Boletim da Casa de Goa MARÇO / ABRIL 2019
AS ÚLTIMAS ELEIÇÕES NA ÍNDIA UM TEMPLO PARA XAVIER VALORES DA NOSSA COMUNIDADE
Boletim da Casa de Goa ÍNDICE 3 EDITORIAL CARTAS AO DIRECTOR 4/11 DESTAQUE The Last Elections in India (Anil Padmanabham) Um Templo Para Xavier (João Miguel Simões) As Voltas que o Fado dá (Daniel Gouveia)
12/15 NOTÍCIAS Almoço de Confraternização do CDIP Ajuda Humanitária a Moçambique 2ª e 3ª Conferências do Círculo de Releituras "Mohandas Gandhi" Apresentação da Andagoa Encontro Chá das Cinco Conferência do Dr. José Filipe Monteiro "O Fim da Vida e o Testamento Vital"
16/21 MEMÓRIAS Valores da Nossa Comunidade (Mário Viegas)
22/30 DOCUMENTOS Assembleia Geral - 29 de Março Despacho que reconhece a constituição da Andagoa e respectivos estatutos
31 GASTRONOMIA 32 ANÚNCIOS
Casa de Goa Associação de Goa, Damão e Diu Pessoa Colectiva de Utilidade Pública Calçada do Livramento, 17 1350-188 LISBOA Contactos: 21 393 00 78 / 915 057 477 @ casadegoa@sapo.pt www.casadegoa.org Presidente da Direcção Vasco Soares da Veiga Director do Boletim M. Vieira Pinto Conselho Editorial M. Vieira Pinto J. Filipe Monteiro Valentino Viegas Diagramação Juliano M. Mariano Capa: Dia Mundial do Yoga Colaboraram nesta edição Anil Padmanabham Daniel Gouveia João Miguel Simões Luís P. Silva Manuel Vieira Pinto Mário Viegas O Boletim da Casa de Goa agradece à associada Ana Paula Guerra o fornecimento de material noticioso.
ESTATUTO EDITORIAL O Boletim da Casa de Goa visa divulgar a atividade da associação, sendo um instrumento de divulgação da realidade de Goa e de tudo o que se insira nos fins estatutários da Casa de Goa. O Boletim aposta numa comunicação viva, imaginativa, atual e atuante, privilegiando as notícias mais relevantes da área, sem descurar a crónica, a opinião ou o comentário mais desenvolvido. O Boletim é da responsabilidade da Direção. Publicará textos que sejam solicitados, reservando-se o direito de não publicar as colaborações que não sejam expressamente solicitadas. Caso as mesmas sejam publicadas, respeitará na íntegra o texto enviado, exceto se o autor aceitar as sugestões de alterações que venham a ser propostas, em razão de critérios de espaço.
Editorial Com a publicação do presente número do Boletim da Casa de Goa, referente aos meses de Março e Abril do corrente ano, está praticamente eliminado o atraso causado pela situação de caracter extraordinário a que a Direcção teve de fazer face nos meses subsequentes à tomada de posse. Cumprimos assim a promessa feita à Assembleia Geral Ordinária de recolocar o Boletim em velocidade de cruzeiro até ao Verão do corrente ano e esperamos que não haja mais atrasos nos meses restantes do nosso mandato. Procurámos igualmente enriquecer a publicação com novas secções, algumas (como foi o caso das cartas ao Director) por sugestão dos associados, e introduzimos algumas melhorias no grafismo. Pensamos no entanto que outros progressos resultarão da execução do Programa de Aperfeiçoamento do Boletim, publicado na edição anterior, que foi já iniciada com a consulta de um paginador digital profissional, em cujo resultado depositamos as maiores esperanças. Recordemos que na conferência realizada em 6 de Maio de 2017, em nome do Governo e do Povo da Índia, o representante da Embaixada daquele País afirmou: I would like to congratulate Casa da Goa on celebrating its 30th anniversary this year and for serving as a bridge that not only connects our two great countries – India and Portugal, but also connects our shared past with a shared future. Vamos iniciar igualmente no próximo mês de Julho, um alargamento da lista de distribuição, para que se logre um mais lato conhecimento das actividades da Casa de Goa por parte de todos os interessados nas relações entre Portugal e a Índia, sejam ou não associados da Casa de Goa ou pertencentes à comunidade goesa propriamente dita.
Cartas ao Director Caro Manuel: Graças ao nosso comum amigo Valentino Viegas, que me manda o Boletim da Casa de Goa, li o seu artigo sobre Ghandi, pelo qual venho felicitá-lo. Acho, até, que o seu artigo é de tal importância que merecia publicação em mais meios de comunicação. Já pensou enviá-lo ao Público, Expresso, etc.? Um forte abraço! Daniel Gouveia BOLETIM DA CASA DE GOA -3-
DESTAQUE THE LAST ELECTIONS IN ÍNDIA(1, 2) Anil Padmanabham
Introduction The results of the 17th Lok Sabha elections are finally in: the Bharatiya Janata Party (BJP) won a landslide victory, with a record 303 seats. Incredibly, the exit polls were spot on. Most importantly, it has cemented Narendra Modi as the pre-eminent political voice and BJP as the principal pole of Indian politics. To put it succinctly, it is a tectonic moment. The verdict has upended traditional electoral metrics like caste and religion, handed a drubbing to rivals— including several prominent dynasts—shown up political punditry, reordered regional groupings and delivered a BJP majority of its own for the second consecutive term. And in this, if there is one common factor, it is undoubtedly Modi. Like in 2014, he tapped into the aspirations of a new India, which is overwhelmingly young: 65% of the population is less than 35 years of age. This time, he leveraged the compact he had cultivated with the electorate over the past five years. While critics mocked Modi for implementing demonetization of high-value currencies, the public saw it as an honest effort to combat rampant corruption. Exactly why the word “bharosa" crept into the voter lexicon, as opinion polls revealed close to the election. This verdict, not a black swan moment as some commentators claimed after Modi’s audacious win in 2014, will rewrite Indian politics like never before. This process will become easier as the political opposition lost its heft, with various leaders and dynastic constituents suffering humiliating defeats in their strongholds. The emerging regional satraps will be unable to fill the vacuum in the opposition space. Only logical then that the opposition will also lose its clout, both within Parliament and outside. A regrouping of the political order, especially among the opposition, is waiting to happen. The Congress will now find it difficult to justify its claim of being the first among equals and stake claim to the leadership of the opposition. Given this state of affairs, it is safe to assume that Modi 2.0 will use this mandate to front-load its agenda for change. In this, the economy will be top priority. The intent will be made clear with the choice of the person who will head North Block and also the Union budget for 2019-20, which will be presented in July. The Sensex, a bellwether for business sentiment, scaled a record 40,000 but failed to hang on to the peak. The verdict has already created a global buzz, with some of the biggest leaders including Russian President Vladimir Putin, Japanese Prime Minister Shinzo Abe and the German Chancellor Angela Merkel promising to turn up for the swearing-in of the new government—it is likely to take place on either 26 or 27 May. The Factor Modi The BJP wave was fashioned around a carefully crafted narrative, sewing key alliances together and backed by committed and passionate party cadres—exactly why party president Amit Shah has to be co-credited for this incredible victory. At the core of the narrative were carefully chosen pro-incumbency metrics (little or no inflation, delivery of staples like cooking gas, electricity and toilets to the poor) to showcase the tenure of the BJP-led National Democratic Alliance (NDA) in office, the promise to resurrect the Hindu identity (demonstrated by the highly successful hosting of the Kumbh Mela, makeover of the Kashi Vishwanth temple BOLETIM DA CASA DE GOA -4-
in Varanasi) and stoking hyper-nationalism (coalescing around the air strikes against terror hideouts based in Pakistan). With the benefit of hindsight, the Balakot air strikes served as a sugar high for most of India, except in Gujarat and Rajasthan; elsewhere in the country, it was the promise of delivering development and willingness of the PM to risk his social capital on causes that swung the vote. At the same time, Modi was careful to own and control the dominant narrative—which, in this case, was a referendum on his government’s record—and also never miss out on the missteps by the opposition (Sam Pitroda’s “hua to hua" is one such example). In almost every election that BJP has won, beginning the 16th Lok Sabha poll in 2014, the narrative has been set by Modi; the opposition has had to play catch-up. After having successfully framed the contest as presidential, it was a case of Modi versus the opposition. The singular failure of the squabbling opposition in backing one among them reinforced the narrative— mahamilawat—spun by Modi. In addition, they had to contend with Brand Modi, which in five years had grown and appropriated every electoral metric: anti-corruption crusader, development, nationalism and certitude. Shouldering the BJP challenge, Modi travelled to 27 states, addressed 142 rallies and clocked 105,000km. Immediately after it was clear that NDA was on course to winning a second mandate, Modi tweeted in conciliatory terms. His appeal for a “new" and “inclusive" India has stoked expectations that Modi 2.0 will see a recalibration. Poor as a vote bank For most of the last five years in office, the poor have been the primary focus of NDA. In this, the emphasis was on raising their standard of living by providing basic material staples like cooking gas, electricity, housing and toilets. This focus acquired a sense of urgency after Congress president Rahul Gandhi struck with his barb: “Suit-boot ki sarkar". According to BJP, at least 220 million people received benefits from at least one flagship programme of Ujjwala, Saubhagya, Jan Dhan and Swachh Bharat. While the poor in general were appreciative of this unprecedented focus, the constituency of women was particularly grateful—in Odisha, beneficiaries shared how womenfolk in their households no longer had to do the 4am routine to collect firewood and do their toilet. The misguided elites of Lutyens Delhi (whom Modi derisively refers to as the “Khan Market crowd") and reform-obsessed policy wonks, who heaped ridicule on such programmes were lulled into ignoring the electoral coup that Modi-Shah were organizing. At the same time, it enabled NDA to walk its claim of being pro-business and pro-poor (first enunciated by finance minister Arun Jaitley). Traditionally, the poor were as a vote bank of the Congress; even in this election, its biggest pitch was the populist NYAY, which guaranteed ₹72,000 to every poor household. Now, this vote bank has shifted to BJP. Not only does it add to its numbers, but it is also a powerful counter to the traditional challenge of caste and religion. Exactly why the chemistry of Modi prevailed over the caste-religion math spun together by the Samajwadi Party and the Bahujan Samaj Party (BSP) in the key state of Uttar Pradesh. At this point, one has to concede Shah’s claim that the new electoral metric in India is that of politics of performance. The Organization While Modi was indeed the big difference between the incumbent and the opposition, there is no denying the fact that the BJP party organization carried out the grunt work. Over the last five years, there has been a sustained effort by the saffron party under the leadership of Shah to step up recruitments. Consequently, the party’s membership more than trebled in the last five years from 35 million to 110 million in 2019—the foundation of the BJP vote bank. This kind of a landslide win can only stoke another surge in membership. Besides providing the infrastructure support for the rallies, party workers were also deployed in outreach. In Delhi alone, including in the BJP control room on Akbar Road, about 14,000 party workers were deployed. The 161 call centres spread across the country were tasked with the explicit job of reaching out directly on behalf of BJP to the 220 million beneficiaries of the various government programmes. Taking the BJP membership and the labarthis or beneficiaries together, the party had put together a formidable potential voter base—something that explains how it has won 50% plus vote share in several states. BOLETIM DA CASA DE GOA -5-
Eastern Surprise The incredible performance of BJP in the East underlines the spectacular performance nationally. Not only has its performance here enabled it to more than make up for the reverses suffered in Uttar Pradesh, but it has also provided a much expanded electoral footprint to the saffron party. The saffron surprise in the East is akin to what it achieved in the 2014 general election in UP. From an also-ran in West Bengal in 2014, BJP has eclipsed the Congress and the Left Front to emerge as a close second to the Trinamool Congress (TMC), whose leader Mamata Banerjee, was at one time being touted as a possible PM. The saffron surge ensured a direct fight and has led to an almost equal division of votes between BJP (40.2%) and TMC (43.29%), dealing one of the most devastating political blows to Didi’s persona and TMC. It will now have to be seen how TMC will regroup. In Odisha, BJP may not have lived up to its pre-election claim of ending the record tenure of Naveen Patnaik. The veteran CM pulled off another one-sided win in the state elections, but had to share the spoils with BJP in the fight for the Lok Sabha. But in the process, the die is cast for the future polity of the state, with BJP emerging as the principal challenger. In the north-east of India, BJP has in this election cemented its status as the principal party. Of the 25 seats up for grabs, BJP won 12 and its NDA allies three. Previously, NDA had won 11 seats, while the BJP count was eight. The Congress If the country’s oldest political party needed a wake-up call, then this was the moment. In 2014, it suffered its worst drubbing ending up with 44 seats; if people believed—especially after Gandhi underwent a makeover following his ascent to the post of party president—that a turnaround was possible, then it remained a pipe dream. The shrill negative campaign—chowkidar chor hai—and the lack of credible alternative ideas, except for NYAY, have left many red-faced. The Congress suffered another humiliating loss ending up with 52 seats—a marginal improvement on its previous tally, but still short of the number to automatically claim the prestigious post of the leader of the opposition in Parliament. Not only did Gandhi lose from Amethi, the party is now reduced to one representative, Sonia Gandhi, from Uttar Pradesh—one of the two states without which the Congress can never stage a revival. The bulk of its MPs in the next Lok Sabha will come from south India—including Gandhi, who won from Wayanad in Kerala. After drawing a near blank in the Hindi heartland, it risks losing its credentials of being a national party. More worryingly, it should recognize that over the last four decades, key constituents have deserted the party. First to leave were the Dalits, later followed by the OBCs; and now, BJP has completed the heist with its successful wooing of the poor. The Muslims in general continue to be loyal to the Congress, which, however, in the context of a rising Hindu consciousness, could be a political liability, especially in the heartland. The Road Ahead With the elections done and dusted, Modi is likely to refocus his attention on governance. One big challenge will be in putting together the union cabinet. If there was one drawback of this government, it was the lack of bandwidth in the union cabinet. The second big test will be with respect to the economy. The containing of retail inflation and improved plumbing of the economy through measures like goods and services tax have no doubt improved the underlying basis, but there are concerns that cannot be ignored--obvious ones are farm distress, lack of job creation and flagging investment. With such a massive mandate, Modi will be under pressure to deliver solutions—though it is a fact that there is no shortcut. Undoubtedly, he has a task on hand.
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AAPI Newsletter de 20.6.2019 Título da responsabilidade da redacção do Boletim. BOLETIM DA CASA DE GOA -6-
Um Templo para Xavier Exposição na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de São Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa João Miguel Simões1 Entre os dias 3 de Dezembro de 2018 e 3 de Fevereiro de 2019 esteve patente ao público na Galeria de Exposições Temporárias do Museu de São Roque, a exposição intitulada Um Templo para Xavier. Esta exposição nasceu da vontade de se comemorar o 10.º aniversário da doação, por D.ª Teresa Mendia de Castro (Nova Goa), do cofre relicário de São Francisco Xavier à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa exposto na coleção permanente do referido museu, na sala de Arte Oriental. Para a conceção dos conteúdos foi imprescindível o apoio dado pelo Dr. Filipe Monteiro da Casa de Goa. A exposição tomou partido da pré-existência do ciclo pitórico da Vida e Lenda de São Francisco Xavier, da autoria de André Reinoso, existente na sacristia da igreja, que funcionou como prelúdio à exposição, narrando a vida do santo, dando a conhecer os seus milagres e lendas, muitos deles ainda hoje vivos na tradição oral goesa. Foi colocado um ponto multimédia onde cada um dos vinte quadros era explicado quanto ao seu conteúdo iconográfico e significado através de um pequeno filme de 2 a 3 minutos. BOLETIM DA CASA DE GOA -7-
Depois, a exposição propriamente dita desenrolava-se na galeria de exposições temporárias, onde se tomou partido da arquitetura muito repartida do local, dividindo a exposição em oito núcleos de pequenas dimensões. Abrindo a exposição tínhamos o cofre relicário, passível de ser contornado pelo visitante em 360º, por forma a serem facilmente observados todos os seus elementos decorativos de inspiração oriental. O cofre havia estado na véspera, no dia 2 de Dezembro, na devoção anual que se presta ao santo, e que recebe a participação de centenas de goeses residentes em Lisboa, tendo sido transferido nesse mesmo dia para a exposição temporária, para a sua inauguração. Na exposição, junto ao cofre, estava exposto também o seu estojo, peça rara de cariz utilitário, mas ricamente decorado no interior com tecido ornamental, restaurado de propósito para a exposição. Seguidamente, foram apresentadas todas as relíquias que estavam no interior do cofre à altura da sua doação, nomeadamente a meia casula que cobria o corpo do santo e que seria a sua relíquia principal na altura da sua conceção, à qual se foram juntando, ao longo de gerações, muitas outras relíquias, do século XVII ao século XX, entre as quais um fragmento do célebre dedo do pé arrancado por D.ª Isabel de Cron. As relíquias do cofre foram assim colocadas de forma cronológica, junto a uma linha de tempo onde se enumeravam os proprietários do cofre relicário desde a sua conceção em Goa, nos finais do século XVII, até à doação à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa já no nosso tempo. No conteúdo do cofre incluía-se também as duas relíquias oferecidas ao Patriarcado de Lisboa e emprestadas expressamente para esta exposição. Numa sala ao lado do cofre foram expostas várias peças que nos mostravam vários aspetos que contextualizavam a conceção formal do objeto. Em primeiro lugar, dois relicários em ourivesaria, um gótico e outro maneirista, que mostravam o interesse dos europeus pelo culto das relíquias e a sua preservação em objetos de metal precioso, passíveis de serem observados e venerados por multidões, mas que replicavam estruturas arquitetónicas. A relação do relicário, que seria à partida uma obra de arte de Ourivesaria, com a Arquitetura, era explicada depois por fotografias de diversas capelas nacionais que repetiam o figurino hexagonal do relicário de São Francisco Xavier, bem como por fotografias do tratado arquitetónico de Sebastiano Serlio onde BOLETIM DA CASA DE GOA -8-
se explicava a tipologia do templo hexagonal como a mais perfeita das igrejas, que contudo foi utilizada na arquitetura militar para as guaritas (proteção de quem defendia o forte). As capelas hexagonais na arquitetura real apareciam assim nas entradas e saídas das diversas vilas com a função expressa de proteger os aglomerados urbanos das doenças e invasões. Assim se explica a forma do cofre relicário de São Francisco Xavier. Foi concebido por volta de 1686 pouco tempo depois de Goa ter sido assediada por exércitos inimigas tendo sido salva, segundo se reconheceu na época, por intercessão do santo. Assim, o relicário, mais que um cofre pretendia ser um baluarte que defendia a família e a comunidade que o possuía, daí serem colocados no seu interior, a modo de agradecimento, diversos testemunhos que marcavam situações de perigo para os elementos da família, como uma bala ou relicários replicando cartuchos de mosquete. Mas o relicário não foi concebido como uma peça de espiritualidade e arquitetura puramente europeias. A sua decoração, com intricados motivos vegetalitas, em padrões diagonais, com a representação de diversos animais do imaginário oriental, denuncia a mão-de-obra especializada goesa que absorveu no gosto as influências persas, indianas e chinesas, conforme se poderia ver, por comparação, com a presença de uma colcha indo-portuguesa, um cofre de filigrana goesa, um escritório mogol, um painel de azulejos português ostentando a mesma estética e um jarrão de porcelana chinesa. Um sexto núcleo era dedicado à iconografia do santo, dando-se especial destaque à presença do crucifixo, como símbolo da introdução do Cristianismo no Oriente, representado por um magnífico crucifixo indo-português pouco conhecido da coleção do Museu de São Roque. Também se mostrou como a iconografia do santo foi apropriada pelas outras ordens religiosas, em particular pelos capucinhos, que tinham no seu São Francisco Solano o apóstolo das Índias Ocidentais. A exposição também serviu para se descobrirem novidades acerca do acervo do Museu de São Roque, em particular quanto à autoria da pintura da Morte de São Francisco Xavier que recaiu em Giovanni Bautista Galli, Il Baciccio (1639-1709). Seguidamente, passou-se para um núcleo dedicado às relíquias do santo, onde figurava o célebre relicário do caranguejo, e onde se percebeu que, ao contrário das tradicionais relíquias europeias que são parte do corpo do santo, as relíquias de São Francisco Xavier são maioritariamente de contacto, tal como objetos pessoais ou os elementos que acondicionavam o corpo do santo, venerado no Bom Jesus de Goa, e que eram periodicamente substituídos, sendo os antigos cedidos aos fiéis como relíquias. A exposição terminava com um núcleo dedicado ao património imaterial e à importância de São Francisco Xavier como BOLETIM DA CASA DE GOA -9-
elemento agregador dos goeses, independentemente da sua confissão religiosa, tanto dos residentes em Goa, como dos da diáspora. Este núcleo iniciava com um conjunto de filmes onde figuravam cânticos de São Francisco Xavier, protagonizados pelo coro Ekvat, dois testemunhos de goeses hindus que prestavam homenagem a São Francisco Xavier, e uma reportagem fotográfica da festa grande em Goa fornecida por um fotógrafo goês residente em Londres. Depois a nível de peças, marcavam presença alguns objetos que evocavam a comunidade e a importância do santo opara esta: um almanaque das festas de Goa, tanto hindus como cristãs, publicado em português já depois da integração do território na União Indiana; uma cópia à escala do sarcófago do santo, feito por um ourives goês, tipologia de peça que era oferecida pela Câmara Municipal de Panjim às altas individualidades que se se deslocavam ao território como prenda coletiva da comunidade; um violino e um ghumat evocando a importância da música, numa mistura de influências europeias eruditas e indianas populares, como elemento unificador e indentificador da cultura goesa; fotografias das festas de São Francisco Xavier em diversas parte do mundo, enviadas pelas respetivas comunidades locais, mostrando sempre essa festa como um evento de partilha comunitária, onde abunda a música, a dança e a comida; uma escultura do santo proveniente do oratório da Rainha D. Maria Pia semelhante às inúmeras esculturas que fazem parte dos oratórios familiares das famílias goesas, e por fim três peças que evocavam três lendas goesas que através de um imaginário oriental pretendiam mostrar a santidade e o carácter excecional de São Francisco Xavier. A exposição terminava noutra pré-existência dedicada ao santo - a sua capela na Igreja de São Roque – onde era assinalada, através de um monólito, o episódio das novenas de São Francisco Xavier às quais a segunda mulher de D. Pedro II atribuiu o bom sucessos dos seus partos, todos eles originando filhos varões saudáveis, assegurando assim a continuidade da dinastia dos Braganças até aí em perigo. A exposição serviu também como pretexto para diversas manifestações culturais, motivando uma sessão de cânticos goeses na Igreja de São Roque, protagonizados pelo coro Surya, uma palestra proferida pelo Dr. Filipe Monteiro intitulada São Francisco Xavier - A razão de ser o "Goenchosaib" (Protector de Goa) para as comunidades goesas; a realização por Ana Albuquerque de um relicário contemporâneo para albergar um conjunto de relíquias do santo existentes no acervo do Museu de São Roque, e por fim serviu de percussora às comemorações do 4.º Centenário do Ciclo Pictórico de São Francisco Xavier que irão decorrer entre Junho de 2019 e Janeiro de 2020, em que cada uma das paragens onde São Francisco Xavier esteve na Ásia será evocada por um mês, terminando o périplo precisamente em Goa. Mais que uma mostra de arte antiga destinada a um público erudito ou especializado, a exposição Um Templo para Xavier pretendeu ser uma oportunidade para se analisar o objeto artístico sob múltiplas perspetivas, dando uma palavra às comunidades a quem este objeto mais poderia dizer, por forma a que este fosse um evento de partilha, conhecimento, amizade e compreensão entre todos, tornando-se assim num evento cultural vivo e dinâmico.
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O Dr. João Miguel Simões é Licenciado em História, variante História de Arte e Mestre em Arte, Património e Restauro pela fa-
culdade de Letras da Universidade de Lisboa. Técnico superior no Museu de São Roque, comissário da exposição «Um Templo para Xavier».
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AS VOLTAS QUE O FADO DÁ Daniel Gouveia O que habitualmente se ouve, em espanto por ocorrências inesperadas, é: «As voltas que o mundo dá!». Perguntará o leitor: – Então, que voltas dará o Fado para merecer a mudança do conceito? E que relação com o mundo? E com este Boletim? Ora, para começar, o mundo é onde o Fado, há muito, se sente à-vontade, sem que fosse necessário o galardão de Património Imaterial da Humanidade, conferido pela UNESCO em 2011, que tanto o honrou. Como se diz da pescada, antes de ser já o era, apreciado por estrangeiros e cultivado por nacionais na diáspora lusitana multicontinental. Quanto a ser assunto neste Boletim, será melhor contar uma história que iremos tornar curta, para não enfadar os leitores. Nas Astúrias – principado espanhol com língua, literatura e cultura próprias – existe uma associação designada, em castelhano, por Asociación de Amigos del Fado de Asturias. Isso mesmo: do Fado, o nosso. Foi fundada, e durante largos anos presidida, por uma advogada e bandolinista clássica que se apaixonou pelo Fado, a minha amiga Carmen Brañanova. Acarinhei esse grupo de sessenta e poucos entusiastas do Fado em terras de Oviedo e Gijón, desde que os conheci. Tenho colaborado com eles em conferências, espectáculos e trocas várias de informações e notícias, mantendo correspondência informática com vários elementos. Eis que, em Fevereiro passado, recebo no telemóvel uma mensagem da Carmen, mais ou menos com estas palavras: «Estou em Goa, em viagem turística, e estou encantada com o muito que aqui encontro da cultura portuguesa. Por acaso sabes onde poderei ouvir Fado?» Respondi que o único contacto que tenho em Goa, relacionado com o Fado, é a fadsita Sonia Shirsat, que conheço pessoalmente. Sempre que vem a Lisboa encontramo-nos, já escrevi sobre ela, mas quanto a locais de prática do género, nada sabia. No entanto, comuniquei o endereço informático da Sonia e sugeri que a Carmen lhe escrevesse e lhe fizesse a pergunta a que eu não sabia responder. A sequência foi algo que me surpreendeu e maravilhou. Não só as duas chegaram à fala, como, por feliz coincidência, havia nessa altura em Goa um grande espectáculo de Fado, comemorando os 20 anos da morte de Amália Rodrigues! A Carmen assistiu, tirou fotografias e agradeceu-me a sugestão como se eu fosse um deus ex-machina, eu que não tive qualquer interferência no acontecimento. E mais: ficaria na ignorância dele, se não fosse este acaso absolutamente improvável. Enquanto assistia ao espectáculo, a Carmen enviava-me mensagens acompanhadas por fotografias, dizendo «Isto está a ser uma maravilha!», «Que bom fado se ouve aqui!», «Que homenagem tão sentida a Amália!» BOLETIM DA CASA DE GOA - 11 -
NOTÍCIAS
Almoço de confraternização do Clube Desportivo Indo-Português de Moçambique (CDIP) Mário Viegas Fundado na capital moçambicana nos primórdios do século XX como Clube Desportivo Indo-Português (CDIP), com sede em Lourenço Marques (atual Maputo) na Av. Afonso de Albuquerque (transferida mais tarde para o bairro da Sofil), abrangeu a comunidade goesa laurentina. Ecléctico, foi no futebol que esta agremiação atingiu outros patamares. Sagrou-se campeã em juniores nos anos de 1952 1956, e da II Divisão com a equipa principal em 1958. Extinto com a retirada de grande número de goeses e seus descendentes de Moçambique, dos residentes agora em Portugal, havia que aglutinar os elementos afetos ao clube. Lembraram-se disso os irmãos Alberto e Augusto Rodrigues, sempre ativos e dinâmicos, que, em conversa incidindo sobre o paradeiro dos atletas, adeptos e simpatizantes da coletividade indo-portuguesa, resolveram pôr em marcha a ideia de reunir num só local todos eles e, para isso, lembraram-se também de convocar Filipe de Sousa, um carola nestas lides. Esboçado o plano, mãos à obra. O trio iniciou imediatamente o trabalho, convocando todos os que tinham na memória e nos seus registos pessoais com a incumbência igualmente de passar a outros a mensagem. Resultou. No dia 24 de maio, uma sexta-feira, no restaurante REGIÕES, sito no Parque Industrial da Bela Vista, em Agualva-Cacém, a 19 km de Lisboa, em sala bastante espaçosa, arejada, luminosa, quarenta simpatizantes do Indo acomodaram-se em quatro grandes filas distribuídas por duas longas mesas. A meio da sala, numa mesa apelativa, distribuíam-se iguarias das cozinhas portuguesa, chinesa e japonesa (não faltou o sushi), e grelhados diversos, circundados de variedades de saladas e sobremesa, opção dos organizadores que escolheram o Bufete.
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Esperava-nos Alberto Rodrigues, uma estrela e craque de basquetebol que representou o Ferroviário de Lourenço Marques. Sempre atento e vigilante, controlou as presenças com critério, não fosse ele Ex-funcionário das Finanças. Cicerone também nas lides gastronómicas, Alberto Rodrigues guiou-nos neste itinerário. O seu refinado palato requintado bom gosto, minúcia e erudição permitiram um périplo delicioso pelas “estórias” de cada prato, o seu conteúdo e procedência, um autêntico gourmet. Gostamos, acertou. Sentados, solícitos empregados acudiam-nos com vinhos, sangrias ou cervejas, conforme o apelo de cada um, enquanto houvesse quem optasse por refrigerantes e águas. No fim, depois da sobremesa, café. O zénite atingiu-se quando circulou por todos colecionadores de memórias e “saudosos desse tempo” um sofisticado álbum com sessenta e seis fotografias de vários tamanhos, bem arrumadas, devidamente legendado, averbando as datas dos eventos do Indo. Um documento histórico, autêntico regalo para os convivas que felicitaram o zeloso guardião desta relíquia: Filipe de Sousa. Foi o mote para rememorar momentos, recordar histórias e, por momentos, reviver um clube que tanto deu a esta comunidade. Lembrou-se os tempos em que Augusto Rodrigues, funcionário aduaneiro, transferido para Quelimane, foi alvo de olheiros que não o perderam de vista. Acabou ingressando no Sporting local inscrito pelo dirigente leonino Homem Rodrigues, onde continuaria a passear a sua classe nos relvados zambezianos. Festa simpática, convívio fraterno que contou ainda com a presença de três jovens, vivaços, todos nonagenários: Honorato Rodrigues, Rosário Figueiredo e Romeu Rodrigues. Apesar de alguns condicionalismos, conseguiu-se reunir quatro dezenas de pessoas, algumas das quais já não se viam há cerca de 60 anos, o que permitiu um matar de saudades salutar ficando aprazado novo convívio para quando for possível.
Augusto Rodrigues, Filipe de Sousa e Alberto Rodrigues – os responsáveis pelo evento
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Ajuda Humanitária a Moçambique No seguimento do desastre natural provocado pelo ciclone IDAI, A Casa de Goa juntou-se de imediato às várias entidades oficiais que decidiram juntar esforços para a angariação de diversas formas de ajuda, tendo em conta a forte necessidade de auxílio do povo de Moçambique. Houve ainda a preocupação de orientar os sócios e amigos com familiares na Beira. Foram elaborados protocolos de colaboração com a Cáritas Portuguesa, os CTT e o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. Foi aberta uma conta bancária para recolher as contribuições monetárias. As contribuições em espécie dos sócios da Casa de Goa foram entregues aos bombeiros que as fizerem chegar a Moçambique através da Cruz Vermelha.
2ª e 3ª Conferências do Círculo de Releituras Mohandas Gandhi A segunda palestra do Círculo de Releitura, parte integrante da celebração, pela Casa de Goa, do 150º Aniversário do nascimento do Mahatma Gandhi (2 de Outubro) realizou-se a 20 de Março, pelas 18h, a cargo do Prof. Doutor António Faria. O orador comentou a obra de 2017 de Pankaj Mishra, um ensaísta indiano que, inter alia, é membro da britânica Royal Society of Literature. António Faria viu-a como: «reinterpretação da história moderna intelectual que parte da era de Rosseau e desemboca na nossa “idade de raiva” através do fio condutor estabelecido por Nietzsche ao usar o conceito de “ressentimento”, a animosidade ou mesmo rancor como combustível da “revolta escrava em moralidade“». E a publicação The Islamic Monthly considera que «Mishra é convincente na sua demonstração de como os problemas modernos não são o produto de uma modernidade que correu mal, mas da própria modernidade.» No dia 17 de Abril o conhecido advogado Dr. Carlos Franqueira de Sousa proferiu a terceira palestra integrada no círculo de releitura. Denominada Gandhi e o seu tempo, o orador perspectivou a praxis do Mahatma nas circunstâncias da India de finais do séc XIX e primeira metade do Sec. XX evocando a faceta pouco explorada de figura universal (em que Gandhi se transformou), num momento em que os radicalismos religiosos parecem renascer em zonas importantes do Mundo.
Apresentação da Andagoa O Boletim da República de Moçambique n.º 41, III Série, de 28 de Fevereiro de 2019 insere um despacho exarado em 12 de Novembro de 2018 pelo respectivo Ministro segundo o qual «por se tratar «de uma associação que prossegue fins lícitos, determinados e legalmente possíveis, cujo acto de constituição e os estatutos da mesma cumprem o escopo e os requisitos por lei» nada obsta ao respectivo reconhecimento. Na nossa rúbrica de Documentos publicamos na íntegra o despacho e os Estatutos da associação agora reconhecida.
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Encontro Chá das Cinco
Como habitualmente na última quinta-feira do mês de Março, realizou-se na Casa de Goa o habitual Chá das Cinco, desta vez seguido de uma conferência sobre a vida e obra do Prof. Teotónio de Souza, que foi um historiador goês fundador e director do Centro Xavier de Pesquisas Históricas, com sede em Goa, no alto Porvorim. Em Portugal desde 1995, Teotónio de Souza foi chefe e presidente do Departamento de História da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de 1999-2014.
CONFERÊNCIA
DO DR. JOSÉ FILIPE MONTEIRO SOBRE
«O FIM DA VIDA E O TESTAMENTO VITAL» No dia 4 de Abril o nosso ilustre associado Dr. José Filipe Monteiro, médico pneumologista reputado internacionalmente e antigo Presidente da Assembleia Geral da nossa Casa proferiu, no Átrio Saldanha, uma conferência subordinada ao tema «O Testamento Vital e o fim da vida». A sessão foi moderada pelo distinto advogado e anterior Presidente da Direcção da Casa de Goa Dr. Edgar Valles. O Dr. José filipe Monteiro que ultimamente se tem dedicado à investigação, designadamente em Goa aonde se desloca com frequência, deu assim mais um importante contributo para o esclarecimento de uma questão da maior actualidade e importância.
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MEMÓRIAS
Valores da nossa Comunidade II - ALBERTO RODRIGUES
«O BASQUETEBOL É A MINHA PAIXÃO DESPORTIVA»
Prosseguindo a nossa deambulação pelos valores da nossa Comunidade que despontaram na efervescência dos anos 50 (séc. XX) quer n o desporto como noutras atividades, apresentaremos outro ilustre que se destacou em Moçambique, terra fértil na criação de talentos. Referimo-nos a um dos ases do basquetebol, exímio malabarista, desconcertante ante os adversários, “enganador” no olhar. “Espantava-me quando o via esgueirarse e chegar com a mão na bola acima do cesto”, lembrou-lhe um admirador no almoço a 9 de março, dia do lançamento do livro do Zé-Manel Fernandes no restaurante «Sabores de Goa». Nome sonante do desporto moçambicano dos anos 50/70 (séc. XX).
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Com pompa e circunstância a revista Nova em fevereiro de 1970 anunciava «O homem do momento do basquetebol laurentino. O Ferroviário acertou em cheio.» Nem mais. Falamos de ALBERTO RODRIGUES (AR). Diplomata no trato, bom conversador, excelente contador de histórias, contextualiza com perícia gestas da sua vivência em Moçambique sem muitos tropeções. Iniciou a prática de basquetebol com 14 anos como infantil, no Clube Desportivo Indo-Português de Lourenço Marques (Indo), onde também praticou futebol durante 10 anos, e foi campeão de juniores. Por extinção da secção de basquetebol do Indo, Alberto, já preso à modalidade de sua eleição, mudou-se para o Clube Ferroviário de Moçambique. Por esta agremiação, jogou 21 épocas, tendo no seu currículo registado vários campeonatos distritais e provinciais. Depois, nos intervalos das competições, com a sua equipa principal efetuou digressões para fora da Capital, sendo as mais importantes às principais cidades de Moçambique (Beira, Nampula, Quelimane, Lumbo e Ilha de Moçambique), no ano de 1956, e, posteriormente (1957), às cidades de Angola (Luanda, Benguela, Lobito, Catumbela, Nova Lisboa e Moçâmedes). Em 1962, depois de ter ganho os campeonatos distrital e provincial de Moçambique, deslocou-se a Portugal integrado na equipa do Ferroviário para disputar a “Taça de Portugal”. Classificaram-se em 3º lugar.
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Alberto Rodrigues (à dtª) e António Pinho passeiam-se na baixa de Lisboa quando da deslocação para a "TAÇA DE PORTUGAL" 1962
A meio da carreira, Alberto assume, em 1958, a função de treinador. Era prática comum naquele tempo os jogadores seniores que demonstrassem algumas aptidões para a modalidade, serem convidados a treinar os mais jovens, masculinos ou femininos. Alberto fez a sua estreia treinando a equipa feminina do Clube Ferroviário de Moçambique, acumulando as funções de jogador na equipa de “Honras”. Um nome da nossa comunidade que deu nas vistas, empolgando as assistências que, mesmo sendo adversárias, o ovacionavam quando o viam a exibir a sua técnica. Devido a toda essa incansável e meritória trajetória, os altos comandos do desporto moçambicano não ficaram alheios, e, em 1967, BOLETIM DA CASA DE GOA - 18 -
a Associação de Basquetebol de Lourenço Marques fê-lo «Sócio de Mérito». Em 1969, após o afastamento do treinador de “Honras” (do CFM) em exercício, Alberto foi novamente convidado a assumir esse cargo, acumulando-o nesse ano e até ao fim da época com o de jogador-treinador. E, durante mais 3 anos, treinou ainda as «locomotivas». Ativo, empenhado e devotado, terminou a sua carreira de basquetebolista com 35 anos de idade. Posteriormente, e por duas épocas, deixando mesmo de jogar, treinou o Clube Desportivo de Lourenço Marques sendo considerado um “homem e desportista exemplar” na opinião de Mário Silva. Depois da independência de Moçambique, foi convidado a treinar o Clube Maxaquene, de Maputo (antigo Sporting Clube de Lourenço Marques). Como anteriormente referido, o futebol andou igualmente ligado a Alberto Rodrigues no início da sua prática desportiva. Jogou uma década no Indo, onde treinou, numa época, os juniores, e foi, ainda, aprovado num curso de treinadores de futebol, patrocinado pela Associação de Futebol de Lourenço Marques, ministrado pelo saudoso treinador brasileiro, Otto Glória.
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Otto Glória e Alberto Rodrigues Conquanto muito atarefado com as atividades nos clubes de então, nas pausas de fins de semana, AR procurava o relaxe em cenários distintos e deslocava-se à encantadora Bilene e à deslumbrante Chonguene, outras das belas praias próximas de Lourenço Marques, além da Polana, da Costa do Sol e da Macaneta, e, noutro quadro, não perdia as estreias nos cinemas Manuel Rodrigues e Gil Vicente. ALBERTO CARMO RODRIGUES nasceu a 16 de julho de 1936 em Lourenço Marques, sétimo filho de Maria Rita de Sousa Rodrigues, de origem goesa, natural de Lourenço Marques, e de Paulino Piedade da Conceição Rodrigues, de Diu, de uma prole de oito irmãos. Alberto fez sua formação na sua terra natal: a instrução primária na Escola Correia da Silva, na Avenida Elias Garcia, depois o Curso Comercial, na antiga Escola Técnica, e posteriormente diplomou-se pelo BOLETIM DA CASA DE GOA - 20 -
Instituto Comercial com o grau de bacharel em Contabilidade e Administração. Na vida profissional, foi Ajudante de Despachante, tendo sido aprovado no concurso para despachante oficial. Saindo de Moçambique para Portugal em 1980, aqui exerceu diversas funções, tendo, em 1985, concorrido à administração fiscal, onde se manteve até 1999, tendo posteriormente aposentado como Inspetor Tributário de Finanças da antiga D.G.C.I.. É Membro da Ordem dos Técnico Oficiais de Contas. Viajante nato, é um “trota mundos” ao percorrer em férias os quatro cantos do Globo (à exceção da Oceânia), com destaque para Goa, onde esteve diversas vezes, para recordar os seus ancestrais. A estrela indo-portuguesa aproveita todo o tempo disponível para confraternizar com os amigos. Na gastronomia, inclinava-se em primeiro lugar para a cozinha goesa, de preferência o “caril de camarão”, iguaria que come com mais comedimento pois os excessos de picantes e temperos já fazem “mossa”. Vira-se então mais para a cozinha portuguesa, com realce para o “bacalhau”. E no silêncio da casa, torce pelo Benfica. Casado com Claudina Argente, Alberto Rodrigues vive em Cascais, num clima temperado, rodeado de aprazíveis jardins, parques e recantos, com realce para a “Boca do Inferno”, “Cabo da Roca” e praias onde no verão são frequentadas não só por residentes e que muito lhe faz lembrar a antiga cidade de Lourenço Marques. Mário Viegas
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GASTRONOMIA CHUTNEY VERDE Ingredientes: 2 molhos de coentros 1 1/2 cebola +- 150 gramas de coco ralado 2 pimentas verdes 1 colher de sopa de pasta de tamarindo Açafrão 1 colher de chá de açúcar Sal q.b. Sumo de limão q.b.
Modo de preparação: Moer tudo na trituradora O coco vai-se pondo aos poucos até obter a cor verde clara.
DOCUMENTOS
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Para Conhecimento dos Exmºs. Sócios
Associação de Goa, Damão e Diu Pessoa Colectiva de Utilidade Pública
CONVOCATÓRIA Nos termos dos Estatutos e Regulamento Interno, convoco a Assembleia geral Ordinária da Casa de Goa para o dia 29 de Março de 2019, às 17h30, a ter lugar na Sede da Associação, sita na Calçada do Livramento, nº 17, em Lisboa, com a seguinte Ordem de Trabalhos: •
Ponto 1 – Aprovação da Acta da reunião da Assembleia Geral realizada a 28 de Novembro de 2018 (Acta nº 62).
•
Ponto 2 – Discussão e votação do Relatório e Contas e do Parecer do Conselho Fiscal Relativo ao Ano de 2018.
Na ausência de quórum, a Assembleia Geral voltará a reunir-se passada uma hora, com qualquer número de sócios. Lisboa, 15 de Março de 2019.
O Presidente da Assembleia Geral (Henrique Machado Jorge)
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A NÚNCIOS
www.casadegoa.org
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