mas André Escobar rejeita essa ideia. Em primeiro lugar, porque na maioria das instituições o material pode ser emprestado «até um máximo de um ano, se for preciso». Depois, para começar basta «um fato de treino, ténis e boa disposição». Para disputar provas nacionais, o professor estima que seja necessário gastar «cerca de 500 ou 600 euros em equipamento». E o preço das aulas? No Estádio Universitário de Lisboa, as condições são mais favoráveis para os estudantes, que pagam 17,5 euros mensais por duas aulas por semana e 22 euros por três aulas semanais, para além de uma inscrição no valor de 25 euros. Os outros utentes têm de despender consideravelmente mais dinheiro, o que também é a situação mais usual nos clubes.

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stand out fotografia | filipa borges

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Direito a votar

Golghona Golgona Anghel Anghel

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encontrar-te-ás sozinho à porta do delírio, terás os cognomes da espera e o direito a votar, comprarei um passe para visitar o museu das tuas obsessões, saberás fazer-me voltar a horários fixos, tirarei notas de rodapé com pormenores complicados e referências exaustivas, farei esboços dos teus sorrisos, apunhalar-me-ás com ideias universais e alegres a caminho das coisas particulares e tristes, sangrarei adjectivos ao modo superlativo, formas retóricas imprecativas e estruturas paralelísticas, deixarei as veias dos cárpatos abertas até encherem a tua piscina, chamarás o segurança e dirás: isto não é hollywood, babe!, aqui ninguém se suicida com uma overdose de felicidade, não temos rottweilers a vigiar o sono das crias, nem personal shopper para tratar as depressões, terei o tamanho das minhas cicatrizes e as pestanas a fazer tim-tim-tim, terás fome de mim, prender-me-ás à cama como nos abraçámos às nossas ilusões, subirei àquele comboio chamado desejo, gritarás o meu nome de boca virada para a estação do prazer, confundir-me-ás com as outras, serei as outras nesse flutuar branco e veloz, declinar-te-ei nas conjugações do passado, desprezarás os volumes que imitam o contorno do meu corpo, arrumarás num canto do mapa as ruas que levam a nós, colocarás cartazes em cima dos destroços enquanto um néon publicitário da boticário executará o papel do ocaso. dois minutos antes de cair o pano, o director de som escolherá para o nosso fim uma banda sonora na moda.


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