New Deal

Page 1



Índice 2

Tudo começou com uma máquina a vapor New Deal, o

3

“Novo Acordo”

4

O Styling da crise

7

Os “ismos” da economia

7

A “crise doméstica” da Aldeia Global

9

Yes we can?

10 A crise é o momento da mudança, da metamorfose. 13 Referências

Editorial

E

m 1936, a primeira edição da revista LIFE lançada em plena Grande Depressão propunha o tema do nascimento/criação. Esta recriação da LIFE pretende traçar o dinamismo cíclico da sociedade, estabelecendo um paralelismo da crise de 1929 com a crise actual, que se espera encontrar-se em plena fase de recuperação. Desta forma, propõe-se, através de artigos, uma abordagem histórica aos acontecimentos económicos e sociais dos anos 30 e suas repercussões na actualidade, começando por uma apresentação do contexto mundial anterior à Primeira Grande Guerra e seguindo para a prosperidade económica pós-guerra, a Grande Depressão, as políticas do New Deal (com especial destaque para as áreas artísticas), o panorama económico-social pós Segunda Guerra Mundial e a crise dos anos 70 até à presente crise. De um modo geral, esta é uma edição de recolha factual com o fim de compreender melhor as teorias basilares do sistema económicofinanceiro actual e, consequentemente, conseguir, enquanto profissionais, actuar sobre os problemas dele decorrentes.


TuDO cOmEçOu cOm umA máquiNA A vApOR! N

os finais do séc. XIX, o mundo, apesar do advento da revolução industrial, ainda se mantinha muito à luz daquilo que haviam sido os sistemas de produção anteriores à integração da máquina e à criação de um conceito de indústria. O Reino Unido e os Estados Unidos da América, principalmente, apresentavam-se como potências económicas emergentes e ditavam o ritmo industrial a nível mundial. Um dos nomes marcantes responsável pelo crescimento exponencial da indústria nos Estados Unidos é o de Henry Ford. A partir da aplicação e aperfeiçoamento das teorias de Frederick Taylor (taylorismo), Henry Ford desenvolve um novo sistema de produção baseado nos conceitos de linha de montagem, racionalização e rendimento do trabalho. Tomando o “modelo T” como exemplo de sucesso, várias empresas adoptaram e generalizaram este sistema nos seus programas de produção. Enquanto a Europa sofria com a Primeira Guerra Mundial (1914-18), os Estados Unidos assumiam a liderança económica no panorama internacional, ocupando o lugar de força motriz mundial. Durante esta época de prosperidade, começa a surgir nos Estados Unidos um entendimento da tecnologia como sinal de bem-estar e estabilidade social, em parte devido ao sucesso e aperfeiçoamento das técnicas publicitárias, resultando num consumo desenfreado e na definição daquilo que ficou conhecido como o “American Way of Life”.

2

Os níveis de produção eram de tal forma elevados que, em meados dos anos 20, se começam a registar quebras significativas no consumo, levando a uma saturação do mercado interno. Tal obrigou diversas empresas a expandirem e a internacionalizarem o seu mercado de acção, dando origem às primeiras multinacionais. 29 de Outubro de 1929 (cinco dias após o crash bolsista), ficou conhecido como a “Terça-Feira Negra” e data o princípio oficial da Grande Depressão norte-americana, que, devido à sua influência mundial, afectaria o mercado global Esta crise levou ao encerramento de cerca de 4 mil estabelecimentos bancários; à falência de cerca de 85 mil empresas e ao desemprego de mais de 10 milhões de pessoas. O presidente do governo Herbert Hoover (que havia tomado posse nesse mesmo ano) tentou resolver estes problemas com a aceleração de obras públicas para proporcionar empregos; reduziu os impostos com o intuito de aumentar o consumo da sociedade e tentou manter os preços agrícolas. Face aos índices negativos da economia, Hoover não conseguiu, no entanto, tomar medidas consistentes para a resolução dos problemas.


New Deal, o ‘Novo Acordo’

I

ntitulada de A Grande Depressão, a crise arruinou o mercado norteamericano que, não conseguindo produzir, originou também uma escassez de exportação por todo o continente americano. Tendo perdido força e capacidade de resolução dos problemas em que a América se encontrava, Hoover sofreu uma derrota considerável nas eleições presidenciais de 1932, dando então lugar a Franklin Delano Roosevelt. Perante a situação que se fazia sentir, e para tentar superar esta crise, Roosevelt adoptou um conjunto de medidas designadas por New Deal (“Novo Acordo”), inspiradas nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes. Hoover já havia implementado medidas semelhantes durante o seu mandato, contudo apenas com Roosevelt estas políticas obtiveram resultados positivos no restabelecimento do bem-estar social. As medidas keynesianas baseavam-se, principalmente, no princípio do investimento público como forma de combate ao desemprego e de incentivo ao consumo. Por outro lado, Roosevelt tomou medidas de fiscalização para seguir os empréstimos do governo aos órgãos públicos e particulares. As medidas tomadas a partir das teorias de Keynes serviam, no fundo, como medidas de emergência de relançamento do mercado. Não

sendo já possível mais investimento por parte do sector privado, o Estado agia como motor financeiro para desencadear novamente toda a dinâmica de produção-distribuição-consumo. Através da criação de programas e órgãos específicos de combate à crise como o CCC (Civilian Conservation Corps) sem grande sucesso no princípio e seguidamente o WPA (Works Progress Administration), os investimentos do estado consistiram maioritariamente em grandes obras públicas, nomeadamente na construção de infra-estruturas (estradas, pontes, rede eléctrica nacional, escolas, hospitais, etc.) e em reformas gerais na economia e na agricultura. Durante o New Deal, Keynes chega a afirmar que o capital investido pelo estado, ainda que absolutamente necessário, não era suficiente face à extensão da crise e à instabilidade empresarial. Assim, apesar das medidas terem sido implementadas logo no princípio do mandato de Roosevelt, só com o início de uma economia de guerra despoletada na Europa pela Segunda Guerra Mundial (1939-45) os Estados Unidos conseguem ultrapassar totalmente a crise, na medida em que a necessidade de produção maciça de armamento e recursos militares obriga o estado a investir o capital necessário cumprindo, assim, a teoria de Keynes. 3


O Styling da crise O

crash de Wall Street de 1929 teve um impacto devastador na economia norteamericana, reflectindo-se também no sector do design industrial. O paradigma industrial e empresarial aplicado após a 1ª Guerra Mundial, herdeiro dos princípios de Frederick Taylor e Henry Ford havia demonstrado uma eficácia de tal forma tremenda, que a produção acabaria por suplantar os níveis de consumo, atingindo, assim, o ponto de saturação do mercado. Apesar das políticas já aplicadas no sector automóvel pela General Motors de alteração anual dos produtos (proporcionando novas formas e diversidade cromática) como forma de atracção comercial, estas estratégias só adquiriram um papel preponderante e generalizado no design industrial após o crash bolsista, pelo que muitos chegam a considerar esta época como o princípio do design industrial nos Estados Unidos. Na verdade, estas medidas ditam o princípio de sucesso do styling. Ao contrário do sistema industrial anterior à crise, o styling propunha uma produção baseada num princípio acima de tudo estético dos produtos, privilegiando a “novidade” dos produtos à sua durabilidade. Tomás Maldonado chega a descrever o styling como “ modalidade de design industrial que procura tornar o produto superficialmente atraente, em detrimento, muitas vezes, da sua qualidade e conveniência; que procura o seu envelhecimento artificial, em vez de prolongar a sua fruição e utilização.” Esta proposta do styling era, na verdade, algo paradoxal, na medida em que cultivava uma “política de desperdício” a uma sociedade que, na altura, “pouco ou nada tinha para desperdiçar.” (Maldonado) Contudo, apesar das contrariedades, esta ênfase na efemeridade dos bens quotidianos tornou-se numa das medidas de maior sucesso no combate à crise e criadora de importantes figuras no ramo do design industrial como: Norman Bel Geddes, Harold Van Doren, Henry Dreyfuss, Lurelle Guild, Raymond Loewy, Walter Dorwin Teague e Russel Wright. Raymond Loewy e Bel Geddes, devido às suas capacidades de “auto-promoção” atingiram níveis tremendos de notoriedade junto do público e das empresas, sendo, em parte, responsáveis pelo seu crescimento exponencial quer pela sua intervenção nos sistemas de produção e produtos, quer pela criação das suas imagens corporativas. 4

Ainda assim, Harold Van Doren, em 1940, afirma que muitos empresários não reconhecem a importância do designer no seio da indústria, queixando-se dos preços elevados cobrados pelos designers e da inexistência de resultados imediatos, não considerando o investimento em estratégias a longo-prazo propostas por estes. No entanto, o plano de recuperação económica dos Estados Unidos não se cingia exclusivamente ao sector industrial e comercial, pelo que também o design e a arte exerceram papéis interventivos fora deste âmbito. Com a subida de Roosevelt ao poder e com a implementação do New Deal foram criados programas governamentais como medida de combate à crise e à instabilidade social, dos quais se destaca o WPA (1935). Sucessor de outros sistemas algo fracassados, o WPA tratava-se de um programa de investimento público destinado, antes de mais, a criar emprego e a relançar a economia apostando na população e não exclusivamente nas empresas. Nesta época desenvolvem-se então projectos de construção e reformulação de infraestruturas, nos quais se incluía um sistema alargado de rede eléctrica, em que o design, nomeadamente os cartazes de Lester Beall para a REA (Rural Electrification Association) , assume uma posição de sensibilização da população para a sua importância enquanto factor de desenvolvimento e bem-estar. Além disso, cerca de 5% do orçamento do programa WAP destinava-se ao investimento nas artes (e.g. teatro, cinema, pintura, escultura, murais, etc.) do qual beneficiaram nomes como Jackson Pollock, Orson Welles, etc. O

projecto de Roosevelt era ambicioso e ousado, pois grande parte da população não entendia o propósito do investimento artístico como estímulo económico, contudo foi nesta época que se criaram obras artísticas de mérito nacional (e.g. os murais das sedes de estado retratavam a época de dificuldade, à semelhança da arte mural mexicana e constituíam um arquivo perene e pedagógico de crítica e retrato social). Entre os diversos projectos realizados conta-se ainda a recolha fotográfica organizada a nível nacional a fim de traçar uma imagem alargada dos efeitos da crise e os contextos da luta contra esta (em 1936 é lançado o primeiro número da revista LIFE que possuía um objectivo semelhante) e a criação do Index of American Design que pretendia juntar todas as manifestações de design utilitário e de artes decorativas desde os primórdios da nação como forma de catálogo representativo de uma identidade visual nacional (este projecto não foi concluído, mas é considerado actualmente como um dos exemplos mais ricos no que toca à arte e cultura norte-americanas). Inicialmente, Roosevelt não pretendia que o estado interviesse na expressão artística nacional, pois temia que esta intervenção fosse entendida como forma propagandística das medidas do governo vigente, aludindo por diversas vezes às manifestações artísticas que chegavam da Europa. No fundo, a arte deste período além de associada a uma necessidade de realismo, pretendia criar uma espécie de imaginário colectivo que perdurasse para as gerações seguintes, sendo inegável a sua força de sensibilização e pedagogia.




Os “ismos” da economia

U

ltrapassada a crise dos anos 30 e a Segunda Grande Guerra, instaurou-se um novo paradigma de mercado não mais dependente do estado. A intervenção do estado no mercado já não se realizava de forma directa, mas através da Reserva Federal (banco central do estado) e da gestão e investimento empresariais em Bolsa, ou seja, através de uma gestão de interesses maioritariamente privados. Esta gestão da economia perdurou até à crise dos anos 70. A razão para a queda da economia e défice financeiro nos anos 70 é desconhecida ou difícil de explicar. Muitos especialistas tentam esclarecer o que aconteceu na altura, não conseguindo apontar um factor isolado para a crise, mas sim vários acontecimentos que podem ter contribuído para tal. A primeira grande queda dá-se em 1973, que tem como consequência um aumento do desemprego, chegando a atingir mais de 8% da população activa em meados dos anos 80. Alguns economistas acreditam que esta se deveu às novas fontes de petróleo no Médio Oriente, surgindo assim uma forte concorrência para os EUA e resultando num aumento do preço do barril de petróleo. Outros factores são apresentados como causa para a crise dos anos 70 como o desenvolvi-

mento económico pós-guerra foi exponencial, entre inovações científicas e tecnológicas ao serviço do armamento militar (consequência da Guerra Fria, principalmente); o aumento do preço do ouro e do petróleo, que passa a ser controlado e limitado pela OPEC (Organização dos Países Exportadores de Petróleo); o princípio da guerra no Médio Oriente, que também afectou directamente a reserva de petróleo; e a desvalorização do Dólar. No período pós-guerra prevalecia a ideia de estabilização do mercado através da marcação de valores aceitáveis de inflação face a valores de empregabilidade, no entanto todos estes factores aliados a um descontrolo deste aparente equilíbrio entre inflação-desemprego contribuíram para um aumento generalizado e drástico dos impostos para valores incomportáveis, registando-se apenas nos anos 80 uma redução para valores sustentáveis para a população. Durante esse descontrolo económico-social, o estado ponderava uma intervenção directa na economia, numa aplicação das teorias de Keynes, contudo estas tornar-se-iam numa resposta ao desemprego, mas não à inflação que se fazia sentir. A crise revelou a verdadeira contradição do sistema de Keynes, pois começou com uma queda significativa da taxa de lucro ocorrida durante

um período de investimento público contínuo. A dado momento, esta queda induziu a uma quebra nos investimentos e posteriormente a uma quebra da produção, provocando um aumento dramático do desemprego, que se pretendia inicialmente combater. A inflação e o défice financeiro vieram alimentar a situação de crise. Mais tarde, as receitas keynesianas foram aplicadas, apesar de tudo, mais moderadamente, não conseguindo, no entanto, travar o desemprego e acelerar o crescimento económico. Só depois de 10 anos em crise e de muita insistência ficou comprovada a incapacidade das medidas keynesianas para crises cujo fundamento residia no preciso descontrolo do investimento público. Com este fracasso da aplicação das teorias keynesianas, criaram-se medidas alternativas que ficaram conhecidas por Neoliberalismo. No Neoliberalismo, ao contrário das teorias de Keynes, há uma total liberdade de comércio (mercado livre) e privilegiam-se medidas como a privatização de órgãos estatais, abertura das fronteiras comerciais (globalização), aumento da produção e fiabilidade nas leis da oferta e da procura. São estas políticas que irão ditar a economia mundial futura. Mas será o neoliberalismo A resposta?

A “crise doméstica” da Aldeia Global

O

John Maynard Keynes (1883-1946)

s novos avanços tecnológicos integrados nos sistemas de produção colocaram ao sistema capitalista novas prioridades. Com um panorama industrial de produção de certo modo assegurado, surge a necessidade de aposta em actividades cruciais de desenvolvimento científico, tecnológico e pedagógico nos Estados Unidos da América e no mundo em geral. A aposta de formação nestas áreas, pelo facto de não produzirem resultados lucrativos a curto prazo, exigiam primeiramente a intervenção financeira por parte dos estados, incluindo o aumento de salários de trabalhadores mais qualificados e especializados. Assim, o sistema industrial contrariava um pouco o paradigma anterior de produção, na medida em que a força de trabalho colectiva era substituída por um grupo mais restrito de indivíduos qualificados, provocando um aumento do desemprego e gerando a instabilidade social. Apesar da redução do emprego, a produtividade apresentava um crescimento constante, que ameaçava ultrapassar a capacida-

de de consumo do país. Começam, então, a desenvolver-se as empresas multinacionais, que estendem o seu mercado além-fronteiras e que possibilitam o livre fluxo de exportação de capitais. Inicia-se assim o liberalismo económico. Outros acontecimentos importantes, como o colapso da URSS, vão transformar os EUA num centro económico global, uma superpotência mundial, que facilitam a globalização dos mercados. O Sudoeste Asiático, na primeira metade da década de 90, regista um grande crescimento económico, suscitando o interesse dos países ocidentais. Estes vão investir o grande excedente de capital nestes mercados. A própria globalização facilitou a crise mundial. Quando as bolsas mundiais começam a entrar numa fase crítica, gera-se uma crise monetária. Para equilibrar esta instabilidade os estados vêem-se obrigados a desvalorizar constantemente a sua moeda, contudo sem grande efeito. A acumulação excessiva de capitais começa a ser investida em apli 7


cações cada vez mais especulativas, mas altamente rentáveis, pressionando as barreiras legais e chegando a abolir a capacidade dos estados ou do próprio Mercado sobre o fluxo de capital. Um grupo restrito de gigantes financeiros começa a conseguir o controlo dos mercados financeiros e imobiliários, tal como a bolsa de valores. A união do sector comercial com os banqueiros possibilita um maior poder de compra dos consumidores, isto é, estes não têm de pagar os produtos e ainda os custos de crédito. Criou-se, assim, a ilusão de abundância, provocando o sujeito a consumir mais e, em consequência, a adiar a crise. Tal evidencia a fragilidade do sistema capitalista, pois se o suporte deste sistema é o consumidor e este vê o seu poder de compra a diminuir, os valores de consumo diminuem, reduzindo consequentemente o poder de compra e acabando por gerar prejuízo na produção e, por último, gerando desemprego. Após o atentado terrorista nos EUA, em 2001, criou-se uma economia de guerra com o objectivo de impulsionar a produção mundial. Com o decréscimo das taxas de 8

juro como forma de relançar a economia nos EUA, aumenta o número de clientes devedores e gera-se um consumo massivo. Novos empréstimos no sector imobiliário contribuem para este consumo desenfreado. O dia 14 de Setembro de 2008 marca o início oficial da crise, quando um dos cinco grandes bancos norte-americanos anuncia a sua falência. Num efeito dominó seguem outros bancos mais pequenos, empresas e alastra-se para os bancos europeus. Os preços das matérias-primas começam a subir e consequentemente os custos de produção. As empresas começam a diminuir a produção e a fazer cortes orçamentais, passando pelo despedimento considerável dos seus empregados. A população revolta-se contra a falta de emprego, resultando num corte drástico do poder de compra. Numa tentativa de travar a expansão e o colapso do sistema, os governos injectam dinheiro dos contribuintes no mercado, nomeadamente em bancos e empresas. Apesar dos esforços governamentais, vários países declaram o início de recessão económica (quando registam crescimento negativo na economia),

directamente relacionado com a crise de crédito, principalmente no sector imobiliário. A crise do crédito é um exemplo de como todo o sistema capitalista funciona. É durante um tempo próspero em que todos beneficiam com um sistema altamente lucrativo, com mais dinheiro e muito mais consumo, que se acumulam os problemas que vão destruir o equilíbrio financeiro. Os grupos de investidores nos EUA, como forma de rentabilização do seu capital, investiam na Reserva Federal. No entanto, após o 11 de Setembro, e com a descida dos juros para 1%, como medida de regularização da economia, o capital investido rendia muito pouco aos investidores, criando, devido aos baixos juros, uma situação muito benéfica para os bancos, que se aproveitam da facilidade de pedir empréstimos para possibilitar negócios altamente lucrativos. Esta nova forma de lucro dos bancos atrai os investidores. Os bancos tornam-se, assim, intermediários entre os proprietários de casas e os investidores, através das hipotecas: o proprietário consegue a casa a um menor preço, o banco acumula várias hipotecas e


recebe os pagamentos mensais de cada uma das famílias. Depois divide esta acumulação de capitais em três partes, que funcionam em cascata, a primeira parte sendo mais segura e a última, por meio da especulação, mais arriscada, traduzindo-se em mais dinheiro para os investidores. Se um proprietário falhar o pagamento da hipoteca a última parte pode não acumular dinheiro. Até este ponto todos conseguem grandes

lucros, o sistema começa a falir quando a ambição económica substitui a sensatez e o banco começa a controlar menos quem tem acesso a uma hipoteca. Para ganharem ainda mais dinheiro os bancos começam a vender casas a pessoas que não conseguem garantir pagamento das hipotecas, aumentando o risco do investimento e aumentando os juros. Gradualmente, as famílias não conseguem pagar as hipotecas, isto é, o dinheiro transfor-

ma-se em casas para vender. O valor imobiliário começa a descer e cada vez mais pessoas desistem das hipotecas eu verem as suas casas a desvalorizar; o banco tenta vender as casas, agora sem grande valor, aos investidores que recusam e o banco vê-se obrigado a abrir falência, tal como os investidores que também possuíam milhões de dólares em hipotecas. A economia fica paralisada e entra em colapso.

Yes we can? A

s eleições Americanas trazem grandes esperanças para uma reforma financeira. Numa época de colapso económico mundial, todos esperam que um novo governo consiga salvar a economia, tal como o governo de Roosevelt na crise de 1930. Barack Obama é eleito presidente dos Estados Unidos em 2009 e começa a pôr em prática um conjunto de teorias keynesianas, em que se calcula o que o mercado está a produzir e o que deveria estar a produzir. É neste ponto que o governo intervém, na medida em que investe a “diferença” por meio de um stimulus package. Isto é, o governo investe dinheiro no mercado para garantir que este continue a funcionar, para financiar os contribuintes e, por conseguinte, estes financiarem o governo. A reforma financeira da administração Obama consiste, ainda, de outras medidas como: a criação de uma agência regularizadora para proteger o consumidor na compra de uma casa, evitando a situação anterior em que estes estavam à mercê das hipotecas e investimentos arriscados fora do seu controlo; novas leis de controlo de crédito, para controlar as dívidas das famílias americanas; entre outros. Todas estas medidas assentam no objectivo principal de proteger o consumidor, estabilizar os mercados financeiros e, através do investimento em várias áreas como a saúde, energias alternativas e tecnologia, criar e assegurar postos de trabalho.

9


“A crise é o momento da mudança, da metamorfose.” Derrick de Kerckhove

T

oda a História Mundial foi pontuada por crises: crises económicas, políticas, científicas, sociais... Com o despoletar da mais recente crise económica mundial, as atenções centraram-se naquele que, assumindo o cargo cimeiro da maior potência mundial, poderia representar a mudança: Barack Obama. Acompanhado por uma campanha política promissora (quer nas estratégias políticas, quer nas estratégias de coerência na criação de uma identidade visual reconhecível e respreitada pelo eleitorado) Barack Obama agitou os diversos sectores empresariais e profissionais de todo o mundo (não sendo o design excepção). Actualmente, a crise económica não mais preenche as primeiras páginas dos jornais e no entanto os planos de salvamento económico e social mantêm-se face às necessidades prementes de reestruturação mundial. À semelhança das políticas do New Deal aquando da Grande Depressão, o Estado norte-americano assumiu um papel activo no mercado nacional e internacional sob a forma de pacotes de estímulo do mercado, numa aparente contradição das práticas neoliberais até então aceites e vigentes. Ainda assim, apesar das medidas de emergência tomadas por diversos governos por todo o mundo, alguns mercados mantêm-se frágeis e instáveis (outros declararam oficialmente a falência das suas contas, como se de empresas se tratassem). Questiona-se assim qual o método mais eficaz numa situação de profunda instabilidade estrutural: se o método da resposta imediata ou o método da resposta a longo prazo. Alguns governos começam efectivamente a ponderar e a agir sobre esta questão, sendo os EUA uma vez mais exemplo disso. Após as injecções avultadas de capital por parte do estado nas entidades privadas (bancos, empresas multinacionais, etc.) como esforço imediato de combate à crise, não surtindo efeitos duradouros, surgem os planos de reformulação estrutural do país que, apostando principalmente em medi-

10

das estratégicas de formação e acção social se pretendem eficazes a longotermo. Destacam-se as políticas de criação do sistema de saúde nacional (semelhante aos sistemas já existentes na Europa), do sistema de pensão e reforma e ainda da aposta na educação através da integração da arte no sistema educativo. Isto é, na aposta das artes como estímulo criativo formador de indivíduos social e profissionalmente activos, inventivos e, consequentemente, produtivos. Esta abordagem à crise poderá ser um sinal de como o design pode ter um papel construtivo e reestruturante inserido na sociedade. Papanek afirmara que “O futuro do design encontra-se associado ao papel fulcral da síntese entre as várias disciplinas que constituem a matriz sócio-económica-política dentro da qual o design funciona.” Esse futuro é hoje! Hoje, as ditas “soluções do design” residem ou deveriam residir cada vez mais na sua dinâmica enquanto disciplina apoiada numa metodologia projectual e não apenas enquanto disciplina “criadora de objectos”. A cultura material que se impôs sobretudo nas sociedades “ocidentais” necessita de um abrandamento, através de uma tomada de consciência por parte do sujeito relativamente aos verdadeiros significados de “necessidade” sem imediata associação a conceitos como “consumo” ou “produção”. O design, desde o design de comunicação ao design industrial, como área mediadora entre os interesses sociais e os sistemas de produção pode e deve intervir nesse sentido, privilegiando não medidas de estímulo ao consumo, mas medidas de estímulo ao consumo ponderado! Não conseguiremos certamente contrariar as lógicas e comportamentos neo-liberalistas profundamente enraizados na nossa sociedade, no entanto, podemos servir-nos deles como forma de habilitação desta. Derrick de Kerckhove afirma: “A informação é a única substância que cresce com o uso.” Não será mais lucrativo e proveitoso investirmos na Bolsa da Informação?

WikiViz Centrado na informação sobre política Chris Harrison, 2006




Referências: ABELSON, Nathaniel O. et al. Os grandes acontecimentos do séc.XX. Selecções Reader’s Digest. Lisboa, 1979. KERCKHOVE, Derrick de. A Pele da Cultura. Relógio d’água. Lisboa, 1997. MALDONADO, Tomás. Design Industrial. Edições 70. Lisboa, 2006. PAPANEK, Victor. Arquitectura e Design. Edições 70. Lisboa, 1998. REFREGIER, Anton. Art For The People - New Deal Murals on Long Island. The Emily Lowe Gallery. Hofstra University, 1978. WOODHAM, Jonathan M. Twentieth-Century Design. Oxford University Press, 1997.

http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=100018973 http://www.mundoeducacao.com.br/historia-america/new-deal.htm http://sociologias-com.blogspot.com/2009/07/keynesian-revolution-and-neo-liberal.html http://memory.loc.gov/learn//features/timeline/depwwii/newdeal/newdeal.html http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_02.pdf http://memory.loc.gov/learn//features/timeline/depwwii/newdeal/alphabet.html http://www.aiga.org/content.cfm/what-can-design-do-to-help-fulfill-the-promise-of-change http://www.aiga.org/content.cfm/video-makethink-2009-branding-obama http://www.guardian.co.uk/world/obama-administration http://www.whitehouse.gov/ http://www.barackobama.com/ http://jonathanjarvis.com/crisis-of-credit http://www.american.com/archive/2007/december-12-07/the-great-recession-of-2008 http://resistir.info/crise/cgc_v2.html http://www.nytimes.com/2009/01/04/weekinreview/04cannell.html?_r=1 http://observatory.designobserver.com/entry.html?entry=7757 http://www.encyclopedia.chicagohistory.org/pages/637.htm


Daniela Pretorius, 4770 ; Filipa Borges, 4772 ; Lisa Moura, 4781; Raquel Silva, 4793. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa 2010


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.