Boletim da Casa de Goa NOVEMBRO / DEZEMBRO 2018
Assembleia Geral da Casa de Goa Visita da Embaixadora da Índia e do Ministro das Obras Públicas de Goa Missa de São Francisco Xavier
Boletim da Casa de Goa
CASA DE GOA Associação de Goa, Damão e Diu
ÍNDICE
Pessoa Colectiva de Utilidade Pública Calçada do Livramento, 17 1350-188 LISBOA Contactos: 21 393 00 78 / 915 057 477 @ casadegoa@sapo.pt www.casadegoa.org
Presidente da Direcção Vasco Soares da Veiga
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REUNIÃO DA ASSEMBLEIA GERAL
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VISITA DE UMA DELEGAÇÃO DO GOVERNO DE GOA
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ACÇÕES DESENVOLVIDAS EM 2018
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QUE FORÇA QUE PODE UMA ASSOCIAÇÃO COMO A NOSSA EXERCER SOBRE A ÍNDIA E EM PARTICULAR SOBRE O ESTADO DE GOA?
Juliano M. Mariano
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A REVOLTA DAS GRALHAS
em companhia do Primeiro-Ministro durante uma recente viagem à
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NOTÍCIAS
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LIVROS
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GASTRONOMIA
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AGENDA / ANÚNCIOS
Director do Boletim M. Vieira Pinto
Design/Diagramação
Capa: “A Directora da Casa de Goa Dr.ª Heromina de Freitas Teixeira
Índia”
Intervenientes: Manuel Vieira Pinto Valentino Viegas
ESTATUTO EDITORIAL O Boletim da Casa de Goa visa divulgar a atividade da associação, sendo um instrumento de divulgação da realidade de Goa e de tudo o que se insira nos fins estatutários da Casa de Goa. O Boletim aposta numa comunicação viva, imaginativa, atual e atuante, privilegiando as notícias mais relevantes da área, sem descurar a crónica, a opinião ou o comentário mais desenvolvido. O Boletim é da responsabilidade da Direção. Publicará textos que sejam solicitados, reservando-se o direito de não publicar as colaborações que não sejam expressamente solicitadas. Caso as mesmas sejam publicadas, respeitará na íntegra o texto enviado, exceto se o autor aceitar as sugestões de alterações que venham a ser propostas, em razão de critérios de espaço.
Editorial N
a memorável conferência sobre o desenvolvimento sustentável do Estado de Goa, realizada na nossa sede em 6 de Maio de 2017, sob a Presidência do Primeiro-Ministro, o representante da Índia incluiu, no seu discurso, as seguintes palavras: I would like to congratulate Casa de Goa on celebrating its 30th anniversary this year and for serving as a bridge that not only connects our two great countries -India and Portugal- but also connects our shared past with a shared future . Os objectivos da Casa de Goa, consubstanciados nas diversas alíneas do art. 4º dos respectivos estatutos, incluem tarefas que exigem uma estreita colaboração com as autoridades indianas e goesas. Não devemos pois deixar escapar a oportunidade de estabelecer com as mesmas um diálogo intenso e frutífero que permita, a par da conservação das nossas recordações naquelas paragens, contribuir para a construção de um futuro de maior prosperidade para Goa, para a Índia e para Portugal.
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REUNIÃO DA ASSEMBLEIA GERAL A 28 de Novembro do ano transacto, reuniu-se em 2ª convocatória sob a presidência do Prof. Dr. Henrique Machado Jorge, nos termos do art. 12º nº 2, alínea "A" dos Estatutos, a Assembleia Geral da Casa de Goa. Estiveram presentes catorze associados, tendo feito se representar por procuração mais um. Da reunião foi elaborada a Acta que a seguir se transcreve:
CASA DE GOA – Associação de Goa, Damão e Diu ACTA da 62ª REUNIÃO DA ASSEMBLEIA GERAL 1. A 28 de Novembro de 2018 reuniu em segunda convocatória, pelas 18h30, no auditório da Casa de Goa, a Assembleia Geral (AG) com a seguinte ordem de trabalhos: Ponto 1 – Informações Ponto 2 – Aprovação da Acta nº 60 Ponto 3 - Discussão e votação do Orçamento e Plano de Actividades para o ano de 2019 Ponto 4 – Tomada de posse de Membros de Órgãos Sociais. Estiveram presentes catorze sócios, um dos quais portador de procuração emitida por sócia impossibilitada de comparecer. Verificando-se a ausência do Vogal da Mesa da Assembleia, o Presidente solicitou a colaboração de um dos presentes, no sentido de ser colmatada essa falta. O sócio António Faria aceitou convite para o efeito, não tendo qualquer dos presentes manifestado objecção a essa opção. 2. Dando-se início aos trabalhos (ponto 1.), foi concedida pela Mesa a palavra ao Presidente da Direcção, que começou por informar a Assembleia de que, em resposta a interpelação da Direcção da Casa de Goa efectuada em Maio p.p., a Câmara Municipal de Lisboa (CML) realizou, no corrente mês de Novembro, a solicitada inspecção de muralha e guarita do sítio da nossa Associação. A Casa de Goa fez-se representar, para o dito efeito, pelo sócio Carlos Freire, que gentilmente acedeu a estar presente. Face à verificação efectuada foi, pela delegação da CML, decidido proceder, a curto prazo, ao escoramento da guarita, que reconhecidamente corre risco de desmoronamento e queda de massas sobre residências localizadas a cota inferior. Em paralelo, será preparado, pela e à responsabilidade da CML, plano de subsequente obra de reparação. O Presidente da Direcção lembrou, ainda, a sessão de 1 de Dezembro p.f., de apresentação do livro Dysthanasia, da autoria do sócio José Filipe Monteiro, e a celebração a 3 de Dezembro do santo Francisco Xavier, mediante a tradicional missa e a inauguração de Exposição na Igreja de São Roque, em Lisboa. 3. Para efeito do ponto 2. da Ordem de Trabalhos, o Presidente da Mesa recordou que, em sessões anteriores da AG, se havia já pedido dispensa de leitura da Acta em apreciação. Adicionalmente, tal como decidido na sessão precedente, a minuta da Acta nº 60 tinha ficado, para verificação, à disposição dos sócios, na Secretaria, desde Junho p.p., e nela haviam sido introduzidas as alterações subsequentemente submetidas por sócios. Não tendo havido manifestação de oposição ao procedimento proposto, a Acta foi posta a votação e aprovada por unanimidade. BOLETIM DA CASA DE GOA -4-
4. No âmbito do ponto 3., tendo sido dada a palavra à Direcção para apresentação sucinta do proposto Plano de Actividades para o Ano de 2019, o Presidente da Direcção fez uma pormenorizada e prolongada exposição, descrevendo o teor das secções que compõem o referido texto. Aberta a discussão pela Assembleia, foram pedidos diversos esclarecimentos de pormenor. Em particular, a menção ao Memorial a S. Francisco Xavier suscitou reacção da parte da sócia Maria de Lurdes Elvino de Sousa, secundada pelo sócio Valentino Viegas, por ser por ambos considerada em contravenção do Artigo 3º dos Estatutos da Casa de Goa – não confessionalidade associativa. Face ao desencontro de opiniões e para conter instâncias de diálogo directo, o Presidente da Mesa lembrou que o que a proposta de Plano de Actividades menciona é uma intenção, cuja propriedade ou impropriedade só deverá ser objecto de decisiva apreciação após conhecimento da específica modalidade de concretização que a Direcção, em devido tempo, deverá apresentar aos sócios. 5. Também objecto de discussão, com vista a clarificação de propósito, modalidade e utilidade antecipada, foram questionados os tópicos: registo da Casa de Goa como organização não governamental (ONG) junto da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa); Baile Anual; candidatura a financiamento pelo Programa Portugal 2020. Em registo mais abrangente, foram levantadas questões sobre: a demora na entrega dos distintivos aos Sócios Honorários João Soares e Carmona Rodrigues; a recente irregularidade na edição do Boletim; a razão de ser da opção por «edições da própria Casa de Goa». Com respeito a este último tópico, o sócio João Coutinho alertou para o facto de a possível reedição de um livro sobre Culinária Goesa poder ser afectada, em termos de êxito editorial, pela prevista publicação, no próximo ano, de duas outras monografias sobre o mesmo tema. 6. Considerando que a discussão havida, conquanto útil, aparentemente não havia sido suficientemente esclarecedora de diversos naipes de debate, o Presidente da Mesa propôs pôr a proposta de Plano de Actividades a votação apenas na generalidade. Não tendo havido oposição a essa opção por parte dos presentes (na altura, 13 pessoas e uma procuração), procedeu-se à votação e a proposta foi aprovada por unanimidade. 7. Seguiu-se a discussão do Orçamento, aliás prejudicada pelo avançado da hora, tendo o Presidente da Mesa optado por dispensa de apresentação da proposta pela Direcção. A sócia Maria de Lurdes Elvino d Sousa alertou para o facto de as «Obras Novas», mencionadas no Plano de Actividades, não estarem contidas/reflectidas na proposta de Orçamento. Também clarificou a referência a pagamento de água e electricidade consumidas pelos apartamentos no nível térreo. De facto, os apartamentos em regime de aluguer são responsáveis pelos seus próprios consumos, cabendo à Casa de Goa o pagamento apenas dos consumos nos não habitados ou indisponíveis por motivo de realização de obras de manutenção. Na expectativa de que a Direcção tenha oportunamente em consideração os alertas feitos e lhes dê o devido acolhimento, o Presidente da Mesa pôs a votação a proposta de Orçamento para o ano 2019, que foi aprovada por unanimidade. 8. O ponto 4 da Ordem de Trabalhos da sessão, que se destinava a completar o acto de posse de membros eleitos, não pôde ser levado a efeito por motivo da não comparência dos visados, a saber, um vogal do Mesa da AG e dois suplentes de outros órgãos da Casa de Goa. O Presidente da Mesa deu por encerrada a reunião da AG às 20h10.
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral Henrique Machado Jorge
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Da direita para a esquerda o 1º Secretário Amararam Guskar, 2º O Presidente da Direcção da Casa de Goa, 4º O Ministro e a Embaixadora da Índia, o Prof. Vieira Pinto, e a Dr.ª Heromina de Freitas Teixeira
N
VISITA DE UMA DELEGAÇÃO DO GOVERNO DE GOA
o dia 4 de Dezembro de 2018, pelas 11h00 visitou a Casa de Goa uma delegação do Governo daquele Estado da União Indiana, constituída pelo Ministro das Obras Publicas, Senhor Ramkrishna alias Sudin Dhavalikar, e várias outros funcionários do seu Departamento. Devido a doença prolongada do Ministro-Chefe, o Senhor Ramkrishna tem vido, nos últimos tempos, a desempenhar aquelas funções. A delegação foi acompanhada pela Excelentíssima Senhora D. Nandini Singla, Embaixadora da Índia, e por dois Secretários da Embaixada. A delegação foi recebida à entrada das nossas instalações pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Presidente e outros membros da Direcção da Casa de Goa e alguns convidados, entre os quais se contava o Vice-Presidente da Comunidade Hindu de Lisboa. Depois de uma breve visita às instalações realizou-se uma pequena sessão de boas vindas na qual usaram da palavra os Presidentes da Mesa da Assembleia Geral e da Direcção, bem como o Ministro e a Embaixadora da Índia
e à Embaixadora da Índia, Mrs. Nandini Singla, o Presidente da Mesa da Assembleia Geral proferiu algumas palavras, cuja versão em português se transcreve de seguida. Excelências, Visitantes,
Embaixadora,
Ministro,
distintos
Minhas Senhoras e meus Senhores Como o tempo é escasso limito-me, em breves minutos, a apresentar a Casa de Goa. Começando pela negativa, afirmo que a Casa de Goa não é uma associação votada ao revivalismo de situações passadas. Todo o agregado humano tem de reviver passados êxitos, de que se orgulhe, e passados erros, dos quais extraia as devidas lições e ilações. Mas não necessariamente buscar recriações impossíveis.
Nessa perspectiva, nos últimos anos temos discutido em profundidade o conceito de Goanidade ajustado ao presente tempo. Posso lembrar que, no século XIX, quando a economia de Goa declinou, muitos intelectuais goeses se deslocaram para Portugal, muitas vezes sobretudo com o intuito de aceder à Europa. Ora No decurso da sessão de boas-vindas à delegação hoje, não são poucos aqueles que, reclamando-se de BOLETIM DA CASA DE GOA -6-
herança goesa, obtiveram passaporte português com o exclusivo intuito de ganhar acesso a países como o Reino Unido. Por outro lado, há que reconhecer que a chamada Civilização Ocidental se encontra em crise profunda. Por duas razões principais. A primeira, porque depositámos excessiva confiança na ciência e na tecnologia de base científica. A realidade é que atingimos um estádio em que não somos capazes de avaliar o risco associado a tecnologias que estão a emergir sucessivamente. A segunda razão é a profunda «desespiritualização» que a modernidade e a contemporaneidade europeias instituíram. Chegados a uma situação de bloqueio, a única saída que se afigura factível é a retoma da espiritualidade por via de conceitos e valores que as filosofias e culturas da Ásia, com particular relevo para a Índia, desenvolveram ao longo de milénios. Correntes filosóficas como Vedanta, Budismo e Jainismo, para apenas mencionar algumas, poderão revelar-se essenciais para uma reorientação das dinâmicas desenvolvimentistas ocidentais, que devolva à humanidade fundadas perspectivas de sobrevivência a longo prazo. Dito isto, pensamos que as diásporas goesas poderão ser um poderoso instrumento de reposição de um conhecimento filosófico que o Ocidente obliterou. A Casa de Goa está particularmente interessada em apoiar esse tipo de empreendimentos. E não apenas. A título de simples referência, fica a informação de que está em curso a criação de uma associação em Moçambique, igualmente designada por Casa de Goa. Ora nós estaremos à disposição dos promotores dessa iniciativa, sobretudo para os ajudar a dar os primeiros passos de presença e afirmação. Muito obrigado. A reunião terminou com um almoço no restaurante, findo o qual a delegação de Goa seguiu para o Aeroporto, de regresso à India, tendo a Embaixadora e seus colaboradores permanecido na Casa durante mais algum tempo, em frutuosa troca de impressões com os dirigentes da Casa.
ABERTURA DA CONTA DONATIVOS (NIB/IBAN 0035 0027 0008 1881 2309.2)
A execução do ambicioso plano de actividades da Casa de Goa para o quadriénio de 20182022 exige a disponibilidade de meios para financiar a execução das obras e a aquisição dos serviços necessários para o tornar uma realidade. No que respeita ao sector da comunicação, estão em causa, por exemplo, a remodelação e a actualização do sítio da internet e a gestão da conta do Facebook, tarefas que não podem continuar a ser feitas exclusivamente com base no trabalho de voluntários, ainda que sobremaneira dedicados e esforçados. A biblioteca carece de móveis que permitam pô-la a funcionar, acautelando o acervo existente e instalando as numerosas dádivas de livros que temos vindo a receber. E muitas outras necessidades esperam por uma oportunidade para poder ser consideradas. Estão previstas várias actividades de recolha de fundos a fim de captar recursos que permitam efectuar os investimentos necessários. E foi criada uma conta (NIB/IBAN 0035 0027 0008 1881 2309.2) para a qual todos quantos possam e queiram contribuir enviem as suas contribuições. A Direcção comunicará a utilização dada aos fundos desta conta.
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ACÇÕES DESENVOLVIDAS EM 2018 (Abr-Dez) Dado o interesse em fornecer aos associados e outros leitores uma informação tão completa quanto possível sobre a actividade directiva e os principais eventos ocorridos o boletim passará a
incluir em cada uma das suas edições uma súmula dos factos mais relevantes do período por ele coberto. Esta primeira inserção cobre os meses de Abril à Dezembro de 2018.
Instalações Negociações com a Câmara Municipal de Lisboa Negociação com os inquilinos da Câmara Municipal Segurança do Torreão Impermeabilização do tecto do Museu Recuperação das instalações do restaurante Isolamento do soalho das instalações principais Recuperação da Casa nº 3 (21/6) Outras acções de manutenção Reforço do mobiliário
Gestão financeira Reforço da qualificação com instituição de utilidade pública (5/9) Negociações com a empresa concessionária do restaurante Cobrança das receitas consignadas do IRS (24/4) Abertura da conta solidária
Relações exteriores Recepção de uma delegação do Governo de Goa (4/12) Participação na Feira da Índia Participação na homenagem a Narana Coissoró
Comunicação Boletim(3 a 7 de 2018)(26/12) Reformulação do sítio da Internet
Cultura Festival Garcia de Orta em Castelo de Vide (30 /6 e 1/7) BOLETIM DA CASA DE GOA -8-
Festival da Índia (13/8) Ciclo de Cinema Indiano e Goês (Set e Seg.) Exposição sobre S. Francisco Xavier ( Sessão de fados na Casa da Amália (22/9) Apresentação de livros Conferências Conversas francas: Espiritualidade e religião como Factores Identitários da Cultura Goesa (15/5) Goa como Ponte Virtual entre Commonwealth e Lusofonia (19/6)
Comemorações Comemorações do nascimento de Gandhi
Missa de S. Francisco Xavier (3/12)
Convívios Sardinhada tradicional (14/7) Chá das Cinco (28/7) (27/9) (25/10) Almoço sabores lá de Casa (20/10) Almoço solidário do Ekvat (20/10) Convívio do Natal (16712) Celebração da passagem do ano Almoço de aniversário do Secretário Geral
AOS SENHORES COLABORADORES DO BOLETIM A Direcção agradece a quantos publicaram os seus trabalhos no Boletim no ano anterior e pede aos senhores colaboradores que possuam trabalhos que desejem publicar no Boletim do ano corrente o obséquio de remeterem mais rapidamente possível os seus originais para a Secretaria. Este pedido tem por finalidade permitir uma melhor programação do conteúdo de cada uma das edições. BOLETIM DA CASA DE GOA -9-
QUE FORÇA PODE UMA ASSOCIAÇÃO COMO A NOSSA EXERCER SOBRE A ÍNDIA E EM PARTICULAR SOBRE O ESTADO DE GOA? português e com os quais manifestamente, houve cruzamento de influências, concretamente o Brasil, os países africanos lusófonos, Macau e Timor (sendo que estes últimos territórios dependeram, durante séculos, dos governos portugueses de Goa? 5º. Sendo visível a pequenez territorial e populacional de Goa, Damão e Diu, mas enorme a sua força simbólica e cultural, como podemos exercer essa influência em benefício de todos, começando pelas famílias originárias daqueles territórios, que são a maioria dos nossos associados? 6º. Como podemos contribuir para um aumento da cultura geral das comunidades portuguesas e dos países lusófonos sobre Goa, Damão e Diu, sobre os quais sabem apenas alguns lugares comuns?
Prof. Dr. M. Vieira Pinto
INTRODUÇÃO
Considera o Manifesto Eleitoral da Direcção ultimamente eleita que, «no estado actual de crise do associativismo, em que cada vez menos pessoas participam nas actividades de associações de natureza cultural, o desafio que se coloca à nossa Casa de Goa é ainda maior, dadas as condições especiais de grande integrabilidade das comunidades originárias de Goa, de Damão e Diu, e de outros locais do Oriente (a que adiante referiremos apenas como Goesas, dada a sua preponderância) no conjunto geral da sociedade portuguesa.» Acrescenta que «há que tomar ainda em conta outras perspectivas igualmente sérias» que eu sintetizo da forma seguinte: 1º. Qual o peso real e actual da cultura goesa em Portugal e nas comunidades portuguesas no estrangeiro? 2º. Em que medida podemos, não só impedir o seu desvanecimento, como enaltecê-la como uma manifestação absolutamente singular do cruzamento das culturas portuguesa, indiana e outros? 3º. Que força pode uma associação como a nossa exercer sobre a índia e em particular sobre o Estado de Goa? Em que medida tomam as nossas propostas e preocupações em consideração? 4º. Que relacionamento positivo podemos estabelecer com outras associações de outros povos que no passado fizeram também parte do império
Para lançar o debate que proporcione a melhor resposta às dúvidas ínsitas nas perspectivas acima enunciadas resolvi alinhavar algumas ideias sobre as mesmas, dando prioridade ao 3º ponto do parágrafo anterior, e desde já convido os leitores do Boletim a participar neste debate, pela sua importância, e tendo em conta os objectivos da Casa de Goa constantes do art.º 4º dos seus Estatutos. QUE FORÇA PODE UMA ASSOCIAÇÃO COMO A NOSSA EXERCER SOBRE A ÍNDIA E EM PARTICULAR SOBRE O ESTADO DE GOA
A meu ver, a força que uma associação como a nossa pode exercer sobre a Índia e em particular sobre o Estado de Goa depende da capacidade que tiver para influenciar qualquer uma destas entidades. A Índia, como sabemos, é um Estado Federal. No entanto, dadas as enormes diferenças que podemos assinalar entre os Estados federados, (que possuem enorme poder no que respeita à administração dos seus povos e territórios), este problema coloca-se de forma diferente em relação ao Estado central da Índia e ao Estado federado de Goa. Desde que o Governo chefiado por António Costa tomou posse, o Governo Central de Índia, chefiado por Narendra Modi, tomando como pretexto o facto de António Costa ser de origem goesa, tem desenvolvido algumas iniciativas que demonstram um aumento do
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interesse das relações com Portugal. O diálogo entre os Estados Centrais tem sido fácil. As relações económicas estão em desenvolvimento. Aqui parece-me que os Estados já fizeram quase tudo quanto podiam fazer para o incremento dessas relações e que a partir de agora a palavra cabe sobretudo às empresas. Além disso, o Governo Central da Índia considera que as dimensões gigantescas do mercado potencial indiano recomendam que Portugal comece pelas relações económicas com Goa, o que constitui uma vantagem para Portugal, por conhecer como os seus dedos aquele território. Além disso se Portugal é bem-vindo em Goa fica desmentido muito do que se disse sobre o colonialismo português naquela zona geográfica. As relações culturais com a India no seu globo também têm evoluído, embora numa base um tanto aleatória, porque se há anos que registam um conjunto importante de realizações, outros há em que quase nada se passa. Mas no que diz respeito à defesa do Português o Estado de Goa tem-se limitado a permitir o seu ensino em algumas escolas secundárias. Como qualquer outra língua estrangeira. Além disto este ensino é inteiramente financiado por instituições portuguesas. O uso do Português está a desaparecer de Goa, já não há jornais em Português nem Concanim e o Governo de Goa rejeitou o alfabeto latino para a escrita do Concanim. Consideramos que o tratado assinado em 1974 de acordo com o qual Portugal reconheceu a soberania da Índia sobre os antigos territórios portugueses de Goa, Damão, Diu e Nagar Aveli não está a ser inteiramente cumprido e devem desenvolver-se esforços no sentido de um seu mais adequado cumprimento.
ESTRATÉGIA A DESENVOLVER NAS RELAÇÕES COM OS GOVERNOS DA ÍNDIA E DE GOA
não virão ao nosso encontro se as nossas propostas não estiverem de acordo com os seus interesses. Um acordo só é bom quando acarreta vantagens para ambas as partes que o assinam. Igualmente, a união faz a força. A acção da Casa de Goa pode valer mais quando associada à de outras entidades que têm prestado, à Índia ou a Portugal, assinaláveis serviços, sejam organismos públicos, empresas, associações, fundações ou câmaras de comércio. A este respeito parece-me útil mencionar: • O Instituto Camões • O Centro Cultural Portugal (Nova Deli) • Instituto Cultural (Goa) • As Fundações Oriente, Gulbenkian e Champalimaud • Câmara de Comércio Portugal-Índia • Por outro lado: • É indispensável a existência de boas comunicações e relações pessoais entre os membros da Casa de Goa e as autoridades indianas. • Deve assegurar-se a presença constante em Goa de representantes que possam funcionar como uma espécie de Embaixadores da Casa de Goa na Índia. • Devem intensificar-se as viagens a Goa, devidamente acompanhadas e dando sempre origem a cumprimentos a entidades oficiais. • Deve lançar-se uma campanha para assinalar as diferenças entre a presença britânica e a presença portuguesa na Índia. • A defesa e a promoção do Concanim devem ser feitas em simultâneo • Devem estudar-se e executar-se todas as facilidades possíveis para que se assegurem os interesses da Índia na CE e na CPLP • Deve prestar-se toda a assistência possível à diáspora Indiana em Portugal Mas: Devem evitar-se todas as manifestações a que possa ser atribuído caracter provocatório
O princípio geral que deve enformar as actividades a desenvolver para se conseguirem os nossos objectivos em relação com a Índia deve formular-se da forma seguinte: resolvida a questão da soberania o que é bom para Portugal é-o igualmente não só para a União Indiana, como para Goa. Assim, por exemplo, a manutenção do património histórico que Portugal lá deixou favorecerá o desenvolvimento do turismo, designadamente histórico, que é um dos objectivos do Governo Central e do Estado de Goa. Estes Governos
ACÇÕES A DESENVOLVER i. Curso de nomenclatura política indiana e filosofia do hinduísmo ii. Estudo da Índia iii. Estudo da História da Colonização Britânica na Índia iv. Estudo das necessidades da Índia em relação à CE
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M. Vieira Pinto (8 de Abril de 2019)
A revolta das gralhas
desleixadas por deixarem, à mercê daquelas ardilosas aves voadoras, anéis de noivado, ou outros objectos preciosos, de incalculável valor monetário ou sentimental. Se existem estudos a comprovar que as gralhas constroem ferramentas, a minha experiência pessoal em Goa revelou-me que elas têm uma memória desconcertante em relação à capacidade de fixação do rosto humano, pois de entre as dezenas de pessoas que circulam, são capazes de se lembrar qual delas representa uma ameaça para si. Por isso, permanecem nas proximidades dos humanos e só fogem quando aparece alguém que potencia um perigo iminente. Verifiquei também que se sentem mais à-vontade com quem tenham interagido de forma proveitosa às suas necessidades.
É do conhecimento dos cinéfilos que não foram as gralhas, em particular, mas as aves, em geral, Prof. Doutor Valentino Viegas que imortalizaram o filme Os Pássaros, do cineasta Quem esteve em Goa, por mais distraído que por britânico Alfred Hitchcock, reputado mestre do lá tenha andado, não pode dizer que não sentiu a suspense. presença das gralhas, pois se alguém se descuida Devido à complexidade das mensagens, esta naquelas paragens, aquelas aves negras fazem-se controversa película cinematográfica sofreu apresentar pelos piores motivos, porque, embora interpretações psicanalíticas, filosóficas, científicas, tenham o cérebro do tamanho de uma noz, são muito entre outras, pois as questões aí levantadas obrigam inteligentes, excelentes observadoras e rápidas a agir o cinéfilo, mais exigente e estudioso do cinema, a para tomar conta do alheio. meditar sobre o significado mais profundo das imagens Naquele 25.º Estado da Índia, devido à sua profusão aterradoras visualizadas no ecrã, onde se destaca e por andarem em constante vigilância, as gralhas o ataque de diversas espécies de pássaros aos seres conseguem acompanhar e fazer a análise cuidada do humanos no pequeno lugarejo do litoral, de Bodega comportamento humano, razão pela qual, à distância, Bay, situado no estado americano da Califórnia. dezenas de olhos perscrutadores localizados nos Para justificar aquele comportamento invulgar troncos das árvores, nas varandas das casas, nas das aves, podemos talvez inferir que os pássaros se imediações ou em sítios menos esperados, examinam tornaram assassinos por concluírem que havia chegado minuciosamente os movimentos individuais, a hora da vingança, pois estavam fartos e cansados aguardando, pacientemente, um momento de de serem mortos, e depois de depenados e cortados distracção para actuarem com prontidão, sobretudo se aos bocadinhos, cozinhados e servidos com requinte forem portadores de cobiçados alimentos. como manjar para deleite dos humanos. Quem pretenda dar uma festa ao ar livre, numa Reflectindo sobre aquelas aterradoras imagens, a recôndita aldeia ou até nos lugarejos menos povoados nossa fértil imaginação pode também conjecturar a do interior, se se descuida e, por falta de conhecimento, possibilidade de um dia virem a surgir inesperadas pousa em cima da mesa, por exemplo, uma travessa revoltas de outros animais contra os humanos por com chamuças deliciosas ou com saborosos camarões porem e disporem de diversos seres vivos, de livre recheados, no intuito de presentear os primeiros vontade, sem se preocuparem com as consequências convidados, virando de seguida, despreocupadamente, perniciosas que podem causar ao agravar ainda mais as costas e caminhando para o interior da residência, o equilíbrio instável existente no universo, entre as quase seguramente irá ter uma desagradável surpresa. diversas espécies sobreviventes ao longo de milénios A propósito das acções mais desconcertantes da história do globo terrestre. e inesperadas das gralhas, conta-se que copiosas Quem analisa o comportamento quotidiano das lágrimas foram vertidas por noivas inexperientes e gralhas e pensa que são, sobretudo, ladras por BOLETIM DA CASA DE GOA - 12 -
excelência, medrosas e inofensivas, é porque nunca muito distante do local onde nos encontrávamos, algo presenciou a sua revolta aquando sujeitas a provas de se mexia por entre os arbustos, no meio das plantas maior aflição. floridas daquele belo jardim. Teria menos de uma dezena de anos, quando passeava Curioso como era, sem me dizer nada, encaminhoucom um amigo ainda mais novo e mais baixo do que se na direcção do local e, quando se aproximou eu no jardim Garcia de Horta, no centro da cidade de cuidadosamente dos arbustos, ouvimos nitidamente o Pangim, capital de Goa. grá, grá de duas gralhas, pousadas algures no interior de uma frondosa árvore. Caminhando em conversa amena aproximámonos do obelisco que, em virtude da nossa pequenez, Assim que avançou e estendeu a mão para apanhar nos parecia ter uma altura descomunal. Ao tempo algo que tentava movimentar-se, as gralhas desceram estava rematado no topo pelo busto de Vasco da rapidamente do sítio onde se encontravam encobertas Gama. A larga base quadrangular do monumento e pousaram em cima de um tronco bem visível, situado tinha quatro medalhões de personalidades marcantes a curta distância do meu amigo. Naquele momento, da história indo-portuguesa: D. João de Castro, pela intensidade e timbre da voz produzida deu para Afonso de Albuquerque, D. Francisco de Almeida e diferenciar mais uma vez com nitidez que, realmente, Luís de Camões (a informação sobre os nomes das as gralhas não grasnam, como os patos, nem crocitam, celebridades constantes nos medalhões foi gentilmente como os corvos, mas gralham, pois o som saído das facultada por Francisco Monteiro, meu amigo e colega suas cordas vocais era um inequívoco grá, grá. da saudosa Escola Primária Massano de Amorim, Mas esse grá, grá então vocalizado não era igual em Pangim). Hoje, como consequência da mudança de soberania do então Estado Português da Índia, o a tantos outros que ouvíamos no quotidiano. Era na busto de Vasco da Gama teve como destino o Museu mesma um grá, grá, mas continha uma sonoridade de Velha Goa, o obelisco está agora encimado pelos diferente. Parecia ser emitido com muito mais emblemáticos Leões de Ashoka, símbolo nacional da intensidade e com nítida preocupação de dar resposta à cena que se desenrolava diante dos olhos daquelas Índia. Os medalhões foram destruídos. aves. Era, provavelmente, o grá, grá a manifestar Chegados ao obelisco, decidimo-nos sentar, como alerta! habitualmente fazíamos, para dar continuidade à Sem se dar conta da rápida movimentação das duas nossa interessante troca de ideias. A certa altura do diálogo, o meu amigo reparou que, diante de nós e não aves nem se consciencializar da perigosa alteração do
Jardim Garcia de Orta em Panjin, onde habitam as gralhas que expulsaram o Valentino BOLETIM DA CASA DE GOA - 13 -
timbre da voz do grá, grá, o meu amigo embrenha- homens, no entender das gralhas, não havia lugar a se por entre as plantas floridas, agacha-se e apanha, dúvidas, a vida de uma cria sua estava em perigo. sem grande dificuldade, um pequeno ser que tentava Em resposta à possibilidade do sequestro da cria, movimentar-se. Tratava-se de uma cria das gralhas. tinham de pôr em prática a sua camaradagem e Quando pega cuidadosamente naquela criatura solidariedade e, naquele momento de grande ameaça inofensiva, constata que se encontrava com uma para um ente de sua espécie, impunha-se uma pata ferida, talvez por ter caído do alto da árvore por mobilização geral em prol da defesa da cria. querer arriscar e aventurar-se saindo do ninho, antes Depressa surgem reforços de locais distantes para de estar preparada para enfrentar, de forma adequada, impedir que o meu amigo fugisse com a cria em seu os desafios do mundo exterior. poder. Era preciso atalhar a fuga e resgatar a infeliz Com a cria aconchegada carinhosamente ao corpo e caída nas mãos do gatuno. O grá, grá ensurdecedor semblante de profunda preocupação, avança na minha ecoava de todos os lados. As gralhas manifestavam, direcção e grita: visivelmente, a sua revolta contra aquela acção humana. - Coitadinha, está ferida. Tenho de levá-la imediatamente para a minha casa. Vou pedir ao meu Para realizar o desejo do amigo e dirigirmo-nos para pai para tratar dela. a sua casa, tínhamos que seguir em direcção ao coreto, mas como a quantidade das gralhas a aproximaremO progenitor do meu amigo era médico e ele estava se dos nossos movimentos aumentava de forma seguro de que o pai resolveria o problema. preocupante, de momento a momento, eu disse-lhe: Apadrinhei a ideia, aceitei o repto e dispus-me a - Olha que as gralhas não entendem o que pretendes acompanhá-lo até à residência, localizada na Rua fazer. Elas devem julgar que queres matar a cria. 31 de Janeiro, satisfeito e ufano por poder cooperar também no cumprimento daquela nobre missão. - Nada disso, não sabes que o meu pai é médico? Vai tratar da perna, não tenho dúvidas. Se continuar assim, Neste ínterim, as gralhas tinham substituído o grito a coitadinha pode ser facilmente caçada por um gato de alerta pelo grito de alarme e, logo de seguida, ou outro bicho qualquer e acabar por ser morta. Tenho haviam lançado o grito do pedido do socorro. O que evitar um fim trágico do pobre animal. grá, grá repetitivo ganhou uma sonoridade e uma veemência de tal ordem que, num ápice, começaram a Eu estava aflito, não sabia o que mais dizer. Comecei ser ouvidos grá, grá aflitivos vindos de várias árvores a ter medo, pois as mais afoitas passavam por cima das redondezas. das nossas cabeças e antes de chegarmos ao coreto uma delas, mais corajosa, faz um voo rasante por Fiquei surpreendido pela eficácia da convocatória cima da cabeça do meu amigo. Outras seguiram-lhe o utilizada e pela rapidez como, de um momento para o exemplo, fazendo voos intimidatórios, mas sem nunca outro, tantas gralhas se haviam juntado fazendo uma nos tocarem. algazarra ensurdecedora. Entretanto, intrigadas, outras pessoas foram surgindo Gralhavam, saltando de um ramo para o outro, com sem entenderem bem o que se passava. os olhos direccionados para o meu amigo. Via-se que estavam zangadas e enfurecidas, mas retraíam a Subitamente, uma gralha, avança em direcção do sua fúria e não atacavam o portador da cria, porque meu amigo em alta velocidade e quando parecia estar a experiência as havia ensinado que deviam ter prestes a atacar com as garras a sua face fez um desvio medo da reacção dos humanos, mesmo que fossem inesperado. pequenos, pois muitas tinham pago caro a ousadia de Este perigoso ataque foi um aviso sério para nós. importunarem seres como aqueles, atreitos à violência. Eu dizia: vamos regressar e deixar a cria onde tu Realmente, as gralhas não podiam adivinhar as intenções daquela criança e daí aquela compreensível a encontraste. O meu amigo respondia: se assim reacção impetuosa. Elas desconheciam que o menino fizermos ela pode ser atacada e morta. Recuso correr pretendia tratar daquela cria ferida e que nunca lhe esse risco. passara pela cabeça fazer-lhe qualquer mal, antes pelo De nada servia a minha insistência, pois ele replicava contrário, só desejava o bem dela. Todavia, tendo em da mesma maneira, até que um adulto interveio e disse conta a observação do comportamento passado dos com voz autoritária: BOLETIM DA CASA DE GOA - 14 -
- Chega de discussão. Dá-me cá essa cria que eu trato dela e vocês vão imediatamente para casa. O meu amigo ainda quis protestar, mas o olhar intimidatório daquele sujeito fê-lo mudar de ideias. Contra a sua vontade entregou-lhe o precioso animal. Caminhando em direcção a casa, quando olhamos para trás, vimos que aquele homem tinha pousado a cria junto dos arbustos, no interior das plantas, mas bastante longe do local onde tinha sido capturada. Quase de imediato, o grá, grá barulhento deixou de existir, cessou a revolta das gralhas e a situação no jardim Garcia de Horta voltou à normalidade.
Valentino Viegas
N OTÍCIAS MISSA EM HONRA DE S. FRANCISCO XAVIER No dia 3 de Dezembro de 2018, teve lugar, pelas 18,30, na Igreja de S. Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sita no Largo de S. Roque, em Lisboa, a missa em honra de S. Francisco Xavier, padroeiro do Oriente. Largamente concorrida, a missa foi acompanhada pelo coro do EKVAT, que interpretou cânticos em Português e em Concanim. A seguir à missa foi inaugurada uma exposição alusiva ao mesmo Santo, padroeiro do Oriente, a qual foi organizada para se manter em exibição até ao dia 3 de Fevereiro de 2019. Passa neste ano o 10º aniversário da entrega de Relíquias do Santo ao Museu da Igreja de S. Roque pela senhora D. Teresa Mendía de Castro (Nova Goa).
FESTA DE NATAL DE 2018 Para comemorar o Natal do ano de 2018 realizou-se, a 16 de Dezembro, pelas 17 horas, um lanche para que foram convidados os associados, suas famílias e amigos. Tratando-se de um lanche partilhado, foi pedido às senhoras que oferecessem comidas e os homens ficaram encarregados do fornecimento das bebidas. Os associados (e associadas) foram sobremaneira generosos nas suas ofertas pelo que se tornou possível reunir uma quantidade apreciável de comidas, bebidas e sobremesas, da gastronomia goesa ou portuguesa, que os participantes muito apreciaram, delas fazendo largo consumo. Sobraram ainda muitos viveres e bebidas, que foram devolvidas aos ofertantes. Como é habitual, a reunião decorreu animadamente, tendo terminado com uma exibição espontânea de cânticos de Natal e outros, goeses e continentais. Era já tarde quando os últimos convivas abandonaram as instalações da Casa.
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FESTA DE FINAL DE ANO 2018 Dia 31 de dezembro na Quinta do Cristo Rei em Albarraque – Rio de Mouro, a Casa de Goa organizou a Festa para aguardar a entrada do Novo Ano de 2019. Tivemos casa cheia de amigos, sócios e familiares, numa sala cheia e com uma bonita decoração. Foi servido um excelente banquete em várias etapas e que durou até o final da festa. Como animação tivemos música ao vivo por Raimundo Teixeira e Miranda e uma surpresa por conta do cantor Sérgio Rossi que nos honrou com suas canções que fizeram as delícias das senhoras. Deixamos algumas fotos e o desejo de que este ano esta festa se possa repetir …
Uma recordação para quantos tiveram a felicidade de viver esta noite inovidável
Não há dúvida de que na Casa de Goa há quem faça à festa e também deite os foguetes BOLETIM DA CASA DE GOA - 16 -
FESTIVAL DE YOGA Lisboa recebeu mais uma vez o Lisbon Yoga Festival a 17 e 18 de Novembro. A Casa de Goa fez-se notar com a participação do seu Grupo Ekvat que apresentou danças tradicionais de Goa e deu um workshop de danças dos Côcos. Connosco estiveram também as nossas sócias e amigas Tarika Valli e Catarina Guerra que abrilhantaram o Festival com workshops e apresentação de Bharatanatyam.
Os bailarinos do EKVAT preparando-se para a competição. Em primeiro plano Catarina Guerra.
Outro aspecto da preparação dos bailarinos
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L IVROS As Teias da Primeira Revolução Portuguesa Intervenção do autor na Casa de Goa
V
alentino Viegas, autor do livro As Teias da para o lançamento do livro e pelas amáveis palavras Primeira Revolução Portuguesa, começou pronunciadas a seu respeito. a sua intervenção afirmando: “tenho A todos os elementos do grupo de canto e danças dito e escrito que, muitas vezes, a vida é feita de tradicionais de Goa do Suryá, na pessoa da Eng.ª. Ena circunstâncias”. Camelo (Ninita), Presidente da Direcção; um carinhoso Para justificar a sua asserção, informou que foi no agradecimento a Mitzi Gracias, coordenadora do almoço de solidariedade aos mais idosos, realizado na grupo. Pediu desculpa aos outros componentes por Casa de Goa, que se sentou ao lado da médica, Dr.ª agradecer, em especial, ao Fernando Alves (Tutucha) Edna Pereira. Quando a Dr.ª Edna o apresentou à Dr.ª que, apesar de ter que partir, no dia seguinte, muito Maria Barroso, directora da Obnósis Editora e esta cedo para o Norte do país estava ali com a sua viola. soube que tinha um livro para publicar, de imediato E aos três médicos: ao cirurgião, Dr. Winston Gracias se prontificou a publicá-lo, afirmando que se sentia (Caetano), que não operou naquela tarde porque sabia honrada em fazê-lo. que ele e o seu violino eram fundamentais para o grupo; ao Dr. João Gato Varela e ao Dr. Júlio César Camelo, A Dr.ª Maria Barroso, além de empresária, é também por terem feito grandes alterações nos horários dos licenciada em História, escritora, poetisa e fadista. respectivos consultórios a fim de poderem participar Depois de agradecer às duas senhoras, o autor dirigiu no apontamento musical que, após sessão, o Suryá iria um reconhecimento especial ao Dr. António Limpo apresentar. por ter tido paciência para com ele na correcção das Um bem-haja e um muito obrigado a todos os provas e por ter criado o belo convite e a linda e presentes e a todos quantos o tinham honrado sugestiva capa do livro. Informou também que a sua marcando presença no lançamento deste e de outros foto, constante no livro, também havia sido tirada por livros, aos que os compram, lêem e recomendam aos ele. amigos. E continuou em matéria de agradecimentos nos Como este tipo de atitude o incentivava, dava forças seguintes termos: e o ajudava a continuar a escrever, disse que tinha Ao seu compadre Manuel Valado pela revisão que posto a seguinte dedicatória no livro: “Para todos os foi fazendo à medida que lhe enviava os capítulos do meus familiares e amigos, sem os quais a minha vida não faria sentido” livro. Ao Prof. Dr. Manuel Vieira Pinto, um novo amigo que Um bem-haja muito especial para a sua querida colega e amiga Prof.ª Doutora Maria José Meira tinha ganho quando começou a frequentar as tertúlias que, com arte e proficiência, havia feito a revisão, culturais promovidas pela Liga dos Combatentes, pela atenção com que tinha lido o livro, pelas considerações enriquecendo o texto. tecidas a seu respeito e pela excelência e brilhantismo À sua mulher, Ana Inês, não só por ter lido os textos, da apresentação do livro. Disse também esperar que mas principalmente por lhe proporcionar excelentes a opinião dos demais leitores fosse similar às do condições de trabalho, em regra, sacrificando o seu apresentador. bem-estar, para ele dispor de tranquilidade e paz de Cumpridos os agradecimentos, pediu autorização espírito para escrever. para situar e contextualizar o livro afirmando: À Casa de Goa, representada no evento pelo Enquanto aluno universitário, a parte da História Presidente da Assembleia-geral, Prof. Doutor de Portugal de que mais havia gostado tinha sido o Henrique Machado Jorge, por facultar as condições período de 1383-1385. BOLETIM DA CASA DE GOA - 18 -
Como pretendia compreender melhor aquele espaço temporal tão difícil, complexo e polémico, e por desejar também expressar a sua opinião com fundamentação, depois de estudar cuidadosamente a vastíssima bibliografia publicada e as numerosas fontes impressas, verificou que grande parte dos fundos documentais, existentes no país, ainda estava por explorar.
acontecido entre a morte do rei D. Fernando e a eleição do novo rei em Portugal?
Se se tratou de simples crise dinástica, então devia-se perguntar: não seria fácil escolher o sucessor ao trono português, após o falecimento do rei D. Fernando (22.10.1383), já que havia sucessores e um contrato de casamento celebrado com o rei de Castela onde se definia claramente quais os critérios que deviam Daí ter investigado, sistematicamente, durante ser seguidos para se escolher o sucessor ao trono vários anos, em todos os arquivos portugueses, desde português? Melgaço e Monção até ao Algarve. Se foi uma crise dinástica e simultaneamente Aquele prolongado trabalho de pesquisa havia- económica, social e política, então quais haviam sido lhe permitido descobrir documentos inéditos e as suas causas remotas e próximas? possibilitado a publicação de vários livros e artigos Se foi revolução, teria sido burguesa, aristocrática, académicos sobre o tema, incluindo a tese de burgueso-aristocrática, mesteiral ou popular? Doutoramento e sua síntese. Ou será que se tratou de uma crise longa e profunda Como nestes últimos anos de sua vida tinha escrito que provocou revoltas, depois rebelião que se foi romances, achou por bem fazer o mesmo em relação àquele riquíssimo período da História de Portugal, transformando em revolução? para assim ser mais facilmente compreendido pelo Chegado a este momento, pediu licença para abrir grande público. um parêntesis e contar um episódio da sua vida Após situar e contextualizar o livro disse que académica.
quem não estivesse familiarizado com o tema, era Afirmou que quem como ele havia leccionado no compreensível que perguntasse: Departamento de História da Faculdade de Letras da Mas afinal, o que é que sucedeu de tão importante Universidade de Lisboa, ensinando este controverso período da História de Portugal, logo após a Revolução em Portugal há 635 anos? de 1974, ou se comportava de forma politicamente Respondeu dizendo: “na verdade, deram-se vários correcta ou sofria as consequências das opções que acontecimentos graves e de extrema relevância que tomava. serviram para a afirmação e definição do futuro de Numa altura em que os Professores saneados, como Portugal”. consequência da revolução de 25 de Abril, tinham Relativamente aos factos então ocorridos, afirmou regressado ao poder no Departamento de História, que se levantavam várias questões: caracterizar 1383-1385 como revolução tinha um custo elevado a pagar. Naqueles tempos conturbados, Começou por dizer: vejamos como podemos a palavra revolução queimava os lábios e feria os caracterizá-los: tímpanos. Teria havido um golpe palaciano? Daí que o quisessem afastar, mesmo sabendo que, aquando do saneamento, ele nem sequer estava em Portugal. Todavia, um colega seu, também Será que houve apenas uma crise dinástica? assistente e bastante mais novo do que ele, que Teria sido crise dinástica, e também económica, não o conhecia de lado nenhum, teve a coragem de enfrentar aqueles catedráticos. Mobilizou as suas social e política? influências conseguindo que o Conselho Científico da Ou teria sido uma revolução? Faculdade de Letras recusasse a proposta apresentada pelo Departamento de História para indeferir a sua E continuou a questionar apontando caminhos que continuidade, desautorizando-o. se deviam analisar: se se tratou de golpe palaciano, era necessário saber quem o tinha encabeçado, qual havia Afirmou que, como era fácil de calcular, aquele sido a razão e com que finalidade. jovem colega pagou um preço extremamente elevado com aquele seu acto de rara coragem. Apesar disso, Se foi um banal interregno, o que é que teria Teria sido um mero interregno?
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tem vindo a fazer uma brilhante carreira académica. É Prof. Catedrático, publicou vários livros, e é actualmente Presidente do Centro Científico e Cultural de Macau. Como nunca tinha tido ocasião para o agradecer em público, aproveitava aquela oportunidade para o fazer. Declarou que aquele colega tinha rosto e nome. Chama-se Luís Filipe Barreto e embora tivesse comunicado que não tinha podido estar presente na sessão de apresentação do livro, por motivos imprevistos, pedia a todos os presentes que lhe dessem uma forte e merecida salva de palmas. Após demorada salva de palmas, chamou a atenção de uma outra particularidade do comportamento dos historiadores dizendo: “Reparem que aquilo que acontece com o peso dos vocábulos interregno, crise dinástica ou revolução, pode também suceder com os nomes das figuras que habitualmente se destacam nas obras publicadas sobre este período histórico”. “Todos conhecem ou já ouviram falar de D. João, Mestre de Avis, da famosa rainha D. Leonor, vilipendiada de aleivosa, de Nuno Álvares Pereira, de Álvaro Pais, da importância do discurso que o Dr. João das Regras teria feito nas Cortes de Coimbra, mas poucos ouviram falar do nome do grande herói português da altura, o tanoeiro Afonso Anes Penedo. Que eu saiba, não tem nenhuma estátua em Portugal. Existe apenas uma pequena rua em Lisboa com o seu nome”. Dando a entender que ia terminar a sua intervenção ainda acrescentou: “Agora que chamei a vossa atenção para estas questões, quando lerem o livro não fiquem surpreendidos se verificarem que, o que lá está escrito, muitas vezes, é bastante diferente daquilo que consta na historiografia tradicional portuguesa”. E terminou afirmando que embora tivesse romanceado o passado, assegurava que o livro estava fundamentado em documentos. Os factos e a verdade histórica eram o seu objectivo. E concluiu a sua intervenção agradecendo aos presentes com um muito obrigado.
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Apresentação do Livro “Dysthanasia-Delaying the Process of Death through Treatment Stubboness No dia 1 de Dezembro teve lugar no auditório da Casa de Goa a apresenção do livro do nosso associado Dr. J. Filipe Monteiro "Dysthanasia - Delaying the Processo of Death through Treatment Stubborness". O livro, em inglês, foi publicado pela Cambridge Scholars Publishing e versa sobre um dos dilemas éticos, do fim de vida, mais discutido na actualidade. A apresentação do autor esteve a cargo do Prof. Dr. Luís Pereira da Silva, Professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, e a obra foi dissertada pelo Prof. Dr. António Barbosa , Director do Centro de Bioética da Faculdade de Medicina de Lisboa e Chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital Universitário de Santa Maria, tendo a sessão sido presidida pelo Dr. Vasco Soares da Veiga, Presidente da Direcção da Casa de Goa. No fim da sessão, o autor autografou os livros a que se seguiu um beberete.
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GASTRONOMIA CHAMUÇAS DE LEGUMES Ingredientes Massa 750 g de farinha de trigo 3 chávenas de água 4 c. de sopa de óleo vegetal
Recheio 4 dentes de alho 1/2 dedo de gengibre 1 molo de coentros 1/2 limão 2 cebolas 1 piripíri verde 2 batatas 2 cenouras 1 lata de milho média 200 g de feijão-verde 200 g de ervilhas
Temperos 1 c. de chá rasa de açafrão-da-índia 2 c. de chá de pó de coentros e cominhos (dhanajiru) 1 c. de café de sementes de mostarda 1 c. de café de cominhos inteiros Óleo vegetal
Modo de Preparação Confecção da massa: disponha a farinha num alguidar em formato de vulcão e deite a água e o óleo num buraco aberto no meio. Amasse com uma mão e segue no recipeinte com a outra, rodando-o. Depois de bem amssada, deixe repousar cerca de dez minutos. Fazem-se bolas pequeninas e estendem-se em formato de crepe. Casa crepe dá para duas chamuças, mas deve ser estendida muito fininha, menos de um milímetro, por isso há que manter as mãos enfarinhadas. Cada semicírculo é depois recheado e dobrado em três, em envelope. Tenha cuidado ao dobrar as pontas para o recheio não sair.
Confecção do recheio e das chamuças: faça uma pré-cozedura dos legumes (cinco minutos) e coe. Num tacho largo, prepare um estrugido forte com sementes de mostarda (rhai) e cominhos inteiros e continue com o refogado, que leva alho, gengibre, cebola e piripíri verde, tudo picadinho. Tempere com sal e um nadinha de açúcar. Junto os legumes pré-cozidos e misture bem. Como a receita não leva água, em poucos minutos está pronto.
Para rechear as chamuças, deve esperar que o preparado arrefeça. Junte, a frio, coentros picados e uma cebola picada. Prove para conferir o sal. As chamuças fritam em óleo bem quente. Em alternativa, pode levá-las ao forno. Pincele-as com óleo e disponha-as num tabuleiro coberto com papel vegetal. Vire ao fim de dez minutos.
A GENDA O nosso prezado consócio, e sócio fundador da Casa de Goa, Prof. Valentino Viegas vai lançar brevemente na Casa de Goa um novo livro intitulado RAÍZES DA MINHA TERRA. Aguardamos com muito interesse mais este trabalho do consagrado historiador, na certeza de que será mais um importante contributo para a definição da nossa identidade goesa.
A NÚNCIOS
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