José António Tenente

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Nome incontornável na moda portuguesa e com sólidas mostras do seu trabalho no circuito internacional, José António Tenente soube expandir a sua marca a uma infinita e louvável gama de produtos, traduzindo, continuamente, a sua essência e valores. Desde a sua primeira e “longínqua” colecção para o Outono-Inverno de 86/87 e até hoje a JAT não parou de crescer, inovar, diversificar e surpreender, conquistando uma cada vez maior proximidade com o seu público. Envolvido em projectos e colaborações sucessivas, José António Tenente traz-nos agora “Amor Perfeito” - perfume que marca a estreia do criador no mundo da perfumaria - disponível a partir de Outubro. Naturalmente muito mais está para vir… porque de desafios vive a moda, e a JAT é o melhor exemplo disso.

O José António Tenente conta já com 2 Globos de Ouro. Como foi receber este ano o Globo para “Melhor Estilista Português”? O que significou para si? Vermos o nosso trabalho reconhecido é sempre muito positivo. Foi particularmente gratificante por ser referente ao ano 2008, no qual desenvolvemos colecções que representam muito a identidade da marca. Mas confesso que o melhor foram as muitas manifestações de apreço e carinho que me endereçaram. Qual considera ser o ADN da marca José António Tenente? O desenho, o detalhe, o estilo sóbrio que oscila entre o depurado, o gráfico, o decorativo e às vezes até teatral. Conte-nos um pouco sobre o seu próximo lançamento – o perfume “Amor Perfeito”. Como surgiu a ideia de criar um perfume? Esta ideia sempre me atraiu e há muito que pensava nela, mas de facto é preciso ter parceiros que se ocupem de todo o processo de comercialização e distribuição. Nesse sentido, este projecto surgiu na sequência do desafio lançado pelo Luís Pereira da 100ML, uma empresa distribuidora na área da perfumaria, para criarmos um perfume JAT. Como foi a experiência? Foi uma experiência muito interessante e enriquecedora. Para criar o conceito, comecei a esquematizar e racionalizar os adjectivos que normalmente oiço ou leio sobre o

Dois dos looks favoritos do criador para a colecção Outono/Inverno 09/10

meu trabalho. Sóbrio, elegante, depurado, sofisticado e romântico. Este último, colouse de facto, ao meu trabalho de um modo muito forte. Assim, o romantismo passou a orientar todo o processo. No entanto, não queria nada frágil nem ‘cor-de-rosa’. Daí o frasco e embalagem terem uma imagem moderna e clean. Quanto à criação do próprio aroma foi muito positiva e inter-activa a relação que estabeleci com as perfumistas, a quem passei as ideias do tipo de aroma que gostaria. O que é que podemos esperar destes dois perfumes em termos de aromas? Desde as primeiras reuniões que tivemos, decidimos que seria interessante desenvolver o projecto para senhora e homem e lançá-los em simultâneo. Não como um conceito ‘unisexo’, mas sim dois perfumes que se completam e que têm vários pontos comuns na sua origem. O aroma de senhora é mais ‘doce’ e quente, com os frutos vermelhos e o chocolate a conferirem-lhe um carácter gourmand. O de homem abre com notas cítricas e evolui para um aroma mais especiado e amadeirado. Considera importante esta ”extensão do universo das marcas” a produtos mais acessíveis e mais próximos do público? Estes produtos permitem de facto uma maior distribuição junto do público e chegar a um maior número de consumidores que de outro modo não teriam acesso à marca, não só pelo preço, como pela sua comercialização mais exclusiva. E os resultados mostram que o público está receptivo. O “melhor” da sua profissão? A criação. Para mim o melhor é mesmo o trabalho mais solitário do desenho. Eu e o meu caderno.

Linha de óculos de sol da JAT.

E o “pior”? Os prazos. Andamos sempre a correr contra o tempo. De onde veio a inspiração para a colecção Outono/Inverno 09/10? A colecção para o Inverno 09/10 é inspirada na obra de Paula Rego. Elegendo alguns trabalhos como referência, em particular os figurativos e com fortes elementos decorativos, produzidos a partir de meados dos anos 90, a colecção foi criada e desenvolvida também por “quadros”. É uma colecção inevitavelmente dominada pela figura da mulher e pelo universo feminino. Sob o poder da elegância retro, a silhueta feminina oscila entre exuberante e longilínea, sempre com a cintura vincada e ancas evidentes. Folhos e volumes definem as formas. Tecidos ‘pictóricos’, brocados e adamascados, com grandes motivos florais contrastam com micro padrões masculinos. Para homem a imagem é muito sóbria, com o rigor da formalidade ou da contenção militar. Além do perfume, tem alguma colaboração ou projecto futuro que nos possa revelar? Estamos a desenvolver uma linha de jóias em parceria com a Goldreams, que está actualmente em fase de início de comercialização. Quais as “qualidades” que considera essenciais para triunfar no mundo da moda? Rigor, profissionalismo, determinação, são fundamentais para acompanharem a criatividade. Definir bem o projecto que se quer desenvolver e especialmente o que não se quer fazer, é fundamental para conseguir implantar uma marca. Como vê Portugal e o trabalho dos nossos criadores no panorama da moda internacional? Infelizmente, de um modo geral, a visibilidade e implantação internacional não

é proporcional ao crescimento e à evolução da moda nacional enquanto projecto criativo. O mercado é extraordinariamente concorrencial e a capacidade de investimento em marketing relativamente às marcas internacionais é muito diferente. Dificilmente conseguimos competir com a escala global. O nosso mercado interno é muito pequeno e por essa razão a oportunidade pode estar na exploração de mercados alternativos e não saturados como estão os “tradicionais” centros de moda. E quanto a ajudas e apoios, o que acha que pode ser melhorado? A moda deve ser encarada como potenciadora de criatividade e de expressão artística e por isso pode e deve ser dinamizada e até apoiada enquanto tal. Mesmo a nível do negócio poderiam ter sido criadas várias estruturas que acompanhassem o que foi feito ao nível da imagem ao longo destes anos em que se tenta implementar a moda de autor no estrangeiro. De um modo geral as acções não são sustentadas e desperdiça-se muito dinheiro sem ter capacidade para continuar o investimento. O que tem que ser melhorado de uma vez por todas é o plano, a estratégia. Não vale a pena fazer, só por fazer. Depois de mais de 20 anos de carreira no mundo da moda, qual o balanço que faz de toda esta trajectória? É bastante positivo… a um nível mais pessoal porque olhando para trás e pensando no tímido que era, não imaginaria fazer o que faço hoje. E também profissionalmente, especialmente se tivermos em conta o cenário praticamente inexistente de moda de autor em Portugal quando comecei, e o que isso implicou e às vezes ainda implica, em toda a trajectória.


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